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Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância CED Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais. Elaborado Por dr Jacinto Música, Licenciado em ensino de História pela UP, Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de Ensino à Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM. Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância-CED Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa· Moçambique-Beira Telefone: 23 32 64 05 Cel: 82 50 18 44 0 Fax: 23 32 64 06 E-mail: ced @ ucm.ac.mz Website: www. ucm.ac.mz Agradecimentos A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual, dr. Jacinto Jacinto Música, gostaria de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela Coordenação e edição dra.Georgina Nicolau HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV i Índice Visão geral 1 Benvindo a HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II. A Colocação do Homem no centro da atenção e o Renascimento Cultural ................................................................................ 1 Objectivos da cadeira .................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2 Como está estruturado este módulo................................................................................ 3 Ícones de actividade ...................................................................................................... 3 Acerca dos ícones ........................................................................................ 4 Habilidades de estudo .................................................................................................... 4 Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 6 Avaliação ...................................................................................................................... 6 Unidade I 9 Introdução ao Estudo da História das Sociedades ........................................................... 9 Introdução ..................................................................................................................... 9 1.1. Conceito de Sociedade e de Cultura ............................................................ 9 1.2. Noção de Grupo Social e sua Natureza ........................................................ 11 1.3. Características dos Grupos ........................................................................... 12 1.4. As Categorias do Social ............................................................................... 13 Sumário ....................................................................................................................... 14 Exercícios.................................................................................................................... 14 Unidade II 16 Padrões Culturais......................................................................................................... 16 Introdução .......................................................................................................... 16 2.1. Os Tipos de Padrões Culturais ..................................................................... 16 2.2. Os Vários Conceitos de Cultura ................................................................... 17 2.3. Dinâmica da Cultura – algumas considerações importantes .......................... 20 2.4. Conceitos básicos dentro do Contexto Cultural ............................................ 20 2. 4.1. Os Níveis da Cultura ................................................................................ 24 2.4.2. Aprendendo Conceitos: ............................................................................. 27 Sumário ....................................................................................................................... 29 Exercícios.................................................................................................................... 30 Unidade III 31 A Exaltação de uma Nova Época ................................................................................. 31 Introdução .......................................................................................................... 31 3.1. Processo de Surgimento do Homem ............................................................. 32 3.2. A Expansão ................................................................................................. 33 HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV ii Sumário ....................................................................................................................... 34 Exercícios.................................................................................................................... 34 Unidade IV 36 O Facto Social, a Unicidade do social e a Politicidade do social. ................................. 36 Introdução .......................................................................................................... 36 4.1. O facto social: definição, natureza e identificação. ....................................... 36 4.2. Características do facto social ...................................................................... 37 4.3. A Unicidade do social e a politicidade do social .......................................... 39 4.4. Implicações Antropológicas da Sociabilidade do ser Humano ...................... 41 Sumário ....................................................................................................................... 42 Exercícios.................................................................................................................... 42 Unidade V 44 O Lugar da História Social e Cultural nas Ciências Sociais .......................................... 44 Introdução .......................................................................................................... 44 5.1. A História Social e a Demografia ................................................................. 44 5.2. A História Social e a Geografia Humana ...................................................... 45 5.3. A História Social com a Etnologia ............................................................... 45 5.4. História social e a economia ........................................................................ 45 5.5. História social com a sociologia ................................................................... 46 5.6. História social com ciências políticas ........................................................... 46 5.7. A Interdisciplinaridade das Ciências Sociais ................................................ 47 Sumário .......................................................................................................................49 Exercícios.................................................................................................................... 49 Unidade VI 51 Organização Social das Comunidades de Caçadores e Recolectores ............................ 51 Introdução .......................................................................................................... 51 6.1. Organização Social das Comunidades de Caçadores e Recolectores ............. 51 Sumário ....................................................................................................................... 54 Exercícios.................................................................................................................... 54 Unidade VII 56 As Primeiras Representações dos Padrões Sócio - Culturais ........................................ 56 Introdução .......................................................................................................... 56 7.1. As Primeiras Representações dos Padrões Sócio-Culturais........................... 56 Sumário ....................................................................................................................... 58 Exercícios.................................................................................................................... 58 Unidade VIII 60 A Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais ............................. 60 Introdução .......................................................................................................... 60 8.1. A Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais no Nordeste de África: ............................................................................................ 