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1 Laylla Oliveira Fagundes – Medicina – Urgência e Emergência HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA ➔ CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS DE HDA: • HEMATÊMESE: o A hematêmese (excluindo-se a hemoptise) é observada durante o sangramento GI; o A lavagem nasogástrica geralmente revela um aspirado que é grosseiramente sanguinolento e positivo para o teste do guáiaco. • MELENA E HEMATOQUEZIA: o O aspirado será negativo em, aproximadamente, 10% dos pacientes com sangramento GI de fonte duodenal; o Uma fonte duodenal não pode ser excluída, a menos que o conteúdo da lavagem gástrica contenha bile; mesmo com a bile, o sangramento pode ter hemostasiado antes da chegada do paciente → se o paciente relata hematêmese não testemunhada e o lavado gástrico é inconclusivo → a consultoria com um gastroenterologista com vista a endoscopia com brevidade é indicada. ➔ RECONHECER FATORES DE RISCO PARA HEMORRAGIA DIGESTIVA GRAVE: • Sinais e sintomas, ou uma história que indique sangramento ativo: o Hematêmese ou hematoquezia profusas; o Hipotensão, taquicardia ou outros sinais de choque; o Hipotensão, taquicardia ou tontura posturais; o Possibilidade de fístula aortoentérica (história de aneurisma de aorta abdominal operado ou massa pulsátil abdominal palpável); o Varizes esofágicas conhecidas ou suspeitadas; o História de sangramento digestivo prévio; o História de diverticulite. ➔ INICIAR PROCEDIMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO: A. Avaliar a necessidade de controle das vias aéreas: • Considerar IOT para pacientes com hematêmese maciça em curso, ou se os sinais e sintomas de choque estiverem presentes; • Se o controle das vias aéreas imediato não for necessário, fornecer oxigênio suplementar, conforme a necessidade, para manter a saturação de oxigênio acima de 93%. B. Obter acessos venosos: • Introduzir dois cateteres intravenosos de grande calibre em veias periféricas; • Se o acesso periférico não puder ser obtido, considerar a colocação de um cateter venoso central. C. Iniciar a ressuscitação volêmica: • Restaurar o volume intravascular com infusões rápidas de soro fisiológico normal ou de ringer lactato aquecidos. D. Avaliar a necessidade de transfusão de sangue imediata: • Quando houver hipotensão persistente, apesar da infusão de 2L de cristaloide, considerar a transfusão imediata de sangue tipo-específico, se disponível; se não, transfundir sangue O-, até que o sangue com provas cruzadas esteja disponível; • Deve haver liberalidade em se transfundir para pacientes idosos ou aqueles com doença cardíaca conhecida; • Continuar a transfusão para manter a PA sistólica maior do que 90mmHg. E. Solicitar exames laboratoriais: • Enviar sangue para um hemograma completo; • Realizar a tipagem e prova cruzadas de sangue para 2-6 unidades, dependendo da gravidade da hemorragia e do estado do paciente; 2 Laylla Oliveira Fagundes – Medicina – Urgência e Emergência • Medir o tempo de protrombina e o tempo de tromboplastina parcial, para avaliar a quaisquer coagulopatias; • Mensurar os eletrólitos séricos e as funções renal e hepática; o A ureia sérica está elevada em muitos pacientes com HDA; • A gasometria venosa e o lactato podem ser úteis na avaliação do estado de perfusão tecidual; • Sempre que possível, extrair sangue do paciente para análises antes da transfusão, para não prejudicar a aferição das provas de coagulação. F. Solicitar um eletrocardiograma: • Obter um ECG para: o Qualquer paciente com idade >50 anos; o Qualquer paciente com história de miocardiopatia isquêmica; o Qualquer paciente com história de anemia significativa; o Qualquer paciente com dor torácica, falta