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A CULTURA DA MANGUEIRA Carlos Ramirez de Rezende e Silva 1 Elda Bonilha Assis Fonseca 2 Maria Aparecida Moreira 3 1 Perfil da Cultura 1.1 Aspectos Econômicos A mangueira (Mangifera indica L.) é considerada uma das mais importantes frutas tropicais cultivadas no mundo, posicio- nando-se logo após a banana, o abacaxi e o abacate. Na Améri- ca, o precursor de seu cultivo foi o Brasil, pela introdução das primeiras plantas no Rio de Janeiro, de onde se disseminaram para o resto do País. Os principais produtores mundiais são a Índia (mais de 50% da produção mundial), China, México, Pa- quistão, Indonésia, Tailândia, Nigéria, Brasil, Filipinas e Haiti. En- tretanto, outros países não relacionados destacam-se através de suas exportações, como África do Sul, Costa do Marfim, Israel, Costa Rica, Porto Rico, Peru e Venezuela. As possibilidades de ampliação do mercado internacional de mangas são muito grandes, considerando-se que a demanda de frutas no mundo é crescente, tendo em vista a mudança nos 1 Engº Agrº MSc. Professor da UFLA, MG. 2 Engª Agrª MSc. Pesquisadora da EMPAER-MT. 6 hábitos alimentares. A manga, além de seu consumo ao natural, se presta à fabricação de grande número de produtos industriali- zados, constituindo-se em fonte de vitaminas A e C. No Brasil, a mangueira está disseminada em quase todo o território, e a área cultivada se aproxima de 55.000 hectares, sendo os principais Estados produtores: São Paulo, Minas Ge- rais, Piauí, Bahia, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Pará, Rio Gran- de do Norte e Alagoas (Anuário...,1996). A exploração da cultura da mangueira no Brasil, até a dé- cada de sessenta, era caracterizada por cultivos puramente ex- trativos de variedades nacionais denominadas mangas comuns. Esses pomares originaram-se pela propagação de sementes, resultando em muitos tipos regionais de mangueiras, que eram conduzidas sem nenhum trato cultural específico. A partir de 1970, foram introduzidas outras variedades, principalmente da América do Norte, que provocaram uma grande mudança no cul- tivo dessa frutífera, pois, apesar de produzirem frutos com carac- terísticas superiores, exigiam muito em termos de tratos culturais. A safra brasileira de 1998 foi de 843 mil toneladas (AGRI- ANUAL, 2000). No período entre 1989/96, o Brasil elevou as ex- portações de 5,4 mil para 24,2 mil toneladas. O preço auferido por tonelada aumentou significativamente, passando de US$ 607 para US$ 1.900 por tonelada. 3 Engª Agrª MSc. Doutoranda da UFLA. A produtividade média brasileira é de 31,172 t/ha (Anuá- rio...,1996), mas a maior parte dos produtores não atinge nem a metade dessa produtividade. 1.2 Problemas que Afetam a Exploração a) Época de produção: existe uma grande concentração de pro- dução no final e início de ano, ocasião em que os preços não chegam a cobrir as despesas de colheita. Torna-se, portanto, fundamental o domínio do florescimento da mangueira, alte- rando-o e direcionando a produção para épocas mais adequa- das. b) Variedades: a moderna mangicultura brasileira está baseada em cerca de cinco variedades, e a Haden e Tommy Atkins re- presentam cerca de 80% da área cultivada, tornando-se fun- damental a diversificação e introdução de outras variedades. c) Problemas fitossanitários: o número de doenças e pragas ata- cando a mangueira, especialmente nas variedades introduzi- das de outros países, tem concorrido para a baixa produtivida- de e o conseqüente desestímulo dos produtores. Destacam-se a antracnose, oídio, fusarium, mancha-angular-bacteriana, se- ca-da-mangueira e mosca- das-frutas. 8 d) Distúrbios fisiológicos e outros: dentre os distúrbios, destacam- se a malformação floral (embonecamento), malformação vege- tativa (vassoura de bruxa) e podridão interna (colapso interno). Esses distúrbios constituem-se atualmente nos principais res- ponsáveis pela redução da área cultivada, pois em muitas regi- ões os agricultores estão erradicando os pomares. e) Pós-colheita: o principal problema fúngico é a antracnose e o fator limitante para a exportação é a mosca-das-frutas. Os tra- tamentos pós-colheita, em muitos casos de custo elevado e não acessíveis ao produtor, devem ser revistos e aprimorados. f) Alternância e baixa frutificação: a associação de fatores, como condições edafoclimáticas inadequadas, problemas fitossanitá- rios e baixa tecnologia em termos de tratos culturais, tem acen- tuado ainda mais a alternância de produção e a baixa frutifica- ção. 2 Características 2.1 Botânica e Taxonomia A mangueira (Mangífera indica L.) pertence à família Ana- cardiaceae, cujos frutos geralmente se dividem em dois grupos: o grupo indiano (frutos monoembriônicos, fortemente aromáticos, de coloração atraente e suscetíveis à antracnose) e o grupo indo- chinês (frutos poliembriônicos, com caroços longos e achatados, pouco aromáticos, geralmente amarelados e medianamente re- sistentes à antracnose). O gênero Mangífera possui 50 espécies, sendo a maioria originária do sudeste asiático. A mangueira caracteriza-se por possuir porte médio a alto (10 a 30 m), com a copa variando de forma arredondada e glo- bosa, podendo ser compacta ou aberta. As folhas são lanceola- das, coriáceas, com pedúnculo curto e sua coloração varia de verde-claro, amarronzada ou arroxeadas, na fase jovem, até ver- de-escuro quando maduras. O sistema radicular da mangueira é composto por uma ra- iz primária muito longa, que desenvolve-se até encontrar o lençol freático, sendo que poucas raízes de sustentação desenvolvem- se até esse ponto. As raízes superficiais desenvolvem e formam uma densa malha imediatamente abaixo da superfície do solo, podendo alcançar 5,5 m em profundidade e 7,6 m em distância lateral. Pesquisas realizadas no Vale do Rio São Francisco indi- caram que 90% das raízes absorventes da mangueira encon- tram-se a até 1,5 m de profundidade e 1,5 m de distância da planta. Outros estudos, feitos com P32, têm demonstrado que a maior concentração de raízes absorventes encontra-se nos pri- 10 meiros 60 cm de profundidade, com uma concentração máxima nos primeiros 15 cm. As flores estão reunidas em panículas terminais ou late- rais, de tamanho, forma e coloração variáveis, dispostas isola- damente (terminal) ou agrupadas (laterais), em número de 200 a 3.000 panículas/planta, cada qual apresentando de 100 a 17.000 flores. Assim, uma mangueira adulta em pleno florescimento po- derá ter milhões de flores, das quais uma porcentagem mínima chega a originar frutos. Nas panículas existem flores hermafroditas perfeitas, com possibilidades de frutificar e flores unissexuais (masculinas). As hermafroditas possuem androceu composto de 4 a 6 estames, (apenas um é fértil), ovário súpero, unilocular, antera fértil e es- tigma rudimentar. Os frutos são drupas com características muito variáveis quanto ao tamanho, forma, peso e coloração da casca. A casca é coriácea e a polpa com vários tons de amarelo, com muita ou pouca fibra, curtas ou longas, macias ou duras. As sementes também variam em forma e tamanho, po- dendo ser monoembriônicas e poliembriônicas. As sementes das mangueiras monoembriônicas originam apenas uma plântula, ao passo que sementes das poliembriônicas podem originar uma plântula de origem sexuada e várias assexuadas (idêntica à plan- ta-mãe). Esse fato é relevante para a propagação da mangueira, recomendando-se como porta-enxertos variedades poliembriôni- cas, pois apresentam menor variação genética. 2.2 Hábitos de Vegetação Pode apresentar vários surtos vegetativos por ano, de- pendendo das condições climáticas de cada região. Esses surtos estão correlacionados com os futuros florescimentos e conse- qüente frutificação, uma vez queramos de 4 a 18 meses de ida- de poderão emitir inflorescências. Os hábitos de vegetação da mangueira, em cada situação, devem ser estudados com deta- lhes. 2.3 Florescimento Os surtos floríferos da mangueira podem se estender por até 5 meses, ocorrendo no Brasil entre maio a setembro, em fun- ção do clima, uso de irrigação, uso de reguladores de crescimen- to, podas e produção anterior. A planta apresenta tendência em retardar o florescimento após produção elevada e em condições climáticas marginais, e antecipá-lo em caso contrário. As flores abrem-se durante a noite, e a deiscência só ocor- re após às 12h30min, ocorrendo uma dicogamia protogínica. O período de polinização é relativamente curto, isto é, as anteras emitem pólen das 12h30min as 16 h. As panículas desenvolvem- 12 se em período de 35 a 40 dias, com as primeiras flores abrindo- se a partir do vigésimo dia, sendo a duração de cada período de florescimento de 20 a 25 dias. Apesar de haver milhares de flores durante o florescimen- to, o vingamento é pequeno, resultando apenas em algumas cen- tenas de frutos, em função de fatores como baixa percentagem de flores hermafroditas, disposição e morfologia das estruturas da flor (que dificultam a polinização), a dicogamia protogínica e a polinização não muito eficiente realizada por moscas e em pe- quena escala pelas abelhas. Nas condições do Vale do Rio São Francisco, as manguei- ras podem florescer (induzidas quimicamente e com estresse hídrico) aos dois anos. Sob condições naturais (sem o uso de químicos para indução floral), o período de transição da fase ve- getativa para fase reprodutiva é um pouco maior, possivelmente entre três e quatro anos. 2.4 Frutificação A mangueira apresenta baixa eficiência em termos de fruti- ficação, pois apenas cerca de 0,1% das flores hermafroditas chegam efetivamente a frutificar, além de haver uma tendência natural de alternância de produção, intercalando ano de produ- ção elevada com outro de pequena produção. Apenas 25% das panículas mantêm de um a três frutos até a maturação. Nessa frutífera ocorre um desbaste natural de frutos em que 60 a 90% dos frutos formados caem nos primeiros 30 dias; 94 a 99%, aos 60 dias, restando no final apenas 0,67 a 0,70% dos frutos inicialmente fixados, isto é, menos que 1% dos frutos atingem o estádio de maturação. O período de desenvolvimento do fruto, de acordo com as condições climáticas e do manejo em cada região, é de 120 a 150 dias, da floração à colheita. 