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Sumário - V.1, N.1 (2015) CIÊNCIAS AGRÁRIAS CARACTERIZAÇÃO AGROMOFOLOGICA DE VARIEDADES DE MILHO CRIOULO (Zea mays L.) NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL Diógenes Cecchin Silveira, Vitor Belzarena Monteiro, José Luiz Tragnago, Luiz Pedro Bonetti 1-11 INTOXICAÇÃO POR ACETURATO DE DIMINAZENO EM CÃES: O QUE É PRECISO SABER? Danieli Brolo Martins, Amanda Bisso Sampaio, Ricardo Krammes, Cristina Krauspenhar Rossato, Aline Alves da Silva 29-39 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA EM SERRAS E FACAS EM UM FRIGORÍFICO DA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL Ludmila Noskoski, Lunara Luisa Sulzbach Secchi, Raquel Wendt 40-43 CONCEITOS E CONSIDERAÇÕES SOBRE O BEM ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Aline Alves da Silva, Luiz Felipe Kruel Borges 44-51 MULTIDISCIPLINAR HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO NATURAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA Any Alice Silva Porto, Lucília Pereira da Costa, Nádia Aléssio Velloso 12-19 IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO AMBIENTE HOSPITALAR Mônica Pelentir, Viviane Cecília Kessler Nunes Deuschle, Regis Augusto Norbert Deuschle 20-28 Caracterização agromofologica de variedades de milho crioulo (Zea mays l.) Na região noroeste do Rio Grande do Sul Agromorphologic characterization of mayze land varieties in the northwest region of Rio Grande do Sul. SILVEIRA, Diógenes Cecchin²; BONETTI, Luiz Pedro¹; TRAGNAGO, José Luiz¹; NETO, Nelson¹; MONTEIRO, Vitor³; ¹ Eng. Agr. Msc. Professores - Curso de Agronomia – Unicruz ² Acadêmico – Curso de Agronomia – Unicruz – gaspar_silveira@hotmail.com ³ Acadêmico – Curso de Agronomia- Unicruz Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho agronômico e a variabilidade morfológica de 16 variedades que integram o processo de resgate e multiplicação de sementes de milho crioulo, realizado por produtores que praticam a agricultura familiar no Rio Grande do Sul. Para a avaliação das características agromorfológicasas variedades foram cultivadas em experimento inteiramente casualizado, instalado na Área Experimental do Curso de Agronomia da Universidade de Cruz Alta, no ano agrícola de 2012/2013, em Cruz Alta, Estado do Rio Grande do Sul. Houve diferença estatística significativa para os seguintes descritores avaliados:altura de planta, altura de espiga, diâmetro do colmo, número total de folhas, comprimento de espiga, diâmetro de espiga, número de fileiras de grãos por espiga, número de grãos por fileira e peso de 1000 grãos. A avaliação de rendimento de grãos mostrou-se prejudicada e, portanto, desconsiderada, em razão da ocorrência de um período de carência hídrica de 40 dias, ocorrido logo após o florescimento e em boa parte do período de enchimento de grãos da maioria das variedades avaliadas. Os dados obtidos permitem concluir que o trabalho de resgate, manutenção e multiplicação de sementes de variedades de milho crioulo, realizado por agricultores que desenvolvem atividades agroecológicas no Rio Grande do Sul, tem sido eficiente na fixação das principais características morfológicas que diferenciam os genótipos avaliados no presente estudo. Palavras-Chave: Fenótipo. Variabilidade morfológica. Agroecologia. Abstract The aim of this study was to evaluate the agronomic performance and morphological variability of 16 varieties originated from the landrace maize rescue process, as well as the multiplication of these seeds, made by family farmers in Rio Grande do Sul State. For the evaluation of morpho-agronomic characteristics, the varieties were cultivated in a completely randomized experiment, located at the experimental field of the Agronomy Course of the University of Cruz Alta, in the 2012/2013 crop season. There were statistically significant differences for the following characters: plant and spike height, diameter of the rachis, total number of leaves per plant, number of leaves above the spike; length and diameter of spike; number of row of grains per spike; number of kernels per row and the average 1000 grain weight. Grain yield evaluation was not considered due to a 40-day period of water stress during the grain filling stage of the genotypes under study. Data obtained led to the conclusion that the work of rescue, maintenance and multiplication of landrace maize seeds, made by farmers that practice the agroecological activities in Rio Grande do Sul, have been efficient for fixing the main morphological characteristics that differentiate the genotypes under study. Key-words: Zea mays L. Landraces varieties. Morphological characterization. Introdução O milho (Zea mays L.) pertence à família Poaceae e é uma espécie originária da América do Norte, com centro de origem genética no México, sendo destinada ao consumo in natura para alimentação animal e humano, tendo ainda utilização industrial Correspondência para: Diógenes Cecchin Silveira E-mail gaspar_silveira@hotmail.com Rua Venâncio Aires, nº 1774 Centro CEP 98005-096 Cruz Alta - RS mailto:gaspar_silveira@hotmail.com Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 diversificada. Seu grão, entre outras finalidades, é transformado em óleo, farinha, amido, margarina, xarope de glicose e flocos para cereais matinais. A produção global de milho foi de 957,1 milhões de toneladas na safra 2012/13, sendo a mais expressiva entre os principais cultivos agrícolas no mundo (USDA, 2013). Os Estados Unidos é o país que mais cultiva milho na agricultura mundial, com mais de 30 milhões de hectares a cada ano, seguido da China. Aliás, essa expressiva performance da agricultura dos Estados Unidos deveu-se à exploração da heterose no melhoramento de plantas, através do cultivo de plantas híbridas, certamente um dos mais significativos triunfos da genética vegetal. Há estimativas que indicam que nos anos 1941-1944 os produtores de milho dos Estados Unidos tenham colhido acima de 50 milhões de toneladas a mais, por terem utilizado híbridos em vez de variedades de polinização livre. Por volta de 1950, a maior parte da produção de milho nos Estados Unidos já era de híbridos. Hoje, é híbrido praticamente todo o milho cultivado na agricultura desse país (BONETTI, 2008). Na safra 2013/14, a estimativa é de que os produtores norte-americanos irão colher 349,60 milhões de toneladas de milho (USDA, 2013), mais que o dobro da produção de todos os grãos juntos do Brasil, portanto. A expansão e adoção desse novo tipo de uma milenar planta, originária do México, que inclusive criou uma expressão que identifica toda uma região produtora de grãos nos Estados Unidos – corn belt, (cinturão do milho, em português) – foi devida substancialmente à melhor produtividade que apresentava, mas havia outros fatores. Dentre eles, destacava-se a grande uniformidade dos híbridos que os tornavam mais úteis para a colheita mecânica; a aparência estética de uma lavoura de milho, na qual a alta similaridade das plantas, cada qual com uma só espiga na mesma altura do colmo, era um atrativo para os produtores de milho; e os híbridos podiam também incorporar características qualitativas favoráveis e serem adaptados para diferentes ambientes, especialmente ampliando a faixa de plantio e o tempo de cultivo. A partir do advento do milho híbrido e evidentemente com o avanço do melhoramento genético de outras espécies vegetais de importância econômica, como trigo, arroz, soja, cevada e sorgo, entre outras, houve significativa modificação no sistema produtivo agrícolamundial na segunda metade do século 20. Segundo Meneguetti et al., (2002), a partir dos anos 50, ocorreu uma série de