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*O renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna APRESENTAÇÃO "Ser ou não ser, eis a questão". Você provavelmente já leu ou ouviu essa frase em algum lugar, mas você sabe de onde ela vem? Quem é o autor ou a autora? E, afinal de contas, o que ela significa? Ela, apesar de famosa e emblemática, parece bastante misteriosa e enigmática quando apresentada dessa forma, fora do seu contexto. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir que essa frase pertence à peça Hamlet, do escritor inglês William Shakespeare. Você também vai conhecer que tipo de narrativa é essa e que tragédia é vivida por Hamlet, seu protagonista. Para o entendimento desse clássico, você vai analisar o contexto histórico de Shakespeare e da escritura da peça: o Renascimento. Ainda vai discutir o conceito de tragédia moderna, gênero ao qual a obra Hamlet pertence. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as características do Renascimento e relacioná-las com a narrativa de Hamlet.• Discutir o conceito de tragédia moderna e compará-lo com o conceito de tragédia grega.• Analisar trechos da obra Hamlet.• DESAFIO Você é um diretor teatral e foi requisitado que faça uma montagem da peça Hamlet, de Shakespeare, para apresentar para um grande e variado público. Antes da apresentação, é necessário divulgar a montagem. Para isso, você dá uma entrevista a um jornalista, que lhe pergunta: Por que as pessoas devem assistir a uma peça que foi escrita há centenas de anos atrás, no início do século XVII? Explique. INFOGRÁFICO Por mais que os renascentistas da Idade Moderna tenham buscado inspiração na Antiguidade greco-romana, há enormes diferenças entre a tragédia clássica e a tragédia moderna − gênero ao qual Hamlet, de William Shakespeare, pertence. Neste Infográfico, você vai analisar algumas das semelhanças e das diferenças entre a tragédia clássica e sua sucessora, a tragédia moderna. CONTEÚDO DO LIVRO Francisco Sublinhado Hamlet, de William Shakespeare, é uma tragédia moderna que pertence ao Renascimento. Acompanhe a obra Textos fundamentais da literatura universal, a partir do Capítulo O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Nesse capítulo, você vai identificar quais são as características das tragédias modernas e do período do Renascimento. Você também vai relacionar todas essas características com a produção de Shakespeare, especificadamente com Hamlet. Por fim, você vai entrar em contato com alguns trechos de Hamlet e vai analisá-los literariamente. Boa leitura! Francisco Sublinhado TEXTOS FUNDAMENTAIS DA LITERATURA UNIVERSAL Luara Pinto Minuzzi O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identi� car as características do Renascimento e relacioná-las com a narrativa de Hamlet. Discutir o conceito de tragédia moderna e compará-lo com o conceito de tragédia grega. Analisar trechos da obra Hamlet. Introdução “Ser ou não ser, eis a questão.” Você provavelmente já leu ou ouviu essa frase em algum lugar. Mas você sabe de onde ela vem? Quem é o seu autor ou a sua autora? E, afinal de contas, o que ela significa? Apesar de famosa e emblemática, parece bastante misteriosa e enigmática quando apresentada dessa forma, fora do seu contexto. Neste capítulo, você vai descobrir que essa frase pertence à peça Hamlet, do escritor inglês William Shakespeare. Você também vai conhecer que tipo de narrativa é essa e que tragédia é vivida por Hamlet, o seu protagonista. Para que você entenda esse clássico, vamos analisar o contexto histórico em que viveu Shakespeare em que a obra foi escrita, o Renascimento. Ainda, vamos discutir o conceito de tragédia moderna, gênero ao qual Hamlet pertence. Textos fundamentais_U1C4.indd 66 28/08/2017 16:48:01 O Renascimento e a tragédia moderna Hamlet é uma tragédia moderna escrita pelo autor inglês William Shakes- peare entre o fi nal do século XVI e o início do XVII. Essa foi a época do Renascimento, período da história da Europa que vai do século XIV ao fi m do século XVI e pertence à Idade Moderna. Como Shakespeare nasceu em 1564 e morreu em 1616, ele vivenciou o movimento em seus últimos tempos (Figura 1). Mesmo assim, várias das características do Renascimento podem ser observadas nas suas obras e, por isso, é muito importante que você entenda um pouco melhor no que consistiu essa fase da história europeia. Como a peça aqui em foco é considerada uma tragédia moderna, também é necessário discutir o que signifi ca esse conceito. Figura 1. William Shakespeare. Fonte: William Shakespeare (2017). O Renascimento foi um momento bastante rico na história do continente europeu. A Itália foi o país de maior destaque no Renascimento, servindo de inspiração para o resto do continente. O principal centro artístico era Roma. Porém, outros países também foram importantes, e a Inglaterra de Shakespeare foi um deles. Leonardo da Vinci e Michelangelo são dois exemplos de pintores de enorme prestígio do Renascimento. No campo da literatura, predominavam 67O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 67 28/08/2017 16:48:01 Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado nomes como o do italiano Dante