2.5 Alternância de Produção e Baixa Frutificação Uma produção média entre 250 a 500 frutos/planta/ano pode ser considerada de razoável a boa. Entretanto, a mangueira apresenta alternância de produção e baixa frutificação, o que, muitas vezes, desestimula o agricultor. Vários fatores estão associados a tais problemas, como: a) condições edafoclimáticas marginais: a mangueira, sendo uma planta tropical, exige temperaturas relativamente elevadas du- rante todo o seu ciclo para que possa vegetar, florescer e fruti- ficar economicamente. O fator temperatura não possibilita al- ternativas de mudanças, como também o fator chuvas, duran- te o florescimento. Essas chuvas são extremamente limitantes 14 à produção, sendo as regiões com essa característica consi- deradas marginais ou inaptas para a exploração, pois as chu- vas derrubam as flores, dificultam a polinização e fertilização, e aumentam a incidência de doenças fúngicas sobre a panícu- la (Oídio e antracnose). Outros fatores como luminosidade, deficiência de água e ventos podem ser relativamente contro- lados através de espaçamentos adequados, correta exposição da área, podas, irrigação e instalação de quebra-ventos. Com relação às características do solo, há a exigência de solos pro- fundos e com boa drenagem. b) características intrínsecas da variedade: baixa percentagem de flores hermafroditas, morfologia e disposição dos órgãos florais, dicogamia protogínica, baixa viabilidade dos grãos de pólen (pesados e agregados) e a própria característica genéti- ca da variedade em apresentar alternância. Esses fatores só poderão ser solucionados através de programas de melhora- mento. c) condições de manejo do pomar • aspectos fitossanitários: destacando-se os prejuízos causados na inflorescência pela antracnose, oídio, seca dos ramos e mancha- angular, bem como as pragas mosca-das-frutas, bro- ca-da-mangueira e o ácaro. • aspectos relacionados à nutrição e adubação: a mangueira, por ter a capacidade de emitir um elevado número de inflores- cências, esgota suas reservas com muita facilidade. Há, por- tanto, necessidade de reposição de nutrientes para manter a necessária relação C/N, e também observar as exigências es- pecíficas da mangueira quanto aos nutrientes e ao equilíbrio entre os mesmos. • irrigação: em muitas regiões produtivas, as mangueiras apre- sentam os surtos de florescimento no período mais seco do ano, prejudicando o vingamento de frutos, caso não se dispo- nha de algum sistema de irrigação capaz de suprir a exigência da planta. • outros fatores: os distúrbios denominados malformação floral (ou embonecamento) e malformação vegetativa (ou vassoura de bruxa) constituem-se em componentes que têm contribuído para a ocorrência da baixa frutificação em mangueiras, levan- do até mesmo à erradicação de pomares. 3 Ecologia 3.1 Clima A mangueira é cultivada nas mais diversas regiões equato- riais, tropicais e mesmo nas subtropicais que apresentam fatores climáticos limitantes ao seu desenvolvimento, florescimento e frutificação. As plantas exigem que durante o ano ocorra um período mais seco para, em seguida, poder vegetar e florescer bem, den- 16 tro de suas potencialidades. Essa característica climática consti- tui-se portanto, no principal ponto a ser observado. a) Temperatura As temperaturas de uma região produtiva poderão influen- ciar indiretamente a época da safra, uma vez que sendo mais elevadas ou mais baixas, poderão antecipá-la ou retardá-la, res- pectivamente. A faixa de temperatura entre 21 a 26ºC é considerada co- mo ideal para o cultivo, e temperaturas extremas, acima de 42ºC e abaixo de 10ºC, já limitam o seu crescimento. As temperaturas muito elevadas (>32ºC), quando associadas à baixa umidade relativa e ventos intensos, poderão prejudicar o florescimento e a frutificação. Temperaturas baixas (<2ºC) e ocorrência de geadas poderão impedir a abertura de flores e o desenvolvimento do tu- bo polínico, provocar queimaduras nas brotações novas e paní- culas, e até mesmo provocar a morte de plantas jovens. b) Umidade A exigência mínima da mangueira em termos de precipita- ção é de 1.000 mm/ano, sendo cultivada entretanto em regiões que apresentam de 500 a 2.500 mm/ano. A ocorrência de um período mais seco (menos de 60 mm) durante 4 a 5 meses de- termina altas produções, por causa da diminuição do ataque de fungos, do favorecimento da floração, polinização e fixação dos frutos. As chuvas no florescimento podem lavar os grãos de pó- len e danificar as flores. O período seco deverá preceder a época do florescimento e continuar até a fase do início de desenvolvi- mento de frutos. Áreas tropicais úmidas com temperaturas ele- vadas e precipitações freqüentes induzem um crescimento vege- tativo intenso em detrimento de florescimento e frutificação. A umidade relativa do ar é outro fator importante no cultivo da mangueira, pois níveis de umidade elevados favorecem os surtos de doenças, como a antracnose. Assim, as áreas de baixa umidade (menos de 60%) devem ser as preferidas. No Brasil, a associação entre os fatores temperatura e precipitação permitiu agrupar as regiões quanto à sua aptidão para o cultivo da seguinte forma: ♣ região apta: temperatura média anual acima de 21ºC e deficiência hídrica anual acima de 40 mm. ♣ região marginal: temperatura média anual entre 19 e 21ºC e deficiência hídricaanual entre 20 a 40 mm. ♣ região inapta: temperatura média anual menor que 19ºC e deficiência hídrica anual menor que 20 mm. c) Luminosidade A mangueira exige altas intensidades de luz. A maioria das panículas emitidas situam-se na periferia da copa, posição que favorece a insolação sobre as mesmas, auxiliando a abertura de flores e reduzindo o ataque de fungos. 18 Nesse sentido, deve-se observar a escolha de espaça- mentos adequados e a orientação das linhas de plantio em cam- po, preferencialmente no sentido norte, nordeste e oeste. d) Ventos Ventos intensos e constantes podem provocar redução si- gnificativa na produção, pois derrubam flores e frutos, causam ferimentos nos frutos pelo atrito com a folhagem e aumentam as taxas de transpiração da planta e evaporação do solo. Em alguns casos há a necessidade de instalação de que- bra-ventos, que podem ser constituídos por variedades de man- gueiras resistentes e rústicas, comuns na região e propagadas por sementes. e) Altitude Os efeitos da altitude sobre os demais fatores climáticos influem negativamente no ciclo, produtividade e qualidade do fru- to, especialmente em altitudes mais elevadas (acima de 600 m). Para cada 150 m de aumento na altitude, ocorre um resfriamento de 1ºC, atrasando o florescimento em cinco dias. 3.2 Solos Adapta-se aos mais variados tipos de solo, desde os are- nosos até argilosos, preferindo os areno-argilosos, profundos (2 m), permeáveis, bem drenados, podendo ser ligeiramente ácidos. As áreas mecanizáveis são as mais indicadas para instalação de pomares extensos, pois facilitam a execução dos tratos culturais, colheita e escoamento da produção. As características do solo influenciam o desenvolvimento das raízes e, conseqüentemente, o desenvolvimento e produção da planta. 4 Propagação A mangueira deve ser propagada assexuadamente, res- tringindo-se o uso de sementes à obtenção de porta-enxertos. 4.1 Propagação por Sementes A propagação por sementes, ainda utilizada na formação de pomares em algumas regiões do Brasil, apresenta uma série de desvantagens, como a grande variação de características en- tre as plantas obtidas, porte elevado e início do ciclo de produção mais tardio (5o ou 6o ano pós-plantio). Entretanto, a mangicultura moderna exige plantas e frutos uniformes, de acordo com pa- drões exigidos pelo mercado, plantas de pequeno porte, que faci- 20 litam os tratos culturais, e colheita e produção precoces, possibili- tando o retorno do capital investido em menor espaço de tempo. 