transformações Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 na agricultura, entre as quais as alterações genéticas foram, talvez, as que mais afetaram a vida dos agricultores, com a utilização de fertilizantes, agroquímicos, e máquinas e equipamentos capazes de sustentá-las. Segundo esses autores, até então, as unidades de produção gozavam de um grau relativamente elevado de autonomia, produzindo suas sementes, fazendo a reciclagem de nutrientes para seus cultivos e procurando garantir a produção de subsistência. Nessa nova realidade agrícola, e segundo dados coletados pela Embrapa (2012), o Brasil tornou-se o terceiro maior produtor mundial de milho. Na safra 2012/13, como exemplo disso, a produção nacional desse cereal atingiu 78 milhões e 468 mil toneladas (CONAB, 2013). A primeira ideia é o cultivo do grão para atender ao consumo na mesa dos brasileiros, mas essa é a parte menor da produção. O principal destino da safra são as indústrias de rações para animais. Cultivado em diferentes sistemas produtivos, o milho é plantado principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. O grão é transformado em óleo, farinha, amido, margarina, xarope de glicose e flocos para cereais matinais. O estudo das projeções de produção do cereal, realizado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Mapa, indica aumento de 19,11 milhões de toneladas entre a safra de 2008/2009 e 2019/2020. Em 2019/2020, a produção deverá ficar em 70,12 milhões de toneladas e o consumo em 56,20 milhões de toneladas. Esses resultados indicam que o Brasil deverá fazer ajustes no seu quadro de suprimentos para garantir o abastecimento do mercado interno e obter excedente para exportação, estimado em 12,6 milhões de toneladas em 2019/2020. Número que poderá chegar a 19,2 milhões de toneladas. Para se consolidar esse alto potencial de produção, principalmente em se tratando do cultivo de milho, é necessário disponibilizar-se de cultivares híbridas, resultantes de apurada metodologia de melhoramento genético, com um potencial produtivo elevado, mas certamente mais dependentes de insumos externos e fatores tecnológicos de uso intensivo, só possíveis de serem praticados em lavouras de médio a grande porte. Na safra 2011/12, foram disponibilizadas 489 cultivares de milho (sendo 316 cultivares convencionais e 173 cultivares transgênicas), portanto verifica- se uma redução em relação à safra anterior. A dinâmica de renovação das cultivares foi mantida, sendo que 72 novas cultivares foram acrescentadas e 81 cultivares deixaram de ser comercializadas. Entretanto, o perfil das cultivares que entraram e saíram do mercado foi bastante diferente quando se Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 compara as convencionais e as transgênicas (CRUZ et al., 2012). Segundo esses mesmos autores, houve um significativo aumento do número de cultivares transgênicas disponíveis no mercado (57 novas foram disponibilizadas no mercado, substituindo 20 cultivares transgênicas que deixaram de ser comercializadas). Por outro lado, entre as cultivares convencionais apenas 15 novas entraram no mercado, enquanto 61 deixaram de ser comercializadas. No entanto, quando se aborda a questão do uso de sementes híbridas, sejam elas convencionais ou transgênicas, juntamente com os adubos formulados e demais insumos modernos, tem que se levar em conta a estratificação ou estamento do uso da terra para o cultivo de milho na agricultura nacional. No Brasil, das áreas das lavouras de milho 94,3% são menores que 10 ha e produzem 30% do total com produtividade de 1,58 t ha-1; 5,3% estão compreendidas entre 10 e menos que 100 ha e produzem 31% do total, com produtividade de 2,64 t ha-1; 0,35% entre 100 e menos que 500 ha e produzem 23,5% do total, com produtividade de 3,55 t ha-1 e 0,03% têm 500 ou mais hectares, produzem 14,8% do total com produtividade de 3,71 t ha-1 (IBGE, 1998). Portanto, neste particular, os dados estatísticos disponíveis indicam que é muito baixo o percentual de lavouras brasileiras que se adequariam ao uso de genótipos híbridos de milho de última geração, entre os quais os híbridos transgênicos de recente liberação e que se constituem em inegável avanço da ciência agronômica global. Em razão disso é necessário implementar cada vez mais a busca de alternativas dentro do germoplasma de milho disponível no país e entre as populações de plantas tradicionalmente utilizadas na agricultura de baixo ou pouco emprego de fatores tecnológicos modernos. Atualmente, são mantidos na coleção de germoplasma de milho da Embrapa quase 4.000 acessos que são, em sua maioria (82,1%), variedades crioulas obtidas por coletas ou doações. Os acessos também são agrupados em compostos raciais formados por coleta nacional (3,9%), acessos melhorados (6,0%), acessos introduzidos (7,8%) e parentes silvestres com menos de 0,2% do total da coleção (TEIXEIRA & COSTA, 2010). As populações crioulas de milho, também conhecidas como raças locais ou landraces, são materiais importantes para o melhoramento pelo elevado potencial de adaptação que apresentam para condições ambientais específicas (PATERNIANI et al., 2000). Essas variedades crioulas de milho, também denominadas variedades locais ou tradicionais, são variedades cultivadas por comunidades, como povos Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 indígenas e agricultores familiares, as quais normalmente são submetidas à seleção para características relacionadas à produção a cada safra, proporcionando bom desempenho nas condições ambientais em que são cultivadas (TEIXEIRA et al., 2005). De um modo geral, segundo Araujo & Nass (2002), as populações crioulas são menos produtivas que as cultivares comerciais, mas são importantes por constituírem fonte de variabilidade genética que podem ser utilizadas em programas de melhoramento e na busca por genes tolerantes e/ou resistentes aos fatores bióticos e abióticos. No entanto, as empresas produtoras de sementes desenvolvem e indicam cultivares de milho para amplas regiões, não havendo disponibilidade de cultivares desenvolvidos especificamente para as regiões marginais ou de interesse secundário para o agronegócio de sementes, como a agricultura familiar em sistemas produtivos com baixa quantidade de insumos. Na opinião de Carpentieri-Pípolo et al., (2010), em condições que se empregam baixas tecnologias de cultivo, as variedades comerciais podem apresentar desempenho próximo ou mesmo inferior às variedades crioulas. Ademais, o uso de variedades locais possui diversas outras vantagens ligadas à sustentabilidade da produção como resistência a doenças, pragas e desequilíbrios climáticos, e pode ter as sementes armazenadas para as safras seguintes, o que diminui o custo de produção. Segundo Cecarelli et al. (1994), o ganho ambiental também é superior, uma vez que o uso de variedades crioulas, adaptadas localmente, mantém a diversidade genética das espécies, podendo servir de fonte para o melhoramento. Abreu et al. (2007), atestam que o uso das variedades crioulas, o que confere baixo custo, constitui uma alternativa para a sustentabilidade dos pequenos agricultores, sendo que o melhoramento destas variedades pode ser feito nas propriedades pelos próprios agricultores que detém melhor conhecimento destes materiais crioulos. Miranda et al., (2007) postulam que o reaproveitamento, safra após safra, de sementes colhidas em plantas selecionadas nas condições ambientais e nutricionais impostaspelo nível socioeconômico do agricultor proporciona o desenvolvimento de populações de milho adaptadas a diferentes situações. A variação genética entre as populações origina um conjunto genético adaptado que pode ser utilizado em programa de melhoramento