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A3 - METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

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Trecho do livro: “ O Coração das Trevas”- Joseph Conrad
Deviam tê-lo ouvido falar ‘Meu marfim’. Eu ouvi. ‘Minha Prometida, meu marfim, meu posto, meu rio, meu…’,
tudo lhe pertencia. Fez com que prendesse minha respiração na expectativa de ouvir a floresta rebentar numa
prodigiosa explosão de riso, que deslocaria do lugar as estrelas do céu. Tudo lhe pertencia, mas isso não
importava. A questão era saber a quem ele pertencia, quantos poderes das trevas reclamavam-lhe a posse.
Essa era a reflexão que provocava arrepios de horror. Era impossível — de nada adiantava, também — tentar
imaginar. Ele havia galgado uma alta posição entre os demônios da Terra — literalmente, quero dizer. Vocês
não podem compreender. Como poderiam? Tendo o chão firme sob os pés, cercados do apoio ou da crítica
de vizinhos gentis, andando delicadamente entre o açougueiro e o policial, no santo terror de escândalos,
prisões e hospícios, como poderiam vocês imaginar a que particular região de primitivas eras os pés
desimpedidos de um homem seriam capazes de conduzi-lo, por força da solidão — uma solidão absoluta,
sem nenhum policial — ao caminho do silêncio — um silêncio absoluto, onde nenhuma voz de advertência de
um vizinho amável pode ser ouvida sussurrando à opinião pública? São essas pequenas coisas que fazem a
grande diferença. Quando elas desaparecem, você tem de recorrer à sua força inata, à sua capacidade de ser
fiel a si próprio. É claro que você pode ser tolo o bastante para cometer erros — estúpido demais até para
perceber que está sendo assaltado pelos poderes das trevas. Suponho que nenhum tolo chegou a barganhar
sua alma com o diabo; ou o tolo é tolo demais, ou o diabo demasiadamente diabólico — não sei qual é o
caso. Ou pode ser que você seja uma criatura tão fantasticamente superior a ponto de ficar surda e cega a
tudo que não diga respeito a visões e sons celestiais. A Terra passa, então, a ser apenas um lugar de espera
— e, se você perde ou ganha assim, não sei dizer. No entanto, a maioria de nós não é uma coisa nem outra.
A Terra para nós é um lugar para viver, onde temos de lidar com visões, sons… e odores, também, por Deus!
— respirar carne podre de hipopótamo, por assim dizer, e não ser contaminado. E aí, não percebem? Nossa
força aparece, a fé em nossa capacidade de cavar buracos discretos para enterrar a coisa — nosso poder de
devoção, não a si próprio, mas a um obscuro e extenuante trabalho. E isso é bastante difícil. Vejam, não
estou tentando desculpar-me ou mesmo explicar… Estou tentando compreender mais claramente quem era…
o Sr. Kurtz… o espectro do Sr. Kurtz. Aquele iniciado fantasma proveniente do fundo de lugar nenhum
honrou-me com sua surpreendente confidência antes de desaparecer completamente. Foi porque podia falar
inglês comigo. O Kurtz original fora em parte educado na Inglaterra, e — como ele próprio teve a bondade de
dizer-me — suas simpatias inclinavam-se para o lugar certo. A mãe era meio inglesa, o pai meio francês. A
Europa inteira contribuíra para a fabricação de Kurtz; e, pouco a pouco, aprendi que, muito apropriadamente,
a Sociedade Internacional para a Supressão dos Costumes Bárbaros o incumbira da elaboração de um
relatório, que lhe serviria de guia no futuro. E ele de fato o escreveu. Eu o vi. Eu o li. Era eloquente, vibrava de
eloquência, mas passional demais, eu acho. Dezessete páginas de escrita miúda, que ele encontrara tempo
para realizar! Porém, isso deve ter sido antes de — vamos dizer — ficar mal dos nervos, fazendo com que
presidisse certas danças à meia-noite que terminavam com indescritíveis ritos, os quais — tanto quanto
relutantemente concluí do que ouvira diversas vezes — eram oferecidos a ele — compreendem? — ao
próprio Sr. Kurtz. Mas era um belo texto. O parágrafo de abertura, no entanto, à luz de informação posterior,
parece-me agora sinistro. Começa com o argumento de que nós, brancos, em razão do nível de
desenvolvimento a que chegamos, ‘devemos necessariamente aparecer a eles (selvagens) como seres de
natureza sobrenatural — aproximando-nos deles com a força de uma divindade’, e assim por diante. ‘Pelo
simples exercício de nossa vontade, podemos exercer para sempre um poder praticamente ilimitado’ etc. etc.
