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O QUE É EDUCAÇÃO, EDUCADOR? A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PARA PROFESSORES E DIRETORES DE ESCOLAS DA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ-SC SCHLÖSSER, Adriano – UNIVALI adriano.psicologia@yahoo.com.br FONTOURA, Léia Viviane – UNIVALI leiavf@univali.br ROSA, Gabriel Fernandes Camargo – UNIVALI preyface@hotmail.com CUNHA, Maiara Pereira – UNIVALI maiara_pereira@yahoo.com.br Eixo Temático: Didática: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Pensar em educação é, antes de tudo, pensar em qual cidadão a sociedade anseia em seu meio, haja vista que a educação é um passaporte para o convívio social. Neste quesito, a escola, sendo uma das facilitadoras deste processo, tem por finalidade possibilitar espaços onde tais sujeitos possam desenvolver-se, mediante um processo dialético que se estabelece entre a socialização e individuação de cada estudante, objetivando a construção da autonomia, através da formação de indivíduos capazes de assumir uma postura crítica frente ao Mundo. Com efeito, o presente trabalho busca compreender e analisar a concepção de educação de docentes de escolas – tanto públicas quanto privadas – da região do Vale do Itajaí. Foram realizadas entrevistas em 11 escolas de municípios distintos, participando destas 11 professores e 11 diretores, todas do sexo feminino, totalizando 22 entrevistas, sendo solicitado aos participantes que estes definissem o que era educação, sendo tais entrevistas gravadas, após o consentimento de todos os participantes, através do Termo Livre e Esclarecido. As entrevistas foram transcritas e analisadas mediante a técnica de Análise de Conteúdo, sob o enfoque teórico da psicologia sócio-histórica. Como resultados, constatou-se que diversos educadores não tem uma conceituação clara do que é educação, trazendo diversos conceitos oriundos de sua prática docente. Contudo, na maioria dos casos, tais profissionais observam a educação como algo dinâmico e vinculado ao desenvolvimento, que abarca diversos conhecimentos que atravessam os muros escolares e contribuem para o desenvolvimento social dos estudantes, mediante um olhar crítico e reflexivo da sociedade em que tais sujeito se inserem. 6532 Palavras-chave: Educação. Psicologia Educacional. Prática Docente. Introdução Todo espaço é um espaço de educação. Viver é um processo constante e dialógico de educação, de educar e ser educado. O ser humano, nas diversas esferas relacionais no qual participa – sejam elas na família, na escola, na igreja, nos clubes – está sempre aprendendo algo, mediada pelos mais variados motivos: aprender para saber, para conviver, para fazer ou mesmo para ser (BRANDÃO, 1993). Sendo assim, vida e educação estão interligadas entre si. Partindo disso, há de se mencionar que são diversos os referenciais teóricos que buscam explicar o que é Educação, cada um seguindo determinado enfoque específico, de acordo com sua visão de homem e de Mundo (RAMOS, 2008). Com efeito, a palavra Educação tem sido utilizada, como discorre Durkheim (1955) num sentido mais ampliado, sendo normalmente designada para explicar “[...] o conjunto de influências que, sobre nossa inteligência ou sobre nossa vontade, exercem os outros homens, ou, em seu conjunto, realiza a natureza” (p.25). Kant (2002) complementa esta idéia ao ponderar que a função final da educação é desenvolver nos indivíduos toda a perfeição que este seja capaz, sendo que educação deve pensar no sujeito como um todo, e não fragmentá-lo à apenas uma dimensão – como exclusivamente para o trabalho, por exemplo. Freitas (1994) e Brandão (1993) pontuam a educação como forma de pensar o tipo de cidadão que a sociedade deseja, ajudando a criá-lo, mediante formas de passar adiante saberes e costumes que legitimem determinadas formas de pensar e agir, tais como: valores, crenças, rituais, hábitos, etc. Com efeito, tal consideração continua em voga em discussões atuais, podendo-se citar autores como Rocha (2004), que também salienta a concepção de que a educação favorece a criação de normas e valores que, por sua vez, dão movimento às subjetividades. Desta maneira, ao propor uma percepção em que a sociedade como um todo é co- responsável por cada cidadão que dela faz parte, vislumbra-se uma ruptura acerca da noção comumente empregada, que delega à escola a função de ser a principal – e por vezes considerada a única – instituição responsável pelo processo de educação. Sendo assim, adentramos na noção de que a educação ocorre em quaisquer redes sociais onde possa haver transferência de saber, e não apenas nas instituições formais de ensino. É