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Apostila de 
Ludoterapia 
 
 
 
1 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................2 
CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA LUDOTERAPIA .......................................................3 
CAPÍTULO 2 – COMO FUNCIONA O PROCESSO DA LUDOTERAPIA ........................6 
CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE IDEAL PARA A LUDOTERAPIA ......................................9 
CAPÍTULO 4 – O VALOR DO LIMITE NA LUDOTERAPIA ............................................13 
CAPÍTULO 5 – A PARTICIPAÇÃO INDIRETA DOS PAIS ..............................................16 
CAPÍTULO 6 – A COMUNICAÇÃO NA LUDOTERAPIA .................................................19 
CAPÍTULO 7 – O NASCIMENTO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS ......................22 
CAPÍTULO 8 – A LITERATURA INFANTIL NA LUDOTERAPIA ...................................26 
CAPÍTULO 9 – O RELATO DA HISTÓRIA INFANTIL NA LUDOTERAPIA .................29 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................32 
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................33 
 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
Durante muitos séculos, as crianças não foram foco de investigação ou atenção. 
Até o século XVIII, nem havia o conceito de infância tal qual o conhecemos hoje: 
um ser único, em processo constante de desenvolvimento físico, cognitivo, 
mental, emocional, psicológico e social, e que precisa receber uma educação e 
uma atenção próprias para sua faixa etária. Nem ao menos os cuidados básicos 
dispensados hoje às crianças eram tomados antigamente. 
Podemos dizer que o primeiro olhar para a infância nasceu com o filósofo francês 
Jean-Jacques Rousseau, que elaborou um estudo detalhado sobre a educação 
adequada que a criança deve receber, sendo concebida e tratada como um ser 
diferente do adulto, o que era inovador, já que até então não se consideravam 
as crianças como seres com características próprias. 
Estudiosos como a médica italiana Maria Montessori ou o educador suíço 
Johann Pestalozzi começam a elaborar práticas pedagógicas próprias para as 
crianças e salientar a importância de se oferecer um ambiente e materiais 
didáticos especiais para essa idade. Mais tarde, o médico austríaco Sigmund 
Freud desenvolve os estudos psicanalíticos nos quais a mente humana ganha 
um enfoque inédito. 
Freud atribui à infância a formação da personalidade, do aparelho psíquico e 
também a origem de nossos medos e traumas. Seguindo seu caminho, duas 
psicanalistas austríacas começam a usar o método psicanalítico sob uma nova 
abordagem: a lúdica. Era o modo mais eficaz de fazer com que suas pacientes, 
crianças pequenas, se expressassem, sem usarem a fala. 
Assim, nasce a Ludoterapia, que irá ganhar cada vez mais espaço nas clínicas, 
consultórios e até mesmo na escola. Essa nova abordagem é, atualmente, 
bastante procurada por pais, pacientes adultos e profissionais de saúde. Em 
nossos estudos, iremos descrever, analisar, explorar essa terapia, aprendendo 
sobre as situações de uso e a formação necessária para usá-la. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA LUDOTERAPIA 
 
A Ludoterapia é uma abordagem terapêutica focada em crianças e que usa o 
lúdico como principal técnica. Isso significa que os psicólogos usam a diversão, 
o entretenimento e a brincadeira para descobrir a origem dos problemas e para 
tratá-los. Com esse método, o terapeuta pretende explorar a mente infantil e 
planejar suas intervenções sem maiores traumas à criança. Neste capítulo, 
iremos descrever a origem da Ludoterapia e seus principais estudos. 
Lidar com as crianças em uma terapia psicanalítica ou psicológica não é algo 
simples. A criança tem vocabulário mais restrito e ainda não está apta 
cognitivamente para fazer interações verbais complexas, de modo a externar 
seus sentimentos, lembranças e pensamentos. É difícil para a criança identificar 
as emoções que estão sentindo, verbalizar suas reflexões e fazer descrições 
detalhadas de fatos e memórias. 
Por esse motivo, muitos terapeutas recorrem a desenhos e outras formas de 
expressão como brincadeiras e jogos simbólicos. Uma criança também 
expressar sua personalidade e suas emoções com comportamentos e interações 
sociais, por exemplo, morder quando está nervosa. Os pais têm papel 
fundamental no processo de identificação do emocional e do psiquismo infantil. 
Por mais que o terapeuta crie vínculos e adquira informações, a família sempre 
será o elo do processo que mais conhece a criança. 
Sendo assim, em uma terapia com crianças, a participação dos adultos que 
convivem com elas será de suma importância. Tanto que geralmente, parte 
desses adultos a iniciativa de procurar terapia por desconfiar que a criança não 
está bem. Mas quando os familiares da criança devem saber se devem procurar 
um psicólogo? “A terapia para crianças deve ser procurada quando ela apresenta 
déficits sociais ou emocionais significativos, que atrapalham de maneira 
considerável seu desenvolvimento” (CALÓ, INPA, 2020). 
A criança que apresentar, além disso, comportamento diferente, estranho, após 
sofrer algum trauma (físico ou psicológico), passar por algum acidente, abuso ou 
estar estressada, ansiosa ou deprimida, também deve ser encaminhada para um 
profissional. A terapia lúdica deve ser uma opção para crianças que tem 
dificuldades de interação social, como as com TEA (transtorno do espectro 
autista), TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade), e crianças 
com problemas de comunicação oral. A ludoterapia seria indicada para esses e 
outros casos. 
A ludoterapia surgiu para analisar o comportamento de crianças, observando sua 
interação com o universo lúdico dos brinquedos, jogos, brincadeiras e histórias. 
Possivelmente, foi a psicanalista austríaca Hermine Hug-Hellmuth a primeira a 
usar as brincadeiras em suas práticas. Hermine era uma estudiosa da obra de 
Sigmund Freud, médico austríaco criador da Psicanálise, e foi a primeira da área 
a se concentrar no estudo e tratamento clínico de crianças (CALÓ, INPA, 2020). 
4 
 
Em 1921, Hermine criou uma terapia formal baseada na ludicidade e 
desenvolveu material adequado para o tratamento de crianças que estavam sob 
seus cuidados (CALÓ, 2020). Seguindo o mesmo caminho que Hermine, e na 
mesma época, a psicanalista também austríaca, Melanie Klein analisava seus 
pacientes pequenos através de brincadeiras, e para muitos é considerada a 
patronesse da Ludoterapia. Ambas as psicanalistas, no entanto, são importantes 
para essa abordagem. 
Melanie usava então, técnicas da psicanálise para acessar o inconsciente infantil 
(memórias, recalques, etc.) e descobrir possíveis origens de problemas 
comportamentais e psíquicos das crianças que frequentavam seu consultório. 
Ao brincar, a criança expressava ansiedades, emoções reprimidas, fazia 
projeções e externava opiniões sem a consciência de estar sendo analisada 
(CALÓ, 2020). 
Como a criança usa bastante o jogo simbólico, ou seja, usa o faz-de-conta para 
fazer representações da realidade, Melanie ia fazendo associações e tentando 
desvendar os comportamentos observados. Assim, se a criança sofreu algum 
trauma, abuso ou teve algum incidente não identificado, a psicanalista poderia 
acessar o inconsciente para explorar essas situações usando as brincadeiras. 
Outra psicanalista importante a usar a ludoterapia foi a filha mais nova de Freud, 
Anna. Ao contrário de Melanie, Anna não via a brincadeira como representação, 
mas como autoexpressão do mundo interior. O brinquedo era usado como um 
atrativo para a criança poder expressar seus pensamentos e sentimentos. 
Além dessas autoras, seguiram os estudos sobre ludoterapia o psicólogo 
americano Carl Rogers. Ele desenvolveu estudos e uma terapia centrados na 
pessoa, individuais. Era importante, portanto, que opaciente estabelecesse uma 
relação de parceria e confiança com seu terapeuta. Como as crianças possuem 
ainda uma linguagem egocêntrica quando pequenas e um vocabulário restrito, 
verbalizar seus sentimentos e pensamentos é complicado, e em uma terapia 
psicanalítica é preciso pensar em outras formas de explorar o universo da 
criança (CALÓ, 2020). Assim, Rogers usava as brincadeiras espontâneas para 
estabelecer vínculo e fazer a criança se expressar. Segundo Brito & Paiva (2012, 
p.102), 
Rogers (1942/2005) propôs como aspectos fundamentais: 
1. Calor e capacidade de resposta por parte do psicólogo que 
torna a relação possível e a faz evoluir gradualmente para um 
nível afetivo mais profundo. [...] porém, trata-se de uma relação 
nitidamente controlada, uma ligação afetiva com limites 
definidos; 
2. Permissividade em relação à expressão dos sentimentos; 
3. Existem limites definidos à ação do indivíduo […], ajudando a 
criar uma estrutura que o cliente possa utilizar para conseguir 
uma melhor compreensão de si mesmo; 
5 
 
4. Relação psicológica livre de qualquer pressão ou coerção (p. 
87-88). 
Seguindo essa mesma linha, a psicóloga americana Virgínia Axline também 
usava a ludicidade para conseguir ganhar a confiança das crianças, suas 
pacientes, e fazer com estas se expressassem. Segundo Brito & Paiva (2012, 
p.102), 
Axline (1947/1984) destacou, como princípios básicos, as 
seguintes propostas: 
1. O terapeuta deve desenvolver um bom relacionamento com a 
criança para o estabelecimento do rapport; 
2. Aceitar a criança completamente; 
3. Estabelecer um sentimento de permissividade; 
4. Reconhecer e refletir os sentimentos; 
5. Manter o respeito pela criança; 
6. A criança indica o caminho; 
7. A terapia não pode ser apressada; 
8. O valor dos limites (p. 87). 
Como podemos perceber, as técnicas de Rogers e Axline são bem parecidas e 
focadas na conquista da confiança e na promoção de um ambiente lúdico, 
confortável e acolhedor para as crianças. Existem algumas divergências teóricas 
entre os dois autores, porém, na prática, se assemelham bastante. 
A ludoterapia costuma ser usada com crianças e praticamente foi desenvolvida 
para elas, porém, existem adolescentes e adultos que também podem se 
beneficiar com a técnica. A relação com o universo lúdico seria então usada para 
acessar memórias, trazer flashbacks, enfim, acessar o inconsciente. Essas 
técnicas usadas com adultos são comuns. 
Autores como os citados nos parágrafos anteriores influenciaram psicólogos e 
psicanalistas brasileiros desde a década de 1970. Porém, como bem revisou em 
sua dissertação de mestrado, Morais (2011), faltam estudos sobre a prática de 
Ludoterapia, embora existam profissionais que usem essa abordagem. Morais 
também destaca a necessidade de se oferecer mais atendimento psicológico às 
crianças no Brasil. 
 
