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A importância histórica dos clássicos universais APRESENTAÇÃO Homero, Cervantes, Dostoiévski, Proust, Luís de Camões, Eça de Queirós, Machado de Assis... Para muitos, um arrepio de medo é quase inevitável diante da simples sugestão de que a leitura de textos desses autores seja realizada. "Os livros clássicos são muito difíceis", " os clássicos estão escritos em uma linguagem muito complexa" ou "os clássicos falam de uma realidade muito diferente da minha": esses são alguns dos pensamentos recorrentes de alunos sobre a literatura clássica. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir que, ao contrário desse lugar-comum, a literatura clássica pode nos dizer muito sobre quem somos, de onde viemos e qual o nosso lugar no mundo. Você vai refletir acerca da definição de literatura clássica e descobrir alguns dos autores de maior destaque, além de analisar seus textos. Tudo isso vai ajudar a perceber que os textos clássicos não são nenhum monstro de sete cabeças, e sim leituras que podem divertir e ensinar muito. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir o conceito de literatura clássica e a sua função para a sociedade.• Identificar autores de destaque da literatura clássica e analisar seus textos.• Relacionar alguns textos da literatura clássica com o contexto histórico em que foram produzidos. • DESAFIO Você foi convidado a ministrar uma palestra sobre o escritor clássico português Luís de Camões para um público jovem e não familiarizado com esse tipo de literatura. Foi pedido também que você analisasse um poema em específico do autor: Amor é um fogo que arde sem se ver. Descreva no mínimo duas possibilidades de como você apresentaria esse poema, levando em consideração seu púbico. INFOGRÁFICO No Infográfico a seguir, você pode conferir uma linha do tempo com alguns dos escritores de maior importância da literatura clássica. Esses autores indicados são considerados clássicos da literatura por terem uma enorme influência até os dias atuais: continuamos lendo seus livros, inspirando-nos neles para escrever outros textos, produzir filmes, seriados, pintar quadros, etc. Para cada escritor, foi indicada uma de suas obras de destaque, o que não significa que seja a única. CONTEÚDO DO LIVRO Muito se fala sobre literatura clássica: que nós devemos ler os autores clássicos, que eles são fundamentais, que são difíceis e que sua leitura é penosa. Mas o que exatamente é literatura clássica? Quem define quais textos e autores serão considerados como literatura clássica? Será que são sempre os mesmos textos que compõem essa literatura em todos os tempos e em todos os lugares? Por que eles são tão relevantes? Por que nós devemos lê-los e conhecê-los? Na obra Textos fundamentais da literatura universal, leia o capítulo A importância histórica dos clássicos universais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Você vai descobrir o que é literatura clássica, quais suas funções e qual sua importância histórica. Boa leitura! TEXTOS FUNDAMENTAIS DA LITERATURA UNIVERSAL Luara Pinto Minuzzi Revisão técnica: Gabriela Semensato Ferreira Licenciatura em Letras Mestrado em Letras Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 M668t Minuzzi, Luara Pinto. Textos fundamentais da literatura universal / Luara Pinto Minuzzi. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 206 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-172-3 1. Literatura universal. I. Título. CDU 82-7 Textos fundamentais da literatura universal_book.indb 2 28/08/2017 17:23:41 A importância histórica dos clássicos universais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Discutir o conceito de literatura clássica e a sua função para a sociedade. Identi� car autores de destaque da literatura clássica e analisar os seus textos. Relacionar alguns textos da literatura clássica com o contexto histórico em que foram produzidos. Introdução Homero, Cervantes, Dostoiévski, Proust, Luís de Camões, Eça de Queiros, Machado de Assis... Para muitos, um arrepio de medo é quase inevitável diante da simples sugestão de que a leitura de textos desses autores deva ser realizada. “Os livros clássicos são muito difíceis”, “ Os clássicos estão escritos em uma linguagem muito complexa” ou “ Os clássicos falam de uma realidade muito diferente da minha”: esses são alguns dos pensamentos recorrentes de alunos sobre a literatura clássica. Neste capítulo, você vai descobrir que, ao contrário desse lugar-co- mum, a literatura clássica pode nos dizer muito sobre quem somos, de onde viemos e qual é o nosso lugar no mundo. Você vai refletir acerca da definição de literatura clássica e descobrir alguns dos autores de mais destaque, além de analisar os seus textos. Tudo isso vai lhe ajudar a per- ceber que os textos clássicos não são um monstro de sete cabeças, mas leituras que podem divertir e ensinar muito. U N I D A D E 1 Textos fundamentais_U1C1.indd 11 28/08/2017 16:20:59 Literatura clássica: conceitos e funções Ítalo Calvino (Figura 1), escritor e pensador italiano (também ele um clássico!), refl etiu acerca da intrigante questão da literatura clássica e publicou, sobre o tema, uma obra fundamental chamada de Por que ler os clássicos (2007). No texto, o autor, na medida em que pensa sobre essa literatura, constrói 14 diferentes defi nições para ela. Você pode perceber, portanto, como o conceito de Literatura Clássica é complexo apenas pelo número de explicações diferentes encontradas por Calvino para a definir. Para