imperioso analisar quais são as forças histórico-ideológicas que permeiam a definição de educação. Ou seja, a educação é considerada como prática pedagógica voltada 6533 para emancipar e transformar os sujeitos, tornando-os conscientes, reflexivos e autores de suas vidas (FREIRE, 2003), ou ainda está alicerçada em interesses opressores e dominadores, que objetivam nada mais do que privar os sujeitos de sua consciência crítica, deixando-os alienados e desprovidos de seus direitos enquanto ser humano? Bock e Aguiar (2003), ao explorar as propostas de Paulo Freire, enfatizam a importância de valorizar os conhecimentos de cada sujeito, considerando que o processo de ensinar deve levar em consideração os saberes dos educandos. Assim, faz-se necessário visar uma associação das disciplinas com a realidade vivenciada pela população envolvida com o processo de ensino-aprendizagem, haja vista toda a construção de saberes e representações que contribuem para a compreensão da realidade vivencial, elaborada por essa mesma população. Neste aspecto, vale ressaltar que a própria formação do corpo docente nas universidades, muitas vezes, acaba por contribuir para uma perspectiva de opressão e dominação, haja vista que o que tais profissionais aprenderam na academia tende a se reproduzir nas salas de aula. Condição esta já presente, e amplamente discutida, em várias obras da literatura nacional especializada, destacando-se entre elas os processos de produção do fracasso escolar abordado por Maria Helena de Souza Patto (1990), Machado (2000) e outros. Tal noção acaba por levar os professores a idealizarem um tipo de aluno – patologizando aqueles que não compõem o conjunto de definições de “aluno ideal” –, ou a buscarem, através de sua prática educacional, promover a consciência crítica de seus educandos, levando-os a serem participantes ativos no processo ensino-aprendizagem, conscientizando-os e capacitando-os, visando retirá-los de uma consciência alienada para uma consciência crítica da sociedade no qual participa (BOCK e AGUIAR, 2003). Por fim, apoiando-se no que pontua González-Rey (2004, p.36) “a meta fundamental da educação consiste em formar um indivíduo capaz de tornar-se sujeito de seus conhecimentos”. Para isto, o referido autor salienta que a escola deve propiciar uma cultura de proximidade professor-aluno, no intento de favorecer o desenvolvimento da comunicação, respeito e reflexão, por meio da estimulação do diálogo e do ‘colocar-se no lugar do outro’. Desenvolvimento 6534 Metodologia O objetivo do presente artigo é o de compreender e analisar a concepção de educação junto a docentes de escolas – tanto públicas quanto privadas – da região do Vale do Itajaí e cidades aos redores. As escolas escolhidas atendem demandas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Para tanto, foram entrevistados 22 educadores, sendo 11 professores e 11 diretores, em 11 escolas – 06 escolas da rede pública e 05 da rede privada – da região já mencionada. O enfoque metodológico foi de natureza qualitativa, cujo utilizou-se de entrevista semi-estrutura, partindo da seguinte questão: “Qual a sua concepção de educação?” Para tanto, os pesquisadores entraram emcontato com as instituições para apresentar o projeto, bem como verificar a disponibilidade destas para participarem da pesquisa. Vencida esta etapa, foram solicitadas 2 entrevistas por escolas, sendo uma delas com o diretor da instituição e outra com algum professor disponível no momento. As entrevistas ocorreram nas próprias instituições de ensino, sendo elas gravadas e posteriormente transcritas. Com relação a isso, foi entregue aos participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual estes permitem a utilização do material para o uso em pesquisa acadêmica. Ademais, as respostas foram analisadas mediante a técnica de análise de conteúdo, com base em referenciais de abordagem histórico-cultural como delimitador de enfoque teórico. As falas serão apresentadas no corpo da “análise e discussão dos resultados”, sendo estas identificadas por siglas enumeradas – “E1”, por exemplo –, preservando assim a identidade do participante da pesquisa. Análise e Discussão dos Resultados De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional (LDB – Lei n. 9394/96), a filosofia geral de educação deve ser voltada para a construção da cidadania, o desenvolvimento das potencialidades do educando e a preparação para o trabalho, preservando a legitimidade de definir os objetivos da educação escolar em torno de metas socialmente relevantes. Sendo assim, a educação é tida em nossa sociedade como uma oportunidade para o desenvolvimento, não só porque