Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Políticas sociais envolvem a luta da classe trabalhadora por seus direitos. Ao tomar consciência de sua exploração, a classe trabalhadora busca a concretização de seus direitos, lutando por eles, pressionando o Estado a responder algumas de suas demandas. Enfatizamos que são algumas de suas reivindicações, porque de fato não é lucrativo para os governantes que respondam a todas as demandas dos trabalhadores, pois se assim acontecer, não vão possuir nenhuma “moeda de troca” quando necessitarem amenizar conflitos novamente. Exemplo claro desse fato são as greves por melhores condições de trabalho e aumento salarial. Dificilmente são concedidos aumentos salariais na porcentagem exigida pelos trabalhadores – sempre são oferecidos reajustes menores que os solicitados. Dessa forma, nenhuma política social irá dar conta de suprir por completo as necessidades da população, mas sim algumas necessidades. Assim, caso seja necessário buscar a chamada “paz social” novamente, o Estado pode lançar mão de novas políticas sociais. Mas se o Estado utiliza as políticas sociais para amenizar conflitos, como essas políticas incluem demandas dos trabalhadores? Ora, imaginem que o Estado tenha consciência de que a população precise de saneamento básico, seja essa consciência tomada através de pesquisas ou reclamações recebidas. Se os governantes oferecerem a esta população uma campanha de doação de alimentos, essa população ficaria “feliz” e esqueceria o problema do saneamento básico? Poderia até esquecer por algum momento, mas de fato o problema do saneamento estaria lá, presente na vida daquelas pessoas, promovendo uma série de doenças que poderia atingir ainda outra área de atenção pública: a saúde. Logo, o Estado deve responder a essa demanda específica: saneamento básico. Na visão liberal, as políticas sociais são negadas, pela máxima de que o indivíduo é livre para alcançar seu lugar na sociedade através do mercado, com o discurso de que: As políticas sociais acomodam; As políticas sociais estimulam o ócio; As políticas sociais “viciam” o trabalhador, impedindo sua busca por melhores condições de vida. Esses discursos são embasados nos preceitos liberais de que, se o trabalhador for “assistido” com políticas sociais, esses trabalhadores não vão se esforçar para buscar uma melhor qualidade de vida através de um trabalho, pois independente da sua procura por emprego existem políticas que vão ampará-los. Reforçando nosso argumento, Vicente de Paula Faleiros, em seu livro Política social do Estado capitalista (9ª edição, de 2006 – Ed. Cortez), faz a seguinte colocação; As políticas sociais do Estado não são instrumentos de realização de um bem-estar abstrato, não são medidas boas em si mesmas, como soem apresentá-las os representantes das classes dominantes e os tecnocratas estatais. Não são, também, medidas más em si mesmas, como alguns apologetas de esquerda soem dizer, afirmando que as políticas sociais são instrumentos de manipulação e de pura escamoteação da realidade da exploração da classe operária (2006, p.59-60). O trecho acima deixa claro que a política social é um mecanismo permeado pela luta de classes, que por um lado legitima o papel do Estado perante as classes trabalhadoras, regulando a força de trabalho e, ao mesmo tempo, é resultado das reivindicações das classes trabalhadoras pela consolidação de seus direitos. Envolve contradições e conflitos. As políticas sociais acabam, de certa forma, legitimando o Estado (e seus governantes) como benfeitores. Quando cedem as demandas da população mais empobrecida, os governantes conseguem se legitimar no poder, passando a impressão de que estão acima de qualquer interesse além do bem- estar de todos. Só não podemos deixar de perceber que ao ceder essas pressões, eles estão tentando se legitimar, para que possam permanecer mais tempo no poder. Por outro lado, como já afirmamos anteriormente, essa legitimação só será eficaz se responderem as demandas reais da população mais empobrecida. Isso envolve negociações e conflitos, tentando chegar a um “denominador comum” que atenda aos interesses de ambas as classes, mesmo que seja de forma temporária.
Compartilhar