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Silva, C A; Ribeiro, A C T; Campos, A Cartografia da acao e movimentos da sociedade

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Cartografia da ação 
e movimentos da sociedade
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 1 14/10/2011 19:39:30
Cartografia da ação e movimentos da sociedade: desafios das experiências urbanas
Catia Antonia Da Silva; Ana Clara Torres Ribeiro; Andrelino Campos (orgs.)
© Lamparina editora
Revisão Luísa Ulhoa
Projeto gráfico Fernando Rodrigues
O texto deste livro foi adaptado ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, 
assinado em 1990, que começou a vigorar em 1º de janeiro de 2009.
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio ou pro cesso, seja 
reprográfico, fotográfico, gráfico, microfil ma gem etc. Estas proi bições aplicam-se 
também às caracte rís ticas gráficas e/ou editoriais. A violação dos direitos au torais 
é punível co mo crime (Código Penal, art. 184 e §§; lei 6.895 / 1980), com busca, 
apreensão e in de nizações diversas (lei 9.610 / 1998 – Lei dos Di reitos Autorais – 
arts. 122, 123, 124 e 126).
Catalogação na fonte do Sindicato Nacional dos Editores de Livros
C316
Cartografia da ação e movimentos da sociedade: desafios das experiências 
urbanas / Catia Antonia da Silva (org.), Ana Clara Torres Ribeiro (org.), Andrelino 
Campos (org.); Alberto Toledo Resende… [et al.]. – Rio de Janeiro: Lamparina: 
Faperj: Capes, 2011. 2.000 exemplares.
200 p.; il.; 12,6 × 20,7cm
Trabalhos apresentados no III Seminário Nacional Metrópole: Governo, So-
ciedade e Território, e, no II Colóquio Internacional Metrópoles em Perspectivas.
Inclui bibliografia
IsBN 978-85-98271-89-7
1, Sociologia urbana. 2, Regiões metropolitanas – aspectos sociais. 3, Regiões 
metropolitanas – aspectos econômicos. 4, Renovação urbana. 5, Planejamento 
urbano. I; Silva, Catia Antonia da. II; Ribeiro, Ana Clara Torrres. III; Campos, 
Adrelino, 1949–.
11-4442. CDD: 307.76
 CDU: 316.334.56
Lamparina editora
Rua Joaquim Silva 98 2º andar sala 201 Lapa
cep 20241-110 Rio de Janeiro rj Brasil
Tel./fax: (21) 2252 0247 (21) 2232 1768
www.lamparina.com.br lamparina@lamparina.com.br
Cartografia da ação 
e movimentos da sociedade: 
desafios das experiências urbanas
Catia Antonia Da Silva 
Ana Clara Torres Ribeiro
Andrelino Campos (orgs.)
 
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 2-3 14/10/2011 19:39:31
Autores
Ana Clara Torres Ribeiro (org.) é graduada em Ciências Políticas 
e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 
(pUC-Rio), possui mestrado em Sociologia pela Sociedade Brasi-
leira de Instrução (sBI/IUperj) e doutorado em Ciências Huma-
nas pela Universidade de São Paulo (Usp). É também profes-
sora adjunta da UFrj, pesquisadora 1a do Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNpq); membro da 
Red Iberoamericana de Investigadores sobre Globalización y Ter-
ritorio e coordenadora do GT Desenvolvimento Urbano do Conse-
lho Latino-Americano de Ciências Sociais. 
Andrelino Campos (org.) possui graduação em geografia pela Uni-
versidade Federal Fluminense (UFF), mestrado em geografia pela 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFrj) e doutorado em 
geografia pela mesma instituição. É também professor adjunto do 
Departamento de Geografia da Faculdade de Formação de Pro-
fessores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (DGeo/FFp/
Uerj), coordenador do Núcleo de Estudos Sociedade, Espaço e 
Raça (Noser) e autor do livro Do quilombo à favela: a produção do 
“espaço” criminalizado no Rio de Janeiro (Bertrand Brasil, 2010). 
E-mail: <andrelinocampos@hotmail.com>.
Catia Antonia da Silva (org.) é professora adjunta, pesquisa-
dora e coordenadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Territó-
rio e Mudanças Contemporâneas (DGeo/FFp/Uerj). É graduada 
em geografia (UFrj), com mestrado em Planejamento Urbano e 
Regional e doutorado em geografia, todos pela mesma institui-
ção. É lider do Grupo de Pesquisa e Extensão: Urbano, Território 
e Mudanças Contemporâneas, onde desenvolve o Laboratório de 
Estudos metropolitanos. É pesquisadora do proCIeNCIa/Uerj.
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 4-5 14/10/2011 19:39:31
Alberto Toledo Resende é graduado em geografia (Uerj), possui 
especialização em Planejamento e Uso do Solo Urbano (UFrj) e 
é mestrando do Programa de Pós-Graduação em História Social 
(FFp/Uerj). Atualmente é professor docente 1 da Secretaria de 
Estado de Educação do Rio de Janeiro, coordenador de campo do 
Federação dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro e profes-
sor substituto (FFp/Uerj).
Anita Loureiro de Oliveira fez graduação em geografia, mestrado em 
geografia, ambos pela UFF, e doutorado em Planejamento Urbano 
e Regional (IppUr/UFrj). Trabalha desde 2010 no Departamento 
de Educação e Sociedade do Instituto Multidisciplinar da Univer-
sidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFrrj). É Tutora do peT-
Geografia-IM/UFrrj. E-mail: <anitaloureiro@yahoo.com.br>.
Fábio Tozi é doutorando do Programa de Pós-Graduação em geo-
grafia da Usp, é doutorando em geografia humana (FFLCH/Usp) 
com estágio (pDee/Capes) na École des Hautes Études en Scien-
ces Sociales (eHess) de Paris. Possui graduação e mestrado em 
geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICaMp).
Felippe Andrade Rainha é graduado em geografia (FFp/Uerj) 
e pesquisador Técnico da Fundação de Amparo à Pesquisa do 
Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
Ivy Schipper possui licenciatura em geografia e mestrado em Pla-
nejamento Urbano e Regional, ambos pela UFrj. Atualmente é da 
UFrj e participa do Laboratório da Conjuntura Social (LasTro). 
Joana Bahia é graduada em ciências sociais com mestrado em 
sociologia e antropologia social, ambos pela UFrj. É também pro-
fessora adjunta da FFp/Uerj e pesquisadora associada ao Núcleo 
Interdisciplinar de Estudos Migratórios NIeM/IppUr/UFrj, dou-
tora em antropologia social ppGas / Museu Nacional e investiga-
dora visitante da Universidade de Lisboa. 
Jorge Luiz Barbosa é graduado em geografia pela UFrj, possui 
mestrado em geografia na mesma universidade, doutorado em 
geografia pela Usp e pós-doutorado em geografia humana pela 
Universidade de Barcelona, Espanha. É professor Departamento 
de Geografia da UFF e coordenador do Observatório de Favelas 
do Rio de Janeiro. E-mail: <jorgebarbosa@vm.uff.br>.
Marcia Soares de Alvarenga é professora da graduação e do mes-
trado em educação da FFp/Uerj e pesquisadora do Grupo de Pes-
quisa Vozes da Educação (DeDU/FFp/Uerj). Graduou-se em 
direito pela UFF, licenciatura em pedagogia pela Uerj, doutorado 
em educação pela UFrj e pós doutorado em educação pela Univer-
sidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em educação pela Uni-
versidade de Évora. E-mail: <msalvarenga@uol.com.br>.
Maria Tereza Goudard Tavares possui graduação em pedagogia, 
pós-graduação lato sensu em Metodologia do Ensino Superior, 
mestrado em educação pela UFF e doutorado em Educação 
pela UFrj. É professora e diretora (2008–2011) do Programa 
de Pós-Graduação em educação da FFp/Uerj. Pesquisadora do 
proCIeNCIa/Uerj nos períodos 1999–2002, 2005–2008 e 2008–
2010, e líder do Grupo de Pesquisa Vozes da Educação. E-mail: 
<mtgtavares@yahoo.com.br>.
Renato Emerson dos Santos é graduado em geografia, com mes-
trado em Planejamento Urbano e Regional, ambos pela UFrj, e 
doutorado em geografia pela UFF. Atualmente é professor adjunto 
da Uerj, e ocupa a posição de chefe do DGeo/FFp, no campus de 
São Gonçalo (rj). 