 
 
6 
 
CAPÍTULO 2 – COMO FUNCIONA O PROCESSO DA LUDOTERAPIA 
 
Agora que já conhecemos o início da Ludoterapia e sua definição, iremos 
descrever a forma como ela é aplicada pela Psicologia/Psicanálise no tratamento 
das crianças, e também de adolescentes e adultos. Primeiramente, vamos 
conhecer as características dessa terapia. 
A ludoterapia é uma abordagem voltada, inicialmente, para crianças, 
principalmente para as que por serem muito novas, ou apresentarem problemas 
de comunicação verbal, precisam de outras formas para expressar seus 
sentimentos, emoções e pensamentos. Se a criança estiver com algum 
problema, ou trauma por exemplo, e não conseguir falar sobre isso, as 
brincadeiras podem fazer com ela mostre o que está acontecendo. 
Se a criança estiver com comportamentos inadequados, também, como 
agressividade, falta de limites ou indisciplina, também podemos estabelecer um 
vínculo com a criança através dos brinquedos e jogos simbólicos, ensinando 
essa criança o que é correto e o que não é. A indicação deve vir de um 
profissional de saúde, geralmente são crianças com (CALÓ, INPA, 2020): 
 
 Atrasos no desenvolvimento; 
 Problemas de aprendizagem; 
 Procedimentos médicos; 
 Doenças crônicas; 
 Comportamentos inadequados ou agressivos; 
 Situações familiares como: divórcio, morte, brigas; 
 Situações traumáticas; 
 Violência doméstica, abusos ou negligência; 
 Ansiedade, depressão e outros quadros psicológicos; 
 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); 
 Transtorno do espectro autista (TEA). 
 
As brincadeiras, brinquedos e jogos usados em uma terapia lúdica não são 
aleatórios. O psicoterapeuta escolhe cuidadosamente os materiais que irão 
compor o ambiente e seleciona os que serão mais úteis no processo para 
apresentar à criança. O lúdico, portanto, é uma ferramenta não só de tratamento, 
mas de aprendizagem. Assim, outros profissionais podem usar a ludoterapia em 
seus trabalhos, tais como (CALÓ, INPA, 2020): 
 
• Psicopedagogos: usando o lúdico em suas intervenções com crianças 
que têm problemas e dificuldades de aprendizagem; 
 
• Terapeutas Ocupacionais: inserindo a ludicidade em suas práticas e 
seus projetos; 
7 
 
• Assistentes Sociais: usando brinquedos e brincadeiras lúdicas na 
interação com crianças em situações de vulnerabilidade ou traumáticas; 
 
• Fisioterapeutas: usando o lúdico nos tratamentos com crianças em 
recuperação. 
A partir do jogo simbólico, dos brinquedos e das associações, a criança 
consegue expressar-se de forma a fornecer informações para seus terapeutas e 
assim, estes podem elaborar um tratamento, que também pode se servir do 
universo lúdico. Problemas frequentes na infância são (CALÓ, INPA, 2020): 
 
 Separação dos pais; 
 Perda de um ente querido; 
 Problemas escolares; 
 Problemas familiares e 
 Abusos físicos e emocionais. 
 
O tratamento vai objetivar reduzir os traumas, o estresse, a tristeza e outros 
sintomas que estejam interferindo no desenvolvimento da saúde mental da 
criança. Para cada caso, o terapeuta irá testar objetos e situações lúdicas 
diferentes, recolher e analisar as informações e por fim, estabelecer metas e um 
tratamento. Esse tratamento pode se estender à toda a família e também à 
escola. 
E não são só crianças que se beneficiam de uma terapia lúdica. Adultos com 
dificuldades emocionais e psíquicas também podem ser pacientes desse 
tratamento. Lúdico significa algo que se faz por prazer, um entretenimento, uma 
diversão, se isso pode ser uma forma de se curar ou de diminuir a dor, então 
deve servir a todos. Vejam os casos em que a ludoterapia pode ser usada 
(CALÓ, INPA, 2020): 
 
 Demência e Alzheimer; 
 Doenças crônicas e cuidados paliativos; 
 Traumas, abusos físicos e mentais; 
 Dificuldades intelectuais; 
 Problemas no controle da raiva; 
 Problemas infantis mal resolvidos; 
 Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT); 
 Uso de substâncias maléficas à saúde. 
 
Embora a terapia lúdica parece ter somente um enfoque, os psicólogos 
acabaram adotando técnicas diferentes para trabalhar com ela. Dentro da 
ludoterapia, existem duas técnicas diferentes: a terapia diretiva e a terapia não 
diretiva, vejamos. 
https://inpaonline.com.br/blog/demencia/
https://inpaonline.com.br/blog/alzheimer/
https://inpaonline.com.br/blog/transtorno-do-estresse-pos-traumatico-tept-2/
8 
 
 
• Terapia Não-Diretiva 
Nesta terapia, o psicólogo ou psicanalista interfere o mínimo possível nas 
interações da criança com os brinquedos e objetos lúdicos. É um método 
considerado não-invasivo, no qual a criança age sozinha, elaborando por si 
mesma as soluções para as problemáticas apresentadas. Essa terapia também 
é chamada de Psicodinâmica. 
Na terapia não-diretiva, a criança brinca livremente. São apresentadas 
situações-problema que a criança deve conhecer, interagir e resolver. Na 
psicodinâmica, sua sinônima, adultos também são tratados de forma igual, 
atuando ativamente na resolução de conflitos. Carl Rogers, citado anteriormente, 
desenvolveu essa técnica que foi adaptada para o público infantil por Virgínia 
Axline, tambémcitada (CALÓ, INPA, 2020). 
 
• Terapia Diretiva 
Nessa terapia, o profissional irá traçar diretrizes para seu trabalho com o 
paciente, orientando as interações e direcionando a criança para situações pré-
elaboradas. Ele pode brincar com a criança, jogar, contar histórias, apresentar 
vídeos e discutir seu conteúdo, fazer representações, etc. cada criança terá o 
ambiente e os materiais preparados para ela, assim como as situações. Alguns 
jogos digitais também podem ser usados, tais como (CALÓ, INPA, 2020): 
 
 Os de concentração e aprendizado; 
 Jogos de RPG (representações); 
 Jogos de simulação de vida, como The Sims. 
 
Assim, podemos perceber que existem múltiplas possibilidades de usar a 
ludoterapia, com diversos públicos e diferentes métodos. As opções de 
instrumentos, brinquedos, jogos e objetos lúdicos também são bem variadas 
atualmente, cabendo ao profissional selecionar a técnica e montar o ambiente 
como preferir. 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE IDEAL PARA A LUDOTERAPIA 
 
Para que o terapeuta possa usar o método da Ludoterapia, é preciso que ele 
prepare um ambiente apropriado para as brincadeiras e a prática da ludicidade. 
O ambiente lúdico pode ser uma brinquedoteca ou uma ludoteca, ou mesmo algo 
parecido. Neste capítulo, iremos descrever como deve ser esse ambiente para 
que a criança consiga desenvolver uma interação com os objetos a ponto de o 
terapeuta poder realizar seu trabalho de análise. 
Para se desenvolver, fisicamente e cognitivamente, a criança precisa brincar. No 
aspecto físico, as brincadeiras estimulam a coordenação motora e o movimento 
psicomotor, na parte cognitiva e mental, ela estimula as estruturas mentais, e na 
parte emocional, brincar relaxa e diverte a criança, fazendo-a se abrir para o 
ambiente e para as interações sociais. 
Um ambiente lúdico deve promover alguns estímulos para que a criança consiga 
se sentir acolhida o suficiente para relaxar, brincar e assim poder expressar suas 
emoções e pensamentos. Esses estímulos devem ser: sensoriais, motores, 
cognitivos e tecnológicos. Assim, o terapeuta pode lançar mão de um e outro 
grupo de estímulos para acessar o inconsciente das crianças. A seguir, 
descreveremos mais detalhadamente esses estímulos. 
 