Alighieri e do espanhol Miguel de Cervantes — além, é claro, de William Shakespeare. Você deve compreender como a concepção do homem sobre si mesmo e sobre o mundo mudou completamente da Idade Média para essa época. Na Idade Média, antecedente da Idade Moderna, a religião era um peso enorme na vida das pessoas. Por um lado, isso era algo muito bom: imagine que algo extremamente ruim acontece com você ou com alguém da sua família, como uma doença grave ou um acidente. As pessoas, na Idade Média, possuíam uma força muito grande na qual se apoiar, que era Deus e a religião — nesse sentido, elas nunca estavam sozinhas. Por outro lado, elas também estavam muito mais amarradas a uma situação específica, como uma situação de pobreza, por exemplo. Isso acontecia por dois motivos em especial: acreditava-se que qualquer situação ou acontecimento ruim eram causa- dos por vontade divina e que, portanto, não poderiam ser questionados; acreditava-se que o mais importante era a felicidade na vida após a morte, quando as almas subiriam ao paraíso, por isso não havia motivo para se preocupar com a infelicidade terrena. Contudo, algumas descobertas colocaram em dúvida todas essas crenças muito fortes e sólidas, e acabaram por ser fundamentais para a constituição do pensamento renascentista. Uma das mais importantes é a de Nicolau Copérnico, um polonês que descobriu, a partir das suas investigações, que a Terra não era o centro do Universo. A sua famosa teoria, batizada de heliocentrismo, afirma que o Sol fica no centro do Sistema Solar. Você deve imaginar o caos quando Copérnico apresentou as suas conclusões: como a Terra, criada em sete dias por Deus, o todo poderoso, não estava no centro? Depois, Galileu Galilei ainda “piorou” as coisas: ele afirmou que não só a Terra não estava no centro do Universo, como ainda girava ao redor do Sol. Todas essas descobertas ajudaram a modificar a forma como as pessoas enxergavam a si mesmas e a realidade ao seu redor. Então, já podemos concluir que duas das características do Renascimento foram o racionalismo e o experimentalismo: a única forma de se chegar ao conhecimento é por meio da razão, de estudos, de observação da natureza, de experimentos científicos que possam comprovar ideias, fenômenos, leis, etc. A religião continua sendo importante, mas ela perde bastante terreno quando comparamos a sua importânciacom a que teve na Idade Média. Desse papel mais discreto da Igreja na vida dos indivíduos, é possível tirar mais uma das marcas da época de Shakespeare: o individualismo e o O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna68 Textos fundamentais_U1C4.indd 68 28/08/2017 16:48:02 Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado antropocentrismo. O ser humano passa a ser a figura de destaque da criação — diferentemente da Idade Média, quando Deus era o centro, crença que é conhecida como teocentrismo. É claro que a maioria dos renascentistas con- tinuava acreditando em Deus, mas o poder do homem de decidir sobre o seu futuro e de realizar as suas vontades aumentou muito. Se, na Idade Média, o coletivo estava acima do indivíduo, que devia obedecer cegamente às leis divinas e terrenas, na Idade Moderna, o homem passou a ser o destaque. Por isso, a necessidade de se conhecer, de afirmar a sua própria personalidade, de mostrar os seus talentos e de perseguir as suas ambições. Além disso, os renascentistas resgataram a cultura e alguns dos valores da Antiguidade Clássica dos gregos e dos romanos. Dessa forma, há inúmeros quadros, por exemplo, que retratam temas mitológicos de Roma e da Grécia, como o Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, ou Alegoria do Triunfo de Vênus, de Agnolo Bronzino. Claro que eles não se limitaram a copiar a Antiguidade Clássica, apenas utilizaram algumas das suas referências. Ademais, temas da tradição cristã eram igualmente muito frequentes, e Juízo Final, pintura da Capela Sistina feita por Michelangelo Buonarroti, é um dos exemplos mais famosos. Você pode examinar muitas dessas características do Renascimento ob- servando a pintura reproduzida na Figura 2. Figura 2. O batismo de Cristo, Pietro Perugino. Fonte: Renascimento (2017). 69O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 69 28/08/2017 16:48:02 Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Na Figura 2, é possível observar um quadro do pintor italiano Pietro Perugino, do século XV, que está na Capela Sistina. Um dos primeiros aspectos que se nota na pintura é o equilíbrio das formas e a simetria: temos duas figuras centrais em destaque, para onde nossa atenção converge quando botamos os olhos no desenho, que são Cristo e São João Batista. Acima deles, está a imagem de Deus. Traçando uma linha reta bem no meio do quadro, entre esses personagens em destaque, acabamos com duas metades muito simétricas: repare que o número de pessoas de um e do outro lado é parecido; nos dois lados, no canto superior, há a presença de uma vegetação; há dois anjos, um de cada lado de Deus; mesmo o prédio ao fundo está quase no centro. Essa simetria e equilíbrio se relacionam com o racionalismo, e muitos pintores faziam cálculos para saber exatamente onde posicionar