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 6-7 14/10/2011 19:39:31
Apresentação 11
Cartografia da ação e desafios contemporâneos
A metrópole significante: usos rebeldes do território e 
a efervescência de novas racionalidades 19
Fábio Tozi
Alberto Toledo Resende
Cartografia da ação e a juventude na cidade: 
trajetórias de método 28
Ana Clara Torres Ribeiro
Catia Antonia da Silva
Ivy Schipper
Cartografias e lutas sociais: 
notas sobre uma relaçãoque se fortalece 41
Renato Emerson dos Santos
O retorno ao território como condição da democratização 
da gestão da metrópole 59
Jorge Luiz Barbosa
Cidade e compartilhamentos da vida coletiva
Os pequenos e a cidade: 
o município de São Gonçalo como um livro de espaços 81
Maria Tereza Goundard Tavares
Brasileiros no mundo: novas construções identitárias do 
“salsa american way” 96
Profª Drª Joana Bahia
Projeto Baía Limpa: um exercício de mapeamento 
dos resíduos sólidos pelo olhar dos pescadores 118
Catia Antonia da Silva
Felippe Andrade Rainha
Alberto Toledo Resende
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 8-9 14/10/2011 19:39:31
11
Apresentação
Este livro tem a intenção de publicar artigos criados e inspira-
dos em debates, reflexões e estudos apresentados durante os 
eventos III Seminário Nacional Metrópole: Governo, Sociedade 
e Território e II Colóquio Internacional Metrópoles em Perspec-
tivas, ambos ocorridos de 1 a 3 de dezembro de 2010, na Facul-
dade de Formação de Professores da Universidade do Estado do 
Rio de Janeiro (Uerj), e que tiveram como tema central “Territó-
rio usado e cartografia da ação: por outra gestão urbano-metro-
politana”. O evento foi promovido pelo núcleo de Extensão e Pes-
quisa: Urbano, Território e Mudanças contemporâneas Programa 
de Pós-Graduação em História Social (área de concentração: his-
tória social do território) e Departamento de Geografia da Facul-
dade de Formação de Professores da Uerj, pelo Laboratório da 
Conjuntura Social: tecnologia e território do Instituto de Pesquisa 
e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do 
Rio de Janeiro (UFrj) e pela Coordenação de Geografia Departa-
mento de Educação e Sociedade Instituto Multidisciplinar da Uni-
versidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFrrj).
O tema central dos eventos foi o debate de orientações con-
ceituais e diretrizes teórico-metodológicas que hoje reconstroem 
a análise da dinâmica metropolitana. Trata-se fundamentalmente 
dos desafios relacionados ao reconhecimento das complexas rela-
ções entre sociedade, Estado e território, em seus vínculos com a 
urbanidade. A questão metropolitana confunde-se com a questão 
nacional. Junto com a consolidação democrática, conformam-se 
outros determinantes da última fase do capitalismo, portadora 
de profundas contradições: entre desenvolvimento econômico e 
desenvolvimento social; entre avanço técnico-industrial e preca-
riedade da vida coletiva; entre multiplicação dos mecanismos de 
controle social, reinvenção de insurgências e afirmação de novos 
movimentos sociais.
O tema deste livro está voltado para a problemática de novas 
metodologias referentes à possibilidade de novos olhares e novas 
formas de representação da sociedade e do território em contex-
Metrópole e o movimento da sociedade 
A particularidade do Movimento Negro 
enquanto sujeito da história brasileira 131
Andrelino Campos
Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas 
em contextos urbanos: notas de diálogos sobre método 159
Marcia Soares de Alvarenga
Arte, educação e cidadania: 
diálogo de saberes na metrópole 169
Anita Loureiro de Oliveira
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12 Apresentação Apresentação 13
tos urbanos e metropolitanos que possibilitem novas formas de 
experiências e novos formatos para pensar o desenvolvimento 
social. Deseja-se contribuir para o campo da gestão urbana com 
base em múltiplas metodologias e experiências sociais urbanas. 
Ao tratarmos de trajetórias de pesquisadores populares, de crian-
ças, de pescadores, do movimento negro, de lutas identitárias 
e de musicalidades, podemos compreender a complexidade da 
metrópole e ver nela novos devires.
Este livro orienta-se pela compreensão do sentido das ações 
sociais na produção do espaço urbano com base nas seguintes 
categorias centrais: movimentos sociais, ações espontâneas e 
identitárias, cartografia da ação e território. Pretendemos, com 
articulação de ideias oriundas de pesquisadores das áreas de 
geografia, sociologia e educação, ter nesse produto material do 
evento, elementos contribuidores para o desafio contemporâneo 
que consiste na compreensão da metrópole e da vida urbana em 
uma conjuntura atravessada pela perturbação no entendimento 
do mundo. Este livro divide-se em três seções. A primeira busca 
reconhecer a cartografia da ação como desafio contemporâneo e 
tem a finalidade de colaborar com novas referências metodoló-
gicas que ajudem a novas formas de alargamento do pensar e do 
fazer da luta social. 
Fábio Tozi e Alberto Toledo Resende demonstram suas lei-
turas com base na coordenação conjunta do grupo de traba-
lho “Cartografias rebeldes e (re)invenção do território”, ocor-
rido durante os eventos do III Seminário Nacional Metrópole: 
Governo, Sociedade e Território. É no diálogo entre as diver-
sas pesquisas e áreas, filiadas a diferentes leituras da cidade, da 
metrópole e do urbano que identificaram caminhos possíveis que 
nos ajudam a compreender a complexidade do presente, comba-
tendo as visões simplistas acerca do território e da sociedade.
O artigo de Ana Clara Torres Ribeiro, Catia Antonia da Silva 
e Ivy Schipper, fruto de pesquisa do Laboratório de Conjuntura 
Social: Tecnologia e Território, do IppUr/UFrj, e do Laboratório 
de Estudos Metropolitanos, do Núcleo de Pesquisa Urbano, Terri-
tório e Mudanças Contemporâneas do ppGHs e do Departamento 
de Geografia / FFp / Uerj, busca identificar novas possibilidades 
sobre a problemática do direito da juventude à cidade com base 
nas trajetórias de jovens moradores da periferia da metrópole do 
Rio de Janeiro. A análise da apropriação do espaço urbano por 
jovens que residem, estudam e/ou trabalham no município de 
São Gonçalo, situado a leste da baía de Guanabara, teve como 
pressuposto o diálogo entre sociologia, geografia e educação. 
Recorre-se a diferentes métodos e técnicas de pesquisa, entre os 
quais as metodologias da cartografia da ação e a técnica dos gru-
pos focais. 
O artigo de Renato Emerson dos Santos analisa quando os 
novos atores utilizam a cena cartográfica. Para ele, o campo da 
cartografia tem sido tensionado por diversos sentidos. Toma 
alguns exemplos em curso no Brasil e em outras partes do 
mundo. Identifica o uso crescente de objetos cartográficos como 
instrumento de luta por movimentos e articulações de movimen-
tos sociais. Os objetos cartográficos vêm sendo utilizados como 
leituras sociais do território que são confrontadas às leituras ofi-
ciais e/ou de atores hegemônicos, mas também como instrumen-
tos de fortalecimento de identidade social e de articulações polí-
ticas – ou seja, na sua plenitude de instrumento de representação 
que exprime a realidade (segundo pontos de vista, posições defi-
nidas) e também ajuda a construir a própria realidade.
Jorge Luiz Barbosa apresenta em seu artigo o resultado do 
projeto Rio Democracia, uma programação para o desenvolvi-
mento sustentável da metrópole, desenvolvido pelo Observató-
rio de Favelas do Rio de Janeiro no período de outubro de 2007 
a agosto de 2009. O projeto visava à construção de inventários 
críticos de políticas públicas em favelas e periferias urbanas da 
metrópole do Rio de Janeiro, tendo como referência os 20 anos 
de promulgação da atual Constituição Brasileira e, com base em 
suas conclusões, contribuir para a elaboração de uma agenda 
propositiva de superação de desigualdades sociais, enfatizando 
as possibilidades de democratização da gestão urbana. Foram 
realizados mapeamentos cognitivos do inventário de gestão de 
políticas públicas. O inventário realizado contemplou mapea-
mentos cognitivos de práticas sociais – concepções, percepções, 
vivências e experiências – construídas e afirmadas no contexto 
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd12-13 14/10/2011 19:39:31
14 Apresentação Apresentação 15
da gestão de políticas públicas, em particular aquelas voltadas 
às comunidades populares localizadas nos municípios que com-
põem o arco metropolitano do Rio de Janeiro.
Na segunda seção, intitulada “Cidade e compartilhamentos 
da vida coletiva”, encontra-se o artigo de Maria Tereza Goudard 
Tavares que realiza, com base nessa breve contextualização, uma 
análise sobre a natureza educativa da cidade, que segundo ela 
implica admitir no âmbito político e epistemológico a intenciona-
lidade formadora que a metrópole pode assumir na contempora-
neidade, sobretudo por ser o meio tecnico-cientifico-informacional 
por excelência, locus da densidade comunicacional, reforçando a 
texturologia da cidade enquanto conteúdo alfabetizador. Diz que 
a cidade é educadora e ressalta seu caráter de agente educativo, 
uma ideia-força que intenciona ser compartilhada e assumida 
pelos diferentes atores sociais, apesar das contradições nodais 
que tornam a cidade cenário dos conflitos e confrontos sociais.
A professora Joana Bahia analisará, por meio do artigo “Bra-
sileiros no mundo: novas construções identitárias do ‘salsa ameri-
can way’”, a formação identitária de brasileiros que migram para 
o exterior por diferentes motivos, sendo o principal a busca de 
oportunidade. A professora parte de um paradoxo: um país que 
até a década de 1980 era receptor de mão de obra, em 30 anos 
torna-se exportador desse material humano. Para tal emprei-
tada, a pesquisadora parte de algumas variáveis que evidencia-
rão alguns aspectos: questões de classe entre a população imi-
grante, de temporalidade da imigração, de gênero e sexualidade, 
de ascendência europeia (diferenciada por graus diferentes de 
ascendência), de cor/raça, de ocupação no mercado de traba-
lho, de origem regional, de religião, entre outras possíveis. Uma 
colcha de retalhos identitários. A proposta da professora eluci-
dará problemas de quem precisa e/ou escolhe ser estrangeiro em 
outras terras, demonstrando também que os “sonhos” podem se 
distanciar da realidade.
