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A importância histórica dos clássicos universais

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Prévia do material em texto

A importância histórica dos clássicos 
universais
APRESENTAÇÃO
Homero, Cervantes, Dostoiévski, Proust, Luís de Camões, Eça de Queirós, Machado de Assis... 
Para muitos, um arrepio de medo é quase inevitável diante da simples sugestão de que a leitura 
de textos desses autores seja realizada. "Os livros clássicos são muito difíceis", " os clássicos 
estão escritos em uma linguagem muito complexa" ou "os clássicos falam de uma realidade 
muito diferente da minha": esses são alguns dos pensamentos recorrentes de alunos sobre a 
literatura clássica. 
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir que, ao contrário desse lugar-comum, a 
literatura clássica pode nos dizer muito sobre quem somos, de onde viemos e qual o nosso lugar 
no mundo. Você vai refletir acerca da definição de literatura clássica e descobrir alguns dos 
autores de maior destaque, além de analisar seus textos. Tudo isso vai ajudar a perceber que os 
textos clássicos não são nenhum monstro de sete cabeças, e sim leituras que podem divertir e 
ensinar muito.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Discutir o conceito de literatura clássica e a sua função para a sociedade.•
Identificar autores de destaque da literatura clássica e analisar seus textos.•
Relacionar alguns textos da literatura clássica com o contexto histórico em que foram 
produzidos.
•
DESAFIO
Você foi convidado a ministrar uma palestra sobre o escritor clássico português Luís de Camões 
para um público jovem e não familiarizado com esse tipo de literatura. Foi pedido também que 
você analisasse um poema em específico do autor: Amor é um fogo que arde sem se ver.
Descreva no mínimo duas possibilidades de como você apresentaria esse poema, levando em 
consideração seu púbico.
INFOGRÁFICO
No Infográfico a seguir, você pode conferir uma linha do tempo com alguns dos escritores de 
maior importância da literatura clássica. Esses autores indicados são considerados clássicos da 
literatura por terem uma enorme influência até os dias atuais: continuamos lendo seus livros, 
inspirando-nos neles para escrever outros textos, produzir filmes, seriados, pintar quadros, etc. 
Para cada escritor, foi indicada uma de suas obras de destaque, o que não significa que seja a 
única.
CONTEÚDO DO LIVRO
Muito se fala sobre literatura clássica: que nós devemos ler os autores clássicos, que eles são 
fundamentais, que são difíceis e que sua leitura é penosa. Mas o que exatamente é literatura 
clássica? Quem define quais textos e autores serão considerados como literatura clássica? Será 
que são sempre os mesmos textos que compõem essa literatura em todos os tempos e em todos 
os lugares? Por que eles são tão relevantes? Por que nós devemos lê-los e conhecê-los?
Na obra Textos fundamentais da literatura universal, leia o capítulo A importância histórica dos 
clássicos universais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Você vai descobrir o que é 
literatura clássica, quais suas funções e qual sua importância histórica.
Boa leitura!
TEXTOS
FUNDAMENTAIS
DA LITERATURA
UNIVERSAL
Luara Pinto Minuzzi
Revisão técnica:
Gabriela Semensato Ferreira 
Licenciatura em Letras
Mestrado em Letras
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
M668t Minuzzi, Luara Pinto.
Textos fundamentais da literatura universal / Luara 
Pinto Minuzzi. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
206 p. : il. ; 22,5 cm. 
ISBN 978-85-9502-172-3
1. Literatura universal. I. Título. 
CDU 82-7
Textos fundamentais da literatura universal_book.indb 2 28/08/2017 17:23:41
A importância histórica 
dos clássicos universais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: 
  Discutir o conceito de literatura clássica e a sua função para a sociedade.
  Identi� car autores de destaque da literatura clássica e analisar os 
seus textos.
  Relacionar alguns textos da literatura clássica com o contexto histórico 
em que foram produzidos.
Introdução
Homero, Cervantes, Dostoiévski, Proust, Luís de Camões, Eça de Queiros, 
Machado de Assis... Para muitos, um arrepio de medo é quase inevitável 
diante da simples sugestão de que a leitura de textos desses autores 
deva ser realizada. “Os livros clássicos são muito difíceis”, “ Os clássicos 
estão escritos em uma linguagem muito complexa” ou “ Os clássicos 
falam de uma realidade muito diferente da minha”: esses são alguns dos 
pensamentos recorrentes de alunos sobre a literatura clássica. 
Neste capítulo, você vai descobrir que, ao contrário desse lugar-co-
mum, a literatura clássica pode nos dizer muito sobre quem somos, de 
onde viemos e qual é o nosso lugar no mundo. Você vai refletir acerca 
da definição de literatura clássica e descobrir alguns dos autores de mais 
destaque, além de analisar os seus textos. Tudo isso vai lhe ajudar a per-
ceber que os textos clássicos não são um monstro de sete cabeças, mas 
leituras que podem divertir e ensinar muito.
U N I D A D E 1 
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Literatura clássica: conceitos e funções
Ítalo Calvino (Figura 1), escritor e pensador italiano (também ele um clássico!), 
refl etiu acerca da intrigante questão da literatura clássica e publicou, sobre 
o tema, uma obra fundamental chamada de Por que ler os clássicos (2007). 
No texto, o autor, na medida em que pensa sobre essa literatura, constrói 14 
diferentes defi nições para ela.
Você pode perceber, portanto, como o conceito de Literatura Clássica 
é complexo apenas pelo número de explicações diferentes encontradas por 
Calvino para a definir. Para ter uma ideia melhor do que são os clássicos, você 
vai acompanhar agora cada uma dessas 14 definições.