os elementos para que um quadro ficasse perfeitamente simétrico. Além disso, Deus está presente na pintura, mas não está no centro dela: ele fica pairando acima dos homens, como se estivesse olhando por eles sem inter- ferir. Aqui é a sua representação carnal, humana, que é realçada: Jesus Cristo. Ainda se faz presente no quadro a influência greco-romana a partir do uso das mesmas proporções para a construção da figura humana, bem como o conceito de belo da Antiguidade Clássica. As cores também são vivas e alegres, o que remete para otimismo da época. Agora você pode observar na Figura 3, o famoso quadro do pintor italiano Rafael inspirado na Antiguidade Grega: Figura 3. A escola de Atenas, Rafael. Fonte: Renascimento (2017). O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna70 Textos fundamentais_U1C4.indd 70 28/08/2017 16:48:02 Francisco Realce Nessa pintura, além da simetria e do equilíbrio, você pode notar igualmente a importância dada à razão e à ciência, pois aqui estão representados alguns dos maiores filósofos e cientistas da Grécia Antiga: o matemático Arquimedes e os filósofos Aristóteles, Platão e Heráclito são exemplos dos personagens de destaque. Rafael, inclusive, pintou-se no quadro, situando-se em meio a essas figuras lendárias, o que remete para a centralidade do indivíduo durante o Renascimento. No site da Universidade Estadual Paulista, há um acervo digital de pinturas renascentistas com explicações e in- formações que você pode conferir. O acervo está dividido em duas partes: https://goo.gl/ETWnjm https://goo.gl/S7U5Lp Dentro dessa tradição do Renascimento da Idade Moderna, encontra-se a tragédia moderna. Primeiro, você deve notar que tragédia é aquele gênero da dramaturgia que aponta para uma história dramática, com acontecimentos tristes e desesperadores. A tragédia moderna foca um indivíduo e OS seus conflitos, não um personagem que se constitui como um representante da humanidade — como é característico da tragédia clássica, própria da anti- guidade greco-romana. Os problemas e os desastres ocorridos na vida dos personagens não são mais inevitáveis (ao contrário dos definidos já no nascimento por meio de um destino fixo, como na tragédia clássica), eles são consequência das escolhas de cada um. A culpa também se torna uma culpa pessoal. Na tragédia clássica Édipo Rei (SHAKESPEARE, 2010), por exemplo, o destino de Édipo é matar o seu pai e casar com a sua mãe. Por assassinar o seu pai, porém, uma maldição cai sobre todo o povo de Tebas, reinado por ele, na forma de uma peste. 71O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 71 28/08/2017 16:48:03 Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Já em Hamlet (SHAKESPEARE, 2010), o protagonista, que leva o nome da peça, vive sozinho o dilema de saber que o assassino do seu pai é o seu tio, com quem a sua mãe casa após ficar viúva. É ele sozinho quem se debate entre o pedido do seu pai por vingança e a culpa por cometer um novo crime. Além disso, se, na tragédia clássica, não havia possibilidade de redenção, de correção do erro, visto que o destino de homens e deuses não podia ser mudado, na tragédia moderna, isso é possível, pois nada é definitivo. Na tragédia grega, as ações valiam mais do que o desenvolvimento do personagem: acreditava-se que, por meio das ações, já se descobriam as características dos indivíduos na trama. Na tragédia moderna, ocorre o contrário: o desenvolvimento da psicologia do personagem é extremamente importante. Quando você assiste a uma peça da tragédia moderna ou lê o seu texto, consegue quase entrar na mente da personagem. Sabe o que ela está sentindo, porque pratica determinada ação, como se relaciona com os outros. E os sentimentos são extremamente complexos, misturando sensa- ções ambíguas e, mesmo, contraditórias: amor e raiva, culpa e sentido de vingança, ódio e compaixão. Portanto, você pode concluir que as características principais do Renascimento podem ser observadas na tragédia moderna. Primeiro, o antropocentrismo está visível no relevo dado para o indivíduo na tragédia. Esse indivíduo é o responsável pelo seu destino, pelo seu futuro. Contudo, por outro lado, por mais que ganhe liberdade, ele igualmente perde um importante ponto de referência e a certeza de que o que quer que acontecesse era o correto, porque era a vontade divina. O homem fica um pouco mais perdido em relação ao mundo e em relação ao seu papel no mundo. Segundo, o racionalismo e o experimentalismo surgem justamente nessa busca solitária do heróida tragédia moderna pela verdade ou pela justiça, pela alegria — ninguém apontará o caminho correto, e cabe a ele testar as distintas possibilidades. Por fim, o individualismo parece uma consequência óbvia de todos esses elementos citados acima: os heróis da tragédia moderna estão centrados em si mesmos. O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna72 Textos fundamentais_U1C4.indd 72 28/08/2017 16:48:03 Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce William Shakespeare e a tragédia moderna Hamlet Sobre a vida de William Shakespeare, o maior dramaturgo inglês, há algumas certezas e muitas dúvidas. Nas biografi as sobre o famoso