O artigo seguinte expressa a preocupação de Catia Anto-
nia da Silva, Felippe Andrade Rainha e Alberto Toledo Resende 
em conjugar esforços entre pesquisadores e pescadores arte-
sanais (elo frágil na cadeia produtiva da pesca, localizado na 
baía de Guanabara). Eles focam como base para o desenvolvi-
mento da análise do projeto, os “Princípios de cidadania e qua-
lidade ambiental (qualidade de vida e trabalho) como direitos 
universais, direitos humanos essenciais”. Os autores invertem a 
lógica, fazendo dos pescadores artesanais protagonistas da ação, 
abrindo condições de tratá-lo no contexto de uma cartografia 
participativa, em que a ação dos pescadores é que conduz o rumo 
da “prosa”, e não o saber oriundo da academia. Ao longo das 
páginas que tratam do projeto, os pesquisadores mostrarão que, 
apesar das dificuldades, a baía de Guanabara pode se tornar um 
lugar de esperança, tanto para os trabalhadores da pesca artesa-
nal quanto para quem admira os contornos cantados em versos e 
prosas ao longo de muitos anos de história.
A terceira e última seção trata do entendimento da “Metró-
pole no movimento da sociedade”. O artigo de Andrelino Cam-
pos analisa o movimento negro como sujeito histórico no con-
texto brasileiro. No decorrer da história brasileira, o ativismo de 
negros, que vem se destacando pela longevidade das suas ativi-
dades, deixa de ser apenas um conjunto de pessoas para se tornar 
projeto de mudança da sociedade. Em função desses elementos, 
formam-se as perguntas: como são formados os sujeitos? Qual é 
a importância da dimensão da particularidade em sua formação? 
Essas são questões centrais que nos ajudam a refletir sobre os sen-
tidos das ações em contexto político-urbano. 
Marcia Soares de Alvarenga terá sua análise voltada para 
as questões que envolvem cidadania e desenvolvimento econô-
mico acelerado, sendo este responsável pelo alargamento das 
desigualdades sociais. A preocupação da autora nos leva a refle-
tir sobre alguns aspectos da vida urbana e o distanciamento da 
justiça social, visto que as bases tanto do desenvolvimento eco-
nômico quanto da construção da cidadania são criadas de forma 
“arcaica”, uma vez que um conduz com suas práticas a tentativa 
de anulação e exclusão do outro. É possível sintetizar a análise da 
autora com a seguinte preocupação: “Podemos dizer que a ausên-
cia deste estatuto impetrou relações contraditórias entre cida-
dania e vida urbana. Populações inteiras foram deslocadas pelo 
poder político ou mobilizaram resistências diante destes desloca-
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 14-15 14/10/2011 19:39:31
16 Apresentação
mentos ao ocuparem espaços sem cidadania”. A autora permitirá 
que cheguemos a conclusões diferentes daquelas às quais esta-
mos habituados.
A jovem professora Anita Loureiro de Oliveira tem sua traje-
tória acadêmica ligada a questões urbanas. Um dos pressupostos 
que movem a pesquisadora é pensar que a “cidadania é uma fer-
ramenta a ser aprendida, buscando como meio a educação liber-
tária”. Para tanto, não conta apenas com a formalidade da escola, 
mas com a experiência acumulada das pessoas, visto que a “rua” 
emana saberes dos quais a teoria, no seu isolamento epistêmico, 
não daria conta, necessitando então das “práticas” da rua. “Fazer 
arte”, expressão popular que os adultos dizem para os mais 
jovens, guarda na dimensão da rua a possibilidade de educação, 
pois, assim como a arte das crianças, sempre acontece o inespe-
rado. A autora nos convidará a uma reflexão bem sustentada teo-
ricamente construída sobre o quarteto: vida urbana, cidadania, 
arte e educação, onde as ruas, por meio de seus atores, passam 
a ser o cenário perfeito para outras vivências. Para exemplificar, 
destacamos de seu texto a seguinte passagem: “Buscamos refletir 
neste artigo o caráter múltiplo resultante de experiências que evi-
denciam o modo pelo qual os territórios urbano-metropolitanos 
constituem a base de um processo educativo que vai muito além 
dos espaços institucionais de aprendizagem e pode trazer contri-
buições significativas para a renovação da vida urbana”.
Este livro conta com o estimável apoio de Capes, que tam-
bém patrocinou os eventos junto com a Faperj e a sr3 – Sub-Rei-
toria de Extensão e Cultura. Agradecemos ainda a Direção da 
FFp/Uerj, CepUerj e CoMUNs/Uerj pelo apoio recebido, pro-
porcionando a infraestrutura para os eventos, ricos em debates, 
ideias e proposições.
Cartografia da ação 
e desafios contemporâneos
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 16-17 14/10/2011 19:39:31
19
A metrópole significante: 
usos rebeldes do território e a 
efervescência de novas racionalidades
Fábio Tozi
Alberto Toledo Resende
Em certas tardes nós subíamos 
ao edifício. A cidade diária, 
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro.
(Melo Neto, 1994) 
Uma introdução: 
a cidade, a metrópole e as disciplinas científicas
Qual a sobrevivência possível, não burocrática e repetitiva, de 
ciências cujos fundamentos estruturadores referem-se a datas e 
lugares de pouca equivalência com o Brasil contemporâneo? Tal 
questão, longe de querer resumir em uma única frase os deba-
tes a seguir expostos, aponta, ao contrário, para um tema central 
que envolve o rigor de todo trabalho científico nas ciências huma-
nas. O período tumultuado que nos acompanha, misto de glo-
balizações e fragmentações, parece sinalizar a efervescência de 
novas formas de vida cujo entendimento analítico é débil se os 
conceitos e categorias adotados não forem formulados a partir do 
momento presente da formação socioespacial brasileira. 
Vale retomar a fala da professora Ana Clara Torres Ribeiro 
na conferência de abertura do III Seminário NacionalMetró-
pole: Governo, Sociedade e Território e II Colóquio Internacional 
Metrópoles em Perspectivas, cobrando uma necessária interdisci-
plinaridade científica, especialmente entre geografia e sociologia. 
Essa interdisciplinaridade deve ser traduzida na superação do 
pensamento instrumental e operacional herdado das ideias filo-
Cartografia da ação e movimentos da sociedade.indd 18-19 14/10/2011 19:39:31
20 A metrópole significante A metrópole significante 21
a cidade grande é um grande espaço banal, o mais significa-
tivo dos lugares. Todos os capitais, todos os trabalhos, todas 
as técnicas e formas de organização podem aí se instalar, 
conviver, prosperar. Nos tempos de hoje, a cidade grande é o 
espaço onde os fracos podem subsistir (1996, p. 258).
Acreditamos, cada uma à sua maneira, que as pesquisas apresen-
tadas revelam manifestações concretas desse espaço banal, as 
complexas estruturas presentes nas tramas cotidianas às quais o 
olhar desatento nem sempre permite vislumbrar. 
A riqueza na diversidade: um sobrevoo por 2 dias de reflexão
Em 2 dias de apresentações e debates, o grupo de trabalho “Car-
tografias rebeldes e a (re)invenção do território” revelou, com 
base em diversas leituras, os caminhos entrecruzados da geo-
grafia e da sociologia, sem, no entanto, resumir-se a elas. Distin-
tos recortes temáticos e posicionamentos teórico-metodológicos 
possibilitaram um debate científico de alta qualidade, do qual as 
ideias e os relatos aqui contidos são uma amostra.
O trabalho apresentado por Anita Rink analisa o grafite na 
cidade do Rio de Janeiro, buscando entendê-lo para além do 
seu possível enquadramento ou não como arte, para examinar a 
cidade como uso e como meio de expressão cultural. Assim, arte 
e uso tornam-se, nesse caso, sinônimos, pois o ato de criar é indis-
sociável a ambos: criar é dar forma a algo novo, respondendo, 
subjetivamente, por instituir novas conexões que se estabelecem 
para a mente humana, novas relações e nova compreensão, como 
sugere Ostrower (1987, p. 9), bem como, objetivamente, ofere-
cendo novas coerências aos objetos e às normas. 
Essa compreensão promovida pelo “ato criador”, que rela-
ciona, ordena, configura e significa (ib.), é uma dimensão não 
apenas individual, mas geográfica, posto que se dá com o indi-
víduo em sua condição espacial da existência: o lugar. Demais, 
as consequências do ato criativo não se resumem ao indivíduo 
como agente social isolado, influenciando o sistema de relações 
sóficas do século XIX, matrizes das disciplinas que hoje trabalha-
mos. Souza afirma que 
o iluminismo tem muito a ver com o desenvolvimento das 
ciências humanas e, muito especialmente com a geografia, à 
medida que ela se funda como ciência humana. Fundando-
se no racionalismo absoluto, fundamentado no desenvolvi-
mento científico e tecnológico, ele vai alimentar a esperança, 
para a humanidade, de um mundo melhor a partir da melho-
ria das condições materiais da existência (2003, p. 2). 
Tal esperança, no entanto, não se realizou, o que traz um desa-
fio evidente às ciências como um todo e às ciências humanas em 
especial. Não obstante viver um período científico, tecnológico e 
informacional, a humanidade sofre com desigualdades extremas, 
pobreza crescente e uma desvalorização da comunicação em 
benefício da repetição.
