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Conteudista: Prof. Dr. João Luiz de Souza Lima Revisão Textual: Esp. Danilo Coutinho de Almeida Cavalcante Objetivos da Unidade: Tratar da Personalidade Jurídica e da Classi�cação das Organizações Internacionais (OIs), que fazem parte do conjunto de atores do Sistema Internacional (SI) e estão, direta ou indiretamente, envolvidas com os grandes ciclos do desenvolvimento histórico do Direito Internacional; Entender que o desenvolvimento das OIs está diretamente relacionado às suas interações dentro do SI, bem como nas bases de cada teoria das RIs e sistemas econômicos; Compreender que a origem do Direito Internacional constitui o pêndulo das ações e limitações das OIs junto a estrutura das RIs, que permitiu que as OIs agissem com magnitude de impor as suas bases legais dos processos, possibilitando assim ter como resultado o sucesso ou mesmo o fracasso na aplicação dos direitos internacionais e humanos no âmbito das RIs. Material Teórico Personalidade Jurídica e Classi�cação das Organizações Internacionais (OIs) Material Complementar Referências Introdução Esta Unidade pretende contribuir para o entendimento das questões envolvendo as Organizações Internacionais (OIs) e as suas relações com o Sistema Internacional (SI), visando a interpretação condizente do seu surgimento e do seu desenvolvimento na história das Relações Internacionais (RIs). Desde a sua origem, o Direito Internacional consiste numa das áreas de maior in�uência no que se refere a constituição e atuação das OIs dentro do SI. Isso se deriva com o estabelecimento do Tratado de Westfália, que foi o primeiro regimento jurídico do Direito Internacional, entre o �nal do século XIX e início do XX, e que teve impacto direto na manutenção do caráter normativo das OIs em termos de competência e atuação planetária. A partir daí, as OIs contemporâneas in�uenciaram o “norte” do Direito Internacional na interpretação das decisões, aplicações e resultados das ações jurídicas internacionais no âmbito das RIs. Nesse caso, as OIs puderam agir com magnitude de impor as suas bases legais dos processos, possibilitando assim ter como resultado o sucesso ou mesmo o fracasso na aplicação dos direitos internacionais e humanos no âmbito das RIs. Ainda nesta Unidade, é realizada a classi�cação das OIs com base em atributos como: característica, natureza, objetivos, estrutura de decisão, infraestrutura e limitações em relação ao seu próprio funcionamento e, �nalmente, algumas das suas diretrizes e complexidades de atuação no âmbito das RIs. 1 / 3 Material Teórico Personalidade Jurídica e Implicações nas Organizações Internacionais (OIs) Uma Organização Internacional (OI) surge mediante um ato jurídico internacional entre dois ou mais Estados nacionais. Estes, por sua vez, desfrutam e gozam de total soberania plena, ou seja, do reconhecimento global da sua capacidade de agir em e sobre determinada população e extensão territorial. Assim, os Estados nacionais são os sujeitos diretamente envolvidos do Direito Internacional, repercutindo de uma ação inteiramente sua e constituída de uma série de implicações desta atuação no âmbito das Relações Internacionais (RIs). As relações entre as nações são regidas por regras, acordos e leis que visam à manutenção da ordem internacional. Ao conjunto dessas regras dá-se o nome de Direito internacional. As organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências especializadas, o Grupo dos Oito (G-8) e a Anistia Internacional regulam as relações entre os países com base no Direito Internacional. O Direito Internacional se divide em dois campos totalmente distintos: o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado. O Direito Internacional Público reúne normas e acordos sobre os direitos e deveres dos diferentes países. Trata de questões como espaço territorial, nacionalidade, regulamentação dos mares e do espaço aéreo. Essas regras podem se transformar nas chamadas leis internacionais quando �rmadas em pactos e tratados ou quando são determinadas por resoluções das organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo. Só os países que rati�cam esses acordos �cam subordinados a essas regras. O Direito Internacional Privado é um ramo do direito interno do país que tem o objetivo de estabelecer