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Fertilizantes Organominerais - Edmar José Kiehl

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CONTEÚDO 
Página 
1. TIPOS DE ADUBAÇÃO ... .. ........ .. ........ .......... ...... ..... .......... 01 
1.1. Adubação orgânica .... .. ....... ..... ..... ... ..... ........... .. .......... 01 
1.2. Adubação mineral .. :.. ........ ...... ... .. .. ........... .... .. ......... .... 01 
1.3. Adubação organomineral .. ........ ...... .... .. .. . .. ... . .. . . ...... . .. . 02 
2. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL.. 06 
2.1. Determinação da matéria orgânica no organomineral 13 
2.1.1. Preparo da amostra e análise da matéria orgâ-
nica .......... .. .... ................... ...... ................. ..... .... . 
2.2. Determinação de colóides orgânicos totais ...... ........... . 
3. TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES 
ORGÂNICOS E TAXA DE APROVEITAMENTO DOS 
FERTILIZANTES MINERAIS .......... ... ................ ..... .... ........ . 
4. A MATÉRIA ORGÂNICA COMO CONDICIONADORA 
DOS FERTILIZANTES MINERAIS ...... .. .......... .................. . 
4.1. A capacidade de troca de cátions do organomineral .. . 
4.2. A superfície específica do organomineral ....... ........... . . 
4.3. A capacidade de retenção de água no organomineral 
4.4. Comprovação experimental ........ ............................. ... . 
5. O NITROGÊNIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL 
5.1. Fertilizantes nitrogenados .. ............... ... .......... ... ...... ... .. 
5.2. Experimentos com nitrogênio e matéria orgânica ... ... . 
6. O FÓSFORO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL .... . 
14 
15 
19 
23 
28 
31 
32 
33 
36 
36 
38 
43 
6.1. Experimentos com o fósforo . . . . . .. . . . . .. . . .. . . . . . . . . . . ... .. .. .. . . . . 44 
7. DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO NO ORGANOMINE-
RAL ....... ..... . ... . . . . . . . .. .. . . . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . .. . . . .. . . . . . . ...... ... ... . .. . . .... 51 
8. O POTÁSSIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL ... .. 56 
8.1. O potássio e a CTC do fertilizante organomineral ..... . 56 
8.2. Experimentos com o potássio .. . . . .. . .. . . .. .. . . . .. . . . .. . . . .. . . . . . . 58 
9. MACRONUTRIENTES SECUNDÁRIOS E MICRONU-
TRIENTES NO ORGANOMINERAL ... .. ... .... . .. ...... .. ... ... ... .... 60 
9.1. Macronutrientes secundários . . . . . . . . . ... . . .. .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . 60 
9 2 M. · 65 . . Icronutnentes ..... ... .. ...... ...... ..... ... .... .. ....... ... • • • • • • · • • · ·· · · · · 
1 O. PREPARO DO ORGANOMINERAL .. .... . ... .......... ... ..... .. ... 67 
ix 
X 
Página 
10.1. Principais fontes de matéria-prima orgânica para a 
fabricação de organomineral ........ ....... .. ..... ... ...... 70 
10.2. Cálculos das misturas . . ....... ..... .. . . ... . . . . .. . . . .. ..... ....... 7 4 
11. ADUBAÇÃO COM ORGANOMINERAL .. ...... ... .. .............. 81 
11 .1. Calagem . . . . . . .. ... . . . ... . . . .. . . . . . . . . .. . . .. .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . 81 
11.2. Fórmulas recomendadas ........ .. .... .... ........ ... . ... . .... .. . 85 
11 .3. Representação gráfica das fórmulas ....................... 89 
11.4. Aplicação do organomineral no campo ................... 91 
12. ORGANOMINERAL NA ALFACE ......... ........................... 94 
13. ORGANOMINERAL NO ALGODÃO ........................ ."....... 97 
14. ORGANOMINERAL NA BATATA ................................... .. 101 
15. ORGANOMINERAL NO CAFÉ ...... .................................. 102 
16. ORGANOMNINERAL NA CANA-DE-AÇÚCAR ............... 105 
17. ORGANOMINERAL NA CENOURA .... ........................... . 111 
18. ORGANOMINERAL NO COQUEIRO .............................. 114 
19. ORGANOMINERAL NO EUCALIPTO ............. ................ 116 
20. ORGANOMINERAL NO FEIJÃO ..................................... 121 
20.1. Experimento com cultivar Rio Tibagi .. ........ ... ...... .... 121 
20.2. Experimento com a variedade carioquinha .... .. .... 124 
20.3. Experimento em solo de cerrado ........... .... ........... .. 126 
21 . ORGANOMINERAL NO MILHO ...................................... 128 
22. ORGANOMINERAL NO TRIGO .................. ................... . 131 
23. CONCLUINDO... ............................................................ .. 133 
BIBLIOGRAFIA .......... .... .. ······· ... ··················.......................... 135 
f NDICE REMISSO . ....... .. ... . .. . .. .. . .. .. . . . . . . .. .. .. . . .. . . . . . . .. . . . .. . . . .. . . .. . 141 
uEmbara os mestres e os 1/vros sejam au-
xiliares necessários, é com esforço que se 
consegue o sucesso desejado". 
PREFÁCIO 
xi 
Este é o primeiro livro escrito em português sobre fertilizantes 
organominerais. 
Em 1979, na cidade do Recife, PE, no IV Seminário Nacional de 
Limpeza Pública, apresentei e foi aprovada uma moção a ser enca-
minhada ao Ministério da Agricultura, propondo a criação da cate-
goria de fertilizante orgânico enriquecido com fertilizantes minerais. 
A primeira alteração do antigo Decreto de 1975 que regulamen-
tava o comércio de fertilizantes, sem se referir aos orgânicos, ocor-
reu em 1980, sem ter criado a pretendida categoria dos 
organominerais. Foi então que um grupo de produtores de fertilizan-
te orgânico simples e de fertilizante orgânico composto, compare-
ceu ao Ministério da Agricultura e conseguiu em 1982 a inclusão 
daquela nova categoria na legislação. 
Como "pai do fertilizante organomineral" senti-me na obriga-
ção de escrever este despretencioso livro, abordando as razões da 
recomendação da mistura dos orgânicos com os minerais e relatan-
do experimentos que comprovam os argumentos expendidos. 
Na história da adubação, o emprego do organomineral pode 
ser considerado recente, se comparado com os minerais que têm 
cerca de 150 anos de experimentos. Mas, a pesquisa provará e re-
comendará cada vez mais o emprego do fertilizante organomineral 
pelos agricultores brasileiros. 
1. TIPOS DE ADUBAÇÃO 
1.1. Adubação Orgânica. Desde os mais recentes tempos, vêm os 
,..-~--- agricultores adubando suas terras com estercos, camas 
animais, restos de cultura e outros materiais orgânicos. A 
adubação verde é igualmente uma prática agrícola conhe-
cida há milênios e empregada para a manutenção e recu-
peração da fertilidade das terras de cultura. A garantia de 
---..,._,;---- boas safras, em épocas passadas, repousou exclusivamen-
te na adubação orgânica. Para os antigos agricultores não 
era possível manter ou aumentar a fertilidade do solo sem incorporar 
restos vegetais e estercos animais. Durante séculos predominou o con-
ceito de que a criação de animais pelo agricultor para obtenção de adubo 
era "um mal necessário". Essa idéia, passada de uma geração para ou-
tra, era comprovada pelo favorável desempenho dos adubos orgânicos 
na produtividade das terras de cultura. 
Como os melhores resultados eram obtidos quando a matéria or-
gânica aplicada estava bem decomposta, transformada em húmus, a 
conclusão óbvia a que chegaram os antigos agricultores foi a que esse 
constituintes do adubo, o húmus, era o responsável pela alimentação 
das plantas. Dessa observação nasceu a "teoria humista da alimentação 
vegetal"; os antigos lavradores diziam, com muita propriedade, que o 
adubo orgânico tornava a terra fresca, fofa e fértil. Ainda hoje há países 
no Oriente que desconhecem outro sistema de adubação de suas terras 
a não ser o que se baseia no emprego de resíduos orgânicos de origem 
vegetal, animal ou humana. 
A matéria orgânica tem um papel importante na fertilização do solo; 
esse papel é complexo e exercido por mecanismos diversos, agindo de 
um lado nas propriedades físicas, químicas, físico-químicas e biológicas 
do solo e, de outro, diretamente na fisiologia vegetal. 
1.2. Adubação mineral. No final do primeiro quartel do século pas-
sado começaram a ser descritas experiências demonstrando a assimila-
ção de certos sais minerais conhecimentos que o alemão Justus von 
,---
2 
--------
FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
Liebig fez a seguinte experiência: analisouuma planta adul-
ta, nela encontrando 25 elementos químicos; preparou en-
tão, uma solução contendo esses elementos químicos na 
mesma proporção encontrada na análise, e nessa solução 
cultivou plantas que cresceram, desenvolveram e comple-
taram o seu ciclo vegetativo; tudo na ausência absoluta de 
matéria orgânica ou húmus. Diante desse resultado, Liebig 
lançou em 1842 sua "teoria minera lista da alimentação vegetal". Ficara 
provado que as plantas podiam viver na ausência da adubação orgânica. 
A nova teoria vinha em oposição à "teoria humi5ta da alimentação 
vegetal", causando um grande impacto no meio científico da época. Pes-
quisas posteriores demonstraram que, dos 25 elementos químicos en-
contrados por Liebig, apenas 16 são considerados essenciais, indispen-
sáveis à vida vegetal. São os chamados macronutrientes nitrogênio, fós-
foro, potássio, cálcio, magnésio e enxofre, e os micronutrientes boro, 
cobre, ferro, manganês, zinco, molibdênio e cloro. A estes 13 nutrientes 
somam-se o carbono, o hidrogênio e o oxigênio que, por serem forneci-
dos pelo ar e pela água em profusão, não são cogitados nas adubações. 
Restou uma explicação a ser dada: se as raízes não se alimentam 
da matéria orgânica humificada, por que, durante quase dois milênios as 
culturas se tomaram mais produtivas pela adubação orgânica? A respos-
ta é encontrada no efeito da decomposição microbiana da matéria orgâ-
nica, dando a formação de dois importantes componentes: o húmus e os 
sais minerais que fornecem os nutrientes às raízes. 