escritor, expressões como “talvez”, “não se sabe ao certo”, “provavelmente” e “ao que parece” são muito comuns. Você pode imaginar que essa falta de informações precisas abriu espaço para muita especulação e para a criação de inúmeras teorias — algumas plausíveis, outras nem tanto. Alguns dizem que Shakespeare nunca existiu e que as suas peças foram, na verdade, escritas por autores diferentes. Outros, que ele seria apenas um ator que, depois, se colocaria como autor das peças em que atuou. Por outro lado, muitos acreditam que ele realmente existiu e que foi o verdadeiro autor de todas as peças. Porém, o que realmente importa é a enorme qualidade das suas produções, que até hoje encantam leitores e espectadores. Parece que as suas peças são como esponjas, absorvendo todas as questões e problemas de cada época, como se fossem contemporâneas a cada uma. Shakespeare parece ser sempre atual, mesmo que alguns séculos nos separem dele e do seu momento de escrita. Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon, na Inglaterra, em 1564, mas não se tem certeza do dia nem do mês. Entre as muitas profissões assumidas pelo seu pai ao longo da vida, encontra-se a de aprovar verbas para companhias teatrais visitarem a cidade — o que pode ter influenciado a opção do escritor filho pela dramaturgia. A sua mãe possuía terras e a família sempre viveu confortavelmente. Mas onde Shakespeare estudou e como foi a sua infância? Não há resposta precisa para essas perguntas. O que se sabe é que ele casou com Ana Hathaway quando tinha 18 anos, com quem foi casado por toda a vida e com quem teve três filhos. Apesar do casamento, a sua mulher e os seus filhos viviam em Stratford-upon- -Avon, enquanto Shakespeare tentava a sorte em outros lugares. O período logo após o seu casamento, de 1585 a 1592, é um grande hiato: nenhum pesquisador foi capaz de descobrir com o que o escritor se ocupou durante todos esses anos. Uma das hipóteses é a da sua ida para Londres, centro político e cultural do País, onde ele poderia desenvolver a sua carreira como escritor e ator de teatro. Naquela época, quem reinava a Inglaterra era Elizabeth I, o que foi muito posi- tivo para Shakespeare, pois esse foi um momento de apogeu da cultura inglesa. 73O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 73 28/08/2017 16:48:03 Você pode visitar, em Londres, o Shakespeare’s Globe Theatre, uma reconstrução do que seria o teatro onde Shakespeare apresentou algumas das suas peças mais famosas e do qual foi sócio. Esse novo teatro foi construído quase no local do original, que foi encerrado permanentemente em 1642. Shakespeare começou a escrever em 1590, e as suas peças fizeram bastante sucesso, o que lhe concedeu renome em vida. Ele ainda é autor de inúmeros poemas, a maioria em formato de sonetos. Contudo, é muito difícil de precisar quais as datas de publicação de cada uma das obras, com exceção de algumas poucas, como Romeu e Julieta, em que é mencionado um terremoto que realmente ocorreu em Londres em 1580. A sua obra pode ser dividida em três fases. A primeira corresponde aos anos iniciais de produção do escritor e conta com comédias, como A megera domada, Sonhos de uma noite de verão e A comédia dos erros. Depois, surgiram as tragédias, que estão entre os seus textos mais famosos e estudados: Romeu e Julieta, Hamlet, Rei Lear e MacBeth são alguns exemplos. Por fim, Shakes- peare escreveu peças históricas, como Ricardo II, Henrique IV e Henrique V. Muitas das suas peças ficaram extremamente famosas: você provavelmente conhece a história trágica dos apaixonados Romeu e Julieta ou dos ambiciosos MacBeth e Lady MacBeth. A trama sobre o jovem príncipe da Dinamarca Hamlet, que sofre pelo assassinato do pai, também é um desses exemplos. A sua história ficou tão famosa que algumas cenas e frases são muito conhecidas do público, e mesmo quem nunca leu a peça ou nunca assistiu a uma montagem pode conhecê-las. Você já deve conhecer, por exemplo, estas citações: “Ser ou não ser, eis a questão” ou “Há mais coisas entre o céu e a Terra do que supõe a sua vã filosofia”. E já ouviu falar da cena em que Hamlet segura um crânio? Tanto Hamlet quanto outras peças de Shakespeare já foram lidas, encenadas e adaptadas tantas vezes que já fazem parte da nossa cultura (Figura 4). O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna74 Textos fundamentais_U1C4.indd 74 28/08/2017 16:48:03 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Figura 4. A atriz Sarah Bernhardt como Hamlet. Fonte: Hamlet (2017). Hamlet integra um conjunto de sete tragédias que a autora Barbara Heliodora (2008), na obra Por que ler Shakespeare, afirma tratarem do mesmo tema: como o homem enfrenta o mal e o que o mal faz dele. Esse mal pode estar representado na peça como um inimigo externo e concreto (como Cláudio, o tio de Hamlet), mas o mais importante, de acordo com Heliodora, é que o mal está presente dentro dos protagonistas, que devem lidar, portanto, tanto com o externo quanto com o interno. As outras obras que comporiam esse grupo ao lado de Hamlet são Júlio César, Otelo, Rei Lear, MacBeth, Antônio e Cleópatra e Coriolano. Para que você entenda que mal é esse que há dentro e fora de Hamlet e que ele deve enfrentar, primeiro é necessário um resumo do enredo do texto teatral. A história começa com um Hamlet muito triste com a morte do pai, o rei Hamlet. O seu tio Cláudio havia se casado com a sua mãe, Gertrudes, logo após o óbito. Ainda, como contexto histórico, surge uma disputa entre a Dinamarca e a Noruega e uma ameaça de invasão pelo príncipe norueguês, Fórtinbras. Nas primeiras cenas, surge, inicialmente para sentinelas e depois para o próprio príncipe Hamlet, o fantasma do antigo rei, que revela ter sido assas- sinado pelo seu irmão, Cláudio, que desejava subir ao poder. O espectro pede a Hamlet que vingue a sua morte. 