regras para lidar com as leis estrangeiras e os atos legais praticados no exterior. Ele trata de relações de família, como o casamento de pessoas de diferente nacionalidade ou o reconhecimento de cidadania. Cuida também de questões comerciais e �nanceiras. Quando um país entra para um mercado comum, por exemplo, tem de adequar internamente as leis mercantis, tributárias e trabalhistas estabelecidas pelos países-membros. As OIs possuem soberania derivada do seu ato de criação, visto que resultam da ação de um ator com soberania plena, como os Estados nação, e, nesta condição, são consideradas sujeitos do Direito Internacional que podem acumular direitos congênitos e serem demandadas legalmente em função de suas atuações. Além disso, são regidas pelo princípio jurídico da especialidade, pois são criadas para �ns especí�cos de�nidos em seus Tratados Constitutivos, possuindo assim uma personalidade jurídica funcional. A Personalidade Jurídica das OIs (PJOI) é estabelecida e plenamente reconhecida pelos Acordos e Tratados assinados pelos Estados nação, sendo devidamente honrada na jurisprudência nacional e internacional e indiretamente em dispositivos especí�cos componentes dos seus Tratados Constitutivos (TC). Como as OIs são muito diversas em termos de origem, função, propósitos e princípios, as generalidades da PJOI constituem o ponto de início para a de�nição das OIs. No entanto, as Você Sabia? O primeiro documento de caráter internacional foi o Tratado de Paz de Westfália, de 1648, também considerado o marco do Direito Internacional contemporâneo. Foi elaborado e assinado por representantes de várias nações, reconhecendo a independência dos diferentes Estados germânicos, da Confederação Suíça e da Holanda (Países Baixos). implicações jurídicas da atuação das OIs precisam ser analisadas em relação às suas próprias especi�cações, ou seja, em relação à sua própria natureza de constituição. Existência Jurídica da Organização Internacional (OI) A Organização Internacional (OI) pode ser criada em função de diversos fatores, mas, de uma forma geral, ela surge para auxiliar na resolução de problemas de ação coletiva em uma determinada área internacional. Como regra geral, uma OI pode ser criada após a realização de Você Sabia? Os fundamentos das Relações Internacionais podem ser encontrados desde a Antiguidade Clássica. Os gregos reconheciam, por exemplo, o direito de asilo político e a necessidade de declaração formal de guerra. Em Roma, havia um colégio de sacerdotes encarregado de decidir sobre questões externas. Os romanos admitiam o princípio de que uma nação não pode entrar em guerra sem uma causa justa. Na Idade Média, com o feudalismo e a descentralização econômica e política, cada território é submetido à autoridade do senhor feudal. A Igreja Católica Apostólica Romana surgiu como o único poder uni�cador capaz de estabelecer regras gerais no âmbito do Direito Internacional. grandes conferências, diálogos multilaterais e articulações entre grupos de Estados nação interessados na temática. As negociações internacionais podem desenvolver os Grupos ad hoc, que são elementos constitutivos de países, visando o atingimento de objetivos comuns. Estes Grupos ad hoc não possuem um caráter jurídico nem estrutura própria institucional. Na mesma linha de atuação, as Grandes Conferências podem resultar na criação de uma OI, porém não possuem um caráter jurídico e nem estrutura própria institucional. Assim, as OIs se derivam da dinâmica e dos movimentos das Relações Internacionais (RIs), ou seja, surgem da necessidade da resolução de problemas e do tratamento desses aspectos inerentes às dinâmicas envolvidas. Toda OI deve ter um Tratado Constitutivo (TC) bem de�nido, o qual se torna a sua base jurídica de formalização e passa a ter respaldo no seu reconhecimento e na sua interação junto ao Sistema Internacional (SI), devendo ser observado pela ótica da legalidade e legitimidade junto ao Direito Internacional. Portanto, a entrada em vigor do Tratado Constitutivo (TC) garante à OI a sua existência operacional e atuação. A efetivação da Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, previu no seu respectivo Tratado Constitutivo (TC), como condição para estar ativa que, além da maioria de seus membros, também