1.3. Adubação organomineral. A natureza é sábia, diz o dito po-
pular. No caso da adubação das plantas o homem obtém 
os melhores resultados quando imita a natureza, repetin-
do nas suas plantações o que ocorre nas florestas; nestas 
ou nas matas virgens, o derrame natural das folhas, flo-
res, ramos, frutos, forma na superfície do solo a manta 
florestal, também conhecida como serapilheira, ou mais 
tecnicamente, como horizonte orgânico do solo. Por de-
composição dessa massa vegetal infestada de microrga-
nismos, vermes, insetos e outros pequenos animais, uma bem desenvol-
vida microflora e fauna, há formação de húmus e liberação de sais mine-
rais contendo os indispensáveis nutrientes das plantas; o húmus que vai 
TIPOS DE ADUBAÇÃO 3 
sendo gerado vai se combinando com esses sais minerais gerando uma 
associação que se pode chamar de ºfertilizante organomineral formado 
naturalmente no solo", Figura 1.1. O húmus também se pode combinar 
com os colóides minerais do solo (minerais de argila e óxidos de ferro e 
alumínio) formando o importante complexo argilo-húmico. 
1.THOSFE.RA 
SOLO A.GOA ~ · " 
\.../ PERTlL'IZANTES HATl!RIA ROCllJIS E 
ORGJINOHINERÃIS ORCÃNICA Mna:nA rs 
NATURAIS ~ / 
/ ~ DECOHPOSIÇJ\O 
NOTRIENTES BÔMUS HICRODI1.-NA 
LIBERADOS ~~ 
'\._ NINERALIZACJ\O 
"-- DA HATtRJ.A 
ORGÃNICA 
Figura 1.1. Na natureza, o húmus e os sais minerais formados pela de-
composição da matéria orgânica e pela intemperização das 
rochas e minerais se associam, formando um "fertilizante 
organomineral". 
É prática comum em agricultura misturar no sulco ou na cova de 
plantação os fertilizantes orgânicos com os minerais. Essa recomenda-
ção nada mais é que a hoje conhecida adubação com fertilizantes 
organominerais. 
A legislação brasileira criando a categoria dos fertilizantes 
organominerais, nada mais fez que oficializar uma mistura de adubos 
que engenheiros agrônomos e técnicos do resto do mundo reconhecem 
4 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
como sendo um excelente insumo agrícola. Consultando-se o Boletim 
200 (29) ou o Boletim 100 (46) do Instituto Agronômico de Campinas, se 
observará a preocupação dos técnicos que escreveram as "Instruções 
Agrícolas" ou as "Recomendações de adubação e calagem" em indicar a 
mistura dos fertilizantes orgânicos com os minerais para garantia de 
melhores e maiores colheitas. 
Os experimentos realizados por institutos de pesquisa e escolas de 
agronomia demonstram o inegável efeito da associação dos fertilizantes 
minerais com os orgânicos. Assim, por exemplo, :ão os trabalhos de 
Hiroce (27), Hiroce e outros (28), onde o esterco de curral foi empregado 
associado com fertilizante mineral; concluíram os autores em seus traba-
lhos que, "o adubo mineral e orgânico combinados aumentaram os teo-
res de enxofre e manganês nas folhas de cafeeiro". 
Experimentos realizados na Escola Superior de Agricultura "Luiz 
de Queiroz"- USP durante dez anos consecutivos , nos quais se estudou 
a aplicação do esterco mais fertilizante mineral na cova e depois anual-
mente de uma só vez, em coroa e na projeção da saia do cafeeiro, bem 
corno a aplicação somente de fertilizantes minerais ou só orgânicos, de-
monstraram que a associação da adubação orgânica com a mineral foi 
sempre igual ou superior à adubação exclusivamente orgânica ou mine-
ral e sempre superior à ausência de adubação ( 16, 17, 18, 19, 20, 21 , 22, 
23, 24 e 25). 
Há outro experimento ainda mais longo (cinquenta e cinco anos) 
em que a cultura de trigo foi adubada apenas com esterco, apenas co~ 
fertilizante mineral ou com um organomineral formado pela mistura dos 
dois anteriores. 
O gráfico da figura 1.2. mostra claramente que durante 55 anios: 
os tratamentos adubados sempre foram superiores à testemu-
nha, indicando que o solo requeria fertilização; 
a associação fertilizante mineral mais orgânico {organomineral) 
em 55 anos nunca foi superada quer pela adubação orgânica, 
quer pela mineral aplicadas isoladamente. 
TIPOS DE ADUBAÇÃO 
120 
rE llO e., 
,::C 
t-1 
(E 'ºº u 
~ 
2 90 
rE 80 
~ 70 g 
o 
g f>O 
~ 
50 
o 
-
Esterco Fertilizante 
mineral 
Testemunha (sem fertilizante) 
( 
10 30 40 50 
ANOS DE CULTURA 
5 
bO 
Figura 1.2. Produções relativas de trigo comparando-se os fertilizantes 
mineral e orgânico, aplicados isoladamente, com o 
organomineral (produção com fertilizante mineral igual a 100 
(5) . 
6 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
2. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE 
ORGANOMINERAL 
Os fertilizantes orgânicos não eram considerados em nossa legis-
lação, pois o Decreto Federal 75.5823, de 9-11-74 , apenas fazia uma 
única referência a esses insumos agrícolas, declarando: "Ficam dispen-
sados de registro: esterco curado, lixo fermentado, cinzas, turfas, fu li-
gens e outros resíduos , quando vendidos com sua denominação exata". 
Nada mais. 
Os produtores de fertilizantes orgânicos industrializados não tinham 
apoio na legislação para processar a matéria-prima orgânica melhoran-
do suas qualidades, fazendo correções ou adições de nutrientes para 
obter um produto comercial enriquecido, mais nobre; não podiam registrar 
esses produtos no Ministério da Agricultura , como acontecia com os fer-
tilizantes minerais, a fim de comercializá-los, garantindo a composição 
química e outros parâmetros que caracterizassem o produto, submeten-
do-se à fiscalização e penas impostas pela lei se os teores de nutrientes 
associados não correspondessem aos da etiqueta contida na sacaria do 
adubo. 
Só a partir de 1982 é que a antiga legislação brasileira foi alterada, 
criando-se três categorias de fertilizantes orgânicos: fertilizante orgânico 
simples, fertilizante composto e fertilizante organomineral. 
A legislação brasileira que regulamenta os fert i lizantes 
organominerais historicamente é a seguinte: 
Decreto 86. 955, de 18-2-1982. Pela primeira vez aparece na lei a 
palavra fertilizante organomineral - assim definida no Capitulo I das Dis-
posições Preliminares: "Fertilizante organomineral - fertilizante procedente 
da mistura ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos (42). 
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL 7 
O legislador empregou as palavras "mistura ou combinação" com 
muita propriedade, considerando a diferença de conceitos desses ter-
mos: mistura é a reunião de dois ou mais corpos de sorte que o conjunto 
apresenta a média das propriedades de seus componentes, os quais 
podem ser posteriormente separados por processos mecânicos. Um exem-plo clássico de mistura é a reunião de limalha de ferro com enxofre em 
pó: pode-se separar a limalha dessa mistura com auxílio de um imã per-
manente ou dissolvendo-se o enxofre pelo disulfeto de carbono. Se, no 
entanto, essa mistura for aquecida e o enxofre fundido, ligando-se à 
limalha de ferro. tem-se um composto denominado sulfeto de ferro, fruto 
de uma combinação química. Na combinação química relação entre os 
elementos constituintes é constante, estequiométrica, enquanto que na 
mistura pode ser variável; as combinações só se destroem mediante agen-
tes físicos enérgicos; na mistura se separam pela ação de solventes ou 
por meios mecânicos. 
Esta diferenciação feita pela legislação está correta, pois, no pre-
paro do organomineral , ocorrem misturas entre componentes dos fertili -
zantes orgânicos com os minerais, como também podem se dar combi-
nações entre eles: como exemplo cita-se a combinação do ácido húmico 
com cátions dos fertilizantes minerais . originando humatos alcalinos de 
cálcio, magnésio, potássio, etc. 
O Capitulo 11 desse mesmo Decreto trata do Registro das Pessoas 
Físicas e Jurídicas; o Capítulo 111 , trata da Inspeção e Fiscalização; o 
Capitulo IV, da Inspeção da Produção; o Capítulo V das Medidas 
Cautelares; o VI, das Infrações e Penalidades: o VII, da Assistência da 
Produção e o VIII , das Disposições Gerais e Transitórias (42) . 
Portaria 84, de 29-3-1982 Contém disposições sobre exigências, 
critérios e procedimentos para Inspeção e Fiscalização da Produção e 
Comércio de Fertilizantes. No Capítulo 1, classifica na Categoria li e 
atividade "C" o produtor de fertilizante organomineral. Descreve as insta-
lações e equipamentos de produção exigidos para o registro do estabe-
lecimento no Ministério da Agricultura. O Capítulo li cuida do registro de 
produtos; o Capitulo Ili da coleta de amostras ; o Capitulo IV, do embargo 
de estabelecimento e apreensão de produtos; o Capitulo V, da embala-
gem, marcação ou rotulagem e propaganda de produtos. 
Portaria 1, de 4-3- 1983. Estabelece especificações sobre garanti-
as, tolerâncias e procedimentos para coleta de amostras. O Capitulo I dá 
8 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
instruções sobre garantias e tolerâncias de produtos. Quanto à natureza 
física, os organominerais podem ter as seguintes especificações: 
1 - Granulado e mistura granulada. Produto constituído de grânu-
los que deverão passar 100% em peneira de 4 mm e até 5% em peneira 
de 0,5 mm, em que cada grânulo contenha os elementos garantidos do 
produto; 
2 - Mistura de grânulos. Produto granulado misto, em que os grâ-
nulos contenham, separadamente, os elementos garantidos, e as mes-
mas dimensões especificadas no item anterior; 
3 - Pó. Produto constituído de partículas que deverão passar 95% 
em peneira de 2 mm e 50% em peneira de 0,3 mm; 
4 - Farelado. Produto constituído de partículas que deverão pas-
sar 100% em peneira de 4,8 mm e 80% em peneira de 2,8 mm. 
A legislação dá, ·ainda, as especificações para o farelado grosso, 
produto muito grosseiro, impróprio para ser usado nos organominerais. 
O Ministério da Agricultura manifestou interesse em fazer uma revi-
são na legislação de fertilizantes, tendo solicitado sugestões às entida-
des de classe. A Associação Brasileira da Indústria de Fertilizantes Orgâ-
nicos - ABIFOR, encaminhou a seguinte proposta de classificação dos 
fertilizantes em geral, apresentada na Tabela 2.1 (proposta ainda não 
aprovada pelo DICOFE, M.A.). 
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL 9 
Tabela 2.1. Proposta apresentada pela ABIFOR para classificação de 
fertilizantes orgânicos, compostos e organominerais, quanto 
ao estado ffsico, especificações granulométricas e garantias. 