permite a apropriação dos conceitos 6535 científicos, mas também pela ampliação das redes de relação que proporciona, e por isso deve ser de qualidade. Vygotsky (1995) ao afirmar que o homem é constituído e constituinte nas e pelas relações sociais, pois este se relaciona na e pela linguagem no campo das intersubjetividades, onde as interiorizações dos signos estão ancoradas em nossas vivências, em nossas relações, construindo nossa postura no mundo, com uma ética, coloca a Educação com importante papel para a constituição dos sujeitos. Para Freire (2003), a Educação é um ato político enquanto ato de conhecimento, portanto, tem sempre uma finalidade social. Isto remete a afirmação de que “a educação tem sempre uma finalidade social. Sempre que estivermos na prática educativa estaremos, queiramos ou não, promovendo uma determinada sociedade e um determinado tipo de cidadão”. (BOCK e AGUIAR, 2003, p.145). Com efeito, quando questionados sobre o que era educação, houve como perceber o conhecimento das premissas salientadas em algumas das respostas, como no caso de E1, por exemplo: “(...) é um conjunto de conhecimentos, valores, costumes, que a criança vai incorporando ao longo de sua vida e incorporando ao seu modo de pensar e agir, tornando-a um ser autônomo e feliz”. Outro recorte de discurso em que a referida condição fica passível de observação é o de E2, ao dizer: “(...) temos uma preocupação muito grande em relação a um ensino investigativo que leve a uma reflexão crítica reflexiva sobre este contexto no qual os alunos estão inseridos, que o aluno seja alguém com autonomia, consciente de suas responsabilidades (...)”. Nestes discursos – sobretudo no último –, ao retomar a posição já considerada anteriormente, acerca do principal objetivo da educação estar atrelado a uma formação que propicie às pessoas a possibilidade de serem sujeitos de seus conhecimentos (GONZÁLEZ- REY, 2004). Os conceitos de educação apontados incorporam o intuito de formar cidadãos conscientes e aptos para viver em sociedade, sendo tal conceituação também proposta pelo Inep (2008 apud FONTOURA, 2009), pois este coloca como objetivo da educação suscitar e desenvolver na criança aspectos levantados pela sociedade e pelo meio ao qual a criança se destina, e isso se dá por meio da ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações mais jovens, em preparo para sua vida social. Ademais, o objetivo central da educação, segundo o Ministério da Educação (2008 apud FONTOURA, 2009) é a construção de autonomia, que possibilite a formação de pessoas com postura crítica frente ao Mundo. Não obstante, a educação, para diversos entrevistados, não se fixa apenas no perímetro escolar, mas engloba todo um conjunto de experiências e aprendizagens que extrapolam os 6536 muros institucionais. Evidenciando tal noção, há como destacar discursos como o de E3, quando aponta que “Educação é tudo, pois prepara a pessoa para a vida, trabalhando valores (...) enfim, amplo demais pra ser definido”, ou então o de E4, quando esta também remonta a uma perspectiva de que educação “é tudo, não só transmitir o conhecimento do livro, mas um aprender contínuo, porque só existe aprendizagem quando há desenvolvimento”. Seguindo esta mesma linha de raciocínio, E5 apresenta, também, outra ressalva: “Educação é um processo dialético de construção constante”. Neste sentido, elencado por E5, lembra-se que o Ministério da Educação (2008 apud FONTOURA, 2009) reconhece na educação uma face do processo dialético que se estabelece entre a socialização e individuação da pessoa, que tem como objetivo a construção da autonomia, possibilitando a formação de indivíduos capazes de assumir uma postura crítica frente ao Mundo. Frente a isso, González- Rey (2004) afirma que a escola é uma instituição eficaz, porque é nela que o indivíduo vivencia toda sua infância e grande parte de sua juventude. Sendo assim, a escola é responsável pela continuação recebida em casa. A escola deve estar orientada a formação da personalidade do educando, formando um indivíduo seguro, criativo e interessado, que saiba fazer uso adequado do conhecimento adquirido aplicando-o nas diferentes exigências que a vida lhe apresente. Para tanto, Guará (2003) vem ao encontro dos discursos apontados nas entrevistas, afirmando que a educação precisa ir além da garantia formal do acesso a escola, possibilitando o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes, propiciando a estes aprendizagens em todos os âmbitos da vida tanto pessoal quanto social. Neste contexto, Bock e Aguiar (2003) discorrem que a educação escolar promulga regras de conduta, privilegia valores, reforça visões