os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (CS), ou seja, China, Estados Unidos da América (EUA), Federação Russa, França e Reino Unido, deveriam conjuntamente rati�cá-lo. A OI possui capacidade jurídica de adquirir direitos, ao mesmo tempo que pode ser responsabilizada juridicamente por suas ações. Os seus Estados membros criadores são considerados originários, e os Estados membros adjacentes que entram após a sua criação são considerados aderentes. A partir daí, a OI pode de�nir o seu modus operandi, propósitos e princípios. O Tratado Constitutivo (TC) da OI pode ser reformulado e alterado, seja por uma previsão no TC no ato de sua constituição, como foi o caso da ONU para o Conselho de Segurança (CS), ou por procedimentos previstos dentro de seu aporte jurídico via Assembleia Geral, outro órgão ou instância competente prevista na ONU. Re�ita A Organização das Nações Unidas (ONU) tem como objetivos manter a paz, defender os direitos humanos e as liberdades fundamentais e promover o desenvolvimento dos países em escala mundial. Sua atuação e a de suas agências especializadas incluem saúde pública, planejamento familiar, proteção à infância, educação, direitos dos trabalhadores, defesa do meio ambiente e uso pací�co da energia nuclear. A ONU surgiu com o �m da Segunda Guerra Mundial, em substituição à antiga Liga das Nações. A ONU é constituída por várias instâncias, que gravitam em torno da Assembleia-Geral a principal delas. A organização está presente em diversos con�itos por meio de suas forças internacionais de paz. No início da década de 1990, houve a expectativa de que passaria a ter uma atuação mais destacada na resolução de con�itos e na coordenação de sanções econômicas contra países transgressores das normas do Direito Internacional; no entanto, essa perspectiva ainda não se efetivou. O ciclo de vida jurídico de uma OI pode resultar num processo de sucessão. Nesse caso, uma nova OI surge em substituição à anterior ou recebe a transferência de algumas de suas atribuições. Um exemplo dessa situação foi a sucessão da ONU no papel e função da Liga das Nações, que ocorreu nos anos após a Segunda Guerra Mundial. Uma OI pode deixar de existir sem haver sucessão. Tal situação pode ocorrer face a diversas situações no âmbito das Relações Internacionais (RIs). Como exemplo, pode ser citado o caso da Comissão Europeia do Carvão e do Aço (CECA) que tinha no seu Tratado Constitutivo (TC) uma vigência �nita de 50 anos. Além disso, uma OI pode ter a �nalização devido à perda de interesse dos seus Estados membros. Por outro lado, pode haver OIs em que há total interesse de sua manutenção pelos seus respectivos Estados membros. Podem ser citados aqui, como exemplos, os casos de OTAN, FMI, OMC, Banco Mundial etc. Você sabia? Criada em 1949, em plena Guerra Fria, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) surge como uma aliança militar das nações capitalistas ocidentais em oposição aos países do bloco socialista. Após a queda do comunismo no Leste Europeu, a OTAN passa a cortejar algumas nações que haviam pertencido ao antigo bloco liderado pela União Soviética, tais como: Polônia, República Tcheca e Hungria. Organização Internacional (OI) e o Direito Interno Em virtude da inexistência de uma concepção territorial, a Organização Internacional (OI) sofre as duras consequências de entraves em relação ao Direito Interno de cada Estado membro ou de Estados terceiros. Isso quer dizer que a OI pode ter que negociar suas ações e processos com os Estados membros ou Estados terceiros face ao entendimento que estes têm sobre as ações envolvidas em relação ao Direito Interno que praticam. Um exemplo que pode ser citado aqui foram os inúmeros embates já ocorridos entre a Organização das Nações Unidas (ONU), cuja sede �ca em Nova York (EUA), com o próprio governo norte-americano. Este, muitas vezes, se manifestou contrário a receber no seu território dirigentes de países inimigos, como foram chamados de “Eixo do Mal”, pelo presidente George Walter Bush, Coreia do Norte, Irã e Iraque. A ONU, inclusive, manifestou-se e ameaçou mudar sua sede dos EUA para outro país neutro no qual tais dirigentes pudessem ser recebidos, bem como se manifestar na Assembleia Geral da organização. Glossário “Eixo do Mal” foi a expressão adotada pelo presidente norte- americano George