Estado físico Especificações granulométricas 
Peneira °/c, Retida 
(m~) (acumulada) 
Pó 2,0 10 máxima 
0,5 60 máxima 
Farelado fino 4,8 15 máxima 
2,8 45 máxima 
Farelado médio 11,2 15 máxima 
6,3 45 máxima 
Farelado grosso 22,5 15 máxima 
13,5 45 máxima 
Granulado 4,0 5 máxima 
1,0 70 máxima 
0,5 95 máxima 
Quanto à composição do·fertilizante, a legislação exigia inicialmen-
te as seguintes garantias para os organominerais. 
Garantia Valores Tolerância 
Matéria orgânica total mfnimo 15% 10% a menos 
Umidade máximo 20% 10% a mais 
lndice pH mlnimo 6,0 10% a menos 
Soma (NPK, PP, mlnimo 6,0% 1 (uma) unidade a 
PK ou NK) menos do teor total 
1 
1 
·1 
1 
10 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
A legislação foi benevolente quanto ao teor mínimo de matéria or-
gânica que o organomineral deveria conter; teor de 15% de matéria orgâ-
nica, com tolerância de 10%, ou seja, 13,5% no produto comercial, o que 
é muito baixo para caracterizar um organomineral. Foi então que a ABIFOR 
pleiteou e conseguiu que o teor mínimo de matéria orgânica passasse a 
25% e fosse retirado o parâmetro pH. 
O item 7.3. da Portaria 1 diz que o "organomineral deverá ser cons-
tituído no mínimo de 50% de matéria-prima orgânica"; portanto, cada to-
nelada de produto acabado deve conter no mínimo 500 kg de fertilizante 
orgânico. 
Outra modificação: a tabela apresentada pelo Ministério da Agricul-
tura para as especificações do fertilizante organomineral indicava que o 
produto acabado, o comercial, deveria apresentar pH 6,0; houve ai um 
engano do legislador, pois a matéria-prima orgânica empregada no pre-
paro do organomineral é que deve ter pH igual ou maior que 6,0, o qual é 
um dos parâmetros indicativos de que o material estâ no mínimo 
semicurado ou bioestabilizado, em fase de humificação. Acontece que 
se uma matéria orgânica com pH 8,0, por exemplo, for misturada com um 
fertilizante mineral de reação ácida, como os superfosfatos (que normal-
mente contém ácido livre) , a mistura final (produto comercial) poderá ser 
ácida e não mais alcalina. Como não fazia sentido essa exigência, a 
ABIFOR solicitou e obteve a exclusão da legislação. 
Outra modificação: a soma dos nutrientes NPK do organomineral 
tinha corno mínimo inicialmente 6,0%; posteriormente, o Ministério da 
Agricultura resolveu elevar para 12%, a pedido da ABIFOR. 
É a nossa opinião que a lei deveria exigir que a matéria-prima em-
pregada no preparo do fertilizante organomineral e não o produto acaba-
do, tivesse os parâmetros recomendados para o composto, que são: 
a) teor mínimo de matéria orgânica total de 40%, com tolerância 
de 10% para menos; isto porque, para se obter 25% de matéria 
orgânica em uma tonelada de organomIneral com tal matéria-
prima, tem-se que empregar 625 kg, restando 375 kg para os 
fertilizantes minerais, como mostrado na tabela 10.2. 
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL 11 
b) relação C/N máxima de 18/1 , o fertilizante orgânico cru (ester-
cos, tortas, compostos mal curados), pode ter relação C/N ele-
vada; o fertilizante orgânico semicurado (tecnicamente deno-
minado bioestabilizado) deve ter relação C/N entre 16/1 e 20/1 
ou, teoricamente, 18/1; o fertilizante orgânico curado (tecnica-
mente denominado humificado) deve ter relação C/N entre 8/1 
e 12/1, média de 10/1 . Portanto, para se evitar o emprego de 
matéria-prima de má qualidade, a lei deve exigir, no caso das 
fontes orgânicas citadas, que ela tenha uma relação igual ou 
menor que 18/1 . 
c) Índice pH mínimo 6,0; a matéria orgânica crua de origem vege-
tal ou animal é preponderantemente ácida; pela decomposição 
aeróbia vai se formando ácido húmico que reage com bases 
liberadas pelo processo, dando formação a humatos alcalinos, 
os quais, como o próprio nome está indicando, tem reação al-
calina, básica; assim, pela decomposição na presença do 
oxigênio do ar, a matéria orgânica de ácida passa para neutra 
(bioestabilizada) e depois para alcalina (humificada); a exigên-
cia de matéria-prima orgânica com pH mínimo igual ou maior 
que 6,0, associado à relação C/N máxima de 18/1, é uma boa 
indicação de que o material deve estar no mínimo 
bioestabilizado, podendo ser empregado no preparo do 
organomineral. 
Não é tarefa fácil saber se um fertilizante organomineral foiprepa-
rado com uma matéria-prima orgânica de boa qualidade. O recomendá-
vel é o agricultor sempre adquirir produtos de fabricantes com boa repu-
tação no mercado de fertilizantes. Outra maneira de se evitar abusos é 
confiar no fiscal do Ministério da Agricultura, o qual em sua visita periódi-
ca à indústria, coleta amostra da matéria-prima orgânica e a envia à aná-
lise para comprovar suas qualidades. 
Idealizamos um método que permite avaliar o grau de humificação 
de uma matéria-prima orgânica empregada no preparo do fertilizante 
organomineral. Apresentamos o método à Associação Brasileira de Nor-
mas Técnicas - ABNT, em São Paulo, e estamos aguardando sua apro-
vação para então sugerirmos à Divisão de Fert1l1zanles e Corretivos -
DICOF. do Ministério da Agricultura , para ser oficializado O método se 
12 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
aplica para todos os fertilizantes orgânicos, o simples, o composto e o 
organoimineral. 
As boas indústrias, principalmente as pertencentes à Associação 
Brasileira da Indústria de Fertilizantes Orgânicos - ABIFOR, empregam 
como matéria-prima a turfa ou o linhito, ricos de colóides húmicos ou 
então, cama de aviário compostado; outros resíduos, que constituem se-
gredo do produtor, são acrescentados aos anteriormente citados. 
A Portaria 1 faz ainda referência à coleta de amostra para fins de 
fiscalização; nos produtos ensacados, a amostra seré; obtida por meio de 
sonda de tubo duplo perfurado e ponta cônica. Para se retirar as frações 
de cada saco a ser amostrado, inserir totalmente a sonda dentro do saco 
para que o produto caia pelos furos; em seguida, fechá-la e retirá-la. O 
produto deve ser amostrado de sacos escolhidos ao acaso- para que a 
amostra seja representativa do lote. O número mínimo de sacos segun-
do a legislação, depende do tamanho do lote, conforme indicado na ta-
bela 2.2. 
Tabela 2.2. Relação entre o tamanho do lote e o número mf nimo de sa-
cos de fertilizantes a serem amostrados. 
Tamanho do lote Número mínimo de sacos amostrados 
Até 1 O Totalidade 
De 11 a 50 10 
De 51 a 100 20 
Superior a 100 até 2000 20 mais 2% da totalidade 
A legislação brasileira é rigorosa quanto à fabricação e 
comercialização do fertilizante organomineral, o que constitui uma ga-
rantia para os agricultores que os adquirem e aplicam em suas lavouras. 
Embora o fiscal do Ministério da Agricultura colete amostras nas fábricas, 
para confirmação do controle de qualidade, o agricultor, ao adquirir uma 
partida de fertilizante organomineral pode, por iniciativa própria, mandar 
verificar se o produto atende às especificações anunciadas pelo fabri-
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL 13 
cante; para isso, deve mandar uma amostra corretamente coletada para 
ser analisada em laboratório oficial ou privado ou pode ainda. solicitar 
por carta ao Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária 
ou através de suas Diretorias nos Estados, Seção de Fiscalização de 
Insumos e Serviços Agrícolas - SFA/SPV, a visita de um fiscal para reti-
rar uma amostra ·e enviá-la para análise em laboratório do Governo. É 
importante que o pedido ao Ministério da Agricultura seja feito o mais 
breve possível, pois não será atendido se decorridos 60 (sessenta) dias 
após a data da emissão da nota fiscal. 
Para a coleta, acondicionamento, embalagem e vedação da amos-
tra, há um procedimento especial, bem como para o preenchimento do 
formulário para encaminhamento do pedido. Desta maneira, para o re-
sultado da análise ter validade, permitindo que o interessado entre com 
recurso para se ressarcir de danos sofridos se o produto adquirido não 
corresponder às garantias oferecidas, a coleta deve ser feita por fiscal ou 
funcionário credenciado. Caso a amostragem seja feita pelo próprio agri-
cultor e o resultado da análise indicar que houve fraude, o mesmo não 
poderá recorrer à justiça diretamente; se, contudo, ainda não se passa-
ram 60 dias da data da emissão da nota fiscal, o agricultor poderá cha-
mar o fiscal do Ministério da Agricultura para coletar a amostra e 
encaminhá-la para análise oficial. 
2.1. Determinação da matéria organ1ca no 
organomineral. A legislação brasileira não indica o mé-
todo para determinação da matéria orgânica no fertili-
zante organomineral; os métodos oficiais (41) só se apli-
cam à determinação da matéria orgânica para os fertili-
zantes orgânicos simples e o fertilizante composto. 
Para determinação do teor de matéria orgânica no fertilizante orgâ-
nico em geral, podem ser empregados dois métodos diferentes· determi-
nação da matéria orgânica total e determinação do carbono orgânico, 
multiplicando esse resultado por um fator para encontrar o valor da maté-
ria orgânica . Para ambos os métodos, no caso dos fertilizantes 
organominerais, a·amostra necessita receber um tratamento prévio, para 
então serem feitas as análises pelos métodos convencionais . 
-- --- ---
14 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
A determinação do teor de matéria orgânica total por combustão é 
feita tomando-se uma amostra de peso conhecido, seca em estufa a 60-
650C e secando-a a 100-105°C, para eliminar toda a água; em seguida a 
amostra é incinerada em forno elétrico (mufla) a 500-SS0ºC, para destruir 
a matéria orgânica (41) e (32) . Acontece que na formulação do fertilizan-
te organomineral pode conter componentes que se evaporam ou se des-
dobram e volatilizam pelo forte aquecimento, alterando o resultado da 
análise pois, tais componentes entrarão no cálculo como se fossem ma-
téria orgânica volatilizada. Os fertilizantes uréia e os amoniacais são um 
exemplo dos que ocasionam erros na análise se a amostra não tiver o 
preparo aqui recomendado. 
A determinação do carbono orgânico pelo método da via úmida é 
feita tomando-se uma amostra de peso conhecido e atacando-a com 
uma mistura de solução de dicromato de potássio e ácido sulfúrico con-
centrado; a matéria orgânica será oxidada pela mistura sulfocrõnica e o 
excesso de agente oxidante será determinado por titulação com sulfato 
ferroso ou sulfato ferroso amoniacal (32). 