ter uma ideia melhor do que são os clássicos, você vai acompanhar agora cada uma dessas 14 definições. Figura 1. Ítalo Calvino. Fonte: Ítalo Calvino (2017). Ítalo Calvino é um dos escritores italianos contemporâneos mais importantes. Nascido em 1923, o autor lutou contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. A sua obra é vasta e extremamente interessante. Um dos seus contos, Um general na biblioteca, fala sobre o poder da literatura de desacomodar e de transgredir: um general é designado para cuidar de uma biblioteca, visto que surge a suspeita de que existiriam livros com ideias contrárias ao governo. Contudo, uma vez na biblioteca e em contato com tantas obras distintas, o general, tão pouco questionador dos seus superiores, começa a enxergar o mundo com olhos cada vez mais críticos. A importância histórica dos clássicos universais12 Textos fundamentais_U1C1.indd 12 28/08/2017 16:21:00 Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado A primeira definição de Calvino para Literatura Clássica é a seguinte: “Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: ‘Estou relendo...’ e nunca ‘Estou lendo...’.” (CALVINO, 2007, p. 9). Talvez você não se encaixe nesse grupo de pessoas, mas há muitas e muitas que, en- vergonhadas por nunca terem lido livros como a Ilíada, de Homero, ou Ulisses, de James Joyce, preferem mentir e afirmar que já releram (ou estão relendo) essas obras. Mas por que elas sentiriam vergonha por isso? Devido à sua importância histórica, esses livros são muito famosos — muito se fala sobre eles. Aqueles que entendem de literatura, ou por apenas gostar muito ou por trabalhar com a matéria, sentem-se na obrigação de terem lido todos esses clássicos e, por isso, o embaraço por não terem lido todos. No entanto, você deve se questionar: será possível, em uma vida, ler todos os clássicos? Além de eles serem muitos, é extremamente raro que alguém leia apenas clássicos: desejamos (e igualmente somos obrigados a) ler livros modernos, atuais, e isso não é algo a ser lamentado. Portanto, não devemos nos culpar por não ter lido todos os clássicos — pelo contrário, a possibilidade de ler um clássico pela primeira vez na vida adulta é uma fonte de imenso prazer. Isso nos leva ao segundo conceito: “Dizem-seclássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los” (CALVINO, 2007, p. 10). Lê-los quando jovem, no colégio, ou depois, durante a vida adulta: não há um tempo adequado ou ideal para conhecer os clássicos. Qualquer momento é um bom momento para ler um livro clássico pela primeira vez. E isso, porque, conforme o terceiro conceito: “Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocul- tam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual” (CALVINO, 2007, p. 10). 13A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 13 28/08/2017 16:21:00 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Calvino, com essa terceira definição, pode querer dizer que os clássicos exercem uma enorme influência e, na maioria das vezes, nem nos damos conta dela: Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Os conceitos de inconsciente individual e inconsciente coletivo são de autoria do psicoterapeuta Carl Gustav Jung (1875−1961). O inconsciente individual são todos aqueles conteúdos da nossa psique que não estão no nível consciente: coisas que sentimos ou que sabemos, mas que não podem ser recuperadas de forma muito clara, manifestando-se de outras formas: por meio de sonhos ou de reações incomuns, por exemplo. Já o inconsciente coletivo se refere a conteúdos comuns a toda a sociedade: temas e elementos que se repetem frequentemente em diversas situações. A literatura é um dos meios privilegiados da manifestação do inconsciente coletivo. Calvino, com essa terceira definição, pode querer dizer que os clássicos exercem uma enorme influência e, na maioria das vezes, nem nos damos conta dela: traços e vestígios de inúmeros clássicos surgem em filmes, outros livros, seriados, peças de teatro, etc. E os autores ou produtores não necessariamente possuem consciência de que foram influenciados por esses clássicos — eles já fazem parte desse inconsciente coletivo, dos conteúdos que a nossa sociedade compartilha. A Odisseia, de Homero, por exemplo, já faz parte do inconsciente coletivo do Ocidente. Nessa obra, o poeta grego nos conta a viagem de volta para casa de Ulisses: ele havia ido para Troia guerrear contra os troianos e deve fazer o percurso de volta para Ítaca. A sua jornada não é fácil, e ele enfrenta inúmeros desafios e contratempos que o atrasam em 10 anos. Você pode não ter lido a Odisseia, mas provavelmente já leu outros livros ou entrou em contato com manifestações artísticas que releem esse clássico, e assim também o conhece, mesmo que indiretamente. Há, inclusive, uma expressão bastante consagrada e que você provavelmente já escutou: quando, por exemplo, uma tarefa dá muito trabalho e acaba levando muito mais tempo para realizá-la do que imaginamos no princípio, dizemos que foi uma “odisseia” concluí-la (Figuras 2 e 3). A importância histórica dos clássicos universais14 Textos fundamentais_U1C1.indd 14 28/08/2017 16:21:00 Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Figura 2. Exemplo do uso consagrado da expressão “odisseia”. Fonte: Astérix (2017). Figura 3. Outro exemplo do uso consagrado da expressão “odisseia”. Fonte: A Odisseia de Alice (2016). 