regional para otimizar a interação de cultivares com o ambiente. Em razão do até aqui exposto, atividades de pesquisa que visem à caracterização morfológica e a avaliação Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 agronômica de variedades crioulas de milho disponíveis para a agricultura familiar ou para sistemas produtivos com baixa utilização de insumos são justificadamente necessárias, e constituem o objetivo principal deste projeto. Assim sendo, e de uma forma geral, este projeto visou a avaliação do comportamento e caracterização de alguns descritores de genótipos de milho crioulo resultantes de processos de resgate e multiplicação de sementes realizadas por agricultores, que desenvolvem atividades agroecológicas no Rio Grande do Sul. Além disso, como objetivos específicos buscou-se identificar genótipos de milho crioulo com performance produtiva superior e melhor adaptação para cultivo na região do Alto Jacuí, no Rio Grande do Sul; avaliar caracteres relacionados ao desempenho agronômico das variedades em estudo nas condições ambientais da região, através de metodologia de pesquisa apropriada; realizar a caracterização de variedades crioulas de milho, utilizando descritores que abordam diversos caracteres referentes à morfologia e ao ciclo; ampliar o conhecimento das variedades constantes do estudo para viabilizar sua utilização em programas de pesquisa; proporcionar alternativa de produção de materiais genéticos apropriados a pequenos produtores, que cultivam de forma agroecológica e participam da agricultura familiar na região; e possibilitar o fomento de atividades de conservação, multiplicação e disponibilização de recursos genéticos de milho crioulo para as famílias rurais da região de abrangência do projeto. Material e Métodos Dezesseis variedades de milho crioulo (Tabela 1) originadas no processo de resgate e multiplicação de sementes de milho crioulo, realizado por produtores que praticam a agricultura familiar no Rio Grande do Sul foram avaliadas em experimento instalado na Área Experimental do Curso de Agronomia da Universidade de Cruz Alta, no ano agrícola de 2012/2013, situada nas coordenadas geográficas de 28°33’47,09’’ de latitude Sul e longitude de 53°37’22,49’’W, com uma altitude de 450m, em Cruz Alta, Estado do Rio Grande do Sul. Para a caracterização morfológica e avaliação agronômica das variedades, o delineamento utilizado foi o de experimento inteiramente casualizado, com quatro repetições. As parcelas foram constituídas de três linhas de 4 m de comprimento, com espaçamento de 0,90 m entre as linhas e 0,20 m entre plantas. A semeadura foi realizada manualmente e, após o desbaste, foram deixadas cinco Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 plantas por metro linear, totalizando uma densidade aproximada de 55.555 plantas ha-1. O experimento foi conduzido nas condições usualmente adotadas pelos agricultores na atividade agroecológica, ou seja, sem realização de controle fitossanitário e sem aplicação de fertilizantes minerais na semeadura e cobertura. O controle de plantas daninhas foi realizado por meio de duas capinas manuais. Para a caracterização das variedades em estudo, os principais descritores avaliados, conforme propostos por Teixeira & Costa (2010), foram: emergência, floração masculina, floração feminina, altura da planta, altura da 1ª espiga, diâmetro do colmo, nº de folhas acima da 1ª espiga, nº total de folhas, plantas quebradas, plantas acamadas, comprimento da espiga, nº de fileiras de grãos, nº de grãos por fileiras, arranjo das sementes, diâmetro da espiga, peso de 1000 sementes, e cor e tipo de grão. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e as suas médias comparadas pelo Teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Os resultados obtidos encontram-se sumarizados nas Tabelas 1,2 3 e 4, os quais evidenciaram grande variabilidade nas características estudadas, condição esperada uma vez que participaram da avaliação diferentes populações de milho crioulo (Figura 1). Entre as determinações agronômicas previstas no projeto, a de rendimento de grãos mostrou-se prejudicada e, portanto, desconsiderada, em razão da ocorrência de um período de carência hídrica de 40 dias, ocorrido logo após o florescimento e em boa parte do período de enchimento de grãos da maioria das variedades avaliadas. Os dados médios das características de plantas indicaram que para florescimento masculino a variedade Cinquentinha foi a que se apresentou com maior precocidade (61 dias), enquanto que a variedade Mato Grosso mostrou-se a mais tardia, tanto para florescimento masculino quanto feminino (Tabela 1). A variedade Mato Grosso também apresentou a mais alta estatura de planta, com 261 cm, assim como a maior altura de inserção de espiga (138cm) entre todos os genótipos estudados. Valores elevados de altura de planta e de inserção de espigas no colmo têm sido encontrados por outros autores (ARAUJO e NASS, 2002) e caracterizam variedades crioulas de milho. Os dados médios das características de plantas indicaram que para florescimento masculino a variedade Cinquentinha foi a que se apresentou com maior precocidade (61 dias), enquanto que a variedade Mato Grosso mostrou-se a mais tardia, tanto para florescimento masculino quanto Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 feminino (Tabela 1). A variedade Mato Grosso também apresentou a mais alta estatura de planta, com 261 cm, assim como a maior altura de inserção de espiga (138cm) entre todos os genótipos estudados. Valores elevados de altura de planta e de inserção de espigas no colmo têm sido encontrados por outros autores (ARAUJO e NASS, 2002) e caracterizam variedades crioulas de milho. Os dados sobre número de folhas/planta e número de folhas acima da primeira espiga apresentados na Tabela 2 permitem observar que as variedades Cabo Roxo e Pintado, que apresentaram o maior número médio de folhas por planta, também se caracterizaram por ter maior número de folhas acima da espiga. Essas variedades, Cabo Roxo e Pintado, mostraram crescimento vegetativo vigoroso, uma vez que, além do maior número de folhas por planta e folhas acima da espiga, também apresentaram dados médios de estatura de plantas dos mais elevados. Quanto aos dados de quebramento e acamamento das plantas, também apresentados na Tabela 2, as variedades Branco, Ferro e Cateto Amarelo detiveram os valores médios mais elevados. Figura 1- Variabilidade de características morfológicas nas espigas das variedades de milho crioulo estudadas Foto: Bonetti, 2013 A Tabela 3 contém os dados médios para comprimento e diâmetro de espiga, assim como a caracterização dos tipos de espigas das variedades estudadas. No que se refere a comprimento de espiga, as variedades Carreira Branco e Ferro apresentaram espigas significativamente maiores que as dos demais genótipos. Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 Quanto ao tipo de espigas, cinco variedades foram caracterizadas como portadoras de espigas cônicas, cinco como cônica-cilíndricas, quatro com espigas cilíndricas e apenas um genótipo, a variedade Cunha, apresentou espigas tipificadas como redondas, sendo esta variedade também portadora de maior valor médio de diâmetro de espiga, diferindo estatisticamentedas demais (Tabela 3). Tabela 1. Dados médios das características de plantas de 16 variedades de milho crioulo na Região do Alto Jacuí, safra 2012/2013. Curso de Agronomia, Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, Cruz Alta, RS, 2013. Variedade Floração masculina (dias) Floração feminina (dias) Altura de planta* (cm) Altura 1ª espiga (cm) Diâmetro médio do colmo (mm) Amarelão 63 71 232 bc 96 cd 1,58 ab Brancão 69 79 228 bc 114 b 2,1 a Branco 68 84 180 fg 131 b 1,98 a Cabo Roxo 73 82 247 ab 126 ab 1,82 ab Carreira Branco 67 75 201 fg 78 de 1,44 b Cateto Amarelo 72 76 224 bc 96 cd 1,8 ab Cinquentinha 61 73 191 hi 83 cd 1,62 ab Cunha 67 72 220 cd 95 cd 1,84 ab Ferro 67 76 206 ef 92 cd 1,98 a Mato Grosso 73 84 261 a 138 a 1,44 b Palha Roxa 63 74 194 hi 76 e 2,08 a Pintado 67 73 211 de 91 cd 1,9 ab Pipoca Roxa 66 76 196 gh 91 cd 1,62 ab Pururuca Branco 66 73 211 de 85 cd 2,04 a Vermelho 69 84 244 ab 117 b 2,06 a Pipoca Branco 67 76 185 i 98 c 1,72 ab Médias 67,4 76,8 214 100,4 1,8 *Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade Tabela 2. Dados médios das características de plantas de 16 variedades de milho crioulo na Região do Alto Jacuí, safra 2012/2013. Curso de Agronomia, Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, Cruz Alta, RS 2013 Variedade Nº folhas acima 1ª espiga Nº total folhas/ planta* Nº plantas quebradas Nº plantas acamadas Amarelão 5,4 14,6ab 1,0 3,0 Brancão 5,6 14,8ab 0,0 0,0 Branco 4,8 12,4de 11,0 5,0 Cabo Roxo 6,2 15,8a 3,0 2,0 Carreira Branco 5,6 14,2ab 2,0 10,0 Cateto Amarelo 5,2 14,2ab 5,0 17,0 Cinquentinha 4,8 11,6e 4,0 1,0 Cunha 5,4 14,6ab 2,0 8,0 Ferro 5,6 13,6bc 6,0 10,0 Mato Grosso 5,4 15,0ab 0,0 1,0 Palha Roxa 5,2 13,0cd 0,0 10,0 Pintado 6,2 15,0ab 2,0 0,0 Pipoca Roxa 5,0 15,0ab 3,0 5,0 Pururuca Branco 5,0 13,4bc 1,0 2,0 Vermelho 5,4 14,0bc 1,0 8,0 Pipoca Branco 5,0 13,8bc 2,0 9,0 Médias 5,4 ns 14,1 2,7 5,7 *Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 Tabela 3. Dados médios das características de espigas de 16 variedades de milho crioulo avaliadas na Região do Alto Jacuí, safra 2012/2013. Curso de Agronomia, UNICRUZ, Cruz Alta, RS, 2013. Variedades Comprimento espiga (cm)* Diâmetro de espiga (mm) Tipo de espiga Amarelão 12,10 ab 47,20 b Cônica Brancão 11,00 ab 48,20 b Cônica-Cilíndrica Branco 10,00 c 45,20 b Cilíndrica Cabo Roxo 12,90 ab 46,20 b Redonda Carreira Branco 13,80 a 45,80 b Cilíndrica Cateto Amarelo 12,25 ab 47,00 b Cônica Cinquentinha 13,00 ab 43,80 b Cilíndrica Cunha 13,20 ab 59,20 a Redonda Ferro 13,70 a 36,60 c Cônica Mato Grosso 13,62 ab 42,50 b Cônica-Cilíndrica Palha Roxa 10,40 ab 43,80 b Cônica-Cilíndrica Pintado 12,90 ab 44,80 b Cilíndrica Pipoca Roxa 10,20 bc 34,60 c Cônica Pururuca Branco 12,66 ab 44,30 b Cônica-Cilíndrica Vermelho 13,20 ab 46,00 b Cônica-Cilíndrica Pipoca Branco 11,70 ab 32,60 c Cônica Médias 12,3 44,4 *Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade Tabela 4. Dados médios das características de grãos de 16 variedades de milho crioulo avaliadas na Região do Alto Jacuí, safra 2012/2013. Curso de Agronomia, UNICRUZ, Cruz Alta, RS, 2013. Variedades Nº fileiras * de grãos Nº grãos por fileira Peso de 1000 grãos (g) Arranjo dos grãos Cor dos grãos Amarelão 11,50c 29,00de 44,75b Reto Amarelo Brancão 11,50c 24,25e 34,47e Em espiral Branco Branco 16,00b 30,00cd 29,80gh Em espiral Branco Cabo Roxo 13,33c 34,00ab 36,52d Em espiral Púrpura Carreira Branco 11,00c 32,75bc 46,50a Reto Branco Cateto Amarelo 10,66c 24,66e 41,39c Entrelaçado Amarelo Cinquentinha 11,00c 32,25bc 30,61fg Em espiral Branco Cunha 23,75a 33,75ab 24,62i Entrelaçado Amarelo Ferro 10,50c 36,25ab 33,51e Reto Alaranjado Mato Grosso 11,00c 40,25a 31,50f Em espiral Amarelo Palha Roxa 10,50c 33,00bc 37,90d Em espiral Púrpura Pintado 11,33c 39,33ab 41,61c Em espiral Cinza Pipoca Roxa 18,33b 36,66ab 12,05j Reto Púrpura Pururuca Branco 11,00c 32,50bc 34,40e Reto Branco Vermelho 11,50c 33,50ab 29,27gh Em espiral Vermelho Pipoca Branco 15,75b 34,50ab 28,99h Reto Branco Médias 13,0 17,9 33,6 *Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade Em relação às características quantitativas de espigas (Tabela 4), as variedades Pipoca Roxa, Branco e Pipoca Branca formaram o grupo estatístico superior no que se refere a número de fileiras de grãos. Para número de grãos por fileira, a variedade Mato Grosso destacou-se com o Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 01-11, 2015 maior valor médio, 40,25 grãos, diferindo estatisticamente de outras oito variedades, sem, entretanto, diferenciar-se de outras sete. Os resultados obtidos para peso de 1000 grãos revelaram as variedades Carreira Branco, Pintado e Cateto Amarelo como a que produziram grãos mais pesados, enquanto que a variedade Cunha, a única do grupo de variedades avaliadas a apresentar arranjo dos grãos entrelaçado, produziu os grãos de menor peso do experimento. Conclusões Nas condições de execução do presente estudo, os dados obtidos permitem concluir que o trabalho de resgate, manutenção e multiplicação de sementes de variedades de milho crioulo, realizado por agricultores que desenvolvem atividades agroecológicas no Rio Grande do Sul, tem sido eficiente na fixação das principais características morfológicas que diferenciam os genótipos resgatados. 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MARTINS, Danieli Brolo¹; SAMPAIO, Amanda Bisso²; ROSSATO, Cristina Krauspenha³; SILVA, Aline Alves da 4 ; KRAMMES, Ricardo 5 1 Docente, Setor de Clínica e Cirurgia, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO. Email: d.b.martins@hotmail.com 2 Médica veterinária autônoma 3 Docente, Centro de Ciências da Saúde, Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Cruz Alta, RS. 4 Docente, Centro de Ciências da Saúde, Unicruz, Cruz Alta, RS. 5 Aluno do curso de Medicina Veterinária, Unicruz, Cruz Alta, RS. Resumo As intoxicações medicamentosas são muito comuns na rotina das Clínicas Veterinárias. A causa mais frequente é a administração de medicamentos de forma errônea sem respeitar a posologia e a fisiologia animal. O aceturado de diminazeno é uma droga comumente utilizada em animais e, devido ao seu baixo índice terapêutico, apresenta um alto potencial para intoxicações, principalmente em pequenos animais. Trata-se de um derivado diamidínico com efeito babesicida e tripanosomicida, onde efeitos adversos a sua administração incluem dor no local da aplicação, hepatotoxicidade e, em casos mais graves, até morte do animal devido à lesões neurológicas. Desta forma, este trabalho tem como objetivo revisar aspectos importantes sobre a intoxicação pelo aceturato de diminazeno em caninos. O reconhecimento precoce e a terapêutica adequada podem ser decisivos para salvar a vida do paciente. Palavras-chave: Toxicologia. Diaminas. Canino. Dose. Efeitos colaterais. Abstract Drug intoxication are very common in the routine of Veterinary Clinics. The most frequent cause is the administration of medications erratically without complying with the dosage and animal physiology. The aceturado of diminazene is a drug commonly used in animals and, because of its low therapeutic index, has a high potential for poisoning, particularly in small animals. It is a derivative diamidínico babesicida and trypanocidal where its administration adverse effects include pain at the injection site, hepatotoxicity and, in severe cases, even death of the animal due to neurological damage effect. Thus, this paper aims to review important aspects of intoxication aceturato of diminazene in dogs. Early recognition and appropriate treatment can be crucial to save the patient's life. Key words: Toxicology. Diamines. Canine. Dose. Side effects. Introdução Uma das principais causas de intoxicação nos animais domésticos pode ser considerada o uso inadequado de substâncias no ambiente em que vivem. Muitas vezes, essas substâncias são administradas ou utilizadas sem Correspondência para: Danieli Brolo Martins E-mail: d.b.martins@hotmail.com Setor de Clínica e Cirurgia, Hospital Veterinário, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás (UFG), Rod. Goiânia - Nova Veneza (GO 462), Km 0, Campus Samambaia, CEP 74001-970 Goiânia - GO. mailto:d.b.martins@hotmail.com mailto:d.b.martins@hotmail.com Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 orientação ou acompanhamento de profissional qualificado. Portanto, a desinformação da população quanto ao uso de determinados fármacos pode aumentar o risco de intoxicações nos animais (Kennel et al., 1996). Xavier et al. (2002) atribui o aumento do risco de intoxicações ao uso inadequado dos medicamentos em animais, sem respeitar as individualidades de cada espécies e principalmente as diferenças de metabolização das substâncias. Esse fato está relacionado, na maioria das vezes, a desinformações dos proprietários que não procuram a orientação de um médico veterinário e realizam, assim como a automedicação, a administração arbitrária de medicamentos aos animais. Em um estudo realizado por Medeiros et al. (2009), onde foram avaliados diferentes relatos de intoxicação, os casos de intoxicação medicamentosa corresponderam ao maior percentual dos relatos analisados. O aceturato de diminazeno (diaceturato tetraidrato de 4,4'- diamidinodiazoaminobenzeno), é uma diamidina aromática, um produto comumente utilizado no controle dos hemocitozoários e protozoários dos animais domésticos (Mammam, 1993). Casos de intoxicação por aceturato de diminazeno em cães, usualmente fatais, têm sido descritos, inclusive no estado do Rio Grande do Sul (RS) (Loretti, 2012; Flores et al., 2014). Flores et al (2004), relata que, embora a intoxicação por aceturato de diminazeno tenha sido descrita em cães desde a década de 1970, existem apenas cinco citações sobre essa toxicose na literatura internacional, a saber: 1) um resumo em anais de congresso (Boyt et al. 1968), 2) um relato curto de alguns casos (Losos & Crockett 1969), 3) um trabalho científico experimental (Naudé et al. 1970), 4) um relato de um caso (van Heerden 1981) e 5) uma descrição acerca de um caso submetido ao seminário semanal (Wednesday Slide Conference) da AFIP (Armed Forces Institute of Pathology) em 2000 (AFIP 2000). No Brasil foram descritos casos na forma de resumos em anais de congressos (Loretti 2002, Pescador et al. 2003, Ferreira et al. 2007, Masuda et al. 2009). No RS, o aceturato de diminazeno vem sendo recomendado para o tratamento da "doença do carrapato dos cães" principalmente nas agropecuárias. Nesses estabelecimentos, os clientes têm livre acesso à compra dessa droga protozoocida. Quando seus cães de guarda, caça, trabalho no meio rural ou companhia são acometidos pela "peste de sangue" ou "nambiuvú" (Rangelia vitalli), esses proprietários lançam mão do medicamento anti-protozoário aplicando-o Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 a sua maneira nesses animais que estão doentes, tristes, fracos, febris, sem apetite e sangrando profusamente pelas orelhas (Loretti; Barros, 2004). O aceturato de diminazeno é uma substância de baixo índice terapêutico, ou seja, a dose terapêutica desse medicamento é próxima da dose que intoxica. Ela pode ter efeito neurotóxico muitas vezes fatal em caninos (Gehring; Naidoo, 2002; Naudé et al., 1970). Os fabricantes indicam uma dose única de 3,5 mg/kg para equinos, bovinos, ovinos e caninos, ocorrendo desaparecimento dos sinais clínicos em 24 horas (Brander et al., 1991). A dose tóxica varia entre indivíduos e doses únicas de 4,2 mg/kg já foram relatadas como causadoras de sinais clínicos de toxicidade pela droga no mesencéfalo (Mamman; Peregrine, 1994; Ribbing; Jonsson, 2004). De acordo com Brandão e Hagiwara (2002) para evitar efeitos colinérgicos indesejados, recomenda-se o uso do sulfato de atropina, na dosagem de 0,04 mg/kg, dez minutos antes da aplicação do aceturato de diminazeno. A descrição desses casos de intoxicação são raros e há uma escassez de relatos semelhantes na literatura (Ribbing; Jonsson, 2004). Desta forma, esse trabalho tem como objetivo revisar os diferentes aspectos que compõe a intoxicação por aceturato de diminazeno no cão. Por isso, o conhecimentodo potencial tóxico da droga, bem como, da sintomatologia clínica e possível terapêutica aplicada a ela é de fundamental importância para o clínico veterinário, afim de que esse possa intervir de forma precoce e correta frente ao cão intoxicado por aceturato de diminazeno. Epidemiologia No Brasil, Xavier et al. (2002) observaram que os cães foram responsáveis por 81,2% e os gatos por 18,8% dos casos de intoxicação analisados. Os animais jovens por possuírem um metabolismo imaturo e uma eliminação deficiente e os idosos devido a reações metabólicas prejudicadas são potencialmente mais sensíveis a intoxicações medicamentosas (Volmer; Meerdink, 2002). Susceptibilidade racial, sendo que uma das raças que possui mais relatos de intoxicação por esse medicamento na literatura é a Samoieda, e susceptibilidade individual a esse medicamento, também têm sido relatadas (Gehring; Naidoo, 2002). O que é o aceturato de diminazeno? O composto foi introduzido para o mercado para o gado doméstico em 1955 Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 (Jensch, 1955). Hoje, mais de 50 anos depois de seu desenvolvimento, o mecanismo exato de ação e comportamento in vivo do aceturato de diminazeno ainda é pouco compreendido (Barcelo et al., 2001). Acredita-se que as diamidinas interferem na glicólise aeróbica e também com a síntese do DNA do parasita, ocasionando dilatação da membrana de organelas, dissolução do citoplasma e destruição do núcleo (Brandão; Hagiwara, 2002; Antonio, et al., 2009). Em um estudo realizado por Miller et al. (2005) descobriu-se que a farmacocinética do aceturato de diminazeno caracteriza-se por uma taxa muito rápida de absorção e eliminação total de meia vida curta (t ½ β, 5,31 ± 3,89 h). A queda vertiginosa das concentrações de diminazeno no plasma de cães foi atribuída a sua distribuição rápida, sendo que, provavelmente, o fígado sirva como um depósito inicial para a droga. Esses resultados estão de acordo com Onyeyili e Anika (1991), que em um estudo utilizando cães com 7 kg, descobriram que os que receberam 3,5 mg/kg de diminazeno, apresentaram 81 μg/g da droga no fígado 48 horas após a sua administração. De acordo com Gilbert (1983); Kellner et al. (1985); Murilla e Kratzer (1989) e Onyeyili e Anika (1991) o diminazeno é amplamente distribuída no organismo dos animais tratados. Resíduos do composto podem persistir durante várias semanas, principalmente no fígado e nos rins, e também, em menor grau, no trato gastrointestinal, pulmão, músculo, cérebro e gordura. De acordo com Andrade e Santarém (2002) os resíduos metabólicos deste fármaco depositados no fígado e no rim por um longo período, podem resultar em necrose desses órgãos. Em cães, a análise farmacocinética revelou que o diminazeno é rapidamente distribuído e biotransformado no fígado, sendo em seguida redistribuído mais lentamente para os tecidos periféricos e/ou eliminado por via renal (Miller et al., 2005). No entanto, parece haver uma ampla variação interindividual para a farmacocinética de diminazeno em cães, o que pode explicar por que alguns animais têm efeitos colaterais tóxicos em doses terapêuticas publicadas (Miller et al., 2005; Naidoo et al., 2009). Em todos os animais onde o percurso de eliminação foi caracterizado, tanto a excreção fecal quanto urinária são vias de eliminação (Peregrine; Mamman, 1993). Já Lewis et al., (2011) descobriram que a meia-vida do fármaco em gatos saudáveis que receberam a medicação por via intramuscular (IM) é bastante curta se comparada a de cães, em torno de 1,7 horas, em comparação com uma Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 eliminação de meia-vida de 5,31 horas em cães que