Figura 1. Ítalo Calvino.
Fonte: Ítalo Calvino (2017). 
Ítalo Calvino é um dos escritores italianos contemporâneos mais importantes. Nascido 
em 1923, o autor lutou contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. A sua 
obra é vasta e extremamente interessante. 
Um dos seus contos, Um general na biblioteca, fala sobre o poder da literatura de 
desacomodar e de transgredir: um general é designado para cuidar de uma biblioteca, 
visto que surge a suspeita de que existiriam livros com ideias contrárias ao governo. 
Contudo, uma vez na biblioteca e em contato com tantas obras distintas, o general, 
tão pouco questionador dos seus superiores, começa a enxergar o mundo com olhos 
cada vez mais críticos.
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A primeira definição de Calvino para Literatura Clássica é a seguinte: 
“Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: ‘Estou 
relendo...’ e nunca ‘Estou lendo...’.” (CALVINO, 2007, p. 9). Talvez você 
não se encaixe nesse grupo de pessoas, mas há muitas e muitas que, en-
vergonhadas por nunca terem lido livros como a Ilíada, de Homero, ou 
Ulisses, de James Joyce, preferem mentir e afirmar que já releram (ou 
estão relendo) essas obras. 
Mas por que elas sentiriam vergonha por isso? Devido à sua importância 
histórica, esses livros são muito famosos — muito se fala sobre eles. Aqueles 
que entendem de literatura, ou por apenas gostar muito ou por trabalhar com 
a matéria, sentem-se na obrigação de terem lido todos esses clássicos e, por 
isso, o embaraço por não terem lido todos.
No entanto, você deve se questionar: será possível, em uma vida, ler 
todos os clássicos? Além de eles serem muitos, é extremamente raro que 
alguém leia apenas clássicos: desejamos (e igualmente somos obrigados a) 
ler livros modernos, atuais, e isso não é algo a ser lamentado. Portanto, não 
devemos nos culpar por não ter lido todos os clássicos — pelo contrário, 
a possibilidade de ler um clássico pela primeira vez na vida adulta é uma 
fonte de imenso prazer. 
Isso nos leva ao segundo conceito: “Dizem-seclássicos aqueles livros que 
constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem 
uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira 
vez nas melhores condições para apreciá-los” (CALVINO, 2007, p. 10). Lê-los 
quando jovem, no colégio, ou depois, durante a vida adulta: não há um tempo 
adequado ou ideal para conhecer os clássicos. Qualquer momento é um bom 
momento para ler um livro clássico pela primeira vez. E isso, porque, conforme 
o terceiro conceito: “Os clássicos são livros que exercem uma influência 
particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocul-
tam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou 
individual” (CALVINO, 2007, p. 10).
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Calvino, com essa terceira definição, pode querer dizer que os clássicos
exercem uma enorme influência e, na maioria das vezes, nem nos damos conta
dela:
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Os conceitos de inconsciente individual e inconsciente coletivo são de autoria do 
psicoterapeuta Carl Gustav Jung (1875−1961). O inconsciente individual são todos 
aqueles conteúdos da nossa psique que não estão no nível consciente: coisas que 
sentimos ou que sabemos, mas que não podem ser recuperadas de forma muito clara, 
manifestando-se de outras formas: por meio de sonhos ou de reações incomuns, por 
exemplo. Já o inconsciente coletivo se refere a conteúdos comuns a toda a sociedade: 
temas e elementos que se repetem frequentemente em diversas situações. A literatura 
é um dos meios privilegiados da manifestação do inconsciente coletivo.
Calvino, com essa terceira definição, pode querer dizer que os clássicos 
exercem uma enorme influência e, na maioria das vezes, nem nos damos conta 
dela: traços e vestígios de inúmeros clássicos surgem em filmes, outros livros, 
seriados, peças de teatro, etc. E os autores ou produtores não necessariamente 
possuem consciência de que foram influenciados por esses clássicos — eles já 
fazem parte desse inconsciente coletivo, dos conteúdos que a nossa sociedade 
compartilha. 
A Odisseia, de Homero, por exemplo, já faz parte do inconsciente coletivo 
do Ocidente. Nessa obra, o poeta grego nos conta a viagem de volta para casa 
de Ulisses: ele havia ido para Troia guerrear contra os troianos e deve fazer o 
percurso de volta para Ítaca. A sua jornada não é fácil, e ele enfrenta inúmeros 
desafios e contratempos que o atrasam em 10 anos. 
Você pode não ter lido a Odisseia, mas provavelmente já leu outros livros 
ou entrou em contato com manifestações artísticas que releem esse clássico, 
e assim também o conhece, mesmo que indiretamente. Há, inclusive, uma 
expressão bastante consagrada e que você provavelmente já escutou: quando, 
por exemplo, uma tarefa dá muito trabalho e acaba levando muito mais tempo 
para realizá-la do que imaginamos no princípio, dizemos que foi uma “odisseia” 
concluí-la (Figuras 2 e 3). 
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Figura 2. Exemplo do uso consagrado 
da expressão “odisseia”.
Fonte: Astérix (2017). 
Figura 3. Outro exemplo do uso consagrado 
da expressão “odisseia”.
Fonte: A Odisseia de Alice (2016).