4.2 Propagação por Enxertia a) Escolha e obtenção do porta-enxerto No Brasil, a escolha do porta-enxerto é feita quase que exclusivamente em função da disponibilidade de sementes. As- sim, os viveiristas coletam ao acaso os frutos das variedades mais comuns da região, sem considerarem características fun- damentais, como resistência ou tolerância a doenças e pragas, porte da planta, hábitos vegetativos e outras. A grande variabili- dade que ocorre em pomares de mangueira deve-se, em grande parte, ao uso de porta-enxertos não selecionados e padroniza- dos. Um dos grandes objetivos da pesquisa em mangicultura é a obtenção de plantas de menor porte, através da utilização de porta-enxertos que apresentam efeito ananizante, como as varie- dades indianas Malika e Amrapali. Em Minas Gerais e São Paulo, as variedades mais utiliza- das como porta-enxertos são a Ubá, Sapatinho, Coquinho, Rosi- nha, Espada e Coração de Boi, enquanto no Nordeste destacam- se a Espada, Rosa, Carlota, Itamaracá e Coité. No Brasil, os viveiristas utilizam predominantemente a manga ‘Espada’ pelo seu vigor e uma certa tolerância à seca da mangueira. Apresentam também a mesma característica os por- ta-enxertos ‘Carabao’ e ‘Manga d’água’ e os lançados pelo Insti- tuto Agronômico de Campinas, ‘IAC-Touro’ e ‘IAC-Coquinho’. Preferencialmente, deve-se utilizar variedades poliembriônicas, que poderão conferir maior uniformidade no pomar. A obtenção das sementes dos porta-enxertos seleciona- dos é feita colhendo-se frutos maduros, procedendo-se em se- guida ao seu descascamento, retirada da polpa, lavagem da se- mente e secagem à sombra. Recomenda-se a extração da casca (endocarpo) com auxílio de tesoura de poda, tomando-se o cui- dado de não ferir a amêndoa. Essa prática proporciona maior rapidez e maior índice de germinação (em torno de 90%). Outra alternativa é realizar o corte apenas na parte ventral do caroço. Pelas possíveis perdas durante a obtenção do porta- enxerto e na enxertia, deve-se semear de 40 a 50% a mais, em relação ao número de mudas a serem implantadas. As sementes de mangueira perdem o poder germinativo com relativa rapidez e, assim, o período entre a colheita e a semeadura não deverá ultrapassar 15 a 20 dias. b) Semeadura do porta-enxerto A semeadura pode ser direta em sacos de plástico preto, perfurados na base e nas laterais, com dimensões variáveis entre 22 30 a 40 cm de altura, 17 a 25 cm de largura e 0,12 a 0,15 mm de espessura. O substrato pode ser constituído por três partes de solo e uma parte de esterco de curral curtido, ao qual se adiciona 3 kg superfosfato simples e 500 g de cloreto de potássio/m3 da mistura. No caso de solos argilosos, recomenda-se a adição de uma parte de areia. Também pode-se realizar a semeadura em sementeira (10-20 m de comprimento, 1,20 m de largura e 0,15 m de altura), incorporando-se 5 a 10 kg de esterco curtido, 100 g de superfos- fato simples e 50 g de cloreto de potássio/m2 de sementeira. Os sulcos devem ter 5 cm de profundidade, distanciados entre si de 20 cm. As amêndoas são colocadas distanciadas de 5 cm uma da outra, com a sua porção convexa voltada para cima. Os tratos culturais na sementeira são os normalmente recomendados, constituindo-se de adubações, capinas, irrigações, controle de antracnose, oídio e ácaros. Após 60-75 dias da semeadura, com os porta-enxertos apresentando em torno de 25 cm de altura, realiza-se a repicagem para viveiro em campo, em espaçamen- tos variáveis entre 80 a 120 cm entre linhas e 40 cm entre plan- tas. Os sulcos com cerca de 25-30 cm de profundidade devem ser adubados com 2 L de esterco de curral, 100 g de superfosfa- to simples e 25 g de cloreto de potássio por metro linear. Deve-se tomar o cuidado de não danificar a haste e a raiz pivotante, con- servando quando possível, os cotilédones. É fundamental a insta- lação de um sistema de irrigação. Os tratos culturais são aqueles comumente recomendados na condução de viveiros e semelhan- tes aos relacionados para sementeira. c) Plantas matrizes, borbulhas e garfos Um dos principais fatores responsáveis pela grande varia- bilidade de plantas e frutos nos pomares comerciais é a utiliza- ção de material propagativo (borbulhas e garfos) retirado de plan- tas com características desconhecidas, como produção, alter- nância de produção, resistência/tolerância a doenças, caracterís- ticas de qualidade (cor, peso, aroma, sabor, presença de fibras, consistência da polpa, tamanho da semente). O produtor de mu- das deverá ter um pomar-matriz tanto para o fornecimento de material para porta-enxerto, como também para enxerto. Entre 5 a 10 dias antes da coleta das gemas (borbulhas), realiza-se a decapitação da porção terminal do ramo porta- borbulhas, eliminando-se a gema apical, conseguindo-se borbu- lhas intumescidas e em condições de brotar mais precocemente. Os garfos ou ponteiros devem ser colhidos de ramos con- siderados maduros (6 a 8 meses de idade), apresentando aspec- to arredondado, não angular, coloração em transição de verde para verde-cinza e com as gemas apicais intumescidas e sadias. Entre 5-10 dias antes de sua coleta em campo, pode-se proceder à 'toillete' do ramo, retirando-se as folhas, o que facilitará o intu- mescimento das gemas e precocidade de pegamento após a en- xertia. 24 d) Enxertia Atécnica da enxertia, embora simples e de fácil execução, só possibilita altos índices de pegamento quando se observam os seguintes fatores: compatibilidade porta-enxerto/enxerto, condi- ções fisiológicas do porta-enxerto/enxerto, época do ano, condi- ções climáticas (temperatura e umidade), métodos utilizados, treinamento do enxertador e práticas de manejo pré e pós- enxertia. Os métodos mais utilizados são a borbulhia em T inver- tido e a garfagem no topo em fenda cheia. A enxertia por borbulhia em T invertido apresenta a vanta- gem de economia de material propagativo, pois um ramo porta- borbulha fornece até 5 enxertos. Nos porta-enxertos com aproxi- madamente 1 cm de diâmetro, faz-se um corte vertical com 3 a 5 cm, em T invertido, a 15-20 cm do nível do solo, ajustando-se, a seguir, a gema e fazendo-se o amarrio com fita plástica (Figura 1). Entre 20-25 dias após esse procedimento, retira-se a fita plás- tica, expondo-se a borbulha, que deverá apresentar aspecto ver- de e com os tecidos agregados aos do porta-enxerto. Entre 45-50 dias após a enxertia, a borbulha inicia a sua brotação, realizando- se então a decepa do porta-enxerto a 5 cm acima do ponto em que foi realizada. Quando ocorrer o segundo surto vegetativo, faz-se o corte do porta-enxerto rente a esse ponto, sendo a muda considerada apta para o plantio em campo. O período total de obtenção da muda poderá durar cerca de 10 a 12 meses. O método de garfagem no topo em fenda cheia (Figura 2) é um dos mais utilizados na propagação da mangueira, apresen- tando precocidade e altos índices de pegamento (em menor es- cala realizam-se garfagem à inglesa simples e garfagem lateral). Tanto o porta-enxerto como o garfo devem apresentar diâmetros semelhantes, ou seja, em torno de 1 cm. Inicialmente faz-se a decapitação do porta-enxerto a 15-20 cm do seu colo. Em segui- da, abre-se uma fenda vertical com 3 cm de profundidade, utili- zando canivete bem afiado. O garfo, com 10 a 15 cm de compri- mento e com a base aparada em forma de cunha, também com cerca de 3 cm, é introduzido na fenda do porta-enxerto, ajustan- do-se os seus tecidos e fazendo-se o amarrio com fita plástica. Para evitar o ressecamento dos tecidos, recomenda-se cobrir o garfo com saco plástico transparente que deve ser, amarrado em sua extremidade inferior, formando uma câmara úmida. O perío- do total desde a semeadura do porta-enxerto até a muda pronta para o plantio varia entre 6 e 8 meses. 26 Figura 1. Enxertia por borbulhia em T invertido. Figura 2. Enxertia por garfagem no topo em fenda cheia. 5 Variedades 28 Ainda não há uma variedade que apresente todas as ca- racterísticas desejáveis em termos fitotécnicos e de mercado. Apesar do grande número de variedades disponíveis (em torno de 200), cerca de 80% dos cultivos tecnificados restringem-se às variedades Haden e Tommy Atkins, que possuem excelentes características, mas ainda não são perfeitas. Considerando-se que a mangicultura é uma atividade perene, a escolha correta da variedade é um fator fundamental para o sucesso do empreen- dimento. Dentre as características consideradas ideais para varie- dades de mangueira, Melo Nunes (1995) relaciona: boa produ- ção, com nenhuma ou pouca alternância de safra; alta percenta- gem de flores férteis; baixa tendência de produção de frutos sem embrião; frutos coloridos, atrativos, preferencialmente de colora- ção avermelhada; frutos sem ocorrência de amolecimento interno da polpa; resistência ao transporte, embalagem e comercializa- ção, com duração mínima de dez dias; resistência à antracnose; sabor agradável, sem fibras e terebintina; sementes pequenas (no máximo 10% do peso total do fruto); variedades com matura- ção uniforme e porte baixo; alta percentagem de polpa, alto teor de suco e baixa percentagem e casca; precocidade de produção e período de vida útil longo. As características do fruto utilizadas na diferenciação de variedades são: forma do fruto e do bico (caracteres principais); forma de extremidade da folha e dobradura de folha (caracteres secundários); configuração da inflorescência, configuração das folhas, disposição dos veios do caroço, fibra e sua disposição, perfil dos ombros, natureza da cavidade basal e coloração das folhas novas (caracteres terciários) (Ramos, 1982). 5.1 Escolha das Variedades A escolha das variedades é função do tamanho do em- preendimento e do grau de tecnologia utilizado, devendo-se ob- servar: a) diversificação de variedades: recomenda-se a implanta- ção de três a quatro variedades, sendo 70% da área ocupada com a variedade principal (maior aceitação no mercado); os 30% restantes do pomar serão ocupados com duas a três variedades secundárias. Esse procedimento poderá proporcionar melhores produções, menor ocorrência de alternância e baixa frutificação, menor incidência de doenças e pragas, além de escalonar a pro- dução. b) variedade polinizadora: ao se intercalar uma variedade polinizadora, pode-se obter produções superiores. A variedade Edward pode ser utilizada no plantio intercalar do pomar, em proporção de 0,5 a 1,0% do número total de plantas. 30 c) tamanho do fruto: o mercado interno exige frutos maio- res, chegando até 800 g ou mais; para exportação, os frutos de- verão apresentar em torno de 500 g, de acordo com as exigên- cias dos importadores. Na avaliação de 15 variedades de man- gueira cultivadas em São Paulo, Donadio (1982) agrupou os fru- tos em classes: classe 1 (fruto pequeno, com peso menor que 250 g); classe 2 (fruto médio, com peso entre 250 e 350 g); clas- se 3 (fruto grande, com peso entre 350 a 500 g) e classe 4 (fruto muito grande, com peso maior que 500 g). d) época de maturação: variável em função das peculiari- dades climáticas da região e das práticas de manejo em geral. Na Região Sudeste do Brasil, pode-se classificar as variedades de mangueira em precoces (maturação em outubro/novembro), da estação (maturação em dezembro/janeiro) e tardias (matura- ção em fevereiro/março). 