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1 DOL 02 - CONHECIMENTO E MÉTODOS DO CUIDAR EM ENFERMAGEM TEORIAS NOS PROCESSOS DO CUIDADO 1 O protagonismo O modo de fazer e para quem é esse fazer da enfermagem compreende as muitas relações que se estendem com os avanços científicos, o desenvolvimento de habilidades e competências, a aquisição de conhecimentos, mas, principalmente, a própria concepção de postura e empatia do profissional de enfermagem, dentro de um contexto, um cenário em que há protagonistas e fatores antagônicos a serem observados, compreendidos e, assim, estabelecidos. A importância de se estabelecer teorias de enfermagem se justifica em virtude de que, conforme dispõe o Conselho Federal de Enfermagem - COFEN (2020), o número de enfermeiros dispostos nas unidades federativas brasileiras alcança a soma de cerca de 2.249.362 profissionais, divididos em auxiliares, técnicos, enfermeiros e obstetrizes (BRASIL, 2020). Logo, um número crescente e que, já na formação acadêmica, precisa compreender sua importância, postura, ética, criticidade e finalidade. 1.1 Conceito Conforme disposto no Dicionário Online de Português (2020), enfermagem é considerada como a função de quem é responsável pelo tratamento de pessoas enfermas, providenciando remédios, fazendo curativos, cuidando da higiene do paciente. E, para Horta (1974), a enfermagem não surgiu do acaso, uma vez que tem como propósito o homem e sua finalidade é o homem, existe para servir pessoas e tem responsabilidade com a sociedade. Evidentemente, nas ações pertinentes à enfermagem, há uma gama complexa e indexada de intervenções, dentro de um cenário, um contexto, no qual há protagonistas e fatores antagônicos. Nesse sentido, assinalam Vale e Pagliuca (2011) que, “o foco da atenção da enfermagem é o ser humano, com suas necessidades biopsicosocioespirituais, e a função precípua do enfermeiro é o cuidado de enfermagem, cujo objetivo centra-se na promoção da saúde, na prevenção de doenças e na recuperação e reabilitação da saúde”. De tal forma, fica evidente que há muitas interfaces ou inter-relações que ligam e implicam na área de enfermagem, em suas ações, suas intervenções, rotinas e demandas. E, nesse cenário, o conhecimento e o desenvolvimento de habilidades, por parte do profissional em saúde, revela mais do que um modelo fundamentado numa experiência terapêutica que parte do ser, independente do ser-paciente ou do ser-enfermeiro, sobretudo, num partilhar, numa co-ação entre aquele que é alvo do cuidado e daqueles que o cuidam. 2 Logo, questões emergem visando alcançar como desempenhar o cuidado terapêutico na área de enfermagem. Em que se fundamenta o fazer do enfermeiro, o que norteia as ações e intervenções em enfermagem? De quais teorias a enfermagem lança mão? Vale lembrar aquilo que o Dicionário Online de Português (2020) define como teorias: princípios, doutrinas, ideias, conjunturas, ensinamentos, fundamentos, generalidades. 1.2 Fundamentos da enfermagem Historicamente, essa sistematização teórica foi formulada visando fundamentar os cuidados de enfermagem e possibilitar autonomia e independência quando da atuação junto ao paciente, surgindo, então, as primeiras teorias de enfermagem. 2 Teorias da enfermagem Santos et al. (2018, p. 595) destacam que, “ao longo do tempo, o “saber” e o “ser” da enfermagem eram constituídos a partir dos modelos religiosos do cuidado que perduraram até o final do século XIX. Esses modelos eram baseados em procedimentos caseiros e executados por grupos voluntários de igrejas e mesmo escravos. O objeto do cuidado eram os mais necessitados”. 2.1 Teoria ambiental De acordo com Santos et al. (2018, p. 594), até a década de 1910, tal teorização partiu da construção do processo do pensamento científico da enfermagem proposto por Florence Nightingale, com a Teoria Ambiental, que, em sua “trajetória, realizou a identificação do conhecimento e conteúdos necessários para a tomada de decisão da área. Delimitou padrões morais para o perfil de profissional e os relacionou com a doença e o ambiente na manutenção da saúde. O foco da época, denominada “enfermagem moderna”, permeou o “o que fazer?””. FIQUE DE OLHO Para Florence Nightingale, a saúde do paciente estaria atrelada a um ambiente com condições de higiene e aspectos sanitários adequadas (aeração, luz, aquecimento, silêncio e nutrição adequada). Logo, o foco era o ambiente, uma vez que este exercia influência na saúde do indivíduo. A saúde visava a um processo de reparar danos que o ambiente causara. Cabendo à enfermagem o papel de alocar o paciente em posição que culminasse num bom cuidado e, consequentemente, na sua melhora (CARVALHO, 2013). 