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PROJETO INTEGRADOR: PRÁTICAS EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Prof. Me. Bárbara Cristina Rodrigues Fonseca 006 Aula 01: 016 Aula 02: 020 Aula 03: 030 Aula 04: Concepções do Fracasso Escolar e suas Implicações no Processo de Ensino e de Aprendizagem O Fracasso Escolar, suas Causas e Consequências: uma Discussão Crítica Indisciplina na Sala de Aula: Os Efeitos da Relação Professor - Aluno Medicalização e Patologização da Infância Introdução Seja bem-vindo (a), aluno (a), às aulas! A disciplina deste projeto “Práticas em Psicologia da Educação” tem o objetivo de relacionar os estudos da História da Educação e da Psicologia da Educação, buscando fazer uma relação entre teoria e prática. Desta forma, serão abordados conteúdos referentes à história da atuação da psicologia na escola e aos conhecimentos psicológicos que se aplicam à prática escolar, apresentando as possibilidades de atuação em espaços educacionais em casos de dificuldades de aprendizagem, indisciplina, dentre outros aspectos que precisem de conhecimentos psicológicos para sua compreensão. Esperamos com este projeto (teoria e prática) contribuir para a ampliação do estudo, compreensão e discussões sobre o fracasso escolar, além da medicalização e da patologização da infância e relação professor- aluno, ressaltando a importância da problematização de concepções e ressignificação de conceitos e práticas para a formação inicial e continuada de professores. Na primeira aula, apresentaremos um breve delineamento sobre o Desenvolvimento Humano e a Aprendizagem Escolar, considerando a Teoria Histórico-Cultural, que tem como seus principais teóricos Vigotsky, Leontiev e Luria. Justifica-se este referencial por conceber o desenvolvimento do indivíduo como um processo contextualizado histórica e culturalmente, ou melhor, trata do desenvolvimento humano não apenas do ponto de vista biológico, mas sim integral. Nesta aula, trabalharemos com duas categorias temáticas: como o professor compreende e avalia seu ensino e a aprendizagem dos seus alunos e, a partir desta investigação, identificar as concepções docentes e o fracasso escolar e seus diferentes desdobramentos. Neste momento, você entrará em contato com uma das questões mais graves, problemáticas, atuais e importantes da Educação no Brasil e no mundo: o fracasso escolar, vivenciado e discutido há muitos anos. Uma vez que diversos estudos apontam que o fracasso escolar pode trazer sofrimento e ter implicações pessoais e sociais graves para os indivíduos tais como abuso de drogas, problemas de conduta, envolvimento com a criminalidade, gravidez na adolescência e, ainda, suscitar situações de exclusão, é fundamental considerar para a prática docente a inter-relação entre a Psicologia do Ensino e a Educação. Na segunda aula, serão abordadas de uma maneira crítica as diferentes causas apontadas pelos profissionais da Educação e também da Saúde para o Fracasso Escolar. Ao compreender que este Projeto Integrador busca fazer correlações entre a teoria estudada e desenvolver algumas habilidades em sua prática docente, nestas duas primeiras aulas, você sairá a campo e descobrirá as percepções e significados e as causas e responsabilidade atribuídas ao fracasso escolar de alguns profissionais da Educação e Saúde, pais e dos próprios alunos. Considerando a indisciplina, apontada muitas vezes como uma das principais causas do fracasso escolar e que esse fenômeno vem se agravando e sendo tratado frequentemente pela mídia, a terceira aula busca discutir os significados atribuídos como (in)disciplina na sala de aula a partir da visão dos envolvidos, professores e alunos. Para contribuir com sua prática, você analisará alguns vídeos e pesquisará estudos recentes na área que investigam este tema e apontam estratégias de como os problemas de indisciplina são ou podem ser trabalhados no contexto escolar. Por fim, abordaremos na quarta e última aula a problemática do fracasso escolar a partir da Medicalização da Educação ou Patologização da Infância, ou melhor, como têm sido tratados pela Medicina os problemas no processo de escolarização, preocupação que tem ganhado forças, no campo da Psicologia Escolar e da Educação propriamente dita, com esforços de estudiosos de diversas áreas como Moysés, Collares, Souza, Alvarenga, Borini, Viegas, Ribeiro, Untoiglic, Guarido, entre outros. Procuraremos traçar um paralelo entre a medicalização que considera alguns elementos da aprendizagem escolar como propulsores para supostos diagnósticos (indisciplina, desinteresse, deficiências, transtornos, Déficit de Atenção, Hiperatividade, falta de limites e outros), e a concepção de aprendizagem e desenvolvimento segundo a teoria e ainda o impacto na escola, mais especificamente no processo de escolarização. Como será que a Medicalização vem sendo observada e considerada na percepção de professores, pais e alunos? Para responder esta pergunta, você colocará a mão na massa: assistindo vídeos, pesquisando, entrevistando alguns envolvidos e discutindo resultados. Reiterando que não é intenção destas aulas responsabilizar algo ou alguém pelo fracasso escolar ou medicalização das dificuldades de aprendizagem, mas, sim, trazer para a discussão educacional a relevância de tal problematização no âmbito da instituição escolar. Desta forma, ressaltamos a importância das reflexões e discussões dos temas abordados para a construção de práticas docentes efetivas em sala de aula. Mãos à obra! 01 Concepções do Fracasso Escolar e suas Implicações no Processo de Ensino e de Aprendizagem Olá, caro (a) aluno (a)! É com muito carinho e dedicação que inicio nossa primeira aula, abordando um assunto muito atual e que vem sendo tema de muitas discussões no âmbito da Educação. Você, com certeza, já deve ter percebido muitas das queixas quanto às di�culdades que permeiam o ambiente escolar na atualidade: alunos desatentos, desinteressados, preguiçosos, hiperativos, com comportamentos sociais inadequados, agressivos, violentos, com baixo desempenho nas notas, entre outros. Neste mesmo cenário, temos a �gura do professor: insatisfeito com esses alunos e, portanto, sente- se irritado, desmotivado, desvalorizado, impotente... Há muito tempo nosso país tem apresentado baixos níveis de desempenho acadêmico dos alunos, e frequentemente as causas apontadas são observadas e pontuadas com uma visão reduzida e simpli�cada do problema. Dessa forma, chamo a atenção para a necessidade de ampliação de sua visão para tratar o conceito de fracasso escolar e a relação deste com o contexto social, cultural e histórico em que a escola e seus atores estão incluídos. O fracasso escolar será tratado à luz e à compreensão da Teoria Histórico-Cultural (ou Sociointeracionista), que traz contribuições interessantes sobre essa problemática. Você deve estar me perguntando: mas, professora, porque temos que estudar essa teoria? Porque a prática do professor em sala de aula, ou melhor, o que ele faz, como ministra os conteúdos e como se relaciona com seus alunos está intimamente ligado a uma teoria, uma concepção