5.2 Principais Variedades Nas Tabelas 1 e 2 são apresentadas as variedades de mangueiras mais cultivadas no Brasil, com as principais caracte- rísticas, descritas por Donadio (1982) e Melo Nunes (1995). Apesar das excepcionais qualidades do fruto da variedade Haden, a planta apresenta tendência à alternância de produção e incidência elevada de distúrbios, como a malformação floral. Na atualidade, representa apenas de 20 a 30% dos pomares tecnifi- cados, havendo a alternativa de plantio da ‘Haden 2H’ com características um pouco superiores. A variedade mais cultivada é a Tommy Atkins, com cerca de 60 a 70%, apesar de também apresentar problemas, como colapso interno do fruto. De acordo com Melo Nunes (1995), no Nordeste as varie- dades mais disseminadas são a Rosa, Espada e Itamaracá. No Centro-Oeste, as variedades Ubá, Bourbon, Haden, Coquinho e variações do grupo dominante coração-de-boi (Medina, 1981 e Luna, 1988). Na região do Vale do São Francisco, no nordeste semi-árido brasileiro, predominam as variedades Haden, Keitt e Tommy Atkins nos plantios comerciais. As variedades Van Dyke, Surpresa, Kensington e Zill têm sido usadas nos plantios mais recentes (Nunes, Sampaio e Rodrigues, 1991). 32 Destaca-se ainda o grande número de variedades brasilei- ras de mangueiras, com denominações e características regio- nais. Donadio et al. (1996) abordaram a caracterização e escolha de variedades nacionais considerando-se a tolerância a doenças e pragas, produção, qualidade do fruto, época de produção e capacidade biológica. Os autores traçaram o perfil de mais de 50variedades, fornecendo informações básicas que auxiliam na es- colha. Especificamente no caso de mangas para processamento industrial, Bleinroth et al. (1976) indicam as variedades Imperial, Extrema, Oliveira Neto, Mato Dentro e Haden para a produção de 34 manga em calda, e para néctar, as variedades Castro, Cecília Carvalho, João Alemão, Non Plus Ultra e São Quirino são as que apresentam rendimento superior. Soler (1989), para a mesma finalidade, recomenda Pele de Moça, Itamarati, Manga d'água e Ubá. Segundo Carvalho Neto e Araújo (1975), as variedades pa- ra processamento mais indicadas são Itaparica, Maçã, Espada, Carlota e Pingo de Ouro. Entre 20 variedades de mangueiras avaliadas para o processamento em calda, destacam-se como superiores a Surpresa e a Santa Cruz. Recentemente o IAC lançou as variedades IAC-103 Espa- da Vermelha e IAC-104 Dura; a EMBRAPA lançou as variedades Alfa Embrapa 142 e Roxa Embrapa 141. Atualmente, observa-se a tendência de aumento de área plantada com a manga 'Palmer' no Estado de São Paulo, em função de sua maior aceitação no mercado interno. 6 Planejamento e Instalação do Pomar 6.1 Estudos Prévios a) perfil mercadológico: considerar os aspectos ligados à comercialização (sazonalidade de oferta e preços), exigências dos consumidores quanto à qualidade e canais de comercializa- ção, considerando-se o mercado interno de fruta fresca, proces- samento industrial, exportação de frutos e produtos. b) variedades e mudas: a escolha correta da(s) varieda- de(s) é um dos determinantes do sucesso do empreendimento. A escolha deverá considerar aspectos como tolerância/resistência a doenças e pragas, capacidade biológica e produtiva, qualidade do fruto, época de produção, características adequadas ao pro- cessamento. Outro fator a ser considerado é o estudo de viabili- dade da instalação de viveiro próprio (grandes pomares) ou a aquisição de mudas de viveiristas credenciados. Qualquer que seja a alternativa, a qualidade da muda dependerá fundamental- mente do porta-enxerto utilizado e das características do material propagativo (garfos e borbulhas). c) estimativas de custos de implantação, manutenção e rentabilidade: realizar levantamento de dados que possibili- tem o cálculo do custo de produção, bem como a estimativa de rentabilidade da exploração. Nessa oportunidade, avaliam-se a necessidade de recursos financeiros, possibilidade de financia- mento a existência de programas de incentivo à cultura. 6.2 Características da Área 36 A mangueira vegeta e frutifica nos mais variados tipos de solo e clima; porém, só atinge a sua capacidade produtiva quan- do é atendida em suas particularidades. Áreas com temperaturas baixas (<19oC), possibilidade de geadas, período chuvoso coin- cidindo com o florescimento, ausência de um período mais seco durante o ano e baixa intensidade luminosa, são consideradas climaticamente marginais. A possibilidade de controle de cresci- mento vegetativo e de florescimento, com a finalidade de se ob- ter safras em período mais favoráveis, depende das característi- cas climáticas dominantes na área. Deve-se também considerar outros aspectos, como: disponibilidade de água, energia elétrica, mão-de-obra, estradas de fácil acesso, distância dos centros consumidores, indústrias e portos. 6.3 Preparo da Área De acordo com a dimensão do pomar, práticas de manejo e grau de tecnologia a ser adotado poderão ser executados: a) levantamento planialtimétrico com locação de divisas, estradas principais e secundárias, fontes hídricas, estruturas físi- cas existentes e a serem construídas. b) construção de estruturas físicas como galpões para in- sumos, galpões ou 'packing house' para recepção de frutos, preparo e tratamentos especiais dos frutos, embalagem e arma- zenamento, amadurecimento, processamento industrial. c) coleta de amostras do solo na profundidade de 0-20 e 20-40 cm para determinação de suas características físicas e químicas, as quais irão direcionar as práticas de correção e adubações. d) execução de práticas conservacionistas, abertura de carreadores, divisão da área em glebas ou talhões, de acordo com alinhamento e espaçamentos a serem utilizados. e) aração, calagem e gradagens, considerando-se que a mangueira possui sistema radicular profundo; em terrenos com- pactados, realizar subsolagem quando necessário. Em geral, re- comendam-se arações com 30 a 40 cm de profundidade, seguida de distribuição de calcário e gradagens. f) sistemas de plantio e espaçamentos: o sistema de plan- tio a ser adotado poderá variar com os espaçamentos, topografia da área, práticas de manejo a serem utilizadas e, segundo Medi- na (1981), pode ser quadrangular, retangular, triangular e em nível; há, entretanto, a predominância do retangular ou do qua- drado, aliados com práticas de conservação do solo. O espaça- mento é definido em função de: 38 ♣ características do solo e clima do local de cultivo; por- ta-enxerto utilizado; características da variedade copa (hábitos de vegetação, volume e forma da copa); resis- tência/tolerância a doenças e pragas; práticas de ma- nejo do pomar (podas, irrigação, tratos mecanizados); destino da produção (mercado ao natural interno ou ex- terno, industrialização). ♣ considerando-se que as mangueiras, mesmo enxerta- das, podem atingir 8-10 m de altura com sua copa a- tingindo 100 m2 ou mais, bem como sua alta exigência em luminosidade para que possa frutificar bem, tradi- cionalmente utilizam-se espaçamentos amplos (12×10 m; 10×10 m) que proporcionam baixa densidade de plantas por hectare, baixa produtividade inicial, frutos de qualidade e facilidades na execução de tratos cultu- rais. Nesse caso, deve-se verificar a viabilidade da ins- talação de culturas intercalares, como cereais anuais, mamão, abacaxi, melancia e outras, cuja produção po- derá amortizar os custos de implantação. ♣ a moderna mangicultura tem optado por plantios mais adensados, que possibilitam a obtenção de altas pro- dutividades nos primeiros anos do pomar, utilizando-se espaçamentos como 8×8 m, 8×7 m, 8×6 m, 10×6 m, 10×5 m. Nesse sistema, observam-se prejuízos em termos de qualidade do fruto, queda de produção a partir do 8o ano do plantio, necessidade de podas regu- lares tanto nas laterais como no topo das plantas e maior dificuldade na execução dos tratos culturais. ♣ outra alternativa é a duplicação do número de pés ou duplo plantio, com espaçamentos como 10×5 m, 8×5 m ou até menos, com a eliminação de plantas a partir do 5o ou 6o ano pós-plantio, tomando-se como parâmetro de referência a ocasião em que as distâncias entre as copas das plantas atinjam o limite de 1,2 m. ♣ a pesquisa tem procurado obter mangueiras de peque- no porte, com boa produtividade e que facilitem a exe- cução de tratos culturais e colheita. Entre os estudos, destacam-se a obtenção de porta-enxertos ananizan- tes e a interexertia. No primeiro caso, nem sempre ob- têm-se resultados promissores, que dependem essen- cialmente do material genético. Porta-enxertos indianos como o Malika e Amrapalli nem sempre têm transferido à copa o efeito ananizante, como, por exemplo, quan- do se enxerta a variedade Tommy Atkins sobre Amra- palli. A interenxertia tem apresentado alguns resultados promissores, como a associação das variedades Es- pada (como porta-enxerto), Santa Alexandrina (inte- renxerto) e Tommy Atkins (como variedade copa), que proporcionou uma redução de 53% na altura quando comparada com a enxertia normal (Pinto, 1994). Dessa 40 forma, pode-se reduzir os espaçamentos, chegando-se à densidade de 400 plantas/ha. 6.4 Plantio Deverá ser realizado preferencialmente no início do perío- do chuvoso de cada região, ou em qualquer época quando hou- ver possibilidade de irrigação. Nessa etapa, deve-se observar as seguintes recomendações: ♣ transportar e manejar asmudas de mangueira com o máximo cuidado, evitando-se quebrar a estrutura do torrão, o que poderá comprometer o pegamento. ♣ marcação e abertura