W. Bush no seu discurso junto ao Congresso dos EUA em 29 de janeiro de 2002 para se referir a governos que ele considerava hostis ou inimigos dos EUA, acusando-os de apoiarem o terrorismo e de possuírem armas de destruição em massa. Para ele, Coreia do Norte, Irã e Iraque estariam construindo armas nucleares. O governo Bush usou o conceito de Eixo do Mal para obter apoio político à chamada Guerra ao Terror. Assim, a Sede da OI é um instrumento jurídico que de�ne em linhas gerais a sua infraestrutura, mas não lhe dá total legitimidade. Portanto, é necessário o conhecimento real e diplomático de como a OI irá se relacionar com Estados membros ou Estados terceirizados. Além disso, há de se veri�car como estes Estados irão cooperar e fornecer assistência técnica dentro de seus territórios, implicando assim numa complexa relação com o Direito interno destes países. Até recentemente os Tratados Constitutivos (TC) não tinham por característica explicitar detalhadamente questões de personalidade jurídica da OI, mas, desde então, isso se tornou uma necessidade prioritária. Além do TC, os acordos, convênios e resoluções se tornaram condição “sine qua nom” para a manutenção da OI perante o Direito interno dos Estados (países) em que atua, não só onde tem sua própria sede, mas questões mais abrangentes envolvendo especi�cidades de imunidades e privilégios de pessoal diplomático. Personalidade Jurídica Internacional da Organização Internacional (OI) A criação das primeiras Organizações Internacionais (OIs) data de mais de um século. No entanto, durante todo esse período foram estabelecidas as bases necessárias para o seu devido e merecido reconhecimento internacional no âmbito do Direito Internacional. Isso é demonstrado na prática em termos da existência de jurisprudência sobre o assunto. Nesse aspecto, a OI pode ser visualizada de três formas distintas, conforme segue: Há uma visão que apresenta uma igualdade entre as OIs do ponto de vista jurídico, ou seja, entre a OI e os Estados membros, que estão em situações distintas em termos de personalidade jurídica; Há outra linha, a qual difere da anterior ao de�nir a OI como uma forma coletiva de ação dos Estados membros, não possuindo as prerrogativas de personalidade jurídica internacional destes, em virtude de se tratar de apenas e somente uma mera extensão de suas ações coletivas; Assim, ao ser constituída por um Tratado Constitutivo (TC), a OI passa a ter uma certa vida própria com direitos e deveres, ou seja, tem uma personalidade jurídica internacional diferente dos seus Estados membros criadores. Esta condição é a própria essência de uma OI. A Organização das Nações Unidas (ONU) evidenciou e explicitou essa Personalidade Jurídica Internacional das Organizações Internacionais (PJOI) a partir de suas ações efetivas em 1947 como, por exemplo, a aprovação, naquele ano, da resolução 181 que, após a Segunda Guerra Mundial, realizou a partilha do território da Palestina, no Oriente Médio, com a consequente criação de dois Estados. No entanto, tal resolução não logrou o êxito esperado pela ONU. Os países árabes não aceitaram a partilha apresentada e a primeira guerra eclodiu entre israelenses e árabes, com a vitória militar de Israel. A incapacidade jurídica da ONU demonstrou toda a fragilidade da organização como mediadora de con�itos. A Assembleia Geral daquela época decidiu remeter à Corte Internacional de Justiça (CIJ) para emissão de opinião sobre o Tratado Constitutivo (TC) e a representatividade legal da ONU. Esta, por sua vez, no Parecer Consultivo de 11 de abril de 1949, reconheceu a personalidade jurídica da ONU, mesmo não estando explícita em seu TC. A decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ) fundamentou ainda que seria pouco provável que Estados membros criassem um organismo internacional condizente para tratar de objetivos de ação coletiva e, ao mesmo tempo, não quisessem lhe dar capacidade para assim fazê-lo. Portanto, em função do seu ato de criação e dos objetivos que os Estados membros lhe conferem, compete a OI obter os direitos e deveres necessários, visando à busca do reconhecimento jurídico como sendo uma ação própria do Direito Internacional. Há outra corrente, mais representativa, em que se percebe a OI como sendo uma forma diferente e sem nenhuma correspondência