de ar ou hipotensão grave. • Se o ECG inicial demonstrar isquemia em curso em face de hemorragia digestiva, então, considerar a transfusão imediata de concentrado de hemácias; • Se hematócrito inicial de um paciente for <30% e ele apresentar uma história de miocardiopatia isquêmica, considerar a transfusão precoce; • Manter um baixo limiar de suspeita de IAM, já que pacientes que sofrem infartos após hemorragia maciça podem não sentir dor torácica. G. Realizar o exame físico: • Realizar um exame físico completo, incluindo: o Aspecto geral; o Estado mental; o Ausculta cardíaca; o Ausculta pulmonar; o Exame abdominal (incluindo a observação de cicatrizes cirúrgicas, distensão, ausculta de sopros que possam indicar um aneurisma, palpando o tamanho dos órgãos); o Alterações cutâneas (palidez, umidade, telangiectasia, equimoses, petéquias); o Toque retal, para hemorroidas ou fissuras; o Exame de fezes (sangue oculto). H. Instalar uma sonda naso ou orogástrica: • Se hematêmese não foi documentada: o Preparar o conduto nasal e a faringe posterior com anestésico tópico; o Instalar uma sonda nasogástrica; o Fazer uma lavagem com soro fiisologico normal, em temperatura ambiente (líquidos frios podem impedir a coagulação normal), até que o aspirado fique claro. • Sangramento persistente durante a lavagem indica hemorragia digestiva alta ameaçadora à vida, e uma consultoria imediata com o gastroenterologista ou cirurgião deve ser obtida; • A lavagem antes da endoscopia pode melhorar a visualização durante o procedimento endoscópico, principalmente no fundo gástrico; • A administração de eritromicina IV irá estimular a motilidade gástrica e também irá ajudar a limpar o estomago de sangue antes de da endoscopia, para melhorar a visualização durante o procedimento. • Se o sangramento persistente for observado e o endoscopista der instruções para fazê-lo: o Instalar uma sonda nasogástrica para a lavagem gástrica, com incrementos de 200-300mL de soro fisiológico ou água da torneira; o O paciente deve estar na posição de decúbito lateral esquerdo, com a cama na posição de Trendelenburg invertida; o Lavar até o aspirado se tornar claro. I. Instalar uma sonda vesical: • Se o paciente está em choque ou tem histórico de disfunção cardíaca ou renal, inserir um ceteter de Foley na bexiga para monitorar o débito urinário; 3 Laylla Oliveira Fagundes – Medicina – Urgência e Emergência • Solicitar análise de urina para detectar hematúria, que poderia indicar um aneurisma abdominal. J. Não administrar líquidos ou antiácidos: • Pacientes que estejam aguardando por uma endoscopia NÃO devem receber NADA por via oral; • Antiácidos podem impedir a adequada visualização durante o procedimento endoscópico. K. Corrigir coagulopatias: • Pacientes usuários de cumarínicos ou com insuficiência hepática (p. ex.: icterícia) podem necessitar de vitamina K e plasma fresco congelado para a correção da coagulopatia antes que o sangramento possa ser controlado. L. Consultoria precoce: endoscopia: • Após a estabilização inicial do paciente, contatar o cirurgião geral de plantão ou o gastroenterologista para endoscopia imediata e terapia ou mais instruções; • Se o serviço de endoscopia de urgência não estiver disponível na unidade de tratamento, o médico emergencista deve transferir o paciente para uma instituição capaz de prover esse cuidado e organizar o transporte rápido. OUTROS EXAMES ESPECIAIS EM CASOS DE HDA: o SÉRIE DE RAIOS X DO TGI ALTO; o ANGIOGRAFIA: pode ser útil se na EDA não for possível identificar uma fonte de sangramento, mesmo quando há suspeita de sangramento ativo. ➔ DESTINAÇÃO: • Com base em determinados critérios clínicos, como idade, comorbidades, sinais vitais, dados laboratoriais e