É no diálogo entre as diversas pesquisas e áreas, filiadas 
a diferentes leituras da cidade, da metrópole e do urbano, que 
reside um dos caminhos possíveis que nos ajudam a compreender 
a complexidade do presente, combatendo as leituras simplistas 
acerca do território e da sociedade. Lefebvre (1969), numa aula de 
método, ensina que a cidade filosoficamente pensada é uma totali-
dade não apenas abstrata, mas também concreta, cuja compreen-
são exige que todos os instrumentos metodológicos devam ser uti-
lizados conjuntamente; discernidos, mas não dissociados: forma, 
função, estrutura, instituições, linguagens, significados. Esse espí-
rito esteve presente durante todo o seminário, e, particularmente, 
no Grupo de Trabalho (GT) “Cartografias rebeldes e a (re)inven-
ção do território”. A cidade, a metrópole e o urbano, mais do que 
temas ou objetos de estudo de tal ou qual ciência, são condições da 
vida social, sendo, por isso, um objeto interdisciplinar de estudo.
As situações abordadas no grupo de trabalho trataram de 
cidades e municípios em áreas metropolitanas, ou seja, em gran-
des aglomerações populacionais, informacionais, materiais. San-
tos já alertava que
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22 A metrópole significante A metrópole significante 23
Esse papel ativo das materialidades citadinas nas atividades 
artísticas também foi marcante nos trabalhos de Henrique Jacin-
tho, tomando a realização do XII Salão do Livro para Crianças e 
Jovens como objeto empírico, e de Vinícius Lima, com sua aná-
lise dos movimentos sociais de Nova Iguaçu e os pontos/teias da 
cultura. Em ambos os trabalhos revelam-se, através da cidade, as 
imbricações entre geografia, sociedade, cultura e arte, comba-
tendo as visões simplistas e setoriais sobre o espaço e a sociedade. 
Os usos marginalizados do território aparecem na exposi-
ção de Fábio Tozi que discute os conteúdos geográficos da pirata-
ria. O período e o meio técnico científico informacional, propos-
tos por Milton Santos (1996), são pontos de partida para desmis-
tificar o senso comum que trata a pirataria como crime ou como 
uma questão meramente econômica. A expansão do meio geográ-
fico modernizado traz consigo a possibilidade da realização de 
novos usos do território, abarcando novas racionalidades na lida 
com os objetos e as informações. 
Portanto, a pirataria é entendida como um uso da técnica 
e das informações que caracterizam o período histórico atual, 
tendo na metrópole o lugar privilegiado dessa situação, que, con-
tudo, se interioriza pelo país junto à urbanização da sociedade e 
do território, compondo o aspecto nacional de um fenômeno de 
dimensões globais. 
A cartografia da ação e as cartografias participativas foram 
o tema central de alguns dos trabalhos, como os apresentados 
por Ivy Schipper, Lya Boynard, Fabiane Bertoni, Rafaela Torres e 
Diego Borges, que contribuíram com um debate riquíssimo acerca 
do que é a geografia e quais são os seus instrumentos técnicos, 
ou, dizendo de outra maneira, como representar os fenômenos 
espaciais tendo como orientação uma teoria crítica do espaço.
A cartografia da ação é um exercício teórico-metodológico 
de observação dos conflitos sociais no território (leitura de jor-
nais, leitura sociológica e criação de bancos de dados), enquanto 
a cartografia participativa trata das maneiras comunitárias de 
produção de mapas com base em valores e definições imanentes 
aos próprios lugares, que podem, assim, representar-se. Ambas, 
no entanto, trazem um debate fundamental, especialmente nesse 
dos lugares. Ou seja, o lugar exerce um dado ativo na criação e na 
criatividade.
Inspirados em Benjamin e sua discussão sobre a autenti-
cidade (aura) da obra de arte, que é o seu hic et nunc (aqui e 
agora), não poderíamos argumentar ser o grafite uma manifes-
tação representante do lugar e do tempo convergidos? Ou, nas 
palavras do próprio autor, “a unidade de sua presença no próprio 
local onde se encontra. É a esta presença, única, no entanto, e só 
a ela que se acha vinculada toda a sua história” (1975, p. 13).
Cidade e arte também foi o tema do trabalho apresentado 
por Francisco Ottoni, que reflete sobre o Viradão Carioca rea-
lizado pela prefeitura do município do Rio de Janeiro, concen-
trando centenas de atividades culturais em 3 dias do ano. Aqui, é 
o par dialético “continuidade e ruptura” que se faz evidente, pois 
há um papel ativo do poder público na normatização do que seja 
a arte, acompanhadoda deslegitimização dos processos criativos 
que não coincidam com a política pública.1 É latente a contradi-
ção que há entre a difusão da arte, por um lado, e o controle das 
manifestações artísticas, por outro, o que permite a transforma-
ção do Viradão em um artefato do marketing territorial.
A arte, mais uma vez, não existe imune à cidade, à totali-
dade social:2 os equipamentos públicos, sua distribuição e cen-
tralidade, os sistemas de transporte, as praças e os sítios capazes 
de abrigar determinadas manifestações artísticas (como salas de 
cinema ou de teatro, por exemplo) se impõem à definição da pro-
gramação. Embora tenha havido uma distribuição territorial das 
atividades do Viradão, as materialidades da cidade, os desloca-
mentos que ela permite ou inibe, são constrangimentos irremoví-
veis do dia para a noite. 
1 Veja-se o relato do caso (ocorrido em julho de 2010) do artista que repre-
sentava uma estátua viva no largo da Carioca: foi impedido de trabalhar sob 
a alegação de que sua arte contraria os usos estipulados à calçada pela mu-
nicipalidade. Esse acontecimento contrasta com o incentivo ao uso artístico 
dos espaços públicos, incluindo as calçadas, nos 3 dias do Viradão Carioca. 
2 Para Kosik (2002, p. 121), a arte é uma realidade humana, tal qual a 
economia, porém com tarefa e significados diferentes. No entanto, não é a 
economia que gera a arte, nem direta nem indiretamente: é o homem que 
cria a economia e a arte como produtos da práxis humana. 
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24 A metrópole significante A metrópole significante 25
da população nacional é urbana.3 O processo de urbanização da 
sociedade e do território é um desafio analítico para as ciências 
sociais, mas também para os governos e para a própria sociedade. 
Sempre incompleto, esse processo cria incessantemente novas 
desigualdades, uma vez que há uma perpetuação da reprodução 
da pobreza.
A cidade, especialmente a metrópole, é o lugar da constru-
ção das alternativas, pois, “cheia de atividades suspeitas, ela fer-
menta delinquências, é um centro de agitação” (Lefebvre, 1969, 
p. 76), traz sempre o novo. O território e a cidade estão disponí-
veis para os diversos usos, obedientes a distintas racionalidades, 
embora nem todos os agentes sociais disponham da mesma capa-
cidade de mobilizar, para a realização dos seus desígnios, os con-
teúdos e as materialidades neles presentes.
A condição brasileira na era da globalização é esquizofrê-
nica, uma vez que somos impulsionados à modernização de alto 
nível sem termos alcançado direitos e objetos sociais básicos. A 
cidade revela esse processo. Nas palavras de Santos, 
Na cidade “luminosa”, moderna, hoje, a “naturalidade” do 
objeto técnico cria uma mecânica rotineira, um sistema de 
gestos sem surpresa. Essa historização da metafísica crava 
no organismo urbano áreas constituídas ao sabor da moder-
nidade e que se justapõem, superpõem e contrapõem ao 
resto da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas 
“opacas”. Estas são os espaços do aproximativo e da cria-
tividade, opostos às zonas luminosas, espaços da exatidão 
(1996, p. 261).
3 O conceito de “urbano” adotado pelo IBGe não é o mesmo que temos 
adotado ao longo do artigo, pois, para aquele instituto, trata-se de habitar 
áreas institucionalmente definidas como urbanas, enquanto para nós o 
modo de vida urbano passa a existir mesmo nas áreas onde a materialidade 
do urbano (a cidade) não está presente. Um bom exemplo são as áreas de 
agricultura moderna, extremamente urbanizada, mesmo se realizando em 
porções agrícolas do território. Essa divergência não impede o uso, tampouco 
diminui a legitimidade dos dados fornecidos pelo IBGe.
presente histórico no qual a exacerbada instrumentalização da 
vida produz cartografias e cartogramas tecnicamente mais efi-
cientes, todavia, esvaziados de sentidos e de conflitos. Coincidem 
e contribuem também para a percepção do território usado em 
processo, representando-o em mapas que trabalham com o movi-
mento da sociedade.
Evidenciaram-se as contribuições geográficas e sociológicas 
à proposição de outras cartografias nas quais a vida real e suas 
manifestações são fontes inspiradoras, rompendo com o deter-
minismo estatal e/ou corporativo na eleição das representações, 
dando atenção não somente ao que é perene, mas também ao 
passageiro e ao transitório, igualmente significantes. 
Nesse movimento intelectual, os trabalhos apresentados por 
Alberto Toledo, Igor Queiroz e Felippe Rainha buscam dar visibi-
lidade à pesca e aos pescadores artesanais da baía de Guanabara, 
mostrando a importância de práticas antigas que sobrevivem em 
uma área metropolitana que sofre vigoroso processo de moderni-
zação. Nesse local, pequenos barcos convivem, nem sempre har-
moniosamente, com grandes navios cargueiros. 
A pesquisa por eles desenvolvida revela outro aspecto per-
verso manifestado pela incapacidade de uma gestão de uma 
região metropolitana: os resíduos sólidos dos diferentes municí-
pios se depositam na baía, gerando formas de poluição que afe-
tam diretamente a atividade pesqueira tradicional. Nessa situa-
ção, a luta para preservar o ambiente é a própria luta para pre-
servar a atividade artesanal. Por isso, a importância em conhecer, 
mapear e quantificar esses resíduos é muito mais do que um 
levantamento, é a preservação de uma atividade que gera não 
somente a continuidade de uma cultura, mas a existência de uma 
produção renovável extremamente importante para a cidade. 