15A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 15 28/08/2017 16:21:00 A partir dessa reflexão, Calvino pensa em mais quatro conceitos relaciona- dos entre si. O quarto conceito diz que “Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira” (CALVINO, 2007, p. 11). Conforme os anos passam, as pessoas não permanecem as mesmas — as experiências e os acontecimentos acabam transformando-as e transformando a sua forma de enxergar o mundo. Por isso, se você leu um clássico aos 15 anos, poderá se surpreender ao reler a mesma obra aos 30, aos 40, aos 50 anos. Da mesma forma, dois indivíduos diferentes poderão ler o mesmo livro e jamais ter a mesma leitura, a mesma interpretação. O quinto conceito de Calvino diz que “Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura” (CALVINO, 2007, p. 11). Por sua vez, o sexto: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” (CALVINO, 2007, p. 11). E o sétimo afirma que “Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes)” (CALVINO, 2007, p. 11). Todas essas definições expressam ideias semelhantes e estão relaciona- das com o que Calvino falou anteriormente sobre o inconsciente coletivo: voltando ao exemplo da Odisseia, se já sabemos tanto sobre o livro, mesmo sem nunca o ter lido, nossa leitura jamais será uma primeira leitura. Sobre a obra de Homero e sobre tantos outros clássicos, temos uma grande quantidade de conhecimentos prévios. Esses conhecimentos podem ser conhecimentos conscientes. Por exemplo, se você já leu textos teóricos sobre a Odisseia, a sua leitura inevitavelmente será influenciada por eles, pois você não pode simplesmente deixá-los de lado. Esses conhecimentos, contudo, também podem ser inconscientes, por meio do que Calvino chama de marcas de leitura que precederam a nossa (CALVINO, 2007). Portanto, sempre que você se deparar com uma narrativa sobre uma viagem difícil e cheia de obstáculos, mas que proporciona um grande autoconheci- mento, desconfie de que há, por trás, uma referência a Homero. Ao mesmo tempo, todas essas histórias sobre jornadas complexas com as quais você já teve contato serão acionadas quando você ler a Odisseia e acabarão modifi- cando a sua interpretação. A importância histórica dos clássicos universais16 Textos fundamentais_U1C1.indd 16 28/08/2017 16:21:00 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado O fato de termos tantos conhecimentos prévios sobre essas obras clássicas pode ser explicado pelo oitavo conceito de Calvino para Literatura Clássica: “Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discur- sos críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe” (CALVINO, 2007, p. 12). Ao mesmo tempo em que se fala e se escreve muito sobre uma obra da literatura clássica devido à sua imensa riqueza e complexidade, esses discursos nunca conseguem dar conta justamente dessa riqueza e dessa complexidade. Por isso, o nono conceito diz que “Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos” (CALVINO, 2007, p. 12). Teorias podem explicar os textos da Literatura Clássica, mas nunca poderão substituí-los — justamente por essa riqueza e complexidade da literatura de que falamos anteriormente. Tal complexidade e riqueza são características importantes para você compreender a décima definição: “Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs” (CALVINO, 2007, p. 13). Talismã é um objeto que encerra um poder, uma magia, e a literatura clássica contém um grande poder: o poder de criar todo um universo, na medida em que o leitor adentra nesse mundo paralelo ficcional. Em Odisseia, existem, por exemplo, sereias e monstros de um olho só e isso faz sentido dentro da realidade da narrativa. Já o décimo primeiro conceito de literatura clássica diz que “O ‘seu’ clássico é aquele quenão pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele” (CALVINO, 2007, p. 13). Aqui, portanto, surge uma nova discussão: a lista dos clássicos não é uma lista permanente e definitiva, podendo ser alterada conforme o lugar onde é pensada e também conforme a época. Nos cursos de literatura do Brasil na contemporaneidade, por exemplo, em disciplinas sobre esse tema, os alunos deverão conhecer uma lista mais ou menos fixa de autores, mudando um ou outro exemplo. Em um curso da Alemanha, talvez aparecerão mais autores alemães; no futuro, alguns dos autores que hoje estudamos poderão ser deixados de lado, e outros tomarão os seus lugares. No mesmo sentido, você poderá ter a sua própria lista de clássicos: aqueles livros que lhe tocaram tanto em um determinado momento que, não importa quanto tempo passe, você continuará lembrando com emoção da leitura. 17A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 17 28/08/2017 16:21:00 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Sublinhado Você já ouviu falar em cânone? No campo da literatura, cânone é uma lista de obras ou de autores que são considerados os mais importantes e de maior influência. Existe o cânone da literatura clássica universal, mas também podem existir cânones mais específicos: o cânone da literatura brasileira, da literatura feminista, da literatura negra, etc. É importante sempre ter em mente que essas listas são criadas por um grupo determinado de pessoas e que, por isso, não correspondem a algum tipo de “verdade universal”. Outras pessoas, em outro tempo, poderiam ter selecionado outros autores e outras obras — mas, é claro, não quaisquer obras e quaisquer autores, mas aqueles de enorme qualidade e de grande alcance no tempo e no espaço. O décimo segundo conceito de Calvino diz que “Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia” (CALVINO, 2007, p. 14). Se um clássico é um livro de grande