receberam administração de diminazeno via IM. Muito pouca informação tem sido publicada a respeito da toxicidade do diminazeno em gatos, já que o uso dessa medicação é menos frequente na espécie felina se comparada à canina devido ao déficit que apresentam em metabolizar algumas drogas, o que pode resultar mais facilmente em quadros de intoxicação medicamentosa. Sinais clínicos relacionados à intoxicação por aceturato de diminazeno Em caninos, a intoxicação por aceturato de diminazeno provoca ataxia com incoordenação do trem posterior, fraqueza, incapacidade de permanecer em estação, sinais de dor manifestados pela emissão continuada de ganidos, rigidez extensora dos membros, nistagmo, convulsões, cegueira e coma. Cães intoxicados com essa diamidina podem morrer até sete dias após os primeiros sinais clínicos da toxicose. Em geral, o curso clínico dessa toxicose é mais rápido (48-72 horas) e, na maior parte dos casos, o animal intoxicado morre espontaneamente ou é eutanasiado devido ao prognóstico desfavorável da toxicose. A recuperação dessa intoxicação é rara (Naudé et al., 1970). Os sinais clínicos de hepatoxicidade incluem anorexia e vômito, letargia, diarreia, poliúria, polidipsia e hematúria. Também pode haver icterícia e ascite (Macphail et al; 1998). Outros sinais clínicos de intoxicação incluem quadros de agitação (movimentação compulsiva com ou sem interação com o meio ambiente), evoluindo para hipoexcitabilidade (estado de prostração e apatia, mesmo perante a estímulos externos) ou hiperexcitabilidade (estado geral de excitação excessiva, inclusive frente a estímulos externos). É comum a ocorrência de sialorreia e tremores musculares. Observa-se também miose, micção frequente e bradicardia. A ocorrência de bradicardia é mais comum, mas pode haver taquicardia pela liberação de catecolaminas pelas adrenais. Em casos severos, observa-se cianose e dispneia, em virtude do acúmulo de secreções respiratórias e de broncoconstrição, além de depressão acentuada do SNC (Mcentee et al., 1994; Norsworthy, 2004). Vômitos e diarreia, aumento da atividade espontânea, tátil, hiperestesia e marcha descoordenada também podem ser observados (Muller, 1988). O diminazeno possui efeito neurotóxico para caninos nas seguintes situações: (1) quando é administrada uma dose acima daquela recomendada pelo fabricante; (2) quando doses terapêuticas repetidas da medicação são dadas em um Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 intervalo de tempo inferior a 6 semanas; (3) quando uma única dose terapêutica é administrada em cães afetados por doenças causadas por hematozoários ou (4) quando utilizada de forma profilática em animais saudáveis na dose recomendada para a prevenção de enfermidades causadas por hematozoários (Gehring; Naidoo, 2002). Cães hígidos que receberam diminazeno em regime de dosagem múltipla mostraram graves sinais clínicos associados com a lesão do SNC, seguido de óbito (Naidoo et al., 2009). Fussganger e Bauer (1962) relataram que os principais sinais de toxicidade aguda por diminazeno no sistema nervoso central (SNC) foram nistagmo, tremores e ataxia foram observados com doses mais baixas, enquanto que doses mais elevadas resultaram em espasmos, movimentos descoordenados, vômitos e, eventualmente, a morte dos cães a partir de 2-3 dias após a aplicação de diminazeno na dose de 30-35 mg/kg, por via intramuscular (IM). Alterações patológicas Casos fatais de intoxicação por aceturato de diminazeno em cães têm sido diagnosticados à necropsia e através da histopatologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Alegre/ RS), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT, Cuiabá/MT) e na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, Santa Maria/ RS). Trabalhos sobre esses casos têm sido apresentados em congressos científicos (Masuda et al., 2009; Ferreira, 2007; Pescador et al., 2007; Loretti,2002). Essa droga pode causar lesões cerebrais graves (necrose e hemorragia ao longo do tronco encefálico), assim como lesões hepáticas, quando uma dose acima daquela recomendada pelo fabricante é administrada ou quando doses terapêuticas repetidas da medicação são dadas num intervalo inferior a seis semanas (Gehring; Naidoo, 2002; Naudé, et al., 1970). À necropsia, observa-se, na superfície de cortes seriados do encéfalo, encefalomalácia hemorrágica simétrica focal bilateral afetando o mesencéfalo, tálamo e cerebelo e poupando o córtex cerebral. Essas lesões são avermelhadas, deprimidas e bem circunscritas e podem, em alguns casos, ser muito evidentes a olho nu e afetar de forma extensa o tronco encefálico. Em outros casos, essas lesões podem ser discretas e diminutas ocorrendo apenas em uma região restrita da base do cérebro ou cerebelo (Naudé et al., 1970). Em um estudo realizado por Miller et al. (2005) um cão foi, inicialmente, resistente aos efeitos tóxicos de diminazeno apesar de repetido, Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 diariamente, tratamentos a 3,5 mg/kg, via IM, durante 15 e 30 doses, indo a contrapartida aos outros cães que apresentaram sinais clínicos típicos após duas doses. Porém, quando esse cão veio a óbito, na necropsia, o cérebro, encontrava- se edematoso e com hemorragias simétricas e bilaterais em conjunto com malácia e lesões do cerebelo, mesencéfalo e tálamo (Miller et al., 2005; Naidoo et al., 2009). Losos (1969) encontrou leve edema intramuscular no local de injeção de 1-3 dias após a administração intramuscular de diminazeno em cães que morreram após a infecção natural com babesiose ou tripanossomíase. Sangramento e malácia no mesencéfalo e diencéfalo foram às lesões predominantes encontradas pós mortem. Ainda o mesmo autor, observou que cães saudáveis tratados com 15 mg/kg de diminazeno, por via IM, podem exibir lesões cerebrais similares às observadas nos cães naturalmente infectados com babesioses. O aceturato de diminazeno também foi hepatotóxico para camelos; resultando em hiperestesia, salivação, convulsões intermitentes, micção frequente, defecação e posteriormente morte dos mesmos. Na necropsia, assim como pode ser observado nos casos de intoxicações em cães, foi encontrado os pulmões congestionados e edematosos, enquanto o fígado estava congestionado e hemorrágico com evidência de alterações gordurosas. Congestão do cérebro e da bexiga urinária também foi observada, juntamente com alterações hemorrágicas e congestivas nos rins e no coração (Homeida et al., 1981). Tratamento O cuidado ao paciente intoxicado, de modo geral, tem como metas prevenir futuras exposições, diminuir a absorção, apressar a eliminação e fornecer tratamento de suporte. É importante inspecionar a laringe procurando sinal de inchaço ou inflamação. Deve-se também, avaliar a respiração, sua frequência e qualidade. Caso haja qualquer tipo de dificuldade, é imprescindível que o oxigênio seja fornecido (Hackett, 2000). Caso o animal apresente infecções bacterianas secundárias, o uso de antibióticos é necessário. Em cães gravemente doentes pode ser necessário transfusões de sangue (Antonio et al., 2009). Não há tratamento específico para intoxicação pelo aceturato de diminazeno, de modo que o veterinário deve optar pela terapia de suporte, sintomática ou, após prévia consulta ao cliente ou a pedido do proprietário, realizar a eutanásia do paciente em função do prognóstico Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 reservado da toxicose (Gehring; Naidoo, 2002). O tratamento da intoxicação envolve a suspensão do uso do fármaco e terapia de suporte (Caylor; Cassimatis, 2001), incluindo o controle das crises convulsivas (Chrisman et al., 2005) e a diurese induzida por fluidos intravenosos. (Kent et al., 