Algumas considerações finais
A vida urbana, e mais que isso, a vida nas grandes cidades, é um 
fato que se acentua na formação espacial brasileira: o recense-
amento de 2010, realizado pelo IBGe, mostra que mais de 84% 
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26 A metrópole significante A metrópole significante 27
Referências
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reprodução. In: Textos escolhidos. São Paulo: Ed. Abril, 1975.
Karel KosIk. Dialética do concreto. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Henri LeFeBvre. O direito à cidade. São Paulo: Editora Documen-
tos, 1969.
João Cabral de MeLo NeTo. O engenheiro. In: Obra completa. Rio 
de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Fayga OsTrower. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: 
Vozes, 1987.
Michael PoLLak. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos 
históricos. Rio de Janeiro: v. 2, n. 3, 1989.
Milton SaNTos. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emo-
ção. São Paulo: Hucitec, 1996.
Niel SMITH. Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produ-
ção do espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
Maria Adelia SoUza. Geografia, paisagens e a felicidade. In: ii 
Colóquio Internacional Sobre a Ideia de Felicidade. Fortaleza: 
10, 11 mar. 2003. 
Nas insignificâncias, diz Ana Clara Torres Ribeiro, residem novas 
formas de experimentar a vida. Dar visibilidade a elas é uma 
tarefa científica das mais nobres, a despeito do seu desconheci-
mento pelo restante da população ou do discurso único e repe-
titivo da mídia, que se autodenominou como a opinião pública. 
Afinal, o que se denomina racionalidade nada mais é do que o 
controle “racional” pelo capital, que, como nos alerta Smith 
(1988), se concentra na “anarquia” do privado, o que trans-
forma a cidade numa irracionalidade para si mesma, uma 
autodesregulação. 
Há que se destacar também a importância desse seminá-
rio como uma construção da memória em relação às diversas for-
mas de se viver e estudar o espaço urbano, como Pollak nos lem-
bra bem:
A memória, essa operação coletiva dos acontecimentos e das 
interpretações do passado que se quer salvaguardar, se inte-
gra, como vimos, em tentativas mais ou menos conscientes 
de definir e de reforçar sentimentos de pertencimentoe fron-
teiras sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: 
partidos, sindicatos, igrejas, aldeias, regiões, clãs, famílias, 
nações etc. A referência ao passado serve para manter a coe-
são dos grupos e das instituições que compõem uma socie-
dade, para definir seu lugar respectivo, sua complementari-
dade, mas também as oposições irredutíveis (1989, p. 7).
Devemos valorizar os estudos apresentados nesse seminário e 
mantê-los vivos na construção constante da memória dos grupos 
que participaram de cada etapa da pesquisa para não cairmos no 
vazio do esquecimento. As ciências e os cientistas devem dialogar 
com o que existe nos lugares, com rigor e seriedade, cumprindo e 
retribuindo a confiança que a sociedade em nós depositou. 
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28 Cartografia da ação e a juventude na cidade 29
de conceitos que valorizam os nexos entre tecido social e espaço 
urbano como indicam, entre outras, as seguintes noções: micro-
conjuntura urbana; superficialidade de relações sociais; territó-
rio praticado; espaço público provisório e tentativo; arena oculta; 
impulso global; circuito perverso; humanismo concreto; sujeito 
corporificado; mercado socialmente necessário. 
Estes conceitos têm sido utilizados para a análise crítica de 
informações veiculadas pela grande imprensa e para a identifi-
cação de atores sociais e políticos que, de fato, estão “nas ruas”. 
A experiência desse trabalho em conjunto com o LeMe/FFp/Uerj 
tem como finalidade o aprofundamento do debate acerca de con-
ceitos da geografia e de experimentações, bem como ser a FFp um 
dos pontos de partida da pesquisa em São Gonçalo. 
Este texto tem a intenção de analisar a cartografia da ação 
junto à juventude em São Gonçalo, município periférico da 
metrópole do Rio de Janeiro, apresentando os princípios analíti-
cos e metodológicos e resultados preliminares do grupo focal rea-
lizado com estudantes de graduação da Faculdade de Formação 
de Professores, que se encontravam a partir do sétimo período, 
em março de 2010.
Compreendendo a cartografia da ação
Os contextos, a vida de relações que as novas cartografias devem 
valorizar, são o próprio espaço. Deve-se valorizar a experiência 
social, traçar realmente a transformação do território em usado, 
praticado e vivenciado. A cidade viva e experimental não morreu, 
apesar de todas as afirmações em contrário, feitas pelo discurso 
da crise: ela é fortíssima, muito resistente. Daí a importância dos 
sujeitos sociais que de fato existem, nas suas condições eventu-
ais de sujeitos da sua própria ação, e que, na verdade, são as pes-
soas que estão nas ruas, falando, acontecendo, dizendo, agindo, 
fazendo. É essa a cartografia da ação que nos referimos. 
Queremos saber dessa cartografia, e de outras dos territórios 
usados, de maneira a resistir ao pagamento da vida de relações, 
o qual cada vez mais, achamos, vai ser a forma dominante, a 
forma hegemônica de ver e de ler as relações entre a sociedade e 
Cartografia da ação 
e a juventude na cidade: 
trajetórias de método 
Ana Clara Torres Ribeiro
Catia Antonia da Silva
Ivy Schipper 
Introdução 
A pesquisa “Cartografia da ação da juventude em São Gonçalo” 
encontra-se em andamento com apoio da Faperj (2009–2011) e 
nesta seção intencionamos apresentar proposta analítica, meto-
dológica e os resultados preliminares. Os pressupostos analíti-
cos visam justamente conhecer e estimular a reflexão do espaço 
em que vive essa juventude e, ao mesmo tempo, formar os jovens 
envolvidos no projeto no domínio de informações e técnicas de 
expressão de sua experiência urbana. Compreender as práti-
cas, as táticas, os vínculos sociais, os desencantos e os desejos 
dos jovens exige uma análise contextualizada de ações sociais e 
o mapeamento (objetivo e subjetivo) de (des)encontros com a 
cidade. O mapeamento orienta-se por uma geografia da existên-
cia e por uma cartografia que valoriza cada gesto, iniciativa e pro-
jeto dos sujeitos sociais. Nesta direção, a denominada cartografia 
da ação possibilita o exame simultâneo de formas de apropria-
ção do espaço urbano e de sentidos da ação, incluindo as suas ori-
gens, objetivos, formas de manifestação e simbologia.
A investigação é feita por dois grupos de pesquisa: Labora-
tório da Conjuntura Social: Tecnologia e Território (LasTro), do 
IppUr/UFrj, e Laboratório de Estudos Metropolitanos (LeMe), 
do Grupo de Pesquisa Urbano, Território e Mudanças Contem-
porâneas, da Faculdade de Formação de Professores (FFp), da 
Uerj / São Gonçalo. O LasTro possui uma década de experiên-
cia no desenvolvimento da metodologia da cartografia da ação 
e tem permitido que esse exame aconteça por meio de uma rede 
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30 Cartografia da ação e a juventude na cidade Cartografia da ação e a juventude na cidade 31
A trajetória da pesquisa
A análise da apropriação do espaço urbano por jovens que resi-
dem, estudam e/ou trabalham no município de São Gonçalo 
(rj), situado a leste da baía de Guanabara da metrópole do Rio de 
Janeiro, teve como pressuposto o diálogo entre sociologia, geogra-
fia e educação. Recorre-se a diferentes métodos e técnicas de pes-
quisa, entre os quais se destacam as metodologias da cartografia 
da ação e da pesquisa-ação e, ainda, a técnica dos grupos focais. 
Em articulação com estas opções de método foram utilizados 
o geoprocessamento de estatísticas referidas às condições de vida, 
à estrutura urbana e ao transporte público; mapas mentais; entre-
vistas abertas e questionários. A investigação é dedicada à juven-
tude de São Gonçalo (rj), destacando as suas condições de vida 
e anseios relacionados à apropriação do espaço urbano. Em um 
contexto marcado pela violência que atinge, sobretudo, os jovens 
entre 14 e 24 anos e pela carência de oportunidades de trabalho e 
de formação intelectual, propõe-se a realização de uma pesquisa 
que valoriza o protagonismo da juventude no desvendamento de 
intervenções urbanas. Intervenções estas que reduzem as desi-
gualdades sociais, a fragmentação territorial e as diversas formas 
de espoliação (Kowarick, 1975) que se repetem no cotidiano de 
municípios periféricos da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Trata-se, portanto, de um município submetido a fortes pres-
sões sociais, que se sobrepõem à carências urbanas acumuladas 
em sua trajetória histórica recente (Cordeiro, 2009). No muni-
cípio de São Gonçalo, que apresenta o quarto produto interno 
bruto e abriga o terceiro colégio eleitoral do estado, a juventude 
das classes populares tem os seus anseios de realização individual 
tolhidos pela pobreza e pelo isolamento, em comunidades que 
mais enclausuram do que ensinam e libertam (Carrano, 2002; 
Bauman, 2003).
É esta trajetória que conduzirá a integração entre técnicas 
quantitativas e qualitativas de pesquisa utilizadas no treinamento 
e no diálogo com os jovens integrantes da equipe do projeto e dos 
diferentes grupos focais. Esta integração de técnicas corresponde 
o Estado. E com isso, sim, nós podemos correr o risco, de ver cres-
cer e se afirmar quase exclusivamente a leitura militar das rela-
ções sociais ou o crescimento dos ativismos. Em ambos os casos, 
a imposição política deseja ser dominante, caso contrário, à nego-
ciação teremos o extermínio do opositor. O que agora aconteceu, 
pode acontecer muitas outras vezes mais, e isso com o apoio pro-
duzido por uma sociedade em grande parte envolvida num uni-
verso informacional que é muito difícil de analisar e criticar.