15A importância histórica dos clássicos universais
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A partir dessa reflexão, Calvino pensa em mais quatro conceitos relaciona-
dos entre si. O quarto conceito diz que “Toda releitura de um clássico é uma 
leitura de descoberta como a primeira” (CALVINO, 2007, p. 11). Conforme 
os anos passam, as pessoas não permanecem as mesmas — as experiências 
e os acontecimentos acabam transformando-as e transformando a sua forma 
de enxergar o mundo. Por isso, se você leu um clássico aos 15 anos, poderá 
se surpreender ao reler a mesma obra aos 30, aos 40, aos 50 anos. Da mesma 
forma, dois indivíduos diferentes poderão ler o mesmo livro e jamais ter a 
mesma leitura, a mesma interpretação. 
O quinto conceito de Calvino diz que “Toda primeira leitura de um clássico 
é na realidade uma releitura” (CALVINO, 2007, p. 11). Por sua vez, o sexto: 
“Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para 
dizer” (CALVINO, 2007, p. 11). E o sétimo afirma que “Os clássicos são 
aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras 
que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou 
nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos 
costumes)” (CALVINO, 2007, p. 11).
Todas essas definições expressam ideias semelhantes e estão relaciona-
das com o que Calvino falou anteriormente sobre o inconsciente coletivo: 
voltando ao exemplo da Odisseia, se já sabemos tanto sobre o livro, mesmo 
sem nunca o ter lido, nossa leitura jamais será uma primeira leitura. Sobre a 
obra de Homero e sobre tantos outros clássicos, temos uma grande quantidade 
de conhecimentos prévios. Esses conhecimentos podem ser conhecimentos 
conscientes. Por exemplo, se você já leu textos teóricos sobre a Odisseia, a 
sua leitura inevitavelmente será influenciada por eles, pois você não pode 
simplesmente deixá-los de lado. Esses conhecimentos, contudo, também podem 
ser inconscientes, por meio do que Calvino chama de marcas de leitura que 
precederam a nossa (CALVINO, 2007).
Portanto, sempre que você se deparar com uma narrativa sobre uma viagem 
difícil e cheia de obstáculos, mas que proporciona um grande autoconheci-
mento, desconfie de que há, por trás, uma referência a Homero. Ao mesmo 
tempo, todas essas histórias sobre jornadas complexas com as quais você já 
teve contato serão acionadas quando você ler a Odisseia e acabarão modifi-
cando a sua interpretação. 
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O fato de termos tantos conhecimentos prévios sobre essas obras clássicas 
pode ser explicado pelo oitavo conceito de Calvino para Literatura Clássica: 
“Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discur-
sos críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe” (CALVINO, 
2007, p. 12). 
Ao mesmo tempo em que se fala e se escreve muito sobre uma obra da 
literatura clássica devido à sua imensa riqueza e complexidade, esses discursos 
nunca conseguem dar conta justamente dessa riqueza e dessa complexidade. 
Por isso, o nono conceito diz que “Os clássicos são livros que, quanto mais 
pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam 
novos, inesperados, inéditos” (CALVINO, 2007, p. 12). Teorias podem explicar 
os textos da Literatura Clássica, mas nunca poderão substituí-los — justamente 
por essa riqueza e complexidade da literatura de que falamos anteriormente. 
Tal complexidade e riqueza são características importantes para você 
compreender a décima definição: “Chama-se de clássico um livro que se 
configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs” 
(CALVINO, 2007, p. 13). Talismã é um objeto que encerra um poder, uma 
magia, e a literatura clássica contém um grande poder: o poder de criar todo 
um universo, na medida em que o leitor adentra nesse mundo paralelo ficcional. 
Em Odisseia, existem, por exemplo, sereias e monstros de um olho só e isso 
faz sentido dentro da realidade da narrativa. 
Já o décimo primeiro conceito de literatura clássica diz que “O ‘seu’ 
clássico é aquele quenão pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a 
você próprio em relação e talvez em contraste com ele” (CALVINO, 2007, p. 
13). Aqui, portanto, surge uma nova discussão: a lista dos clássicos não é uma 
lista permanente e definitiva, podendo ser alterada conforme o lugar onde é 
pensada e também conforme a época. 
Nos cursos de literatura do Brasil na contemporaneidade, por exemplo, em 
disciplinas sobre esse tema, os alunos deverão conhecer uma lista mais ou menos 
fixa de autores, mudando um ou outro exemplo. Em um curso da Alemanha, 
talvez aparecerão mais autores alemães; no futuro, alguns dos autores que hoje 
estudamos poderão ser deixados de lado, e outros tomarão os seus lugares. No 
mesmo sentido, você poderá ter a sua própria lista de clássicos: aqueles livros 
que lhe tocaram tanto em um determinado momento que, não importa quanto 
tempo passe, você continuará lembrando com emoção da leitura.
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Você já ouviu falar em cânone? No campo da literatura, cânone é uma lista de obras 
ou de autores que são considerados os mais importantes e de maior influência. Existe 
o cânone da literatura clássica universal, mas também podem existir cânones mais 
específicos: o cânone da literatura brasileira, da literatura feminista, da literatura negra, 
etc. É importante sempre ter em mente que essas listas são criadas por um grupo 
determinado de pessoas e que, por isso, não correspondem a algum tipo de “verdade 
universal”. Outras pessoas, em outro tempo, poderiam ter selecionado outros autores 
e outras obras — mas, é claro, não quaisquer obras e quaisquer autores, mas aqueles 
de enorme qualidade e de grande alcance no tempo e no espaço.
O décimo segundo conceito de Calvino diz que “Um clássico é um livro 
que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois 
lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia” (CALVINO, 2007, p. 
14). Se um clássico é um livro de grande influência, fica claro que os mais 
recentes devem muito aos que lhe antecederam, mesmo que os seus autores 
não necessariamente tenham consciência disso, como discutido anteriormente.