de covas (50×50×50 cm) ou sul- cos (40 a 50 cm de profundidade) nos quais serão complementadas as covas; considerar os sistemas de alinhamento, espaçamentos e práticas de conserva- ção. ♣ considerar os resultados da análise de solo para a a- dequada adubação de plantio, sugerindo-se como ba- se a seguinte adubação por cova: 15 a 20 L de esterco curtido, 500 g de superfosfato simples, 100 g de cloreto de potássio. Quando necessário, além de calagem em área total, pode-se aplicar cerca de 300 g/cova de cal- cário dolomítico, sendo a metade no fundo da cova ou sulco e o restante superficialmente, sobre a bacia. Os componentes da adubação de plantio devem ser mistu- rados com a camada superficial do solo, separada da camada mais profunda no momento da abertura da co- va. ♣ abertura das covas no sulco suficiente para acondicio- nar o torrão da muda. ♣ colocar a muda na cova, ainda com a embalagem que envolve o seu torrão, na posição vertical; retirar então a embalagem com o máximo cuidado, evitando-se quebrar o torrão, comprimindo então o solo ao seu re- dor. Deve-se observar que o nível do torrão deve ficar cerca de 5 cm acima do nível do solo, visando a man- ter o colo da muda em seu nível após o plantio. ♣ confeccionar uma bacia ao redor da muda (80 a 100 cm de diâmetro), utilizando a camada de solo mais pro- funda, separada no momento da abertura da cova. ♣ fazer o tutoramento da muda utilizando estacas de bambu ou madeira. ♣ irrigar com cerca de 30 L de água aplicados ao redor da bacia; nos primeiros 30 a 60 dias pós-plantio, caso necessário, aplicar 30 L de água por semana. Deve-se evitar o acúmulo de água junto ao colo da muda. ♣ fazer cobertura morta utilizando capim seco, palhas ou outro material disponível, dispostos sobre a bacia. Em 42 alguns casos, utilizam-se estruturas como as empre- gadas em viveiros de cobertura baixa, como meio de proteção da muda contra o sol, semelhantes a peque- nas cabanas, com altura entre 1 a 1,5 m, confecciona- das com estacas de bambu ou madeira e cobertas com palhas de arroz, capim, folhas de coqueiro, folhas de bananeira, etc. 7. Condução do Pomar 7.1 Nutrição e Adubação A mangueira, apesar de apresentar relativa tolerância a solos de baixa fertilidade e a períodos secos, só alcança produ- ções satisfatórias e com regularidade quando adequadamente atendida em suas exigências nutricionais. Vários pontos devem ser observados para o estabelecimento de um esquema de adu- bação, como peculiaridades em termos de crescimento, floresci- mento e frutificação, correlação entre aspectos nutricionais e problemas de alternância e baixa frutificação e extração de nutri- entes. 7.1.1 Princípios Básicos A quantidade de nutrientes extraídos pela mangueira po- derá atingir valores elevados, considerando-se que a produtivi- dade pode se situar entre 15 a 30 t de frutos/ha; deve-se também ressaltar que em muitos casos é cultivada em solos de baixa fertilidade e que, além dos nutrientes retirados pela planta, poderão ocorrer perdas significativas por lixiviação e por erosão. Os valores médios dos nutrientes extraídos por hectare, considerando-se uma produtividade média de 15 t, foram estima- dos Hiroce et al. (1978) para três cultivares (Haden, Extrema e Carlota) e duas partes do fruto (casca e polpa + semente), ob- tendo-se os seguintes valores (kg/ha): N - 19,23; P - 2,82; K - 29,66; Ca - 2,76; Mg - 2,40; S - 2,78. A exportação dos macronu- trientes através dos frutos indica que a exigência da mangueira obedece à seqüência K, N, P, S, Ca e Mg. Outro fundamento básico com relação à nutrição da man- gueira refere-se à associação que deverá existir entre a quanti- dade de nutrientes a ser aplicada e os estádios fisiológicos do ciclo. É fundamental conhecer as épocas em que ocorrem os surtos vegetativos e os de florescimento, que variam de acordo com as condições edafoclimáticas, cultivares e práticas de mane- jo (irrigação, podas e indução de florescimento). 44 Os valores médios dos teores de nutrientes em folhas de mangueira em função de diferentes estádios indicam a ocorrên- cia de duas etapas distintas, sendo a primeira compreendida en- tre a colheita e início de novo florescimento, período em que há acúmulo de nutrientes; a segunda etapa abrange o período do desenvolvimento do fruto até sua colheita, quando há diminuição dos teores de nutrientes nas folhas (Tabela 3). O conhecimento dos períodos de maiores exigências das plantas evidencia a fase em que os nutrientes devem ser fornecidos ou estarem disponí- veis para as mesmas. Deve-se prever um fornecimento de nutri- entes durante todo o ciclo da cultura visando a não comprometer a safra seguinte. Na Região Sudeste, as mangueiras florescem entre maio a setembro, concentrando o período de colheita ao final e início do ano. Em fevereiro, março e abril (pós-colheita) ainda há tem- peratura e chuva razoavelmente favoráveis para as atividades fisiológicas da planta, o que favorece a realização de uma ou du- as adubações em cobertura. Em regiões quentes e semi-áridas, quando se utilizam práticas como a irrigação, podas e indução de florescimento, deve-se adaptar as adubações aos períodos em que ocorrem os diferentes estádios. Como por exemplo, as induções de florescimento realiza- das em fevereiro/março/abril proporcionam colheitas em agos- to/setembro/outubro, indicando que, nessas condições, as adu- bações deverão ser realizadas nos meses de novembro a janei- ro. De uma maneira geral, outras adubações em cobertura deve- rão ser realizadas na fase de desenvolvimento do fruto. 7.1.2 Nutrientes e seus Efeitos a) Nitrogênio (N) A deficiência de N afeta negativamente a produção, pois este nutriente está diretamente relacionado aos surtos vegetati- vos, emissão de gemas florais e frutificação. Mangueiras ade- quadamente nutridas com N emitem regularmente brotações que, ao atingirem a maturidade, resultam em panículas respon- sáveis pela frutificação. A relação entre o aumento dos níveis de N e o aparecimento do distúrbio denominado 'soft-nose' não está definitivamente esclarecida, pois a incidência desse distúrbio pa- rece estar mais correlacionada com a disponibilidade de cálcio do que com a elevação do nitrogênio. b) Fósforo (P) Apresenta efeitos favoráveis no crescimento vegetativo das plantas em formação e favorece o desenvolvimento do sis- tema radicular. Apesar de mangueiras em produção exigirem quantidades significativamente menores de fósforo do que nitro- gênio e potássio, recomenda-se a aplicação regular desse nutri- ente nas adubações, uma vez que os seus teores nos solos são normalmente baixos, além das altas taxas de fixação. 46 c) Potássio (K) É o nutriente mais importante em termos de produção e qualidade de frutos, havendo alta correlação entre níveis ade- quados de potássio e produções regulares e satisfatórias. Níveis baixos de potássio resultam na diminuição da produção de amido e, conseqüentemente, da produção. Esse nutriente também está envolvido com os processos de fotossíntese, respiração e circu- lação da seiva. d) Cálcio (Ca) Exerce a função de ativador de enzimas e favorece o de- senvolvimento do sistema radicular e suas atividades. Quando em deficiência, poderá reduzir a produção, uma vez que está li- gado à germinação do grão de pólen e ao desenvolvimento do tubo polínico. Se o teor de Ca for mantido em 2,5% na matéria seca da folha, ou pouco mais, o distúrbio 'soft-nose' será reduzi- do a baixos índices. Este se caracteriza como o aparecimento de uma fenda no lado ventral da polpa e em torno do ápice do fruto, quando ainda está na planta. e) Magnésio (Mg) Componente da clorofila e indutor de enzimas ativadoras de aminoácidos responsáveis pelasíntese protéica. Sua defici- ência poderá provocar redução no desenvolvimento, desfolha prematura e diminuição da produção. Adubações com altas do- ses de potássio diminuem a sua absorção, devendo-se, portanto, verificar a relação K:Mg quando esquematizar as adubações. f) Enxofre (S) Componente de aminoácidos e de todas as proteínas ve- getais, desempenha o papel de ativador enzimático e participa da síntese de clorofila. Em nível deficiente, retarda o crescimento da mangueira e provoca desfolha. Sua disponibilidade é reduzida pelo uso contínuo de adubos formulados que não o contém em sua composição. g) Boro (B) É fundamental para a formação da parece celular, divisão e aumento do tamanho das células e transporte de carboidratos. Sua deficiência induz à formação de brotações de tamanho redu- zido, com folhas pequenas e coriáceas. Poderá ocorrer ainda redução significativa da produção em virtude da morte da gema terminal, baixa germinação do grão de pólen ou não desenvolvi- mento do tubo polínico. A morte de gemas terminais resulta na perda da dominância apical, induzindo a emissão de grande nú- mero de brotos vegetativos originados das gemas axilares dos ramos principais. Dessa forma, o distúrbio denominado vassoura- 48 de-bruxa ou malformação vegetativa pode estar associado à de- ficiência de B. h) Zinco (Zn) É um micronutriente essencial na síntese do triptofano, que é precurssor do fitohormônio ácido indolacético (AIA) que, por sua vez, está associado ao volume celular. Assim, plantas deficientes apresentam células menores e em menor número, ocorrendo então o encurtamento dos internódios, aumento da espessura do limbo foliar, tornando-o quebradiço. Os distúrbios denominados malformação floral (ou embonecamento) e malfor- mação vegetativa (ou vassouras-de-bruxa) podem estar associa- dos à deficiência também de Zn, uma vez que as plantas emitem panículas pequenas, de formas irregulares, múltiplas e deforma- das. i) Cobre (Cu) Considerado como um ativador de enzimas que oxidam fenóis, apresenta