Acontece que podem ser encontrados na composição dos fert ili-
zantes minerais - que entram na formulação do organomineral - possí-
veis interferentes nas reações que se passam no processo, interferentes 
tais como NO·2 e CI· dos macronutrientes primários e S
2· , Fe2•• MnO· 
2 
e 
Mn 2•. 
2.1.1. Preparo da amostra e análise da matéria orgânica. O pre-
paro consiste em se remover os sais solúveis que provém principalmente 
dos fertilizantes minerais; para isso a amostra depois de seca a 60-65ºC 
é pesada e transferida para funil contendo papel-de-filtro-de-cinza-co-
nhecida (pequeno, suficiente para conter a amostra) e lavada com água 
quente levemente acidulada. 
O húmus em meio alcalino está na forma de húmus sol. isto é, 
disperso, com suas micelas coloidais em contínuo movimento chamado 
brauniano, não obedecendo a lei da gravidade , portanto, não se 
sedimentando; nessa situação, as micelas coloidais , por serem infinita-
mente pequenas, atravessam os poros do papel de filtro, só sendo retidas 
pelo ultra-filtro Se, contudo , a suspensão coloidal for acidificada, em 
meio ácido haverá floculação das m1celas húmicas , aglomerando-se e 
li . 
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL 15 
formando um gel de húmus; os flocos formados têm dimensões maiores 
não atravessando os poros do papel de filtro e passando a sofrer o efeito 
da gravidade, sedimentando-se. 
O preparo de amostra sugerida consiste em se lavar a amostra de 
fertilizante organomineral com água quente levemente acidulada, usan-
do, por exemplo, uma solução de ácido clorídrico vigésimo normal ; se o 
filtrado ainda tiver forte coloração negra, deve-se repetir a operação com 
solução ácida mais concentrada, pois componentes do adubo devem ter 
neutralizado parte do ácido empregado; a coloração do filtrado, no geral, 
lembra a de um chá bem fraco. 
Para se ter a certeza que a lavagem foi completa, removendo os 
sais solúveis, pode-se fazer nofiltrado um teste para reação ao cloro 
(principalmente no caso de análise para carbono orgânico) e de amônio 
(no caso de análise de matéria orgânica total). 
Terminada a lavagem, secar o papel de filtro contendo a amostra e. 
depois de seco, usá-lo para análise. 
Para a determinação da matéria orgânica total, o papel com a cinza 
conhecida contendo amostra, bem dobrado, é colocado em cadinho e 
queimado da maneira habitual. 
Para a determinação do carbono orgânico é necessário fazer pre-
viamente a determinação da quantidade de carbono contida no papel de 
filtro, para ser esse valor deduzido do resultado obtido; para isso, deter-
mina-se o teor de carbono de um ou vários papéis de filtro e toma-se uma 
média no caso de se empregar mais de uma unidade. 
O método sugerido é uma tentativa devendo, com seu emprego 
continuado, sofrer alterações no sentido de aprimorá-lo. 
2.2. Determinação dos colóides orgânicos totais. O método é 
uma tentativa apresentada pelo autor para a determinação da fração 
coloidal encontrada nos fertilizantes orgânicos humificados. Baseia-se 
no método da pipeta, empregado para determinação do teor do colóide 
argila em amostra de terra (31 ); tem por principio a separação da fração 
coloidal da não coloidal dos fertilizantes orgânicos 
16 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
As análises químicas que são usualmente feitas só determinam os 
ácido húmico e fúlvico, não determinando ou não especificando os de-
mais componentes do húmus. O método aqui sugerido determina a fração 
orgânica coloidal total, nela estando implicitamente incluída humina, áci-
do húmico, ácido fúlvico, ácido himantomelânico, ácido apocrênico, ulmina, 
enfim, tudo que estiver na forma coloidal. 
Justificativas do método: 
a) há diferença entre matéria-prima orgânica (material cru, não de-
composto) e húmus (matéria orgânica decomposta microbiologicamente) , 
com propriedades físicas, químicas e físico-químicas inteiramente dife-
rentes; 
b) na literatura são citados dois_ tipos de matéria orgânica: matéria 
orgânica ativa, fresca , crua, não decomposta, que por decomposição 
origina húmus; matéria orgânica inativa, humificada, ou estabilizada, não 
mais sujeita a rápida e intensa decomposição, constituindo a fração 
coloidal ; em nosso entender as expressões matéria orgânica ativa e inativa 
seriam melhor definidas como matéria orgânica coloidal e matéria orgâ-
nica não coloidal, respectivamente. A matéria orgânica ativa é a que tem 
influência nas propriedades quimicas e físico-químicas e a matéria orgâ-
nica não coloidal, grosseira, influindo mais nas propriedades físicas do 
solo; 
e) consequentemente, o fertilizante orgânico contém duas frações, 
uma coloidal e outra de dimensões grosseiras; 
d) o valor de um fertilizante orgânico como condicionador ou 
mélhorador do solo é avaliado em função do conteúdo de matéria orgâni-
ca humificada, dos seus colóides orgânicos totais e não apenas dos áci-
dos húmico e fúlvico, desconsiderando-se os demais componentes cita-
dos (ulmina, ácidos himantomelânico, aprocrenico, etc.) geralmente não 
determinados ou ainda desconhecidos; 
e) a fração húmica coloidal é a que no solo influi favoravelmente 
nas suas propriedades físicas, qulmicas e flsico-qulmicas. 
O método de determinação dos colóides orgânicos totais é O se-
guinte: partindo-se de uma amostra de fertilizante orgânico Já preparada 
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ORGANOMINERAL 17 
para análise, isto é, seca a 60-65°C e moída finamente, tomar 20g e 
passar para recipiente com cerca de um litro de capacidade. Juntar 50 mi 
de álcool (para favorecer a posterior absorção de água nesse material 
seco) agitando a amostra com o auxílio de um bastonete de vidro. Juntar 
400ml de água e adicionar cuidadosamente hidróxido de sódio (aproxi-
madamente) 0,5 N até obter reação alcalina com o indicador fenolítaleína. 
Levar o recipiente ao fogo ou em banho de areia até ebulição; com 
bastonete de vidro retirar algumas gotas do líquido colocando-as em um 
pires (ou azulejo) branco; juntar uma gota da solução de fenolftaleina; 
provavelmente não deve mais dar reação alcalina pois, pela ação mecâ-
nica da ebulição em água e ação química da soda, o colóide orgânico 
(ácido) entrou em dispersão no líquido, reagindo com a soda e baixando 
o pH da suspensão coloidal ; nesse caso, cuidadosamente juntar mais 
solução de hidróxido de sódio até obter reação alcalina contra o indica-
dor fenolftaleína. Continuar com a ebulição repondo as quantidades de 
água evaporadas, sempre que o nível inicial baixar; repetir o teste com a 
fenolftaleína e adição cuidadosa de soda de tempos em tempos a fim de 
manter o líquido permanente alcalino (a viragem da fenolftaleina se dá 
no pH 8,2). 
Quando se observar que após um tempo de ebulição o teste com a 
fenolftaleína permanece dando reação alcalina, é sinal que se comple-
tou a dispersão do húmus. Desligar o aquecimento, deixar esfriar o liqui-
do e passar o conteúdo para uma proveta de 1000ml, fazendo-o passar 
por uma peneira de 0,053mm de abertura: colocar um funil na boca da 
proveta e dentro dele a peneira: após passar todo o liquido para a prove-
ta , lavar a peneira com jacto de água, o recipiente usado para ferver a 
amostra de fertilizante e mais a peneira até completar o volume de um 
litro. Agitar o líquido da proveta com o agitador manual mostrado na figu-
ra 2.1 por cerca de meio minuto e, em seguida, introduzir uma pipeta de 
20ml até uma profundidade de 10cm, aspirando lentamente uma alíquota 
da suspensão; passar a alíquota para cápsula de porcelana previamente 
queimada em mufla e de tara determinada; levar a cápsula à estufa a 
100-105ºC, para evaporar toda a água, até peso constante; resfriar em 
dessecador e pesar (p). 
18 
Visto de perfil 
FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
Visto em 
perspectiva 
~ Visto de cima 
Figura 2.1 . Agitador para líquidos contidos em provetas. 
Queimar a cápsula em mufla a 550ºC por uma hora (até cinza bran-
ca), deixando no forno até seu resfriamento; completar o resfriamento da 
cápsula em dessecador e pesar (p 1). 
Subtraindo-se (p - p1) tem-se o peso dos colóides totais na amos-
tra de 20g. Supondo-se que o fertilizante organomineral contém 30%, de 
matéria orgânica, calcula-se a quantidade de colóides totais existentes 
só nesse teor de matéria orgânica conhecido (e não no peso total da 
amostra). 
É aconselhável, após novas agitações, coletar mais duas alíquotas 
para se ter como resultado final a média de três determinações. 
O método sugerido é uma tentativa devendo, com seu emprego 
continuado, sofrer alterações no sentido de aprimorá-lo. 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 19 
3. TAXA .. DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES 
ORGANICOS E TAXA DE APROVEITAMENTO DOS 
FERTILIZANTES MINERAIS 
É incorreto pensar que no preparo do fertilizante organomineral é 
desfavorável o fato de se misturar fertilizantes minerais solú-
lc~~7 veis contendo nitrogênio, fósforo, potássio, com materiais or-
gânicos cujos componentes, úteis às plantas, podem estar 
em parte na forma orgânica não prontamente assimilável pe-
las raízes. 
Os fertilizantes orgânicos empregados no preparo do 
fertilizante organomineral são, segundo define nossa legislação, um ufer-
tilizante de origem vegetal ou animal contendo um ou mais nutrientes 
das plantas". Sendo constituídos de resíduos vegetais e/ou animais, para 
se tornarem úteis às plantas é necessário que sofram um processo 
microbiano de decomposição; como resultado dessa digestão da maté-
ria orgânica, haverá formação de dois importantes componentes: húmus 
e sais minerais contendo os macronutrientes nitrogênio, fósforo, potás-
sio, cálcio, magnésio, enxofre, e os micronutrientes zinco, cobre, ferro, 
manganês, boro, molibdênio e cloro, os quais deixam sua forma orgânica 
dita imobilizada para passar à forma mineralizada. 
A taxa de mineralização ou conversão da matéria orgânica é go-
vernada pelo teor de nitrogênio na matéria-prima, e pela presença de 
microrganismos, umidadee outras condições que tornam o processo mais 
rápido e favorável. Os componentes da matéria orgânica não são igual-
mente atacados e decompostos pelos microrganismos com a mesma fa-
cilidade. Os açúcares, amidos e proteínas hidrossolúveis são de<?ompos-
tos mais rapidamente, enquanto as demais proteínas, hemicelulose, óle-
os, gorduras e resinas se mostram mais resistentes à mineralização e 
humificação. 