• Estímulos Sensoriais 
No ambiente ideal para o público infantil não podem faltar estímulos sensoriais. 
É preciso que haja muitas cores, em várias tonalidades, para estimular o cérebro 
da criança. Deve haver uma boa variedade de desenhos e paisagens que 
remetam ao mundo infantil. A parte visual é a primeira a chamar a atenção da 
criança e deve produzir um encantamento. Na parte tátil, o terapeuta deve se 
atentar a móveis adaptados ao tamanho da criança, que sejam confortáveis e 
seguros. Poltronas, mesinhas, cadeirinhas, puffs, lousas, estantes com livros e 
brinquedos, são opções adequadas. 
O estímulo sonoro também pode fazer parte do ambiente, mas deve ser usado 
apropriadamente, para não estressar a criança ou a dispersar. Assim, a sala 
pode ter brinquedos sonoros e aparelhos de som, mas que fiquem em local 
pouco acessível, sendo colocados somente quando o terapeuta achar 
conveniente. 
A sala pode ter doces, frutas, sucos, petiscos, algo que agrade ao paladar da 
criança, mas deve ser feita uma consulta prévia aos pais antes de oferecer 
qualquer alimento à criança, para que se evite reações alérgicas. Muitos pais 
também não costumam dar doces ou certos alimentos a seus filhos, por isso, 
sempre devem ser consultados. 
A Aromaterapia pode ser uma parceira da ludoterapia. O terapeuta pode 
selecionar alguns cheiros específicos para cada sessão, para cada criança, 
10 
 
atendendo suas necessidades. Outras terapias que podem ajudar na ludoterapia 
são a Musicoterapia e a Cromoterapia. 
 
• Estímulos Motores 
Os brinquedos podem compor esse tipo de estímulo. Na sala de ludoterapia 
devem constar uma grande variedade de brinquedos para todas as faixas-
etárias, tais como: 
 Jogos de montar com peças grandes, para bebês e crianças até 2 anos; 
 
 Identificação de texturas através de jogos de memória ou caixa de 
surpresas; 
 
 Instrumentos musicais; 
 
 Pelúcias, bonecos e bonecas, personagens; 
 
 Miniaturas como cozinhas, lojas, cidades, circos, autoramas, fazendas, 
postos de gasolina, casa de bonecas, que estimulam a interação; 
 
 Papel e lápis de cor, lousa, giz-de-cera, tinta, pincéis; 
 
 Faz-de-conta: fantoches, bonecos, dedoches, roupas, fantasias, cenários. 
 
Além desses exemplos, o terapeuta pode investir em qualquer outro brinquedo 
que estimule o movimento, a coordenação motora grossa e fina, enfim, que faça 
com que a criança manipule os objetos. 
 
 
• Estímulos Cognitivos e Mentais 
Uma parte da sala de ludoterapia deve ser destinada aos estímulos mentais e 
cognitivos. Nesse setor devem constar jogos como: jogo da memória, quebra-
cabeça, lógica, damas, xadrez, jogos de tabuleiro. Também deve haver um canto 
destinado à leitura, já que esta estimula o raciocínio, mas falaremos sobre isso 
em capítulo próximo. 
Em uma terapia diretiva, o psicólogo pode interagir com a criança para testar seu 
desenvolvimento cognitivo, usando por exemplo, as provas operatórias 
piagetianas. Jean Piaget foi um biólogo suíço que desenvolveu uma teoria para 
o desenvolvimento cognitivo das crianças. Essa teoria classifica o 
desenvolvimento infantil em quatro estágios (PIAGET, 1964): 
 
 Período Sensório-Motor (0-2 anos): fase de imitação, de exercício dos 
reflexos, a criança desenvolve a linguagem, é egocêntrica; 
11 
 
 
 Período Pré-Operacional (2-6 anos): a criança inicia o processo de 
socialização e exercita o jogo simbólico, o faz-de-conta; 
 
 Período Operacional Concreto (7-12 anos): período das operações 
mentais concretas, aprende a lógica, conceitos de número, de tempo, de 
reversibilidade. Existe um material de apoio ao professor, chamado “Caixa 
de Piaget”, na qual encontramos provas operatórias desenvolvidas por ele 
para analisar em qual período a criança se encontra; 
 
 Período Operacional Formal (a partir dos 12 anos): início do 
pensamento lógico-dedutivo, a criança começa a entender e criar 
pensamentos formais, abstratos, teorias mais complexas. 
Para que o adulto consiga identificar o estágio de desenvolvimento, Piaget 
desenvolveu as provas operatórias, divididas em: conservação de superfície, 
conservação de líquidos, conservação de massa, conservação de comprimento, 
conservação de volume, inclusão de classes, seriação e intersecção de classes. 
Com essas provas, o terapeuta pode avaliar o desenvolvimento cognitivo da 
criança. 
 
• Estímulos Tecnológicos 
Em uma sala de terapia lúdica devem constar também acessórios tecnológicos, 
como jogos, ambientes virtuais, testes, provinhas. Vários instrumentos que são 
usados em psicoterapia podem ser digitalizados, como os testes de inteligência. 
Além de usar os recursos tecnológicos em seu consultório, o terapeuta pode 
indicar alguns aplicativos e programas que ajudem a reduzir sintomas negativos, 
para os pacientes usarem em casa. Vejamos abaixo alguns exemplos de 
recursos tecnológicos para serem usados na ludoterapia: 
 
 Jogos de ambientes virtuais: pode-se inserir o paciente em um 
ambiente confortável e divertido, ou pedir que ele mesmo crie o seu; 
 
 Aplicativos que relaxam: existem vários aplicativos que emitem sons e 
imagens relaxantes, ou que promovem joguinhos divertidos para aliviar o 
estresse e a ansiedade; 
 
 Jogos interativos: o paciente interage virtualmente com pessoas, 
objetos e ambientes, reais ou criados em computador. 
 
• A Brinquedoteca e a Ludoteca 
A criança realiza operações lúdicas desde o nascimento. Em diversos ambientes 
e com diversas pessoas, ela pode brincar, jogar, interagir e se divertir. Por isso, 
12 
 
não é difícil criar um ambiente lúdico infantil. O desafio nesse caso, dadas tantas 
opções atuais, é escolher o brinquedo, o jogo, as atividades mais eficazes para 
cativara atenção da criança e entretê-la. No caso de uma terapia, então, é 
preciso que a interação da criança com o ambiente seja ainda mais aprofundada, 
para que gere informações suficientes para o profissional fazer sua análise. 
Esse profissional pode optar então pela montagem de uma brinquedoteca, que 
tem paradigmas adequados para a interação da criança. O objetivo de uma 
brinquedoteca é estimular a criatividade e a espontaneidade da criança, o que 
pode ajudar muito na análise baseada na ludoterapia. Segundo Cunha (1992, 
apud COSTA & NETO, 2016, p.368), a brinquedoteca é “Um espaço preparado 
para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande 
variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um 
lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. ” 
O termo brinquedoteca passou a ser usado na década de 1930, nos Estados 
Unidos, onde um comerciante percebeu que crianças roubavam brinquedos de 
sua loja para poder brincar e reclamou com o diretor da escola das crianças. O 
diretor percebeu que as crianças precisavam de um espaço para se divertirem, 
com brinquedos e jogos, e criou uma brinquedoteca com brinquedos 
emprestados (COSTA & NETO, 2016). 
Atualmente, as brinquedotecas fazem parte de praticamente todos os lugares 
que recebem o público infantil. Nós as encontramos em shoppings, escolas, 
hospitais, lojas, restaurantes, salões de beleza, praças, clínicas de saúde e 
estética, clubes e outros ambientes. Além de serem de fácil manutenção, as 
brinquedotecas são um diferencial a mais ao atender crianças ou pais. Por isso, 
em um consultório de ludoterapia ela pode ser de máxima utilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
CAPÍTULO 4 – O VALOR DO LIMITE NA LUDOTERAPIA 
 
Quando pensamos em uma criança em uma sala de ludoterapia, envolvida pelo 
ambiente lúdico e pelas brincadeiras e brinquedos à disposição, devemos 
imaginar como essa criança irá se comportar se não houver um limite traçado 
para as suas ações. Neste capítulo, iremos descrever duas abordagens já 
citadas aqui, a de Carl Rogers e Virginia Axline, que traçam limites (ou não) para 
os pacientes, incluindo crianças, quando em análise ludoterápica. 
 
 
• Abordagem de Carl Rogers 
Dentro da Psicologia clínica existe uma abordagem chamada ACP, ou seja, 
Abordagem Centrada na Pessoa. Essa abordagem tem como características 
principais um atendimento que proporcione autonomia, independência e 
liberdade de ação ao paciente. Carl Rogers foi o primeiro psicólogo a usar essa 
abordagem, reforçando o vínculo entre terapeuta e paciente, e também a 
liberdade deste paciente em sua terapia. 
A terapia não-diretiva, que já descrevemos aqui, é a escolhida por Rogers para 
trabalhar com seus pacientes. Nessa terapia, o paciente tem a liberdade de 
interagir com o ambiente e seus objetos, de refletir sobre si mesmo e suas ações, 
de analisar a situação. Na terapia não-diretiva, o terapeuta não realiza 
entrevistas, como a anamnese, nem faz análise inicial com testes padronizados. 
O ambiente próprio para essa terapia deve conter elementos que permitam ao 
paciente uma imersão em seu eu e a atitude do terapeuta deve ser condizente 
com esse ambiente. Para Rogers (1983), um ambiente ideal para a sua forma 
de terapia deve ter três elementos: a congruência, a aceitação positiva 
incondicional e a compreensão empática. Vejamos cada um deles: 
 
 Aceitação Positiva Incondicional: aceitar o paciente como ele é, com 
toda sua personalidade e bagagem, sem interferências e julgamentos; 
 
 Compreensão Empática: saber se colocar no lugar do paciente e criar 
uma relação de confiança com ele; 
 
 Congruência: ao ter essa postura, baseada nas atitudes acima, o 
terapeuta consegue analisar a situação do paciente. 
 