efetiva participação nos mecanismos da respi- ração e fotossíntese. Sua deficiência acarreta a presença de bro- tos terminais fracos, que perdem as folhas, ocorrendo a morte progressiva em função do secamento da ponta para baixo. j) Ferro (Fe) Componente dos citocromos e ativador de enzimas, parti- cipa na formação da clorofila e síntese de proteínas. Sua defici- ência caracteriza-se pela clorose típica em folhas novas, através da formação de um reticulado verde das nervuras, em contraste com o amarelado do limbo foliar. A deficiência é induzida em so- los ácidos pelo excesso de manganês, bem como nos solos que apresentam pH elevado. k) Manganês (Mn) É considerado essencial para formação da clorofila e para a formação, multiplicação e funcionamento do cloroplasto. Sua deficiência causa redução no crescimento semelhante às defici- ências de P e Mg. Folhas novas apresentam o limbo verde- amarelado sobre o qual destaca-se o reticulado verde das nervu- ras, porém mais grosso que no caso do ferro. Sua disponibilidade no solo é reduzida quando se realizam calagem e aplicação de altas doses de P. 7.1.3 Recomendação de Adubação Os resultados das análises de solo, associados aos da análise foliar realizados anualmente para cada talhão, servirão como suporte para se traçar um esquema de adubação. Reco- 50 menda-se coletar amostras nas camadas de 0-20 e 20-40 cm de profundidade, na projeção da copa, região de aplicação dos ferti- lizantes. Para a diagnose foliar da mangueira, deve-se considerar que o teor de nutrientes na matéria seca das folhas poderá variar em função da idade da folha, posição nos ramos, produção da planta, estádio fisiológico, cultivar, tipo de solo e práticas cultu- rais. Dessa forma, só será viável a correlação de resultados da análise foliar com um determinado padrão de nutrientes na maté- ria seca da folha, quando os procedimentos de amostragem fo- rem semelhantes. Segundo Guimarães (1982), as folhas devem ser amos- tradas em ramos de 4 a 7 meses de idade, ao acaso, entre a terceira e sexta a folha a uma altura de 1,20 a 2,40 m. Em cada planta, coletar nos quatro lados (N, S, L, O) de 6 a 8 folhas por planta, num total de 10 plantas a cada 2 ha. Nesse caso, os pa- drões desejáveis para os teores de nutrientes estão apresenta- dos na Tabela 4. Malavolta (1992) recomenda a amostragem das folhas na época de florescimento, segunda ou terceira folha, na base da panícula, amostrando-se 60 folhas a cada 2 ha. Na Tabela 5 es- tão apresentados os teores dos nutrientes, agrupados em três níveis (baixo, médio e adequado), com os quais deve-se fazer as correlações com os resultados da análise. De acordo com as indicações e relatos de Guimarães (1982) e Kavati (1989), um esquema de adubação para a man- gueira deverá considerar as seguintes particularidades: a) a alternância de produção em mangueiras pode estar ligada à relação C/N, que quando está alta e com a planta possuindo suficiente reserva de amido, induz o florescimento. No caso de crescimento vegetativo acentuado e baixa frutificação, deve-se elevar as adubações com potássio e fósforo. Em caso contrário, elevar a fertilização com nitrogênio, porém em doses estritamente necessárias para um mínimo de crescimento vege- tativo. Dessa forma, o equilíbrio e a regularidade do binômio ve- getação/frutificação em mangueira dependem em muito das rela- ções N/K e N/P. b) deve-se procurar elevar os teores de cálcio no solo e na planta e, simultaneamente, fornecer também fósforo e potássio, considerando-se a existência de antagonismos. c) fornecer boro e zinco via foliar e, se possível, também via solo, associados ao fornecimento de cálcio. A aplicação via foliar deverá ser feita antes do florescimento (abril/maio na região Sudeste) e repetida cerca de 30 dias após o pico de florescimen- to. Recomenda-se, de forma geral, 300 g de sulfato de zinco e 150 g de ácido bórico/100 L de água, associados a um produto quelatizado fornecedor de cálcio. 52 d) reduzir o teor de manganês através do fornecimento de cálcio. e) as aplicações de fósforo e nitrogênio poderão ser feitas de uma só vez, no início do período chuvoso, o potássio poderá ser dividido em duas aplicações. Deve-se considerar, entretanto, os aspectos relatados no item 7.1.1. f) as calagens deverão ser realizadas no início do período chuvoso, procurando-se elevar a saturação de bases para 70%. g) devido à profundidade do sistema radicular da manguei- ra, recomenda-se que os adubos sejam aplicados em sulcos a- bertos a 3 m de distância do tronco e a uma profundidade de 20 a 30 cm. 54 Nas Tabelas 6 e 7 são apresentadas sugestões de aduba- ção para o Estado da Bahia, segundo Carvalho, Magalhães e Souza (1989) e Pereira, Faria e Albuquerque (1989). As mesmas destinam-se apenas como referencial básico, uma vez que um esquema correto de adubação deverá levar em conta as peculia- ridades de cada cultivo. No plantio, o fósforo e o nitrogênio devem ser aplicados em dose total, sendo metade do nitrogênio na forma orgânica (15 L de esterco de curral por cova misturado ao solo) e a outra me- tade na forma mineral. O potássio será aplicado 30 a 60 dias a- pós o plantio. No período de desenvolvimento vegetativo, o fósforo deve ser aplicado no começo da estação chuvosa e o nitrogênio e o potássio no início e no fim dessa estação (duas doses iguais). No período de produção, as quantidades dos adubos devem ser fra- cionadas em duas aplicações - antes da floração e no início da frutificação. Nos plantios irrigados, o nitrogênio e o potássio são apli- cados a cada quatro meses, a partir do plantio. O fósforo é apli- cado de uma sóvez. Na frutificação, o nitrogênio e o potássio são aplicados parceladamente - antes da floração e no início da formação dos frutos. 56 7.2 Doenças e Pragas 58 7.2.1 Doenças A mangueira é uma frutífera suscetível a uma grande di- versidade de doenças causadas por fungos, bactérias e outros organismos que podem não só limitar a sua produção, como também comprometer a qualidade dos frutos, o que é particular- mente importante quando se destinam à exportação. O incremento do cultivo da mangueira ocorrido nas últimas décadas foi essencialmente realizado à base da introdução de novas variedades, oriundas de outros países produtores e que, na maioria dos casos, apresentam frutos de grande aceitação no mercado, porém, altamente suscetíveis ao ataque de doenças e pragas. O estabelecimento de um controle integrado dos patóge- nos deverá considerar a sintomatologia, epidemiologia, distribui- ção nas regiões produtoras e índices de danos causados. Além do controle por meio de defensivos, medidas alternativas pode- rão minimizar os prejuízos, como espaçamentos adequados, ex- posição da área, podas, retirada e enterrio de frutos, queima de ramos podados. a) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides, Penz) Considerada a mais importante doença da mangueira em virtude de sua ampla disseminação nas regiões produtoras, resultando em grandes prejuízos na produção e qualidade de sultando em grandes prejuízos na produção e qualidade de fru- tos, esta doença provoca desfolhamento da planta, queda de flores e frutos, perda de qualidade dos frutos, devendo merecer cuidados especiais do produtor. O fungo ataca ramos novos, folhas, inflorescências e fru- tos. Nas folhas, há o aparecimento de manchas escuras e de contornos irregulares, que resultam em lesões ou perfurações quando os tecidos necrosados se destacam. As inflorescências atacadas apresentam flores escuras, tomando o aspecto de queimadas pelo fogo, morrendo a seguir. As lesões na ráquis podem levar à queda dos frutos antes de sua maturação fisioló- gica ou sua mumificação quando ainda novos. No período de maturação, há o aparecimento de lesões escuras e deprimidas na casca, que podem se aprofundar atingindo também a polpa. O fungo poderá sobreviver em ramos secos e em lesões velhas presentes em órgãos que permaneçam no solo. A disse- minação dos conídios se faz através da água de chuva ou irriga- ção, e alta umidade relativa (90-95%) e temperatura mais amena favorecem o desenvolvimento da doença. As várias possibilidades de controle devem ser integradas de tal forma que se obtenha eficiência com menor custo e menor dano ao meio ambiente, recomendando-se: ♣ Escolha de variedades: há variedades menos suscetí- veis, como a Palmer, Paris, Pico e Springfield (Guiné); Early Gold, Florigon, Saigon, Carrie e Edward (EUA); 60 Santa Alexandrina, Espadão, Extrema, Itamaracá, Non- Plus-Ultra, Ubari, Ubá e Tommy Atkins (Brasil). ♣ Implantação e manejo do pomar: evitar a implantação de pomares em regiões climaticamente marginais para a mangueira, como regiões que apresentam chuvas no florescimento. Adequar a escolha de espaçamentos com a execução de podas de arejamento e limpeza. Observar a época adequada para a indução do flores- cimento, evitando-se a coincidência com períodos cli- máticos favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. ♣ Controle químico: deve ser executado a partir do início do desenvolvimento das panículas, quando as flores ainda não se abriram. O número de pulverizações é va- riável de acordo com as condições ambientais e desti- no do fruto (exportação, mercado interno, indústria). Até o vingamento definitivo dos frutinhos, recomenda- se a aplicação de soluções contendo produtos como Benomyl (0,03%), Mancozeb (0,16%) e Tiofanato metí- lico (0,05%), em intervalos de 7 a 15 dias. Após essa fase, poderá ser feita complementação com cerca de mais duas aplicações, alternando com fungicidas cú- pricos ou orgânicos. b) Oídio (Oidium mangiferae, Bert) Responsável por redução da produção, pois além de incidir sobre folhas e brotações novas, poderá atacar as