construída social, histórica, cultural e economicamente pelo próprio professor. Mesmo que não tenha consciência, tudo o que faz em sua prática docente está ligado à sua forma de pensar o mundo e o processo de ensino e aprendizagem. Estudar uma determinada problemática e, portanto, analisar concepções e práticas docentes só se faz possível e coerente quando atreladas a um modelo teórico que as sustenta. Abordagem Histórico- Cultural e o Aporte Sociointeracionista: desenvolvimento e aprendizagem Diferentemente dos métodos utilizados pelas teorias associacionistas, que se sustentam em um esquema estímulo-resposta, para Vygotsky, a chave da aprendizagem reside nas relações dialéticas que o indivíduo mantém com seu meio. Para esse autor, as pessoas modi�cam e criam suas próprias condições de desenvolvimento. (SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015). Segundo Vygotsky, oestudo do desenvolvimento de qualquer processo psicológico permite descobrir sua essência ou sua natureza, ou seja, somente pela análise de sua evolução que é possível entender o que signi�ca. “Estudar algo do ponto de vista histórico”, segundo o autor, não consiste em analisar acontecimentos passados, mas “estudá-lo em seu processo de mudança”. (SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015, p. 95-96). Nesta perspectiva teórica, o desenvolvimento é de�nido como: Um incremento quantitativo e acumulativo constante nas capacidades dos indivíduos, mas como um processo no qual dão “saltos revolucionários evolutivos”, capazes de mudar a própria natureza do desenvolvimento. (SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015, p. 96). O postulado mais emblemático da Teoria Histórico-cultural talvez seja a ideia de que: [...] os processos psicológicos superiores (como memória e atenção) têm sua origem na vida social, nas interações que se mantêm com outras pessoas e na participação em atividades reguladas culturalmente. (SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015, p. 97) Em outras palavras, para Vygotsky, “a participação das crianças nas atividades culturais, em que compartilham com adultos e colegas mais capazes os conhecimentos e instrumentos desenvolvidos por sua cultura” (como a escrita e estratégias de resolução de problemas matemáticos), permite que interiorizem os instrumentos e conhecimentos necessários para pensar e atuar. Estamos, então, falando da aprendizagem (SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015, p. 99). Para Vygotsky, a aprendizagem é determinada, ao mesmo tempo, pelo nível de Desenvolvimento Real da criança (Zona de Desenvolvimento Real - ZDR) e pelas formas de ensino envolvidas. O adulto ou o colega da sala mais competente realiza ações e dá as explicações necessárias para que o participante menos competente possa fazer de forma compartilhada o que não é capaz de realizar sozinho. Assim, as atividades educacionais desenvolvidas pelo professor e colegas na escola criam a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). (SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015). Em tais ações, as pessoas adultas (no caso, o professor) controlam o centro de atenção e mantêm os segmentos da tarefa nos quais participam sempre em um nível de complexidade adequado às possibilidades das crianças (alunos). Para que se torne mais claro e compreensível a apropriação desses conceitos fundamentais, releia o parágrafo anterior com muita atenção e observe o esquema a seguir: Zona de desenvolvimento proximal Zona de desenvolvimento proximal Zona de desenvolvimento real Zona de desenvolvimento real Zona de desenvolvimento potencial Zona de desenvolvimento potencial Distancia entreDistancia entre Se resolve o problema de forma individual Se resolve o problema de forma individual Se resolve o problema com ajuda Se resolve o problema com ajuda Fonte: Zona de Desenvolvimento Proximal (VIGOTSKI, 1994). Fonte: SALVADOR; MARCHESI; PALACIOS, 2015, p. 99. Para que ocorra a aprendizagem, é fundamental que o “mediador”, no nosso caso, o professor, por meio de diagnósticos diários, identi�que o nível de Desenvolvimento Real (ZDR) em que o aluno se encontra (ou seja, o que ela já interiorizou e já é capaz de fazer sozinho). Somente nesse momento é possível que o professor compreenda o nível de desenvolvimento Proximal (ZDP) do seu aluno, oferecendo-lhe as intervenções necessárias (professor-mediador) por meio de novos instrumentos (atividades signi�cativas e desa�os possíveis) para que o aluno avance em suas di�culdades, e ocorra a aprendizagem. Neste momento da nossa aula, já é possível você identi�car relações entre: práticas do professor, relação professor-aluno, aprendizagem, di�culdades de aprendizagem e fracasso escolar. Agora, vamos analisar e compreender a formação das concepções e conceitos que os próprios envolvidos (professores, pais e alunos) têm sobre as “di�culdades de aprendizagem” dos seus alunos e o “fracasso escolar”. O Fracasso Escolar e seus Diferentes Desdobramentos: o que Pensam os Professores? Vamos analisar e compreender a formação das concepções e conceitos que os próprios envolvidos - professores, pais e alunos - têm sobre as di�culdades de aprendizagem e sobre o fracasso escolar. Acesse o link: Disponível aqui A autora realizou recentemente uma pesquisa de campo com o objetivo de veri�car as concepções de cinco docentes dos anos iniciais (1º ao 3º anos) em uma escola Municipal de Ensino Fundamental de uma cidade do sudeste de Goiás sobre o fracasso escolar, mais especi�camente, a sua medicalização. Para tanto, também se fundamentou na Teoria Histórico-Cultural que se ocupa dos aspectos histórico e cultural relacionados ao desenvolvimento humano e aprendizagem. Para a coleta de dados foi realizada uma entrevista semiestruturada. Para avançarmos em nossa discussão, tomaremos como suporte pedagógico a leitura e a discussão de uma pesquisa de campo (dissertação de Mestrado) realizada por Alvarenga (2017) A seguir, vamos expor e discutir resultados dessas entrevistas: Inicialmente, foram pesquisados os elementos relacionados ao fracasso escolar de maneira geral e em sala de aula. Foi perguntado aos docentes: “o que você pensa sobre o fracasso escolar? Para você, quais as possíveis causas?” A partir da análise das respostas, foi possível identi�car que “as professoras consideraram a existência de inúmeros fatores envolvidos no trabalho docente, aspectos referentes às condições de trabalho (tempo, sobrecarga e salário) e à participação dos envolvidos na comunidade escolar, ou seja, gestão escolar, alunos e família” (ALVARENGA, 2017) como nos mostra o grá�co a seguir: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/7478/5/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20-%20Rejane%20Abadia%20de%20Alvarenga%20-%202017.pdf Fonte: Elementos relacionados ao Fracasso Escolar (Imagem produzida por Alvarenga, 2017). Corroborando este resultado, Pezzi e Marin (2017) a�rmam que os principais conceitos utilizados com mais frequência pelos pro�ssionais das áreas da Educação e Saúde como sinônimo para Fracasso Escolar são reprovação, avaliação das dificuldades de aprendizagem