3 2.2 Teoria do autocuidado Carvalho (2013) aponta que, em 1914, Dorothea Orem definiu a teoria do autocuidado, fundamentada nas necessidades (biológicas, psicológicas sociais ou de desenvolvimento) do autocuidado enquanto atividade aprendida e orientada por metas estabelecidas pelo próprio indivíduo para a manutenção da vida, da saúde e do seu bem-estar. Nesta teoria, a enfermagem auxilia o indivíduo a maximizar, progressivamente, suas metas de autocuidado. Segundo define Albuquerque (2015), esta teoria postulada por Orem, focada no autocuidado, seria executada através da prática de atividades que os indivíduos desempenham em seu próprio benefício para manter a vida, saúde e bem-estar. Estando o indivíduo com o poder/competência/potencial para se engajar no autocuidado, entendendo suas necessidades individuais para a manutenção desse tripé. 2.3 Teoria da adaptação Outra teoria proposta surge, então, em 1939, por Sister Calista Roy, a chamada teoria da adaptação, levava em conta o auxílio ao paciente (ser social, mental, espiritual e físico, afetado por estímulos do ambiente interno e externo) em adaptar-se às mudanças enquanto em estado de enfermidade. As intervenções em enfermagem só aconteceriam quando o paciente não conseguisse ou pudesse se adaptar às demandas internas ou externas (estas determinadas pela enfermagem que, então, determina os cuidados necessários) (CARVALHO, 2013). Albuquerque (2015) salienta ainda acerca da teoria proposta por Roy que, a adaptação se daria sobre quatro aspectos: necessidades fisiológicas (exercício/repouso, nutrição/alimentação, fluido/eletrólito, oxigênio/circulação; regulação da temperatura, regulação dos sentidos e do sistema endócrino; autoconceito (integridade psicológica do indivíduo); função no papel (regras ou limites de comportamento para ocupar uma série de posições na sociedade); e interdependência (o homem está em constante relação com os outros). 2.4 Teoria das relações interpessoais em enfermagem Carvalho (2013) aponta que, em 1952, Hildegard Peplau postulou a Teoria das relações interpessoais em enfermagem. Esta com foco nas relações interpessoais entre o enfermeiro e o paciente. Dessa relação, quando da confiança expressa pelo paciente ao enfermeiro, se estabeleceria quais seriam os problemas e quais as soluções potenciais. Logo, ambos lutariam para as tensões advindas das necessidades. Nascendo, assim, uma enfermagem 4 fundamentada na empatia, significativa, terapêutica, interpessoal, na qual o enfermeiro observa, reconhece a necessidade do paciente e reage a ela. Logo, com os avanços nas ciências física e química e das tecnologias, estas com determinantes impactos na medicina, além do fato de que, cresceu o número de instituições hospitalares, a proposição de práticas médicas e de enfermagem gerando, de tal modo, o modelo de assistência biomédico na prática de enfermagem (SANTOS et al., 2018). 2.5 Teoria holística Myra Levine, em 1967, define os pressupostos da Teoria Holística, que concebe o paciente enquanto ser dinâmico que interage num ambiente também dinâmico. Conforme Levine, o ambiente estimula fisiologicamenteos níveis de resposta do organismo e, neste, a enfermagem conservaria as energias do paciente avaliando as respostas que este dá diante desse estímulo (CARVALHO, 2013). 2.6 Teoria do modelo conceitual do homem Em 1970, Martha Rogers postula a Teoria do modelo conceitual do homem. Parte do foco de que o homem, enquanto ser unificado, íntegro, continuamente interage com o meio, e, o enfermeiro entende essa interação e dela extrai o máximo de bem-estar para o paciente. Para Rogers, a enfermagem seria para todos: ricos ou pobres, saudáveis ou doentes, independentemente do local: em casa, na escola, no trabalho, hospital ou asilo. Visava conceituar cientificamente a enfermagem como ciência e como prática, para que, assim, a enfermagem se efetivasse de forma crítica, fundamentada e segura (CARVALHO, 2013). 