de Mundo e leituras da realidade, divulga conhecimentos e promove a concepção para a produção da vida. Logo, é por meio da educação que o sujeito passa a ter condições de inserir-se na sociedade, podendo ou não ter uma visão crítica desta. Esta característica é vislumbrada na fala de E6, quando apresenta uma noção de que educação “é abrir oportunidade para a criança se expressar/comunicar, e através disso oportunizar à mesma um conhecimento que seja significativo para seu crescimento, dando liberdade e vai percebendo o que vai aparecendo e trabalha com isso que aparece”. Contudo, nem todos os educadores entrevistados demonstram tal clareza na definição de educação, trazendo em suas respostas questões que merecem ser ponderadas. E7, por 6537 exemplo, comenta que “educar é cuidar das crianças, instruindo-as, pra que elas sejam alguma coisa no futuro”. Percebe-se neste discurso, uma dimensão semelhante ao que Bock e Aguiar (2003), ao analisarem as teorias pedagógicas e suas influências no modelo de formação dos indivíduos, relatam sobre a escola gerida como uma espécie de fortaleza, de onde entrariam sujeitos egoístas e despreparados (pedagogia tradicional) e, em seu ambiente – protegidos da corrupção da sociedade e também da própria fragilidade da condição humana –, (pedagogia nova) sairiam cidadãos prontos para viver civilizadamente em sociedade. Com efeito, esta noção parte do pressuposto de que cada pessoa é portador de certas características inerentes a sua condição, mas que devem ser desenvolvidas conforme os esforços pessoais e do meio. Logo, é neste contexto que a escola adentra como detentora de uma salvação, tendo em seu cerne as possibilidades quecada indivíduo possui para desenvolver-se da melhor maneira possível. Outro aspecto perceptível diz respeito à imprecisão na definição do termo educar, mais passível identificação na fala de E8: “para mim, educação, aprendizagem e desenvolvimento humano caminham juntas, pois para que haja educação, deve haver desenvolvimento. Eles devem ser trabalhados em conjunto, para que haja educação”. O que pôde-se observar, tanto no discurso de E7, quanto na fala de E8, uma compreensão da educação como uma possibilidade que vinculada a outros processos, como a aprendizagem, o desenvolvimento e o cuidado, por exemplo. Estes termos são conferidos e debatidos comumente na literatura com grande atenção e zelo, haja vista que eles podem desencadear em significações deturpadas, comprometendo as práticas subjacentes (MARANHÃO, 1998; BIASI, 2009). No entanto, ao retomar a questão da imprecisão na definição, Salles (2010) argumenta que ao partir da noção de que os sujeitos se subjetivam em meio a um processo historicamente datado e espacialmente circunscrito, determinados processos aparecem como aquilo que acontece em nossa subjetividade, para a qual não somos capazes de defini-la ou explicá-la. Assim, levando em consideração toda a complexidade envolta a educação, torna-se válido refletir também acerca do que Wickert (1998, p.44) levanta, ao escrever que “o pensar e o sentir diferente nos mostra que a cultura não dá conta de tudo, que a subjetividade escapa aos padrões sociais e que o saber psicológico não abarca nenhum ser humano em sua totalidade”. Entretanto, em meio aos discursos que poderiam deflagrar uma dada confusão no termo, houve também discursos que apontam o desconhecimento do conceito. Dentre as falas 6538 que remontam a tal conclusão, E9 apresenta uma das mais flagrantes: “É uma prática particular de cada professor, então não tem algo pronto”. Outro discurso a ser destacado, diz respeito ao de E10: “Vocês querem saber a verdade? Cada um faz do jeito que acha que deve, faz o que quer. Vai da interpretação de cada um. No papel é lindo, mas na prática cada grupo de professores puxa pro seu lado”. Constata-se, tanto no que pondera E9, quanto no que remonta E10, um total desconhecimento do que seria, de fato, educação, o que interfere diretamente nos processos de ensino-aprendizagem dentro do espaço educacional. Neste aspecto, vale ressaltar que a LDB – Lei n. 9394/96, em seu Título I, Art. 1 concebe a educação como incluindo os processos formativos que perpassam a convivência humana, a vida familiar, o trabalho, as instituições de ensino, organizações da sociedade civil, dentre outras instituições sociais (DEL PRETTE, 1999). Além disso, observa-se o senso comum nas respostas trazidas, impactando assim na prática pedagógica de tais professores, uma vez que a escola é um espaço de aprendizagem, e para isso se pressupõe planejamento, instrução e seleção de conteúdos a serem tratados, pedagogicamente (OLIVEIRA, SOUZA e BAHIA, 2005). Este