e principalmente comportamentais como indisciplina, falta de atenção, desinteresse, preguiça, etc. Segundo esses pro�ssionais, esses termos são passíveis de comprovação por meio de “escores” (ou notas numéricas) obtidos em avaliações escritas. Entretanto, ressalta-se que esses normalmente avaliam aptidões especí�cas de leitura, ortogra�a e matemática, desconsiderando outras habilidades também importantes tais como motricidade, habilidade musical ou artística e capacidade de relação interpessoal. Esse dado revela a organização do atual sistema de ensino nacional e também internacional, que privilegia as capacidades acadêmicas e intelectuais. Sabe-se que a reprovação está na própria origem da escola brasileira e, por isso, tende a ser naturalizada (PEZZI; MARIN, 2017). Fonte: Disponível aqui Um bom exemplo para incrementar nossa discussão está no Artigo Cientí�co “A culpa é sua” de Asbahr e Lopes (2006), que analisam por meio de uma pesquisa de campo a in�uência das concepções nas falas de educadores e alunos sobre o fracasso escolar na atualidade. Posteriormente, analisam criticamente trechos de entrevistas com educadores e alunos de uma escola pública municipal, ilustrativos da repercussão dessa concepção, em suas diversas nuances, no pensar e fazer pedagógico. Por último apresentam os princípios da Psicologia Histórico-cultural e sua contribuição à compreensão dos fenômenos escolares. Foi realizada uma Avaliação Psicológica com 60 crianças de 4°, 5° e 6° anos do ensino fundamental que não aprendiam a ler e escrever o conteúdo dado na sala de aula. Professores, coordenadores pedagógicos e a direção da escola queriam que a Psicologia explicasse o porquê isso acontecia. Para isso, �zeram a seguinte pergunta aos professores sobre os alunos: “Quais são as suas hipóteses sobre a queixa apresentada?” As respostas foram as seguintes: falta de interesse da família que não incentivae ajuda a criança na escola; situação familiar complicada, separação de pais, violência doméstica, abandono, falta de interesse por parte da criança, não se sentiam capazes de aprender. (ALVARENGA, 2017) Trazendo para discussão os resultados da pesquisa realizada por Alvarenga (2017), podemos destacar que, aos entrevistarem professores e alunos de uma Escola Pública em São Paulo, foi possível identi�car a concepção ideológica que centram no indivíduo e no ambiente as causas do fracasso. https://social.stoa.usp.br/articles/0016/4523/A_culpa_A_sua.pdf Ainda nesta pesquisa, foi feita aos alunos a mesma questão, e muitos responderam o que ouviam na escola e de seus próprios pais, e tinham a consciência de que eram responsáveis (ou até culpados) pelo mau desempenho escolar. Também responderam que não aprendiam nada porque tomavam muito café com água de coco, não posso tomar café porque desaprendo, porque fazia muita bagunça, ou não sei. De acordo com os resultados discutidos nesta pesquisa, as respostas dos alunos provam que há in�uência no pensamento e na ação cotidiana, no que se refere às crenças escolares e familiares (ALVARENGA, 2017). Esta aula buscou trazer uma re�exão sobre o fracasso escolar a partir de alguns estudos realizados em escolas com professores, pais e alunos. Os resultados demonstraram que o que se percebe é que muitas vezes a responsabilidade foi atribuída à criança, em outras à família, e também às condições sociais, econômicas e políticas. Você, aluno (a) questionador (a), deve estar me perguntando: a�nal, de quem é a “culpa”? Vamos pensar juntos: como ocorre a aprendizagem? E por que muitas vezes ela não ocorre? É fundamental que as causas e responsabilização para o Fracasso Escolar sejam revistas e repensadas criticamente. Venha comigo para a próxima aula, pois darei continuidade a esse assunto e espero que a partir de então você compreenda este fenômeno em sua complexidade e, ressigni�cando as suas próprias concepções enquanto aluno (a) e futuro (a) professor (a), consiga responder a esses questionamentos deixados como gancho nesta aula. 02 O Fracasso Escolar, suas Causas e Consequências: uma Discussão Crítica Você já deve ter percebido que entender o que leva os alunos ao fracasso escolar é uma tarefa bastante complicada. A permanência da alta incidência do fracasso escolar na atualidade é um desa�o para a qualidade da educação e impõe di�culdades individuais, familiares e sociais. Com relação ao professor, observou-se na primeira aula que é possível encontrar inúmeros fatores que em seus discursos e concepções atribuem como as possíveis causas para o fracasso escolar. Realmente, não há consenso sobre uma verdade universal (ainda que seja uma meia verdade temporária) e mesmo assim, essa se referiria a uma determinada cultura e em um dado momento histórico. Nesta aula, vamos aprofundar a problemática ao abordarmos de uma maneira re�exiva e crítica as diferentes causas apontadas pelos pro�ssionais da Educação e também da Saúde para o Fracasso Escolar. A�nal: o que os atores da escola (professores, pais e alunos) responderam ao serem questionados sobre “o que consideram fracasso escolar e quais suas possíveis causas?” Uma vez que diversos estudos apontam que o fracasso escolar pode trazer sofrimento e ter implicações pessoais e sociais importantes para os indivíduos, como abuso de drogas, problemas de conduta, envolvimento com a criminalidade, gravidez na adolescência e, ainda, suscitar situações de exclusão, é fundamental considerar para a prática docente a inter-relação entre a Psicologia do Ensino e a Educação. Acesse o link: Disponível aqui Acesse o vídeo gravado em Dublin “A menina que queria demolir a escola onde estuda”. Inicialmente, pode-se ver um aspecto de humor, porém, ao observarmos com um olhar crítico em relação ao fracasso escolar e as relações professor-aluno, é possível compreender o quanto, para alguns alunos, a escola torna-se um terrível sofrimento. https://www.youtube.com/watch?v=xMXdls7tBaA Há algumas décadas, críticas preconceituosas são feitas de que o fracasso escolar está no indivíduo e na sua família, principalmente nos negros e pobres. Veri�ca-se na literatura que essa ideia é muito presente no cotidiano escolar, no pensamento dos professores e pais e até mesmo do próprio aluno (RODRIGUES; CHECHIA, 2017). Alguns aspectos como o biológico e o mérito pessoal são considerados pela Medicina, Pedagogia e Psicologia como justi�cativas para o baixo desempenho na escola. Muitas vezes, a validação dessa explicação ocorre por meio de laudos e relatórios que pais e professores buscam pro�ssionais para a realização de avaliações com testes psicométricos - que avaliam, por exemplo, o desenvolvimento cognitivo (QI). Segundo Collares e Moysés (2014, p. 47), a expressão fracasso escolar tem sido usada para “designar o crônico problema educacional. Porém, ao mesmo tempo, constrói representações sobre esse problema ao remeter, de modo explícito ou subliminar, a um “precário desempenho escolar” das crianças”. As mesmas autoras em um estudo anterior (1994, p.26) consideraram que fracassam nos anos iniciais da escolarização cerca de 50% a 70% dos alunos, tendo, nestes casos, suas causas atribuídas