É necessário, assim, alargar os diálogos não só com as dis-
ciplinas, mas também com outros saberes, com a fala do outro, 
com a leitura do outro, para que a banalização que está no espaço 
banal não seja também a do controle, e sim a necessária ao diá-
logo.E nos parece que mais do que nunca se faz necessária a epis-
teme dialógica e a democrática, efetivamente democrática, que 
procure realmente fazer representar todos os outros, os muitos 
outros, para que todos nós, ou a maior parte possível, estejamos 
nas nossas representações do espaço e da sociedade. Assim, se 
poderá contrariar a ação que se dá de cima para baixo. Para des-
cobrir como realizar isso, é necessária a leitura horizontal e a de 
baixo para cima.
Aderimos à proposição de Max Weber (2000) de que nem 
todo tipo de ação é ação social. A ação externa é aquela orientada 
exclusivamente pela expectativa de determinado comportamento 
de objetos materiais, projetos não ditos, que estimulam consumos 
e comportamentos. A ação social é aquela que pressupõe sentidos 
(racional, emocional, orientada por valores), sentidos de imanên-
cia, mas também sentido de transcendência, portando sentidos 
de consciência. A cartografia da ação social refere-se, sobretudo, 
às formas de protestos, reivindicações, vínculos sociais que aca-
bam por desenhar novas configurações espaciais e sociais, repre-
sentações espaciais de trajetos vividos e experimentados. Eles 
acontecem, sobretudo, nos contextos periféricos metropolitanos, 
de espaços carentes de bens culturais e de formas de expressão da 
juventude, esta atravessada pelas dúvidas, incerteza de trabalho, 
de futuro, de sociabilidades (Ribeiro, 2000, 2003 e 2004, Ribeiro 
et al. 2001 e 2002, 2005–2006, Ribeiro e Silva, 2000).
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32 Cartografia da ação e a juventude na cidade Cartografia da ação e a juventude na cidade 33
têm indicado a gravidade desta crise por meio dos seguintes des-
locamentos conceituais: da segregação à fragmentação e da mar-
ginalização à exclusão.
Compreendendo os contextos sociais e espaciais
A multiplicação de conflitos sem tradução em projetos defendidos 
na esfera pública, observada na região metropolitana do Rio de 
Janeiro, constitui-se num dos mais claros sintomas da crise socie-
tária. Da mesma forma, são seus sintomas: a militarização do coti-
diano e o encerramento da experiência urbana das classes popula-
res em espaços isolados e submetidos a formas paralelas de poder 
e ao medo (Delumeau et al., 2002; Caldeira, 2000; Souza, 2008). 
São erguidas, por estes processos, novas e quase intrans-
poníveis barreiras físicas e socioculturais, que reduzem as pers-
pectivas de futuro da juventude a um “aqui e agora” precário e 
incerto. Estes processos adquirem especial intensidade em muni-
cípios periféricos, como é o caso de São Gonçalo (ver Cordeiro, 
2008 e 2009). Nesses municípios, a vulnerabilidade das famí-
lias soma-se à pobreza do ambiente construído, gerando um acú-
mulo de fatores responsáveis pela exclusão social e pela manu-
tenção de preconceitos. Refletindo essas condições do presente, 
o projeto destaca o território como uma dimensão da experiên-
cia urbana que adquire grande centralidade para a compreensão 
das carências coletivas e das representações sociais que orientam 
a vida cotidiana. 
Compreende-se que as qualidades do território e as territo-
rialidades construídas pela juventude das classes populares for-
mam uma mesma realidade que precisa ser reconhecida para que 
o jovem amplie a sua capacidade de ação e, em consequência, de 
conquista de seus direitos de cidadania, onde se incluem os direi-
tos urbanos. Para isto, é indispensável contrapor ao predomínio 
do espaço concebido (Lefebvre, 1969 e 2000), do espaço abstrato, 
as representações do espaço vivido que incorporem o território 
usado e praticado (Santos, 1987 e 1993; Ribeiro, 2003) pela juven-
tude. A valorização dessas representações, conjugada a infor-
tanto à natureza dos fenômenos estudados quanto ao intuito de 
apoiar, com informações consistentes e convincentes, as reivindi-
cações urbanas da juventude do município de São Gonçalo (Bob-
bio, 1992 e 1997). O desafio técnico do projeto decorre dos nexos 
espaço-temporais da ação social (Santos, 1996), cuja considera-
ção é cada vez mais indispensável às intervenções no presente 
que visam o alcance de uma vida urbana mais justa e solidária.
Os tempos da periferia, refletidos a partir dos tempos da 
juventude, formam territorialidades geradas por limites, projetos, 
desejos e também pelo imaginário, o que impõe que a ação social, 
predominantemente estudada pela sociologia, não seja desco-
nectada da teoria crítica do espaço. Como adverte Boaventura de 
Souza Santos: “Começamos a ver que cada um destes tempos é 
simultaneamente a convocação de um espaço específico que con-
fere uma materialidade própria às relações sociais que nele têm 
lugar” (1991, p. 63).
Identificar essas relações, sustentando sua compreensão em 
análises de contextos que contemplem meios e obstáculos à ação 
social, corresponde, na perspectiva do projeto, a uma real pos-
sibilidade de apoio à construção de vínculos sociais entre dife-
rentes segmentos da juventude de São Gonçalo e à concepção de 
projetos que possam enriquecer a vida cotidiana no município. 
Por fim, a experiência construída pela pesquisa, com seus 
instrumentos e produtos, formará um acervo documental que 
permitirá sua reprodução em outros municípios da periferia da 
região metropolitana do Rio de Janeiro. As fraturas e as desigual-
dades sociais transformaram a região metropolitana do Rio de 
Janeiro, nas últimas décadas, em um real epicentro da crise socie-
tária. Neste tipo de crise, obstáculos à socialidade e, portanto, à 
construção de vínculos sociais, manifestam-se por impedimentos 
à socialização (compartilhamento de valores) e à sociabilidade 
(interações sociais).
Nestas circunstâncias, o esgarçamento do tecido urbano 
inclui a redução da adesão às instituições sociais, o que, na 
ausência de novos processos instituintes, significa aumento da 
violência, inclusive simbólica (Lojkine, 2002). As ciências sociais 
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34 Cartografia da ação e a juventude na cidade Cartografia da ação e a juventude na cidade 35
São Gonçalo, que reúne pessoas de diferentes origens municipais, 
relativiza e articula o estar ligado pelas perspectivas de dentro e 
de fora, da casa e da cidade.
Para o grupo, São Gonçalo é o lugar das igrejas e da sina-
goga, onde amizades, identificações e investigações podem ser 
construídas nos bairros de Porto Novo, Porto Velho, Santa Iza-
bel, Alcântara e Patronato. O lugar da faculdade é da vida univer-
sitária, por unanimidade, o melhor lugar, onde os locais e os de 
fora, que moram em repúblicas, se encontram, numa das escas-
sas redondezas em que estabelecimentos ficam abertos até mais 
tarde, permitindo que pessoas de origens diversas possam se 
conhecer e a outros frequentadores populares. Aí, até a ciclovia 
faz parte do lugar. Este é o centro, já que São Gonçalo é um lugar 
de poucos bares com música e boates. Academias de musculação 
e artes marciais localizam-se perto de outras atividades: a facul-
dade, o trabalho ou a moradia.
As pracinhas e os campinhos deveriam ser os lugares cata-
lizadores da convivência, da diversão; mas eles são inexistentes. 
Se as crianças usam canteiros entre pistas de automóveis para 
se divertirem com bola, é porque faltam os campinhos de terra 
batida. Quando eles existem, como no Mutondo, o campo de fute-
bol passa a ser o lugar de encontro no fim de semana entre tur-
mas de amigos, com idades variadas, envolvendo o jogo, a cer-
veja e, até mesmo, as brigas de turma.
São Gonçalo também pode ser repulsivo para estudantes 
de fora do município que para lá se mudam durante os períodos 
letivos: a cidade enseja experiências de estranhamento e rejei-
ção para quem vem de “lugares pacatos, onde as pessoas moram 
com pelo menos 50m de distância umas das outras”. Em São Gon-çalo, esses estudantes vivem em bairros aglomerados, em pré-
dios onde a vizinhança está colada e os vizinhos costumam ter 
contato visual constante entre si, mesmo estando dentro de casa. 
Ou ainda, o estranhamento e a rejeição advém do tempo despen-
dido no trajeto para o trabalho nos horários de pico entre o bairro 
aglomerado de Porto Novo e a área comercial e de trabalho de 
Alcântara. Aqui, somam-se a hora e meia no transporte à extrema 
exploração a que é submetido o trabalhador do comércio tradi-
mações que viabilizem o conhecimento multiescalar do espaço 
urbano, permitirá aos jovens participantes do projeto ter acesso 
a uma cartografia detalhada e ativa do espaço em que habitam, 
estudam e/ou trabalham. Este acesso será acompanhado de opor-
tunidades de exposição e debate de dificuldades vividas no coti-
diano e de anseios relacionados à dinâmica da vida urbana. 
