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Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial1 • Módulo 1 SENASP LOCAL DE CRIME: ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO - NOÇÕES BÁSICAS Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial2 • Módulo 1 Todo o conteúdo do Curso Local de Crime: Isolamento e Preservação - Noções Básicas, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal - 2020, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR BY NC ND PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria Nacional de Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa Coordenação Geral de Ensino Núcleo Pedagógico Coordenação de Ensino a Distância Reformuladores André da Rocha Silva Antonio Guaraná Mendes Gleidison Antônio de Carvalho Revisão Pedagógica Ardmon dos Santos Barbosa Eliete da Silva Ribeiro UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA labSEAD Comitê Gestor Eleonora Milano Falcão Vieira Luciano Patrício Souza de Castro Financeiro Fernando Machado Wolf Consultoria Técnica EaD Giovana Schuelter Coordenação de Produção Francielli Schuelter Coordenação de AVEA Andreia Mara Fiala Design Instrucional Danrley Maurício Vieira Marielly Agatha Machado Design Gráfico Aline Lima Ramalho Taylizy Kamila Martim Sonia Trois Victor Liborio Barbosa Linguagem e Memória Cleusa Iracema Pereira Raimundo Victor Rocha Freire Silva Programação Jonas Batista Salésio Eduardo Assi Thiago Assi Audiovisual Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Rafael Poletto Dutra Rodrigo Humaita Witte https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR Sumário APRESENTAÇÃO DO CURSO ..............................................................................6 MÓDULO 1 – NOÇÕES GERAIS DE LOCAIS DE CRIME E INVESTIGAÇÃO POLICIAL .............................................................................................................7 Apresentação ................................................................................................................8 Objetivos do módulo ............................................................................................................................. 8 Estrutura do módulo ............................................................................................................................. 9 Aula 1 – Investigação Criminal ...............................................................................10 Contextualizando... ............................................................................................................................. 10 Conceito ............................................................................................................................................... 10 Aula 2 – Conceito e Caracterização de Local de Crime .......................................16 Contextualizando... ............................................................................................................................. 16 Conceito ............................................................................................................................................... 16 Aula 3 – Conceitos Essenciais: Vestígio, Evidência e Indício ................................20 Contextualizando... ............................................................................................................................. 20 Conceito ............................................................................................................................................... 20 Aula 4 – Exame do Local de Crime: Idoneidade do Vestígio ...................................25 Contextualizando... ............................................................................................................................. 25 Aspectos conceituais ......................................................................................................................... 25 Aula 5 – Custódia da Prova ......................................................................................31 Contextualizando... ............................................................................................................................. 31 Conceito ............................................................................................................................................... 31 Central de custódia ............................................................................................................................. 40 Aula 6 – Local Idôneo e Inidôneo ..............................................................................43 Contextualizando... ............................................................................................................................ 43 O que é local idôneo e inidôneo ......................................................................................................... 43 Exercícios de Fixação ..................................................................................................46 Perguntas ............................................................................................................................................ 46 Resolução ............................................................................................................................................ 46 Referências ..................................................................................................................49 MÓDULO 2 – TAREFAS DO PRIMEIRO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA NO LOCAL DO CRIME ....................................................................... 52 Apresentação ..............................................................................................................53 Objetivos do módulo ........................................................................................................................... 53 Estrutura do módulo ........................................................................................................................... 53 Aula 1 – Situação Preliminar Encontrada ............................................................54 Contextualizando... ............................................................................................................................. 54 Profissional de segurança pública ..................................................................................................... 54 Situação do local de crime antes da chegada do primeiro profissional de segurança pública ... 57 Aula 2 – Segurança no Local de Crime ....................................................................60 Contextualizando... ............................................................................................................................. 60 Segurança pessoal.............................................................................................................................. 60 Procedimentos de aproximação do local de crime .......................................................................... 61 Procedimentos de entrada no local de crime ................................................................................... 63 Procedimentos de saída do local do crime ....................................................................................... 72 Aula 3 – Delimitação da Área a Ser Preservada ....................................................75 Contextualizando... ............................................................................................................................. 75 Considerações gerais para delimitação da área ............................................................................... 75 Aula 4 – Procedimentos Padronizados e Recomendações ao Primeiro Interventor na Cena do Crime.................................................................................80 Contextualizando... ............................................................................................................................. 80 Padronização dos procedimentos operacionais .............................................................................. 80 A preocupação da ONU com o primeiro interventor ......................................................................... 82 Exercício de Fixação ....................................................................................................87 Perguntas ............................................................................................................................................ 87 Resolução ............................................................................................................................................ 