Finalmente, as duas últimas definições complementam-se. A décima 
terceira ressalta que “É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à 
posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse 
barulho de fundo” (CALVINO, 2007, p. 15). E, por fim, a décima quarta 
afirma que “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina 
a atualidade mais incompatível” (CALVINO, 2007, p. 15).
Os clássicos ainda nos comunicam algo e ainda nos afetam, mas o contrário 
também é verdadeiro: a nossa realidade modifica a leitura que realizamos de 
um texto clássico.
Autores da literatura clássica: exemplos
Sófocles
Sófocles (Figura 4) é um dramaturgo grego que viveu no século V a.C. Ele 
nasceu em Colono, perto de Atenas, em uma família rica. Apesar de existir 
a informação de que o autor teria escrito mais de 100 peças em vida, temos 
acesso a apenas sete delas: Ájax, Antígona, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, 
Filoctetes e Édipo em Colono. 
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Figura 4. Sófocles.
Fonte: Sófocles (2017).
A mais famosa das peças é Édipo Rei, que conta a história de Édipo, filho 
do rei Laio e da rainha Jocasta. Na época do seu nascimento, os seus pais 
recebem a revelação, por meio de um oráculo, de que Édipo seria o respon-
sável pela morte do próprio progenitor e de que casaria com a progenitora. A 
fim de evitar esses terríveis acontecimentos, Laio e Jocasta decidem deixar 
o bebê sozinho em uma floresta para morrer. O destino, contudo, não pode 
ser alterado: a criança é salva por uma família que o adota. Sem saber da sua 
origem, Édipo, depois de adulto, mata o seu pai, sem reconhecê-lo, crendo 
ser ele uma ameaça, e casa com a sua própria mãe, que se tornara uma viúva, 
virando o rei de Tebas. Depois que a verdade sobre a sua filiação vem à tona, 
o desespero toma conta de todos: Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios 
olhos. Então, ele declama:
Não queiras convencer-me de que eu deveria ter agido de outra forma! Não 
me dês conselhos! Não sei como poderia defrontar-me, no Hades, com meu 
pai, ou com minha infeliz mãe, porque cometi contra eles crimes que nem 
a forca poderia punir! E o semblante de meus filhos, nascidos como foram, 
como me seria possível contemplar? Não! Nunca mais poderia eu vê-los, 
nem ver a cidade, as muralhas, as está- tuas sagradas dos deuses! Pobre 
de mim! Depois de ter gozado em Tebas uma existência gloriosa, dela me 
privei voluntariamente, quando a todos vós ordenei que expulsassem da 
cidade o sacrílego, aquele que os deuses declararam impuro, da raça de 
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Laio! Descoberta, em mim mesmo, essa mancha indelével, ser-me-ia lícito 
contemplar os cidadãos tebanos, sem baixar os olhos? Ah! certamente que 
não! E se fosse possível evitar que os sons nos penetrassem pelos ouvidos, 
eu privaria também da audição este miserável corpo, para que nada mais 
pudesse ver, nem ouvir, - pois deve ser um alívio ter o espírito insensível 
às próprias dores! (SÓFOCLES, 2017, p. 67-68).
O Hades é o local, de acordo com a mitologia grega, para onde os mortos 
vão. Nesse trecho, portanto, você pode notar todo o desespero e sentimento de 
impotência de Édipo em relação ao destino que foi traçado para ele logo no seu 
nascimento: matar o pai e desposar a mãe. Ademais, a justeza da personagem 
é ressaltada: se ele havia decretado que o assassino do falecido marido da sua 
mãe e esposa deveria ser punido, quando descobre que o criminoso era ele 
próprio, ele mesmo executa a sentença, tirando a própria visão. 
As Moiras, na mitologia grega, eram as três irmãs responsáveis pelo destino de todos, 
sejam deuses ou humanos. De aspecto extremamente desagradável, as mulheres 
utilizavam a Roda da Fortuna para tecer o fio das vidas de todos os indivíduos. Se 
as pessoas seriam felizes ou infelizes, se morreriam jovens ou velhas, se realizariam 
ou não os seus sonhos: tudo era decidido por elas. O destino, portanto, era um 
conceito fundamental para os gregos da época de Sófocles, constituindo um ponto 
fundamental de Édipo Rei.
Muito tempo depois, no século XIX, o famoso psicanalista Sigmund Freud 
se inspirou nessa história de Sófocles para criar uma das suas teorias mais 
importantes e mais determinantes na história da psicologia: o complexo de 
Édipo. Analisando os seus inúmeros pacientes do sexo masculino, Freud 
percebeu uma constante nas suas infâncias: um amor devotado a suas mães 
e uma inveja dos pais, os quais são percebidos como uma ameaça pelas 
crianças. Esse é apenas um exemplo da importância histórica dessa obra e 
da literatura clássica.
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William Shakespeare
William Shakespeare nasceu em 1564, na Inglaterra, e morreu em1616 (Fi-
gura 5). O autor escreveu inúmeras peças teatrais e também poemas — a 
quantidade de obras escritas, bem como a diversidade de assuntos abordados 
e de opiniões expressas, levou, inclusive, ao questionamento se todas teriam a 
mesma autoria. Como essa teoria em relação à existência de vários escritores 
nunca foi provada, assume-se que todas sejam realmente de Shakespeare.
Figura 5. William Shakespeare.
Fonte: William Shakespeare (2017).
Entre seus poemas, o Soneto XVIII é um dos mais belos:
Soneto XVIII
Devo igualar-te a um dia de verão? 