Nesta direção, o uso de instrumentos de pesquisa (ver meto-
dologia e metas) que articulam tecnologia e cognição (Dupuy, 
1996), constitui um compromisso do projeto, viabilizando a supe-
ração de mecanismos culturais que tendem a limitar anseios ao 
que é considerado como imediatamente disponível ou alcançável 
(Certeau, 1994 e 1998). 
O desenho do projeto expressa a compreensão de que a pes-
quisa precisaria ser concebida de forma a integrar avanços no 
processo de conhecimento à ampliação da participação social 
na esfera pública e à oferta de subsídios para a implementação 
de intervenções urbanas que reduzam desigualdades sociais; 
estimulem a sociabilidade e possibilitem o usufruto do espaço 
urbano pela juventude – de 15 a 29 anos. Há a necessidade de 
uma nova episteme, dialógica e aberta, que desvende espaços de 
esperança, como propôs David Harvey (2004), no cerne das dife-
rentes faces da crise societária. 
O olhar da juventude residente em São Gonçalo
Com base no grupo focal realizado em 31 de março de 2010, com 
graduandos veteranos da Faculdade de Formação de Professores 
da Uerj, foi possível conhecer um pouco o universo desses jovens 
de 20 a 26 anos, compreender as suas trajetórias sociais e espa-
ciais. Para eles, estar ligado a São Gonçalo é fazer parte da histó-
ria do lugar e, ao mesmo tempo, compartilhar diferentes modos 
de vida; pois, os diferentes lugares fazem parte também da pró-
pria história do indivíduo. É reviver, pela visita ou nos percur-
sos, os lugares que ligam a lembrança às atividades da infância e 
da adolescência e, ainda, os lugares que ligam as novas ativida-
des ao presente do sujeito. A experiência universitária a partir da 
Faculdade de Formação de Professores da Uerj (FFp/Uerj) em 
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36 Cartografia da ação e a juventude na cidade Cartografia da ação e a juventude na cidade 37
com aqueles terrenos onde são construídas casas espaçosas, que 
dividem o terreno com varandas, pátios e quintais, dando outro 
recorte ao modo de vida local. Indicaram ainda que parece existir 
um desconhecimento dos moradores de bairros populares sobre o 
seu lugar no espaço urbano.
Qualquer pequena melhoria relativa às más condições de 
vida é vista como uma grande contribuição do poder público. 
Segundo os depoentes, movimentos de bairro deveriam se asso-
ciar de forma autônoma a assessorias técnicas, para que, por 
exemplo, o asfaltamento seja acompanhado por infraestruturas 
independentes de esgotamento fluvial do sanitário. Caso contrá-
rio, os problemas decorrentes ultrapassam os anteriores. 
Por isso, a estrutura de São Gonçalo não se compara à de 
Niterói. Falta infraestrutura e lugares de encontro e atividades 
culturais. Na verdade, o município deve ser equiparado a outro 
tipo de município, como Cabo Frio, por exemplo, para, depois, 
confrontá-los a Niterói. 
A questão debatida pelo grupo focal como desdobramento 
tratava dos determinantes do pertencimento: será a densidade de 
equipamentos urbanos que qualifica os pertencimentos ou são as 
relações sociais estabelecidas a partir do lugar de existência que 
possibilitam o convívio, os momentos de reflexão sobre as condi-
ções de vida e a luta por melhorias? Ficou esta questão no ar.
As mobilizações políticas em São Gonçalo foram debatidas 
sob o ângulo do tempo da organização de lutas: 
1 Em função da momentaneidade com que se experimenta 
a indignação frente a transtornos permanentes e recorrentes; 
quando (e onde) a indignação pode durar dois ou três dias. Em 
resposta, os depoentes salientaram que os compromissos do coti-
diano impedem qualquer possibilidade de mobilização ampliada 
ou coletiva, em termos de reunião de pessoas que compartilhem 
as mesmas dificuldades. 
2 Por meio do aprendizado de quais condições desfavorá-
veis, experimentadas individual e coletivamente, podem levar as 
pessoas à associação, iniciando procedimentos de mobilização 
para a conquista de melhores condições de vida.
A participação das classes médias na luta por melhorias em 
cional, chegando a trabalhar diariamente, de forma ininterrupta, 
até 10 horas.
Para o grupo, Alcântara é também o lugar da desigualdade, 
onde meninos permanecem nas ruas, em frente às lojas, usando 
a praça para solucionar todas as suas necessidades de sobrevi-
vência: “Onde também é um inferno, onde a gente se aglomera, 
quente, imundo”. Outros lugares hostis reconhecidos, além das 
aglomerações de Alcântara e Porto Novo, são: Galo Branco (cons-
tantes assaltos), Colubandê, Tribobó (falta de asfaltamento e 
iluminação). 
O tempo despendido na circulação e no trabalho acaba, 
segundo os depoentes, por inviabilizar o próprio usufruto da 
vida doméstica. Em outro sentido, a vida universitária incluindo 
o deslocamento diário até o bairro Patronato consome o tempo 
que poderia ser aproveitado na circulação livre e com intuito 
exploratório ou, mesmo, para atividades culturais. No entanto, 
a vida universitária colocaria os alunos em contato com um cir-
cuito específico de atividades e compromissos, fazendo com que 
a experiência universitária surja como matriz da identidade espa-
cial e norte da circulação.
Por outro lado, a possibilidade de uma vida coletiva em 
outros municípios, como o Rio de Janeiro e Niterói, onde estão 
concentradas as atividades culturais e econômicas, na visão dos 
estudantes, é compensada pelo o ritmo de vida mais calmo da 
cidade de São Gonçalo, que tem origens e história de vida dife-
rente. O estresse do trabalho em outros municípios da metrópole 
do estado é compensado por uma circulação em diversos bairros 
onde a sensação é de “estar em casa”, em oposição à estranheza 
causada por estar frequentando e vivenciando ambientes análo-
gos, em outros municípios.
Os estudantes do grupo focal declararam que na arquitetura 
da cidade surge outro indicador visível do modo de vida em São 
Gonçalo. As diferenças de concepção da moradia entre as classes 
sociais, materializadas no aproveitamento dos terrenos residen-
ciais com suas construções, produzem fortes contrastes: nas áreas 
populares, os terrenos são mais baratos e as construções são 
intensivas e ocupam ao máximo o lote adquirido, em contraste 
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38 Cartografia da ação e a juventude na cidade Cartografia da ação e a juventude na cidade 39
de apropriação da cidade e da metrópole é um desafio importante 
para orientar a gestão territorial e abrir novos caminhos para pos-
sibilitar novas formas de sociabilidades. 
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2000. Col. Anthropos.
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vadas na esfera jurídica e anunciadas em faixas penduradas nas 
vias de maior circulação e visibilidade. Já as formas mais indig-
nadas e populares de protesto e a luta por melhorias das classes 
populares por melhorias adquirem a forma de incêndios de lixo e 
de objetos de médio e grande porte nas ruas de maior movimento 
dos bairros desassistidos.
Entre os estudantes, a mobilização política em São Gonçalo 
parece obedecer a uma lógica na qual os alunos do ensino médio 
se mobilizam mais que os do ensino superior. Por outro lado, o 
movimento universitário recebe maior adesão dos universitários 
que vem de fora de São Gonçalo. Também há uma grande expec-
tativa desses setores mobilizados pelo alcance de compromissos 
com a produção acadêmica e com a educação pública, gratuita e 
socialmente referenciada.
No momento propositivo da sessão, surgiram duas deman-
das: a primeira, pela transformação de São Gonçalo em um muni-
cípio formador de atletas por meio da multiplicação dos centros ou 
quadras poliesportivas, incluindo áreas menos urbanizadas e aces-
síveis, geridas pelas comunidades via associação de moradores e 
apoiadas ou supervisionadas por entidades tais como universida-
des, sesC etc., com clara autonomia em relação ao governo muni-
cipal. A segunda diz respeito à inclusão da antropologia na for-
mação aos futuros professores e bacharéis, fazendo com que esses 
passem um semestre dedicados ao envolvimento vivencial com o 
tema a ser trabalhado em suas monografias de final de curso.
Algumas considerações
Trata-se de uma proposta metodológica da cartografia ação junto 
à juventude em municípios periféricos, levando em conta a abor-
dagem crítica em que as metrópoles devem ser averiguadas como 
lócus de contradições entre inovações, modernização e pobreza; 
são lugares de aglomeração urbana, concentração demográfica 
e centralização das atividades secundárias e terciárias. Ouvir os 
jovens e conhecer suas trajetórias, suas formas de compreensão e 
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40 Cartografia da ação e a juventude na cidade 41
Cartografias e lutas sociais: 
notas sobre uma relação que se fortalece
Renato Emerson dos Santos
A cartografia, como corpo disciplinar acadêmico e científico, tem 
seu desenvolvimento atrelado ao processo de eurocentrismo do 
mundo, num período histórico conhecido como modernidade. 
Seu desenvolvimento foi também, portanto, associado ao estabe-
lecimento de uma ordem e à afirmação de hegemonias em rela-
ções de poder, o que a tornou historicamente um instrumento de 
dominação e controle.
Como nos mostrou, entre outros, Lacoste (1988), a repre-
sentação cartográfica do espaço sempre foi um trunfo de grupos 
hegemônicos. O controle do instrumento cartográfico, dos pro-
cessos de produção e das formas de representação (postulados, 
concepções etc.) durante muito tempo despertou pouca atenção 
de forças e grupos contra-hegemônicos. Isto permitiu que, por 
séculos, a cartografia se mantivesse praticamente incólume frente 
às disputas sociais nas quais ela era um instrumento a serviço de 
forças dominantes, o que serviu para reforçar um discurso (posi-
tivista) de que ela era apenas uma técnica calcada na neutrali-
dade de suas bases. Permitiu também o amplo desenvolvimento 
de formas de “mentir com os mapas” (Monmonier, 1996).