inflo- rescências, impedindo a frutificação. O ataque do fungo caracteriza-se por provocar aspecto de mofo ou pó branco-acinzentado, que recobre brotações e folhas novas, resultando em queda. As flores em formação não conse- guem se abrir e caem. Os frutos infectados, quando pequenos, também podem cair ou então permanecerem presos às panícu- las, rachando e exsudando uma goma esbranquiçada. A incidên- cia sobre as inflorescências é favorecida em épocas de tempera- turas mais baixas e alta umidade, logo após período mais seco. Folhas velhas e panículas que permaneceram na planta de um ciclo para outro constituem-se em fontes de inóculo, favorecendo a esporulação do fungo, principalmente nas áreas mais sombre- adas do interior da copa. A disseminação ocorre através de ven- tos e água de chuva. O controle pose ser feito através de: ♣ Escolha de variedades: as variedades consideradas to- lerantes ao Oídio são a Gondo, Carrie, Sensation, Tommy Atkins, Carlota, Espada, Imperial, Brasil e Oli- veira Neto. ♣ Implantação e manejo do pomar: associar a escolha dos espaçamentos a práticas de manejo, como podas de arejamento e de limpeza. Plantios adensados, pro- 62 porcionando pouca insolação, irão favorecer o desen- volvimento e a disseminação do patógeno. ♣ Controle químico: recomendam-se três aplicações de defensivos nos estádios de flores ainda fechadas, a- pós a queda das pétalas, e, por último, no pegamento dos frutinhos. Entre os produtos, relacionam-se aque- les à base de enxofre, tiofanato metílico, dinocap ou o- xitroquinox. c) Murcha ou Seca da Mangueira (Ceratocystis fimbriata, Ell e Halst) Provoca a murcha e seca dos ponteiros, diminuindo o vi- gor da planta e sua possibilidade de emissão de inflorescências, chegando em fase mais avançada a ocorrer a morte da planta. Os sintomas assemelham-se aos observados quando se queima pelo fogo um ramo da mangueira. Inicialmente há o ama- relecimento das folhas dos ponteiros, seguido de seu secamento, ficando, entretanto, aderidas ao ramo. Há exsudação da seiva em alguns pontos e, com a evolução da doença, ocorre a morte do galho infectado e daqueles situados ao seu redor, que tam- bém vão progressivamente sendo contaminados. Os galhos, troncos ou raízes infectados apresentam sob a casca tecido de coloração escura, em contraste com o tecido sadio. A penetração do fungo no interior da planta ocorre através dos orifícios de galerias abertas pela broca Hypocryphalus mangi- ferae. O mesmo pode permanecer no solo e nos ramos secos e a disseminação é feita além da broca, através de mudas ou solo oriundo de pomar contaminado. A penetração pelas raízes inde- pende de ferimentos e a planta morre rapidamente, ao contrário do que ocorre quando incide na parte aérea, não ocorrendo tam- bém os sintomas descritos. O controle pode ser feito através de: ♣ Escolha de variedades: como porta-enxertos resisten- tes, são mencionados a Espada, Jasmim, IAC-Touro e IAC-Coquinho. As variedades copa apresentam grau de resistência variável de acordo com a região porém, são consideradas resistentes as variedades Rosa, Sa- lina, Oliveira Neto, São Quirino, Espada, Jasmim, Keitt, Sensation, Kent, Irwin e Tommy Atkins. ♣ Aquisição de mudas: adquirir mudas de viveiristas re- gistrados, preferencialmente de locais onde não exis- tam focos da doença. ♣ Realização de inspeções periódicas para identificar a presença da doença. ♣ Poda de ramos atacados, a 40 cm do ponto de infe- ção, e queima das partes podadas. Proteger as partes cortadas com pasta cúprica na qual pode-se adicionar Carbaril a 0,2 - 0,4%. As ferramentas utilizadas na po- da devem ser desinfestadas em hipoclorito de sódio a 2%. 64 d) Podridãode frutos As podridões do pedúnculo e da base do fruto em formação podem ser de difícil controle na fase pós-colheita. Es- sas podridões, além de provocar a queda de frutos, prejudicam sua aparência externa e qualidade da polpa. Condições de alta precipitação e alta temperatura durante a época de colheita favo- recem a incidência de uma série de fungos, dentre os quais, des- tacam-se: Hendersonula toruloidea, Botryodiplodia theobromae, Diplodia natalensis, Diaporthe citri, Pestalotia mangiferae, Asper- gillus flavus. Além de práticas culturais como as podas de arejamento e de limpeza, recomendam-se pulverizações preventivas pré- colheita (15 a 30 dias antes da colheita), com Benomyl (0,03%) ou Oxicloreto de Cobre (2,8 g i.a./L) mais espalhante adesivo, direcionadas principalmente para o pedúnculo e a base do fruto. e) Mancha-Angular (Xanthomonas campestris pv. Mangife- rae indicae) Constitui-se em uma das principais doenças bacterianas da mangueira, ocasionando perdas significativas na produção e limitando a expansão da cultura em determinadas regiões. A bactéria pode atacar folhas, inflorescências e frutos. Nas folhas aparecem manchas angulares, de coloração pardo-escura, delimitadas pelas nervuras e envoltas por halo amarelado, culmi- nando com perfurações nas folhas. Nos ramos observam-se murcha e secamento da parte terminal, rachaduras longitudinais, porém sem queda de folhas. Nas panículas aparecem lesões negras e profundas, com rachaduras e exsudação de goma. Nos frutos as lesões são circulares, verde-escuras, ocasionando ra- chaduras e queda dos mesmos. Se o pedúnculo for atacado, há murcha e mumificação do fruto. Períodos com alta umidade e temperatura oferecem condições favoráveis ao seu desenvolvi- mento. A bactéria pode ser disseminada por mosca-das-frutas, mariposas, cochonilhas e formigas, além da possibilidade via sementes. O controle pode ser feito através de: ♣ Escolha de variedades: são consideradas tolerantes ou com certo grau de resistência, as variedades Haden, Sensation, Kensigton, Carabao e Early Gold. ♣ aquisição de mudas: adquirir mudas de viveiristas re- gistrados, procedentes de regiões que não apresentem alta incidência da doença. ♣ realizar inspeções periódicas, fazendo a erradicação e destruição de plantas altamente atacadas. ♣ controle químico através de pulverizações preventivas, quinzenais, aplicando-se solução contendo oxicloreto de cobre e óleo mineral, quando da ocorrência de sur- tos vegetativos e no florescimento. Deve-se evitar as pulverizações durante as horas mais quentes do dia pela possibilidade de ocorrer queimaduras. 66 f) Malformação vegetativa e floral As enfermidades denominadas malformação vegetativa ou vassoura-de-bruxa e malformação floral ou embonecamento são os principais fatores que limitam a exploração, ocorrendo em al- gumas regiões a erradicação de pomares. Seu agente causal ainda não foi bem definido, mas admite-se que o ataque de fun- gos (Fusarium oxysporum, F. moniliforme, F. moniliforme var. subglutinans, F. decemcellulare, Cillindrocarpon mangiferae), ví- rus e micoplasma, ácaros (Aceria mangiferae), bem como defici- ências nutricionais e distúrbios fisiológicos, hormonais e genéti- cos sejam as acusas mais prováveis da doença. A malformação vegetativa pode ser observada em plantas adultas ou em mudas no viveiro, atingindo as gemas vegetativas. Caracteriza-se pela produção de um grande número de brotos com internódios curtos e folhas rudimentares, semelhantes à vassoura-de-bruxa. Plantas adultas ou mudas afetadas apresen- tam crescimento retardado e, caso sejam fornecedoras de mate- rial propagativo (gemas e garfos), poderão originar plantas que terão o mesmo problema. A malformação floral caracteriza-se por panículas compac- tas, que perdem a sua tradicional forma piramidal em decorrência dos encurtamentos do eixo principal e das ramificações secundá- rias. Forma-se uma massa de flores composta por 3 a 4 vezes mais flores do que o normal, havendo alteração no tipo, quando as hermafroditas são substituídas por masculinas. As inflores- cências são totalmente estéreis, murcham e se transformam em uma massa negra que pode permanecer por vários meses na planta. O fungo sobrevive na planta, nos tecidos vivos ou mortos caídos no chão e principalmente nos órgãos infectados. Sua dis- seminação ocorre por ácaro, insetos e instrumentos de poda. Penetra na planta por ferimentos e é inoculado quando a seiva da planta infectada é transferida para a seiva da planta sadia. Temperaturas amenas favorecem seu desenvolvimento, com menor incidência da anomalia em variedades de floração tardia. É facilmente verificada nos períodos em que a planta emi- te suas brotações e/ou inflorescências. A idade das plantas tam- bém parece influir na propagação da doença, sendo as de cinco a dez anos de idade as mais afetadas, e o índice de ocorrência decresce à medida que a planta vai envelhecendo. A análise de tecidos malformados nos quais se isolou o Fusarium oxysporum var. subglutinans apresentou níveis eleva- dos de etileno, ácido abscísico e giberélico, e baixos de ácido indolacético, resultando em desequilíbrio. As pesquisas têm de- monstrado que a pulverização de substâncias visando a restabe- lecer o equilíbrio dentro da planta pode se tornar uma alternativa de controle. Dessa forma, a aplicação de quelatos específicos, ácido ascórbico, nitrato de prata, metabissulfito de potássio ou ácido naftaleno acético, antes da diferenciação floral, pode resti- 68 tuir o equilíbrio e diminuir o índice de ramos e panículas malfor- madas. O controle pode ser feito através de: ♣ escolha de variedades: na Índia é citada a variedade Bhadavran como a única resistente. No Brasil, as vari- edades Tommy Atkins e Haden apresentam maior sus- cetibilidade para malformação floral, e as variedades Keitt e Palmer, para a malformação vegetativa. ♣ aquisição de mudas: evitar mudas oriundas de viveiros onde há grande incidência de enfermidades. Conside- rar a origem do material de propagação (gemas, gar- fos). ♣ inspeções