2.7 Teoria das necessidades humanas básicas No Brasil, segundo destacam Silva et al. (2017), já na década de 1960, através dos pressupostos definidos e propagados pela enfermeira Wanda de Aguiar Horta nasce a Teoria das necessidades humanas básicas - NHB. A preocupação estava voltada para a prática não reflexiva e dicotomizada da enfermagem, bem como, numa tentativa de unificar o conhecimento científico da enfermagem para proporcionar-lhe autonomia e independência. Teoria esta embasada na teoria de motivação humana, de Abraham Maslow. Além de precursores, os estudos de Horta motivaram, em 1979, o fazer da enfermagem por processos. No entender de Horta (1974, p. 1) a NHB: “Desenvolve-se [enquanto] uma teoria que procura explicar a natureza da enfermagem, seu campo especifico e sua metodologia de trabalho. Fundamenta- se na teoria de Maslow para explicar ser a enfermagem um serviço prestado ao Homem visando assisti-lo no atendimento de suas necessidades básicas e desta 5 maneira contribuir para mantê-lo em equilíbrio no tempo e espaço, seja prevenindo desequilíbrios, ou revertendo estes em equilíbrio. Da teoria proposta inferem-se os conceitos de enfermagem, assistir, assistência e cuidados em enfermagem. Algumas proposições e princípios também são expostos. Tendo a Teoria das Necessidades Humanas Básicas por fundamento, estabelece-se a metodologia ou Processo de Enfermagem em 6 fases: histórico, diagnóstico, plano assistencial, plano de cuidados, evolução e prognóstico. Salienta-se a importância do desenvolvimento de habilidades denominadas instrumentos básicos, para a execução do Processo de Enfermagem.” Para melhor ilustrar as cinco categorias de necessidades humanas propostas por Horta, observe a hierarquia das necessidades humanas compostas na Pirâmide de Maslow. #PraCegoVer: A imagem mostra um triângulo, indicando a fisiologia (respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase e excreção) na base na cor vermelha, aí mais pra cima tem a segurança (segurança do corpo, do emprego, de recurso, da moralidade, da família, da saúde, da propriedade) na cor laranja, em seguida tem o amor/relacionamento (amizade, família, intimidade sexual) em amarelo. Na sequência, a estima (em verde), com a autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros, respeito aos outros. E, por fim, no topo da pirâmide, a realização pessoal na cor lilás (moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceitos e aceitação dos fatos. A década de 1970, fora tão marcante para a área de Enfermagem que, nos Estados Unidos, o processo de enfermagem consistia nas seguintes fases: assessment (avaliação), diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação. Aquele crescimento incorreu na padronização de linguagem dos diagnósticos de enfermagem sendo introduzida pela NANDA - North American Nursing Diagnosis Association (SANTOS et al., 2018). 6 Aprofundando um pouco mais acerca da Teoria das NHBs, Souza (2013) assinala ainda as percepções dessa metodologia segundo João Mohana que a considera descritiva, sequencial, com caráter didático, sob a égide filosófica de que o “homem é um todo indivisível” e suas necessidades estão intimamente ligadas, ainda, classifica as Necessidades Humanas Básicas em três níveis: necessidade psicobiológicas; necessidades psicossociais; e necessidades psicoespirituais. Para Souza (2013), Mohana considera que os aspectos psicológicos do indivíduo estão intimamente relacionados com o seu próprio corpo físico, com o seu contexto social e com a sua espiritualidade (normalmente manifestada por uma religião por ele eleita), e, nesta visão, os dois primeiros níveis, as necessidades psicobiológicas e as psicossociais são comuns a todos os seres vivos, com prevalência das psicoespirituais, pois são do terceiro nível, logo, característica exclusiva dos seres humanos. Destaca-se que, de tal forma que, todo esse avanço no planejamento e na teorização das ações e intervenções do campo da Enfermagem foram extremamente profícuos, pois, naquela década (1970), as teorias de enfermagem corroboraram para o advento de um planejamento da assistência de enfermagem por meio do arcabouço conceitual construído sobre os fenômenos do cuidado, prática consolidada pelo processo de enfermagem (SANTOS et al., 2018). Santos et al. (2018) assinalam ainda que, em meados de 1980, acontece, no Brasil, via promulgação de resolução do COFEN (Conselho federal de enfermagem), a SAE (sistematização da assistência de enfermagem) enquanto atividade privativa do enfermeiro, implementada no contexto em que existe atendimento de enfermagem, com o emprego do método científico e embasamento nas teorias da área. “As teorias de enfermagem proporcionam a oportunidade de reflexão para que o graduando faça relações entre as atividades reais do trabalho e os conceitos elaborados na área. Isso permite a atribuição de significado às ações e avaliação da prática. A compreensão do potencial de suporte teórico subsidiado pelas teorias gera oportunidades para que o aluno possa ressignificar o cenário didático e apreender dele um potencial transformador em suas ações do cuidado (SANTOS et al., 2018, p. 595).” Outras teorias propuseram uma sistematização da enfermagem em diferentes visões acerca do foco, da saúde, do ambiente, da enfermagem desde então. Como exemplos, ainda, há