75O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 75 28/08/2017 16:48:03 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado O protagonista tem dúvidas em relação à identidade do fantasma, mas o seu comportamento muda e todos ao seu redor notam isso: ele está melancólico e solitário. Por isso, Cláudio e Gertrudes convidam dois amigos de Hamlet para lhe fazerem companhia, Rosencrantz e Guildenstern. Ofélia, jovem cortejada por Hamlet, também fica preocupada, mas o seu pai, Polônio, e o seu irmão, Laertes, passam a acreditar que a loucura do protagonista seja culpa do amor. Contudo, o personagem principal apenas finge estar louco para poder investigar o assassinato do pai sem levantar suspeitas. Para tentar descobrir a verdade, Hamlet usa uma interessante estratégia: uma companhia teatral iria apresentar-seà corte e ele pede que os atores encenem uma história criada por ele em que o rei é assassinado pelo seu irmão. A sua intenção era observar atentamente as reações de Cláudio ao longo da apresentação para tentar descobrir se ele era culpado ou não. Aqui, portanto, você pode perceber que Hamlet é um homem moderno: um fantasma diz ser o seu pai assassinado e revela a identidade do criminoso; o príncipe, porém, não confia totalmente na palavra do outro e elabora uma espécie de experimento para comprovar ou não as palavras do espectro. Ele, apesar da situação dramática na qual se encontra, não se deixa levar pelo puro instinto ou pela pura emoção. Ele ainda precisa de provas. Além disso, com a encenação da montagem produzida pelo protagonista, há uma peça teatral dentro da peça teatral, as duas com o mesmo mote, o que leva o leitor ou o espectador a pensar sobre o gênero e a sua constituição. Apenas o título dado por Hamlet para a peça já é bastante explicativo: A ratoeira. Enquanto a cena do assassinato é interpretada pela trupe, Hamlet nota uma reação exagerada no seu tio, o que o leva a considerar o homem culpado. Essa cena apresenta a ironia mordaz de Hamlet e a sua fingida inocência: HAMLET Ele o envenena no jardim por suas posses. Seu nome é Gonzago. A história ainda existe, escrita em puro italiano. Ireis ver logo como o assassino consegue o amor da mulher de Gonzago. OFÉLIA O rei se levanta. HAMLET O que, assustado com fogo falso? O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna76 Textos fundamentais_U1C4.indd 76 28/08/2017 16:48:04 RAINHA Como passa o meu senhor? POLÔNIO Parem a peça! REI Deem-me luz! Vamos. POLÔNIO Luzes, luzes, luzes. (Saem todos, menos Hamlet e Horácio) HAMLET Que gema o veado na agonia, E o cervo vá brincando Enquanto um dorme, outro vigia; E o mundo vai andando... Será que isto, com uma floresta de plumas — se o resto da minha fortuna me der as costas — com rosas de Provença em seus sapatos esfarrapa- dos, não me daria lugar numa matilha de atores? (SHAKESPEARE, 2010, p. 137-138). Primeiro, Hamlet inventa uma suposta origem da peça criada por ele e conta-a para Ofélia. Depois, há a sua reação à saída intempestiva do rei, sugerindo, de forma extremamente mordaz, que ele teria se assustado com um alarme falso de fogo. Por fim, ele fala metaforicamente que, enquanto o seu tio se entretém com as funções de ser rei, Hamlet está vigiando todos os seus passos. E termina perguntando se, caso ele perca a sua posição e o seu dinheiro, não poderia tornar-se ator. O jovem usa, porém, um coletivo que não é próprio para um grupo de atores, que poderia ser designado como trupe, por exemplo. Ele utiliza, no lugar disso, o termo “matilha”, ou seja, grupo de cães. Talvez o protagonista esteja se referindo ao seu objetivo ao montar o espetáculo A ratoeira: caçar o assassino do seu pai com uma armadilha, agir como um cão de caça com a sua presa. Depois da encenação da peça, inúmeros acontecimentos trágicos se pre- cipitam. A mãe de Hamlet, a rainha Gertrudes, chama o filho ao seu quarto para conversar sobre o que havia acabado de acontecer. No caminho, o jovem príncipe encontra Cláudio rezando e hesita em matá-lo. No outro dia de manhã, 77O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 77 28/08/2017 16:48:04 porém, ele mata Polônio sem querer, que estava escondido atrás da cortina, acreditando ser Cláudio que lhe espiava. Transtornada com a morte do pai, Ofélia começa a mostrar sinais de loucura a acaba morrendo afogada. Os coveiros dão a entender que a jovem se suicidou. Figura 5. Morte de Ofélia por Millais, 1852. Fonte: Hamlet (2017). Depois, Cláudio desafia Hamlet a um duelo com armas brancas — porém, o