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Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA (ARTS. 151 A 152, CP) VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA Art. 5º, CF, XII: É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no ultimo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Art. 151, CP: Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º Na mesma pena incorre: I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói; II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas; III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior; IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal. § 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem. § 3º Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: Pena - detenção, de um a três anos. § 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.. EXTENSÃO DO TIPO MAJORANTE QUALIFICADORA Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 DEVASSAR -> Penetrar e descobrir conteúdo de algo. Ter vista do que está vedado. Não significa, necessariamente, abri-la. INDEVIDAMENTE -> Trata-se de elemento normativo do tipo. O que a lei protege é o sigilo da correspondência, e não a mera devassa da correspondência. Se não há sigilo aplicável, a violação pode ser considerada devida ou lícita. Por isso, uma correspondência aberta não será protegida por este tipo penal. As excludentes de criminalidade relacionadas no art. 23 do Código Penal não se limitam aos crimes definidos nesse diploma legal, sendo aplicadas, por extensão do seu art. 12, a todas as infrações penais disciplinadas em outros textos legais. ANÁLISE SUBJETIVA: Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa. Caso o destinatário da correspondência tenha morrido, não há que se falar em violação de sigilo. Segundo Nucci (2022) e Bitencourt (2022), não se admite o direito de qualquer dos cônjuges de devassar a correspondência alheia, mas não chega ao extremo de considerar tal conduta criminosa. Acredita tratar-se de um desvio de ordem ético-social, censurável, mas que não chega a tipificar a infração penal. O elemento subjetivo é o dolo. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Consuma-se o crime de violação de correspondência com o conhecimento do conteúdo da correspondência (1ª figura). Enfim, consuma-se o crime com o devassamento da correspondência, ou seja, com o conhecimento do seu conteúdo, que não precisa ser total nem ser, na sua essência, segredo. A tentativa é admissível. COMPETÊNCIA: É da Justiça Federal, quando a violação ou apossamento tiver ocorrido enquanto a carta estava em trânsito, portanto valendo-se do serviço postal; quando já estivesse na posse exclusiva do remetente ou do destinatário, é da Justiça Estadual. AÇÃO PENAL: Pública condicionada, com exceção dos casos dos §§ 1º, IV, e 3º, cuja ação penal é pública incondicionada. CLASSIFICAÇÃO: ❖ Comum; Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 ❖ Mera conduta; ❖ Comissivo; ❖ Instantâneo; ❖ Unissubjetivo; ❖ Plurissubsistente; ❖ Admite a tentativa; ❖ Subsidiário46; ❖ Doloso. CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL -> É a troca de cartas, bilhetes e telegramas de natureza mercantil, relativa à atividade de comércio (NUCCI, 2022). O crime se caracteriza ainda que a conduta do agente atinja parcialmente o conteúdo da correspondência, ou somente documentos anexos. A tipificação das condutas está limitada ao uso abusivo da condição de sócio ou empregado. As condutas identificadas são: ❖ Abusar: Usar de modo inconveniente ou exorbitante, ilícito; ❖ Desviar: Afastar a correspondência de seu destino original; ❖ Sonegar: Esconder ou ocultar, impedindo que a correspondência seja devidamente enviada a quem de direito; ❖ Subtrair: Furtar ou fazer desaparecer a correspondência, também a retirando do lugar onde deveria estar ou para onde deveria ir; 46 Se a devassa deixa de ser um fim em si mesmo, já não se configura um crime autônomo, passando a constituir elemento, essencial ou acidental, de outro crime, como, por exemplo, o sujeito ativo viola correspondência para praticar o crime de extorsão (art. 158): somente responderá por esse crime. Pode, inclusive, constituir espionagem contra interesses protegidos pela Lei de Segurança Nacional (arts. 13 e 14 da Lei n. 7.170/83). Art. 152, CP: Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: Pena - detenção, de três meses a dois anos. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 ❖ Suprimir: Destruir ou eliminar, para que a correspondência não chegue ao eu destino ou desapareça da empresa para onde foi enviada; ❖ Revelar: Dar conhecimento ou descortinar o conteúdo da correspondência do estabelecimento comercial ou industrial a quem seja estranho aos seus quadros ou não mereça ter acesso ao seu conteúdo. BEM JURIDICO TUTELADO: Inviolabilidade do sigilo da correspondência. ANÁLISE SUBJETIVA: Existem duas condições especiais, não exigidas no artigo anterior: uma relativa ao sujeito ativo, que só pode ser “sócio ou empregado”, outra referente à natureza do destinatário da correspondência, que é limitado a “estabelecimento comercial ou industrial”. Para que o sujeito ativo incorra na proibição deste artigo, é indispensável que a conduta seja praticada com abuso da condição de sócio ou de empregado; como o tipo penal não exige que haja abuso de função. Sujeito passivo, por sua vez, é o estabelecimento comercial ou industrial e os respectivos sócios, ou o estabelecimento e os demais sócios, na hipótese de um deles ser o sujeito ativo. O elemento subjetivo é o dolo. Não há previsão de modalidade culposa. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Consuma-se o crime com a pratica efetiva das ações de desviar, sonegar, subtrair a correspondência, ou, na segunda modalidade, revelar a estranho seu conteúdo. A prática de mais de uma das condutas nucleares não configura concurso de crimes, respondendo o agente por uma única figura delitiva. Admite-se a tentativa. AÇÃO PENAL: Condicionada. CLASSIFICAÇÃO: ❖ Crime próprio; ❖ Instantâneo; ❖ Formal; ❖ Comissivo; ❖ Unissubjetivo; ❖ Unissubsistente ou plurissubsistente; ❖ Admite a tentativa; ❖ Comissivo; ❖ Doloso.
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