apenas ao próprio aluno, sua família e, muito pouco, à escola. Raramente no cotidiano sua política e práticas educacionais são questionadas. O acesso à educação pública pelas classes populares na década de 1960, que promoveram a expansão da quantidade de escolas no Brasil (atenção, não digo, qualidade) tornou-se justi�cativa para o fracasso escolar (COLLARES; MOYSÉS, 1994, p. 26). Para Moysés (1992, p.38), existe uma “certa criação de mitos a respeito das causas do fracasso escolar e uma tentativa de respaldá-los cienti�camente, além de um propósito político-econômico a que tem servido na tentativa de legitimar tais preconceitos”. Mais recentemente, Moysés e Collares (2014) a�rmam que aos problemas educacionais, mais especi�camente, as di�culdades de aprendizagem das camadas mais pobres podem ser atribuídos a uma série de fatores e não necessariamente (embora possam ocorrer) devido apenas à condição socioeconômica da família (e país). Na década de 1970, de acordo com Patto (2008), uma das principais explicações encontradas para as desigualdades escolares e as causas para o problema do fracasso escolar basearam-se no discurso da Teoria da Carência Cultural. Nesta perspectiva, “a escola é para a elite e inadequada para as crianças carentes” (Patto, 2008, p. 130). Em outras palavras, neste contexto, o ambiente pobre promoveria de�ciências no desenvolvimento psicológico infantil e consequentemente na aprendizagem escolar. Em contrapartida, nesta mesma época no Brasil, foram feitos outros estudos com um foco diferente: buscar as causas do fracasso escolar no sistema escolar e não apenas nas características psicossociais do aluno (PATTO, 2008). Acesse o link: Disponível aqui Convido você, neste momento, a ler o artigo cientí�co “Dificuldade de aprendizagem: um desafio no contexto escolar”, que exempli�ca por meio de um estudo de caso um aluno com dificuldade de aprendizagem de uma escola particular de Belo Horizonte e o relato de intervenções realizadas para saná-la. Faça suas considerações pessoais destacando as possíveis causas que podem promover uma di�culdade. Outro ponto fundamental a considerar nesta leitura é a importância do professor re�etir sobre sua prática docente. FIGUEIREDO, Adriana Camargo de. Artigo 1: Figueiredo Di�culdade de aprendizagem: um desa�o no contexto escolar. Revista Eletrônica: “O Caso é o Seguinte...” / Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos / Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – v. 1, n. 2 (ago./dez. 2008-). – MG/Belo Horizonte: ICH – PUC Minas, 2008. Finalizando nossa aula, podemos destacar a necessidade do professor em admitir e acolher o novo, tendo como �nalidade a convivência com as diferenças. Logo, o preconceito não deve estar em seu ser e nem dentro da sala de aula, pois aprender,aceitar e conviver com as diferenças é uma tarefa importantíssima do professor. Na Aula 3, abordaremos as questão da indisciplina na relação professor-aluno para uma melhor compreensão das relações estabelecidas em sala de aula. http://www4.pucminas.br/graduacao/cursos/arquivos/ARE_ARQ_REVIS_ELETR20081205200459.pdf 03 Indisciplina na Sala de Aula: Os Efeitos da Relação Professor - Aluno Caro (a) aluno (a). Seja bem-vindo (a) a mais um encontro “virtual”. É um prazer escrever e saber que, em algum momento, você estará se apropriando deste conhecimento que compartilho com você. Nas duas primeiras aulas, veri�camos que a indisciplina é, muitas vezes, apontada pelos pro�ssionais da Educação como uma das principais queixas e causas do fracasso escolar. Como o fenômeno da indisciplina vem se agravando mundialmente e sendo tratado frequentemente pela mídia, esta terceira aula busca discutir os signi�cados atribuídos como (in)disciplina na sala de aula a partir da visão dos envolvidos, colocando-a muitas vezes como um dos aspectos que di�culta o processo de ensino e de aprendizagem. Entende-se, a necessidade deste tema visto que a literatura aponta a escassez deste nos cursos de Graduação em Pedagogia e Psicologia, embora fundamental para a formação inicial e continuada do professor. As di�culdades e problemas na aprendizagem da leitura, escrita e matemática não são, há muito tempo, as principais queixas escolares. Em muitas escolas as queixas mais frequentes estão relacionadas à desatenção, conversas paralelas dos alunos durante as aulas, atrasos nos horários da escola, agressões verbais ou físicas aos colegas (BOARINI, 2013). Caro (a) aluno (a), a tarefa a que nos deteremos inicialmente é tratar brevemente sobre a indisciplina escolar, não se produzir no vazio, ao contrário, fazer parte de um sistema social em sua totalidade (SILVA; VILLALBA, 2018). Para isso, mais uma vez, tomaremos o referencial teórico Histórico Cultural como o pilar de sustentação para nossa discussão. Em seguida, conceituaremos a indisciplina conforme a visão de diversos autores e, ainda, pretendemos apontar algumas possibilidades, rede�nindo práticas docentes diante de lidar com esta problemática. Segundo Rego (1996), nesta visão teórica, o próprio conceito de in(disciplina), como toda a criação cultural, não é estático, uniforme e nem universal. Desta forma, para Vygotsky (1978), os padrões de disciplina ligados à educação e os critérios adotados para identi�car um comportamento indisciplinado se transformam ao longo do tempo. Nota-se que antigamente havia um controle comportamental rígido sobre a conduta dos alunos. A disciplina era imposta à base de castigos, ameaças, coação e subserviência. O professor considerava-se como o único detentor do saber e um superior hierárquico, estabelecendo uma relação de obediência e subordinação com os alunos. Quem era, então, o aluno disciplinado? Claro, era aquele que fazia silêncio absoluto, não questionava, não argumentava, era “quietinho”, obediente e submisso ao professor (MENDONÇA, 2010). Na escola, este tipo de disciplina de heteronomia (subordinação) propiciava a “formação de uma personalidade dependente, imatura e pouco atrativa, uma vez que o aluno se acostumava a sempre receber ordens de fora” ao invés de propiciar a autonomia – liberdade para pensar, decidir, agir (VASCONCELOS, 1995, p. 63). Ao aluno, não lhe era propiciado margem à inquietação, à liberdade, ao inconformismo, en�m, à contestação (MENDONÇA, 2010). Este estilo disciplinar autoritário e depositário, para Mendonça (2010), começou a ser substituído na década de 1960, com a difusão da Psicologia e de métodos pedagógicos que valorizavam o respeito à individualidade da criança e do aluno. Os procedimentos de punir e reprimir os alunos passaram a ser vistos como ruins para o desenvolvimento da autonomia, criatividade e espírito crítico. Nas décadas de 1970 e 1980, predominava um “meio termo” entre o respeito à autoridade do professor e a liberdade concedida aos alunos. Para discutirmos os signi�cados atribuídos na contemporaneidade à (in)disciplina escolar, destacaremos de�nições dadas por diferentes autores e, portanto, diferentes contextos e olhares. Segundo o Mini Dicionário da Língua Portuguesa (CALDAS AULETE, 1985) o vocabulário disciplina pode ser de�nido como: [...] 