influência, fica claro que os mais recentes devem muito aos que lhe antecederam, mesmo que os seus autores não necessariamente tenham consciência disso, como discutido anteriormente. Finalmente, as duas últimas definições complementam-se. A décima terceira ressalta que “É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo” (CALVINO, 2007, p. 15). E, por fim, a décima quarta afirma que “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível” (CALVINO, 2007, p. 15). Os clássicos ainda nos comunicam algo e ainda nos afetam, mas o contrário também é verdadeiro: a nossa realidade modifica a leitura que realizamos de um texto clássico. Autores da literatura clássica: exemplos Sófocles Sófocles (Figura 4) é um dramaturgo grego que viveu no século V a.C. Ele nasceu em Colono, perto de Atenas, em uma família rica. Apesar de existir a informação de que o autor teria escrito mais de 100 peças em vida, temos acesso a apenas sete delas: Ájax, Antígona, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. A importância histórica dos clássicos universais18 Textos fundamentais_U1C1.indd 18 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Figura 4. Sófocles. Fonte: Sófocles (2017). A mais famosa das peças é Édipo Rei, que conta a história de Édipo, filho do rei Laio e da rainha Jocasta. Na época do seu nascimento, os seus pais recebem a revelação, por meio de um oráculo, de que Édipo seria o respon- sável pela morte do próprio progenitor e de que casaria com a progenitora. A fim de evitar esses terríveis acontecimentos, Laio e Jocasta decidem deixar o bebê sozinho em uma floresta para morrer. O destino, contudo, não pode ser alterado: a criança é salva por uma família que o adota. Sem saber da sua origem, Édipo, depois de adulto, mata o seu pai, sem reconhecê-lo, crendo ser ele uma ameaça, e casa com a sua própria mãe, que se tornara uma viúva, virando o rei de Tebas. Depois que a verdade sobre a sua filiação vem à tona, o desespero toma conta de todos: Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos. Então, ele declama: Não queiras convencer-me de que eu deveria ter agido de outra forma! Não me dês conselhos! Não sei como poderia defrontar-me, no Hades, com meu pai, ou com minha infeliz mãe, porque cometi contra eles crimes que nem a forca poderia punir! E o semblante de meus filhos, nascidos como foram, como me seria possível contemplar? Não! Nunca mais poderia eu vê-los, nem ver a cidade, as muralhas, as está- tuas sagradas dos deuses! Pobre de mim! Depois de ter gozado em Tebas uma existência gloriosa, dela me privei voluntariamente, quando a todos vós ordenei que expulsassem da cidade o sacrílego, aquele que os deuses declararam impuro, da raça de 19A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 19 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Laio! Descoberta, em mim mesmo, essa mancha indelével, ser-me-ia lícito contemplar os cidadãos tebanos, sem baixar os olhos? Ah! certamente que não! E se fosse possível evitar que os sons nos penetrassem pelos ouvidos, eu privaria também da audição este miserável corpo, para que nada mais pudesse ver, nem ouvir, - pois deve ser um alívio ter o espírito insensível às próprias dores! (SÓFOCLES, 2017, p. 67-68). O Hades é o local, de acordo com a mitologia grega, para onde os mortos vão. Nesse trecho, portanto, você pode notar todo o desespero e sentimento de impotência de Édipo em relação ao destino que foi traçado para ele logo no seu nascimento: matar o pai e desposar a mãe. Ademais, a justeza da personagem é ressaltada: se ele havia decretado que o assassino do falecido marido da sua mãe e esposa deveria ser punido, quando descobre que o criminoso era ele próprio, ele mesmo executa a sentença, tirando a própria visão. As Moiras, na mitologia grega, eram as três irmãs responsáveis pelo destino de todos, sejam deuses ou humanos. De aspecto extremamente desagradável, as mulheres utilizavam a Roda da Fortuna para tecer o fio das vidas de todos os indivíduos. Se as pessoas seriam felizes ou infelizes, se morreriam jovens ou velhas, se realizariam ou não os seus sonhos: tudo era decidido por elas. O destino, portanto, era um conceito fundamental para os gregos da época de Sófocles, constituindo um ponto fundamental de Édipo Rei. Muito tempo depois, no século XIX, o famoso psicanalista Sigmund Freud se inspirou nessa história de Sófocles para criar uma das suas teorias mais importantes e mais determinantes na história da psicologia: o complexo de Édipo. Analisando os seus inúmeros pacientes do sexo masculino, Freud percebeu uma constante nas suas infâncias: um amor devotado a suas mães e uma inveja dos pais, os quais são percebidos como uma ameaça pelas crianças. Esse é apenas um exemplo da importância histórica dessa obra e da literatura clássica. A importância histórica dos clássicos universais20 Textos fundamentais_U1C1.indd 20 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce William Shakespeare William Shakespeare nasceu em 1564, na Inglaterra, e morreu em1616 (Fi- gura 5). O autor escreveu inúmeras peças teatrais e também poemas — a quantidade de obras escritas, bem como a diversidade de assuntos abordados e de opiniões expressas, levou, inclusive, ao questionamento se todas teriam a mesma autoria. Como essa teoria em relação à existência de vários escritores nunca foi provada, assume-se que todas sejam realmente de Shakespeare. Figura 5. William Shakespeare. Fonte: William Shakespeare (2017). Entre seus poemas, o Soneto XVIII é um dos mais belos: Soneto XVIII