rei havia envenenado a ponta da sua espada e também havia deixado um cálice de vinho com veneno para Hamlet, a fim de garantir que o protagonista não sairia vivo da contenda para estragar os planos do rei. O jovem, contudo, deixa para beber o vinho após o duelo, e Gertrudes, sem saber do plano, toma do cálice. Hamlet vence os dois primeiros assaltos e, enquanto a rainha limpa o seu rosto, Laertes tenta feri-lo com a espada envenenada. O irmão de Ofélia havia sido persuadido por Cláudio de que Hamlet matara o seu pai de propósito e, por isso, estava transtornado. Hamlet reage e, no meio da luta, os dois acabam trocando de espadas e o protagonista fere Laertes. No fim, o plano de Cláudio é revelado a todos e Hamlet mata-o obrigando o rei a beber do cálice de vinho envenenado. A rainha e Laertes morrem e Hamlet se mata, proferindo a famosa frase “O resto é silêncio” (SHAKESPEARE, 2010, p. 235). Muitos temas, portanto, são abordados nessa peça: vingança, dúvida, amor, ganância, corrupção, loucura. Outro assunto debatido, que gera tanto o medo O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna78 Textos fundamentais_U1C4.indd 78 28/08/2017 16:48:04 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce mais apavorante quanto o interesse mais avassalador nas pessoas ao longo dos tempos, é a morte. Hamlet está no cemitério quando segura uma caveira (aquela famosa cena da tragédia), que um dos coveiros diz ser de Yorick, um bobo da corte com quem o príncipe muito conviveu quando criança. O protagonista relembra os tempos passados com Yorick e não consegue acreditar que aquele ser humano que provocava o riso pode ter se transformado em um punhado de ossos. A partir dessas recordações, Hamlet inicia uma reflexão sobre o fim da vida. Ele pergunta ao seu fiel companheiro, Horácio, se ele acredita “que o próprio Alexandre tenha esse aspecto, dentro da terra” (SHAKESPEARE, 2010, p. 210). Então, ele afirma: “A que baixa condição nós temos de volver, Horácio!” (SHAKESPEARE, 2010, p. 210). E segue confrontando a grandeza de Alexandre, o rei da Macedônia, assim como a do imperador César, durante as suas vidas de conquistas, com a sua pequenez na morte: Alexandre morreu, Alexandre foi enterrado, Alexandre voltou ao pó, o pó é terra, da terra se faz argila, e por que essa argila em que ele se converteu não poderia ser usada para selar um tonel? César, imperador, morto e em barro mudado, Poderia vedar um furo contra o vento. Essa terra que pôs o mundo apavorado, Vai tapar na parede um sopro friorento! (SHAKESPEARE, 2010, p. 210-211). Se Alexandre e César tiveram grandes conquistas em vida, apavorando o mundo, depois de mortos e transformados em pó, eles poderiam apenas tapar um buraco na parede, algo muito irrisório. Repare nessa grande contradição e na bela metáfora criada por Shakespeare para falar de uma enorme angústia humana: o que acontece depois da morte? Enquanto o homem da Idade Média tem fé de que vai para o céu ou para o inferno (tudo depende de como levou a sua vida), para o homem moderno, já não existem mais certezas. Hamlet está sozinho e não tem em quem se apoiar, nem no pai, morto, nem na família, nem em Deus. Ademais, se o rei Hamlet foi assassinado, esse crime não faz parte de um destino seu que deveria ser respeitado ou, pelo menos, aceitado por se constituir como algo inevitável. Por isso, o seu filho, o príncipe Hamlet, pode vingar a sua morte: ele não é capaz de consertar a situação, já que a morte é irreversível, mas pode cobrar de quem cometeu o erro. 79O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 79 28/08/2017 16:48:04 Francisco Sublinhado Com personagens tão complexos do ponto de vista psicológico e com temas tão intensamente debatidos, como a morte, não é à toa que Hamlet, de Shakespeare, tornou-se um clássico, inspirando as pessoas mais distintas ao longo do tempo e em diferentes cantos do mundo. O enredo pode estar situado na Dinamarca de séculos atrás, mas esse é apenas um pano de fundo para a encenação de dramas universais. 1. Hamlet, de Shakespeare, é uma tragédia moderna. Sobre o conceito de tragédia moderna, épossível dizer que: a) a tragédia moderna é bastante similar à tragédia clássica, visto que as duas trabalham muito a ação, não se preocupando tanto com a descrição psicológica dos personagens. b) a tragédia moderna está relacionada com o período histórico em que se desenvolveu: o Renascimento. c) na tragédia moderna, o coro se constitui em um elemento bastante importante para ajudar a elucidar os sentimentos dos personagens. Ele é herança da tragédia clássica. d) na tragédia moderna, Deus ainda tem um papel bastante importante nos rumos tomados pela narrativa. e) o número de personagens da tragédia moderna é reduzido, não passando de três na maioria das peças. 