A velocidade e o grau de decomposição da matéria orgânica crua 
pode ser medida em laboratório por diferentes métodos, determinando-
se a taxa de mineralização ou índice de conversão, que indicam a dispo-
20 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
nibilidade dos nutrientes às plantas . Sobre o assunto , a publicação 
intitulada "Recomendações de adubação e calagem para os Estados do 
Rio Grande do Sul e Santa Catarina (50) , diz o seguinte: 
"Os índices de conversão que se encontram na Tabela 3.1, repre-
sentam o percentual médio de transformação da quantia total dos nutri-
entes contidos nos adubos orgânicos que passam para a forma mineral 
nos sucessivos cultivas . Considera-se a partir daí, que a fração 
mineralizada se comporta semelhantemente aos nutrientes oriundos de 
fertilizantes minerais. Portanto, eles passam a integrar as mesmas reações 
químicas dos íons presentes no solo, bem como dos µrovindos dos ferti-
lizantes minerais, tais como insolubilização do fósforo, lixiviação do 
nitrogênio, etc. Verifica-se na tabela 3.1, que todo o potássio da matéria 
orgânica comporta-se como mineral desde a aplicação, uma vez que ele 
não faz parte de nenhum composto orgânico estável; portanto, não pre-
cisa sofrer a ação dos microrganismos. Verifica-se, ainda, que 60% do 
P 
2
0
5 
aplicado, mineraliza-se no primeiro cultivo e, 20%, no segundo; o 
mesmo ocorre com o nitrogênio, nas taxas de 50 e 20% para os dois 
primeiros cultives, respectivamente. No segundo cultivo, além do efeito 
residual do P e do K mineralizados no primeiro cultivo, estarão disponí-
veis, aproximadamente. 20% do total tanto de N como de P 
2
0
5 
aplicados 
por ocasião do primeiro cultivo. A partir do terceiro cultivo, a totalidade do 
N, P 
2
0
5 
e K
2
0, aplicados na forma orgânica, já se encontram mineralizados 
e a quantidade disponível nesse cultivo dependerá das doses aplicadas 
anteriormente e dos fatores que afetam o efeito residual de cada nutrien-
te, avaliado na sua forma tradicional" . 
Tabela 3.1. indices de conversão dos nutrientes aplicados na forma or-
gânica para a forma mineral, em cultives sucessivos (50). 
Nutrientes 
Nitrogénio (N) 
Fósforo {P~O~) 
Potássio (~O) 
lndices de Convers~o (•} 
1 !! Cultivo 2~ Cultivo 
50 % 
60% 
100% 
20% 
20% 
(•) Cullivos em relação ao aproveitamento do r ertihzante orgànico aplicado. 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 21 
O índice de conversão para o nitrogênio, indicado na tabela 3.1, 
está de acordo com o encontrado por Pratt e outros (44), (45), segundo 
os quais 50% desse elemento encontrado no esterco animal na forma 
orgânica são aproveitados pelas plantas no primeiro ano de cultivo: para 
0 segundo ano, esses autores indicam que o índice de conversão é de 
apenas 10%. 
Os indices de conversão indicados são aplicáveis, como foi dito, 
para material orgânico cru ou semicurado. Acontece que os materiais 
orgânicos que sofreram processo de compostagem. sendo transforma-
dos em húmus, apresentam nitrogênio inorgânico na forma de nitrato 
(ver Capítulo 7), prontamente assimilável; o fósforo orgânico também é 
mineralizado a partir de compostos como fitina, fosfolipídeos , 
nucleoproteínas, ácido nucléico, proteínas, que, pela ação de microrga-
nismos. liberam ians fosfato (H
2
PO /) prontamente assimiláveis pelas 
raízes das plantas. A mineralização do fósforo depende, principalmente, 
de vários fatores como índice pH, conteúdo de matéria orgânica. micror-
ganismos, umidade e temperatura. 
O aproveitamento dos nutrientes NPK dos fertilizantes minerais no 
primeiro ano de cultura, segundo Malavolta (34) é o da tabela 3.2: o 
nitrogênio dos fertilizantes uréia, sulfato de amônia, MAP. DAP é aprovei-
tado entre 50 e 70% no primeiro ano de cultura, em média, 60%; o fósfo-
ro, em condições desfavoráveis, apenas 5% e em condições favoráveis, 
20%, dando uma média de 12%; o potássio, entre 50 e 70% em condi-
ções desfavoráveis e favoráveis, respectivamente. 
Comparando-se os índices de aproveitamento dos nutrientes con-
tidos no fertilizante orgânico com os contidos nos fertilizantes minerais 
ou inorgânicos, no primeiro ano de cultura, vê-se que são próximos, com 
certa vantagem para os fertilizantes orgânicos. 
Do exposto pode-se concluir o seguinte: se a matéria-prima orgâni-
ca empregada no preparo do fertilizante organomineral estiver completa-
mente curada, humificada, terá elevada capacidade de troca de cátions 
e de retenção de água, alta superfície específica e com seus nutrientes 
quase completamente mineralizados. Ao contrário, se estiver crua ou 
semicurada, bioestabilizada, os valores das características só se mani-
festarão com a humificação e mineralização, só se completarão após o 
fertilizante organomineral ser aplicado no solo Este inconveniente será 
1. 
22 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
em grande parte compensado pelo fato da mineralização e conseqüente 
liberação dos nutrientes se dar aos poucos durante o desenvolvimento 
da cultura à semelhança de uma adubação dita de disponibilidade con-
trolada, onde as perdas dos nutrientes por lavagem pela água das chu-
vas será mínima. 
Tabela 3.2. Eficiência comparada dos fertilizantes minerais e orgânicos. 
Fertilizante mineral Fertilizante orgânico 
(34) (57) 
Nutriente Valores Média Valores 
em% em% em% 
Nitrogênio 50 a 70 60 50 
Fósforo 5 a 20 12 60 
Potássio 50 a 70 60 100 
Média geral de eficiência 44 70 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 23 
4. MATÉRIA ORGÂNICA COMO CONDICIONADORA 
DOS FERTILIZANTES MINERAIS 
Os compêndios de química agrícola costumam trazer uma tabela 
---- indicando a compatibilidade e a incompatibilidade dos fertili-
zantes minerais que devem co~por as fórmulas para aduba-
ção. As incompatibilidades podem ser físicas e químicas. 
A incompatibilidade física ocorre nas fórmulas de fertili-
zantes minerais que empregam, por exemplo, produtos 
higroscópicos ou deliqüescentes. Diz-se que um fertilizante é higroscópico 
ou deliqüescente quando tem a propriedade de absorver água do meio 
ambiente ou de nela se dissolver, transferindo essa água para a mistura 
de adubos; fórmulas que contém, por exemplo, nitrocálcio ou nitrato de 
cálcio; absorvem umidade do ar e depois de misturados com outros ferti-
lizantes e armazenados por algum tempo, absorvem umidade do ar e 
tomam-se empedrados, principalmente os sacos que· ficam na parte de 
baixo da pilha. 
Sabe-se, de longa data, que esse inconveniente pode ser reduzido 
utilizando-se como carga 1 , em tais fórmulas, cerca de 1 O a 15% de ferti-
lizante orgânico com baixa umidade e bem moído; a carga orgânica dá à 
fórmula friabilidade suficiente para que os sacos de adubo aparentemen-
te empedrados sejam antes de serem abertos, batidos no chão para que 
seu conteúdo se solte e flua livremente ao ser descarregado; esse antigo 
conhecimento aplicado às fórmulas de fertilizantes minerais com proble-
mas de empedramento pode-se dizer que agora é prática obrigatória no 
organomineral, dando ao produto comercial a vantagem de uma garanti-
da friabilidade; o organomineral é um fertilizante que se esboroa, escor-
rendo facilmente da sacaria e que não embucha a adubadeira quando se 
faz a distribuição no campo. 
1 
Carga. Assim se denomina o matenal, mesmo que Inerte, que a lei permite adicionar às fórmulas de 
íertilizantes minerais para completar uma tonelada da mistura, uma vez que a concentração 
garantida não seja alterada nem interfira no aprove1tamcnlo dos nulnentes . 
-- ------------------------------
24 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
Incompatibilidade química é o fenómenoque ocorre nas misturas 
de fertilizantes quando entram na sua composição produtos com reação 
alcalina ou que tenham cálcio livre, como nos termofosfatos, cianamida 
de cálcio. escória de desfosforização ou de Thomas, e fertilizantes 
amoniacais; se a umidade desses produtos for favorável , haverá des-
prendimento do gás amônia, com perda de nitrogénio; outro exemplo de 
incompatibilidade química é a mistura de fertilizantes solúveis fosfatados, 
como os superfosfatos simples ou triplo, com substâncias contendo cál-
cio na forma livre ou combinada (termofosfato, cianamida de cálcio , es-
córias de siderurgia); nesse caso, a reação química que se dá provoca o 
fenômeno da retrogradação, reduzindo a disponibilidade do nutriente 
fosfato. 
A fixação do fósforo que ocorre no solo, fenômeno pelo qual o fós-
foro solúvel passa para a forma insolúvel, com evidente perda de sua 
disponibilidade, é outro fato indesejável. Na composição do fertilizante 
organomineral entram pelo menos 500 kg de um fertilizante orgânico, 
que. na fabricação, por ser bem misturado com o fertilizante mineral 
fosfato, solúvel, envolve-o, protegendo-o e evitando, quando aplicado no 
solo, que reaja livremente com cálcio, ferro, manganês e alumínio, com 
os quais daria fosfato insolúvel. 
A matéria orgânica juntada ao fertilizante mineral para compor o 
organomineral, portanto, diminui a possibilidade de ocorrerem incompati-
bilidades físicas ou químicas entre os componentes do adubo inorgânico. 
Os fertilizantes minerais quando empregados em altas doses po-
dem causar danos à cultura pelas seguintes razões (35): 
a) pela concentração salina exagerada em volta da semente ou 
das raízes; a tabela 4 .1, dá 9 índice salino de alguns fertilizantes; 
b) pelo excesso de ácido ou cálcio livres; 
e) pela presença de substâncias tóxicas. 