em relação aos Estados nacionais. As OIs possuem capacidade internacional em função dos diversi�cados formatos jurídicos e institucionais, conforme estabelecido no seu Tratado Constitutivo (TC). O TC traz as linhas jurídicas gerais das funções para as quais a OI foi criada, e essa via da funcionalidade é um dos principais pilares para o entendimento de seu alcance e efetividade. As OIs, por sua vez, têm o direito de realizar tratados com os Estados membros, Estados não membros ou outras OIs. Re�ita A Partilha da Palestina ocorreu por causa do aumento do apoio internacional à criação de um Estado judaico com a notícia do massacre de cerca de seis milhões de judeus nos campos de extermínio nazistas, o Holocausto. Encerrado o con�ito, os britânicos delegaram à Organização das Nações Unidas (ONU) a tarefa de solucionar os problemas da região. Sem uma consulta prévia aos árabes-palestinos, a ONU aprova, em 1947, a divisão da Palestina em dois Estados – um para os judeus, outro para os árabes, que rejeitam o plano. Em 14 de maio de 1948 é criado o Estado de Israel, com David Ben-Gurion como primeiro-ministro. Cinco países árabes enviam tropas para impedir sua fundação. A guerra termina em janeiro de 1949, com a vitória de Israel e o desaparecimento do Estado árabe-palestino previsto pela ONU. Os israelenses passam a controlar 75% do território da Palestina. No mesmo mês, o país faz as primeiras eleições parlamentares. No ano seguinte, entra em vigor a Lei do Retorno, que garante cidadania a todos os judeus. A economia �oresce com o apoio estrangeiro e remessas particulares de dinheiro. A Conferência de Viena, ocorrida de 18 de fevereiro a 20 de março de 1986, culminou com o texto da Convenção sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais. Trata-se do instrumento de orientação das Relações Internacionais (RIs) em relação à efetivação dos tratados internacionais. Os tratados celebrados entre os Estados e as OIs devem ser interpretados de acordo com o que está contido e explicitado sobre as responsabilidades dos Estados membros, que está disposto no Tratado Constitutivo (TC) das OIs. Uma mostra da grandeza da personalidade jurídica das Organizações Internacionais (OIs) é a sua capacidade de estabelecer ações junto às Relações Internacionais (RIs). Como consequência desta situação, as OIs podem receber e enviar missões diplomáticas, de forma permanente ou provisória, assumindo uma postura institucional junto aos Estados membros. A OI é um importante ator junto ao arcabouço internacional, visando à busca de resolução ou negociação de controvérsias. Neste aspecto, é muito comum que se estabeleçam as formas e os foros em relação aos tratados que for celebrar. Há ainda a capacidade de participação das relações de responsabilidade internacional, ou seja, a OI pode ser uma reclamante judicial. No entanto, é muito controverso e discutível a corresponsabilidade dos Estados-membros. As OIs, por intermédio dos seus Tratados Constitutivos (TCs) podem de�nir privilégios e imunidades muito parecidos com as missões diplomáticas dos Estados membros. Além disso, as OIs podem possuir imunidade de jurisdição, similar a uma embaixada, ou seja, sua sede é território inviolável, onde ela tem total autonomia. Classi�cação das Organizações Internacionais (OI) Classi�cação das Organizações Internacionais (OI) As OIs de caráter Universal têm as seguintes características: Não possuem delimitações geográ�cas que limitem a entrada de um Estado fora desse espaço territorial; A Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, é considerada uma OI de caráter Universal, mas exige uma série de procedimentos por um certo tempo na área econômica e comercial para que um Estado se torne um Estado membro. As OIs são de caráter Regional quando possuem uma delimitação geográ�ca que impede a entrada de outros membros. Como exemplo pode ser citada a Organização dos Estados Americanos (OEA), que é composta por Estados do continente Americano. No entanto, a OEA pode ter observadores de Estados membros de outros continentes. Organizações Internacionais (OIs): Técnico-administrativo e Político-militar As OIs de natureza técnico-administrativa ou operacionais surgiram na Europa em meados do século XIX. No entanto, atualmente as OIs técnico-administrativas têm instâncias