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- -1 FUNDAMENTOS DOS ESTUDOS JURÍDICOS EM SEGURANÇA PÚBLICA A DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Estabelecer como é estruturada a defesa do Estado e das Instituições Democráticas; 2- Reconhecer a aplicação das normas legais às situações de ordem pública; 3- Distinguir as exceções jurídicas dispostas na legislação relativas ao Estado de Polícia. 1 Atribuição constitucional da Segurança Pública em nosso ordenamento jurídico Inicialmente, precisamos reconhecer o conceito de Direito Positivo, o qual consiste na organização do Estado, mediante um conjunto de normas que se conjugam para estruturar a sociedade em determinado tempo e espaço. Partindo deste conceito básico, chegaremos a 2 modalidades de Direito, são elas: Direito público Regula a interações do Estado com outros Estados; Estado com os cidadãos. Ex.: Direito Constitucional e Direito Administrativo. Direito privado Regula as relações dos indivíduos entre si. Ex.: Direito Civil e Direito Comercial. O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público, no qual compõe a estrutura normativa do Estado, composta por: • Forma de governo; • Modo de aquisição e exercício do poder; • Estabelecimento dos órgãos do poder; • Direitos e garantias fundamentais (limites à ação do poder). Por sua vez, a Constituição de um país configura-se a lei fundamental de um Estado, a qual irá reger todas as outras leis. As ciências jurídicas identificam diferentes concepções sobre o conceito de Constituição, atribuindo os seguintes sentidos: Sentido sociológico: Segundo Ferdinand Lassale: consiste no somatório dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade, logo o que está expresso, ou positivado, no texto constitucional deve espelhar as forças constitucionais que emanam o poder; Sentido político: Segundo Carl Schmit: a Constituição é a decisão política fundamental; • • • • - -3 Sentido jurídico: Segundo Hans Kelsen: são identificados 2 sentidos jurídicos: • O lógico-jurídico: norma fundamental hipotética, fundamento lógico transcendental de validade da constituição; • O jurídico-positivo: forma positiva suprema. 2 Classificação das constituições Quanto ao conteúdo: • Constituição formal – documento escrito, chancelado pelo poder constituinte, detentor de todas as normas constitucionais e infraconstitucionais, além da previsão de normas internacionais. • Constituição material – conjunto de regras materialmente constitucionais, figurando ou não na constituição formal. Quanto a origem: • Constituição outorgada – imposta pelo poder vigente sem participação popular. • Constituição promulgada (popular/democrática) – deriva do trabalho de uma Assembleia Constituinte eleita especificamente para esta finalidade. Quanto a extensão: • Constituição sintética – veicula apenas os princípios fundamentais e estruturais do Estado. • Constituição analítica – aborda todos os assuntos que os representantes do povo entenderem como fundamentais. Quanto ao modo de elaboração: • Constituição dogmática – consubstancia os dogmas estruturais e fundamentais do Estado. É sempre escrita. • Constituição histórica – forma-se por um lento e contínuo processo temporal, conforme a história e a • • • • • • • • • • - -4 • Constituição histórica – forma-se por um lento e contínuo processo temporal, conforme a história e a tradição de um povo. Quanto a alterabilidade: • Constituição rígida – demanda um processo legislativo mais solene e complexo do que o existente para edições das demais espécies normativas. • Constituição flexível – pode ser alterada pelo processo legislativo ordinário. • Constituição semirrígida ou semiflexível – traz algumas regras que podem ser alteradas pelo processo legislativo ordinário e outras que somente por um processo legislativo mais especial e complexo. • Constituição imutável – não pode ser alterada. 3 Normas constitucionais As normas constitucionais podem ser classificadas, de acordo com a natureza e a finalidade, como integrantes de determinados elementos das constituições, são eles: Elementos orgânicos: • Normas que regulam e estruturam o Estado e o poder. Elementos limitativos: • Normas que limitam as ações dos poderes estatais, tais como as normas que veiculam os direitos e as garantias, direitos de nacionalidade e direitos políticos e democráticos. Elementos sócio ideológicos: • Revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado social e intervencionista. Elementos de estabilização constitucional Normas destinadas a solucionar: • aplicação das constituições; • a defesa da constituição; • a defesa do Estado; • a defesa das instituições democráticas. Elementos formais de aplicabilidade Normas que estabelecem regras: • aplicação das constituições, tais como o preâmbulo; • as disposições constitucionais transitórias. • • • • • Saiba mais A respeito de nossa Constituição Federal vigente, ela data de 05 de outubro de 1988, pode ser classificada como formal, promulgada, escrita, analítica, dogmática e rígida. • • • • • • • • • - -5 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a nossa Carta Magna, a “espinha dorsal” de nosso ordenamento jurídico é composta por: Preâmbulo: Introdução, reproduz