2009; Olby, 2009). Em casos de intoxicação pelo diminazeno, o uso de fluidoterapia é fundamental para reidratar o animal e expandir o volume vascular, diminuindo a toxemia, corrigindo os desequilíbrios eletrolíticos e ácido-básicos perdidos durante a diarreia e os episódios de vômitos oriundos da hepatotoxicidade (Antonio et al., 2009). Prognóstico O prognóstico nos casos de intoxicação pelo aceturato de diminazeno é reservado e está associado à dose recebida e ao tempo decorrido da intoxicação ao atendimento clínico do paciente. A taxa de mortalidade é elevada, porém o prognóstico melhora com uma boa terapêutica e ações que visam a desintoxicação precoce do animal (Sellon, 2006). Informações acerca do prognóstico nos casos de intoxicação em cães pelo aceturato de diminazeno são limitados, porém acredita-se que melhore com uma precoce assistência veterinária em casos de intoxicação. Embora a maioria dos pacientes veterinários com intoxicação pelo diminazeno se recuperem após alguns dias, algumas vezes são necessários semanas a meses para a completa resolução dos sinais neurológicos. Portanto, o tempo de recuperação é variável e provavelmente multifatorial (Olson et al., 2005). Conclusão Como os quadros de intoxicação são cada vez mais comuns dentro da Medicina Veterinária, seu reconhecimento tornam- se um desafio para o clínico de pequenos animais. Devido ao seu baixo índice terapêutico, doses errôneas do aceturato de diminazeno são potencialmente tóxicas, ocasionando sinais clínicos como sialorreia, dispneia, quadros gastrointestinais, podendo levar o paciente à morte. Portanto, o conhecimento sobre o aceturato de diminazeno, incluindo sua sintomatologia, ação terapêutica e possíveis efeitos colaterais são de suma importância para o clínico veterinário. Referências FIP 2000. Armed Forces Institute of Pathology Wednesday Slide Conference, 18:4. Disponível em <http://www.askjpc.org/wsco/wsc/wsc99/ 99wsc18.htm> Acesso em 27 out. 2014. http://www.askjpc.org/wsco/wsc/wsc99/99wsc18.htm http://www.askjpc.org/wsco/wsc/wsc99/99wsc18.htm Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 29-39, 2015 ANDRADE, S.F.; SANTARÉM, V.A. Endoparasiticidas eectoparasiticidas. In: ANDRADE, S.F. Manual de Terapêctica Veterinária. 2.ed. Roca: São Paulo, 2002. p.437- 476. ANTONIO, N.S.; OLIVEIRA, A.C. Babesia canis: relato de caso. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, ano VII, n.12, 2009. Disponível em: http://www.revista.inf.br/veterinaria/. Acesso em 30 Jul. 2013. 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Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 40-43, 2015 Avaliação microbiológica em serras e facas em um frigorífico da Região Norte do Rio Grande do Sul Microbiological evaluation in saws and knives in a refrigerator from Northern Rio Grande do Sul SECCHI, Lunara 1 ; SALAZAR, Ludmila Noskoski 2 ; WENDT, Raquel 3 1 Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária –Universidade de Cruz Alta 2 Professora Assistente, Centro de Ciências da Saúde e Agrárias(CCSA) – Universidade de Cruz Alta 3 Engenheira de Alimentos Resumo A indústria alimentícia visa a produção de alimentos seguros. Para haver esta segurança existem os Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO) em suas linhas de produções. O mercado consumidor esta cada vez mais exigindo a qualidade higiênico-sanitárias dos produtos finais. E com isso, a indústria realiza monitoramentos microbiológicos constantes de superfícies e utensílios. Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a eficiência dos procedimentos de limpeza e sanitização de facas e serras utilizadas na desossa de suínos por uma indústria de produtos cárneos da região Norte do Rio Grande do Sul. Para isso, foram feitas 5 amostragens empregando swabs em facas e 6 amostragens de swabs em serras. Foram realizadas as contagens de Salmonella spp., micro-organismos Aeróbios Mesófilos (CPP) e Enterobacteriaceae. Os resultados das análises microbiológicas de todas as amostras, após a higienização, foram inferiores a 1 UFC cm -2 de Enterobacteriaceae, encontrando-se dentro do permitido pela legislação vigente. Com base nos resultados obtidos verificou-se que os procedimentos de limpeza e sanitização adotados pela indústria são eficientes, dentro do tempo estabelecido para higienização dos materiais. Palavras-chave: PPHO. Suínos. Microbiologia. Utensílios. Abstract The food industry achive to produce food safety. Sanitation Standard Operating Procedures (SSOP) are required in the chain process in order to maintain the food security. At the same time, the demand for products with high quality and hygienic- sanitary standards are increasingly day-by-day. Consequently, the foodstuff industries must achieve the microbiological monitoring of surfaces and utensils used for food processing. Therefore, the efficiency of procedures of cleaning and sanitization for utensils used in deboning pigs was to evaluate. Knives and saws used by an industry of meat products in the Northern region of Rio Grande do Sul were acquired for this study. Five sampling were collected using swabs in knives whilst samplings of saws employing swabs were made. Salmonella, aerobic mesophilic (CPP) and Enterobacteriaceae counts were performed. The results of the microbiological analysis of all samples, after cleaning, were less than 1 CFU cm -2 Enterobacteriaceae, lying within permitted by law. Based on the results obtained it was found that the cleaning and sanitizing procedures adopted by the company are efficient within the set time for cleaning materials. Key-words: SSOP. Swine. Microbiology. Utensils. Introdução Por atender as exigências dos consumidores, a exportação da carne suína vem crescendo nos últimos anos. As exportações brasileiras de carne suína renderam US$ 1.364.679 milhões no ano de Correspondência para: Lunara Secchi E-mail: lunarasecchi@yahoo.com.br Rua Dr. Tranquilo Damo nº404 Bairro Santo Antônio Frederico Westphalen/RS CEP: 98400-000 Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 40-43, 2015 2013, sendo que o 374.888 foram de animais abatidos na região sul do Brasil representando 70,5% e toda a produção nacional., segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS, 2013). Os fatores de segurança dos alimentos são de extrema importância em toda cadeia de produção, para isso é necessário que as empresas sigam as legislações e descrevam seus programas de garantia de qualidade no processo de elaboração de cada produto. Na visão do consumidor, o conceito de qualidade dos alimentos, reflete a satisfação de características como sabor, aroma, aparência, embalagem, preço e disponibilidade. Sendo que o termo alimento seguro, significa a garantia de consumo alimentar seguro, produtos livres de contaminantes de natureza química, física e biológica que possam colocar em risco a saúde (SILVA, 2006). A validação microbiológica do tempo de uso dos utensílios na linha é uma ferramenta importante de análise de risco. A forma mais eficiente de reduzir a contaminação e o crescimento microbiano em carne consiste em estabelecer programas de controle da qualidade, tais como Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Crítico de Controle (APPCC) e Boas Práticas de Fabricação (BPF) (JAY, 2005). Relato de Caso As coletas foram realizadas em um matadouro frigorífico de suínos localizado na região Norte do Rio Grande do Sul com Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). No teste com facas na sala da desossa, foram coletadas 5 amostras de 5 facas logo após a sua esterilização. A coleta foi realizada por meio de um chiffonette (gaze úmida), este foi retirado da embalagem com uma luva estéril e com a ajuda