60 HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV iii 8.1.1. O Egipto ................................................................................................... 60 8.1.2. O Méroe ................................................................................................... 62 8.1.2.1 Organização político-social ..................................................................... 62 8.1.3. O Reino de Axum ..................................................................................... 62 8.1.4. Suméria .................................................................................................... 65 Sumário ....................................................................................................................... 68 Exercícios.................................................................................................................... 68 Unidade IX 70 O Processo Dinástico na China Antiga ........................................................................ 70 Introdução .......................................................................................................... 70 9.1. O Processo Dinástico na China Antiga ......................................................... 70 9.2. Condições Naturais da China Antiga............................................................ 70 9.3. O Poder do Estado e a Estratificação Social ................................................. 71 9.4. Classes sociais ............................................................................................. 72 9.5. A Religião ................................................................................................... 73 Sumário ....................................................................................................................... 73 Exercícios.................................................................................................................... 73 Unidade X 75 O Sistema de Castas na Índia na Índia Antiga .............................................................. 75 Introdução .......................................................................................................... 75 10. As Sociedades Fluviais Antigas .................................................................... 75 O Vale do Indo e a Índia Antiga ......................................................................... 75 10.1. Situação Geográfica ................................................................................... 75 10.2. Condições Naturais: ................................................................................... 76 10.3. População e a Conquista Ariana ................................................................. 76 10.4. A Sociedade e a Estratificação Social: ....................................................... 77 10.5. A Formação de Estados e a Unificação da Índia ......................................... 78 10.6. O Império Mauria ...................................................................................... 78 10.7. A Dinastia Gupta ....................................................................................... 80 10.8. A Religião ................................................................................................. 81 10.8.1 A Religião dos Brâmanes (O Bramanismo ou o Hinduismo) .................... 81 10.9. A Arte e Literatura ..................................................................................... 82 10.10. Ciências ................................................................................................... 83 Sumário ....................................................................................................................... 83 Exercícios.................................................................................................................... 83 Unidade XI 85 Desenvolvimento e Diferenciação das Sociedades de Agricultores em Moçambique: as comunidades aldeãs e a formação das estruturas sociais na África Austral e em Moçambique................................................................................................................ 85 Introdução .......................................................................................................... 85 11.1. As Comunidades Aldeãs e a Formação das Estruturas Sociais na África Austral ............................................................................................................... 85 11.2. As principais características das primeiras sociedades região Austral de Africa ................................................................................................................. 88 HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV iv 11.3. As Principais Diferenças Sócio-Políticas entre o Norte e o Sul de Moçambique ...................................................................................................... 92 Sumário ....................................................................................................................... 95 Exercícios.................................................................................................................... 95 Unidade XII 97 As Civilizações Ameríndias ......................................................................................... 97 Introdução .......................................................................................................... 97 12.1. As Civilizações Ameríndias ....................................................................... 97 12.2. Organização Social .................................................................................... 98 12.3. O Desenvolvimento Socio-Económico do Império Inca ............................. 99 12.4. Decadência do Império Inca ..................................................................... 100 12.4.1 Causas da Decadência do Império Inca .................................................. 100 Sumário ..................................................................................................................... 101 Exercícios..................................................................................................................101 Unidade XIII 102 Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas ......................................................... 102 Introdução ........................................................................................................ 102 13.1. Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas ....................................... 102 13.2. O desenvolvimento da escrita no nordeste, no próximo e no médio oriente104 13.2.1. O desenvolvimento da escrita no nordeste de África (Egípto) ................ 104 13.2.2.- A decifração do hieroglífico ................................................................ 105 13.3. O Cuxe-Méroe ......................................................................................... 106 Sumário ..................................................................................................................... 107 Exercícios.................................................................................................................. 108 Unidade XIV 109 Expressões sócio-econímicas e culturais das civilizações pré-clássicas da mesopotâmia109 Introdução ........................................................................................................ 109 14.1. A Sociedade e Economia ......................................................................... 109 14.2. A Decifração da Escrita das Civilizações Mesopotâmicas (a Escrita Cuneiforme) ..................................................................................................... 111 14.3.1. Hamurabi, o fundador do Império Babilónico ....................................... 113 14.3.2. Era Assíria ............................................................................................ 115 Sumário ..................................................................................................................... 116 Exercícios.................................................................................................................. 117 Unidade XV 118 Outras Expressões Culturais Pré-Clássicas no Médio e no Próximo Oriente............... 118 Introdução ........................................................................................................ 