Mais afável e belo é o teu semblante: 
O vento esfolha Maio inda em botão, 
Dura o termo estival um breve instante. 
Muitas vezes a luz do céu calcina, 
Mas o áureo tom também perde a clareza: 
De seu belo a beleza enfim declina, 
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Francisco
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Francisco
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Francisco
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Ao léu ou pelas leis da Natureza.
Só teu verão eterno não se acaba 
Nem a posse de tua formosura;
 De impor-te a sombra a Morte não se gaba 
Pois que esta estrofe eterna ao Tempo dura. 
Enquanto houver viventes nesta lida, 
Há-de viver meu verso e te dar vida (SHAKESPEARE, 2016).
Aqui, o eu lírico fala sobre a brevidade da vida, comparando a trajetória 
humana às estações do ano: em maio pode ser verão, mas logo chega o vento e 
arranca as folhas das árvores — metáfora que indica o fim, a dissolução. Outra 
metáfora semelhante a essa é o tom áureo que perde a clareza e a beleza que 
declina pelas leis da natureza. Porém, surge uma oposição a essa efemeridade: o 
poema, ao contrário desses elementos apresentados, permanecerá para sempre, 
enquanto houver leitores que o revivam a cada nova leitura.
Depois, as suas peças englobam distintos gêneros. Na comédia, alguns 
exemplos são: Sonho de uma noite de verão, O mercador de Veneza, A comédia 
dos erros, A megera domada, A tempestade, etc. Shakespeare ainda escreveu 
dramas históricos: Ricardo II, Ricardo III, Henrique IV... Porém, estão entre 
as tragédias as suas produções mais importantes e famosas: Hamlet, Romeu 
e Julieta, MacBeth, Rei Lear. 
A peça A megera domada ganhou uma adaptação brasileira no ano 2000: a novela O 
cravo e a rosa, da Rede Globo, trouxe para terras tropicais as idas e vindas amorosas 
de Catarina e Petruchio. 
Shakespeare pertence ao Renascimento. Esse movimento vem para se opor 
às ideias da Idade Média: na Idade Média, Deus está no centro de tudo e a 
religião define as ações dos homens; a fé é mais importante do que a razão e o 
coletivo tem um grande peso. Já no Renascimento, esses valores são invertidos: 
passa-se a dar mais valor à razão do que à fé, e o coletivo perde importância, 
surgindo o individualismo, a preocupação do indivíduo consigo mesmo, com 
os seus talentos e problemas. 
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Nesse contexto, Hamlet é uma peça emblemática: o jovem Hamlet é o 
príncipe da Dinamarca e vive atormentado, pois sabe que a morte do seu pai, 
o rei, não foi consequência de causas naturais, mas de um assassinato. Essa 
revelação transtorna o personagem e ele não tem uma religião para recorrer: 
ele é o único capaz de lidar com os seus próprios problemas; ele é o único 
dono do seu destino. A famosa frase “ser ou não ser, eis a questão” mostra 
justamente a dúvida, o questionamento, a fragmentação, quando antes havia 
certeza advinda da fé e dos dogmas da Igreja. Por isso, diz-se que Hamlet 
sucumbiu ao seu próprio subjetivismo. Todo esse sofrimento está presente no 
trecho a seguir, em que o protagonista discursa:
Ser ou não ser, essa é que é a questão:
Será mais nobre suportar na mente
As flechadas da trágica fortuna,
Ou tomar armas contra um mar de escolhos
E, enfrentando-os, vencer? Morrer, dormir,
Nada mais; e dizer que pelo sono
Findam-se as dores, como os mil abalos
Inerentes à carne — é a conclusão
Que devemos buscar. Morrer — dormir;
Dormir, talvez sonhar — eis o problema:
Pois os sonhos que vierem nesse sono
De morte, uma vez livres deste invólucro
Mortal, fazem cismar. Esse é o motivo
Que prolonga a desdita desta vida.
Quem suportara os golpes do destino,
Os erros do opressor, o escárnio alheio,
A ingratidão no amor, a lei tardia,
O orgulho dos que mandam, o desprezo
Que a paciência atura dos indignos,
Quando podia procurar repouso
Na ponta de um punhal? Quem carregara
Suando o fardo da pesada vida
Se o medo do que vem depois da morte —
O país ignorado de onde nunca
Ninguém voltou — não nos turbasse a mente
E nos fizesse arcar co’o mal que temos
Em vez de voar para esse, que ignoramos?
Assim nossa consciência se acovarda,
23A importância histórica dos clássicos universais
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Francisco
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E o instinto que inspira as decisões
Desmaia no indeciso pensamento,
E as empresas supremas e oportunas
Desviam-se do fio da corrente
E não são mais ação (SHAKESPEARE, 2010, p. 118-119).
Você consegue imaginar um homem da Idade Média, com uma fé cega na 
Igreja Católica, atormentado por não saber o que aconteceria após a morte? Esse 
homem provavelmente teria a certeza de ir para o céu ou para o inferno — tudo 
dependendo de como ele se comportou em vida. Na época de Shakespeare, 
essas certezas caem por terra. A dúvida e a incerteza são constantes. 
Miguel de Cervantes
Miguel de Cervantes (Figura 6) nasceu em 1547 e morreu em 1616 — na mesma 
época, portanto, de Shakespeare, mas em um local diferente: Cervantes viveu 
na Espanha. Na Espanha e em Portugal, no fi nal do século XVI, estavam muito 
na moda os romances de cavalaria (Figura 6). Os personagens desses livros 
eram heróis destemidos e bastante católicos, que cultivavam o amor sublime, 
puro. Havia, inclusive, todo um código de conduta cavalheiresca a ser seguido. 