Devo igualar-te a um dia de verão? Mais afável e belo é o teu semblante: O vento esfolha Maio inda em botão, Dura o termo estival um breve instante. Muitas vezes a luz do céu calcina, Mas o áureo tom também perde a clareza: De seu belo a beleza enfim declina, 21A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 21 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Ao léu ou pelas leis da Natureza. Só teu verão eterno não se acaba Nem a posse de tua formosura; De impor-te a sombra a Morte não se gaba Pois que esta estrofe eterna ao Tempo dura. Enquanto houver viventes nesta lida, Há-de viver meu verso e te dar vida (SHAKESPEARE, 2016). Aqui, o eu lírico fala sobre a brevidade da vida, comparando a trajetória humana às estações do ano: em maio pode ser verão, mas logo chega o vento e arranca as folhas das árvores — metáfora que indica o fim, a dissolução. Outra metáfora semelhante a essa é o tom áureo que perde a clareza e a beleza que declina pelas leis da natureza. Porém, surge uma oposição a essa efemeridade: o poema, ao contrário desses elementos apresentados, permanecerá para sempre, enquanto houver leitores que o revivam a cada nova leitura. Depois, as suas peças englobam distintos gêneros. Na comédia, alguns exemplos são: Sonho de uma noite de verão, O mercador de Veneza, A comédia dos erros, A megera domada, A tempestade, etc. Shakespeare ainda escreveu dramas históricos: Ricardo II, Ricardo III, Henrique IV... Porém, estão entre as tragédias as suas produções mais importantes e famosas: Hamlet, Romeu e Julieta, MacBeth, Rei Lear. A peça A megera domada ganhou uma adaptação brasileira no ano 2000: a novela O cravo e a rosa, da Rede Globo, trouxe para terras tropicais as idas e vindas amorosas de Catarina e Petruchio. Shakespeare pertence ao Renascimento. Esse movimento vem para se opor às ideias da Idade Média: na Idade Média, Deus está no centro de tudo e a religião define as ações dos homens; a fé é mais importante do que a razão e o coletivo tem um grande peso. Já no Renascimento, esses valores são invertidos: passa-se a dar mais valor à razão do que à fé, e o coletivo perde importância, surgindo o individualismo, a preocupação do indivíduo consigo mesmo, com os seus talentos e problemas. A importância histórica dos clássicos universais22 Textos fundamentais_U1C1.indd 22 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Sublinhado Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Nesse contexto, Hamlet é uma peça emblemática: o jovem Hamlet é o príncipe da Dinamarca e vive atormentado, pois sabe que a morte do seu pai, o rei, não foi consequência de causas naturais, mas de um assassinato. Essa revelação transtorna o personagem e ele não tem uma religião para recorrer: ele é o único capaz de lidar com os seus próprios problemas; ele é o único dono do seu destino. A famosa frase “ser ou não ser, eis a questão” mostra justamente a dúvida, o questionamento, a fragmentação, quando antes havia certeza advinda da fé e dos dogmas da Igreja. Por isso, diz-se que Hamlet sucumbiu ao seu próprio subjetivismo. Todo esse sofrimento está presente no trecho a seguir, em que o protagonista discursa: Ser ou não ser, essa é que é a questão: Será mais nobre suportar na mente As flechadas da trágica fortuna, Ou tomar armas contra um mar de escolhos E, enfrentando-os, vencer? Morrer, dormir, Nada mais; e dizer que pelo sono Findam-se as dores, como os mil abalos Inerentes à carne — é a conclusão Que devemos buscar. Morrer — dormir; Dormir, talvez sonhar — eis o problema: Pois os sonhos que vierem nesse sono De morte, uma vez livres deste invólucro Mortal, fazem cismar. Esse é o motivo Que prolonga a desdita desta vida. Quem suportara os golpes do destino, Os erros do opressor, o escárnio alheio, A ingratidão no amor, a lei tardia, O orgulho dos que mandam, o desprezo Que a paciência atura dos indignos, Quando podia procurar repouso Na ponta de um punhal? Quem carregara Suando o fardo da pesada vida Se o medo do que vem depois da morte — O país ignorado de onde nunca Ninguém voltou — não nos turbasse a mente E nos fizesse arcar co’o mal que temos Em vez de voar para esse, que ignoramos? Assim nossa consciência se acovarda, 23A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 23 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Realce E o instinto que inspira as decisões Desmaia no indeciso pensamento, E as empresas supremas e oportunas Desviam-se do fio da corrente E não são mais ação (SHAKESPEARE, 2010, p. 118-119). Você consegue imaginar um homem da Idade Média, com uma fé cega na Igreja Católica, atormentado por não saber o que aconteceria após a morte? Esse homem provavelmente teria a certeza de ir para o céu ou para o inferno — tudo dependendo de como ele se comportou em vida. Na época de Shakespeare, essas certezas caem por terra. A dúvida e a incerteza são constantes. Miguel de Cervantes Miguel de Cervantes (Figura 6) nasceu em 1547 e morreu em 1616 — na mesma época, portanto, de Shakespeare, mas em um local diferente: Cervantes viveu na Espanha. Na Espanha e em Portugal, no fi nal do século XVI, estavam muito na moda os romances de cavalaria (Figura 6). Os personagens desses livros eram heróis destemidos e bastante católicos, que cultivavam o amor sublime, puro. Havia, inclusive, todo um código de conduta cavalheiresca a ser seguido. Cervantes, pensando em toda essa tradição, escreveu o seu romance mais emblemático: O engenhoso fidalgo Dom Quixote da Mancha. Porém, em vez de seguir as tendências observadas nesses