A mistura de fertilizante orgânico com mineral empregada no pre-
paro do organomineral evita tais inconvenientes. 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 25 
Fenômeno indesejável é o que ocorre quando se empregam doses 
exageradas de fertilizantes com alto índice salino e a cultura atravessa 
período de verânico (estiada em estação chuvosa com dias de muito 
calor e insolação) . Os sais do fertilizante mineral dissolvem-se na solu-
ção do solo em concentração mais elevada que a da seiva das raízes, 
desidratando-as por osmose e causando a plasmólise das células; 
consequentemente, a planta murcha, sofrendo pela falta d'água. Adu-
bando com fertilizante organomineral a probabilidade de ocorrer esse 
dano é mínima, uma vez que ele contém menos sais minerais e ainda os 
tem condicionado pela matéria orgânica. A tabela 4.1 dá uma relação do 
índice salino de alguns fertilizantes mais usados. 
Tabela 4.1 . lndice salino de alguns fertilizantes minerais, tomando o ni-
trato de sódio como base de salinidade igual a 100. 
Fertilizante Índice Salino 
Nitrato de sódio 100 
Nitrato de amõnio 105 
Uréia 75 
Sulfato de amõnio 69 
Nitrocálcio 61 
Amõnia anidra 47 
Fosfato diamônico (DAP) 34 
Fosfato monoamônico (MAP) 30 
Superfosfato triplo 10 
Superfosfato simples 8 
Cloreto de potássio 116 
Nitrato de potássio 74 
Sulfato de potássio 46 
Chaminade (8) estudou a neutralização pela água-de-cal em uma 
mistura de ácido húmico e fosfato monocálcico (super triplo). Cinco reci-
pientes contendo fosfato monocálcio receberam doses crescentes de 
água-de-cal com húmus, em seguida, os líquidos foram centrifugados e 
26 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
dosado o P 
2
0 
5
, o húmus e determinado o pH do centrifugado. Paralela-
mente, o mesmo experimento foi repetido com fosfato monocálcio e água-
de-cal sem adição de ácido húmico. As curvas da figura 4.1 mostram que 
as precipitações do superfosfato na ausência de húmus foram bem mai-
ores. A Tabela 4.2 dá os valores de fósforo em solução nesses líquidos. 
Tabela 4.2. Valores de fosfato monocâlcio {superfosfato triplo) nos trata-
mentos com a presença e ausência de húmus a diferentes 
índices de pH (8). 
lndice pH 
7,0 
8,0 
9,0 
Tratamentos e conteúdos de P 20 5 
Sem húmus 
40 mg/litro 
20 mg/litro 
5 mg/litro 
Com húmus 
170 mgnitro 
160 mg/litro 
140 mg/litro 
O experimento mostra a marcante influência do ácido húmico so-
bre o superfosfato triplo, evitando a insolubilização do fósforo por cátions 
floculantes, como o cálcio. 
No mesmo trabalho Chaminade (8) apresenta espectrogramas de 
fosfato tricálcico obtido pela precipitação com água-de-cal, na presença 
e na ausência de húmus. No espectro obtido por raios X, o composto 
fosfo-húmico mostrou que o fosfato tricálcio perdeu sua estrutura crista-
lina. 
Ensaio realizado pelo método de Neubauer feito pelo mesmo pes-
quisador (8) para determinar a quantidade de fósforo assimilada por uma 
planta indicadora, empregando uma suspensão fosfo-húmica preparada 
precipitando o fosfato monocálcio (super triplo) pelo humato de cálcio 
{húmus precipitado pela água-de-cal) e outra suspensão precipitando o 
fosfato pela água-de-cal na ausência de húmus, mostrou que a assimila-
ção do fósforo de composto do fosfo-húmico foi mais elevada que do 
fosfato tricálcio. 
TMA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 27 
mg de P205 em sol.uçao 
ou suspensão cm 50 ml. 
'º , 
8 
7 
6 
s 
4 
3 
2 
:tndi..ce pH 
fosfato monocálcico 
mais húmus 
fosfato monocálcico 
sem húmus 
Figura 4.1. Precipitação do fosfato monocálcio pela água-de-cal na pre-
sença e na ausência de húmus (8). 
Na composição do fertilizante organomineral sempre se emprega 
como matéria-prima um adubo orgânico rico em húmus, como por exem-
plo a turfa e o linhito (ou linhita), podendo-se usar os estercos animais, 
composto de lixo domiciliar e o lodo de esgoto, tratados em usinas, bem 
como outros resíduos orgânicos industriais depois de passarem por um 
processo de compostagem para humificação da matéria orgânica. É im-
portante lembrar que matéria-prima orgânica crua, que não s9freu de-
composição microbiana, é simplesmente fonte para produzir fertilizante 
orgânico curado, humificado como se diz mais tecnicamente. Lembrar 
que "nem toda matéria orgânica é húmus, porém, todo húmus é matéria 
orgânica". 
A recomendação acima é importante porque só depois que a maté-
ria orgânica se decompõe e se torna rica em húmus, é que ela apresenta 
-- - - -----------------------------
l 
•' 
28 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
as desejáveis propriedades, como por exemplo: alta capacidade de troca 
de cátions, elevada retenção de água, alta superfície específica e pre-
sença de quelados. No organomineral , a matéria orgânica funciona como 
condicionadora dos fertilizantes minerais por possuir essas e outras pro-
priedades que serão relatadas mais adiante. 
4.1. A capacidade de troca de cátions do organomineral. A ca-
pacidade de troca de cátions ou capacidade de troca catiônica , repre-
sentada pelas letras CTC, pode ser definida como sendo a soma total de 
cátions que o fertilizante orgânico pode adsorver, exprimindo-se o resul-
tado em equivalentes miligramas por 100 gramas (e .mg/1 00g) ou 
miliequivalentes por 100 gramas (meq/1 00g ou me/1 00g). Os resultados 
também podem ser expressos por 100 centímetros de amostra seca em 
estufa a 65° Celsius. 
O húmus tem a propriedade de adsorver eletrostaticamente nutri-
entes catiônicos como o potássio, cálcio, magnésio, manganês, ferro, 
cobre, zinco, amônia, bem como o sódio, etc., cedendo-os posteriormen-
te às raízes das plantas. Essa retenção, denominada adsorção, pode 
ser entendida tomando-se como exemplo a atração que o ímã perma-
nente realiza quando em contato com limalhas de ferro; estas ficam ade-
rentes ao imã sem, contudo, fazerem parte da sua composição; os câtions 
ligados eletrostaticamente ao húmus, podem ser removidos por troca com 
outros cátions. A adosrção é um fenômeno físico-químico e não deve 
ser confundido com a absorção, que é um efeito físico como, por exem-
plo, a fixação de uma substância líquida ou gasosa no interior de outra , 
geralmente sólida.Os cátions adsorvidos pelos húmus ou pela argila do solo são me-
nos lavados ou lixiviados pela água da chuva que atravessa o perfil. Suas 
perdas podem ocorrer por trocas por outros cátions; no solo pobre em 
argila ou húmus, por exemplo, o potássio do fertilizante mineral aplicado, 
não encontrando colóides para adsorvê-lo, permanece dissociado na água 
do solo (que é chamada pelos técnicos solução do solo); chovendo, a 
água dilui e arrasta o potássio para os horizontes mais profundos, levan-
do os sais minerais da solução do solo para posições fora do alcance das 
raízes das plantas cultivadas. 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÁNICOS 29 
A partícula de húmus é tão diminuta que recebe o nome especial 
de micela coloidal húmica; o húmus, como as argilas coloidais do solo, 
possuem cargas elétricas negativas que são balanceadas (neutraliza-
das) por cátions (portadores de cargas positivas) , como representado na 
figura 4.2; nessa figura vê-se uma micela coloidal húmica com suas car-
gas negativas assim neutralizadas: uma carga negativa por uma carga 
positiva de potássio (K·), de sódio (Na•) ou de amônia (NH• 4); duas car-
gas negativas de húmus balanceadas por duas positivas de cálcio (Ca 2•) 
ou de magnésio (Mg 2•), podendo, ainda, cátions como o cobre, zinco, 
manganês e ferro divalentes realizar esse balanceamento; finalmente, 
três cargas negativas do húmus, por três positivas de alumínio (Al3·), 
elemento quimicamente trivalente. Se o solo recebesse uma calagem 
pesada, o cálcio, pela lei de Way, desalojaria os cátions da figura 4.2, os 
quais passariam para a solução do solo; a micela se tornaria, então, cál-
cio saturada. 
Ca+-
+-
MI CELA 
COLOIDAL 
• ORGANICA 
1\ 
+t 
Mg 
-+ NH4 
Figura 4.2. Representação de uma micela coloidal húmica com suas car-
gas elétricas negativas balanceadas por cargas positivas de 
diversos cátions. 
A ca pacidade de troca de cátions do fertilizante organtco é 
diretamente proporcional à quantidade de substância coloidal húmica nele 
existente; portanto, quanto mais curada ou decomposta for a matéria 
30 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
orgânica, maior a quantidade de húmus e maior a capacidade de troca 
catiônica do fertilizante. O valor agrícola de um fertilizante orgânico pode 
ser estimado por vários fatores, dentre eles a capacidade de reter nutri-
entes, protegendo-os da lavagem pela água das chuvas. A tabela 4.3 dá 
a capacidade de troca de cátions de alguns materiais orgânicos empre-
gados no preparo do fertilizante organomineral. 
Tabela 4.3. Capacidade de troca de cátions de fertilizantes orgânicos 
empregados no preparo do organomineral. 
Fertilizante orgánico 
Linhito ou linhita 
Turfa 
Esterco de bovino 
Esterco de ovelha 
Esterco de galinha 
Tortas vegetais 
Fonte: compilado pelo autor. 
Capacidade de troca de cátions 
(Valores em me/1 00g) 
180 a 220 
80 a 120 
44 
41 
40 
41 
A CTC dos solos brasileiros varia de 3 a 15me/1 00g, ou seja, uma 
média de 1 0me/1 00g, enquanto que a CTC do húmus é em média 300me/ 
1 00g, valor trinta vezes maior. Para se ter uma idéia do papel que a 
matéria orgânica realiza no fertilizante organomineral, basta fazer o cál-
culo abaixo. 
A legislação brasileira exige que as fórmulas de organomineral 
comercializadas tenham no mínimo 50% de matéria-prima orgânica, ou 
sejam, 500kg por tonelada no produto acabado. Considerando que a 
matéria-prima empregada no preparo do organomineral tenha 60% de 
matéria orgânica (600kg/t), os 500 kg usados para fazer a mistura leva-
rão a ela 300 kg de matéria orgânica em cada 1.000kg de organomineral. 
Anote-se que geralmente as fábricas empregam mais de 500kg de maté-
ria orgânica; se nos 300kg de matéria orgânica houver 50% de colóides 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 31 
húmicos, o fertil izante organomineral conterá 150kg de húmus por tone-
lada. Como a CTC do húmus é 30 vezes maior que a CTC da argila, a 
meio tonelada de matéria orgânica usada na fabricação de uma tonelada 
de organomineral, contendo apenas 150kg de húmus, tem um valor na 
retenção e aproveitamento dos nutrientes, igual a 4.500kg de argila. Um 
solo com 25% de argila tem, em média, 625 toneladas desse mineral por 
hectare a uma profundidade de 20cm, sendo sua CTC igual a 62.S00me; 
os 150kg de húmus tem 450.000me, sete vezes mais. 