Cervantes, pensando em toda essa tradição, escreveu o seu romance mais 
emblemático: O engenhoso fidalgo Dom Quixote da Mancha. Porém, em vez 
de seguir as tendências observadas nesses livros, o autor utilizou essas narra-
tivas como material para uma sátira, para uma desconstrução: o protagonista, 
Dom Quixote, deseja ardentemente ser um herói de cavalaria e crê cegamente 
que o é — porém, a narrativa nos mostra um homem beirando à loucura, que 
combate moinhos de ventos acreditando serem ferozes gigantes. 
Dom Quixote é um cavaleiro, mas o cavaleiro da triste figura. Como um 
contraponto à sua figura, encontra-se Sancho Pança, o seu fiel escudeiro, um 
homem simples, prático, sem grandes aspirações, mas que chama o seu amo 
à realidade. 
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Figura 6. Miguel de Cervantes.
Fonte: Miguel de Cervantes (2017). 
A seguir, você confere o trecho no qual Dom Quixote luta contra os moinhos:
E, em dizendo isto, e encomendando-se de todo coração à sua senhora 
Dulcinéia, pedindo-lhe que em tal transe o socorresse, bem coberto por 
sua rodela, com a lança em riste, arremeteu a todo o galope de Rocinante 
e investiu contra o primeiro moinho que tinha à frente; e ao lhe acertar 
uma lançada na pá, girou-a o vento com tanta fúria que fez a lança em 
pedaços, levando atrás de si cavalo e cavaleiro, que foi rodando em mui 
mal estado pelo campo. Acorreu Sancho Pança ao seu socorro, a todo 
o correr do seu asno, e quando chegou viu que não se podia mexer, 
tamanho fora o baqueque com ele levara Rocinante.
— Valha-me Deus! — disse Sancho. — Não disse eu a vossa mercê que 
visse bem o que estava fazendo, que não passavam de moinhos de vento, 
e só o podia ignorar quem tivesse outros na cabeça?
— Cala-te, amigo Sancho — respondeu D. Quixote —, que as coisas da 
guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais que 
eu penso, e é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o cômodo 
e os livros transformou esses gigantes em moinhos, para tirar-me a glória 
do seu vencimento: tamanha é a inimizade que me tem; mas, ao fim e ao 
cabo, hão de valor pouco suas más artes contra a bondade da minha espada.
— Faça Deus o que puder — respondeu Sancho Pança. (CERVANTES, 
2010, p. 115).
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A comicidade do trecho diverte, mas também nos faz pensar: assim como já 
foi discutido em relação às obras de Shakespeare, aqui o ser humano também 
perdeu todas as suas certezas. Se o dramaturgo inglês escreveu uma tragédia 
para pensar sobre essa mudança, Cervantes utiliza o cômico e a sátira para 
falar sobre o fim desse código de honra que servia como guia nas situações 
mais diversas. Veja a Figura 7, de Gustave Doré, que retrata um diálogo entre 
D. Quixote e Sancho Pansa.
Figura 7. Dom Quixote e Sancho Pança 
(ilustração de Gustave Doré).
Fonte: Dom Quixote (2017). 
Essa obra continua tendo uma enorme influência até os dias de hoje: histó-
rias em quadrinho, pinturas, romances, filmes, etc. O número de adaptações 
ou de inspirações suscitadas pelo romance é, inclusive, impossível de ser 
mensurado. Um exemplo está na Figura 8, que mostra o desenho do famoso 
pintor do século XX, Pablo Picasso.
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Francisco
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Figura 8. Dom Quixote, de Pablo Picasso.
Fonte: Dom Quixote (2017). 
Muitos dos textos da Literatura Clássica podem ser 
encontrados no site do Domínio Público: 
https://goo.gl/WY1Qi7 
— Cala-te, amigo Sancho — respondeu D. Quixote —, que as coisas da 
guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais 
que eu penso, e é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o 
cômodo e os livros transformou esses gigantes em moinhos, para tirar-me 
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a glória do seu vencimento: tamanha é a inimizade que me tem; mas, 
ao fim e ao cabo, hão de valor pouco suas más artes contra a bondade 
da minha espada.
— Faça Deus o que puder — respondeu Sancho Pança. (CERVANTES, 
2010, p. 115)
1. O conceito de literatura clássica é 
complexo. Assinale a alternativa 
correta em relação a esse conceito.
a) Para que um texto literário 
seja considerado clássico, ele 
precisa apenas ser antigo.
b) A literatura clássica precisa 
apresentar uma linguagem difícil.
c) Cada pessoa pode ter a 
sua própria lista de textos 
literários clássicos.
d) A lista de livros literários 
clássicos é uma lista fixa, sem 
possibilidades de alteração.
e) Alguns clássicos não nos dizem 
mais nada, por estarem muito 
distantes da nossa realidade.
2. Sobre a função histórica da literatura 
clássica, podemos afirmar que:
a) a função da literatura clássica 
é padronizar as leituras ao 
redor do mundo, para que 
exista um conjunto de obras 
conhecido por todos.
b) a literatura clássica continua a 
fazer sentido para os leitores 
mesmo após muitos séculos 
passados da sua escrita: mesmo 
que você não tenha lido a 
Odisseia, por exemplo, acaba 
sendo tocado por essa história 
através de outras narrativas e 
formas de arte inspiradas nela 
e por tudo o que já ouviu falar 
sobre essa obra de Homero.
c) os textos clássicos são aqueles 
livros que tiveram uma enorme 
importância na sua época, 
mesmo que tenham deixado 
de ter relevância na atualidade.
d) as pessoas entram em contato 
com os clássicos quando 
leem alguma dessas obras.
e) a literatura clássica serve 
essencialmente para que o leitor 
possa aprender sobre a época 
retratada na obra: os costumes, 
as ideias, os acontecimentos 
surgem nas páginas dos livros 
e podem nos ensinar muito.