livros, o autor utilizou essas narra- tivas como material para uma sátira, para uma desconstrução: o protagonista, Dom Quixote, deseja ardentemente ser um herói de cavalaria e crê cegamente que o é — porém, a narrativa nos mostra um homem beirando à loucura, que combate moinhos de ventos acreditando serem ferozes gigantes. Dom Quixote é um cavaleiro, mas o cavaleiro da triste figura. Como um contraponto à sua figura, encontra-se Sancho Pança, o seu fiel escudeiro, um homem simples, prático, sem grandes aspirações, mas que chama o seu amo à realidade. A importância histórica dos clássicos universais24 Textos fundamentais_U1C1.indd 24 28/08/2017 16:21:01 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Figura 6. Miguel de Cervantes. Fonte: Miguel de Cervantes (2017). A seguir, você confere o trecho no qual Dom Quixote luta contra os moinhos: E, em dizendo isto, e encomendando-se de todo coração à sua senhora Dulcinéia, pedindo-lhe que em tal transe o socorresse, bem coberto por sua rodela, com a lança em riste, arremeteu a todo o galope de Rocinante e investiu contra o primeiro moinho que tinha à frente; e ao lhe acertar uma lançada na pá, girou-a o vento com tanta fúria que fez a lança em pedaços, levando atrás de si cavalo e cavaleiro, que foi rodando em mui mal estado pelo campo. Acorreu Sancho Pança ao seu socorro, a todo o correr do seu asno, e quando chegou viu que não se podia mexer, tamanho fora o baqueque com ele levara Rocinante. — Valha-me Deus! — disse Sancho. — Não disse eu a vossa mercê que visse bem o que estava fazendo, que não passavam de moinhos de vento, e só o podia ignorar quem tivesse outros na cabeça? — Cala-te, amigo Sancho — respondeu D. Quixote —, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais que eu penso, e é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o cômodo e os livros transformou esses gigantes em moinhos, para tirar-me a glória do seu vencimento: tamanha é a inimizade que me tem; mas, ao fim e ao cabo, hão de valor pouco suas más artes contra a bondade da minha espada. — Faça Deus o que puder — respondeu Sancho Pança. (CERVANTES, 2010, p. 115). 25A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 25 28/08/2017 16:21:02 A comicidade do trecho diverte, mas também nos faz pensar: assim como já foi discutido em relação às obras de Shakespeare, aqui o ser humano também perdeu todas as suas certezas. Se o dramaturgo inglês escreveu uma tragédia para pensar sobre essa mudança, Cervantes utiliza o cômico e a sátira para falar sobre o fim desse código de honra que servia como guia nas situações mais diversas. Veja a Figura 7, de Gustave Doré, que retrata um diálogo entre D. Quixote e Sancho Pansa. Figura 7. Dom Quixote e Sancho Pança (ilustração de Gustave Doré). Fonte: Dom Quixote (2017). Essa obra continua tendo uma enorme influência até os dias de hoje: histó- rias em quadrinho, pinturas, romances, filmes, etc. O número de adaptações ou de inspirações suscitadas pelo romance é, inclusive, impossível de ser mensurado. Um exemplo está na Figura 8, que mostra o desenho do famoso pintor do século XX, Pablo Picasso. A importância histórica dos clássicos universais26 Textos fundamentais_U1C1.indd 26 28/08/2017 16:21:02 Francisco Realce Francisco Realce Figura 8. Dom Quixote, de Pablo Picasso. Fonte: Dom Quixote (2017). Muitos dos textos da Literatura Clássica podem ser encontrados no site do Domínio Público: https://goo.gl/WY1Qi7 — Cala-te, amigo Sancho — respondeu D. Quixote —, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais que eu penso, e é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o cômodo e os livros transformou esses gigantes em moinhos, para tirar-me 27A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 27 28/08/2017 16:21:02 a glória do seu vencimento: tamanha é a inimizade que me tem; mas, ao fim e ao cabo, hão de valor pouco suas más artes contra a bondade da minha espada. — Faça Deus o que puder — respondeu Sancho Pança. (CERVANTES, 2010, p. 115) 1. O conceito de literatura clássica é complexo. Assinale a alternativa correta em relação a esse conceito. a) Para que um texto literário seja considerado clássico, ele precisa apenas ser antigo. b) A literatura clássica precisa apresentar uma linguagem difícil. c) Cada pessoa pode ter a sua própria lista de textos literários clássicos. d) A lista de livros literários clássicos é uma lista fixa, sem possibilidades de alteração. e) Alguns clássicos não nos dizem mais nada, por estarem muito distantes da nossa realidade. 2. Sobre a função histórica da literatura clássica, podemos afirmar que: a) a função da literatura clássica é padronizar as leituras ao redor do mundo, para que exista um conjunto de obras conhecido por todos. b) a literatura clássica continua a fazer sentido para os leitores mesmo após muitos séculos passados da sua escrita: mesmo que você não tenha lido a Odisseia, por exemplo, acaba sendo tocado por essa história através de outras narrativas e formas de arte inspiradas nela e por tudo o que já ouviu falar sobre essa obra de Homero. c) os textos clássicos são aqueles livros que tiveram uma enorme importância na sua época, mesmo que tenham deixado de ter relevância na atualidade. d) as pessoas entram em contato com os clássicos quando leem alguma dessas obras. e) a literatura clássica serve essencialmente para que o leitor possa aprender sobre a época retratada na obra: os costumes, as ideias, os acontecimentos surgem nas páginas dos livros e podem nos ensinar muito. 