de uma pinça de metal esterilizada e posteriormente foi friccionado na superfície das facas. Sendo que, em cada faca coletada foi utilizado um chiffonette esteril. Após este procedimento, as facas foram entregues identificadas de 1 a 5 para os colaboradores na linha da desossa para 1 hora de uso, na realização dos cortes das carcaças. Após esse período foi realizado uma nova coleta. Novamente as facas foram devolvidas para os colaboradores, para mais uma hora de uso, totalizando 2 horas do inicio do procedimento. Finalizando com mais uma coleta da superfície das facas. As amostras foram enviadas ao laboratório de microbiologia da empresa. Para determinação de Salmonella spp foi utilizado o Método Oficial AOAC 2011.03 ISSO 6579:2007 e para determinação de Enterobacteriaceae Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 40-43, 2015 e CPP foi de acordo com a AOAC International.Os resultados do primeiro teste encontram-se na tabela 1. Tabela 1. Contagens de Micro-organismos Aeróbios Mesófilos (CPP), e Enterobacteriaceae (ENT) e pesquisa de Salmonella spp. na superfícies das facas Facas (Teste) Limpa- CPP (ufc/cm²) Limpa- ENT (ufc/cm²) Após 1 Hora de uso-CPP (ufc/cm²) Após 1 hora de uso- ENT (ufc/cm²) Após 2 Horas de uso-CPP (ufc/cm²) Após 2 Horas de uso- ENT (ufc/cm²) Resultados Salmonella 1 0 0 9 0 14 1 Negativo 2 0 0 6 0 8 0 Negativo 3 0 0 9 0 7 1 Negativo 4 0 0 5 0 16 0 Negativo 5 0 0 4 0 4 0 Negativo Os resultados para CPP demonstram a alta contaminação da faca 1 (14 UFC/cm²) e faca 4 (16 UFC/cm²), após 2 horas de uso sendo inaceitável para a legislação vigente que é <4,0 log para suínos (CE, 2001). Por isso a importância de realizar a troca de facas a partir de 2 horas de uso. Já os resultados para Enterobacteriaceae, demostram a contaminação na faca 1 (1 UFC/cm²) e na faca 3 (1 UFC/cm²), após 2 horas de uso, resultados que estão dentro dos padrões. O outro teste de validação foi realizado na serra das carcaças do abate. Foram utilizados 6 chiffonettes (gaze úmida), sendo que os pacotes foram identificados de zero a seis. Com a ajuda de uma pinça de metal esterilizada, retirou-se o chiffonette da embalagem plástica e o mesmo foi friccionado em cinco pontos na serra limpa e esterilizada (sendo essa a coleta 0). Em seguida realizou-se o corte da primeira carcaça suína, e na sequencia coletou-se novamente uma amostra (coleta 1). O mesmo procedimento ocorreu até o corte da 5º carcaça, ou seja, após cada corte da carcaça (carcaça 1, 2, 3, 4 e 5) foram realizadas as coletas com o chiffonete da serra. Os resultados encontram-se na tabela 2. Tabela 2. Resultados para Enterobacteriaceae, CPP e Salmonella spp. encontrados no teste de validação da serra Coleta da Serra Enterobacteriaceae(ufc/cm²) CPP (ufc/cm²) Salmonella spp. Coleta 0 0 1 Negativo Coleta 1 0 4 Negativo Coleta 2 0 2 Negativo Coleta 3 0 6 Negativo Coleta 4 0 4 Negativo Coleta 5 0 5 Negativo Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 40-43, 2015 Os resultados das contagens de Enterobacteriaceae demonstraram que após a realização dos cinco cortes das carcaças, sem esterilizar a serra após cada corte, não ocorreu contaminação significativa. Os resultados de CPP estão dentro do limite aceitável pela legislação (BRASIL, 2002) As coletas realizadas na desossa apresentaram resultados dentro dos padrões estipulados para as facas, e dessa forma, conclui-se que o tempo estabelecido de 2 horas para troca das facas e higienização da serra, após o corte de 5 carcaças atende ao objetivo de não oferecer risco de contaminação cruzada e consequentemente risco ao produto. 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Conceitos e Considerações sobre o Bem Estar Animal na Produção de Bovinos – Revisão Bibliográfica - SILVA, Aline Alves da 1 ; BORGES, Luiz Felipe Kruel 2 Médica Veterinária, Doutora, Professora da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ. 2 Médico Veterinário, Mestre, Professor da UNICRUZ. Resumo A valorização do bem estar em animais de produção é uma inquietação crescente da sociedade. Há preocupação ética em relação à forma como as espécies de produção são mantidas, em que diagnósticos específicos de bem estar tornam-se imprescindíveis. O objetivo dessa revisão é enfatizar os conceitos e principais indicadores de bem estar animal voltados para os animais de produção, dando ênfase à bovinocultura, evidenciando pontos críticos de bem estar animal na produção de leite e carne bovina, reconhecendo a necessidade de se melhorar as condições de bem-estar objetivando benefícios, tanto para os animais como para a produção. Palavras-chave: bem estar animal. Bovinos. Abstract The enhancement of welfare in farm animals is an emerging concern in the society. There are ethical concerns regarding how livestock specimens are held, where specific welfare diagnoses become essential. The objective of this review is to emphasize the concepts and the key indicators of animal welfare, mostly in the cattle, highlighting critical settings of animal welfare in dairy and beef cattle recognizing the need to improve the well-being with benefits to both, animals and production. Key-words: animal welfare, bovine. Introdução O bem-estar animal é um dos principais tópicos de interesse na produção animal moderna. Do ponto de vista científico o bem estar das espécies animais de produção teve seu início como área de investigação em 1965, com a publicação do relatório denominado Brambell Committee na Grã- Bretanha (FITZPATRICK et al. 2006; VIEIRA et al. 2011) que deliberou os cinco fatores dos quais tais animais necessariamente precisam ser protegidos: (1) fome e sede; (2) desconforto; (3) dor, lesões e doenças; (4) impedindo de expressar o Correspondência para: Aline Alves da Silva E-mail: asilva14@unicruz.edu.br UNICRUZ – Universidade de Cruz Alta Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 – Parada Benito Cruz Alta/RS CEP 98.020-290 comportamento normal da espécie; e (5) medo e estresse. Tal deliberação, após estendida e desenvolvida, tornou-se a base dos códigos de recomendação de bem estar animal em todo o mundo, como forma de resguardar as necessidades fisiológicas e psicológicas dos animais envolvidos (FITZPATRICK et al. 2006). O tópico bem estar animal é um dos principais interesses da produção animal moderna, estando de forma consistente no topo das preocupações levantadas por consumidores e políticos da União Européia, visto que a sociedade passou a conhecer os sistemas de produção animal e a exigir a criação de animais de maneira humanitária (BOND et al. 2012). Em países desenvolvidos, cresce a preocupação com os maus tratos dos animais em áreas urbanas e com o bem estar dos animais utilizados na pesquisa e na produção (HÖTZEL & PINHEIRO MACHADO FILHO, 2004). Para MOLENTO (2005), o mercado europeu possui uma declarada preferência por padrões elevados de bem estar dos animais de produção. No Brasil a preocupação com o bem estar animal está limitada pelo pouco conhecimento da sociedade em relação aos sistemas produtivos. Adicionalmente, o Brasil vivencia uma fase de crescimento econômico, que propicia maior demanda por produtos de origem animal (MOLENTO, 2005). Embora de forma menos articulada, a população brasileira também manifesta preocupação com o bem estar animal (HÖTZEL & PINHEIRO MACHADO FILHO, 2004). Segundo LUNA (2008) o avanço da ciência do bem estar animal aguçou o senso crítico da necessidade de prevenção do sofrimento em animais, adicionado ao olhar atento do consumidor, às boas práticas de produção e a preservação ambiental; dessa forma, o bem estar animal agrega valor ao produto e pode favorecer a produtividade.
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