1. princípios de ordem estabelecidos para o funcionamento adequado de instituição, atividade, etc.; 2. Sujeição a esses princípios e sua observância espontânea ou imposta; [...]. O termo indisciplina é de�nido por “ato ou procedimento que contraria princípios de disciplina”. Estas de�nições podem ser interpretadas de diversas formas. Rego (1996) entende disciplinado o aluno que obedece, que cede sem questionar às regras e preceitos vigentes em determinada organização, e indisciplinado o que se rebela, que não acata e não se submete e tampouco se acomoda e que, agindo assim, provoca rupturas e questionamentos. Para França (1996), o ato indisciplinado é aquele que não está em concordância com as leis e normas estabelecidas por uma comunidade, um gesto que não cumpre o prometido e, por esta razão, imprime desordem no até então prescrito. Em outras palavras, podemos concluir que, para esses autores, a indisciplina seria a desobediência, o não cumprimento do conjunto de regras; um comportamento inadequado e contrário a uma norma social imposta em uma determinada cultura, contexto e momento histórico. Será que essa concepção de (in)disciplina como uma espécie de incapacidade do aluno em se ajustar às normas e padrões de comportamento esperados e considerados socialmente “adequados” pode ser observada no discurso atual de muitos pro�ssionais das áreas da Educação e Saúde? O que a literatura aponta é que a disciplina é compreendida ainda por muitos como uma obediência cega e um conjunto de regras pré-estabelecidas nos diferentes contextos, e principalmente como um pré- requisito para o bom desempenho acadêmico oferecido pela escola. As regras passarão a ser compreendidas como imprescindíveis ao desejado ordenamento, ajustamento, controle e coerção de cada aluno e da classe toda. Fácil e comum observarmos estes relatos pro�ssionais como crenças enraizadas nas escolas e famílias (MENDONÇA, 2010). Aquino (1996, p. 47) faz uma re�exão a respeito da relação “indisciplina x responsabilidades” das duas principais instituições responsáveis pela educação do ser humano: a família e a escola. [...] A escola e a família são as duas instituições responsáveis pela educação num sentido amplo. O processo educacional depende da articulação desses dois âmbitos institucionais. Um não substitui o outro, devem sim, complementar-se. Se tanto a família como a escola são as principais responsáveis pela formação da criança ou o adolescente, é preciso que haja coerência entre princípios e valores de uma e outra, evitando confrontos entre professores, alunos, família e escola, o que favoreceria a rebeldia e a indisciplina dos alunos. É muito importante que a família assuma as suas responsabilidades especí�cas na formação dos �lhos. Muitas vezes, o vazio deixado pelos pais provoca grandes perdas na formação da criança, além de obrigar a escola a entrar em campos que não são de sua atribuição: ensinar a apresentar-se às pessoas, lavar a mão antes de comer, amarrar o sapato, escovar os dentes, descascar frutas, desenvolver valores básicos, etc. (VASCONCELOS, 2009). Para Boarini (2013), os �lhos devem ser educados pelos pais como estes quiserem. O professor é um pro�ssional especializado e preparado para compartilhar e produzir conhecimento no aluno; não se faz substituto das funções dos pais mesmo que nas séries iniciais muitas vezes eventualmente tenha que atender algum imprevisto estranho (por exemplo, ensinar a se limpar no banheiro, lavar as mãos, etc.). No entanto, embora diferentes, as responsabilidades da família e da escola são complementares, e é preciso �car claro qual a diferença, pois “se não explicitarmos as atribuições dos pais na construçãoda disciplina escolar, podemos �car esperando coisas que não são da responsabilidade da família”, como por exemplo: que o aluno tenha interesse e participe ativamente nas aulas. (VASCONCELOS, 2009, p. 209). É comum ouvir que as crianças e jovens atualmente não têm limites porque suas famílias são “desestruturadas” e os pais são muito permissivos. O senso comum nomeia como “família desestruturada” aquela que foge ao pa drão composto de pai, mãe e �lhos. Esta ideia não seria preconceituosa e moralista? A�nal, outros inúmeros arranjos familiares contemporâneos (por exemplo, as famílias homoafetivas), qualquer que seja a classe social, não são necessariamente sinônimos de desestruturação familiar. Você concorda? A partir de agora, você não vai mais errar! Atenção: quando uma família não atende às necessidades básicas de seus membros, dizemos que não cumpre suas “funções” e, portanto, é mais adequado tratá-las como “disfuncional” e não “desestruturadas”. (BOARINI, 2013). Combinado? Boarini (2018) e Vasconcellos (1996) apontam que o comportamento do aluno indisciplinado é caracterizado, segundo educadores, pela desatenção, barulho, bagunça, conversas paralelas durante as aulas, agressões verbais ou físicas aos colegas, desrespeito aos horários, falta de limites... Mas, a�nal, não seria, atualmente, a maioria de nossos alunos agitados, curiosos, inconstantes por estarem invadidos por informações e vivências em uma sociedade extremamente dinâmica, o que tem in�uenciado o seu comportamento? Claro, temos outro aluno, que está chegando à escola cada vez mais cedo, com novas necessidades e novas capacidades, bem informado tecnologicamente, diretamente conectado ao mundo por diferentes redes e ferramentas, que busca nos educadores outra conscientização por meio da re�exão e ação diante da (in)disciplina (MENDONÇA, 2010). Você deve estar fazendo o seguinte questionando: mas, professora, como então trabalhar com este aluno da atualidade? Quais seriam, as ressigni�cações necessárias ao professor sobre a (in)disciplina? Fonte: Elaborado pela autora. Primeiramente, o professor necessita se colocar como um dos integrantes do processo do ensino e aprendizagem, e suas práticas o tornam um ser ativo e não “vítima” de um sistema “estático e com alunos indisciplinados”. É passada a hora de o professor aceitar que os tempos mudaram e, portanto, sua percepção sobre a indisciplina também deve ser outra. Vivemos na sociedade chamada “Sociedade da Informação”. As mudanças tecnológicas exercem uma in�uência no modo de ser das pessoas, na escola isso não é diferente. O aluno que obedecia tudo que lhe era imposto autoritariamente, muitas vezes sem nem questionar o motivo, já não é tão fácil encontrar na atualidade. E convenhamos, ainda bem, não é? A própria Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) questiona: qual aluno queremos formar e quais são as habilidades e competências a serem desenvolvidas? É fundamental hoje que o aluno dê sua opinião, questione, investigue, se expresse, participe ativamente do seu processo de aprendizagem. A disciplina desejada hoje é a do aluno interessado, que interage com o grupo, que apresenta interesse investigando, discutindo e confrontando argumentos diferentes. (MENDONÇA, 2010). A questão da autoridade também passa pelo processo cultural. No passado, estava ligada com as tradições, e na atualidade, encontra-se estremecida devido à supervalorização do presente. A obediência às regras