disponibilidade de acompanhamento ambulatorial em poucos dias, um subgrupo de pacientes com hemorragia GI pode ser liberado → essa decisão deve ser feita juntamente com o gastroenterologista; • A internação em unidade de terapia intensiva (UTI) deve ser reservada para pacientes com sangramento anormal, sinais vitais alterados, doenças comórbidas significativas, ou necessidade de terapia transfusional, e para aqueles em maior risco de ressangramento (varizes esofágicas). ➔ DETERMINAR O LOCALDE SANGRAMENTO: • Assim que o paciente estiver estabilizado, tente determinar o local do sangramento, se já não for óbvio; • Em 90% dos pacientes com hemorragia GI, o sangramento tem uma fonte do trato gastrointestinal superior (ou seja, proximal ao ligamento de Treitz); • Em cerca de 80-85% dos pacientes com hemorragia GI, o sangramento cessará antes da chegada do paciente no serviço de emergência. ➔ MONITORIZAÇÃO POR RECIDIVA DO SANGRAMENTO: A. LAVAGEM GÁSTRICA: • Após a colocação de uma sonda nasogástrica, continuar a reavaliação para ressangramento usando aspiração contínua de baixa intensidade intermitente; • Sangue vermelho vivo ou coágulos no aspirado é uma indicação para lavagem gástrica suave; • A lavagem excessivamente vigorosa pode causar erosões gástricas; • Sangramento ou ressangramento é uma indicação para endoscopia emergencial. B. FEZES: • Registrar frequência, cor e quantidade aproximada informada pelo paciente; • A passagem continuada de fezes marrom-escarlates, vermelhas ou melênicas → necessidade de estudos adicionais ou transfusão. C. HB E HTC: • A verificação a cada 4h é essencial em pacientes com sangramento ativo depois de serem hemodinamicamente estabilizados; • Muitas vezes, o HTC inicial é normal; 4 Laylla Oliveira Fagundes – Medicina – Urgência e Emergência • Após a reanimação com fluidos e o equilíbrio do volume intravascular, a Hb e o HTC devem ser reexaminados. ➔ CONTROLE EMERGENCIAL DE DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS DE HDA: 1- ÚLCERA PÉPTICA: a. CLÍNICA: dor em queimação em quadrante superior esquerdo ou epigastralgia; dependendo da localização da úlcera, essa dor pode ser agravada ou até melhorada com a comida. b. TRATAMENTO: i. IBP (Omeprazol ou Rabeprazol) → início do tratamento se o paciente tiver suspeita de úlcera péptica; ii. SOMATOSTATINA (Octreotide)→ peptídeo endógeno que reduz o fluxo sanguíneo esplâncnico e a motilidade GI, inibe a secreção de ácido e pode ter efeito citoprotetor gástrico; iii. ORIENTAÇÕES: 1. Os pacientes devem ser instruídos a não fumar, não consumir álcool ou cafeína, nem utilizar AINEs ou AAS regularmente; 2. Hemorragia recorrente ou persistente requer avaliação para intervenção cirúrgica. 2- GASTRITE: a. CLÍNICA: assintomática ou anorexia, náuseas, dispepsia, dor e vômitos pós-prandiais imediatos; OBS.: a gastrite raramente resulta em hemorragia maciça por si só, mas isso pode ocorrer na presença de hipertensão portal e coagulopatias. b. TRATAMENTO: i. Manter lavagem nasogástrica até que não seja mais encontrado sangue vivo; ii. Suspeita clínica de gastrite sem sangramento → tentativa de tratamento com ANTIÁCIDO com LIDOCAÍNA viscosa → alívio rápido; iii. Considerar IBP ou qualquer um dos muitos ANTAGONISTAS HISTAMINÉRGICOS H2 (Famotidina, Ranitidina); iv. ORIENTAÇÕES: 1. Evitar AAS, AINEs, cafeína e álcool. 