118 15.1. A fenícia .................................................................................................. 118 15.2. A Pérsia ................................................................................................... 119 15.3. As manifestações culturais da China antiga .............................................. 120 15.4. Manifestações culturais da civilização indiana ......................................... 121 HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV v Sumário ..................................................................................................................... 121 Exercícios.................................................................................................................. 121 Unidade XVI 123 A formação de sociedades escravocratas no mediterrâneo: As civilizações Grega e Romana ..................................................................................................................... 123 Introdução ........................................................................................................ 123 16.1. A civilização grega .................................................................................. 124 16.1.1. A cidade de Atenas ............................................................................... 127 16.2.1. Historial ................................................................................................ 127 16.3. Períodos Históricos .................................................................................. 128 16.5. A decadência da Grécia ........................................................................... 130 Sumário ..................................................................................................................... 130 Exercícios.................................................................................................................. 131 Unidade XVII 132 A Civilização Romana ............................................................................................... 132 Introdução ........................................................................................................ 132 17.1. Fundação de Roma .................................................................................. 132 17.2. Períodos da civilização romana ................................................................ 133 17.4. As guerras púnicas (264 – 146 a.n.e.) ....................................................... 135 17.5. Decadência de Roma ............................................................................... 136 Sumário ..................................................................................................................... 137 Exercícios.................................................................................................................. 137 Unidade XVIII 138 A Idade Média e a formação do Sistema Servil na Europa – caso da França .............. 138 Introdução ........................................................................................................ 138 18.1. O Absolutismo Francês ............................................................................ 138 18.2. A Dinastia Bourbon ................................................................................. 139 18.3. O Teocratismo Francês. ........................................................................... 142 Sumário ..................................................................................................................... 143 Exercícios.................................................................................................................. 143 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 145 HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 1 Visão geral Benvindo a HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II. A Colocação do Homem no centro da atenção e o Renascimento Cultural Objectivos da cadeira Quando terminar o estudo de História das sociedades II – A colocação do homem no centro da atenção e o renascimento cultural; o cursante será capaz de: Objectivos Identificar os factores da variabilidade da cultura humana; Explicar a natureza e identificação do facto social; Descrevern o processo de socialização e politicidade nas comunidades humanas; posicionar a história social e cultural no contexto das outras ciências sociais; Explicar a interdisciplinaridade das ciências sociais; Explicar a organização social das comunidades de caçadores e recolectores; Identificar as primeiras representações dos padrões sócio-culturais; Explicar a hierarquização das sociedades; Descrever o Processo Dinástico na China Antiga; Explicar a formação das estruturas sociais na África Austral e em HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 2 Moçambique; Caracterizar as Civilizações Ameríndias; Explicar os Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas Identificar os valores culturais das sociedades pré-clássicas; Relacionar as civilizações da mesopotâmia com as do vale do Nilo; A formação de sociedades escravocratas no mediterrâneo; Identificar as expressões sócio-econímicas e culturais das civilizações pré-clássicas da mesopotâmia; Outras expressões culturais pré-clássicas no médio e no próximo oriente; Identificar as manifestações culturais que marcaram a presença de agricultores na zona austral de África; Caracterizar a civilização grega; Descrever a organização político-social da cidade de Atenas; Identificar o mérito romano no desenvolvimento político-social e económico; Destacar a Idade Média e a formação do Sistema Servil na Europa – caso da França. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser professores da disciplina de História, que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Ensino de História, do Centro de Ensino a Distancia. Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre a História das sociedades. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 3 Como está estruturado este módulo Todos os módulos dos cursos produzidos por Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados da seguinte maneira: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo do curso / módulo O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação. Outros recursos Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites na internet. Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes elementos encontram-se no final do modulo. Comentários e sugestões Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 4 Acerca dos ícones Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia. Habilidades de estudo Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que possa maximizar o tempo dedicado aos estudos: Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem interrupção? É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria do que saber pouco sobre muitas partes. Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque, devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 5 utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado desconhece; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza, alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone, escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor, contacteo pessoalmente. Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. Todos os tutores tem por obrigação facilitar a interacção, em caso de problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de expediente. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 6 As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras. O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências. Tarefas (avaliação e auto- avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período presencial. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor\docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a realização dos trabalhos. Avaliação Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedadespré-clássicas até ao século XV 7 desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira. Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2 (dois) teste e 1 (um) exame. Não estão previstas quaisquer avaliação oral. Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referencias utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. Consulte-os. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 9 Unidade I Introdução ao Estudo da História das Sociedades Introdução Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam o que é sociedade e cultura, formas de organização social e categorias dos grupos. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir sociedade e cultura; Enumerar as formas de organização social; Explicar a natureza de grupo Social; Caracterizar os grupos sociais. 1.1. Conceito de Sociedade e de Cultura Sociedade: conjunto de pessoas que vivem em estado gregário, ou é o conjunto de indivíduos unidos pelas leis comuns para atingir um fim determinado. Cultura: é um sistema complexo de códigos e padrões partilhados por uma sociedade ou um grupo social e que se manifesta nas normas, crenças, valores, criações e instituições que fazem parte da vida individual e colectiva dessa sociedade ou grupo. (In Dicionário da Língua Portuguesa, 2004, p.458). Sociedade humana: é o conjunto de grupos sociais, compostos de pessoas unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 10 comportamento predominante é regulado por uma estrutura social dinâmica resultante das acções dos vários agrupamentos que a constituem, especialmente dos mais poderosos ou influentes. A própria natureza humana exige que os Homens se agrupem. A vida em sociedade é condição necessária à sobrevivência da espécie humana. É neste sentido que os seres humanos organizam-se de muitas maneiras para poderem viver e trabalhar juntos dentro da sociedade. Segundo Karl Maunheim, os contactos e processos sociais que aproximam ou afastam os indivíduos, provocam o surgimento de formas diversas de agrupamentos sociais. Tais formas são os grupos sociais e os agregados sociais. *Multidão * Público * Massa * Permanentes * Permanentes * Estáveis * Transitórios * Instáveis Os grupos sociais são mais duradouros, resultam em formas mais estáveis de integração social. Nos grupos sociais há normas, hábitos e costumes Formas de organização social Grupos sociais Agregados sociais Primários Secundários HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 11 próprios, divisão de funções e posições sociais bem definidas. Por exemplo, na família, na escola, na igreja, no clube, no estado, etc. Muitos grupos sociais formam-se a partir do próprio lugar geográfico onde as pessoas existem. Outros grupos têm um número reduzido de membros e possuem um objectivo bastante específico, sendo que outros possuem uma grande variedade de metas. Em geral, os grupos que normalmente as pessoas fazem parte, já existiam antes que elas entrassem e continuam existindo mesmo depois de elas se retirarem dos mesmos. Grupo e indivíduo. O grupo é uma realidade vital com profundo efeito sobre o comportamento dos indivíduos em todas as situações sociais. Se afastássemos um Homem de todas os laços de grupo em breve ficaria doente e possivelmente morreria; e se o integrássemos na lealdade de grupo, sua resistência e sacrifício seriam quase inacreditáveis. Podemos então admitir que o comportamento do indivíduo é controlado pelas experiências de grupo. 1.2. Noção de Grupo Social e sua Natureza Geralmente quando falamos de grupo, automaticamente queremos indicar uma junção de pessoas que ocupam determinado lugar. Esta definição seria muito limitada para o grupo social em termos concretos e apelando a análise de vários sociólogos; pelo que podemos dizer que o grupo social é a reunião de duas ou mais pessoas associadas pela interacção e, por isso capazes de realização de acção conjunta visando atingir um objectivo comum. Ao longo da vida o indivíduo participa de vários grupos sociais. Segundo Fichter, os grupos sociais formam uma colectividade identificável, estruturada, contínua de pessoas sociais que desempenham papeis recíprocos, segundo determinadas normas, interesses e valores sociais, para a consecução de objectivos comuns. O que quer dizer que HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 12 não é somente um termo aplicado à mera colecção de pessoas que espontaneamente se encontram em determinado lugar sem que estejam relacionadas entre si, mas sim a uma colecção de pessoas que respondem a certos critérios. 1.3. Características dos Grupos Os grupos apresentam diversidades entre si, não só na forma de recrutamento como também na organização, finalidade e objectivos. A maioria dos autores destacam como características dos grupos sociais as seguintes: identificação, estrutura social, papeis individuais, relações recíprocas, normas comportamentais, interesses e valores comuns, finalidade social e permanência. Identificação: o grupo deve ser identificado como tal pelos seus membros e pelos elementos de fora. As pessoas envolvidas devem ter consciência de que são membros do grupo. Os grupos sociais são superiores ao indivíduo, isto é, quando uma pessoa entra no grupo, ela já existe; ao mesmo tempo o grupo é exterior ao indivíduo, quer dizer quando a pessoa sai do ele continua a existir; Estrutura social: No grupo cada componente ocupa uma posição relacionada com a posição dos demais. Papeis individuais: constituem a condição essencial para a existência do grupo e sua permanência como tal, pois cada um dos seus membros tem uma participação determinada; Relações recíprocas: As pessoas que constituem um grupo devem interagir mutuamente de modo directo e indirecto; Normas comportamentais: são certos padrões, escritos ou não que orientam a acção dos componentes do grupo e determinam a forma de desempenho do seu papel; HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 13 Interesses e valores comuns: o que é considerado bom, desejável, aceite e compartilhado pelos membros do grupo. Os membros unem-se em torno de certos princípios e valores, para atingir um objectivo de todo o grupo. Existe de algum modo uma interdependência – o que acontece para um afecta o outro.Os indivíduos envolvidos em um grupo devem procurar alcançar os objectivos estabelecidos; Finalidade social: é a razão de ser e do objectivo do grupo (ex. económica, religiosa, cultural, filantrópica, corporativa, etc.); Permanência: Para que um grupo seja considerado como tal, é necessário que a interacção entre os membros se prolongue durante determinado período de tempo (semanas, meses ou anos). As interacções passageiras não chegam a formar grupos sociais organizados, forma sim os chamados (agregados sociais – público, multidão, massa), que se podem reunir em eventos de pouca duração. Ex. comícios, espectáculos, greves, etc. 1.4. As Categorias do Social Os dados estatísticos, principalmente os obtidos através dos censos, constituem fontes para o estabelecimento de categorias sociais. Essa formação é um processo mental, apesar de as categorias não serem imaginárias: “Uma categoria social é uma pluralidade de pessoas que são consideradas como uma unidade social pelo facto de serem efectivamente semelhantes em um ou mais aspectos” (Fichter, 1973:85) – Não há necessidade de proximidade ou contacto mútuo para as pessoas pertencerem a uma mesma categoria social, exemplo: adolescente, operários, soldados, analfabetos, etc. Um destes grupos corresponde a uma categoria social. Em relação aos aspectos semelhantes entre as pessoas, só nos interessam aquelas que têm significação sociológica, mesmo estas, variam de acordo com o objectivo do estudo, exemplo: se quisermos analisar os padrões de comportamento religioso, a classificação abrangeria as categorias de ateus, crentes, cristãos, judeus, budistas e outras; homens, mulheres, jovens, adultos e idosos. As HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 14 categorias estudadas pela sociologia são as que implicam valores sociais: parentesco, riqueza, ocupação, educação, religião, factores biológicos. Sumário Sociedade, conjunto de pessoas que vivem em estado gregário, ou é o conjunto de indivíduos unidos pelas leis comuns para atingir um fim determinado. Cultura, é um sistema complexo de códigos e padrões partilhados por uma sociedade ou um grupo social e que se manifesta nas normas, crenças, valores, criações e instituições que fazem parte da vida individual e colectiva dessa sociedade ou grupo. Sociedade humana, é o conjunto de grupos sociais, compostos de pessoas unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo comportamento predominante é regulado por uma estrutura social dinâmica resultante das acções dos vários agrupamentos que a constituem, especialmente dos mais poderosos ou influentes. grupo social, é a reunião de duas ou mais pessoas associadas pela interacção e, por isso capazes de realização de acção conjunta visando atingir um objectivo comum. Ao longo da vida o indivíduo participa de vários grupos sociais. Exercícios 1. O que é a sociedade humana? R: Sociedade humana: é o conjunto de grupos sociais, compostos de pessoas unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo comportamento predominante é regulado por uma estrutura social dinâmica resultante das acções dos vários agrupamentos que a constituem, especialmente dos mais poderosos ou influentes. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 15 2. a) Quais são as principais formas de organização social? b) Dentro da organização social das sociedades primitivas, detalha a diferenciação entre os homens e as mulheres. 3. Que diferença encontra entre grupo e indivíduo? 4. Defina grupos socais segundo Fichter. 5. Mencione as principais características dos grupos sociais e caracterize dois. 6. Os grupos sociais subdividem-se em primários, intermédios e secundários. - Caracterize os primários. Auto-avaliação Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação. Entregar os exercícios: 2 e 6. Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 16 Unidade II Padrões Culturais Introdução Nesta unidade pretende-se que os estudantes conheçam os padrões culturais, saibam conceitualizar a cultura e compreendam a dinâmica da Cultura. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir padrões culturais; Conceitualizar a cultura; Explicar a dinâmica da Cultura; Identificar os factores da variabilidade da cultura humana. 2.1. Os Tipos de Padrões Culturais Quando se fala de cultura, a tendência tem sido de modo geral pensar nas grandes artes ou em alto conhecimento intelectual, como a literatura, pintura, esculturas, etc. Não falamos aqui de cultura neste sentido, mas sim cultura num termo inclusivo. Cultura não é sinónimo de perfeição, erudição, alfabetização ou estudos universitários. Também os analfabetos são sujeitos de cultura. Todos os povos ou grupos sociais são cultos segundo seus padrões culturais – se pensarmos que o outro não tem cultura ou se considerarmos que a sua cultura é inferior como se processaria a inculturação? Ninguém aceita ser racista, mas todos se acham culturalmente superior. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 17 2.2. Os Vários Conceitos de Cultura - Cultura: é um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte moral, leis e costumes e qualquer outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo indivíduo como membro da sociedade (E.B. Taylor – 1871) - Segundo Alex Inkeles – 1964, cultura é o total de todos os objectos, ideias, conhecimentos, maneira de fazer as coisas, hábitos, valores e atitudes que cada geração na sociedade transmite a outra. - C. Geertz – 1973, define a cultura como um modelo de significados incorporado em símbolos (...) sistema de conceitos expressados através de formas simbólicas pelos quais as pessoas se comunicam, perpetuam e desenvolvem (...), atitudes em relação a vida. - Toynbee – 1961, define a cultura como um conjunto de símbolos, estórias, mitos e normas que conduzem e orientam uma sociedade ou grupo cognitivamente, afectivamente e comportamentalmente no mundo na qual existe. Nas várias definições acima citadas, um dos elementos indispensáveis foi a sociedade. Esta é o critério ou resultado da cultura. Também é correcto dizer que a cultura é aprendida pelo indivíduo como membro da sociedade e que esta é consequência da partilha que o indivíduo faz de sua cultura. Uma coisa, porém, é fundamental. Para se criar a cultura necessitamos do trabalho. Será somente através do trabalho que as pessoas irão realizar cultura? Pode-se perguntar: se numa sociedade escravocrata o trabalho é injusto, é uma forma de exploração, como então o trabalho poderá ser fonte de cultura? É importante lembrar que uma cultura não é necessariamente boa ou justa. Se uma sociedade se baseia num trabalho de dominação, a cultura também pode ser de dominação. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 18 Se existe várias culturas, pode haver aquelas que sejam superiores ou inferiores? Não! Uma cultura não pode ser inferior nem superior a outra. Elas são apenas diferentes. A cultura urbana, por exemplo, não é inferior nem superior da cultura da zona rural, porque são dois modos de vida diferentes, cada uma tem seus valores, com suas necessidades e sua lógica. Qualquer cultura ou subcultura contém três elementos: o símbolo, mitos e rituais. - Símbolo: é qualquer realidade que pelo seu próprio dinamismo ou força conduz ou guia em direcção, isto é, faz a pessoa pensar em imaginar,entrar em contacto com, (ou a alcançar algo) ao mais profundo e frequentemente mais misterioso dentro da realidade através da comunhão com o que o símbolo oferece e não somente pela mera explicação verbal. O símbolo tem duas qualidades particulares: de dar um sentindo porque o símbolo transmite uma mensagem a respeito de algo; este pode causar uma reacção de sentimentos positivos ou negativos; - Mito: são símbolos na forma narrativa – por exemplo, a estória da criação no livro Génesis. Estas são estórias ou tradições que buscam de maneira imaginativa e simbólica, apresentar uma verdade fundamental sobre o mundo e a vida humana; - Rituais: são as maneiras visíveis de representar ou dramatizar o mito e estes são muitos e variáveis, assim como as necessidades humanas. O termo MITO vem do grego e etimologicamente significa fábula, lenda, palavra, fala ou dizer. (A ciência que estuda os mitos é a MITOLOGIA). Os mitos não são pura invenção da imaginação, mas reflectem sim o ponto de vista dos homens dos tempos antigos sobre a natureza, a vida, as crenças religiosas, as ideias morais da sociedade primitiva; são, portanto rudimentos do conhecimento pré-científico, reunindo imagens fantásticas e elementos cognitivos. Os mitos despertavam a energia da colectividade HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 19 e foram instrumentos de desenvolvimento cultural. O “material” dos mitos era as imagens (o do pensamento racional são as noções e conceitos). O objecto do mito são as forças sobrenaturais e os produtos da fantasia em geral (o objecto do pensamento racional é o mundo real). É a diferença entre a lógica simbólica ou figurada e a lógica abstracta. Detalhando diríamos que o mito é um sistema total de interpretação da realidade, cuja base eram duas abordagens interligadas: a mitológica e a mágica. A primeira ocupava-se da esfera sobrenatural e da sua influência sobre o homem e a sociedade, constituindo uma história sagrada, explicativa e normativa. A segunda abordagem, a mágica, elaborava o "modelo" sobre o mundo (macro e microcosmo). Ao nível mitológico pertenciam os deuses, os heróis, os ídolos, os espíritos e as outras forças sobrenaturais actuando no cosmo. Ao nível mágico pertenciam a natureza, o espaço, os outros seres humanos e os meios e os símbolos mágicos (gestos, exorcismos, amuletos etc.). Este nível constituía quase toda a esfera espiritual do mundo de então. Era acessível a cada um, enquanto que os mitos eram "exercidos" só pelos mais velhos. Por MAGIA entende o homem comum (sentido corrente) a manipulação das propriedades das coisas, o uso do meio de influência de um homem sobre outro ou a provocação de certos fenómenos e acontecimentos. Mas no sentido científico significa aquilo que era o antigo modelo integrado do mundo, que actuava segundo normas, era uma visão do mundo e uma tentativa de toma consciência sobre as leis do cosmo. O mito explicava a origem das coisas e exercício a influência espiritual no mundo, enquanto que a magia explicava o funcionamento desse mundo, as linhas força espirituais, as interpretações dentro da realidade, e também constituía as interpretações e as ideias "educativas", era a rede ou teia que unia os fenómenos no mundo. A magia era mais constante e estável e era uma solução definitiva dos problemas, embora do ponto de vista actual a classifiquemos como fenómeno anacrónico e extraordinário de âmbito religioso, contrario às leis da natureza. Historicamente ela teve, porém uma razão de ser e uma função no avanço da Humanidade. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 20 2.3. Dinâmica da Cultura – algumas considerações importantes 1. Cultura é orgânica e supra orgânica Orgânica: porque não há cultura sem os seres humanos e supra orgânica, porque cultura vai além fora do indivíduo e para além dos tempos. 