e normas se dava pela exigência da autoridade (autoritarismo), agora, necessita de argumentação e legitimação. A escola legitima sua autoridade quando cumpre seu papel social e apresenta qualidade. Por outro lado, o professor a legitima quando coloca afetividade na relação com seus alunos, através da cooperação e respeito mútuo. (MENDONÇA, 2010). Para Passos (1996), a indisciplina precisa ser vista pelo professor com outro signi�cado: ousadia, criatividade e inconformismo. Assim, o aluno contestador, que manifesta seu descontentamento, deve ser analisado para além do rótulo de aluno indisciplinado. É preciso considerar que o seu comportamento pode estar indicando a necessidade de mudanças na metodologia adotada pelo professor, por exemplo. Para que o aluno tenha interesse nas aulas, é importante, diz Aquino (1996, p. 53), que ele “experimente o obstáculo, que sinta o desconforto do difícil – só sendo desa�ado verá a necessidade de adequar-se, de limitar-se aos processos que determinada matéria (ou conteúdo) sugere”. É fundamental ressaltar que essa prática que visa a romper com o paradigma da indisciplina por meio da repressão, coação e autoritarismo, não seja confundida com permissividade. A liberdade sem limites e o professor sem autoridade (não autoritarismo) terá muitos problemas (comportamentais e de desempenho) em suas aulas. A disciplina só pode ser construída por meio de uma tarefa coletiva de trabalho e relações humanas esperadas dentro de uma atividade, pela regulação cooperativa de alunos, passos primordiais para a autonomia com liberdade e responsabilidade. É preciso passar da pedagogia do discurso para a pedagogia da ação: a criança só é indisciplinada quando o trabalho não faz sentido para ela. (SILVA; VILLALBA, 2018). Para Freire (1998, p. 46), a prática educativa pode ajudar na parte disciplinar, pois “busca desenvolver: um caráter formador, propiciar relações, treinar a experiência do ser social que pensa, se comunica, que tem sonhos que tem raiva e que ama”. A falta de habilidades do professor em lidar com a indisciplina é, por vezes, re�exo de sua uma falha na sua formação, acadêmica e continuada para lidar com essa situação especí�ca. A faculdade não “ensina” o aluno a lidar com a indisciplina. Neste sentido, Silva (2000) acredita na necessidade de uma preparação especí�ca à gestão das situações de indisciplina e outros problemas relacionais na formação dos professores. A escola cumprirá suas funções quando o professor constrói regras e tratados de convivência com os alunos. Isso permitirá um avanço para a aprendizagem e, por consequência, uma menor presença da indisciplina na escola. (SILVA; VILLALBA, 2018). Vasconcelos (2009, p. 93) a�rma que “o saber se comportar aplica-se não só ao aluno, mas a todos – portanto, também ao professor, aos funcionários, à equipe de direção, aos pais, etc.”. É muito importante, caro (a) aluno (a), que esta ideia seja propagada na comunidade escolar, discutindo-a, buscando o conhecimento que este não é problema apenas “deste” ou “daquele”, pois “todos estão no mesmo barco”, nas mesmas condições e que, portanto, todos devem contribuir para a superação do problema. O comportamento indisciplinado de um aluno pode estar revelando uma lacuna quanto ao papel que a escola está representando efetivamente, pois se apresenta cada vez mais ultrapassada e incompetente para cumprir sua função social. O que parece estar ocorrendo é que muitos “con�itos velados da instituição”, ou seja, problemas inerentes a ela não são expostos. Então, lhe pergunto: Poderia ser o comportamento de muitos alunos a demonstração de sua insatisfação com uma escola, que dia a dia torna-se obsoleta e sem papel social? É uma escola que aumentou em número, mas, até nossos dias, no Brasil não garantiu a qualidade do ensino (SILVA; VILLALBA, 2018). Acesse o link do vídeo: Disponível aqui A proposta do documentário brasileiro “Quando sinto que já sei” (2014) é levantar uma re�exão sobre o atual momento da educação no Brasil. Carteiras en�leiradas, aulas de 50 minutos, provas, sinal de fábrica para indicar o intervalo, grades curriculares, conhecimento dividido em diferentes caixas. As escolas, como são hoje, oferecem os recursos necessários para que uma criança se desenvolva ou a transformam em um robô, com habilidades técnicas, mas sem senso crítico? O projeto surgiu da percepção de que valores importantes da formação humana estão sendo deixados fora da sala de aula. Aponta para a necessidade de se explorar novas maneiras de aprender que estão surgindo e seconsolidando pelo Brasil, baseadas na participação e na autonomia de cada pequeno ser humano. Finalizamos esta aula concluindo que a indisciplina observada nas escolas públicas pode indicar a necessidade de a escola acompanhar o seu tempo histórico, como por exemplo, com a utilização de tecnologias, metodologias ativas de ensino, aula invertida, projetos pedagógicos, entre outras. A escola não pode se manter distante das inúmeras possibilidades presentes na era digital e deve passar a falar a mesma língua dos estudantes. https://www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg 04 Medicalização e Patologização da Infância Caro (a) aluno (a), nesta quarta e última aula, abordaremos o assunto Medicalização da Educação ou Patologização da Infância, buscando identi�car como têm sido tratados pela medicina muitos dos problemas relacionados ao fracasso escolar, preocupação que tem ganhado forças, no campo da Psicologia Escolar e da Educação propriamente dita, com esforços de estudiosos de diversas áreas como Moysés, Collares, Souza, Meira, Viegas, Untoiglic, Machado, entre outros. Vamos traçar um paralelo entre a medicalização, que considera alguns elementos da aprendizagem escolar como propulsores para supostos diagnósticos (indisciplina, desinteresse, de�ciências, transtornos, dé�cit de atenção, hiperatividade, falta de limites e outros), e a concepção de aprendizagem e desenvolvimento (segundo a Teoria Histórica Cultural já estudada anteriormente) e ainda o impacto na escola, mais especi�camente no processo de escolarização. Segundo Souza (2011), algo preocupante em relação ao fracasso escolar vem ocorrendo: uma tendência em diagnosticar como sendo de ordem biológica a maioria dos problemas escolares enfrentados pelas crianças. A medicalização pode ser entendida como [...] o processo por meio do qual são deslocados para o campo médico problemas que fazem parte do cotidiano dos indivíduos. Desse modo, fenômenos de origem social e política são convertidos em questões biológicas, próprias de cada indivíduo. (MEIRA, 2012, p. 136). [...] o processo por meio do qual as questões da vida social-complexas, multifatoriais e marcadas pela cultura e pelo tempo histórico- são reduzidas a um tipo de racionalidade que vincula artificialmente a dificuldade de adaptação às normas sociais a determinismos orgânicos que se expressariam no adoecimento do indivíduo. (FÓRUM SOBRE MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E SOCIEDADE, 2013, p. 14). Buscando descobrir a natureza e a evolução da medicalização na infância (VYGOTSKY, 1978), faz-se necessário apontar em que momento social, histórico e econômico esse fenômeno ganhou espaço em meio educacional. A medicalização desenvolveu-se no contexto escolar por volta da década de 1980 a partir de discursos relacionados a problemas comportamentais e de leitura e escrita. Surgem fortemente neste contexto Transtorno de Dé�cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Dislexia, mais comuns até hoje em espaço escolar (VIÉGAS et al., 2014). Fonte: ALBUQUERQUE, Jaíres Mariobo. Re�exões sobre as contribuições da perspectiva montessoriana para a superação da patologização e da medicalização do ensino. / Jaíres Mariobo Albuquerque; Maiara Botelho Barros – Porto Velho, Rondônia, 2017. 