Quando o paciente se trata de uma criança, no caso da ludoterapia, por exemplo, 
essa abordagem é ainda mais importante. É preciso aceitar a criança, 
demonstrar afeto, cativá-la, e dar liberdade para ela interagir com o terapeuta e 
com o ambiente, expressando seus sentimentos e emoções. 
 
A terapia de Carl Rogers sofre algumas críticas por conta da falta de limites para 
as crianças. Nessa terapia, o único limite é o horário da sessão. Sendo assim, 
14 
 
os críticos dizem que não há um aprendizado sobre o certo e o errado nesse tipo 
de abordagem. A resposta às críticas é que o excesso de restrições atrapalha o 
desenvolvimento da autonomia da criança, que acaba se inibindo e não 
manifestando suas frustrações. Sem falar que o consultório não seria o local 
desse tipo de aprendizado. Apesar disso, ainda existem limites, como a proibição 
de quebrar coisas e agredir o terapeuta (DORFMAN, 1992). 
 
Na sala de atendimento de ludoterapia, a criança tem menos limites que em 
casa, ou na escola, por exemplo, para que possa se sentir livre para se 
expressar. A afetividade e permissividade manifestada pelo terapeuta criaria um 
vínculo de confiança que se estenderia a outros adultos, e assim, a criança 
apresentaria um respeito, sem necessidade de coações. Além disso, a 
ansiedade e os medos intrínsecos diminuiriam, pois, a criança sabe que não será 
rejeitada na sessão (BRITO, 2012). 
 
 
• Abordagem de Virginia Axline 
A psicóloga americana Virginia Axline se aproxima de Carl Rogers em sua 
abordagem teórica, em relação ao limite da agressão ao terapeuta Brito (2012, 
p.51): 
 
Uma questão anteriormente levantada por Axline (1984[1947], 
1993[1969]) e reforçada por Dorfman é a do limite à agressão 
física da criança contra o terapeuta. Esse limite é de grande 
importância para que o terapeuta permaneça aceitando 
completamente a criança (atitude indispensável à permanência 
da relação terapêutica) e para que a criança não venha a sentir-
se culpada ou temerosa de represálias pelo seu comportamento 
de bater no terapeuta, o que poderia interferir na possibilidade 
de continuação da ludoterapia. 
 
Virginia Axline (1984) propõe oito princípios para a ludoterapia, que 
descreveremos agora. O primeiro princípio, que se aproxima da terapia de 
Rogers (aceitação positiva incondicional), é sobre a criação de um vínculo de 
confiança entre criança e terapeuta. Isso se dá pela postura amigável e flexível 
do terapeuta em relação às ações da criança. Não julgar, não criticar, não 
repreender a criança, manifestar simpatia, empatia e afeto, são atitudes que o 
terapeuta deve tomar na ludoterapia descrita por Axline. 
Como segundo princípio, Axline (1984) aponta a aceitação da criança de forma 
integral, acolhendo a criança de modo firme, porém amigável. Devemos colocar 
aqui que na ludoterapia de Axline e Rogers, não são feitas críticas, porém nem 
elogios ou reforços positivos. A postura do terapeuta é neutra nesse sentido. 
Assim, o terceiro princípio, da permissividade, leva a uma atitude mais de 
observação do que interferência nas interações da criança com o ambiente. A 
15 
 
criança deve ficar à vontade para fazer o que quiser dentro da sala, escolher 
seus brinquedos e suas ações. Se a criança manifestar um comportamento 
violento, o terapeuta deve se concentrar na análise do sentimento e não da ação 
(AXLINE, 1984). 
O quarto princípio de Axline (1984) se concentra no reconhecimento dos 
sentimentos da criança, identificando-os e analisando-os para descobrir uma 
possível causa para seus comportamentos e elaborar um tratamento. Axline 
afirma a importância de o terapeuta identificar e não interpretar os sentimentos 
da criança, para uma terapia mais objetiva. 
A confiança na capacidade da criança de resolver seus problemas, pelo menos 
os mais imediatos, define o quinto princípio. Dentro deste, o terapeuta deve 
interferir o mínimo possível nas ações do paciente. Isso vai fazer com que a 
criança se sinta segura para resolver suas questões. E assim, chegamos ao 
sexto princípio: o afastamento. É preciso que seja mantida uma distância pelo 
terapeuta para que a criança mergulhe em seu mundo através da interação com 
os objetos (AXLINE,1984). 
O sétimo princípio define que a terapia precisa construída pouco a pouco, 
através da relação criança-terapeuta, baseada em confiança e amizade, 
esperando que a criança se sinta segura para se expressar e respeitando o 
tempo de cada paciente. Por fim, o oitavo princípio diz respeito aos limites que a 
terapia deve estabelecer para que a criança se responsabilize por seus atos no 
ambiente ludoterápico (AXLINE, 1984). 
Tanto o tempo, como o espaço devem ser delimitados nitidamente para a 
criança, assim como o respeito ao terapeuta e aos objetos. Axline, porém, 
salienta que esses limites só devem se estabelecer se não reprimirem a criança 
e prejudicarem a relação de confiança do terapeuta com ela. A criança precisa 
aprender a não reprimir sentimentos, mas ações que sejam negativas nascidas 
dele. 
Esse trabalho, porém, exige flexibilidade na conduta do terapeuta e paciência 
para que ela construa essa maturidade. Assim, na questão dos limites de ações, 
Rogers é um pouco mais delimitador do que Axline, porém, na manifestação dos 
sentimentos por parte da criança, eles mantêm a mesma posição, pois ambos 
permitem a livre expressão de sentimentos. Para finalizar, segundo Brito & Paiva 
(2011, p.106): 
Ainda sobre os limites que o terapeuta deve colocar na relação 
terapêutica, ambos os autores enfatizaram a necessidade de 
que os limites na psicoterapia fossem esclarecidos ao cliente, 
seja ele adulto ou criança. Rogers justificou essa necessidade 
para a manutenção da aceitação incondicional, tão importante 
para a eficácia da terapia. Axline compreendia a importância dos 
limites para situar a criança de que a terapia faz parte do mundo 
de relações em que ela vive. Uma relação com características 
diferenciadas, sem dúvida, mas ainda assim uma relação onde 
o respeito mútuo é fundamental. 
16 
 
CAPÍTULO 5 – A PARTICIPAÇÃO INDIRETA DOS PAIS 
 
 
A Psicanálise tem em seu histórico, desde seu fundador Sigmund Freud, 
envolver os pais no processo de terapia, mesmo sendo impostos certos limites. 
Sua filha, Anna Freud atendia crianças, inclusive lançando mão da abordagem 
lúdica e incluía os pais em seus tratamentos, como educadores e com funções 
pedagógicas. Os pais, para ela, serviam de conectores no início da terapia, para 
ajudar a ganhar a confiança da criança e fazer com esta se sentisse à vontade 
(OLIVEIRA & GASTAUD, 2018). 
 
Uma das fundadoras da ludoterapia, Melanie Klein, tinha uma postura diferente. 
Klein não aceitava a participação dos pais por considerar que seriam um 
obstáculo a mais no caminho até o inconsciente da criança. Para isso, ela 
preferia que as crianças brincassem sozinhas, salvo alguns casos em que a 
presença da família poderia ajudar. Neste capítulo, iremos considerar essa 
postura terapêutica, porém, descreveremos a importância de uma participação 
indireta dos pais no processo de análise da criança (OLIVEIRA & GASTAUD, 
2018). 
 
Para Axline (BRITO, 2012), a conduta dos pais pode ser um agravante para os 
problemas da criança e não via necessidade de participação deles no processo 
terapêutico da criança. Ela comenta, porém, que pode ser proveitoso que os pais 
também passem por terapia, em alguns casos. Também em certos casos, Axline 
afirma que só a terapia dos pais já poderia auxiliar a criança, melhorando o 
relacionamento e a dinâmica interna da família. 
 
 
Axline (1984[1947], 1993[1969]) também pontua que um 
possível processo psicoterapêutico para os pais, e não para a 
criança, pode promover uma melhor compreensão dos pais 
sobre a situação familiar. Essa terapia seria suficiente para gerar 
mudanças, na medida em que os pais mudariam a sua forma de 
se relacionar com a criança. Daí a conclusão da autora de que, 
quando pais, ou responsáveis, e a criança são atendidos ao 
mesmo tempo, os efeitos podem ser potencializados (BRITO, 
2012, p.42). 
 
Quando se trata de problemas emocionais e psíquicos com crianças, são os 
adultos responsáveis, geralmente os pais, que levam a criança ao 
psicoterapeuta. Muitos se sentem culpados pela situação e pelas dificuldades 
que os filhos apresentam, se sentem julgados e frustrados. Por isso, é importante 
que o psicoterapeuta inicie o tratamento com a criança ao mesmo tempo em que 
conversa francamente com os pais. Eles precisam se sentir seguros, se livrarem 
de certas questões, como vergonha e culpa, para poderem ajudar a criança. 
 
17 
 
O psicoterapeuta sabe da importância dos pais no processo terapêutico. Eles 
podem ser valiosos nesse processo. Além disso, uma boa conversa com os pais 
pode trazer informações úteis ao terapeuta, inclusive hipóteses sobre o 
comportamento que está causando preocupação. Em qualquer terapia, saber 
como é a dinâmica familiar do paciente ajuda a entender certas ações do mesmo 
e certos sentimentos (BRITO, 2012). 
 