3. Homero e Sófocles são dois 
autores clássicos da antiguidade 
grega. Sobre eles e as suas 
obras, é correto afirmar que:
a) a Odisseia é uma narrativa 
sobre uma viagem que, 
justamente por apresentar 
inúmeros percalços e desafios 
a serem vencidos, proporciona 
o autoconhecimento.
b) Homero, na sua obra Odisseia, 
quis construir uma narrativa de 
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aventuras. Seres mitológicos, 
como sereias e ciclopes, homens 
de um olho só, estão presentes 
na narrativa para ajudar a criar 
esse clima de aventuras.
c) Freud constatou a existência 
do complexo de Édipo (o 
amor do menino pela mãe e 
o ciúme em relação ao pai) na 
peça de Sófocles Édipo Rei. 
Ele conclui, porém, que esse 
não era um fenômeno comum 
entre os seus pacientes.
d) tanto Homero quanto Sófocles 
foram dramaturgos.
e) para os gregos antigos, como 
Homero e Sófocles, não existia 
o destino: cada indivíduo era 
o único responsável pelos 
acontecimentos da sua vida.
4. Pensando sobre a vasta obra do 
poeta e dramaturgo inglês William 
Shakespeare, é correto afirmar que:
a) sabe-se que, na verdade, obras 
de diferentes autores acabaram 
ficando para a posteridade como 
de autoria de Shakespeare.
b) Hamlet mostra um príncipe 
que acredita e que tem 
certeza de que seu destino é 
o de vingar a morte do pai.
c) Shakespeare é um autor 
representante do barroco inglês.
d) o Soneto XVIII, de 
Shakespeare, fala que a 
poesia não tem utilidade.
e) as suas obras continuam tocando 
os leitores por tratarem de temas 
universais. Romeu e Julieta fala 
do amor impossível, e Hamlet, 
da loucura, por exemplo.
5. Analise o seguinte trecho de Dom 
Quixote, de Cervantes, sobre 
quando Dom Quixote enfrenta 
moinhos achando serem gigantes, 
e assinale a alternativa correta.
— Cala-te, amigo Sancho — 
respondeu D. Quixote —, que 
as coisas da guerra mais que as 
outras estão sujeitas a contínua 
mudança: tanto mais que eu 
penso, e é verdade, que aquele 
sábio Frestão que me roubou o 
cômodo e os livros transformou 
esses gigantes em moinhos, para 
tirar-me a glória do seu vencimento: 
tamanha é a inimizade que me 
tem; mas, ao fim e ao cabo, hão de 
valor pouco suas más artes contra 
a bondade da minha espada.
— Faça Deus o que puder 
— respondeu Sancho Pança. 
(CERVANTES, 2010, p. 115)
a) Fica manifesta a loucura de 
Dom Quixote, que acredita 
ser Frestão o responsável 
pelo transformação dos 
gigantes em moinhos.
b) Frestão é um feiticeiro 
especializado na arte 
da transformação.
c) A batalha de Dom Quixote contra 
os moinhos é uma metáfora para 
guerra, e, por isso, ele fala, no 
início, que, nas guerras, as coisas 
mudam muito rapidamente.
d) Quando Dom Quixote fala na 
bondade da sua espada, ele 
quer dizer que nunca usaria 
essa arma contra alguém.
e) A glória, para Dom Quixote, 
é viver tranquilamente, sem 
desenvolver inimizades 
e sem duelar.
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Francisco
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Lápis
Francisco
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ASTÉRIX. 2017. Disponível em: <http://www.asterix.com/a-coleccao/os-albuns/a-
-odisseia-de-asterix.html>. Acesso em: 6 ago. 2017.
A ODISSEIA de Alice. Adoro cinema. 2016. Disponível em: <http://www.adorocinema.
com/filmes/filme-224206/>. Acesso em: 6 ago. 2017.
CALVINO, Í. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 
CERVANTES, M. de. O engenhoso fidalgo Dom Quixote da Mancha. São Paulo: Abril, 
2010. v. 1. 
DOM QUIXOTE. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Dom_Quixote>.Acesso em: 6 ago. 2017. 
DON QUIXOTE (PICASSO). In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://en.wikipedia.
org/wiki/Don_Quixote_(Picasso)>. Acesso em: 6 ago. 2017. 
ÍTALO CALVINO. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Italo_Calvino>. Acesso em: 6 ago. 2017.
MIGUEL DE CERVANTES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Miguel_de_Cervantes>. Acesso em: 6 ago. 2017.
SHAKESPEARE, W. Soneto XVIII. 2016. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/blog/
gilberto-cruvinel/a-historia-do-mais-famoso-soneto-de-shakespeare>. Acesso em: 
08 jul. 2017.
SHAKESPEARE, W. Hamlet. São Paulo: Abril, 2010.
SÓFOCLES. Édipo Rei. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2255>. Acesso em: 6 ago. 2017.
SÓFOCLES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
S%C3%B3focles>. Acesso em: 6 ago. 2017.
WILLIAM SHAKESPEARE. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/William_Shakespeare>. Acesso em: 6 ago. 2017.
Leituras recomendadas
CALVINO, Í. Um general na biblioteca. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
HOMERO. Odisseia. São Paulo: Abril, 2010. 