3- SÍNDROME DE MALLORY-WEISS: a. FISIOPATOLOGIA: rasgos na mucosa esofágica e na submucosa que geralmente ocorrem após arcadas vigorosas e vômitos, além de poder ser secundário a compressões torácicas, a tossir, espirrar, ou mesmo ao movimento intestinal. Em muitos casos, não há nenhum fator predisponente discernível. O uso abusivo de álcool é um fator de risco significativo. b. CLÍNICA: hematêmese. c. TRATAMENTO: i. Lavagem nasogástrica até clarear o aspirado; ii. Sangramento persistente → EDA emergencial com uma possível injeção de adrenalina terapêutica, coagulação ou embolização do vaso; iii. IBP ou SUCRALFATO → reduzem o ácido ou a bile que pode prejudicar a cicatrização da mucosa da fissura; iv. Tratamento de fatores predisponentes (náuseas e vômitos) → antieméticos. 4- VARIZES ESOFÁGICAS: a. CLÍNICA: a HDA secundária a varizes não pode ser diagnosticada clinicamente, com base em sinais e sintomas unicamente. A fonte do sangramento pode ser diferente das varizes. b. TRATAMENTO: i. MEDIDAS EMERGENCIAIS; ii. CONTROLE DAS VIAS AÉREAS: 1. Se alteração do estado mental ou hematêmese → IOT protetora. iii. MONITORAÇÃO HEMODINÂMICA: 1. Se instabilidade + comorbidades significativas → monitoração invasiva da PA e da pressão venosa central. iv. CONTROLE CLÍNICO: 5 Laylla Oliveira Fagundes – Medicina – Urgência e Emergência 1. Sonda nasogástrica → monitorar a quantidade de hemorragia GI e facilita a EDA por evacuação do conteúdo gástrico, incluindo o sangue; 2. Octreotide → diminui o fluxo sanguíneo hepático e esplâncnico, bem como as pressões trans-hepáticas e variceais. v. TERAPIA ENDOSCÓPICA: 1. Escleroterapia → injeção de vários agentes esclerosantes → promove a formação de trombos; 2. Ligadura elástica → faixas de borracha colocadas por via endoscópica → boqueiam o fluxo sanguíneo e promovem a formação de trombos; Obs.: associada a menos complicações que a escleroterapia. vi. TAMPONAMENTO COM BALÃO: 1. Em raras circunstâncias, pode ser necessário inserir um tubo de Sengstaken- Blakemore para tamponamento da hemorragia descontrolada antes da confirmação endoscópica; Obs.: os pacientes devem ser intubados antes da inserção do tubo. 5- HEMOBILIA: a. FISIOPATOLOGIA: pode ocorrer secundária a traumatismos, tumores hepáticos, cálculos biliares ou parasitas; b. CLÍNCIA: sangramento gastrintestinal; Obs.: durante a EDA, o sangramento é percebido como proveniente da ampola de Vater; c. TRATAMENTO: i. Hospitalização para observação e tratamento; ii. Embolização por técnica radiológica intervencionista → terapia de escolha. 6- ANEURISMA DE AORTA (FÍSTULA AORTOENTÉRICA): a. CLÍNICA: hemorragia secundária a uma fístula aortoentérica (até que se prove o contrário). O sangramento pode ser moderado inicialmente, mas hemorragia profusa pode eventualmente ocorrer, a menos que o tratamento adequado seja administrado. b. TRATAMENTO: i. Estabilização; ii. Avaliação cirúrgica imediata. 6 Laylla Oliveira Fagundes – Medicina – Urgência e Emergência FLUXOGRAMA EM CASOS DE HEMATÊMESE OU SUSPEITA DE HDA: 1- AVALIAÇÃO DO QUADRO CLÍNICO: a. INSTÁVEL e com evidência de CHOQUE: i. RESSUSCITAÇÃO; 1. LAVAGEM pela SONDA NASOGÁSTRICA: a. NEGATIVA → MELENA no toque retal? i. NÃO → considerar outras causas de choque; ii. SIM → considerar HDA pós-pilórica → ENDOSCOPIA → UTI ou LAPAROSCOPIA EXPLORADORA (se a HDA não for controlada por EDA). b. POSITIVA → ENDOSCOPIA → UTI ou LAPAROSCOPIA EXPLORADORA (se a HDA não for controlada por EDA). b. ESTÁVEL: i. LAVAGEM pela SONDA NASOGÁSTRICA: 1. ASPIRADO continuamente sanguinolento, SEM CLAREAR → ENDOSCOPIA → UTI ou LAPAROSCOPIA EXPLORADORA (se a HDA não for controlada por EDA); 2. ASPIRADO CLAREIA ou efluente cor de café → reavaliar o quadro clínico → EXAMES LABORATORIAIS E ECTOSCOPIA: HTC, provas de coagulação, sinais vitais e PA em ortostatismo NORMAIS, na ausência de comorbidades importantes? a. NÃO → INTERNAÇÃO e EDA; b. SIM → EDA e acompanhamento ambulatoriais. 3. LAVAGEM NEGATIVA → considerar outras fontes de sangramento (hemoptise ou hemorragia digestiva por úlcera pós-pilórica).
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