 
Os pais chegam para o atendimento da criança cheios de 
questões, defesas e de sentimentos, como culpa e inadequação. 
Os pais sabem que sua conduta é ditada pela sociedade e sua 
performance avaliada pelos seus próximos. Justamente por isso, 
o ludoterapeuta, segundo VanFleet, Sywulak e Sniscak (2010), 
deve estabelecer uma postura não julgadora na interação com 
os pais, mas sim uma postura compreensiva frente a estes 
(BRITO, 2012, p.71). 
 
Tanto na conversa com os pais, como em suas interações com a criança, o 
terapeuta deve deixar claro que não haverá fluxo de informações, ou seja, que 
nada falado na terapia irá ser passado a outrem. Sendo a criança o foco da 
terapia, suas informações devem ser respeitadas, e se necessário, não 
chegarem nem mesmo aos pais. O terapeuta pode informar sobre o estado 
emocional e psíquico da criança sem revelar tudo que ela conta (BRITO, 2012). 
 
Mas então, como seria a participação dos pais na ludoterapia? Mesmo que 
indireta, a participação dos adultos responsáveis pela criança, os que mais 
convivem com ela, é de fundamental importância. Primeiro, porque são esses 
adultos que identificaram algo no comportamento da criança que os fizesse levá-
la na psicoterapia. E segundo, que esses adultos se tornam parceiros do 
terapeuta. A seguir, descrevemos alguns aspectos importantes dessa parceria: 
 
 
 Estabelecer uma relação de confiança com os pais da criança; 
 
 Os pais devem manter pagamento em dia; 
 
 Os pais devem ser responsáveis e sempre levar a criança para a 
ludoterapia na hora e dia marcados; 
 
 Caso seja necessária a entrevista, ou entrevistas, os pais devem 
responder com sinceridade a mesma; 
 
 Os pais devem seguir as orientações do terapeuta em relação às suas 
ações e seus hábitos, de modo a colaborar com o tratamento da criança; 
 
 O terapeuta deve manter em relação aos pais a mesma empatia e 
neutralidade que mantém em relação à criança; 
18 
 
 
 O terapeuta deve manter os pais informados sobre a evolução da terapia; 
 
 Os pais devem sanar suas dúvidas sempre que possível. 
 
Também é importante que os pais fiquem atentos ao comportamento da criança, 
antes, durante e depois da terapia. Os pais podem ter levado a criança à terapia 
por um motivo, mas durante o processo, algumas atitudes da criança devem 
receber atenção, tais como: choro excessivo, agressividade, problemas na 
escola, isolamento, tristeza, medos. 
Por fim, podemos entender que os pais podem colaborar bastante com a terapia 
e consequentemente com a recuperação da criança. Além de identificar os 
problemas que levam ao terapeuta, eles podem manter o mesmo informado e 
através de sua conduta, incentivar a criança na busca de um equilíbrio psíquico 
e emocional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
CAPÍTULO 6 – A COMUNICAÇÃO NA LUDOTERAPIA 
 
O objetivo da ludoterapia é fazer com que a criança se expresse através da 
brincadeira e da interação com um ambiente lúdico. Nessa interação, ela irá 
manifestar conflitos interiores, dificuldades ou qualquer outro problema que 
esteja enfrentando. O psicoterapeuta, ao analisar essa interação, irá tentar 
compreendera situação e elaborar um tratamento. Suas observações têm o 
objetivo de acessar o inconsciente infantil, entender a dinâmica da personalidade 
da criança e fazer com que ela projete nas brincadeiras os problemas psíquicos. 
 
Como já estudamos, existem dois tipos de terapias que podem usar a 
abordagem ludoteráoica. A terapia não-diretiva, na qual o psicoterapeuta não 
interfere nas interações da criança, e a terapia diretiva, na qual o psicoterapeuta 
faz orientações e trabalhos dirigidos. Neste capítulo, iremos entender como 
funciona a comunicação entre a criança e seu terapeuta nessas duas 
abordagens. 
 
Quando a criança brinca, ela se comunica através de uma linguagem não-verbal. 
E a criança tem consciência de estar se expressando através da brincadeira, 
tanto, que muitas vezes não permite o acesso do adulto. Em uma sessão de 
ludoterapia, a criança pode fazer um desenho e mostrar ao terapeuta, mas pedir 
que este não mostre aos pais. Isso significa que ela está estabelecendo uma 
comunicação com o profissional, mas quer que esta seja bilateral. 
 
Muitas atitudes da criança são indicativos de emoções ou pensamentos que 
precisam ser compreendidos pelo adulto. O ato de brincar faz com que a criança 
saia da situação atual, que lhe causa angústia, e se mova para uma outra 
situação, que lhe permite a expressão de seus pensamentos e sentimentos, de 
forma mais livre e tranquila. Segundo Axline (1984, apud CASTELO BRANCO – 
ACP, 2002): 
 
A criança necessita de oportunidade para não somente 
expressar seus sentimentos, mas para se sentir segura ao fazer 
isso. Ela precisa saber que seus sentimentos são aceitáveis e 
apropriados. Dando-lhes oportunidade, as crianças têm a dádiva 
da comunicação honesta, franca (Axline,1972). Empenhando-se 
no processo de brincar em um ambiente de aceitação, cuidado 
e segurança, as crianças são capazes de desenvolver 
completamente suas personalidades. Este desenvolvimento do 
eu possibilita o crescimento. 
Existem casos, porém, em que a criança procura interagir com objetos e jogos 
que sejam menos pessoais. Ela cria uma barreira para a projeção de seus 
conflitos e dificulta a análise do terapeuta. Nesse caso, é preciso que entre a 
terapia diretiva, na qual o terapeuta vai direcionar a criança para situações, 
objetos e brincadeiras nos quais ela possa expressar melhor seu inconsciente. 
Um exemplo, é contar uma história e propor um desenho a partir dela. 
20 
 
 
Para que a ludoterapia seja efetiva, o emocional da criança precisa ser 
acessado. Como a criança (mais ainda as menores) tem dificuldade de verbalizar 
seus sentimentos e pensamentos, por conta de não ter ainda vocabulário, nem 
maturação cognitiva e emocional suficientes, as brincadeiras acabam sendo uma 
porta de comunicação com estado psíquico da criança. 
 
Existem casos em que a terapia não-diretiva funciona bem e a criança 
estabelece um vínculo interativo com o terapeuta. Porém, no caso de crianças 
mais fechadas emocionalmente, é preciso a intervenção do mesmo. Ele não 
consegue, somente através da observação, detectar as dificuldades pelas quais 
a criança possa estar passando. 
 
A terapeuta Mariuza Pregnolato (2020) afirma que técnicas diretivas ou não-
diretivas irão depender da criança e também do terapeuta. Ela, porém, prefere a 
postura não-diretiva, observando a criança e se posicionando somente quando 
for indispensável. Na primeira sessão, ela estabelece alguns limites, como proibir 
a agressão a si e ao terapeuta, e quebrar objetos. Segundo Mariuza 
(PREGNOLATO, 2020): 
 
As crianças em processo terapêutico tendem a manifestar 
bastante afetividade em relação ao terapeuta, o que facilita muito 
todo o trabalho. Este, porém, deverá corresponder com reserva, 
pois seu papel será sempre acolhê-las tendo em mente levá-las 
em busca da sua independência e autonomia, o que é feito 
gradativamente. Assim, o vínculo afetivo mais forte vai se 
desfazendo de forma lenta e natural, preparando a criança para 
receber alta do processo terapêutico sem sentir-se abandonada, 
rejeitada ou privada de um lugar que lhe fazia sentir-se muito 
bem. 
A maioria das crianças estabelece uma forte relação de confiança e afeto com o 
terapeuta através da ludoterapia. Primeiro porque está em um ambiente no qual 
se sente segura e acolhida, segundo, porque vê no terapeuta alguém neutro, 
que não se relaciona aos seus problemas cotidianos e terceiro, porque sente que 
suas expressões estão sendo compreendidas. 
Conforme a criança vai avançando no tratamento, a melhora pode se apresentar, 
mas é importante que os pais não interrompam esse tratamento abruptamente. 
Aliás, para que a evolução aconteça, a comunicação do terapeuta não deve se 
restringir à criança. É preciso que ele busque informações com pais, com a 
escola e com todos que convivem com essa criança. A participação de todos é 
importante nesse processo de cura. 
Para Castelo Branco (2002), a comunicação da criança com o terapeuta, se bem 
estabelecida, irá não só ajudar a resolver possíveis questões psíquicas, mas 
gerar aprendizado, autonomia e autoconhecimento. A troca de informações, de 
interações que acontecem nas sessões de ludoterapia, ajudam a construir um 
emocional mais seguro para a criança, assim como maturidade cognitiva e 
psíquica. 
21 
 