88 Referências ..................................................................................................................92 MÓDULO 3 – CASOS REAIS QUE DEMONSTRAM A IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO E DA PRESERVAÇÃO DE LOCAIS DE CRIME ............................ 95 Apresentação ..............................................................................................................96 Objetivos do módulo ........................................................................................................................... 96 Estrutura do módulo ........................................................................................................................... 96 Aula 1 – Caso Isabella Nardoni ................................................................................97 Contextualizando... ............................................................................................................................. 97 O crime................................................................................................................................................. 97 O local do crime .................................................................................................................................. 99 O trabalho da Polícia Científica ........................................................................................................102 Reflexões sobre o caso .................................................................................................................... 104 Aula 2 – Caso Josilei Gaspar ................................................................................. 105 Contextualizando... ........................................................................................................................... 105 O crime............................................................................................................................................... 105 O local do crime ................................................................................................................................ 106 O trabalho da Polícia Científica ........................................................................................................107 Reflexões sobre o caso .................................................................................................................... 109 Aula 3 – Caso Mikaely Ferraz ................................................................................ 110 Contextualizando... ........................................................................................................................... 110 O crime............................................................................................................................................... 110 O local do crime ................................................................................................................................ 111 O trabalho da Polícia Científica ........................................................................................................112 Reflexões sobre o caso .................................................................................................................... 114 Aula 4 – Caso Valcir Tenório ................................................................................. 115 Contextualizando... ........................................................................................................................... 115 O crime............................................................................................................................................... 115 O local do crime ................................................................................................................................ 116 O trabalho da Polícia Científica ........................................................................................................116 Reflexões sobre o caso .................................................................................................................... 118 Aula 5 – Caso Bruna Ferreira ................................................................................ 119 Contextualizando... ........................................................................................................................... 119 O crime............................................................................................................................................... 119 O local do crime ................................................................................................................................ 120 O trabalho da Polícia Científica ........................................................................................................121 Reflexões sobre o caso .................................................................................................................... 122 Exercícios de Fixação ............................................................................................... 123 Perguntas .......................................................................................................................................... 123 Resolução .......................................................................................................................................... 124 Referências ............................................................................................................... 125 Apresentação do Curso Bem-vindo ao curso Local de Crime: Isolamento e Preservação - Noções Básicas. Neste curso, você terá acesso a conceitos básicos relacionados aos procedimentos e atitudes que deverão ser adotados pelo primeiro agente interventor do local do crime. Dessa forma, no decorrer das aulas, esperamos destacar a importância da preservação do local do crime enquanto principal gerador de sinais e provas da materialidade e autoria do fato. Afinal, é no local do crime que começa a persecução penal a fim de comprovar, indiscutivelmente, todos os atos que o autor do crime cometeu, ou o contrário. Considerando isso, é dever da primeira autoridade a chegar ao local de crime proceder os métodos específicos para isolar e limitar onde ocorreu o fato delituoso, utilizando- se dos objetos próprios para isso. Nossa proposta é dar ênfase para a desmistificação da ideia de que a preservação do local de crime é uma tarefa irrelevante: uma vez que o trabalho de isolamento e preservação do local de crime seja bem executado, a identificação dos atores de um crime e a condenação destes torna-se possível. Por isso, neste curso, vamos apresentar diversas situações reais de investigação que podem contribuir para seu conhecimento prático e teórico, bem como para reflexão sobre a necessidade de integração entre os órgãos envolvidos no processo investigativo e a importância do primeiro agente interventor no local do crime, além de reconhecer a diferença entre vestígio, evidência e indício, elementos essenciais da investigação. Desejamos-lhe umexcelente estudo! Equipe do curso. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial7 • Módulo 1 NOÇÕES GERAIS DE LOCAIS DE CRIME E INVESTIGAÇÃO POLICIAL MÓDULO 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial8 • Módulo 1 Apresentação Seja bem-vindo ao primeiro módulo do nosso curso. Aqui você terá acesso às noções gerais sobre local de crime, como reconhecimento, isolamento e preservação do corpo de delito e investigação criminal. Mas antes de entrarmos nas noções básicas, vamos refletir sobre a importância das ações integradas dos vários órgãos envolvidos na preservação do local de crime, pois o esclarecimento de um crime não é possível sem a participação efetiva e o envolvimento de vários segmentos da segurança pública e outras instituições. Além disso, vamos refletir sobre o conceito e a caracterização de um local de crime, bem como sobre os conceitos de corpo de delito, vestígio, indício e evidência, ideias importantes e que são complementares durante a investigação criminal. Dentro dessa ideia, vamos entender como o funcionamento das investigações depende da utilização de procedimentos corretos no momento da coleta das evidências, para não resultar na alteração dos possíveis vestígios do crime. Ou seja, neste módulo, vamos entender aspectos básicos da investigação criminal, desde o funcionamento integrado até a coleta de evidências. OBJETIVOS DO MÓDULO Compreender o que significa investigação e crime, assim como o funcionamento integrado do processo de investigação criminal; reconhecer a necessidade de preservar o local do crime para análise dos vestígios e saber diferenciar vestígio, evidência e indício; compreender o conceito de idoneidade, no contexto do local do crime, assim como entender a relação das etapas da custódia das provas e do procedimento do perito. Ainda pensando sobre a proteção do local do crime, refletir sobre a noção de local idôneo e inidôneo, e as consequências desta tese para a investigação criminal. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial9 • Módulo 1 ESTRUTURA DO MÓDULO • Aula 1 – Investigação Criminal. • Aula 2 – Conceito e Caracterização de Local de Crime. • Aula 3 – Conceitos Essenciais: Vestígio, Evidência e Indício. • Aula 4 – Exame do Local de Crime: Idoneidade do Vestígio. • Aula 5 – Custódia da Prova. • Aula 6 – Local Idôneo e Inidôneo. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial10 • Módulo 1 Aula 1 – Investigação Criminal CONTEXTUALIZANDO... Você consegue diferenciar investigação, crime e investigação criminal? Nesta aula, veremos o conceito de cada um desses termos, e refletiremos acerca do trabalho integrado de inúmeros órgãos públicos e privados, de segurança pública ou não, para a concretização do processo de investigação criminal. Você vai perceber que a investigação é constituída por três eixos principais: • Investigação policial. • Exames periciais. • Policiamento ostensivo. Continue seus estudos e confira! CONCEITO Para entendermos o que é uma investigação criminal, primeiro precisamos entender o conceito de cada termo. Investigação é o processo de busca de informações a respeito de um determinado fato que ajudem a aflorar a verdade. Criminal é tudo que está relacionado com ações ilícitas, como infrações ou delitos. Não há, na legislação brasileira, nenhum dispositivo legal que defina o conceito de investigação criminal. A Constituição Federal e o Código de Processo Penal, embora façam citação à atividade de investigação criminal, não apresentam uma definição específica. Dessa forma, do ponto de vista legal, não há conceito definido de investigação criminal. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial11 • Módulo 1 Por outro lado, é possível entender, por meio da leitura desses documentos, que a investigação criminal tem como objetivo a apuração das infrações penais e que essa incumbência é atribuição da Polícia Judiciária. Para entendermos a investigação criminal, devemos ter bem definidos alguns conceitos, são eles: crime, notícia-crime, investigação pericial e policial. Confira! As Polícias Judiciárias, no Brasil, são a Polícia Civil e a Polícia Federal. A Polícia Civil é responsável pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, a Polícia Federal, por sua vez, é responsável no âmbito da federação. É uma polícia que atua com base no inquérito policial, após a ocorrência de um delito. CRIME Pensando em termos jurídicos, é toda conduta típica, antijurídica (ou ilícita) e culpável, praticada por um ser humano. NOTÍCIA-CRIME Notitia criminis, ou notícia- crime, é o conhecimento de um fato criminoso, que se leva à autoridade. Ela pode se materializar por meio de um boletim de ocorrência ou de uma petição, entre outras formas, e pode ser dirigida ao delegado de polícia, ao Ministério Público ou ao juiz. INVESTIGAÇÃO PERICIAL A atividade pericial em si fundamenta-se na técnica, no planejamento e na precisão, e concretiza-se nas diversas etapas e nos passos que devem ser dados ao longo de uma investigação pericial. INVESTIGAÇÃO POLICIAL É o instrumento formal de investigações, compreendendo o conjunto de diligências realizadas por agentes policiais para apurar o fato criminoso e descobrir sua autoria ou a atipicidade ou, ainda, alguma causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade. É a documentação das diligências efetuadas pela Polícia Judiciária, conjunto ordenado cronologicamente e autuado das peças que registram as investigações. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL Figura 1: Conceitos da investigação criminal. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). A lei não impõe um rigor formal para a notícia-crime, mas espera-se que a comunicação da narrativa do fato tenha todas as nuances e a indicação (com possível qualificação) de quem é o provável autor do crime. Para entender a Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial12 • Módulo 1 “ “ formalização da notícia-crime, é preciso entender também a noção de crime, por definição. “Crime é uma violação da lei penal, ou seja, é uma ação ou omissão que se proíbe e se procura evitar, ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano ou perigo) a um bem jurídico individual ou coletivo.” (VELHO; COSTA; DAMASCENO, 2013). Uma vez que se apresenta a hipótese de crime, através da comunicação do fato, será responsabilidade da investigação pericial realizar o trabalho sistemático para buscar e demonstrar a verdade dos fatos investigados, através de um conjunto de procedimentos e firmando-se no método científico, com o propósito de cumprir uma meta estabelecida e alcançar um resultado almejado de forma a não deixar espaço à sorte e ao acaso. Segundo Silva Netto e Espindula (2016), esclarecer um crime é algo que proporciona a volta do equilíbrio social, pois oferta à Justiça os elementos de comprovação da existência em si do crime, suas circunstâncias, as vítimas envolvidas e os respectivos acusados da autoria de ação delituosa, a fim de que a Justiça efetive esse restabelecimento do equilíbrio. A Polícia Judiciária responsável pela investigação policial será denominada, legalmente, por inquérito policial e deverá apurar a verdade do fato, supostamente criminoso, e reunir os elementos necessários (provas) da prática de uma infração penal e sua autoria (autoria e materialidade). Investigação criminal Compreendidos os conceitos acima, avançamos para o conceito de investigação criminal, segundo Espindula (2009). Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial13 • Módulo 1 A investigação criminal é o conjunto de procedimentos e de tarefas capazes de criar as condições necessárias para se esclarecer um crime. A investigação criminal é o ponto de partida da persecução penal. É o início da atividade de verificação de determinado fato, supostamente criminoso. O ponto inicial da discussão sobre o exercício do sistema de persecução penal reside justamentena notícia-crime. A sua importância é fundamental para o regular desenvolvimento da investigação preliminar. Uma compreensão equivocada a respeito do seu significado pode resultar em prejuízo considerável ao procedimento investigativo. Na investigação criminal, existem tarefas diversas, cada uma delas executada ou coordenada por determinado segmento dos órgãos de segurança pública. Por conta disso, a visão que se tem é que a investigação criminal é um processo fragmentado, justamente pela falta de coordenação e integração dos vários segmentos responsáveis por importantes partes desse processo, tornando seu resultado muito longe do desejado. Nesse sentido, apesar de serem vistos como elementos isolados, a investigação policial, os exames periciais e o policiamento ostensivo são uma coisa só: Persecução penal é o conjunto de atividades desenvolvidas pelo Estado que possibilitam atribuir punição ao autor de um crime cometido. É, portanto, a soma da investigação criminal com o processo penal. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial14 • Módulo 1 INVESTIGAÇÃO POLICIAL EXAMES PERICIAIS POLICIAMENTO OSTENSIVO Figura 2: Investigação criminal como processo integrado. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Há uma interdependência entre cada trabalho e, quando não há essa articulação entre as atividades, temos como consequência prejuízos incalculáveis que impedem a possibilidade de resposta satisfatória à sociedade. Apesar da visão de que cabe apenas aos organismos policiais trabalhar pelo esclarecimento dos crimes, a execução das tarefas na investigação criminal também pode contar com a participação de outros órgãos públicos dentro do próprio sistema de segurança pública, como: • Perícia. • Bombeiros. • DETRAN. • Defesa Civil. E ainda outros órgãos públicos fora desse contexto, como o Banco Central, Receita Federal, fiscalizações municipais e estaduais de meio ambiente, laboratórios de pesquisa etc., bem como instituições privadas. Um aspecto importante diz respeito à visão simplista e empírica que alguns segmentos policiais têm sobre a Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial15 • Módulo 1 investigação criminal. Disso resultam comportamentos distorcidos ou aquém do desejado em termos de resultado. É preciso incentivar a cientificidade na investigação, pois ainda impera neste meio a concepção de que somente a perícia trabalha com tecnologia e pesquisa científica. A investigação criminal não é propriedade de ninguém, mas unicamente norteadora do objetivo final, que é o esclarecimento de fatos de um crime! Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial16 • Módulo 1 Aula 2 – Conceito e Caracterização de Local de Crime CONTEXTUALIZANDO... O local do crime é imprescindível para o início de uma investigação criminal. É nele que a perícia poderá colher os elementos necessários para iniciar o processo investigativo. Por esse motivo, nesta aula abordaremos as medidas necessárias para manter o local de um crime preservado, sem que haja prejuízos para os elementos relacionados ao crime. Veja mais a seguir! CONCEITO O local de crime pode variar de acordo com as situações. Existem locais cujos elementos são simples e de fácil observação a olho nu, como um carro abandonado ou o corpo de uma vítima de morte violenta, e há locais de crime onde os elementos se encontram latentes, havendo a necessidade de uso de métodos específicos de revelação para encontrar o vestígio. Eraldo Rabello (1996), autor do curso de criminalística, comenta o local do crime fazendo uma reflexão, confira! Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado, cujas páginas por terem a consistência de poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque das mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os dados preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos. Observando o conceito de Rabello, é possível perceber que o local de crime deve ser tratado com máximo cuidado, de forma organizada, para evitar e minimizar o prejuízo aos elementos relacionados ao crime. Palavra do Especialista Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial17 • Módulo 1 Nesta linha de pensamento, o local de crime é o conjunto de elementos que compõe o corpo de delito que precisa ser analisado científica e tecnicamente, visando o futuro esclarecimento dos fatos a ele relacionados. Relacionado a isso, o legislador percebeu a necessidade de preservação do corpo de delito, através do Art. 6 do CPP. Dessa forma, logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial presente no local do crime deverá dirigir-se ao local e providenciar para que não se alterem o estado e a conservação das coisas até a chegada dos peritos criminais. Quem é a autoridade no local de crime? A autoridade policial é sempre aquele agente de segurança pública que toma conhecimento do fato e inicia o processo de reconhecimento e isolamento. Chamaremos essa autoridade de profissional primeiro interventor. O local de crime é um instituto momentâneo, de onde se deve extrair o máximo de informações. Dessa forma, o primeiro agente de segurança pública no local sempre deve orientar os cidadãos quanto à necessidade de preservação dos vestígios ali presentes e deve tomar as medidas imprescindíveis para o isolamento e a preservação do local do crime. Assim, após as devidas comunicações, essa responsabilidade é transmitida do primeiro agente de campo, que normalmente é uma guarnição da Polícia Militar ou Guarda Civil, para a Polícia Judiciária, que iniciará a investigação ao comparecer e confirmar a necessidade de exame pericial, e acionará a Perícia Oficial para realização de exame em local de crime. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial18 • Módulo 1 Figura 3: Preservação do local do crime. Fonte: Shutterstock (2019). O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. Por isso, é muito importante que, ao tomar conhecimento da situação, o agente de segurança pública transmita as informações sobre a necessidade de preservação do que foi encontrado, orientando todos, para proceder o isolamento e preservação da área, na medida do possível, até a chegada da Perícia Oficial ao local. Cabe ressaltar que o exame de corpo de delito pode sofrer alterações quando realizado a posteriori, levando-se em consideração questões técnicas ou quando realizado sob determinadas condições (climáticas, iluminação e de segurança), que podem ocasionar prejuízos ao levantamento de elementos relacionados ao crime ou à vida dos envolvidos no exame. Imagine um caso de investigação no período da noite em que será necessário buscar marcas de escaladas. Como você procederia? Marcas de escalada são pouco visíveis em momentos de baixa luminosidade, sendo recomendado o retorno ao local de crime pela manhã, à luz do sol. Nesses casos, é preciso proceder de forma administrativa. Na Prática Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial19 • Módulo 1 Informe ao solicitante o retorno para o local e a necessidade de manutenção do isolamento e preservação da área por mais tempo. Posteriormente, essas informações devem ser comunicadas no laudo. Essas informações estão em conformidade com o parágrafo primeiro do Art. 169 do Código de Processo Penal. Assim, todos os peritos devem registrar no laudo as alterações do estado das coisas, sendo as consequências dessas alterações discutidas posteriormente em relatório. Atualmente, em virtude da existência de centro integrados de operações e informações, onde trabalham todos agentes de segurança pública de forma integrada em um único lugar, a informação é trabalhada de forma ágil e direcionada, criando um caminho eficiente que busca a melhor resposta à sociedade. Continue seus estudos e confira a seguir como identificar e conceituar os elementos de um localde crime: os vestígios, as evidências e os indícios. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial20 • Módulo 1 Aula 3 – Conceitos Essenciais: Vestígio, Evidência e Indício CONTEXTUALIZANDO... Os elementos contidos no local de crime são peças fundamentais para compreender os fatos do crime. Assim, nesta aula, vamos identificar tanto a diferença entre vestígio, evidência e indício quanto a relação desses três elementos na investigação policial. Para isso, confira os estudos de caso que serão apresentados a seguir, com as informações técnicas referentes à busca pelos elementos essenciais para a investigação, através de autores da área e do que consta no Código de Processo Penal. CONCEITO O local de crime é uma “caixinha de surpresas”, e muitas vezes não é tão simples visualizar determinados elementos ali presentes, mas todo elemento presente no local deve fazer parte da investigação. Para referendarmos as diferenças entre vestígio, evidência e indício, usaremos um exemplo a seguir. Uma faca foi encontrada em um local de crime de homicídio, e foi considerada um importante elemento para entender o caso. Porém, após analisadas as lesões na vítima, identificou-se a incompatibilidade entre lesões perfuro-contusas, semelhantes às causadas por projetil de arma de fogo, e o instrumento, neste caso a faca, que provocaria lesões perfuro-incisas. Dessa forma, a faca foi considerada um vestígio e irá compor a investigação, mas não terá um papel de compatibilidade quando relacionada à morte da vítima. Estudo de Caso Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial21 • Módulo 1 Vestígio Reforçando o exemplo apresentado anteriormente, todos os vestígios encontrados em um local de crime, num primeiro momento, são importantes e necessários para elucidar os fatos, ou seja, na prática, o vestígio é assim chamado para definir qualquer informação concreta que possa ter, ou não, alguma relação com o crime, segundo Espindula (2003). Vestígio é todo material bruto constatado e/ou recolhido em um local de crime para análise posterior. De acordo com o parágrafo 3º do Art. 158-A do Código de Processo Penal, vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. Segundo Silva Netto e Espindula (2016), vestígio é tudo. Esse conceito é amplamente difundido na área da criminalística, mas é importante destacar que ele se aplica quando tudo é desconhecido pelo perito. Retornando ao exemplo anterior, a faca encontrada na cena de crime não apresentava compatibilidade com as lesões na vítima para ser considerada o instrumento do crime que lesionou a vítima, portanto é apenas um vestígio sem conexão aparente com a morte dela. Confira a continuação do estudo de caso: Ao examinar a faca em laboratório, foram coletadas amostras de DNA, que, posteriormente, foram comparadas com o DNA da vítima, cujo resultado foi negativo. Porém, o resultado apresentou a presença de DNA feminino, assim, depreendeu-se que a faca estivera em contato (posse ou propriedade) com um ser humano do sexo feminino. Estudo de Caso Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial22 • Módulo 1 Percebe-se um limiar muito tênue entre vestígio e evidência, isso será definido pelo tratamento adequado do elemento. Evidência Tomando como exemplo o referido estudo de caso, uma vez que é possível realizar alguns exames para correlacionar a propriedade da faca à vítima, o vestígio passa a ser denominado evidência e será devidamente fixado, coletado, armazenado e encaminhado para exames específicos em laboratório. Segundo Espindula (2003), a evidência pode ser entendida da seguinte maneira: Evidência é o vestígio depois de feitas as análises, em que se constata técnica e, cientificamente, a sua relação com o crime. Assim, a etapa final de evolução do elemento de local de crime se dá quando um vestígio foi analisado cientificamente e dele se extraem informações correlacionadas ao crime e importantes ao processo investigativo. Figura 4: Exames de análise do sangue. Fonte: Shutterstock (2019). Retornando ao nosso caso, confira as próximas etapas da investigação. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial23 • Módulo 1 “ “ Avançando na investigação do exemplo anterior, a autoridade investigou e surgiram novos fatos que levaram à possibilidade de uma mulher, que teve relacionamento amoroso com a vítima, ter ido ao encontro desta e tentado agredi-la. Assim, a autoridade solicitou a coleta de DNA dessa mulher e, após análise comparativa dos DNAs, o resultado foi positivo. Você deve ter percebido que essa análise coloca a mulher no local de crime, mas não a relaciona ao uso de arma de fogo, o provável instrumento do homicídio, conforme lesões encontradas na vítima. Nesse momento, percebemos inúmeras indagações que precisam ser respondidas. Indício Vestígio e evidência, tecnicamente, são usados no âmbito da perícia. Quando essas informações são tratadas na fase processual, elas passam a ser chamadas de indício. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. (BRASIL, 1941). Indício é uma expressão utilizada no meio jurídico que significa cada uma das informações (periciais ou não) relacionadas com o crime. Estudo de Caso Vestígio Evidência Indício Processo investigativo Processo penal Figura 5: Processo evolutivo e a relação entre vestígio, evidência e indício. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial24 • Módulo 1 Após analisados, os vestígios evoluem para evidências e estas passam a ser denominadas indícios no meio jurídico (ESPINDULA, 2006). Em outras palavras: tudo que compõe o núcleo da investigação e é apresentado ao meio jurídico passa a ser denominado indício. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial25 • Módulo 1 CONTEXTUALIZANDO... Você já ouviu falar nos casos de investigação criminal em que os autores do crime deixaram vestígios para confundir o trabalho dos envolvidos na investigação? Um vestígio encontrado no local do crime pode ser um vestígio deixado ou produzido pelo autor do crime com propósito de confundir os caminhos e induzir a uma conclusão errada sobre o caso. Nesta aula, vamos falar sobre vestígio verdadeiro, forjado e ilusório, e as diferenças de cada um, e entender como se aplica o Princípio da Transferência, de Locard (1932), no contexto das investigações. ASPECTOS CONCEITUAIS Vamos começar falando sobre idoneidade do vestígio. Esse termo está baseado no conceito de idôneo, ou seja, algo que serve perfeitamente para determinado propósito, ou, em termos jurídicos, algo que pode ser confiável. Neste sentido, idoneidade do vestígio é a legitimidade do vestígio enquanto prova. A idoneidade do vestígio é de suma importância para correta persecução penal, tornando a prova robusta e inquestionável. Os autores Velho, Costa e Damasceno (2013) e Silva Netto e Espindula (2016) reforçam a importância da idoneidade do vestígio, subdividindo-os em verdadeiro, forjado e ilusório: • Vestígio verdadeiro É definido com a depuração total dos elementos Aula 4 – Exame do Local de Crime: Idoneidade do Vestígio Depuração é a ação de limpar e remover impurezas de um corpo ou determinado local. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial26 • Módulo 1 encontrados no local de crime, pois somente são verdadeiros aqueles produzidos diretamente pelos atores da infração e, ainda, que sejam produto direto das ações do cometimento do delito em si. • Vestígio Forjado Entendemos que todo elemento encontrado no local de crime, cujo autor teve a intenção de produzi-lo com objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais gerados pelos atores da infração. Um vestígio forjado poderá ser produzidopor qualquer pessoa que tenha interesse em modificar a cena de crime, por razões diversas. Um dos grandes produtores desse tipo de vestígio são os próprios autores do delito, que o fazem na intenção de dificultar as investigações que as levem até eles. • Vestígio Ilusório Vestígio ilusório é todo elemento encontrado no local de crime que não esteja relacionado às ações dos atores da infração e cuja produção não tenha ocorrido de maneira intencional. É bastante comum a ocorrência de locais de crime em ambientes abertos, nos quais há um trânsito permanente de pessoas, bem como aglomeração pessoas curiosas antes da chegada de agentes de segurança pública, sendo possível que ocorram alterações, supressões e desaparecimento dos vestígios, bem como a inserção de outros elementos que criem dúvida ou norteiem investigação para caminhos difusos. Vestígios forjado e ilusório desperdiçam dinheiro público, dificultando o trabalho investigativo e criando caminhos que não convergem. Ambos são considerados fraude processual, com previsão legal no Código Penal. Fraude processual Segundo o Código Penal, fraude processual é “Inovar Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial27 • Módulo 1 artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito” (BRASIL, 1940). A pena para este crime é detenção, de três meses a dois anos, e multa, e sua previsão legal pode ser encontrada no Art. 347 do CP. O parágrafo único reitera: “Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro”. Para mais informações, acesse: https://www.jusbrasil.com.br/ topicos/10595371/artigo-347-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de- dezembro-de-1940. Esse delito é conhecido como estelionato processual e pode ser entendido da seguinte forma: Inovar, que significa mudar, substituir, alterar artificiosamente, ou seja, alterar de forma fraudulenta no decorrer do processo ou, no caso criminal, ainda que ele não tenha se iniciado, com o intuito de induzir a erro o juiz ou o perito. É necessário que o processo judicial – civil ou administrativo – já tenha sido instaurado e não tenha sido encerrado ainda. Quanto ao procedimento penal, de acordo com o parágrafo único do Art. 347 do Código Penal, não é necessário que a ação penal já tenha sido proposta, basta elementos no sentido de que será iniciada. Princípio da transferência de Locard O princípio da transferência foi amplamente debatido por Edmond Locard, em 1932, que discorreu sobre os “princípios das trocas”, afirmando que o autor do crime leva com ele algo da vítima e/ou do local onde aconteceu o fato, podendo também levar instrumentos ou até mesmo objetos que foram utilizados, bem como deixa algo dele no local do crime. Saiba mais https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10595371/artigo-347-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10595371/artigo-347-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10595371/artigo-347-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial28 • Módulo 1 “ “ No contato entre dois elementos, sempre haverá uma permuta. (LOCARD, 1932). A teoria de Locard embasou inúmeros estudos e fomentou a ampliação dos conhecimentos aplicados a ciências forenses. Esses estudos, inicialmente, tratavam da busca por vestígios latentes de impressões digitais – método ainda bastante utilizado – e hoje permitem até a pesquisa de DNA no suor de uma luva de látex. Figura 6: Investigação pela perícia. Fonte: Shutterstock (2019). Segundo Paul Kirk (1953), quaisquer que sejam os passos, quaisquer objetos tocados pelo autor do crime, o que quer ele deixe, mesmo que inconscientemente, servirá como uma testemunha silenciosa contra ele. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial29 • Módulo 1 Não apenas as pegadas ou dedadas do autor, mas o seu cabelo, as fibras das suas calças, os vidros que ele porventura quebre, a marca da ferramenta que ele deixe, a tinta que ele arranhe, o sangue ou sêmen que deixe. Tudo isso, e muito mais, carrega um testemunho contra ele. Essa prova não se esquece. É distinta da excitação do momento. Não é ausente como as testemunhas humanas são. Constitui-se em evidência factual. A evidência física não pode estar errada, não pode cometer perjúrio por si própria, não se pode tornar ausente. Cabe aos humanos, procurá-la, estudá-la e compreendê-la, somente os humanos podem diminuir o seu valor (KIRK,1953). Esse princípio chama atenção para importância da preservação e cuidado com o vestígio, lembrando que serve para todos no processo, desde o primeiro a chegar no local de crime até o perito que irá processar determinado elemento, incluindo o cidadão que reconhece aquele cenário, e que por curiosidade possa ter alterado de alguma forma o elemento, o que pode resultar numa linha de investigação equivocada e mudar o rumo desta. Por isso, a atitude de preservação do local deve ser amplamente informada aos cidadãos, logo que se chegue ao local de crime, conscientizando-os da necessidade de isolamento e preservação do local, bem como envolvendo-os no trabalho como de forma importante para elucidação dos fatos a ele relacionados. Dessa forma, familiares da vítima e pessoas curiosas no local podem auxiliar no trabalho de isolamento e preservação. Palavra do Especialista Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial30 • Módulo 1 Como exemplo da importância da materialidade da prova pericial, a legislação reforçou e legitimou, através da Lei 13.964/2019, um passo a passo legal do vestígio dentro da cadeia de custódia, o tópico que veremos em sequência. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial31 • Módulo 1 Aula 5 – Custódia da Prova CONTEXTUALIZANDO... A cadeia de custódia é um termo recorrente no processo investigativo. Esse termo faz referência a todos os procedimentos e cuidados aplicados nos vestígios coletados pela perícia. Nesta aula, vamos ver no que consiste cada um desses procedimentos. CONCEITO Partindo de uma definição legal, conforme o Art. 158-A do Código de Processo Penal, o termo cadeia de custódia é o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. O início da cadeia de custódia ocorre com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação. Desta forma, é dever de qualquer agente público a adoção de medidas administrativas referentes a qualquer elemento que esteja, possivelmente, ligado a infração penal. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial32 • Módulo 1 CADEIA DE CUSTÓDIA Reconhecimento IsolamentoDescarte FixaçãoArmazenamento ColetaProcessamento AcondicionamentoRecebimento Transporte Figura 7: Fluxograma da cadeia de custódia. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Confira a seguir em que consiste cada etapa da cadeia de custódia dos vestígios de um crime. Reconhecimento Esta etapa se refere ao ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial. A identificação de um elemento como potencial vestígio de local de crime é, normalmente, feita por cidadãos, os quais informam às autoridades Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial33 • Módulo 1 competentes a respeito da existência do vestígio em questão. As autoridades, então,se dirigem ao local para a devida confirmação do fato e tomada de medidas administrativas correspondentes. O encontro com possível corpo de delito pode variar muito, a depender da situação. Desde simples janela arrombada num sítio até um veículo abandonado em estrada vicinal com um corpo em seu interior com características de agressão. Isolamento O isolamento é o ato de evitar que se altere o estado das coisas, com intuito de isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime. • Local imediato É aquele onde se encontra o corpo de delito e os vestígios materiais próximos; é onde ocorreu o fato em si. • Local mediato Área adjacente de onde ocorreu o fato criminoso; é espacialmente próximo ao local imediato, onde poderá haver vestígios. • Local relacionado É o local sem relação geográfica direta com o local do crime em si. No entanto, pode possuir vínculo com o respectivo local. O isolamento é atividade inerente ao trabalho pericial e visa contribuir para o desenvolvimento da dinâmica dos fatos com relação ao corpo de delito. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial34 • Módulo 1 O isolamento é considerado um dos pontos mais importantes do processo, visto que é o momento em que o Estado toma providências sobre o elemento encontrado, confirma sua possível importância para uma investigação criminal e inicia sua preservação através do isolamento. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente medidas para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Figura 8: Amarração do vestígio identificado no corpo de delito. Fonte: Silva, Mendes e Carvalho (2020). Ao analisar o local imediato, o perito descreverá o estado das coisas, estabelecendo pontos referenciais dos objetos: corpo, quando for homicídio, ou um veículo, quando um acidente de carro, por exemplo. Assim, o perito fará uso de ponto de amarração georreferenciada (coordenadas de latitude e longitude) para correto posicionamento do vestígio. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial35 • Módulo 1 Ponto de amarração Essa prática, denominada amarração do local (ponto fixo que servirá de referencial ao perito), permitirá que o cenário seja a qualquer tempo reproduzido, caso haja necessidade de novas diligências. Para exemplificar, tomemos como exemplo o caso Isabella Nardoni. As posições e caraterísticas de gotas de sangue latente encontradas no corredor de acesso ao apartamento de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá foram determinantes para concluir que a menina Isabela fora carregada já agredida, apresentando lesão com escorrimento sanguíneo para o interior do apartamento. A amarração do vestígio identificado no corpo de delito passa a ser parte do exame pericial e posteriormente integra o laudo pericial. Fixação A fixação é a descrição detalhada do vestígio, conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames. Figura 9: Fixação no local do crime. Fonte: Silva, Mendes e Carvalho (2020). Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial36 • Módulo 1 “ “ A fixação pode ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento. A partir disso, podemos seguir para a etapa de coleta, confira! Coleta A etapa de coleta trata-se, especificamente, do ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas características e sua natureza. Figura 10: Coleta de vestígios em local de crime. Fonte: Shutterstock (2019). A coleta deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o devido encaminhamento para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização. (BRASIL, 1941). Como dito anteriormente, a fraude processual é um crime previsto no Art. 347 do Código Penal. Consiste em modificar Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial37 • Módulo 1 o local do crime, os objetos relacionados a ele ou mesmo o estado das pessoas envolvidas, com a finalidade de induzir o magistrado ou o perito ao erro. Acondicionamento Acondicionamento é o procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta. Figura 11: Invólucros para acondicionamento de vestígios. Fonte: Silva, Mendes e Carvalho (2020). O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do material e deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. Transporte A etapa do transporte diz respeito ao ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial38 • Módulo 1 Figura 12: Caixa para transporte de evidências. Fonte: Silva, Mendes e Carvalho (2020). Considerando o Art. 158-D do Código de Processo Penal, todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. Recebimento O recebimento é o ato documentando de transferência da posse do vestígio com as seguintes informações. • Número de procedimento. • Unidade de Polícia Judiciária relacionada. • Local de origem. • Nome de quem transportou o vestígio. • Código de rastreamento. • Natureza do exame. • Tipo do vestígio. • Protocolo. • Assinatura. • Identificação de quem o recebeu. Em seguida, vamos para a etapa de processamento, ou seja, o exame que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial39 • Módulo 1 Processamento O processamento é o exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo. Em casos em que um material irá passar por mais de um procedimento pericial, em que a metodologia do exame possa criar prejuízo para o próximo procedimento de análise, deve-se minimizar os riscos para que um procedimento não prejudique o outro. O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, quando necessário, por pessoa autorizada. Após cada rompimento de lacre, considerando o procedimento padrão, deve constar na ficha de acompanhamento de vestígio, junto com o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, e as informações referentes ao novo lacre utilizado. Veja a seguir o caso envolvendo dois procedimentos periciais para entender mais sobre a etapa de processamento. A perícia precisa realizar um exame de coleta de impressões digitais em arma de fogo e um teste de eficiência e natureza. No caso de uma requisição que solicite os dois exames, como no caso acima, o exame de coleta de impressões digitais deve ser feito antes da manipulação da arma para um teste de eficiência e natureza. O lacre rompido deverá ser mantido no interior do novo recipiente. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia. Estudode Caso Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial40 • Módulo 1 Armazenamento O armazenamento é o procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, junto com o número do laudo correspondente. Condições Adequadas Material biológico É recomendada a guarda em ambiente refrigerado; Armas de fogo É recomendada a guarda em cofres ou estruturas semelhantes, com baixa umidade relativa do ar; Papéis e roupas É recomendada a guarda em ambiente ventilado e com baixa umidade. Figura 13: Condições adequadas para armazenamento de cada material. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Descarte O descarte, por sua vez, é o procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial. Essa etapa, por sua vez, encerra as fases que compõem o rastreamento dos vestígios. Agora que chegamos ao fim de todas as etapas de cadeia de custódia das provas, veja a seguir como funciona e as características de uma central de custódia, assim como a sua importância para a investigação criminal. CENTRAL DE CUSTÓDIA No Art. 158 do Código do Processo Penal encontramos as informações pertinentes à custódia e às perícias em geral. Segundo o documento, todos os Institutos de Criminalística Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial41 • Módulo 1 deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. Locais de coleta Local de Crime Local relacionado Local de busa e apreensão 1 Órgãos de Perícia Centro de custódia geral2 Centro de custódia permanente4Armazenamento Laboratório/ locais de exames Centro de custódia temporária3 Devolução Descarte (legislação vigente, autorização judicial) 5Destino final Figura 14: Fluxograma da cadeia de custódia. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Partindo do CPP, toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo. Confira cada um deles a seguir: • Local Local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio. • Entrada e saída de vestígio A entrada e a saída deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial42 • Módulo 1 • Acesso ao vestígio somente para pessoas autorizadas Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. • Registro das ações Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial43 • Módulo 1 Aula 6 – Local Idôneo e Inidôneo CONTEXTUALIZANDO... Você deve se lembrar das reflexões acerca da idoneidade dos vestígios, ou seja, das condições de preservação dos vestígios encontrados no local do crime. Nesta aula, vamos refletir sobre o conceito de idoneidade do local do crime, ou seja, se há ou não impossibilidade de exame pericial em locais ditos idôneos. Vamos entender mais sobre este assunto? Siga os estudos e confira! O QUE É LOCAL IDÔNEO E INIDÔNEO A partir da compreensão do significado de idôneo, visto anteriormente, é possível entender que local de crime idôneo seria aquele que estaria completamente intocável, com vestígios preservados e com as condições deixadas pelos agentes do delito (vítima e agressor). Essa questão traz muitas polêmicas e interpretações diversas sobre o que seja um local idôneo ou inidôneo e até se tal fato deve ser considerado em uma primeira abordagem no local de crime. Para o perito, um local inidôneo é aquele cujos vestígios foram perdidos e não há como depreender pelos elementos existentes, as dinâmicas, relações com a atividade delituosa e nexo causal. Como você viu até agora no curso, o resultado sobre as informações que os vestígios e o próprio local de crime podem trazer aos peritos criminais só será possível se forem empregadas as técnicas criminalísticas adequadas de constatação, registro, identificação e análise de cada um desses vestígios. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial44 • Módulo 1 Figura 15: Local idôneo e inidôneo. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). No entanto, a prática tem mostrado que mesmo com o precário isolamento e preservação dos locais de crime, ou seja, locais que seriam, em tese, considerados inidôneos, ainda assim é possível obter grandes resultados na análise de vestígios em um local de crime. Portanto, em tese, será muito comum encontrar os locais já inidôneos, mas isso jamais deverá ser motivo para que os peritos criminais deixem de realizar o exame. Os doutrinadores da criminalística consagraram que esse tipo de classificação para os locais de crime traz prejuízos para o desenvolvimento de possíveis investigações periciais, considerando que qualquer avaliação preliminar sobre as condições de Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial45 • Módulo 1 conservação de vestígios é prematura e desprovida de fundamentação técnica. Neste sentido, reiterando as informações vistas no curso até o momento, somente o exame esclarecerá se o local é ou não idôneo. Por isso, o exame sempre deverá ser realizado. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial46 • Módulo 1 Exercícios de Fixação As questões a seguir servem de guia para assimilar o seu conhecimento sobre o conteúdo aprendido. Você pode utilizar seu caderno de apontamentos para construir sua reflexão e conferir as respostas na seção Resolução. PERGUNTAS 1. Segundo Espindula (2009), como se define a investigação criminal? 2. Onde inicia a investigação criminal? 3. Qual a relevância das ações integradas das autoridades para a preservação do local de crime? 4. Quais sãos as diferenças entre vestígio, evidência e indício. 5. Qual é a diferença entre vestígio forjado e vestígio ilusório? 6. Qual é o fator que mais contribui para a produção de vestígios ilusórios? 7. Explique o que é reconhecimento? 8. O que é o isolamento de um local de crime? 9. Como deve ser a coleta dos vestígios? RESOLUÇÃO 1. É o conjunto de procedimentos e de tarefas capazes de criar as condições necessárias para se esclarecer um crime. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial47 • Módulo 1 2. A investigação criminal é o ponto de partida da persecução penal. É o início da atividade de verificação de determinado fato, supostamente criminoso. O ponto inicial da discussão sobre o exercício do sistema de persecução penal reside justamente na notícia-crime. A sua importância é fundamental para o regular desenvolvimento da investigação preliminar. Uma compreensão equivocada a respeito do seu significado pode redundar em prejuízo considerável ao procedimento investigativo. 3. Apesar de serem vistos como elementos isolados, a investigação policial, os exames periciais e o policiamento ostensivo são uma coisa só: a investigação criminal. Esses trabalhos são, portanto, interdependentes, ou seja, sem o trabalho de todos há prejuízos incalculáveis que impedem uma resposta satisfatória à sociedade. 4. Vestígio é qualquer elemento encontrado em local de crime. Evidênciaé o vestígio após realizado o procedimento pericial. Indício é nomenclatura jurídica de evidência apresentada com laudo pericial. 5. Ambos são elementos inseridos no corpo de delito e podem desviar a investigação, porém o forjado se dá por meio de ação intencional e o ilusório é quando foi inserido de forma descuidada. 6. Aglomerações no local de crime, entrada de curiosos no local de crime e isolamento inadequado. 7. Identificar um elemento que possa estar relacionado a um crime, é a etapa mais vulnerável, visto que, normalmente, é feita por cidadãos e, posteriormente, pelo primeiro agente de segurança pública que chegar ao local de crime. 8. É o ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo-se isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime. É a Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial48 • Módulo 1 etapa posterior ao reconhecimento, em que o agente de segurança pública toma as primeiras providências para preservação do local de crime. 9. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial49 • Módulo 1 Referências BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del2848compilado.htm. Acesso em: 7 fev. 2020. BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. 