periódicas e podas: logo após a identifica- ção das plantas com os sintomas, realizar poda dos ramos e eliminação das panículas. As ferramentas uti- lizadas nas podas devem ser imersas, após cada corte, em solução composta por 1 parte de água sanitária pa- ra 3 partes de água. Queimar o material podado. ♣ erradicação de plantas: plantas podadas em uma pri- meira etapa e que voltarem a apresentar novamente índices elevados de malformação devem ser arranca- das e queimadas. ♣ pulverização de quelatos (Mangiverin Zn2+ e Mangife- rin Cu2+), ácido ascórbico, nitrato de prata, metabis- sulfito de potássio ou ácido naftalenoacético (200 ppm), três meses antes da floração. ♣ controle químico de ácaros (enxofre molhável ou qui- nomethionate) na fase pré-florescimento, bem como pulverizações com benomyl e outros defensivos reco- mendados para controle de oídio e podridão-seca re- duzem as possibilidades de ocorrer a malformação. g) Colapso interno do fruto Esta enfermidade ou distúrbio fisiológico é conhecido co- mo amolecimento da polpa, coração mole, podridão aquosa e podridão interna do fruto. Em outras regiões produtoras de man- ga no mundo, é denominada de soft-nose, internal breakdown, internal physiologycal flesh breakdown, prematur ripening, stem end breakdown e jelly seed. Além da diversidade de denomina- ções e de sintomas relatados, existem controvérsias quanto à sua etiologia, havendo a associação com fatores genéticos, fitos- sanitários, nutricionais e edafoclimáticos. O colapso interno pode aparecer em frutos que se encon- tram nos estádios iniciais de maturação e também após colhidos. Inicialmente ocorre a desintegração do sistema vascular na região de ligação pedúnculo/endocarpo, ocorrendo a separação da semente dos tecidos ao seu redor. Ao se fazer um corte longi- tudinal no fruto, observa-seclaramente um espaço vazio entre a semente e o pedúnculo. A polpa começa a se desintegrar, toma 70 o aspecto gelatinoso, muda de coloração alaranjada-amarelada para alaranjada-escura e, em estádio avançado, torna-se aquo- sa, com odor de fermentação. Esses sintomas manifestam-se internamente no fruto, enquanto na parte externa quase não se notam alterações muito visíveis. Em alguns casos há o apareci- mento de manchas mais claras, principalmente na base do fruto. As pesquisas destinadas à verificação dos agentes res- ponsáveis pelo distúrbio incluíram, entre outros, estudos na área patológica (Xanthomonas), nutricionais (N, Ca, K, B, N/Ca, N/K), comportamento varietal e ponto de colheita (colheita precoce ou de vez reduziria o colapso). Contudo, há um certo consenso de que o problema não seja de origem patológica e sim fisiológica, provavelmente em decorrência de desequilíbrio nutricional. O controle pode ser feito através de: ♣ Escolha de variedades: as variedades poliembriônicas e fibrosas como Espada, Rosa, Coquinho e Rosinha são mais resistentes, ao passo que variedades melho- radas, como Tommy Atkins, Van Dicke, Zill, Kent, Keitt, Irwin e Sensation apresentam maior incidência do dis- túrbio. ♣ Controle nutricional: elevar a saturação de bases (V%) para 70%, através de aplicação de calcário e comple- mentar com pulverização de nitrato de cálcio sobre a planta. Valores iguais ou superiores a 2,5% de cálcio na matéria seca das folhas reduzem a ocorrência do colapso. ♣ Controle cultural: colher os frutos o mais precocemente possível (de vez), prática que também reduz o índice de colapso interno. h) Outras doenças Além das doenças descritas, são relatadas outras que po- derão assumir importância econômica, como murcha-de- esclerócio (Sclerotium sp.), verrugose (Elsinoe mangiferae), mofo (Botrytis cinerea), morte-descendente ou podridão-seca-da- mangueira (Botryodyplodia theobromae). 7.2.2 Pragas A mangueira é hospedeira de diversas espécies de inse- tos e ácaros, e a importância econômica das mesmas geralmen- te varia em função da região e das variedades que compõem o pomar. Em regiões produtoras, o ataque de pragas, tais como co- chonilha e mosca-das-frutas tem preocupado demais os mangi- cultores, uma vez que provocam queda de produtividade, diminu- ição da qualidade dos frutos, além de dificultar a comercializa- ção. 72 a) Mosca-das-frutas As moscas das frutas constituem-se na mais importante praga da fruticultura mundial, ocasionando a destruição da polpa dos frutos e facilitando a penetração de outras pragas e doenças. Além dos prejuízos na produtividade e qualidade, constituem-se numa das principais barreiras ao aumento das exportações, uma vez que os países importadores estabelecem medidas quarente- nárias extremamente rigorosas. Os seguintes gêneros e espécies são os mais comuns: Anastrepha fraterculus, Anastrepha obliqua, Anastrepha serperti- na, Ceratitis capitata. No Brasil, a Anastrepha obliqua é a principal espécie a a- tacar os frutos da mangueira. Os insetos adultos abrigam-se nas hospedeiras circunvizinhas ao pomar, onde se reproduzem. As fêmeas ovopositam abaixo da casca dos frutos, ainda imaturos. Ocorre então a eclosão das larvas que penetram na polpa. Du- rante seu desenvolvimento, a larva passa por três estádios e, em seguida, abandona o fruto e empupa no solo (1 a 10 cm de pro- fundidade). O adulto emerge da pupa e aflora à superfície em condições de acasalar, completando, dessa forma, o ciclo bioló- gico. Este pode variar entre 31 a 43 dias, com as fêmeas vivendo em média 10 meses, período em que põem cerca de 800 ovos. O controle pode ser feito através de várias metodologias, preferencialmente de forma associada, compondo um programa integrado com maior eficiência e menor custo. 1) Método Químico: a aplicação de defensivos só é reali- zada a partir do momento em que o monitoramento periódico indicar uma população mínima de insetos adultos. De acordo com Cunha et al. (1994), a detecção das moscas pode ser feita da seguinte forma: ♣ frascos adequados ao controle da mosca, usualmente encontrados no mercado, deverão conter uma solução composta por hidrolizado enzimático de proteína (5%) em solução aquosa com 5% de bórax (tetraborato de sódio). ♣ distribuir os frascos ou armadilhas, devidamente nume- rados, em locais sombreados, sob a copa das árvores, em número médio de 3 armadilhas/km2. ♣ realizar vistorias nas armadilhas a cada 7 dias, proce- dendo-se à coleta dos insetos em peneira de malha fi- na, que são colocados em frascos contendo álcool a 70%. Nessa ocasião, serão feitas ainda a limpeza da armadilha e a substituição de solução atrativa. A pre- sença de pelo menos 5 moscas por armadilha indica a necessidade do controle químico. Haji (1995) reco- menda a aplicação de isca tóxica constituída por mela- ço de cana ou proteína hidrolisada, associada a um in- seticida (Malathion), na proporção de 200 mL de mala- thion, 7 L de melaço ou 1 L de proteína hidrolisada pa- 74 ra 100 L de água. As aplicações devem ser feitas em cobertura, utilizando-se um pulverizador costal com bi- co leque ou um pulverizador tratorizado, pulverizando- se em intervalos de dez dias, 100 mL da calda por planta, a cada cinco fileiras (ruas), procurando-se atin- gir a face inferior da folhagem. As aplicações deverão ser feitas nas horas menos quentes, pela manhã ou ao final da tarde. Deve-se obedecer criteriosamente às observações sobre o preparo e aplicação do inseticida, inclusive o período de carência. Outra metodologia de aplicação é sugerida por Cunha et al. (1994), através de solução contendo 200 g de produto à base de Tric- hlorfon (80%) ou 200 mL de Malathion em 100 L de água, nos quais são adicionados 5 kg de melaço. A- pós a homogeneização da solução, a mesma é asper- gida em 1 m2 da copa de cada planta. 2) Controle cultural: consiste em evitar a permanência de frutos maduros nas plantas e também a coleta dos frutos caídos no chão, que deverão ser enterrados ou queimados. 3) Controle biológico: este método ainda é pouco utilizado; porém, poderá se tornar fundamental, considerando-se o aspecto de conservação do meio ambiente. São relacionados como ini- migos naturais de Anastrepha sp. insetos da família Braconidae, que parasitam suas larvas e pupas. Destaca-se também a utiliza- ção da técnica de macho ou inseto estéril, em que machos ou fêmeas esterilizados são disseminados nos pomares, visando a diminuir os acasalamentos férteis, reduzindo a população da pra- ga. 4) Controle normativo: estabelecimento de normas ou leis que determinem padrões de procedimento para o trânsito de produtos hortícolas de região para região, evitando-se a dissemi- nação da praga. 5) Controle pós-colheita: países importadores como Esta- dos Unidos e Japão limitam o uso de dibrometo de etileno, tradi- cionalmente utilizado na fumigação de frutas. Isso levou o Brasil a aplicar outras metodologias de controle na fase pós-colheita, tais como: tratamento hidrotérmico, tratamento a frio, tratamento a vapor quente, tratamento a ar quente e radiação gama. Os de- talhes desses métodos são relacionados no capítulo que aborda a colheita e pós-colheita de mangas. b) Broca-da-mangueira (Hypocryphalus mangiferae, Steb- bing) Esta praga tem como único hospedeiro a mangueira, e as- sume importância econômica por ser o vetor do fungo Ceratocys- tis fimbriata, causador da seca da mangueira. 76 O inseto é atraído pelo fungo através de odor liberado pelo patógeno e, ao se alimentar do mesmo, inocula-o na planta atra- vés de aberturas de galerias. O ataque se inicia pelos ramos no- vos, na região entre o lenho e a casca, avançando para os ga- lhos inferiores até atingir o tronco. Como sintoma inicial, há exsu- dação de goma e presença de tecido vegetal pulverizado (pó de serra). A presença do fungo ocasiona a morte dos galhos
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