Quando uma criança está com problemas e não consegue manifestar seu 
descontentamento ou sofrimento, ela começa a apresentar comportamentos que 
fogem do que os pais consideram sua normalidade, tais como “comportamentos 
agressivos, birras, dificuldades de concentração, dificuldades no 
estabelecimento de relações humanas” (CASTELO BRANCO, 2002). Nesse 
momento, a ludoterapia entra como ferramenta para que essa criança consiga 
manifestar a origem desses comportamentos para o terapeuta. 
E não são somente comportamentos que são analisados, o terapeuta também 
se concentra em outras linguagens usadas pela criança enquanto brinca: sons, 
expressões faciais, gestos, postura, etc. O modo como a criança interage com 
os brinquedos, suas escolhas dentro do ambiente e a relação com o terapeuta 
também dão sinais do que se passa em seu aparelho psíquico, mostram sua 
personalidade e podem apresentar importantes informações. 
Ao brincar com a criança, o terapeuta consegue que ela se sinta confortável e 
se divirta, mas principalmente, se torna um parceiro da mesma. Além de ambos 
conseguirem construir uma experiência positiva, a criança aprende uma nova 
forma de lidar com as situações, consigo mesma e com o outro. Portanto, a 
comunicação com a criança na ludoterapia precisa ser o mais bem-sucedida 
possível, para que esse tratamento tenha efeito, inclusive a longo prazo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
CAPÍTULO 7 – O NASCIMENTO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS 
 
Até o século XVIII não havia uma concepção de infância tal qual a temos 
atualmente. As crianças eram consideradas adultos em miniatura, 
subdesenvolvidos, usavam as mesmas roupas que os pais e não havia nenhum 
cuidado em especial. A educação era voltada para o aprendizado de tarefas e 
hábitos da vida adulta. A literatura, tampouco, era voltada para entreter e cativar 
o público infantil. Neste capítulo, iremos descrever como surgiu a literatura 
infantil e como ela desponta atualmente como uma ferramenta de diversão e de 
aprendizado. 
Até a Idade Moderna, a criança então era tratada como um pequeno adulto. 
Durante a Idade Média e o advento do Feudalismo, as crianças não recebiam a 
atenção e os cuidados próprios para a infância, eram tratadas como adultos, sem 
existir uma linguagem, uma educação ou tratamento apropriados. A família 
dormia no mesmo cômodo, não havia privacidade, nem higiene, nem se 
preservava a intimidade das crianças; elas faziam as mesmas tarefas dos pais e 
eram responsáveis por si mesmas. 
Com o surgimento das cidades, após o enfraquecimento do Feudalismo, surge 
a burguesia e assim uma nova concepção de família: pai, mãe e filhos. A família 
burguesa começa a trataras crianças com mais cuidados. Como valorizavam a 
propriedade privada e as relações de hereditariedade, tratar com cuidado os 
herdeiros, de modo a perpetuar o nome e patrimônio familiar, era uma prioridade 
(SILVA, 2009). 
A partir desse momento histórico, começamos a pensar em criança então, como 
um ser especial, com desenvolvimento e características próprias, e que precisa 
ter uma educação que se volte especificamente para essa etapa. Por essa 
época, educadores como o suíço Johann Hendrich Pestalozzi começam um 
trabalho pedagógico específico para a infância. A médica italiana maria 
Montessori constrói espaços próprios para a educação infantil. Filósofos como 
Jean-Jacques Rousseau escrevem sobre cuidados e uma educação própria para 
as crianças e a pedagogia ganha força. 
Como o crescimento da preocupação com a infância e uma educação específica 
para ela, nasce também a Literatura Infantil. Mas histórias para crianças já 
haviam sido escritas antes. François Fenélon, teólogo católico e escritor francês, 
já escrevia livros para crianças no século XVII com o objetivo de educá-las 
moralmente. Essas histórias visavam ensinar crianças a se comportar, a não se 
colocar em perigo e a obedecer aos adultos (SILVA, 2009). 
Como precursor da literatura para crianças, ainda no século XVII, Charles 
Perrault escreve seus famosos contos de fadas, tais como: Contos de Mamãe 
Gansa, A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Gato de 
Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. 
Esses contos sofrem adaptações ao longo dos séculos, mas ainda hoje são 
conhecidos pela maioria das crianças. 
23 
 
No século XVIII, os irmãos Grimm adaptaram para a escrita, contos e histórias 
que ouviam dos camponeses, tomando o cuidado de suavizar as mesmas, que 
continham incesto, canibalismo e outras bizarrices. Eles escreveram: A Gata 
Borralheira (uma outra versão), Branca de Neve, Os Músicos de Bremen, João 
e Maria, entre outras. Seus contos, muitas vezes assustadores, tinham em sua 
origem o objetivo de manter as crianças longe dos perigos das florestas. 
Esses contos, no entanto, não tinham um caráter lúdico, tampouco pedagógico, 
seu objetivo era alertar as crianças para os perigos e por esse motivo, ainda não 
poderíamos vê-los como literatura infantil (SILVA, 2009). No século XIX, outros 
autores, porém, conseguiam dar mais ludicidade às suas histórias e se 
destacaram na literatura infantil, tais como: 
 
 Hans Christian Andersen: escreveu O Patinho Feio, A Roupa Nova do 
Rei, entre outras; 
 
 Charles Dickens: escreveu o clássico Oliver Twist e também David 
Coperfield. 
 
Hans Christian Andersen, escritor dinamarquês, se tornou uma referência tão 
importante no mundo da literatura para crianças que deu nome a um prêmio que 
é considerado por muitos o maior do gênero. No mesmo caminho, Charles 
Dickens, romancista inglês, cria personagens infantis com os quais as crianças 
se identificam 
Outro tipo de história que era contada para as crianças, desde tempos muito 
antigos, eram as fábulas. Como características elas tinham: uma moral 
(ensinamento, moral da história), personagens animais com falas e 
características humanas, eram breves e vinham em prosa ou verso. Podemos 
citar como importantes autores de fábulas e contos para o universo infantil, os 
seguintes: 
 
 Jean de La Fontaine: O Lobo e o Cordeiro; 
 
 Esopo: A Lebre e a Tartaruga, O Lobo e a Cegonha, O Leão Apaixonado. 
 
No século XIX, com o fortalecimento da Pedagogia e a construção de um 
conceito de infância baseado no modelo burguês, a literatura infantil ganha força 
e caráter comercial e pedagógico, além de lúdico. O nascimento desse gênero, 
no entanto, foi cercado problemas. Não havia ainda fundamentos e paradigmas 
literários para a área e muito preconceito envolvia o gênero. Estudiosos, literatos 
e acadêmicos da área não reconheciam autores, nem suas obras, como 
literatura de fato. Silva (2009, p.138) afirma que: 
24 
 
 
Por seu caráter singular, nasce uma comparação hierarquizada 
com a literatura não infantil, a canonizada, a aceita pela 
academia, a lida e praticada pelo público adulto. Devido a essa 
classificação, a literatura infantil já nasce com o peso da 
menoridade, pois é atrelada a um projeto educacional (político-
pedagógico) e a seu público, que é a criança, sem mencionar a 
predestinação mercadológica que em si está embutida. 
 
Assim, a literatura infantil, desde o seu nascimento, envolve a discussão sobre 
ser realmente literária, ou seja, artística, lúdica, ou ser um gênero de caráter 
pedagógico ou mercadológico. O fato é que não existe uma receita para se 
escrever livros para crianças. Estes, precisam respeitar o mundo da infância, os 
gostos dessa faixa etária e também atender ao contexto cultura e histórico. Por 
isso, o escritor de livros para crianças tem que conhecer o universo delas. Tem 
que entender a fantasia, a imaginação, a diversão, tem que saber criar e 
manipular os cenários e personagens que as crianças gostem. 
 
• Literatura Infantil no Brasil 
Quando falamos em histórias infantis no nosso país nos remetemos 
imediatamente a Monteiro Lobato. Muito criticado atualmente, por ser 
considerado um autor racista, preconceituoso, ele ainda é o pai desse gênero no 
Brasil e suas histórias, seus personagens, mesmo polêmicos, refletem um 
contexto que de fato, desprivilegiava negros e mulheres. Portanto, não cabe aqui 
uma crítica ao autor, mas apresentar a importância de sua obra para nossa 
literatura infantil. 
Embora já escrevesse e possuísse inclusive uma editora (publicara sucessos 
como Urupês e criara o famoso personagem Jeca-Tatu), Monteiro Lobato inicia 
sua história com a literatura infantil brasileira em 1921, com a publicação de 
Narizinho Arrebitado. Para ele, histórias escritas para crianças não devem ter 
como objetivos educar, moralizar, mas produzir um entretenimento e um 
encantamento. 
Seu sucesso com o público infantil o levou a ampliar suas histórias, publicou 
também: Fábulas de Narizinho (1921), O Saci (1921), O Marquês de 
Rabicó (1922), A Caçada da Onça (1924), O Noivado de Narizinho (1924), Jeca 
Tatuzinho (1924) e O Garimpeiro do Rio das Garças (1924). Ele criou então, 
todo o universo do Sítio do Pica-Pau Amarelo, com os personagens famosos de 
Tia Nastácia, Pedrinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa e a boneca de pano 
Emília (VIEIRA, 2016). 
Na década de 1930, outros autores brasileiros se destacam na literatura infantil, 
como Viriato Correia e Cecília Meireles. Havia um interesse maior do público e 
as editoras intensificaram o investimento nesse gênero. Já em 1940 essas 
editoras produzem bastante material, não só nacional, como traduções. Nas 
25 
 
décadas seguintes, mais escritores surgem, como Ziraldo, Ana Maria Machado 
e Ruth Rocha. Autores como Mário Quintana, Vinícius de Morais e Clarice 
Lispector também escrevem para o público infantil. 
Nos anos de 1980, a nossa literatura infantil atinge um alto nível, tendo alguns 
autores, como Lygia Bojunga Nunes, Ana Maria Machado e Roger Melo, 
contemplados com o prêmio Hans Christian Andersen. Atualmente, a literatura 
infantil, tanto a brasileira como a estrangeira, têm uma boa quantidade de 
autores e uma grande variedade temática. Para Silva (2009, p.140): 
 