como teorias do cuidado a Teoria da Enfermagem Transcultural de Madeleine M. Leninger, fundamentada nos cuidados da enfermagem. Estes, variam de cultura para cultura em suas expressões, processos e padrões, tais como estrutura social, religião, tradição, em que as pessoas expressam cuidado de acordo com seus valores. Logo, o 7 cuidado seria um construto social (uma relação construída ativamente) (CARVALHO, 2013). Há também, segundo ressalta Carvalho (2013), a Teoria da Ciência Filosófica do Cuidado de Jean Watson e a Teoria do Alcance dos Objetivos de Imogenes King. Albuquerque (2015) destaca ainda outras teoristas da Enfermagem, tais como: Lydia E. Hall, Virgínia Henderson, Faye Abdellah, e, Ida Orlando. Pois, para Albuquerque (2015, p. 4) “cada uma das teoristas descreve a natureza do homem oferecendo uma visão abrangente de um humanismo pluridimensional que engloba indivíduo e pessoa, corpo, mente e alma - soma psique - em constante interação com o meio ambiente formando um todo integrado ou sistema”. De acordo com Carvalho (2013), embora cada uma das teorias da Enfermagem tenha peculiaridades, a maior parte dessas teorias de enfermagem têm quatro fundamentos como pilares básicos: o ser humano (pessoa receptora do cuidado da enfermagem, desde indivíduos a família, comunidade e grupos); a saúde; o meio ambiente (físico, social e simbólico que exercem influência sobre as pessoas, cenário em que se prestam os serviços de cuidados às pessoas); e a enfermagem. Para resumir e ilustrar algumas das teorias de Enfermagem, observe o quadro a seguir. 8 #PraCegoVer:A imagem mostra um quadro com teorias que tanto fundamentam o fazer do enfermeiro quanto apontam para as interfaces ou inter-relações que a área de enfermagem apresenta quando do cuidado do outro. Como resultado da necessidade de reconhecer o significado do mundo da enfermagem, as teorias têm extrema relevância, uma vez que propõem identificar, descrever e explicar os fenômenos da enfermagem, solidificando os conceitos que fundamentam a profissão. Sobretudo porque, conforme apontam Mororó et al. (2017, p. 328), ainda que perjure um paradigma que evidencie uma prática gerencial “do enfermeiro voltada para as atividades administrativas burocráticas, pouco articulada ao cuidar, [há muitos outros estudos] que apresentaram a articulação e integração como características essenciais da gestão desse cuidado, bem como, a liderança, o trabalho em equipe, a comunicação, a articulação e a cooperação 9 exercida pelo enfermeiro com os integrantes da equipe de enfermagem, demais profissionais de saúde e usuário”. Percebe-se, então, que há mais do que adquirir conhecimentos acerca de curativos ou aferições a serem executadas por parte do enfermeiro diante de quadros de enfermidades. No entender de Mororó et al. (2017), o enfermeiro ao desenvolver suas habilidades e competências enquanto adquire conhecimentos, precisa compreender seu papel, determinar sua atitude no sentido de desempenhar o cuidado com o outro enquanto cuida de si. Uma vez que, exerce o cuidado em enfermagem primando pela assistência integral e humanizada, centrada, principalmente, nas necessidades do usuário (alguém que participa de sua experiência terapêutica, não um ser passivo). Mororó et al. (2017) apontam que, nesse cenário em que o ser-paciente e o ser-enfermeiro são protagonistas e o quadro de enfermidade seria o antagonista, o enfermeiro precisa lançar mão das tecnologias relacionais e por meio do acolhimento interagir com o paciente e sua família, visando estabelecer vínculo, mediante a concepção de que essa vinculação lhe possibilitará o estabelecimento de afetividade e confiança (interfaces imprescindíveis e essenciais para gerir o cuidado). De tal forma, através da utilização do processo de enfermagem sistematiza uma assistência humanizada, verdadeiramente terapêutica, que identifica as necessidades do paciente, delineia os diagnósticos de enfermagem, planeja e realiza a prescrição de enfermagem, implementa as intervenções voltadas para o cuidado integral e avalia os cuidados prestados. Assim sendo, o papel da Enfermagem em se tratando dos processos de cuidado parte das Necessidades Humanas Básicas (NHB), estas enquanto aquelas necessidades comuns a qualquer ser humano, logo, universais. Considerando que, o que varia de um indivíduo para o outro seria a sua manifestação e a adequada maneira de satisfazê-las ou atendê-las. Isto entendendo-se que, se o organismo humano está em equilíbrio dinâmico (homeostasia), as NHBs não se manifestam (SOUZA, 2013). Portanto, conforme assinala Souza (2013), processo de assistência de enfermagem (SAE) pode ser caracterizado a partir da teoria proposta por Horta, em 1979, enquanto o conjunto de ações sistematizadas e relacionadas entre si, visando principalmente a assistência ao cliente-paciente a partir de fases tais como: histórico; exame físico e sinais vitais; diagnóstico e prescrição; e evolução. Acerca de como se dá o Sae a partir da metodologia do cuidado em Enfermagem é o que será abordado no tópico a seguir. 