2. Shakespeare viveu entre o final do século XVI e o início do XVII. Sobre esse período histórico, é correto afirmar que: a) o teocentrismo era a crença principal desse período, em que a religião ainda era muito importante. Os quadros com temas religiosos de Michelangelo e Rafael, por exemplo, são prova disso. b) a Inglaterra de Shakespeare foi o centro cultural dessa época. Todos os artistas europeus se inspiravam nos ingleses. c) Shakespeare foi uma exceção desse período histórico, quando a maior preocupação era com a ciência e com a razão, não com as artes. d) o misterioso oriente serviu como inspiração para as criações artísticas da época. e) descobertas como as de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, que tiravam a Terra do centro do Sistema Solar e afirmavam que era ela que girava ao O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna80 Textos fundamentais_U1C4.indd 80 28/08/2017 16:48:04 Francisco Realce Francisco Realce redor do Sol, não o contrário, foram muito importantes para o desenvolvimento do pensamento da época. 3. Quando se trata da biografia de Shakespeare, surgem muitas dúvidas e poucas certezas. Em relação à sua vida, podemos afirmar que: a) ele nunca trabalhou como ator, apenas escrevendo as peças que outros encenavam. b) escreveu apenas tragédias, que ele considerava como o gênero mais elevado. c) ao contrário de muitos escritores que morrem anônimos, conheceu o sucesso em vida, sendo reconhecido pelas suas peças. d) nasceu em uma família pobre e, por isso, desde cedo precisou escrever para vender as suas peças. e) entre 1585 e 1592, mudou-se do interior da Inglaterra para Londres e iniciou o seu trabalho com o teatro. 4. A obra de Shakespeare conta com inúmeros títulos. Sobre ela, é correto afirmar que: a) Shakespeare foi um dramaturgo, e a sua obra é composta por textos dramáticos. b) as suas obras mais emblemáticas e estudadas são as comédias, pois Shakespeare utiliza o riso como forma de reflexão sobre os problemas humanos. c) os personagens de Shakespeare são guiados pelo destino. Por mais que eles tentem mudar as suas vidas, não são capazes. d) o centro das peças de Shakespeare é o ser humano, os seus medos, as suas angústias, dúvidas e alegrias. e) Shakespeare se preocupa mais com o drama humano, com os sentimentos dos seus personagens. Por isso, nas suas peças, o pano de fundo histórico acaba por ser pouco desenvolvido e ter pouco relevo. 5. Em Hamlet, o protagonista reflete sobre o suicídio. É nesse momento em que ele declama a famosa frase “Ser ou não ser, eis a questão”. Analise este trecho e assinale a alternativa correta sobre a sua interpretação. Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre Em nosso espírito sofrer pedras e flechas Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais Dizer que rematamos com um sono a angústia E as mil pelejas naturais — herança do homem: Morrer para dormir... é uma consumação Que bem merece e desejamos com fervor. a) Por um fim às provocações, nesse trecho, significa por um termo à vida. b) “Ser ou não ser” se refere à dúvida do príncipe Hamlet entre matar ou não o seu tio, entre 81O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna Textos fundamentais_U1C4.indd 81 28/08/2017 16:48:04 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce HAMLET. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Hamlet>. Acesso em: 7 ago. 2018. HELIODORA, B. Por que ler Shakespeare. São Paulo: Globo, 2008. RENASCIMENTO. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Renascimento#/media/File:Pietro_Perugino_cat13a.jpg.>. Acesso em: 7 ago. 2018. SHAKESPEARE, W. Hamlet. Rei Lear. MacBeth. São Paulo: Globo, 2010. WILLIAM SHAKESPARE. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ wiki/William_Shakespeare>. Acesso em: 7 ago. 2018. Leituras recomendadas HUPPES, I. Tragédia clássica e tragédia moderna. Letras de Hoje, Porto legre, v. 22, n. 1, 1987. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/ view/17013/11036>. Acesso em: 7 ago. 2017. cumprir ou não o pedido de vingança do fantasma do seu pai. c) A luta da qual fala Hamlet seria a luta para passar por cima das flechas e pedras atiradas pela Fortuna e conseguir viver uma existência mais tranquila. d) Nem todos passam por angústias na vida, afirma Hamlet nesse trecho. Apenas aqueles que passam desejam a morte. e) Hamlet não deseja a morte, mas não vê outra solução para os seus problemas. O Renascimento em Shakespeare: Hamlet e a tragédia moderna82 Textos fundamentais_U1C4.indd 82 28/08/2017 16:48:05 Francisco Realce Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Veja nesta Dica do Professor, a encenação da obra Hamlet. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Hamlet, de Shakespeare, é uma tragédia moderna. Sobre o conceito de tragédia moderna, é possível dizer que: A) a) A tragédia moderna é bastante similar à tragédia clássica, visto que as duas trabalham muito a ação, não se preocupando tanto com a descrição psicológica dos personagens. B) b) A tragédia moderna está relacionada com o período histórico em que se desenvolveu: o Renascimento. C) c) Na tragédia moderna, o coro se constitui como um elemento bastante importante para ajudar a elucidar os sentimentos dos personagens. Ele é herança da tragédia clássica. D) d) Na tragédia moderna, Deus ainda tem um papel bastante importante nos rumos tomados pela narrativa. E) e) O número de personagens da tragédia moderna é reduzido, não passando de três, na maioria das peças. 