a ideologia política que vigorava à época de sua promulgação. Segundo o Supremo Tribunal Federal (STF) esta seção de nossa Carta Magna não tem força normativa e não é de reprodução obrigatória nas Constituições Estaduais. Corpo principal: Possui 9 títulos: • Título I - Dos Direitos Fundamentais (art. 1º ao art. 4º); • Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais (art.5º ao art.17º); • Título III - Da organização do Estado (art. 18º ao art. 43º); • Título IV - Da Organização dos Poderes (art. 44º ao art. 135º); • Título V - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas (art. 136º ao art. 144º); • Título VI - Da Tributação e do Orçamento (art. 145º ao art. 169º); • Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira (art. 170º ao art. 192º); • Título VIII - Da Ordem Social (art.193º ao 232º); • Título IX - Das Disposições Gerais (Art. 233º ao art. 250º). Atos das disposições gerais transitórias: Visa dar publicidade a disposição de Direito Intertemporal, regulando a transição constitucional. 4 Emendas constitucionais Temos ainda as emendas constitucionais que são divididas em dois grupos: Emendas Constitucionais produzidas pelo poder constituinte derivado reformador; Emendas Constitucionais de revisão, produzidas pelo poder constituinte derivado de revisão. A revisão constitucional já se realizou, dela resultando 6 Emendas Constitucionais. 5 Fundamentos institucionais dos incisos I, II, III, IV e V do art. 1º da CF/88 Após conhecermos a estrutura de composição da nossa atual Constituição Federal, vamos compreender os seus fundamentos institucionais, que nos auxiliam na aplicabilidade das normas constitucionais. Para tanto, devemos checar o disposto no Art. 1º da CRFB, que determina que a União é indissolúvel, sendo formada pelos estados, municípios e Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: Título I Dos Princípios Fundamentais • • • • • • • • • - -6 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; Este fundamento tem sua maior aplicabilidade no denominado Direito Internacional, o qual consiste em um conjunto de normas, de natureza pública e privada, que regula e normatiza as relações do Estado brasileiro com outras nações e seus respectivos cidadãos à luz da Constituição da República Federativa do Brasil; II - a cidadania; Consiste no respeito ao indivíduo em pleno gozo de seus direitos e atualizado com suas obrigações, o qual merece as devidas satisfações tanto do ente público, quanto do setorprivado; III - a dignidade da pessoa humana; Consiste na preservação da integridade física mental e espiritual do indivíduo, que caso tenha transgredido normas de convívio humano ou tenha sido flagrado transgredindo-a, uma vez neutralizada sua respectiva periculosidade, seja preservado na condição de um ser humano, por mais que ele demonstre ser uma criatura perniciosa à sociedade; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa – consiste no reconhecimento socioeconômico da atividade laboral lícita de todos os membros da sociedade, para que cada trabalhador perceba sua remuneração regular pelo seu trabalho, bem como possa recolher sua contribuição de seu respectivo seguro social para prover sua aposentadoria. Todavia, a livre iniciativa deve ser normatizada e regulada pelo poder público, para se evitar que atividades ilícitas escravizem a mão de obra de trabalhadores honestos, os quais demandam a proteção estatal frente às organizações criminosas, pois não há como se manter uma atividade lícita e próspera na informalidade sem que grupos criminosos assumam seu domínio. Como exemplo, podemos citar a exploração do transporte alternativo ou complementar que, no Rio de Janeiro, tem grande ingerência de grupos de criminosos. V - o pluralismo político. V - Consiste o livre exercício político ideológico, com possibilidade de qualquer corrente político-doutrinária possa se organizar de forma partidária e concorrer às eleições periódicas aos diversos cargos eletivos de nossa República Federativa. - -7 6 Organização do Estado Verificamos que a organização de nosso Estado é denominada Federação ou Estado Federativo. Essa forma de Estado foi introduzida no Brasil em 1889, juntamente com a nossa República. Hoje, a forma federativa está positivada como cláusula pétrea (imutável) no art. 60, § 4º, Inciso I da CRFB. Quanto aos entes federados em nossa República, estes estão previstos no art. 18 da CRFB. São entes federativos no Brasil: • União; • Distrito federal; • estados; • municípios. 