10 3 Metodologia do cuidado em enfermagem Após visto as teorias de enfermagem, evidencia-se que, o processo de cuidado se estabelece por meio de formas, meios ou modos de fazer esse cuidado para com o outro. Contudo, por que há teorias, metodologia que ensine o homem a cuidar? Por que na sociedade contemporânea seria preciso humanizar o cuidado para com o outro? No entender de Santos et al. (2017) esta necessidade advém do fato de que, vivenciamos um contexto em que há a hegemonia da economia e da tecnologia. Estas se sobrelevaram à política, à religião e, principalmente, às relações humanas. Embora com o advento da industrialização tenha se originado a modernização, o avanço tecnológico e a supervalorização da ciência, a sociedade atual encontra-se imersa em exacerbado processo de mudança, ocasionando, assim, dispersão e carência de referenciais, um vazio racional e ontológico fundamental (este relativo às noções de existência, realidade e natureza do ser). Sendo assim, faz-se necessário o entendimento de que, embora haja este contexto que evoca um abandono das relações existenciais, segundo apontam Santos et al. (2017, p. 1) “a enfermagem, como profissão da área da saúde, tem historicamente, seu conhecimento disciplinado no cuidado humano. É, pois, incoerente e inaceitável que esse cuidado seja desempenhado por meio de ações consideradas 'robotizadas'”. O fazer da enfermagem não parte somente do modo como é preciso que se faça. É compreender que, o que se faça, precisa ser feito de forma precisa, segura, orientada, postulado por dois princípios: o respeito ao outro, e, a mutualidade como ponto de equilíbrio, sem paternalismos, mas, sim, autonomia de todos os envolvidos no processo de cuidado, no momento doença-saúde. De tal forma, conforme postulam Vale e Pagliuca (2011, p. 107), esse entendimento do fazer por meio de um modo ou metodologia fundamentada no processo do cuidar, focado no ser humano já precisa emergir quando da formação acadêmica do profissional de saúde, culminando em enfermeiros “aptos a intervirem no processo saúde-doença por meio da utilização de cuidados competentes”. Sobretudo, segundo assinala Costa (2014, p. 234), adotar a metodologia do cuidado se faz necessária em virtude de que, “a procura de níveis cada vez mais elevados da qualidade do desempenho profissional e dos cuidados prestados, aliados aos problemas quotidianos decorrentes da escassez de recursos humanos e financeiros, afetam os enfermeiros de todo o mundo e tem motivado a exploração de vias alternativas, surgindo novas concepções de cuidados de enfermagem e de novos modelos de organização da prestação dos mesmos cuidados”. Logo, ações como o cuidar como função primeira do enfermeiro visando promover saúde, prevenir doenças, recuperar e reabilitar a saúde do outro emergem como pilares do fazer da enfermagem. 11 “Ao posicionar o cuidado de enfermagem no contexto de um agir solidário na vida e na morte, a Enfermagem respeita as razões morais de cada cidadão ao mesmo tempo em que convive com dores e alegrias advindas da relação interpessoal. Ao operar nesta dimensão, às vezes extremas, o cuidado orientado pela solidariedade busca a simetria e o equilíbrio nas suas múltiplas atividades enquanto função cuidadora (SANTOS et al., 2005, p. 267).” Antes, compreende-se que, o cuidar é mais do que um ato. Tem relação com a atitude de quem cuida para quem é o alvo do cuidar, dentro de um contexto que envolve aspectos sociais, econômicos, emocionais, individuais, dentre outros. Então, envolve mais do que atenção e zelo, envolvendo, primeiramente, atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o outro (GRAÇAS; SANTOS, 2009). 