2) Shakespeare viveu entre o final do século XVI e o início do XVII. Sobre esse período histórico, é correto afirmar que: a) O teocentrismo era a crença principal desse período em que a religião ainda era muito importante. Os quadros com temas religiosos de Michelangelo e Rafael, por exemplo, são A) prova disso. B) b) A Inglaterra de Shakespeare foi o centro cultural dessa época. Todos os artistas europeus se inspiravam nos ingleses. C) c) Shakespeare foi uma exceção desse período histórico, quando a maior preocupação era com a ciência e com a razão e não com as artes. D) d) O misterioso oriente serviu como inspiração para as criações artísticas da época. E) e) Descobertas como as de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, que tiravam a terra do centro do sistema solar e afirmavam que era ela que girava ao redor do sol, e não o contrário, foram muito importantes para o desenvolvimento do pensamento da época. 3) Quando se trata da biografia de Shakespeare, surgem muitas dúvidas e poucas certezas. Em relação à sua vida, podemos afirmar: A) a) Ele nunca trabalhou como ator, apenas escrevendo as peças que outros encenavam. B) b) Shakespeare escreveu apenas tragédias, que ele considerava como o gênero mais elevado. C) c) Shakespeare, ao contrário de muitos escritores que morrem anônimos, conheceu o sucesso em vida, sendo reconhecido pelas suaspeças. D) d) O escritor nasceu em uma família pobre e por isso desde cedo precisou escrever para vender suas peças. E) e) Entre 1585 e 1592, Shakespeare se mudou do interior da Inglaterra para Londres e iniciou seu trabalho com o teatro. 4) A obra de Shakespeare conta com inúmeros títulos. Sobre ela, é correto afirmar que: A) a) Shakespeare foi um dramaturgo e sua obra é composta por textos dramáticos. B) b) Suas obras mais emblemáticas e estudadas são as comédias, pois Shakespeare utiliza o riso como forma de reflexão sobre os problemas humanos. C) c) Os personagens de Shakespeare são guiados pelo destino. Por mais que eles tentem mudar suas vidas, não são capazes. D) d) O centro das peças de Shakespeare é o ser humano, seus medos, suas angústias, dúvidas e alegrias. E) e) Shakespeare se preocupa mais com o drama humano e com os sentimentos de seus personagens. Por isso, em suas peças, o pano de fundo histórico acaba por ser pouco desenvolvido e ter pouco relevo. 5) Em Hamlet, o protagonista reflete sobre o suicídio. É nesse momento em que ele declama a famosa frase "Ser ou não ser, eis a questão". Analise o trecho a seguir e assinale a alternativa correta sobre a sua interpretação. "Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas Com que a fortuna, enfurecida, nos alveja, Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais Dizer que rematamos com um sono a angústia E as mil pelejas naturais - herança do homem: Morrer para dormir... é uma consumação Que bem merece e desejamos com fervor." A) a) Por um fim às provocações, nesse trecho, significa por um termo à vida. B) b) "Ser ou não ser" se refere à dúvida do príncipe Hamlet entre matar ou não seu tio, entre cumprir ou não o pedido de vingança do fantasma de seu pai. C) c) A luta da qual fala Hamlet seria a luta para passar por cima das flechas e pedras atiradas pela fortuna e conseguir viver uma existência mais tranquila. D) d) Nem todos passam por angústias na vida, afirma Hamlet nesse trecho. Apenas aqueles que passam desejariam a morte. E) e) Hamlet não deseja a morte, mas não vê outra solução para os seus problemas. NA PRÁTICA Hamlet é uma peça muito rica, que já foi estudada muitas vezes a partir de perspectivas bem diferentes. É claro que o protagonista que dá nome à tragédia, dilacerado pela morte do pai e pela descoberta de que foi seu tio quem o matou, foi o foco de inúmeras dessas pesquisas. Porém, a figura de Ofélia, a amada de Hamlet, começou a despertar igualmente a atenção. Primeiro, ela era tida como o ideal da mulher recatada e bela, mas depois outros aspectos dessa personagem foram percebidos. Críticas feministas começaram a analisar Ofélia e a procurar compreender o papel da mulher na sociedade a partir de suas representações literárias. Algumas dessas estudiosas foram Catherine Belsey, Carol Thomas Neely, Juliet Dusinberry, Linda Bamber, Lisa Jardine e Jean E. Howard. Sua figura inspirou inúmeras produções artísticas, principalmente pinturas e poemas. A seguir, você vai conferir o trecho de Hamlet em que a rainha anuncia o suicídio de Ofélia por afogamento, seguido de dois poemas inspirados na jovem personagem de Shakespeare. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Hamlet, de William Shakespeare Assista uma resenha sobre a obra Hamlet no vídeo a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A trajetória de Macbeth Descubra um pouco mais sobre a sua sangrenta trajetória: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A mulher Ofélia: um contraste entre o natural e o social Pouco se fala nos personagens femininos das obras de Shakespeare. Leia e conheça mais sobre Ofélia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Macbeth Você gostaria de ler a obra Macbeth, de Shakespeare, na íntegra? Então acesse o livro no link a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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