Os cálculos acima comprovam como os 500 a 700kg de matéria 
orgânica humificada, misturada com fertilizante mineral, tem condições 
de funcionar como condicionador do fertilizante "químico". É importante 
ressaltar que nesses cálculos não foi levado em consideração o fato de o 
fertilizante organomineral ser aplicado de forma localizada (no sulco, na 
cova, etc.), o que faz com que seu efeito seja ainda maior. Quando apli-
cado isoladamente, como fertilizantes e melhoradores do solo, os adu-
bos orgânicos são empregados em grandes doses, variando de 1 O a 20 
toneladas por hectare. Em pequenas quantidades, caso do organomineral, 
a matéria orgânica humificada funciona comprovadamente como condi-
cionadora dos fertilizantes minerais que entram na composição do 
organomineral, como se demonstrará nos próximos capítulos deste livro. 
4.2. A superfície específica do organomineral. Os microrganis-
mos, ao decomporem a matéria orgânica, realizam ao mesmo tempo uma 
alteração química e uma demolição física. Partículas de matéria orgânica 
são demolidas até formar partículas de minúsculas dimensões, conheci-
das como micelas coloidais, tão pequenas que em meio líquido levemen-
te alcalino formam uma suspensão coloidal, não se sedimentando, não 
obedecendo portanto, a lei da gravidade. 
A superfície específica abreviadamente Sup. sp., de uma amostra 
é a soma ou o total da área de cada uma das suas partículas por unidade 
de massa; é como se determinasse a superfície de cada um dos compo-
nentes da amostra, se representasse essa área em um plano e depois se 
somasse todas elas; esse resultado é expresso sempre em metros qua-
drados por grama de material. 
A superficie específica de uma amostra de fertilizante orgânico pode 
ser determinada em laboratório por métodos relativamente simples (31 }. 
32 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
As amostras são postas em contato com gases ou com líquidos que são 
retidos sobre a superfície das partículas, sempre na forma de uma cama-
da monomolecular, permitindo calcular ponderalmente a soma das áreas 
das micelas coloidais. 
Um único grama de húmus tem uma superfície de exposição de 
suas micelas que, somadas, dão em média 700 metros quadrados. Quanto 
maior a superfície de exposição do colóide , maior será sua capacidade 
de reter nutrientes e de fornecê-los às plantas, pois de outra maneira 
seriam lavados pela água das chuvas. 
Considerando-se que uma tonelada de organomineral contenha 150 
kg de húmus, conforme demonstrado em 4.1, e que a superfície especi-
fica do húmus é de 700m 2/g, a superfície de exposição dessa tonelada 
de fertilizante organomineral será de 105 milhões de metros quadrados, 
ou seja, uma área de exposição para reter nutrientes contidos no fertili-
zante mineral e oferecê-los às raízes, igual a uma gleba de terra medindo 
10km por 10,5km. Sabendo-se que a alimentação de uma planta se faz 
por suas raízes e seus pêlos absorventes, pode-se compreender a im-
portância desse fato. As radicelas e os pêlos absorventes que formam a 
camada pelífera têm por função absorver as substâncias minerais ne-
cessárias à vida da planta; os pêlos que podem atingir comprimento até 
de 9mm, aderem à superfície das substâncias minerais do solo ou dos 
fertilizantes, formando concreções especiais que facilitam a absorção. A 
argila caulinita, a mais comum nos solos brasileiros, oferece uma super-
fície específica que varia de 1 O a 40 metros quadrados por grama; com-
parativamente, o húmus oferece para as radículas e pêlos absorventes, 
uma superfície específica contendo nutrientes adsorvidos, de 700 me-
tros quadrados por grama, ou seja, cerca de 30 vezes mais que a da 
argila. 
Estaé outra explicação técnica de como o fertilizante orgânico quan-
do misturado com o fertilizante mineral funciona como seu melhorador 
(condicionador), aumentando a eficiência em fornecer nutrientes aos 
vegetais . 
4.3. A capacidade de retenção de água no organomineral. A 
capacidade de matéria orgânica reter água por absorção está ligada j 
quantidade do colóide húmus que ela contém. A matéria orgânica crua 
, 
' 
TAXA DE MINERALIZAÇÃO DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS 33 
tem , em média, cerca de 80% de capacidade de retenção de água -
CRA; à medida que se processa sua decomposição, vão se formando 
colóides húmicos cujas micelas tem elevada CRA. Assim, por exemplo. a 
turfa brasileira, bem decomposta, chega a absorver de 300 a 700% de 
água, isto é, um quilograma de turfa pode reter de 3 a 7 quilogramas de 
água; turfas de "esfagnum", existentes em países de clima frio, têm CRA 
mais elevada ainda, ultrapassando a casa dos mil por cento. Allison (1) 
cita existir turfa fibrosa com CRA até de 2.420%. 
A propriedade do húmus absorver água em elevadas proporções, 
dez vezes mais do que os solos argilosos, é importante, pois, garante a 
solubilidade dos nutrientes do fertilizante mineral contido no 
organomineral. 
O húmus perde água com facilidade; uma amostra de turfa ou com-
posto colocada em estufa a 60-65ºC, em cerca de 4 horas, perde pratica-
mente toda a água; no entanto, para reabsorver água até a saturação, o 
húmus pode levar até 72 horas, pois o processo é lento. 
Considerando que o fertilizante mineral contendo NPK só é assimi-
lado pelas raízes quando em solução, verifica-se a importância da eleva-
da capacidade de retenção de água da fração orgânica, dissolvendo os 
sais do adubo mineral e favorecendo a assimilação pela planta . 
4.4. Comprovação experimental. Não foram poucos os técnicos 
que fazendo experimentação agrícola de adubação empregando fertili-
zantes minerais misturados com fertilizantes orgânicos observaram a in-
fluência destes últimos no aumento da produção, graças à ação do húmus 
favorecendo o melhor aproveitamento dos nutrientes minerais. 
O efeito da torta de mamona como condicionadora do fertilizante 
mineral está relatado no experimento de algodão realizado no ano agrí-
cola 1968-69, em seis municípios diferentes e, em 1969-70, em nove 
municípios; são ao todo 15 experimentos de campo conduzido em 
Latossolo roxo (55). 
Os tratamentos empregados foram os seguintes , em kg/ha: 
1 - N
0 
sem N: 0-60-50 
2 - P O sem P: 30-0-50 
3 - K
0 
sem K: 30-60-0 
34 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
4 - NPK, adubação básica (b): 30-60-50 
5 - N
2
, dose dupla de N: 60-60-50 
6 - K
2
, dose dupla de K: 30-60-100 
7 - NPK + tm: adubação básica (b): 30-60-50 + 200kg/ha de torta 
de mamona (equivalente a 10kg de N, 4kg de P e 2kg de K). 
A composição química da torta de mamona era, em média: 5% de 
N, 2% de P20 5 e 1% de K20. 
Ao analisar os dados do experimento, o autor surpreendeu-se com 
os resultados da associação da torta de mamona cJm os fertilizantes 
minerais, assim comentando: "Percebe-se claramente o efeito da incor-
poração da torta à mistura de adubos minerais. Mas a que atribuí-lo? 
Como foi exposto, a torta utilizada fornec_eu um mínimo de nutrientes: 
cerca de 1 0kg/ha de N, 4kg/ha de P 20 5 e 2kg/ha de K20. A quantidade 
total de torta utilizada é muito pequena para se admitir a possibilidade de 
sua ação sobre as propriedades físicas do solo. Uma hipótese provável 
seria a da formação de compostos organofosfatados, que competiriam 
com o processo de fixação do fósforo mineral, do superfosfato simples, 
pelos sesquióxidos de alumínio e ferro (muito comuns em Latossol roxo) , 
compostos estes que contém o nutriente em forma assimilável pelas plan-
tas". 
Comentando a produção obtida, mais adiante continua o autor da 
pesquisa: "O nitrogênio e o fósforo pouca influência tiveram, enquanto 
que a torta (torta mais NPK) propiciou um acréscimo de 17% sobre a 
produção do tratamento básico, valor muito próximo da significância es-
tatística. Nesse caso, também, a torta não deve ter funcionado como 
direta fornecedora de nutrientes. O irrisório acréscimo de 2kg de K20 
provenientes da torta não poderia explicar o seu efeito, bem superior 
àquele devido à adubação de potássio (tratamento~), que, fornecendo 
50kg de K20 a mais que no tratamento básico, aumentou em 8% a pro-
dução das plantas". 
Continuando, comenta: "Para explicar o evidente efeito da mistura 
de torta com o adubo mineral potássico, pode-se admitir um bloqueio do 
potássio nessa mistura, onde permaneceria retido sob forma mais pron-
tamente assimilável pelas plantas que àquela devida às argilas, minerais 
comuns". 
O NITROGÊNIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL 35 
Observe-se que o autor do experimento comprovou que a torta 
quando associada a fertilizantes minerais, tem um efeito além da "irrisó-
ria" (sic) contribuição em NPK que ela fornece em relação à fórmula 
mineral empregada. Ê o efeito condicionador ou potencializador que tam-
bém outros pesquisadores já comprovaram com experimentos, mas que 
todos eles não souberam explicar ou melhor, não chegaram na criação 
do fertilizante organomineral. 
Para finalizar seu trabalho o autor (55) diz textualmente nas con-
clusões: "O acréscimo de produção devido à aplicação de torta de mamona 
(4kg/ha de P 20 5) foi correspondente à aplicação de 60kg/ha de P 20 5 sob 
forma mineral. O aumento de produção devido à aplicação da torta de 
mamona (2kg/ha de K20), superou, em quase o dobro, àquele acréscimo 
de 50kg/ha de K20, sob a forma mineral". 
Ponto final! 
36 FERTI LIZANTES ORGANOMINERAIS 
5. O NITROGÊNIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL 
r-~---_-_-_-.... - __ 5.1 . Fertilizantes nitrogenados. Toda forma de 
nitrogênio mineral introduzida no solo, se não passar à for-
ma orgânica, será lavada pela água das chuvas. A única 
maneira de se armazenar nitrogênio no solo é na forma 
orgânica; é que o nitrogênio dos fertilizar.tes minerais é fa-
cilmente lavado, perdendo-se nas camadas mais profun-
das do perfil do solo. 