3.1 Atitude de cuidado O que seria, afinal, o cuidar em enfermagem? Um ato técnico? Procedimentos? Intervenções? Técnicas? Nas concepções de Graças e Santos (2009, p. 201), cuidar estaria para um “fenômeno que dá possiblidade à existência humana como humana. Nesse sentido, o homem é um ser de cuidado que é um modo de ser, particular, do homem. Sem cuidado, deixamos de ser humanos”. É parte integrante do processo de sobrevivência e manutenção da vida, é parte dos valores da humanidade. O cuidado manifesta-se na preservação do potencial saudável dos cidadãos e depende de uma concepção ética que contemplea vida como um bem valioso em si. Por ser um conceito de amplo espectro, pode incorporar diversos significados. Ora quer dizer solidarizar-se, evocando relacionamentos compartilhados entre cidadãos em comunidades, ora, dependendo das circunstâncias e da doutrina adotada, transmite uma noção de obrigação, dever e compromisso social. O cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e se concretiza no contexto da vida em sociedade. Cuidar implica colocar-se no lugar do outro, geralmente em situações diversas, quer na dimensão pessoal, quer na social. É um modo de estar com o outro, no que se refere a questões especiais da vida dos cidadãos e de suas relações sociais, dentre estas o nascimento, a promoção e a recuperação da saúde e a própria morte (SANTOS et al., 2005, p. 267). “Então, como fazer esse cuidado? Pois, de acordo com Graças e Santos (2009), há teorias de enfermagem que norteiam o fazer no campo da aquisição do conhecimento. Contudo, dessas teorias disponíveis, poucas são de natureza prescritiva, ou seja, que elencam instrumentos para a prática, o fazer do enfermeiro.” 12 3.2 Sistematização do cuidado No entender de Santos et al. (2005), a ação do cuidar em enfermagem consiste em empenhar esforços transpessoais de um ser humano para o outro, nos quais tarefas como proteger, promover e preservar a humanidade, ajudar pessoas a encontrar significados na doença, no sofrimento e na dor, bem como, na existência sejam parte da rotina do profissional em saúde, o enfermeiro. Além de ajudar outra pessoa a obter autoconhecimento, controle e auto cura. Vale lembrar que, conforme postulam Trindade et al. (2016, p. 76), PE (processo de cuidado) tem como conceito que, “constitui-se em um método de trabalho utilizado por enfermeiros para guiar a prática assistencial. Este organiza-se de forma sequencial e sistemática, que contribui para auxiliar na organização e promoção de estratégias de atenção específicas para a clientela assistida, incluindo as diretrizes para o cuidado humanizado e a segurança do paciente”. Principalmente, enquanto método, o processo de cuidado organiza-se em cinco fases inter-relacionadas que direcionam tanto o enfermeiro quanto o paciente-ativo para que, juntos, usando do princípio da mutualidade, realizem a investigação da busca e determinação das necessidades de cuidados a serem efetivados quando do quadro doença-saúde, bem como na determinação dos diagnósticos de enfermagem para problemas de saúde reais ou potenciais, na identificação dos resultados esperados, quando do planejamento e da implementação do cuidado e da avaliação dos resultados, possibilitando, ainda, ao enfermeiro avaliar sua prática assistencial (TRINDADE et al., 2016). Evitando, de tal modo que, “a enfermagem tem procurado compreender o ser humano em sua totalidade, deixando de lado aquele ser fragmentado que, muitas vezes, revela- se apenas como depositário de seu fazer. Um fazer que se respalda no conhecimento objetivo, técnico-científico, numa relação sujeito-objeto, esvaziada de qualquer ação de natureza expressiva (GRAÇAS; SANTOS, 2009, p. 201).” Assim, a adoção da metodologia do cuidado configuraria mais do que mera utilização do modelo teórico de enfermagem, uma vez que, o uso de tal metodologia precisa, antes de tudo, refletir e contemplar a demanda do cenário, do contexto em que há a necessidade do processo de cuidado. Para Santos et al. (2017, p. 1) esta adoção precisa acontecer de forma efetiva, sobretudo porque, “há a necessidade de se refletir que a crescente cultura tecnológica não pode e não deve afastar o cuidado, a relação, o diálogo, as trocas e empatias entre profissionais e sujeitos do cuidado. Elas devem ser incorporadas para dinamizar, facilitar e guiar condutas de melhoria da saúde das pessoas e das condições do trabalho no setor saúde”. De tal modo, o enfermeiro tem a disposição teorias, modelos de enfermagem que o conduz no fazer da enfermagem. O que vai diferir entre os vários modelos é o modo como a base de dados será organizada, abrangendo 13 as diferentes abordagens para o cuidado, pois os diferentes modelos de enfermagem conduzem às formas diversas de cuidado, devendo sempre primar para um fazer mais humanizado e qualificado (SANTOS et al., 2019). Vê-se, assim que, há a possibilidade de que aconteça nas rotinas em enfermagem a prática do enfermeiro, com tendência à adesão a práticas rotineiras do que à aplicação de práticas reflexivas por parte dos profissionais. Possiblidade esta que precisa ser revista e aprimorada de forma a perjurar as práticas reflexivas, empáticas e humanizadas. A práxis do enfermeiro