deliberativas de Assembleias Gerais, principalmente após a criação da ONU. As OIs de natureza técnico-administrativa ou operacionais possuem como uma de suas principais características a busca pela cooperação em determinada área, sendo agregadoras de participações da sociedade civil e Organizações Internacionais de caráter Não- Governamentais (ONGs). Como exemplos de OIs dessa magnitude podem ser citadas o Greenpeace, a Fundação SOS Mata Atlântica, o IWW etc. As OIs de natureza político-militar, por sua vez, atuam de uma forma mais ampla no que são conhecidos como assuntos sensíveis aos Estados ou de alta política. Suas ações são tomadas em função de aspectos estratégicos. Têm certo nível de desenvolvimento econômico, produzem e/ou exportam algum produto especí�co; Têm reconhecimento internacional enquanto Estado soberano para ser membro da ONU. Um exemplo de OI de natureza político-militar é a própria ONU, principalmente em suas decisões na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança (CS). Outra OI que pode ser citada nesse contexto é a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Os principais motivos para a existência de uma OI de caráter político-militar são a concretização de um espaço de coordenação e harmonização de convivência, assuntos envolvendo o clima, ou a veri�cação e proibição de armas de destruição em massa. A Organização para a Proscrição de Armas Químicas (OPAQ), se enquadra nesta classi�cação. Vale ressaltar que as OIs de natureza político-militar podem ajudar na sistemática de preservação da segurança internacional, bem como nos aspectos de defesa dos direitos humanos. Organizações Internacionais (OIs): �ns e competências As OIs de caráter de Fins Gerais são aquelas que não possuem uma �nalidade especí�ca de�nida, porém, são capazes de tratar qualquer assunto que sua estrutura e membros acharem pertinente. Elas estão, de certa forma, associadas a OIs de caráter político, tais como: a ONU, a OEA e outras similares regionais. No entanto, podem se dedicar a assuntos de natureza diversa daquelas pensadas como política. Uma OI de caráter de Fins Especí�cos tem correlação com a cooperação militar em defesa e segurança. As OIs que se enquadram esta classi�cação são a OTAN e o Pacto de Varsóvia (que já se encontra extinto) e podem in�uenciar na de�nição ou rede�nição de trajetórias mundiais e/ou regionais. Uma outra área densa em termos de cooperação é a econômica. Nessa área de cooperação há, por exemplo, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e as OIs que foram criadas pelo Tratado ou Sistema de Bretton Woods, ou seja: o Banco Mundial (BIRD), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio – OMC (antigo GATT/OMC). Outras OIs de caráter de Fins Especí�cos atuam nas áreas da educação, do patrimônio cultural, dos direitos humanos e humanitários, bem como de atenção ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. São exemplos destas OIs a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ou ainda a Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma outra forma de cooperação nessa área se dá com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), bem como a Agência (ou Alto Comissariado) das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Outras OIs de caráter de Fins Especí�cos que podem ser citadas são o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e, na área do meio ambiente, os Conselhos da ONU que têm relação com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS). Organizações Internacionais (OIs): especiais As OIs de caráter Especial ou Sui Generis são as organizações de grande relevância para as Relações Internacionais (RIs), como é o caso do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), ou simplesmente Cruz Vermelha. A Cruz Vermelha foi criada no século XIX para ajudar a população civil e os soldados fora de combate em tempos e territórios em con�itos militares. Trata-se de uma Organização Não-Governamental (ONG) baseada na Suíça e sujeita, portanto, às leis internas dentro daquele país, como qualquer ONG lá estabelecida. Organizações Internacionais (OIs): limitações Uma OI geralmente é �nanciada por seus Estados membros; �nanciamento este que é feito de acordo com a capacidade econômica de cada país: geralmente mensurada pelo Produto