Talvez pela história e pela trajetória da literatura infantil ter sido 
tão conturbada, e inicialmente apresentando claros fins 
pedagógicos, sua conceituação ainda hoje não seja tão 
respeitada como deveria ser no meio literário. O intuito educativo 
que marca o surgimento desta literatura provavelmente sugeriu 
e inculcou no meio acadêmico a visão da literatura infantil como 
a não representação da arte, a função didático-pedagógica e a 
produção de menor qualidade. 
Esse caminho, que conduza a um fim pedagógico, ou que conduza a tendências 
mercadológicas, é errôneo. A literatura não deve servir a essas ações, ela deve 
servir como entretenimento, como lazer. O seu fim nãopode ser nada mais do 
que encantar, do que embelezar. Assim, no próximo capítulo, iremos entender 
como a literatura vai ser importante para as atividades lúdicas nas terapias com 
as crianças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
CAPÍTULO 8 – A LITERATURA INFANTIL NA LUDOTERAPIA 
 
Como já comentamos no capítulo anterior, a literatura deve servir como arte, 
como forma de entretenimento, lazer, encantamento, enlevo. Ler é uma forma 
de usar a imaginação, de inspirar os sentidos e também de acessar o 
inconsciente. Por isso, a literatura para crianças pode e deve servir de 
ferramenta na ludoterapia. Neste capítulo, iremos descrever como usar esse 
gênero no trabalho ludoterápico com as crianças. 
O encantamento e o interesse pelos livros nascem cedo na criança. Mesmo 
antes de aprender a ler, a criança deseja pegar, apalpar, folhear. Através das 
figuras a criança realiza objetivos, cria ações, conta histórias. O ser humano quer 
ouvir histórias, quer saber sobre elas, quer ler, quer contá-las. Crianças não 
fogem dessas características e a infância recebe cada vez mais a atenção da 
literatura e da contação de histórias. 
O biólogo suíço Jean Piaget (1964), afirma que a criança de 0 a 2 anos se 
encontra no período sensório-motor de desenvolvimento cognitivo. Nesse 
período, essa criança irá exercitar os cinco sentidos, ou seja, ela irá se atentar a 
cores e movimentos (visão); aos sons do ambiente (audição); aos gostos dos 
alimentos (paladar); às texturas e formas dos objetos (tato); e aos cheiros 
(olfato). Assim, tudo que despertar essas sensações, despertará também a 
curiosidade e a atenção da criança. 
Sendo esses seus interesses, a literatura infantil atual toma o cuidado de 
produzir livros específicos para essa idade. Estes livros vêm com muitas imagens 
coloridas, cheiros, texturas, alto relevo e até sons, fazendo nascer bem cedo o 
interesse pela literatura. Conforme crescem, os bebês irão se atentar à 
linguagem humana e ouvir histórias irá estimular não só sua audição, mas sua 
inteligência. 
A infância é uma fase muito importante no desenvolvimento das estruturas 
mentais e na construção do conhecimento, além de ser fundamental na formação 
da personalidade do indivíduo. Para que isso ocorra de forma natural e saudável, 
os estímulos do meio devem ser adequados. Além de um recurso pedagógico, o 
livro de leitura deve ter nessa fase a função de estimular a imaginação infantil e 
permitir à criança o acesso aos seus pensamentos e sentimentos. Por isso, a 
literatura infantil é um instrumento poderoso na aprendizagem, seja ela cognitiva 
ou emocional. 
Para que a literatura infantil cumpra essa função de enlevar e de cativar a 
criança, é preciso que o terapeuta conheça não só as características que atraem 
o público infantil, como se atentar às faixas etárias e seus interesses. Um canto 
ou sala de leitura para crianças precisa ter um mínimo disponível para cada 
etapa do desenvolvimento, pois para cada etapa da vida da criança, existem 
interesses específicos, vejamos. 
 
27 
 
A partir dos sete anos de idade, por exemplo, as crianças 
preferem histórias com um enredo reduzido envolvendo 
aventuras no ambiente próprio: família, comunidade e histórias 
de fadas. Com oito anos, a preferência é por histórias vinculadas 
à realidade. Aos nove anos, a criança preferirá as histórias de 
fadas com enredo mais elaborado. E a partir dos dez anos, 
escolherá as fábulas, os mitos e as lendas (Coelho,1990,15). 
Jean Piaget, em sua classificação dos estágios de desenvolvimento cognitivo da 
criança (1964), afirma que o período pré-operacional tem como uma de suas 
características o exercício do Jogo Simbólico. Este, nada mais é que a 
brincadeira de faz-de-conta, na qual a criança exercita a inteligência através de 
criações mentais e situações imaginárias. Nesse exercício, a história infantil se 
torna uma parceira fundamental, pois dá à criança, os elementos necessários 
para preencher sua imaginação. 
Por outro lado, no período operacional concreto, a partir dos sete anos, a criança 
prefere se atenta mais ao real e ao concreto, inserindo em suas preferências de 
leitura e em suas histórias, um universo mais concreto e com mais realismo. Na 
ludoterapia, podemos preparar atividades literárias para ambos os períodos da 
seguinte forma: 
 
 Pré-Operacional (2-6 anos): nesse período recomenda-se o uso de 
livros com figuras, com cores e sons, texturas, personagens divertidos e 
coloridos, histórias que envolvam fantasia, mágica, aventura, ficção. A 
linguagem deve ser simples, assim como a narrativa, na linguagem que a 
criança compreenda. Também é importante contar histórias usando livros, 
fantoches, dedoches, bonecos, entre outros objetos; 
 
 Operacional Concreto (7-12 anos): como a criança já está se 
alfabetizando, a criança pode escolher e ler histórias a seu gosto. Pode-
se disponibilizar livros com mais realismo e narrativas mais complexas; 
 
 Operacional Formal (a partir dos 12 anos): para atender o público pré-
adolescente, o ludoterapeuta pode optar por livros do gênero infanto-
juvenil. Atualmente, o mercado para esse gênero também cresce muito. 
 
Através dos livros e das histórias infantis, a criança vai estar em relação com 
aspectos importantes da vida que ainda são inéditos para ela. A cultura, por 
exemplo, é um desses aspectos: a criança conhece (pouco ainda) a cultura de 
seu local, de sua família, através da leitura, das narrativas, ela irá conhecer 
outras realidades, outras culturas. A literatura apresentará personagens com 
outro modo de viver, de agir, com outros costumes e tradições. Isso não só 
estimulará sua imaginação e consequentemente sua inteligência, como abrirá 
sua mente para a diversidade. 
28 
 
Até mesmo sua própria realidade pode ser explorada e compreendida através 
da literatura. Ao escolher livros sobre histórias de sua região, de seu país ou sua 
cidade, a criança aprenderá a ver a sua própria cultura sob uma nova 
perspectiva. 
As tradições familiares e culturais podem estar relacionadas, inclusive, ao motivo 
de a criança estar passando por alguma dificuldade que levou os adultos a 
indicarem-na para a terapia. 
O livro serve para criança se projetar ou projetar seus problemas na história ou 
seus personagens. Por isso os contos de fadas, por exemplo, são atemporais e 
cativam tanto o interesse de adultos e crianças, porque existem múltiplos 
significados escondidos em suas histórias. Castelo Branco (2002b), afirma que: 
 
Como toda arte significativa, o sentido mais profundo dos contos 
de fadas será diferente para cada pessoa, e diferente para a 
mesma pessoa em momentos diversos de sua vida. A criança 
extrairá um sentido diferente do mesmo conto de fadas ou da 
mesma história infantil, dependendo dos seus interesses e 
necessidades do momento. Sendo-lhe dada a oportunidade, ela 
voltará ao mesmo conto ou história quando estiver pronta a 
ampliar significados ou substituí-los por novos. 
O psicólogo russo Lev Vygotsky (2002) estudou o desenvolvimento humano 
através da linguagem e como esta serve de instrumento para o homem entender 
seu contexto histórico-cultural e adquirir saberes que lhe proporcionarão maior 
acesso ao seu meio social. A literatura infantil então, irá ser um instrumento para 
adquirir esses saberes, levando a criança a conhecer e explorar o mundo em 
que vive e seus aspectos sociais, históricos e culturais. 
Além de ter acesso ao conhecimento social, a criança, através das histórias 
infantis também permitem acesso dos outros a ela mesma. Isso porque a criança 
se identifica de tal modo com essas histórias e seus personagens que inicia um 
diálogo com eles, tão profundo às vezes, que permite ao adulto entender o que 
se passa em sua mente. É o que veremos no próximo capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
CAPÍTULO 9 – O RELATO DA HISTÓRIA INFANTIL NA LUDOTERAPIA 
 
A interpretação de qualquer história é livre, assim como a aquisição de 
informações e construção de significados,portanto, ao narrar sua versão, a 
criança se liberta através dela. Assim, traumas emocionais, medos e conflitos 
podem surgir em sua narração particular. 
A literatura é uma expressão de subjetividade. Quando lemos, acessamos essa 
subjetividade e a relacionamos com a nossa própria. Assim, a criança consegue 
a identificação com sentimentos presentes nas histórias que lê. Por isso os 
contos de fadas e outras histórias infantis são universais, porque em qualquer 
parte e em qualquer tempo transmitem algo que sempre fará parte do universo 
infantil. Um dos recursos mais importantes para expressar essa subjetividade e 
imprimir universalidade na literatura infantil é sua linguagem. 
Mesmo não havendo uma fórmula mágica para se escrever um livro que agrade 
as crianças, construir uma linguagem que atente para o mundo infantil é 
fundamental para o sucesso de um livro desse gênero. Se o livro é infantil, a 
linguagem tem que representar esse universo. E não falamos aqui somente da 
linguagem no sentido gramatical, na adaptação de vocabulário, estamos falando 
de entrar no mundo da criança com uma narrativa que a conquiste. 
Essa linguagem precisa ser uma ferramenta de acesso à criança, tendo que usar 
para isso, simbologia e códigos que a criança entenda. Vejamos alguns recursos 
usados na linguagem das histórias infantis: 
 
• Sentido Conotativo: a história infantil geralmente é repleta de sentido 
figurado, ou seja, com as palavras fora do seu sentido original; 
 
• Polissemia: uso de palavras com vários significados, para dar dinâmica 
à narrativa e porque o vocabulário da criança ainda é restrito; 
 
• Polifonia: uso de mais de uma voz narrativa; 
 
• Gírias e Neologismos: usar um vocabulário atual, moderno e criar novas 
palavras é um recurso que cativa crianças e adolescentes; 
 
• Metáforas: fazer comparações usando imagens mentais é um recurso 
que encanta ao leitor. Exemplo: a cidade em que Ana vivia era um grande 
jardim perfumado. 
 