deve envolver o seu conhecimento a respeito das transformações e inovações adaptadas às novas tendências do cuidado, buscando a promoção da saúde e bem-estar do ser humano. Necessariamente, devido às mudanças sociais, políticas e econômicas, o corpo de conhecimento de enfermagem deve ser aprimorado para acompanhar e propor um cuidado avançado (SANTOS et al., 2019, p. 596). Então, o enfermeiro precisa buscar construir seu fazer a partir de uma base do conhecimento científico postulado para a área da enfermagem. Este conhecimento advindo das concepções das teorias de enfermagem. Sobretudo, o enfermeiro tem como exigência a incorporação de novos conhecimentos para o desenvolvimento não apenas quando do cuidado com o paciente, mas também, de tecnologias a nível de educação, investigação, assistência e gestão (SANTOS et al., 2019). De acordo com Rodrigues (2019, p. 1), a SAE (sistematização da assistência de enfermagem) configura-se em uma metodologia desenvolvida “a partir da prática do enfermeiro para sustentar a gestão e o cuidado no processo de enfermagem. O método é organizado em cinco etapas, que ajudam a fortalecer o julgamento e a tomada de decisão clínica assistencial do profissional de enfermagem”. Nesse sentido, o profissional enfermeiro consegue agir de acordo com as fases como: a priorização; a delegação; a gestão do tempo; e a contextualização do ambiente cultural do cuidado prestado. Principalmente porque, com a utilização da SAE enquanto metodologia, fica possível analisar as informações obtidas quando da observação e inferência junto ao paciente e seu quadro doença-saúde, definindo, assim, padrões e resultados decorrentes das condutas disponíveis. Lembrando sempre que, todos os dados observados e levantados deverão ser devidamente registrados no prontuário do paciente-cliente. 14 4 O cuidado como processo O processo do cuidado, conforme assinala Rodrigues (2019, p. 1), nestes termos, passa a ser organizado em cinco etapas relacionadas, interdependentes e recorrentes. Confirma a seguir. 4.1 Coleta de dados de enfermagem ou histórico de enfermagem Rodrigues (2019) define que, neste primeiro passo para o atendimento de um paciente faz-se a busca por informações básicas que definem os cuidados a serem efetivados pela equipe de enfermagem. Vale lembrar que, esta etapa não é aleatória nem sem fundamentos, pois, faz parte de um processo deliberado, sistemático e contínuo, na qual a coleta de dados e as informações podem ser alcançadas do próprio paciente, da família ou então, por outras pessoas envolvidas. Assim, a importância dessa etapa está nas informações obtidas, uma vez que proporcionarão maior precisão de dados ao processo de enfermagem dentro da metodologia da SAE. E, o que se busca? Desde informações sobre alergias, histórico de doenças e até mesmo questões psicossociais, como, por exemplo, a religião, lembrando que, o ambiente interno e externo tem influência sobre o quadro doença-saúde do paciente e pode alterar de forma contundente os cuidados prestados ao paciente (RODRIGUES, 2019). Entende-se que o processo de cuidado pode ser otimizado por meio da utilização de PEP(prontuário eletrônico do paciente); também há a possibilidade do uso de formulários específicos que direcionem o questionamento do profissional enfermeiro e possibilitem até o registro on-line dos dados, que podem ser acessados por todos da instituição de saúde, inclusive de forma remota. Tornando, dessa forma, possível a realização das intervenções necessárias para a prestação dos cuidados ao paciente, isto com maior segurança e agilidade para ambos os protagonistas deste cenário (RODRIGUES, 2019). 4.2 Diagnóstico de enfermagem Para Rodrigues (2019), esta etapa efetiva um processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados que conduz à tomada de decisão sobre os diagnósticos de enfermagem, que irão representar as ações e intervenções, para alcançar os resultados esperados. Nesse sentido, faz-se, então, uso de bibliografias específicas que possuam a taxonomia adequada, bem como as definições e as causas prováveis dos problemas levantados quando da etapa 1 no levantamento do histórico de enfermagem. Dessa forma, se faz a elaboração de um plano assistencial adequado e único para cada pessoa. Portanto, tudo que for definido deve ser 15 registrado no prontuário do paciente, revisitado e atualizado sempre que necessário (RODRIGUES, 2019). 