2. Cultura é aberta e coberta: Aberta quando consideramos os artefactos como casas, roupas e formas de linguagem que podem ser observados diariamente. Coberta, quando consideramos atitudes em relação ao mundo e a interpretação do mesmo. 3. Cultura é explícita e implícita; É explicita quando consideramos aquelas acções que podem ser explicadas ou descritas facilmente por aqueles que a produzem. Implícita quando consideramos as coisas que fazemos, mas não somos capazes de explicá-las a pesar de acreditarmos nelas. A cultura é ideal e manifesta, pois é ideal porque envolve a maneira como as pessoas deveriam se comportar ou o que deveriam acreditar de fazer; e manifesta as coisas que realmente são feitas e reconhecidas pelos outros; isto é, o que é visto pelos outros. 2.4. Conceitos básicos dentro do Contexto Cultural Subcultura: são as diferenças significativas que aparecem no interior da cultura (grupos que se distinguem no interior de uma sociedade, jovens que apresentam costumes diferentes dos da população adulta, afirma-se que criam uma Subcultura). O uso do termo Subcultura não significa que se trata de uma cultura inferior. Esta não tem uma conotação valorativa. Também devemos dizer que não está unida ao problema de espaço. A Subcultura que sempre se identifica com a cultura regional ou com parte HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 21 da cultura nacional. A Subcultura pode estar ligada a certas castas ou classes sociais. As Subculturas são partes constitutivas da cultura global considerada Subcultura, portanto, é um segmento da sociedade que no seu interior é constituída de modos específicos de comportamentos, normas e valores que diferem da grande sociedade. Enculturação: é um conceito sociológico que refere-se ao processo de aprendizagem cultural. Processo pelo qual o indivíduo é inserido em sua cultura. É um conceito que está relacionado com a socialização da cultura ou endoculturação. Enculturação inclui um processo formal de ensino – aprendizagem. Porém, em sua compreensão geral, este é largamente informal e mesmo uma experiência inconsciente. Em geral um indivíduo ensina a si próprio de um processo adaptativo da aprendizagem, de regras que são dadas por uma sociedade. As imagens ou símbolos de uma cultura são em si mesmas didácticas. Elas ensinam ao indivíduo a construir suas próprias categorias ou mesmo transcende-las no acto próprio de construi-las. Portanto, o modo em que um indivíduo aprende a experiência, é essencialmente ligado com a cultura “(DAN Sperber – Epidemiologia de Representações); John Henry New Man – Gramática Cultural)” In Curso de Sociologia e Política. Aculturação: entende-se como o encontro de uma cultura com a outra ou encontro de culturas. Talvez este seja a principal causa da mudança cultural. É um processo que está necessariamente ligado com a própria cultura. Os seres humanos possuem a liberdade colectiva de modificar sua tradição particular através de contactos com pessoas de outras culturas. Naturalmente, é um contacto entre diferentes conjuntos de signos e concepções, diferentes interpretações de experiências, diferentes identidades sociais. Aculturação é um processo histórico. Portanto, encontro de culturas é um fenómeno dinâmico e diacrónico e não estático ou sem mudanças. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 22 Dominação cultural: tem várias designações – transculturação, imperialismo cultural, alienação cultural. Todos estes termos expressam a ideia de uma cultura dominando outra ou várias culturas. Dominação significa a hostil transferência dos elementos da cultura estrangeira: símbolos, significados, comportamentos de uma cultura para outra. Esta transferência pode ocorrer pelosimples facto de uma cultura sufocar a outra: tecnologia superior, ideias atraentes, meios de comunicação, etc. Inculturação: podemos definir a Inculturação como um diálogo contínuo entre fé e cultura ou culturas. Mais profundamente esta é a relação dinâmica entre a mensagem cristã e outra cultura ou culturas (Pe. Pedro Arrupe S. J) define a Inculturação como sendo encarnação da vida cristã e da mensagem cristã num contexto cultural particular, de tal forma que esta experiência encontra expressão não somente através de elementos próprios da cultura, mas que se tornem o princípio que anima, dirige e unifica a cultura, transforma-a e remodelando-a para que uma “nova criação aconteça”. Choque cultural: é quando imerso numa cultura ou ambiente diferente o indivíduo poderá se sentir desorientado, incerto, fora do lugar e até mesmo em pânico. Estas podem ser indicações que alguém pode experimentar que um sociólogo poderá interpretar como choque cultural. Etnocentrismo: William Grahan Summer (1906), refere que “muito do que dizemos diariamente reflecte a atitude de que nossa cultura é a melhor. Diz ainda, que usamos termos como subdesenvolvido, atrasado ou primitivo quando referimos a outras sociedades”. (“nós acreditamos na religião; eles acreditam em superstição”). William usa o termo Etnocentrismo para referir-se a tendência de assumir que a própria cultura ou modo de viver é superior a de outras. O Etnocentrismo vê seu próprio grupo como centro e ponto de definição de cultura. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 23 Pluralismo cultural: a dificuldade de definir cultura acaba gerando a descoberta do pluralismo cultural, onde a diferentes maneiras de servir- se, das coisas, de expressar-se, de praticar a religião, de estabelecer as leis e instituições jurídicas, de cultivar as artes e a beleza. Onde cada povo tem seu estilo característico de vida – conhecer o pluralismo cultural e dizer que não há culturas superiores. São profundamente questionados os conceitos de “civilização”, de “culturas avançadas”. Posicionar-se em frente a uma cultura como superior é uma atitude de arrogância e tal atitude carrega consigo com um desejo de uniformismo cultural. A observarmos a história perceberemos o quanto esse desejo de uniformismo cultural atrapalhou a caminhada de diferentes povos, quanta destruição semeou ou continua semeando. O pluralismo cultural remete-nos a outra realidade: as diferentes atitudes tomadas pelos povos no choque de relação entre culturas. Os deslocamentos geográficos, imigrações, etc., colocam culturas frente a outras culturas. Quais as atitudes daí decorrentes: Como podemos notar, a aproximação cultural tem vários níveis. Não existe cultura modelo ou cultura pura. Quem quer construir cultura pura si tornará destrutor da cultura. * A endoculturação ou socialização cultural, por exemplo, é o aprendizado da própria cultura. A primeira aproximação cultural acontece no aprendizado da nossa própria cultura em casa, na rua e na escola. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 24 2. 4.1. Os Níveis da Cultura A Variabilidade da Cultural Humana A cultura é no sentido sociológico uma criação humana formada por todo um conjunto de elementos de ordem material (ciência, técnica, arte, etc.) e mental (costumes, leis, crenças, ideologias, etc.) e que se mantém em determinadas condições sociais. No que concerne a variabilidade cultural, tem-se por afirmar que, este facto deve-se a vários elementos como: o pensamento humano e o meio ambiente. 