38 f.; il. Para Souza (2011), a escola está inserida em uma sociedade que estabelece padrões culturais, econômicos e sociais, e tende a reproduzir o que chama de “comportamento normal” do indivíduo. Desta maneira, apresenta di�culdade em aceitar e lidar com o que se mostra como diferente desses padrões. Como consequência, o processo de produção de diagnósticos de algum tipo de transtorno passou a ocorrer de forma acelerada e sem os critérios diagnósticos mínimos necessários. Assim, com muita facilidade modos de agir, aprender e comportamentos, passaram a ser rotulados e consequentemente diagnosticados como doenças. (MOYSES; COLLARES, 2014). Atualmente, um grande número de pro�ssionais das áreas da Saúde e Educação, tem se posicionado em torno da crítica à medicalização, mais especi�camente em relação a como a escola e a população em geral insistem em transferir para a área médica a solução dos problemas educacionais, de modo a patologizar e tratar com a prescrição de medicamentos os aspectos do comportamento social dos indivíduos. (ALVARENGA, 2017) “Medicalizar o fracasso escolar e incorporar tal posicionamento ao senso comum são formas de escamotear o contexto social com seus problemas, diferenças e preconceitos”. (MOYSÉS; COLLARES, 2014). De acordo com Meira (2012, p.45) “o fracasso escolar tratado como patologia e/ou diagnosticado como algum tipo de transtorno, parece ter deixado de ser uma responsabilidade da escola e passa a ser uma responsabilidade médica, passível de tratamento medicamentoso, o que tem contribuído para certo interesse da indústria Farmacêutica”. A autora ainda pontua que atualmente estamos vivendo uma “epidemia de diagnósticos e tratamentos” que visam a suprir a necessidade de uma sociedade imediatista e interesses capitalistas, mais especi�camente farmacêuticos. É alarmante o crescimento dos números de consumo e venda do metilfenidato (conhecida popularmente como “Ritalina”) mundialmente. Uma das explicações se dá devido às revisões em documentos como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª ed. – DSM V (2014), com a ampliação dos critérios diagnósticos para os Transtornos de Aprendizagem. O perverso é que a fundamentação ocorre baseada a partir de políticas públicas que reforçam o processo de medicalização em um discurso de defesa dos direitos da criança (FÓRUM SOBRE MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE, 2015). Desse modo, segundo Untoiglich (2014), os problemas de aprendizagem e de comportamento de crianças têm sido encaminhados pela escola, levantando hipóteses diagnósticas, sendo as mais comuns o TDAH, a Dislexia, o Transtorno Opositivo Desa�ador e o Transtorno do Espectro Autista. O que ocorre é que há uma busca por laudos como garantia de acesso aos tratamentos e acompanhamentos. No processo que transforma questões não médicas em problemas médicos “os problemas de diferentes naturezas são apresentados como ‘doenças’, ‘transtornos’, ‘distúrbios’ que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais, afetivas que a�igem a vida das pessoas”. (VIÉGAS et al., 2014, p.09) Esse processo gera sofrimento psíquico à criança e sua família uma vez que são responsabilizadas, enquanto governos, autoridades e pro�ssionais são eximidos de suas responsabilidades. Acesse o link: Disponível aqui Neste interessante vídeo “Um panorama da medicalização na Infância”, o psiquiatra e autor Rossano Cabral de Lima alerta para o problema do exagero nos diagnósticos de transtornos mentais e na prescrição de remédios, em especial para crianças. Além de explicar e questionar os principais diagnósticos da atualidade, como o TDAH e a Síndrome de Asperger, comenta sobre os contextos sociais e econômicos ligados a esse problema. Como a criança é a principal envolvida nessa história, Rossano não poderia deixa de re�etir sobre o papel da escola diante dessa realidade. Finalizando nossa aula, espero que você tenha tido a oportunidade de compreender a complexidade da Medicalização ou Patologização da Infância. A literatura nos mostrou sérias e coerentes críticas, uma vez que se buscam soluções imediatas individuais para problemas do ensino e adoecimentos que se estabelecem socialmente. Os encaminhamentos médicos, remédios, lexotans, ritalinas, �orais, nutricionistas, psicólogos e demais especialistas da infância têm sido convocados como enfrentamento de um funcionamento escolar e social em que se intensi�cam a competição, comparação e o consumo. Esse quadro aponta a existência de forças perigosas e adoecedoras em nossa sociedade, fermentando assustadoramente pânico, depressão, comportamentos irrequietos e corpos insatisfeitos. https://www.youtube.com/watch?v=3Q5eRulKwS0 Material Complementar Fracasso Escolare Interação Professor-aluno Autor: Ivanilde Moreira Editora: WAP Sinopse: Este livro traz alguns elementos para a reflexão sobre o fra- casso escolar e a interação entre professor e aluno, centralizando sua análise no processo de alfabetização e letramento à luz dos estudos de Piaget e Vygotsky. Durante a leitura, você poderá perceber, entre outras coisas, formas de atuação na zona de desenvolvimento proximal (ZDP) proposta por Vygotsky no momento em que se alfabetiza o aluno. Além desses conceitos, o livro apresenta informações sobre o conceito de interação em sala de aula. LIVRO Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem Autores: Lev S. Vigotski & A. R. Luria & A. Leontiev Editora: Ícone Editora Ano: 2018 Sinopse: Três dos principais representantes da psicologia soviética – Leontiev, Luria e Vigotski – estão presentes nesta coletânea, organizada por professores do Instituto de Biomédicas e da Faculdade de Educa- ção da USP. Centrados em temática pertencente à psicologia cognitiva (percepção, memória, atenção, solução de problemas, fala, atividade motora), os três autores soviéticos estudaram desde processos neuro- fisiológicos até relações entre o funcionamento intelectual e a cultura em que os indivíduos estão inseridos. Assim, trabalharam intensamente não apenas com temas de psicologia do desenvolvimento, como também com as relações entre linguagem e pensamento, com implicações para a neurologia, psiquiatria e educação. LIVRO Como estrelas na Terra Ano: 2007 Diretor do filme: Aamir Khan Estúdio: PVR Pictures Sinopse: O filme conta a história de uma criança que sofre com dislexia e não é compreendida pelos professores e pais. Ishaan Awasthi, de 9 anos, já repetiu