As formas de nitrogênio mineral amoniacal (NH 4·) ou nítrica (NQ:l-) , 
quando aplicadas na cultura como fertilizantes minerais tais como uréia, 
nitrato de cálcio, nitrato de amônio, sulfato de amônio, serão absorvidas 
pelas plantas ou pelos organismos do solo, passando para a forma orgâ-
nica, ou serão lavados e se perderão. Quando se faz análise química de 
uma amostra de terra verifica-se que 98 a 100% do nitrogênio está na 
forma orgânica e apenas menos de 2% na forma mineral. 
Os fertilizantes minerais nitrogenados como uréia, sulfato de amônio, 
DAP, MAP sempre acabam sendo lavados pela água das chuvas, não 
tendo condições de serem armazenados no solo para culturas dos anos 
seguintes. Se o fertilizante mineral contém nitrogênio na forma nítrica 
(N03-) - radical de carga negativa - não será adsorvido pelos colóides 
húmus e argila, que também são negativos (materiais de carga seme-
lhante se repelem) ; ao contrário, se o nitrogênio mineral for amoniacal 
(NH 4•) - radical positivo - então poderá ser adsorvido eletrostaticamente 
pelo complexo argilo-húmico do solo, não sendo temporariamente lava-
do; mas, infelizmente, esse armazenamento durará poucos dias, pois em 
cerca de duas semanas, bactérias nitrificadoras transformarão o nitrogênio 
amoniacal em nítrico, sujeito ao processo de lavagem. Curiosamente, os 
adubos nitrogenados difundem-se mais facilmente que os fosfatados e 
potássicos; seu nitrogênio caminha até às raízes. 
O nitrogênio orgânico existente no solo ou contido no fertilizante 
organomineral não é absorvido nesta forma pelas raízes das plantas; 
para se tornar assimilável é necessário que microrganismos transformem 
O NITROGÊNIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL 37 
0 nitrogênio orgânico em nitrogênio amínico, depois em amoniacal, de-
pois em nitrito e, em seguida, em nitrato, como mostrado a seguir: 
N ➔ N ➔ N ➔ N ➔ N 
ocgãnlco :imlnlco amoniacal-NH4 nllr11o-N02 nltrato-N03 
As formas amoniacale nítrica são as assimiláveis pelas raízes; na 
forma de nitrito, o nitrogênio é tóxico, porém, como é uma forma lábil, 
rapidamente transitória, não causa danos. 
Do exposto, verifica-se que o nitrogênio orgânico, para chegar à 
forma nitrato, que é a fase final de toda decomposição aeróbica da maté-
ria orgânica, passa obrigatoriamente pela amoniacal, como acontece 
quando se aduba um solo com sulfato de amônia, nitrato de amônio, 
uréia, etc. A passagem de nitrogênio orgânico para amoniacal e nítrica é 
lenta, fornecendo o nutriente às raízes por período mais longo. Para tor-
nar o fertilizante mineral amoniacal disponível às raízes por um período 
maior, evitando a lavagem, tem-se empregado vários expediente~; com 
a uréia, por exemplo, tentou-se tratá-la com óleo mineral, misturá-la com 
argilas ou terra "fuller'\ com o intuito de envolver os grânulos e dificultar 
sua solubilização pela água do solo; outro tratamento é com formal, que 
forma nos grânulos uma película plástica, envolvente, dificultando a so-
lubilidade da uréia; o novo produto tomou o nome de "ureaformu; aos 
fertilizantes minerais amoniacais, para permanecer por mais tempo no 
solo sem ser transformado em nitrato, sujeito à lavagem, junta-se um 
produto comercial inibidor do processo de nitrificação. 
Os fertilizantes minerais que recebem tratamentos artificiais para 
dificultar sua solubilização no solo são classificados como "adubos de 
disponibilidade controlada". Acontece que os fertilizantes orgânicos já 
possuem naturalmente seu nitrogênio com disponibilidade controlada. 
Corno o organomineral é preparado misturando-se adubos minerais com 
adubo orgânico, o nitrogênio deste último funciona com disponibilidade 
controlada, liberando o nutriente paulatinamente, enquanto que o 
nitrogênio do fertilizante mineral é de pronta assimilação. Essa combina-
ção ideal de diferentes disponibilidades de nitrogênio é que permite ao 
organomineral ser usado nas culturas de ciclo curto em uma só aplica-
ção, sem necessidade de uma posterior cobertura nitrogenada. 
' . 
38 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
5.2. Experimentos com nitrogênio e matéria orgânica. A experi-
ência demonstrou que, como o plantio e as adubações são feitos justa-
mente em época de chuvas , na cultura do milho. por exemplo, não se 
deve colocar no fundo do sulco todo o fertilizante mineral nitrogenado 
que a análise do solo indicou ser necessária; se assim se proceder, até 
que se formem as raízes fasciculadas da plantinha de milho, capazes de 
assimilar o nitrogênio do adubo, a água das chuvas já terá levado a mai-
or parte desse nutriente; a solução tem sido adubar com pequena dose 
de nitrogênio no plantio e depois de uns 45 dias da emergência , quando 
as raízes já estiverem desenvolvidas, fazer nova adubação de cobertura 
com fertilizante mineral nitrogenado. Os experimentos em que se com-
parou a adubação convencional, isto é, pequena dose de nitrogênio no 
plantio e o restante em cobertura, com a adubação organomineral levan-
do a dose total de nitrogênio já no plantio, demonstraram que não houve 
diferença estatística significativa entre os dois tratamentos, ganhando-
se com isso a mão-de-obra de aplicação do fertilizante em cobertura. 
O pesquisador francês Chaminade, foi um dos pioneiros no estudo 
da influência do húmus extraído da matéria orgânica na maior absorção 
de nutrientes pelas plantas. Chaminade (7) instalou um experimento em 
vasos contendo solução nutritiva com e sem a presença de húmus, jun-
tando uma "suspensão coloidal estável de ácido húmico e, em outra sé-
rie, uma suspensão de humato cálcico coloidal". Observou-se que "com 
pequena dose de húmus a planta absorve maior quantidade de elemen-
tos minerais; esse aumento de absorção compreende todos os elemen-
tos aplicados". O autor admite a hipótese de que a "presença de matéria 
orgânica coloidal aumenta a permeabilidade celular". Trabalhando com a 
conhecida técnica de Neubauer (usada para avaliar a fertilidade de amos-
tras do solo), Chaminade (7) empregou amostras de um subsolo limoso, 
pobre em matéria orgânica, às quais juntou humato de cálcio; observou 
que nos recipientes em que foi adicionado húmus, aumentou com regu-
laridade o consumo dos nutrientes minerais pela planta, confirmando os 
resultados obtidos quando trabalhou com solução nutritiva. Ainda mais: 
que "a ação estimulante do húmus deu lugar a um 'consumo de luxo' de 
todos os nutrientes. Na conclusão do trabalho , comenta a importante 
relação existente entre a adubação orgânica e a mineral. 
Chaminade (9) realizou outro interessante experimento em que 
doses de fósforo de O, 40, 80, 120 e 200 mg misturadas respectivamente 
com doses de potássio de O, 250, 500, 750 e 1.5000mg foram compara-
o NITROGÊNIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL 39 
das com doses de O, 200, 400, 600 e 800mg de nitrogênio. O experimen-
to comparou a produção de matéria seca de "ray-grass" (Lolium sp.) na 
ausência de matéria orgânica e com a adição de 2% de "turfa previamen-
te fermentada" . Todos os tratamentos receberam ainda, doses iguais de 
magnésio e micronutrientes. 
Nas figuras 5.1 e 5.2, estão representados os tratamentos que re-
ceberam doses crescentes de fósforo e de potássio, pelas letras 
P, e 
Na ausência de matéria orgânica, ao nível de zero de P 
O
, figura 
5.1, a ação do nitrogênio foi fraca, segundo o autor; todavia, o rendimen-
to aumentou conforme aumentaram as doses de fósforo e potássio; as 
curvas P 3 e P 4 praticamente se confundem, indicando que a partir de P 3 , 
o fósforo e o potássio não intervém mais como fator limitante e que os 
demais nutrientes minerais foram juntados em quantidades suficientes 
para não limitar a produção. 
Os aumentos da produção das curvas a partir do nível P , não po-
dem ser admitidos como um exemplo da célebre lei do mínimo de Liebig , 
que diz: "as produções das culturas são reguladas pelas quantidades do 
elemento disponlvel que se encontra em mlnimo, em relação às necessi-
dades das plantas. É que as duas curvas P 
3 
e P 
4 
se confundem, indican-
do que a partir do nível P 
3 
a adubação fosfatada não está mais interferin-
do como fator limitante, sendo o rendimento máximo obtido igual a 9,2g. 
Na presença da matéria orgânica, figura 5.2, nota-se que as curvas 
de resposta situaram-se em valores mais elevados e que as doses me-
nores de fósforo produziram quase tanto quanto as doses maiores em-
pregadas no experimento; o autor conclui que, sem dúvida, o aumento 
na produção em matéria seca obtida com três cortes sucessivos do ca-
pim, foi de 39% e ocorreu devido à ação especifica da matéria orgânica 
associada aos fertilizantes minerais. 
40 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS 
------~.,-----•·----•-?o 
SEM MATÉRIA ORGÃNICA 
200 goo 
mg . de N por vaso 
Figura 5.1. Produção de uray-grassº em função de diferentes níveis de 
nitrogênio e de fósforo, na ausência de matéria orgânica (9). 
o 
tQ 
cU 
t> ...... 
o, 
·~ . 
. • · -
P:, 'º/' •--..:~ ..,P• 
Pa 
•;.o 
.,_ 
COM 2% DE MAT~RIA ORGÂNICA 
o,...__ ___________________ _ 
200 ~00 800 000 
mg de N por vaso 
Figura 5.2. Produção de uray-grass" em função de diferentes níveis de 
nitrogênio e de fósforo, na presença de matéria orgânica (9). 
O NITROGÊNIO NO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL 41 
Em outro experimento em vasos, com solo limoso carente de maté-
ria orgânica, Chaminade (7) pesquisou a influência de diferentes doses 
de PK na presença e na ausência de húmus, cujos tratamentos e produ-
ção de mostarda estão na tabela 5.1. 
Tabela 5.1. Produção de mostarda obtida com diferentes doses de PK, 
na presença e na ausência de húmus e em dois cultives 
subseqüentes. 
Doses 
de 
Sem húmus 
nutrientes 1 º cultivo 2º cultivo 
NPOKC 19,200 15,250 
NP,K, 34,050 22,400 
NP}<2 39,950 22,650 
NP3~ 43,450 24,600 
NP,K, 47,150 30,150 
Com húmus 
1º cultivo 2° cultivo 
24,750 15,800 
44,300 20,400 
44,750 19,450 
49,350 29,950 
54,100 26,900 
O autor observou que "o aumento do rendimento apresentou

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