1 2 3 4 Esfera pratica da cultura Esfera interior - cognitiva Áreas dos valores Nível superficial da cultura HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 25 O pensamento No tocante ao factor pensamento, este inclui na medida em que torna-se base para a existência ou surgimento de uma cultura que possa ser diferente de uma outra segundo o poder inventivo do Homem. O Homem tem a capacidade de inventar, criar, modificar o meio cultural em que se encontra, fazendo-se diferente dos outros. A variabilidade cultural humana deve-se aos seguintes aspectos que podem ser sistematizados em: Cognitivos: linguagem, conhecimento e crenças; Normativos: valores, normas, leis; Afectivos: sentimentos e realidade; Estéticos: beleza e diversão; Comportamentais: Costumes, estilo de vida, padrões de comportamento. Cada um destes factores admite variações discretas entre as diversas culturas, de tal forma que, o mundo tem uma diversidade cultural difícil de abarcar. Mas, não se julgue que basta introduzir uma inovação para que a cultura se modifique automaticamente. Torna-se necessário, efectivamente, que essa inovação seja aceite, não por um grupo restrito de indivíduos, mas por toda a colectividade. É ainda evidente que uma colectividade aceitará as inovações mais ou menos facilmente, de acordo, não só com as características da própria inovação. O meio ambiente O meio ambiente é um dos factores determinante na variabilidade da cultura humana, na medida em que força o homem a pensar e agir de acordo com as condições do meio em que se encontra, de modo a que se HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 26 possa adequá-lo. O modo de vestir, de se abrir, depende maioritariamente da questão ambiental em que o homem se insere e que, o torna diferente do outro, num meio em que as condições climáticas são antagónicas. Portanto, ao que se refere a distinção do clima, pode-se verificar nas diferentes sociedades uma cultura de produção agrária e outra diferente de acordo com as condições da região. Segundo Ki-Zerbo (pp. 26-27), “em etnologia ou antropologia, o método consiste em nos basearmos nos traços culturais para seguir a evolução da sociedade e as relações entre elas. Com efeito, o caso de parentesco das formas, há apenas três hipóteses: dupla invenção automática, origem comum ou transmissão” A existência de subculturas impõe-se também ao observar que verifica-se a coexistência numa mesma sociedade global (nação), variações culturais importantes de região para região, de uma camada social para a outra, de uma grande cidade para uma pequena cidade, da cidade para o campo, etc., por vezes com um certo grau de incomunicabilidade. Deve então, falar-se pelo menos de subculturas. A estas variações culturais dentro da mesma sociedade global que se traduzem em padrões sociais de comportamento vividos por certos grupos que se acham, assim separados em termos culturais, gerais, ao resto da sociedade dão-se o nome de subculturas. Podemos ainda afirmar que a cultura evolui quer por acréscimo de elementos novos, quer por substituições de uns elementos por outros, e que toda a criação cultural (uma lei, por exemplo) não é obra de um só indivíduo, mas é resultante da aglutinação de vários tipos de mentalidade e interesses, de acções, de reacções e de reivindicações diversas, de concepções científicas e técnicas, de influências doutrinais e ideológicas. Seguindo de perto a linha de pensamento expressa por A. Sedas (pp. 184- IBIDEM) “há em todas as sociedades um ritmo de evolução mais ou HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 27 menos rápido que abarca não apenas as transformações de culturas, mas também, de estruturas, de organizaçãoe de vida social”. A variabilidade da cultura deve-se aos factores já citados, surgindo neste contexto a cultura africana, europeia, asiática, americana e outras. 2.4.2. Aprendendo Conceitos: 1. Cultura material e não material 1.1. Cultura material: consiste em todo o tipo de utensílios, ferramentas, instrumentos, máquinas, etc., utilizados por um grupo social. Por exemplo: a grande maioria do povo moçambicano come farinha de milho como alimento básico, e grande parte das pessoas dormem em esteiras e muitas das suas casas são construídas em material local (estacas, barro, caniço ou palmeiras) 1.2. Cultura não material: abrange todos os aspectos não materiais da sociedade, tais como: regras morais, religião, costumes, ideologias, ciências, etc. Por exemplo: a maioria da população moçambicana faz cerimónias em respeito aos seus antepassados falecidos, não há pena de morte na legislação moçambicana e embora proibido por lei, o regionalismo é bastante evidente no país. Existe uma interdependência entre cultura material e não material. Por exemplo: a apresentação duma orquestra, as músicas são o produto da criatividade de um ou mais músicos (cultura não material). Entretanto, para comunicar a sua música aos outros, os artistas (músicos) valem-se de instrumentos musicais (cultura material). Da mesma forma as religiões de modo geral necessitam de templos, altares e outros elementos materiais para que possam ser praticadas. 2. Elementos da cultura: a cultura é um sistema, um todo, um conjunto de elementos ligados uns aos outros. Esses podem ser decompostos em partes. Os mais simples são os traços culturais, as unidades de cultura. Por exemplo: uma ideia, uma crença, um carro, um lápis, uma capa, uma pulseira, um anel, etc. Os traços culturais só têm significado dentro de HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 28 uma cultura específica. Por exemplo, um colar pode ser simples adorno para determinado grupo e para outro ter um significado mágico ou religioso. 2.1. Complexo cultural: o futebol, por exemplo, é um complexo cultural que pode ser decomposto em vários traços culturais: o campo, a bola, o juiz, os jogadores, a torcida, as regras do jogo, o técnico, etc. 3. Padrão cultural: é uma norma de comportamento estabelecido pela sociedade. Os indivíduos normalmente agem de acordo com padrões estabelecidos pela sociedade em que vivem> Quando os membros de uma sociedade agem da mesma forma estão a expressando os padrões culturais do grupo. 3.1. Área cultural: é uma região em que predomina determinados complexos culturais. É a área geográfica por onde se distribui uma cultura. 4. Crescimento do património cultural: cada geração passa por um processo de aprendizagem, no qual assimila a cultura do seu tempo e se torna apta a enriquecer o património cultural das gerações futuras. Isso se faz por dois processos: a inovação e a difusão. 5. Retardamento cultural: as mudanças dos diversos elementos culturais não acontecem ao mesmo ritmo: alguns se transformam mais rapidamente que os outros. As invenções, por exemplo, trazem mudanças mais aceleradas na cultura material que na cultura não material. É o exemplo da mudança nas máquinas em relação a mudanças na religião. 6. Marginalidade cultural: quando duas culturas entram em contacto podem correr-se além da aculturação uma série de conflitos mentais nos indivíduos pertencentes a essas culturas. Esses conflitos têm origem na insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 29 sua. Aqueles que não conseguem se integrar completamente em nenhuma das culturas que os redeiam, ficam a margem da sociedade (índios Caingangues de Tupã – mansa e tristes). 7. Contracultura: Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas que contestam certos valores culturais vigentes, opondo-se radicalmente a eles num movimento chamado contracultura. 8. Socialização ou inculturação: processo através do qual o ser humano cresce no interior da cultura da sua comunidade de origem. 9. Integração social: mecanismos através dos quais um grupo ou uma sociedade recebe um novo membro ou é o processo vivido por uma pessoa que quer vir a aceder à condição de participação pela numa sociedade ou numa organização. 10. Adoptação social: entende-se os mecanismos através dos quais o indivíduo se torna apto a pertencer a um grupo. Sumário A cultura é um sistema, um todo, um conjunto de elementos ligados uns aos outros. Esses podem ser decompostos em partes. Os mais simples são os traços culturais, as unidades de cultura. Alguns dos conceitos básicos dentro do Contexto Cultural são a Subcultura; Enculturação; Aculturação; Domínio cultural; Inculturação; Choque cultural; Etnocentrismo e Pluralismo cultural. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 30 Exercícios 1. Dentro das categorias do social Diferencie: dinamismo, progresso, diversidade e complexidade. Auto-avaliação Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação. Entregar os exercícios: 7. Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 31 Unidade III A Exaltação de uma Nova Época Introdução Nesta unidade pretende-se que os estudantes conheçam o surgimento da humanidade e da sociedade. Como é sabido, a História do ser humano é marcada por uma luta constante para manter-se como espécie e assegurar sua reprodução. Na arena científica as teses fixistas sobre o processo de hominização1 foram sendo cada vez mais abandonadas. Em seu lugar, ganharam aceitação àquelas que apresentam o Homem como fruto de um processo metamorfósico milenar. A África é tida como Berço da Humanidade, na medida em que, por um lado, registos fósseis indicam que o primeiro hominídeo – australopithecus2 – surgiu na África há cerca de um milhão de anos; alias, as condições de então apresentavam-se mais favoráveis relativamente às outras regiões; foi em África onde, com a prospecção arqueológica, se descobriu a mais numerosa, mais completa e mais contínua série de vestígios pré-históricos; é em África, sobretudo nos planaltos orientais e meridionais, que se encontram todos os elos que ligam aos mais longínquos “antepassados” ou “parentes” presumíveis do Homem (os grandes macacos de África: o gorila e o chimpanzé). Por estas razões, Darwin declarou que “é provável que os nossos antepassados tenham vivido em África, em vez de qualquer outra parte” e Chardin escreveu que “deve ter sido no coração de África que o Homem emergiu pela primeira vez”. 