3. Homero e Sófocles são dois autores clássicos da antiguidade grega. Sobre eles e as suas obras, é correto afirmar que: a) a Odisseia é uma narrativa sobre uma viagem que, justamente por apresentar inúmeros percalços e desafios a serem vencidos, proporciona o autoconhecimento. b) Homero, na sua obra Odisseia, quis construir uma narrativa de A importância histórica dos clássicos universais28 Textos fundamentais_U1C1.indd 28 28/08/2017 16:21:03 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce Francisco Realce aventuras. Seres mitológicos, como sereias e ciclopes, homens de um olho só, estão presentes na narrativa para ajudar a criar esse clima de aventuras. c) Freud constatou a existência do complexo de Édipo (o amor do menino pela mãe e o ciúme em relação ao pai) na peça de Sófocles Édipo Rei. Ele conclui, porém, que esse não era um fenômeno comum entre os seus pacientes. d) tanto Homero quanto Sófocles foram dramaturgos. e) para os gregos antigos, como Homero e Sófocles, não existia o destino: cada indivíduo era o único responsável pelos acontecimentos da sua vida. 4. Pensando sobre a vasta obra do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, é correto afirmar que: a) sabe-se que, na verdade, obras de diferentes autores acabaram ficando para a posteridade como de autoria de Shakespeare. b) Hamlet mostra um príncipe que acredita e que tem certeza de que seu destino é o de vingar a morte do pai. c) Shakespeare é um autor representante do barroco inglês. d) o Soneto XVIII, de Shakespeare, fala que a poesia não tem utilidade. e) as suas obras continuam tocando os leitores por tratarem de temas universais. Romeu e Julieta fala do amor impossível, e Hamlet, da loucura, por exemplo. 5. Analise o seguinte trecho de Dom Quixote, de Cervantes, sobre quando Dom Quixote enfrenta moinhos achando serem gigantes, e assinale a alternativa correta. — Cala-te, amigo Sancho — respondeu D. Quixote —, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais que eu penso, e é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o cômodo e os livros transformou esses gigantes em moinhos, para tirar-me a glória do seu vencimento: tamanha é a inimizade que me tem; mas, ao fim e ao cabo, hão de valor pouco suas más artes contra a bondade da minha espada. — Faça Deus o que puder — respondeu Sancho Pança. (CERVANTES, 2010, p. 115) a) Fica manifesta a loucura de Dom Quixote, que acredita ser Frestão o responsável pelo transformação dos gigantes em moinhos. b) Frestão é um feiticeiro especializado na arte da transformação. c) A batalha de Dom Quixote contra os moinhos é uma metáfora para guerra, e, por isso, ele fala, no início, que, nas guerras, as coisas mudam muito rapidamente. d) Quando Dom Quixote fala na bondade da sua espada, ele quer dizer que nunca usaria essa arma contra alguém. e) A glória, para Dom Quixote, é viver tranquilamente, sem desenvolver inimizades e sem duelar. 29A importância histórica dos clássicos universais Textos fundamentais_U1C1.indd 29 28/08/2017 16:21:03 Francisco Realce Francisco Realce Francisco Lápis Francisco Realce ASTÉRIX. 2017. Disponível em: <http://www.asterix.com/a-coleccao/os-albuns/a- -odisseia-de-asterix.html>. Acesso em: 6 ago. 2017. A ODISSEIA de Alice. Adoro cinema. 2016. Disponível em: <http://www.adorocinema. com/filmes/filme-224206/>. Acesso em: 6 ago. 2017. CALVINO, Í. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. CERVANTES, M. de. O engenhoso fidalgo Dom Quixote da Mancha. São Paulo: Abril, 2010. v. 1. DOM QUIXOTE. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Dom_Quixote>.Acesso em: 6 ago. 2017. DON QUIXOTE (PICASSO). In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://en.wikipedia. org/wiki/Don_Quixote_(Picasso)>. Acesso em: 6 ago. 2017. ÍTALO CALVINO. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Italo_Calvino>. Acesso em: 6 ago. 2017. MIGUEL DE CERVANTES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ wiki/Miguel_de_Cervantes>. Acesso em: 6 ago. 2017. SHAKESPEARE, W. Soneto XVIII. 2016. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/blog/ gilberto-cruvinel/a-historia-do-mais-famoso-soneto-de-shakespeare>. Acesso em: 08 jul. 2017. SHAKESPEARE, W. Hamlet. São Paulo: Abril, 2010. SÓFOCLES. Édipo Rei. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2255>. Acesso em: 6 ago. 2017. SÓFOCLES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ S%C3%B3focles>. Acesso em: 6 ago. 2017. WILLIAM SHAKESPEARE. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ wiki/William_Shakespeare>. Acesso em: 6 ago. 2017. Leituras recomendadas CALVINO, Í. Um general na biblioteca. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. HOMERO. Odisseia. São Paulo: Abril, 2010. MACHADO, A. M. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. WATT, I. Mitos do individualismo moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. A importância histórica dos clássicos universais30 Textos fundamentais_U1C1.indd 30 28/08/2017 16:21:03 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Romeu e Julieta é uma das peças mais conhecidas de Shakespeare. Na Dica do Professor, você vai saber um pouco mais sobre essa história e sobre como ela foi retomada ao longo do tempo. Assista! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) O conceito de literatura clássica é complexo. Assinale a alternativa correta em relação a essa definição. A) Para que um texto literário seja considerado clássico, ele precisa apenas ser antigo. B) A literatura clássica precisa apresentar uma linguagem difícil. C) Cada pessoa pode ter a sua própria lista de textos literários clássicos. D) A lista de livros literárias clássicos é uma lista fixa, sem possibilidades de alteração. E) Alguns clássicos não nos dizem mais nada, por estarem muito distantes da nossa realidade. 