A partir desse ponto, elevava-se a grande altura, levando-me junto. O discurso era magnífico, embora difícil
de lembrar, compreendem. Passava a ideia de uma exótica Imensidão governada por uma augusta
Benevolência. Fazia-me vibrar de entusiasmo. Era o ilimitado poder da eloquência… da palavra… de palavras
nobres, inflamadas. Não havia alusões práticas para interromper o encadeamento mágico das frases, a não
ser uma espécie de nota ao pé da última página, evidentemente rabiscada muito depois, numa caligrafia
irregular, podendo ser considerada como uma exposição do método. Era muito simples, e, no final daquele
apelo comovente a todo sentimento altruísta, brilhava, luminoso e aterrorizante, como o clarão de um raio em
céu sereno: ‘Exterminem todos os bárbaros!’
Joseph Conrad?(1857-1924)
Vimos nesta unidade que utilizar elementos como a literatura nos ajuda a compreender os conceitos
geográficos, sabendo desta informação, ao ler o trecho do livro “O coração das trevas”, procure identificar os
lugares mencionados no texto. Situe o contexto histórico em que se passa a narrativa, identificando o
continente em que ele se encontra e suas características neste período mencionado.
RESPOSTA:
Percebi que tudo passa na região central da África , que separa a mesma da Europa, está o Mar
Mediterrâneo. A praia deste continente é grande cerca de 27 mil km de mar. E as coordenadas geográficas da
África são estabelecidas pelos Trópicos de Câncer e Capricórnio, além da linha do Equador pelo Meridiano
de Greenwich. Lembrando também que tudo aconteceu no interior da África, no século XIX e que o
continente africano é cercado por oceanos Atlântico a oeste, Oceano Índico ao leste além dos mares
Mediterrâneo norte e Mar Vermelho nordeste e pelo Canal de Suez, localizado no Egito.
Ao ler e analisar esse trecho do livro “O coração das trevas” de Joseph Conrad, pode-se observar que ele se
passa na região central da África , divisa com a Europa Subentende-se que o Sr. Kurtz, um homem educado
na Inglaterra, filho de mãe inglesa e pai francês, tido como civilizado, a partir do momento em que entrou em
contato com a cultura do continente africano e depois de diversas experiências “selvagens” e “sobrenaturais”
explorando o continente Europeu em busca de marfim, ele passou a se adorar como se fosse um deus,
provavelmente era um tirano europeu que dominava sobre tribos africanas. O relatório, mencionado no
trecho, deixa bem clara a visão antropológica da época.“O parágrafo de abertura, no entanto, à luz de
informação posterior, parece-me agora sinistro. Começa com o argumento de que nós, brancos, em razão do
nível de desenvolvimento a que chegamos, ‘devemos necessariamente aparecer a eles (selvagens) como
seres de natureza sobrenatural — aproximando-nos deles com a força de uma divindade’, e assim por
diante.” Joseph Conrad (1857-1924) A Europa estava em desenvolvimento, época do Neocolonialismo,
colonizando países da África para expandir seus negócios. A antropologia evolucionista, ideia usada na
época para justificar a dominação de povos africanos, que eram vistos como selvagens e ignorantes pelos
europeus, que se consideravam desenvolvidos, poderosos e modernos.

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