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OBJETIVOS DO MÓDULO A intenção é que, ao final deste módulo, você seja capaz de listar as providências preliminares a serem realizadas no local de crime e enumerar a sequência de procedimentos necessários para os locais. Além disso, conhecerá procedimentos operacionais padronizados pelas instituições e, por fim, saberá identificar os procedimentos corretos e auxiliadores da investigação. ESTRUTURA DO MÓDULO • Aula 1 – Situação Preliminar Encontrada. • Aula 2 – Segurança do Local de Crime. • Aula 3 – Delimitação da Área a Ser Preservada. • Aula 4 – Procedimentos Padronizados e Recomendações ao Primeiro Interventor na Cena do Crime. Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime54 • Módulo 2 Aula 1 – Situação Preliminar Encontrada CONTEXTUALIZANDO... Nestaaula, vamos estudar sobre a importância dos cuidados que o profissional de segurança pública deve ter com a situação inicial encontrada na cena do crime. Para isso, vamos pontuar a necessidade de preservação do local e demonstrar como esses procedimentos podem ajudar os agentes a desvendarem e comprovarem a sucessão de fatos ocorridos. PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA Seguindo com os estudos, você lembra do ciclo de persecução criminal? Como vimos anteriormente, chamamos de persecução penal o conjunto de atividades desenvolvidas pelo Estado que possibilitam atribuir punição ao autor de um crime cometido. É, portanto, a soma da investigação criminal com o processo penal. Nesse sentido, a persecução será completa se todas as fases de seu ciclo estiverem completas. Dentro das fases que compõem o ciclo, temos a situação preliminar encontrada pelo profissional de segurança pública; ou seja, o primeiro contato com a cena do crime! Por mais que pareça fácil de ser compreendido, o termo profissional de segurança pública envolve diversos profissionais, elencados no Art. 144 da Constituição Federal, e outros que, direta ou indiretamente, fazem parte da segurança pública. Quanto aos profissionais de segurança pública previstos na Constituição Federal, temos: Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime55 • Módulo 2 PF CBM GCM Polícias penais Guarda portuária Médicos legistas Agentes de trânsitos PFFPRF FNSP Peritos criminais SAMUTécnicos de necropsia Papilos- copistas PC PM Figura 1: Profissionais de segurança pública. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). ““ Como forma de ampliar seu entendimento sobre esse assunto, a recente criação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), a partir da Lei 13.675, de 2018, apresentou com mais clareza os órgãos responsáveis pela segurança pública nas três esferas: federal, estadual e municipal. Profissionais que exerçam algum cargo efetivo ou contratado, com nomenclaturas diferentes das acima citadas, mas com as mesmas atribuições e responsabilidades, que integrem os órgãos de segurança pública e defesa social podem atuar como primeiro agente na situação preliminar, preservando e isolando o local do crime para fins de persecução criminal. Segundo Camilo et al. (2017, p. 1), As primeiras pessoas que chegam ao local de crime desempenham papel fundamental no processo de perícia. Em circunstâncias aonde profissionais de saúde chegam antes da polícia técnica-científica ou judiciária, os procedimentos de registro do local, dos vestígios e de todas as atividades ocorridas durante o atendimento, devem ser realizados por eles. Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime56 • Módulo 2 Um exemplo importante acerca do primeiro interventor no local de crime é o caso de profissionais de emergência, em especial do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Em boa parte das cidades brasileiras, o atendimento é presente e tem grande importância na integração entre os órgãos. Legitimidade e representatividade do profissional de segurança pública A atuação do profissional de segurança pública, independente de qual for a instituição, é a personificação do Estado nas ruas, certo? Conforme previsão penal, em sua atividade legal, os atos de um servidor público não são mais do cidadão. Toda atividade desempenhada pelo profissional de segurança pública será em nome do Estado, por isso, muitas dúvidas surgem quando o profissional de folga intervém em situação de crime. Nesse caso, é preciso saber que, ao adotar a postura de intervir, o cidadão deixa de lado sua folga e passa a exercer a função pública. Assim que o agente incorporar a natureza pública da função, ele estará sob risco de não somente ser processado criminalmente por adulterar cenas de crimes como também causar repercussão negativa da instituição da qual faça parte. Você conhece algum caso em que o profissional adotou postura diversa da prevista legalmente? Segundo Espindola (2009), se você está efetuando o primeiro atendimento em um local de crime, não importa a sua categoria funcional ou atribuições primárias que executa no órgão em que atua, você deve compreender e valorizar cada Na Prática Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime57 • Módulo 2 circunstância e ato que possa praticar enquanto ali estiver, pois estará acumulando informações valiosíssimas para o esclarecimento do crime. SITUAÇÃO DO LOCAL DE CRIME ANTES DA CHEGADA DO PRIMEIRO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA É evidente que qualquer crime, por mais simples que seja, gera a comoção social e, não raras vezes, aglomeração de pessoas curiosas. Nesse contexto, o local de crime começa a sofrer as interferências que podem torná-lo inidôneo antes da chegada do profissional de segurança pública. Aliado a isso, o primeiro agente no local de crime, se não estiver capacitado quanto a sua atribuição e responsabilidades, poderá interferir negativamente no cenário, fazendo com que o crime, antes passível de investigação através do serviço pericial, jamais seja desvendado. A preocupação com a formação dos profissionais de segurança pública no Brasil ganhou diversos reforços nos últimos anos. A temática de preservação e valorização da prova é obrigatoriedade nas formações profissionais e está contida na Matriz Curricular Nacional para Ações Afirmativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública. Entretanto, as práticas cotidianas, ainda que sejam consideradas as formações e capacitações nas três esferas, quando errôneas, acabam refletindo negativamente nos demais casos de sucesso. Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime58 • Módulo 2 Outra necessidade urgente é a de sensibilizar o cidadão para a preservação do local de crime. Infelizmente a exposição nas redes sociais de crimes, por parte do cidadão, leva-o a descaracterizar o local de crime para obter “a melhor cena”. A situação não somente é reprovável como também caracteriza-se como crime de vilipêndio a cadáver, previsto no Art. 212 do Código Penal Brasileiro. Figura 2: Curiosidade no local do crime. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Os locais de crimes, quando não sofridas as primeiras intervenções pelos profissionais da segurança pública, são, não raras vezes, descaracterizados por diversos fatores, entre eles: Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime59 • Módulo 2 Pessoas aleatórias, curiosas ou correlacionados ao fato. Familiares e parentes próximos. Membros da imprensa e mídia geral. Profissionais da segurança pública não imbuídos da missão de preservação. Figura 3: Curiosidade no local do crime pode atrapalhar as investigações. Fonte: labSEAD- UFSC (2020). Dos possíveis cidadãos citados acima, os mais comuns de se encontrar nos ambientes são os curiosos. Entretanto, essa situação deve receber o mesmo trato com relação à intervenção: a ordem legal de afastamento e preservação do local de crime, considerando que todos os elementos encontrados na cena são considerados vestígios. Levando em consideração o conceito de vestígio, então, é necessário que o primeiro profissional a intervir no local de crime não descarte nada, não faça juízo preliminar de valor, sob risco de comprometer todo o isolamento e preservação daquele local. Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime60 • Módulo 2 Aula 2 – Segurança no Local de Crime CONTEXTUALIZANDO... Quando falamos de segurança no local de crime, falamos também da segurança do próprio profissional, pois, além de elucidar o crime e dar a resposta que a sociedade espera, o profissional precisa voltar vivo para seu lar, após cumprida sua missão constitucional. Para isso, ele deverá atentar-se, principalmente, para sua segurança e a de terceiros. Como veremos mais adiante, nos procedimentos padronizados pelos estados
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