1 Tal como a de Teilhard Chardin que acredita na criação do Homem por (Deus) 2 Australopithecus – do latim australis (sul) e pithecus (macaco) HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 32 Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Explicar o surgimento da humanidade e da sociedade; Diferenciar a teoria fixista ou criacionista da evolucionista ou transformista; Explicar a importância que teve a libertação das mãos e o domínio do fogo para o Homem pré-histórico. 3.1. Processo de Surgimento do Homem O processo de surgimento do Homem terá provavelmente começado durante a Era Primária, quando certos vertebrados, tendo desenvolvido pulmões, abandonaram o seu habitat – o mar – e deslocaram-se para a terra firme, onde deram origem a animais mais complexos, como os répteis e as aves.Na Era Secundária predominaram na Terra os anfíbios e os répteis, alguns enormes, como os dinossauros. Possivelmente, os répteis de dimensões menores e de sangue quente deram origem os mamíferos propriamente ditos, que predominavam na natureza durante a Era Terciária. Entre os mamíferos primitivos encontram-se os primeiros representantes dos primatas que, no curso da evolução, adquiriram maior capacidade de mover os membros, de fazer uso do dedo polegar e de manter o tronco erecto e desenvolveram o cérebro, o que levaria ao aparecimento de formas superiores como a dos antropóides e posteriormente dos Australopithecus (durante a Era Quaternária). Estes desenvolveram algumas características, como um cérebro mais desenvolvido, uma dentição semelhante a do Homem actual, o andar bípede, postura erecta e a capacidade de uso de instrumentos rudimentares que os diferenciavam de outros ramos dos primatas. Vestígios fósseis indicam a existência, há cerca de 500 mil anos, do Homo erectus, a partir do qual evoluiu o Homem actual. A sua evolução física contribuiu para que houvesse mudanças de comportamento, as HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 33 quais levaram a alterações anatómicas, num lento processo que culminou no Homo sapiens, espécie a que pertencemos. A primeira transformação decisiva que o hominídeo sofreu foi a possibilidade de se manter permanentemente erecto nos membros posteriores, o que permitiu à libertação das mãos da marcha. Com a libertação da mão, o homem pré-histórico desenvolveu os centros sensitivo motores e, portanto, o volume do cérebro, sobretudo na parte anterior do córtice, a libertação das cordas vocais, possibilitando a linguagem. A libertação da mão possibilitou igualmente o fabrico de utensílios que materializavam a inteligência, do mesmo modo que a inteligência deu forma aos utensílios. Outro passo importante foi o domínio do fogo. O fogo não só servia para alumiar a caverna e aquecer os seus ocupantes, como também servia para a defesa. Com o fogo o homem dissipava o medo e, durante o aquecimento, estimulava a vida social, importante para o progresso e eclosão da inteligência e da linguagem ao mesmo tempo que desenvolvia a vontade de comando. 3.2. A Expansão Por volta de 100 000 a.n.e, com o fim da última era glacial ocorreram profundas alterações climáticas e ambientais que estimularam a migração de animais e seres humanos. Foi assim que os homens primitivos, surgidos em África, foram ocupando, ainda que de maneira dispersa, as diversas regiões do Globo: da África à Europa, da Ásia à Austrália. Tais transformações ambientais favoreceram também a sedentarização dos grupos humanos, ou seja, a sua fixação ao solo. Esta ocorreu, especialmente de 10 000 a.n.e., quando as condições se reuniram para que o Homem descobrisse a agricultura e aprende-se a dominar animais. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 34 Sumário Vestígios fósseis indicam a existência, há cerca de 500 mil anos, do Homo erectus, a partir do qual evoluiu o Homem actual. A sua evolução física contribuiu para que houvesse mudanças de comportamento, as quais levaram a alterações anatómicas, num lento processo que culminou no Homo sapiens, espécie a que pertencemos. O fim da última era glacial, por volta de 100 000 a.n.e, trouxe profundas alterações climáticas e ambientais que estimularam a migração de animais e seres humanos. Possibilitando que os homens primitivos, surgidos em África, foram ocupando, ainda que de maneira dispersa, as diversas regiões do Globo: da África à Europa, da Ásia à Austrália. Exercícios 1. Como explicas que os primeiros achados humanos tenham sido em África? 2. Quais os aspectos a considerar quando se fala do aparecimento do Homem? 3. Fale da importância da libertação das mãos e do domínio do fogo para o Homem pré-histórico. 4. Justifica a seguinte afirmação: «O bipedismo e a verticalidade foram dois elementos fundamentais da hominização» 5. Relaciona a Arqueologia com o conhecimento das origens do Homem. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 35 Auto-avaliação Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação. Entregar o exercício: 3 e 4. Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 36 Unidade IV O Facto Social, a Unicidade do social e a Politicidade do social. Introdução Nesta unidade pretende-se que os estudantes conheçam a natureza, identificação, características de um facto social e o processo de socialização e politicidade nas comunidades humanas incluindo as implicações antropologicas da sociabilidade do ser humano. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir facto social Explicar a natureza e identificação do facto social Mencionar as características do facto social Diferenciar socialização da politicidade; Explicar as implicações antropológicas da sociabilidade do ser humano. 4.1. O facto social: definição, natureza e identificação. Segundo E. Durkheim é facto social toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possam ter (1966:12) Em Lakatos, p. 42, são os modos de pensar e agir de um grupo social; embora existam na mente do indivíduo, são exteriores a ele e exercem sobre ele um poder coercivo, exemplo: usar uniforme escolar, içar a bandeira em sentido, etc. HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 37 A noção de coerção está, pois, segundo o autor, intimamente ligada à noção de facto social. Com efeito, um facto social reconhece-se «pelo poder de coerção externa que exerce ou é susceptível de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder reconhece-se, por sua vez, pela existência de uma sanção determinada ou pela resistência que o facto opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violá-lo». Viver em sociedade é assumir um conjunto complexo de obrigações sociais. Mas tudo o que ela (obrigação social) implica é que as maneiras colectivas de agir ou de pensar têm uma realidade exterior aos indivíduos que, em cada momento do tempo, a elas se conformam. A causa determinante de um facto social deve ser procurada entre os factos sociais anteriores e não nos estados de consciência individual. Assim, a função de um facto social deve ser sempre procurada na relação existente entre ele e um determinado fim social. Não basta, pois, explicar as causas de um fenómeno social. E. Durkheim afirma explicitamente que «quando tentamos explicar um fenómeno social, devemos investigar separadamente a causa eficiente que o produz e a função que ele desempenha». Mas a explicação funcional de um facto social deve examinar a sua utilidade para a sociedade, e não para os indivíduos. Deve determinar a forma pela qual serve «as necessidades gerais do organismo social», e não os objectivos ou necessidades dos indivíduos. O que é relevante é considerar o contributo de cada fenómeno social para a manutenção da ordem e da estabilidade social. 4.2. Características do facto social a) Exterioridade – em relação as consciências individuais; b) Coercitividade – a coerção que o facto social exerce ou susceptível de exercer sobre os indivíduos;
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