Interno Bruto (PIB) ou PIB/Per capita. Com os recursos econômicos, a OI se estrutura quanto a instalações, equipamentos, pessoal e outros recursos, �cando ainda dependente de outros aportes �nanceiros para as ações especí�cas a serem incorporadas em projetos e programas especí�cos. Assim, as ações da OI são regidas pelas limitações naturais e existentes no contexto de sua atuação. Na maioria das vezes, a OI �ca em total sintonia com os seus Estados membros mais in�uenciadores. Por outro lado, quando atua em direção contrária aos interesses de alguma superpotência, tende a ser vetada ou retirada do contexto de atuação. Uma outra situação relevante a se considerar no estudo das OIs em atuação diz respeito ao alcance das suas decisões. Vale lembrar aqui sobre o confronto do poder exercido pelo Estado membro poderoso, do ponto de vista econômico e/ou militar sobre a direta atuação da OI. Em Síntese Nesta Unidade foram apresentadas as características jurídicas e de classi�cação para o estudo das Organizações Internacionais (OIs). Foi realizado um contrapeso entre o entendimento de algumas concepções jurídicas e das características das OIs quanto aos seus fatores acadêmico, jurídico e pro�ssional. Ficou evidenciado que as OIs são criadas e passam a agir desde a entrada em vigor do seu Tratado Constitutivo (TC). Nesse momento, cria-se um ator e sujeito do Direito Internacional, capaz de contrair direitos e deveres, tendo capacidade de fazer Relações Internacionais (RIs) e de ter responsabilidade pelos atos e ações que manifesta, com ou sem implicação de seus Estados membros. Cria-se ainda uma OI que age de forma permanente, com área de atuação de�nida pela sua especialização ou funcionalidade, com vontade autônoma, mas também ligada e dependente dos Estados membros que a criaram. As OIs podem ser classi�cadas de algumas maneiras, dependendo do que se espera de seus estudos, pois estas formas não são excludentes entre si. Dessa maneira, é preciso ter em mente que cada OI possui o que foi descrito no seu contexto. Por outro lado, pelo princípio da especialidade, é possível de�nir o caminho dos estudos de uma OI também acompanhando o histórico, a dinâmica e as arenas que envolvem o tema sob o qual ela está circunscrita. Por �m, veri�camos que o processo decisório das OIs e das realidades diversas nas Relações Internacionais (RIs) implicam em diferentes níveis para suas efetividades. Assim, o conhecimento dessas limitações e possibilidades de alcance das OIs consiste numa importante maneira de tornar constante o estudo e o entendimento delas e de seus resultados. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Organização das Nações Unidas (Brasil) Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Banco Mundial (World Bank) 2 / 3 Material Complementar https://brasil.un.org/ https://www.nato.int/ Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Instituto Brasileiro de Geogra�a e Estatística (IBGE) Apresenta os indicadores de desenvolvimento econômico Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Organização Mundial da Saúde – OMS (Brasil) Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://www.worldbank.org/pt/country/brazil https://www.ibge.gov.br/ http://www.oecd.org/latin-america/countries/brazil/brasil.htm https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/ ALMEIDA, P. R. Relações internacionais e política externa do Brasil. Rio de Janeiro: GEN/ LTC, 2012. (e-book) ARON, R. Paz e guerra entre as Nações. São Paulo: Martins Fontes, 2018. COHEN, S. B. Geopolitics the geography of International Relations. 3. ed. London: Rowman & Little�eld, 2015. HERZ, M.; HOFFMAN, A. R. Organizações internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. KISSINGER, H. Diplomacia. São Paulo: Saraiva, 2013. KRIEGER, C. A. Direito Internacional Humanitário: o precedente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. Curitiba: Juruá, 2004. MESSARI, N.; NOGUEIRA, J. P. Teoria das Relações Internacionais – correntes e debates. Rio de Janeiro: Campus, 2005. MINGST, K. A. Princípios de relações internacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. PECEQUILO, C. S. Introdução às relações internacionais: temas, atores e visões. Petrópolis: Vozes, 2017. 3 / 3 Referências
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