Toda a narrativa infantil precisa ter personagens com os quais a criança se 
identifique, cenário que a encante, tempo e espaço que sejam facilmente 
compreendidos por essas crianças, e ações que cativem sua atenção e a 
divirtam. Todos esses se adequam ao tipo de narrativa que o autor vai escrever, 
30 
 
por exemplo, se uma crônica, uma fábula ou conto. Assim, para ser escrever 
uma narrativa infantil, os elementos devem combinar com esse universo. 
O mesmo vale para poemas, o autor deve estar afinado com o discurso infantil, 
com os sentimentos da criança, suas fantasias, seu modo de agir e de pensar. 
A obra literária consegue cativar o leitor quando estabelece uma comunicação 
com seus sentidos, sua história, suas preferências. Podemos gostar de muitos 
livros, podemos, como adultos, saber apreciar um bom clássico, mas a criança 
vai estabelecer um vínculo diferente com a literatura, um vínculo pessoal. 
Para facilitar esse processo, o ludoterapeuta precisa disponibilizar em sua sala 
uma grande variedade de livros, para que a temática seja também variada. Isso 
aumenta o interesse da criança e também a probabilidade de esta escolher um 
livro com o qual se identifique. 
Quando a criança escolhe o livro, folheia, mergulha nele, ela se diverte e quando 
ela tem contato com as histórias, ela se comunica através delas e com elas. Usar 
histórias infantis é um instrumento de interação com a criança, sua linguagem e 
seu universo. Na ludoterapia, o terapeuta, ao contar histórias para crianças, ou 
apresentar essas histórias através dos livros, estabelece um vínculo, um diálogo 
com a mente infantil. 
Através da experiência literária, a criança se identifica, se reconhece e fornece 
ao seu terapeuta informações para que ele elabore para ela um final feliz, assim 
como o obteve o personagem com o qual se identificou. Essa criança pode 
inclusive, através da narrativa, melhorar seu processo de comunicação e usar as 
mesmas ferramentas de sucesso que o protagonista usa em sua história. 
A terapia por meio de livros recebe o nome de Biblioterapia. Ela se caracteriza 
pelo uso de material de leitura para tratamentos psicológicos, sendo o livro uma 
ferramenta de diálogo, a ser comentado, interpretado e onde a criança pode se 
projetar. A história infantil traz para si o leitor, formando uma parceria com o 
narrador. É uma experiência lúdica, simbólica, afetiva. E essa mágica pode ser 
compartilhada com o terapeuta. 
Para o processo terapêutico baseado em livros, Pardeck (1990, apud CASTELO 
BRANCO, 2002), afirma que existem três fases: 
 
• Identificação: a criança encontra pontos de similaridades entre ela e o 
protagonista da história, seriam emoções, sentimentos, modo de agir, 
vontade, entre outros; 
 
• Experiência: liberação de sentimentos, emoções e pensamentos, de 
modo verbal ou não; 
 
• Auto-aceitação: a criança consegue olhar para si mesma e se 
reconhecer. 
 
31 
 
Para aumentar a probabilidade de a criança se identificar com o livro, é 
recomendável que ela mesma o escolha, mas obviamente o terapeuta é quem 
vai pré-selecionar o acervo que ficará à disposição da criança. Na clínica, deve 
ser montado um cantinho da leitura. Esse canto, deve ter poltronas confortáveis, 
sofá, ou colchões, almofadas. 
O mais importante é oferecer liberdade para o corpo e para a mente, então deve 
ser limpo, quieto e confortável. Quanto aos livros, existem alguns tipos de 
conteúdo que são próprios para crianças, vejamos os que devem constar na 
nossa casa ou escola: 
 
• Conteúdo explicativo: são livros que tem fins didáticos; 
 
• Conteúdo artístico: são livros cuja finalidade é encantar e entreter; 
 
• Conteúdo de humor: histórias de humor e situações engraçadas; 
 
• Mitologia e fantasia: contos da mitologia grega, romana, nórdica, entre 
outras, já tem suas adaptações para o universo infantil. Não esqueçamos 
de incluir nisso as histórias de fantasia, que têm seus cenários e 
personagens específicos; 
 
• Fábulas 
 
• Contos de fadas 
Os livros para crianças também devem ter muitas ilustrações, pois em um 
primeiro momento são elas que irão chamar a atenção da criança. Como dica, 
listamos abaixo alguns títulos com excelentes ilustradores: 
 
 Rei bigodeira e sua banheira, de Audrey Wood; 
 O catador de pensamentos, de Monika Feth; 
 Os dez amigos, de Ziraldo; 
 Maria vai com as outras, de Silvia Orthof; 
 João e o pé de feijão, de Ruth Rocha. 
Nesse espaço devem ficar também teatro de fantoches, dedoches, materiais de 
pintura, modelar e de se cenários, roupas e fantasias. Esses acessórios auxiliam 
na interpretação dos textos lidos pela e para a criança e facilitam a exteriorização 
de opiniões e sentimentos sobre o livro. Para fechar nossos estudos, salientamos 
a importância de proporcionar à criança que procura a ludoterapia, um ambiente 
acolhedor e próprio para suas brincadeiras, além de se postar de modo afetivo 
e sem críticas. Sem isso, a ludoterapia não irá proporcionar sua maior 
característica: a diversão. 
 
32 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Chegamos ao fim de nosso aprendizado sobre a Ludoterapia. Neste trabalho, 
pudemos entender como nasceu essa abordagem, inspirada na Psicanálise de 
Sigmund Freud e desenvolvida por médicas que seguiam seus estudos, inclusive 
sua filha, Anna. A ludoterapia nasceu para ajudar o terapeuta a acessar o 
inconsciente e a bagagem pessoal das crianças, fazendo com que elas sejam 
analisadas enquanto brincam. 
As crianças, principalmente as menores, têm dificuldades em se expressar, por 
conta da falta de maturação cognitiva, emocional e física, e por estarem ainda 
aprendendo sobre comunicação e uso da linguagem. Ao brincar, essa criança 
se expressa através de seus brinquedos e jogos simbólicos. Para que se atinja 
esse objetivo, o terapeuta deve preparar o ambiente para receber essa criança, 
disponibilizando materiais adequados, móveis confortáveis e clima acolhedor. 
As sessões de ludoterapia geralmente usam a abordagem não-diretiva, na qual 
o terapeuta interfereminimamente nas ações e interações da criança, porém, 
limites de tempo e certas regras devem ser obedecidos, tais como, não agredir 
o terapeuta, ou quebrar objetos e móveis. Para que essa terapia seja bem-
sucedida também é importante que os pais cumpram seus deveres e deem 
suporte à terapia. 
Por fim, pudemos compreender como a literatura infantil se torna uma ferramenta 
importante para o ludoterapeuta. É ideal montar um cantinho da leitura, 
confortável e convidativo, no qual livros para todas as idades estejam 
disponíveis. Também deve-se deixar que a criança escolha o que ler. Para 
auxiliar na comunicação da criança com o terapeuta a respeito das histórias, 
pode-se colocar à disposição da mesma: bonecos, dedoches, fantoches, etc. na 
Ludoterapia, o mais importante é a criança se divertir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
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2002. 
 
 
 
http://www.ceale.fae.ufmg.br/pages/view/historia-da-literatura-infantil-no-brasil.html
	INTRODUÇÃO
	CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA LUDOTERAPIA
	CAPÍTULO 2 – COMO FUNCIONA O PROCESSO DA LUDOTERAPIA
	CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE IDEAL PARA A LUDOTERAPIA
	CAPÍTULO 4 – O VALOR DO LIMITE NA LUDOTERAPIA
	CAPÍTULO 5 – A PARTICIPAÇÃO INDIRETA DOS PAIS
	CAPÍTULO 6 – A COMUNICAÇÃO NA LUDOTERAPIA
	CAPÍTULO 7 – O NASCIMENTO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS
	CAPÍTULO 8 – A LITERATURA INFANTIL NA LUDOTERAPIA
	CAPÍTULO 9 – O RELATO DA HISTÓRIA INFANTIL NA LUDOTERAPIA
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	BIBLIOGRAFIA

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