2) Sobre a função histórica da literatura clássica, podemos afirmar que: A) a função da literatura clássica é a de padronizar as leituras ao redor do mundo, para que exista um conjunto de obras conhecido por todos. a literatura clássica continua a fazer sentido para os leitores mesmo após muitos séculos passados da sua escrita: mesmo que você não tenha lido a Odisseia, por exemplo, acaba B) sendo tocado por essa história por meio de outras narrativas e formas de arte inspiradas nela e por tudo o que já ouviu falar sobre essa obra de Homero. C) os textos clássicos são aqueles livros que tiveram uma enorme importância na sua época, mesmo que tenham deixado de ter relevância na atualidade. D) Aa pessoas entram em contato com os clássicos quando leem alguma dessas obras. E) a literatura clássica serve essencialmente para que o leitor possa aprender sobre a época retratada na obra: os costumes, as ideias, os acontecimentos surgem nas páginas dos livros e podem nos ensinar muito. 3) Homero e Sófocles são dois autores clássicos da Grécia Antiga. Sobre eles e suas obras, assinale a alternativa correta. A) A Odisseia é uma narrativa sobre uma viagem que, justamente por apresentar inúmeros percalços e desafios a serem vencidos, proporciona o autoconhecimento. B) Homero, na sua obra Odisseia, quis construir uma narrativa de aventuras. Seres mitológicos, como sereias e ciclopes, e homens de um olho só estão presentes na narrativa para ajudar a criar esse clima de aventuras. C) Freud constatou a existência do Complexo de Édipo – o amor do menino pela mãe e o ciúmes em relação ao pai – na peça de Sófocles, Édipo Rei. Ele conclui, porém, que esse não era um fenômeno comum entre seus pacientes. D) Tanto Homero quanto Sófocles foram dramaturgos. E) Para os gregos antigos, como Homero e Sófocles, não existia o destino: cada indivíduo era o único responsável pelos acontecimentos da sua vida. 4) Pensando sobre a vasta obra do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, assinale a alternativa correta. A) Sabe-se que, na verdade, obras de diferentes autores acabaram ficando para a posteridade como sendo de autoria de Shakespeare. B) Hamlet mostra um príncipe que acredita e tem certeza de que seu destino é o de vingar a morte do pai. C) Shakespeare é um autor representante do Barroco inglês. D) O Soneto XVIII, de Shakespeare, fala que a poesia não tem utilidade. E) Suas obras continuam tocando os leitores por tratarem de temas universais. Romeu e Julieta fala do amor impossível e Hamlet, da loucura, por exemplo. 5) Analise o seguinte trecho de Dom Quixote, de Cervantes, sobre quando Dom Quixote enfrenta moinhos achando serem gigantes. "- Cala-te, amigo Sancho – respondeu D. Quixote –, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: tanto mais que eu penso, e é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o cômodo e os livros transformou esses gigantes em moinhos, para tirar-me a glória do seu vencimento: tamanha é a inimizade que me tem; mas, ao fim e ao cabo, hão de valor pouco suas más artes contra a bondade da minha espada. – Faça Deus o que puder – respondeu Sancho Pança." (CERVANTES, 2010, p. 115) Sobre esse trecho, podemos afirmar que: A) fica manifesta a loucura de Dom Quixote, que acredita ser Frestão o responsável pelo transformação dos gigantes em moinhos. B) Frestão é um feiticeiro especializado na arte da transformação. C) a batalha de Dom Quixote contra os moinhos é uma metáfora da guerra e, por isso, ele fala, no início, que, nas guerras, as coisas mudam muito rapidamente. D) quando Dom Quixote fala na bondade da sua espada, ele quer dizer que nunca usaria essa arma contra alguém. E) a glória, para Dom Quixote, é viver tranquilamente, sem desenvolver inimizades e sem duelar. NA PRÁTICA Muitas pessoas têm, frequentemente, o seguinte pensamento: "A literatura clássica é muito difícil e está muito distante do meu cotidiano". Apesar dessa dificuldade, os clássicos ainda têm muito para nos dizer, mesmo hoje em dia. Diversas obras clássicas foram adaptadas para o cinema, o que evidencia a atualidade desses livros escritos há tanto tempo. Em alguns casos, a história original foi atualizada para a época na qual o filme estava sendo produzido e, em outros, os produtores mantiveram-se fieis à narrativa. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Os 100 Melhores Livros de Todos os Tempos Veja nesse vídeo uma sugestão das obras que seriam os 100 melhores livros de todos os tempos, segundo a Revista Bula. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Os 50 maiores clássicos da literatura universal No livro "50 clássicos que não podem faltar na sua biblioteca (Verus Editora), a escritora, editora e crítica literária Jane Gleeson-White reuniu as maiores obras da literatura mundial. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Por que ler os clássicos? Você quer descobrir por que ler os clássicos é importante? Acesse o link. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Literatura comparada, literaturas nacionais e o questionamento do cânone Quer saber mais sobre o desenvolvimento histórico e as transformações da literatura? Leia o texto de Eduardo Coutinho. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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