uma vez o terceiro período (no sistema educacional in- diano) e corre o risco de reprovar novamente. As letras dançam em sua frente, como diz, e não consegue acompanhar as aulas nem focar sua atenção. Inesperadamente, um professor substituto de artes percebe que há algo de errado com Ishaan. Ao descobrir que o garoto era disléxico, o professor coloca em prática um plano para resgatar aquele garoto. Este fabuloso filme obriga-nos a repen- sarmos o nosso papel enquanto educadores, além de dar-nos subsídio para que pensemos infinitamente sobre os problemas e as potencialida- des presentes no espaço escolar. Pode ser utilizado para discutir junto aos educadores a importância da atenção as defasagens apresentadas pelos alunos a fim de estabelecer uma estratégia para intervenção pedagógica. LIVRO Nenhum a menos Ano: 1998 Diretor do filme: Zhang Yimou Estúdio: Columbia Pictures Sinopse: As dificuldades encontradas por uma menina de 13 anos quan- do tem de substituir seu professor, que viaja para ajudar a mãe doente. Antes de partir, ele recomenda à garota que não deixe nenhum aluno abandonar a escola durante sua ausência. Quando um garoto desaparece da escola, a jovem professora descobre que ele deixou o vilarejo em direção à cidade em busca de emprego, para ajudar no sustento da família. Seguindo os conselhos de seu professor, ela vai atrás do aluno. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1999. FILME O menino que descobriu o vento Ano: 2019 Diretor do filme: Chiwetel Ejiofor Estúdio: Potboiler Productions Sinopse: “O menino que descobriu o vento” é um libelo em favor da hu- manidade, do estudo, da ciência e do trabalho cooperativo. Os pais de William, diante da dura condição de vida local, acreditam que é impor- tante oferecer a seus filhos a possibilidade de um futuro melhor. Apesar de não terem estudado, percebem na educação esta riqueza que lhes permitirá vida mais próspera. O período de seca, um componente que dificulta ainda mais a vida da comunidade agrícola da região, é ainda maior do que o esperado e, com isso, a terra fica extremamente árida, difícil de trabalhar e a produção não colhe os frutos esperados. A fome, os saques, embates com o gover- no e a evasão de famílias inteiras os deixam a beira do caos. Até a escola é fechada... Como sobreviver a este momento tão inóspito, de tantas dificuldades, sem a água necessária para realizar o plantio? É dos livros escolares, das aulas de Ciências que vem a inspiração para que William, sozinho, se transforme no “menino que descobriu o vento” e que, com isso, busque a resposta para as grandes dificuldades e desafios que se colocam para toda a sua comunidade contando com recursos ínfimos como rádios e pilhas velhas, uma bicicleta usada e muita disposição, criatividade e sabedoria. Este filme é inspirador e deve mobilizar pro- fessores e alunos a pensar, propor soluções, desenhar e arquitetar um futuro melhor para si mesmos e para todos. FILME Numa escola de Havana Data: 2015 Diretor do filme: Ernesto Daranas Serrano Estúdio: Esfera Filmes Sinopse: Chala (Armando Valdes Freire) é um garoto de onze anos que vive com sua mãe viciada em drogas, Sonia (Yuliet Cruz). Para sustentar a casa, ele treina cães de briga com um homem que pode ser ou não seu pai biológico. As dificuldades de sua vida refletem na escola, onde é alu- no de Carmela (Alina Rodriguez), por quem ele tem um grande respeito. Mas quando ela fica doente e tem que se afastar por meses, Chala não se adapta ao novo professor, que o coloca em uma sala para alunos de mal comportamento. Quando Carmela retorna, não aceita essa medida e outras imposições que aconteceram durante sua ausência. Enquanto a relação entre professora e aluno se intensifica, os dois passam a ser perseguidos na escola, levando a um conflito que reflete o complexo sistema de Cuba contemporânea. FILME Preciosa – Uma História de Esperança Ano: 2009 Diretor do filme: Lee Daniels Estúdio: Icon Movies Sinopse: 1987, Nova York, bairro do Harlem. Claireece “Preciosa” Jones (Gabourey Sidibe) é uma adolescente de 16 anos que sofre uma série de privações durante sua juventude. Violentada pelo pai (Rodney Jackson) e abusada pela mãe (Mo’Nique), ela cresce irritada e sem qualquer tipo de amor. O fato de ser pobre e gorda também não a ajuda nem um pouco. Além disto, Preciosa tem um filho apelidado de “Mongo”, por ser portador de síndrome de Down, que está sob os cuidados da avó. Quando engra- vida pela segunda vez, Preciosa é suspensa da escola. A sra. Lichtenstein (Nealla Gordon) consegue para ela uma escola alternativa, que possa ajudá-la a melhor lidar com sua vida. Lá Preciosa encontra um meio de fugir de sua existência traumática, se refugiando em sua imaginação. FILME A Educação Proibida Data: 2012 Diretor do filme: German Doin, Verónica Guzzo Estúdio: REEVO – Red Educación Viva Sinopse: Gravado em oito países da América Latina, o documentário problematiza a escola moderna e apresenta alternativas educacionais para o Fracasso Escolar em mais de 90 entrevistas com educadores. O filme é independente e foi financiado de forma coletiva. FILME Além da sala de aula Data: 2011 Diretor do filme: Jeff Bleckner Estúdio: Studio Universal Sinopse: A história se passa em 1987 e segue uma jovem professora e mãe de dois filhos que acabou de se formar na faculdade e acaba ensinando crianças de rua em uma escola sem um nome. Com o apoio de seu marido, ela vence os medos e os preconceitos para dar a estas crianças a educação que merecem. FILME Conclusão Você chegou ao final das quatro aulas preparadas como um dos requisitos a serem cumpridos durante a sua trajetória acadêmica. Compreendo a disciplina “Projeto Integrador: Práticas em Psicologia da Educação” como uma contribuição para a sua formação, promovendo a ressignificação de conceitos e ampliando sua visão quanto aos problemas relacionados especificamente a concepções errôneas de temas ligados por exemplo ao fracasso escolar, indisciplina e medicalização, propondo uma diferente pos-tura profissional e o enfrentamentos com práticas eficazes em sala de aula. No decorrer das aulas, buscamos despertá-lo (a) para a compreensão do fracasso escolar e todas as suas representações àluz da Teoria Histórico- Cultural, que trata este fenômeno considerando todos os aspectos social, cultural e histórico em que a escola e seus atores estão incluídos. Acreditamos também que você, a partir destas aulas, não seja mais um profissional a reproduzir rótulos, estereótipos e preconceitos em relação ao “novo” aluno da escola atual, que questiona, é diferente, “comporta-se inadequadamente” quando comparados a modelos obsoletos produzidos socialmente. O aluno que a escola ainda busca não existe há muito tempo, e você, aluno (a) e futuro (a) professo r(a), poderá quebrar paradigmas e contribuir para a formação de pessoas críticas em uma sociedade mais humanizada e justa. Cordialmente, despeço-me e coloco-me à disposição para possíveis dúvidas. Profª Bárbara. Referências ALVARENGA, R. A. A medicalização do fracasso escolar nos anos iniciais do ensino fundamental. 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