7 Segurança Pública Quanto à segurança pública em sua existência generalista, temos sua previsão e estruturação na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 144. Logo, as atribuições pertinentes aos seus órgãos são constitucionais. A atividade policial não se confunde com competência jurisdicional, que é peculiar ao mundo jurídico, em que os órgãos policiais e afins não lhe absorvem a natureza. O que constatamos é que a atividade laboral na segurança pública antecede, na prática, a atividade jurisdicional que regula e normatiza a esfera da segurança pública. "A justiça tem numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal, a balança sem a espada é a impotência do direito" - Rudolf Von Ihering. • • • • - -8 8 Direito Penal e Direito Processual Penal Para compreendermos a atividade laboral na segurança pública, bem como a atividade jurisdicional que a regula e normatiza precisamos analisar um dos seguimentos das ciências jurídicas, trata-se do Direito Penal e Direito Processual Penal: o primeiro identifica e tipifica o ato criminoso, o segundo estabelece o processo judicial pertinente ao respectivo fato delituoso tipificado, ou seja, estabelecido como crime. Contudo, para que este sistema jurídico possa ser evocado, o crime terá que ter ocorrido, assim sendo, como a própria condição indispensável do crime estabelece: tudo começa com a ocorrência policial. Esse fato jurídico que consiste em uma ação ou omissão de um indivíduo ou um grupo de indivíduos que produziu, produz, ou irá produzir dano material e dano moral, ou apenas um deles, a terceiros. Em síntese, a segurança pública é que produz subsídios para a produção laboral dos juristas e operadores do direito em várias áreas do ordenamento jurídico. Assim sendo, qual seria a natureza da autoridade policial: jurista ou policialista? 9 O mandato conferido pela sociedade aos órgãos de Segurança Pública Mandato policial O mandato policial ocorre quando a sociedade delega poderes para, em nome da segurança de todos, sofrer ações policiais visando manutenção da ordem pública e a paz social. Assim, compreendemos que a finalidade da segurança pública é zelar pela ordem pública, contudo, quando se evoca o mandato policial, concluímos que estamos no chamando Estado de Direito, quando o ordenamento jurídico é construído de forma democrática, ou seja, as leis são votadas pelo legislativo e sancionadas pelo chefe do executivo, ambos eleitos democraticamente. 10 A defesa do Estado e das instituições democráticas A crise constitucional ocorre quando há um desequilíbrio considerável na normalidade da vida do Estado que ameaça as instituições democráticas, sendo, nesses casos, autorizada pela CRFB a adoção de medidas de exceção (estado de defesa e estado de sítio), com o objetivo de fazer frente à anormalidade manifestada e restabelecer a ordem. - -9 Nessas situações, o poder de repressão estatal é ampliado, de acordo com os parâmetros constitucionais, sendo impostas restrições e suspensões de certas garantias fundamentais, em locais específicos e por prazo certo, sempre baseadas em normas previstas pela CRFB. Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino apontam para 3 requisitos para que essas medidas excepcionais sejam tomadas: Necessidade as medidas só deverão ser decretadas diante de situações fáticas cuja gravidade torne imprescindível a sua adoção; Temporalidade as medidas deverão vigorar somente pelo prazo necessário ao restabelecimento da normalidade, sob pena de se converterem em arbítrio ou ditadura; Obediência irrestrita aos comandos constitucionais a atuação do Estado deverá obedecer fielmente às regras e limites constitucionais, sob pena de ulterior responsabilização dos executores. 10. 1 As forças armadas As Forças Armadas são integradas pelo Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica, e são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República (art. 84, XIII, CRFB), e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem (Art. 142, CRFB). Saiba mais PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado. 9ª ed. São Paulo: Método, 2012, p. 941 a 943. - -10 Os membros das Forças Armadas são militares e estão sob a chefia do Presidente da República. A competência das Forças Armadas é meramente subsidiária, pois essas atribuições são ordinariamente desempenhadas pelas forças de segurança pública, que compreendem os órgãos do art. 144 da CRFB. Aqui cabe observar que a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar, órgãos que compõe a segurança pública, são regidos pelo regime militar, sendo considerados como forças auxiliares e reserva do Exército e submetendo- se às normas do Código Penal Militar e do Código de Processo Penal Militar. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes: • O poder de polícia no contexto da Segurança Pública; • Os principais aspectos relacionados ao exercício do poder de polícia; • A eficácia do poder de polícia na manutenção da ordem pública. Saiba mais PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado. 9ª ed. São Paulo: Método, 2012, p. 943. • • • - -11 CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Reconheceu a estrutura de defesa do Estado e das Instituições Democráticas; • Identificou a aplicação das normas legais às situações de manutenção da ordem pública; • Distinguiu as exceções jurídicas dispostas na legislação relativas ao Estado de Polícia. • • • Olá! 1 Atribuição constitucional da Segurança Pública em nosso ordenamento jurídico 2 Classificação das constituições 3 Normas constitucionais 4 Emendas constitucionais 5 Fundamentosinstitucionais dos incisos I, II, III, IV e V do art. 1º da CF/88 6 Organização do Estado 7 Segurança Pública 8 Direito Penal e Direito Processual Penal 9 O mandato conferido pela sociedade aos órgãos de Segurança Pública 10 A defesa do Estado e das instituições democráticas 10. 1 As forças armadas O que vem na próxima aula CONCLUSÃO