No período recente, entretanto, um conjunto cada vez maior 
de experiências vem indicando transformações (ou ao menos ten-
dências) no campo da cartografia. Diversas experiências de car-
tografias vinculadas a movimento sociais vêm mostrando que 
parece haver algo novo no campo. O “novo” parece ser o uso da 
cartografia como instrumento de lutas de grupos socialmente des-
favorecidos e não apenas um instrumento de dominação, como 
historicamente foi desenvolvida a cartografia moderna. Aponta-
mos, entretanto, que esta dimensão conflituosa do “uso” da car-
tografia também vem envolvendo transformações no próprio 
“objeto” cartográfico, e no “processo” de produção deste objeto.
Processo, objeto e uso cartográfico são três dimensões da 
Jean LojkINe. Les sociologies critiques du capitalisme: en hommage 
à Pierre Bourdieu. Paris: Presses Universitaires de France, 
2002.
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42 Cartografias e lutas sociais Cartografias e lutas sociais 43
tais vivenciadas pelos povos da Amazônia”, central na campa-
nha “Na floresta tem direitos: justiça ambiental na Amazônia” 
uma iniciativa de movimentos sociais, entidades, oNGs e redes da 
Amazônia. 
O mapa foi elaborado sob responsabilidade técnica da Fede-
ração de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase),2 
por meio de uma metodologia participativa: foram coletadas 
informações fornecidas pelos próprios movimentos, em encon-
tros e eventos. A coleta foi executada principalmentepor meio da 
exposição de mapas impressos aos participantes e lideranças dos 
movimentos que nele indicavam os conflitos vivenciados e suas 
localizações. A indicação ia além, na verdade: eles também qua-
lificavam os conflitos socioambientais, apontando as atividades e 
práticas que causam tal degradação, sua localização e os atores aí 
envolvidos. 
Abrangendo toda a Amazônia Legal, o mapa foi utilizado 
como um instrumento de denúncia e pressão junto ao Ministério 
Público Federal e outras autoridades competentes, e também para 
a articulação de organizações, entidades, movimentos sociais na 
luta por alternativas locais que assegurem o desenvolvimento da 
Amazônia com justiça ambiental e garantia dos direitos humanos.
O mapa opera com uma classificação dos conflitos por 
agenda, do que são definidas 14 modalidades: recursos hídricos; 
queimada e/ou incêndios provocados; pesca e/ou caça preda-
tória; extração predatória de recursos naturais; desmatamento; 
garimpo; pecuária; monocultivo; extração madeira; grandes pro-
jetos; regularização fundiária; ordenamento territorial; violência 
física declarada; moradia. 
Foram identificados 675 focos de conflitos socioambientais 
por todo o território da Amazônia Legal que, classificados e asso-
ciados cada qual a um símbolo, têm a sua espacialização (e, con-
sequentemente, identificados os focos de concentração) expressa 
no mapa. Outro aspecto interessante do mapa é o conjunto de 
2 As informações a seguir, bem como o mapa, foram extraídos da página de 
internet da Fase. Disponível em: <http://www.fase.org.br/noar/anexos/
acervo/2_mapa_conflito_amazonia>. Acesso em: 20 set. 2006).
cartografia que vêm sendo tensionadas por e com base em jogos 
de poder. Diversos atores vêm se inserindo em disputas que arti-
culam cartografias e relações de poder onde o que está em jogo 
pode ser, por exemplo, o controle do território, de propriedade, 
de comportamentos e relações sociais, de processos políticos ou, 
das próprias formas e instrumentos de representação.
A valorização política e analítica da dimensão espacial de 
fenômenos, processos, objetos e atores transforma os instrumen-
tos de representação espacial cada vez mais no centro de dispu-
tas de poder. Esta valorização do espaço é que faz com que a car-
tografia cada vez mais se cruze com jogos e disputas, ou, ela pró-
pria se torne objeto de disputa. Sem a pretensão de esgotar o 
debate, trazemos aqui alguns exemplos de ações nestas disputas.1
Novos atores na cena cartográfica
O campo da cartografia está sendo tensionado por (e em) diver-
sos sentidos. Tomemos alguns exemplos em curso, no Brasil e em 
outras partes do mundo, que provocam nossa reflexão. Um pri-
meiro fenômeno é o uso crescente de objetos cartográficos como 
instrumento de luta por movimentos e articulações de movimen-
tos sociais. Os objetos cartográficos estão sendo utilizados como 
leituras (sociais) do território que são confrontadas às oficiais e/
ou de atores hegemônicos, mas também como instrumentos de 
(fortalecimento de) identidade social e de articulações políticas 
– ou seja, na sua plenitude de instrumento de representação que 
exprime a realidade (segundo pontos de vista, posições defini-
das) e também ajuda a construir a própria realidade.
Estes usos cartográficos podem ser exemplificados com o 
caso do “Mapa dos conflitos socioambientais da Amazônia Legal: 
degradação ambiental, desigualdades sociais e injustiças ambien-
1 Valemo-nos aqui das análises que realizamos no relatório da pesquisa 
“Cartografagens da ação e dos conflitos sociais: análise comparativa de ob-
servações e representações do espaço-tempo do fazer político”, coordenado 
por nós e apoiado pela Faperj. Neste, coletamos e analisamos 34 experiências 
de cartografias relacionadas a lutas, movimentos sociais e disputas sociais e 
cartográficas.
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44 Cartografias e lutas sociais Cartografias e lutas sociais 45
antirracismo, e, em Salvador, pela prefeitura e o Centro de Estu-
dos Afro-Orientais da UFBa, com recursos da seppIr e da Funda-
ção Cultural Palmares.
O ponto de partida para a elaboração do mapeamento é 
a constatação e a reivindicação dos movimentos sociais sobre 
a invisibilidade das religiões afro-brasileiras nos cadastros ofi-
ciais. Essa invisibilidade aparece como uma dimensão institu-
cional da negação da herança africana pelo Estado brasileiro, o 
que ao longo da história já assumiu a forma da perseguição poli-
cial, fechamento de casas e mesmo assassinatos de praticantes. 
Hoje ela aparece na forma do desconhecimento que este mesmo 
Estado sustenta em relação a estes grupos, muitos então coloca-
dos na condição de ilegalidade por conta desta violência espiri-
tual, religiosa e epistêmico-cultural.
A ausência de informações sobre estas religiões nos formu-
lários censitários, que só foi revertida no censo 2010, impossibili-
tava reivindicações de ações do Estado em relação aos praticantes 
destas religiões. Esta falta de informações sistemáticas e reconhe-
cidas, ao contribuir para a invisibilidade destas religiões, con-
cedia terreno para a reprodução de violências e perseguições às 
religiões de matriz africana, que vêm se avolumando nos últimos 
anos no Brasil. A cartografia neste caso é, portanto, um instru-
mento de reconhecimento estatal dos grupos envolvidos, instru-
mento de fortalecimento de articulações e identidades, e também 
uma ferramenta para a promoção de políticas públicas.
Essas dimensões aparecem também numa série de iniciati-
vas de mapeamento participativo nucleadas pelo projeto “Nova 
Cartografia Social da Amazônia”, coordenado pelo antropólogo 
Alfredo Wagner Berno de Almeida, vinculado ao ppGsCa/UFaM 
(Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Ama-
zônia), financiado pela Fundação Ford e que já gerou quase duas 
centenas de fascículos resultantes de oficinas de mapeamento 
participativo. Trata-se de uma cartografia elaborada pelos pró-
prios grupos sociais que ela representa no mapa, um processo 
no qual membros de um determinado grupo registram quem 
são, onde e como vivem. O que se busca, portanto, não é mapear 
objetivos elencados como motivadores para sua confecção, que 
denotam as decisões estratégicas tomadas em torno dele: 
1 dar visibilidade aos conflitos socioambientais na região; 
2 ser instrumento de pressão e denúncia; 
3 auxiliar no diagnóstico local, desmistificando o que 
tem sido chamado de “desenvolvimento e progresso para a 
Amazônia”;
4 caráter educativo no sentido de possibilitar a organização 
e mobilização; 
5 viabilizar o diálogo com dados oficiais; 
6 contribuir no planejamento das ações das organizações 
populares, indicando caminhos estratégicos e alianças/parcerias.
A estes, agrega-se um aspecto concernente à própria forma 
como o mapa é construído: a metodologia participativa, “em que 
os próprios sujeitos coletivos, que conhecem e vivenciam os impac-
tos negativos das atividades degradantes existentes em suas loca-
lidades, identificam os conflitos e constroem o mapeamento”. Isso 
se constitui, cabalmente, num aprendizado da operação de refe-
rências espaciais no pensar e no fazer da sua experiência de luta: 
ao indicarem sobre um mapa os conflitos vivenciados, sua locali-
zação, quais são as “agressões” e os sujeitos coletivos envolvidos, 
os participantes estão aprendendo e apreendendo novas formas 
de pensar para agir, o pensar no espaço, e o pensar com o espaço.
Neste caso, o objeto cartográfico é instrumento de identi-
dade e articulação, e também de disputa nas leituras e represen-
tações da realidade que servem de base para tomadas de deci-
são e ações. Tal quadro também aparece em recentes iniciati-
vas de mapeamento de casas de religiões africanas, que estão 
sendo realizados, por exemplo, no Rio de Janeiro e em Salva-

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