dado corrobora com o encontrado na pesquisa de Rapoport e Silva (2006), que investigaram a utilização de referenciais teóricos na prática docente e concluem que a maioria dos 34 professores entrevistados “[...] executam uma prática descontextualizada de uma teoria, guiando-se pelo senso comum e intuição”. Considerações Finais A educação é um fato social na sociedade humana, que ocorre de forma global sobre a integralidade do ser humano, em todas as épocas, lugares e circunstâncias sócio-históricas. Todas as nossas relações com as coisas, com os outros, com o tempo ou com o espaço nos possibilitam adquirir um novo conhecimento, além de nos possibilitar o ato de sermos mediadores no processo de mudança de uma pessoa. Compreendemos a educação formal como fenômeno social concreto, entendida como processo histórico, exercida nas instituições escolares que estão geograficamente situadas em comunidades. A escola à medida que organiza e sistematiza os conteúdos escolares, proporciona nos sujeitos a formação de conceitos científicos e deve tomar como ponto de 6539 partida o Nível de Desenvolvimento Real da criança e interferir na Zona de Desenvolvimento Proximal, provocando avanços que só acontecem através dessa mediação, já que a criança sozinha não aprende (VYGOTSKY, 1995). Neste sentido, o terreno concreto onde se desdobram as práticas escolares é o impulso, desenvolvimento e complexização crescente dos processos psicológicos superiores. O papel do professor é ser essa mediação que proporcione o avanço nos níveis de desenvolvimento e a introdução dos conceitos científicos. Para efetivação desta função, é fundamental a compreensão do docente da importância social que desempenha no ato pedagógico, partindo de sua concepção de educação escolar. Com a pesquisa constatou-se que alguns educadores, deste estudo, não tem uma conceituação clara do que é educação, trazendo conceitos oriundos de sua prática docente, indicando o senso comum do objeto de trabalho da atividade profissional do professor. É com base na concepção de Educação do docente que a prática pedagógica é realizada, desde o planejamento e avaliação das suas aulas, até a forma de relação que estabelece com os estudantes. Certamente este dado é preocupante e indica a fragilidade dos cursos de formação docente. Para tanto, faz-se válido retomar ao que Guará (2003) já pondera como um desafio da educação brasileira que, embora a política educacional demonstre dados que demonstram relativa eficácia – refletidas no aumento de matrículas, por exemplo –, ainda apresenta defasagem, no que diz respeito a questões como a aprendizagem escolar. Complementando este aspecto, Molon (2002) ao refletir sobre aspectos ligados a formação continuada, argumenta acerca de uma necessidade de formação docente que contemple tais desafios, circunscritos na contemporaneidade dos contextos educativos. Assim, mesmo sabendo que a realização de pesquisas que abordem a formação docente não seja algo inédito, faz-se importante salientar a importância de mais pesquisas e, sobretudo, publicações que forneçam dados acerca do atual panorama da educação em nosso país. Tal condição implica não só na constante busca por adequação a realidade que um sistema educacional vivencia, como também contribui para que haja mobilizações para modificações estruturais e políticas neste âmbito. Contudo, na maioria dos casos, tais profissionais observam a educação como algo dinâmico e vinculado ao desenvolvimento, que abarca diversos conhecimentos que atravessam os muros escolares e contribuem para o desenvolvimento social dos estudantes, mediante um olhar crítico e reflexivo da sociedade em que tais sujeitos se inserem. E assim, 6540 no intento de incitar uma reflexão, no tocante a desenvolvimento de futuros trabalhos, faz-se válido retomar a consideração de que a educação – seja qual for a definição escolhida – necessita contemplar uma proposta que abranja o desenvolvimento do pensamento crítico, motivando a formação de critérios individuais acerca das questões que permeiam a vida cotidiana dos educandos, favorecendo assim uma produção de conhecimento amarrada à consciência de sua importância social (MOLON, 2002; GONZÁLEZ-REY, 2004). REFERÊNCIAS BOCK, A. M. B. e AGUIAR, W. M. J. Psicologia da Educação: em busca de uma leitura crítica e de uma atuação compromissada. In: BOCK, A. M. B. (Org.). A perspectiva sócio- histórica na formação em psicologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. BIASI, S. V. O professor e qualidade de ensino: uma análise a partir dos resultados do SAEB na escola pública do Paraná. 2009. 137f. 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