MACHADO, A. M. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2002.
WATT, I. Mitos do individualismo moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 
A importância histórica dos clássicos universais30
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DICA DO PROFESSOR
Romeu e Julieta é uma das peças mais conhecidas de Shakespeare. Na Dica do Professor, você 
vai saber um pouco mais sobre essa história e sobre como ela foi retomada ao longo do tempo.
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EXERCÍCIOS
1) O conceito de literatura clássica é complexo. Assinale a alternativa correta em 
relação a essa definição.
A) Para que um texto literário seja considerado clássico, ele precisa apenas ser antigo.
B) A literatura clássica precisa apresentar uma linguagem difícil.
C) Cada pessoa pode ter a sua própria lista de textos literários clássicos.
D) A lista de livros literárias clássicos é uma lista fixa, sem possibilidades de alteração.
E) Alguns clássicos não nos dizem mais nada, por estarem muito distantes da nossa realidade.
2) Sobre a função histórica da literatura clássica, podemos afirmar que:
A) a função da literatura clássica é a de padronizar as leituras ao redor do mundo, para que 
exista um conjunto de obras conhecido por todos.
a literatura clássica continua a fazer sentido para os leitores mesmo após muitos séculos 
passados da sua escrita: mesmo que você não tenha lido a Odisseia, por exemplo, acaba 
B) 
sendo tocado por essa história por meio de outras narrativas e formas de arte inspiradas 
nela e por tudo o que já ouviu falar sobre essa obra de Homero.
C) os textos clássicos são aqueles livros que tiveram uma enorme importância na sua época, 
mesmo que tenham deixado de ter relevância na atualidade.
D) Aa pessoas entram em contato com os clássicos quando leem alguma dessas obras.
E) a literatura clássica serve essencialmente para que o leitor possa aprender sobre a época 
retratada na obra: os costumes, as ideias, os acontecimentos surgem nas páginas dos livros 
e podem nos ensinar muito.
3) Homero e Sófocles são dois autores clássicos da Grécia Antiga. Sobre eles e suas 
obras, assinale a alternativa correta.
A) A Odisseia é uma narrativa sobre uma viagem que, justamente por apresentar inúmeros 
percalços e desafios a serem vencidos, proporciona o autoconhecimento.
B) Homero, na sua obra Odisseia, quis construir uma narrativa de aventuras. Seres 
mitológicos, como sereias e ciclopes, e homens de um olho só estão presentes na narrativa 
para ajudar a criar esse clima de aventuras.
C) Freud constatou a existência do Complexo de Édipo – o amor do menino pela mãe e o 
ciúmes em relação ao pai – na peça de Sófocles, Édipo Rei. Ele conclui, porém, que esse 
não era um fenômeno comum entre seus pacientes.
D) Tanto Homero quanto Sófocles foram dramaturgos.
E) Para os gregos antigos, como Homero e Sófocles, não existia o destino: cada indivíduo era 
o único responsável pelos acontecimentos da sua vida.
4) 
Pensando sobre a vasta obra do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, 
assinale a alternativa correta.
A) Sabe-se que, na verdade, obras de diferentes autores acabaram ficando para a posteridade 
como sendo de autoria de Shakespeare.
B) Hamlet mostra um príncipe que acredita e tem certeza de que seu destino é o de vingar a 
morte do pai.
C) Shakespeare é um autor representante do Barroco inglês.
D) O Soneto XVIII, de Shakespeare, fala que a poesia não tem utilidade.
E) Suas obras continuam tocando os leitores por tratarem de temas universais. Romeu e 
Julieta fala do amor impossível e Hamlet, da loucura, por exemplo.
5) Analise o seguinte trecho de Dom Quixote, de Cervantes, sobre quando Dom Quixote 
enfrenta moinhos achando serem gigantes. 
"- Cala-te, amigo Sancho – respondeu D. Quixote –, que as coisas da guerra mais que 
as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais que eu penso, e é verdade, 
que aquele sábio Frestão que me roubou o cômodo e os livros transformou esses 
gigantes em moinhos, para tirar-me a glória do seu vencimento: tamanha é a 
inimizade que me tem; mas, ao fim e ao cabo, hão de valor pouco suas más artes 
contra a bondade da minha espada. – Faça Deus o que puder – respondeu Sancho 
Pança." (CERVANTES, 2010, p. 115) 
Sobre esse trecho, podemos afirmar que: 
A) fica manifesta a loucura de Dom Quixote, que acredita ser Frestão o responsável pelo 
transformação dos gigantes em moinhos.
B) Frestão é um feiticeiro especializado na arte da transformação.
C) a batalha de Dom Quixote contra os moinhos é uma metáfora da guerra e, por isso, ele 
fala, no início, que, nas guerras, as coisas mudam muito rapidamente.
D) quando Dom Quixote fala na bondade da sua espada, ele quer dizer que nunca usaria essa 
arma contra alguém.
E) a glória, para Dom Quixote, é viver tranquilamente, sem desenvolver inimizades e sem 
duelar.
NA PRÁTICA
Muitas pessoas têm, frequentemente, o seguinte pensamento: "A literatura clássica é muito 
difícil e está muito distante do meu cotidiano". Apesar dessa dificuldade, os clássicos ainda têm 
muito para nos dizer, mesmo hoje em dia.
Diversas obras clássicas foram adaptadas para o cinema, o que evidencia a atualidade desses 
livros escritos há tanto tempo. Em alguns casos, a história original foi atualizada para a época na 
qual o filme estava sendo produzido e, em outros, os produtores mantiveram-se fieis à narrativa.
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