4.3 Planejamento de enfermagem Rodrigues (2019) destaca que, com a adoção da SAE, há uma organização do trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, dando aos enfermeiros a possibilidade de atuar para prevenir, controlar ou resolver os problemas de saúde. Nesta terceira etapa, define Rodrigues (2019) que, ocorre o planejamento de enfermagem, no qual são determinados os resultados esperados e quais ações serão necessárias, sendo realizado a partir dos dados coletados e diagnósticos de enfermagem com base dos momentos de saúde do paciente e suas intervenções. Informações esta que, igualmente, devem ser registradas no prontuário do paciente, incluindo as prescrições checadas e o registro das ações que foram executadas, por exemplo. 4.4 Implementação Segundo assinala Rodrigues (2019), uma vez efetivada a busca e coleta das informações obtidas e focadas na abordagem da SAE, a equipe de profissionais de enfermagem realiza as ações ou intervenções determinadas e definidas na etapa do planejamento de enfermagem. Estas são aquelas atividades que podem ir desde uma administração de medicação até auxiliar ou realizar cuidados específicos, como os de higiene pessoal do paciente, ou mensurar sinais vitais específicos e acrescentá-los no prontuário, por exemplo. Neste momento do fazer da enfermagem, pode o enfermeiro lançar mão do uso de dispositivos que otimizam o registro destas informações para dentro do prontuário eletrônico do paciente, citando como exemplo o aplicativo Beira- Leito, que permite que os dados sejam registrados assim que mensurados ou executados ainda à beira leito do paciente, assim, ajudando na coleta de dados, aferindo os dados vitais do paciente, checando as prescrições e medicações, dentre outros. Isso sendo possível por meio de smartphones e tablets (RODRIGUES, 2019). Evidenciando-se que: Segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina CFM 1638/2002, prontuário é o “documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo”. O prontuário do paciente pode ser em papel ou digital. Contudo, a metodologia em papel não garante uniformidade nas informações e permite possíveis quebras de condutas, além de ser oneroso na questão do seu armazenamento, bem como na questão da sustentabilidade (RODRIGUES, 2019, p. 1). 16 Rodrigues (2019) defende também que, o emprego de aplicativos de auxílio nos processos de cuidado tais como o beira-leito incidem em menos erros das equipes médicas. Fator este que figuram entre as principais causas de morte no Brasil e no mundo. Aplicativos de auxílio evitariam falhas como trocas de medicação até falhas na identificação e registro dos dados, citando como exemplos. Esses problemas são ainda maiores quando pensamos em hospitais lotados, com profissionais que atendem um grande fluxo de pacientes por dia e realizam vários processos manuais. Logo, aplicativos como o beira-leito serviriam para auxiliar ações como tipo, horário e quantidade da medicação, alterações no estado clínico, sinais vitais, se a medicação foi aplicada ou não, dentre outros. 4.5 Avaliação de enfermagem (evolução) Por fim, Rodrigues (2019) aponta como última etapa o registrar dos dados no prontuário eletrônico do paciente de forma deliberada, sistemática e contínua. Nele, deverá ser registrado a evolução do paciente para determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcançaram o resultado esperado. De tal maneira, com todas essas informações, o profissional enfermeiro tem a possibilidade de verificar a necessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do processo de enfermagem, bem como a possiblidade de proporcionar informações que irão auxiliar as demais equipes multidisciplinares na tomada de decisão de condutas, como no próprio processo de alta. Rodrigues (2019, p. 1) salienta ainda o uso da tecnologia no processo de cuidado da enfermagem em todas as etapas da metodologia SAE, uma vez que, “os recursos tecnológicos prestam suporte para que a metodologia seja realizada com efetividade. A integração dos dados e a possibilidade de estar a par de todo atendimento ao paciente de forma remota, auxiliam o processo, aumentam a segurança e o cuidado com o paciente”. Nas concepções de Trindade et al. (2016, p. 76), o maior desafio para a consolidação da metodologia do cuidado através da SAE estaria “no pouco conhecimento sobre este método, resistência dos profissionais em realizá-lo e a carência de recursos humanos para seu desenvolvimento. Destaca-se ainda o ensino incipiente sobre tal metodologia durante a graduação”. Assim sendo, verifica-se que há modos e mecanismos que norteiam o fazer da enfermagem para uma prática assistencial efetiva, segura e de qualidade, focado no cuidado, mesmo que a metodologia do cuidado ainda esteja em implementação em muitas instituições de saúde, e, ainda persistam alguns apresenta desafios para a sua consolidação em todas as suas fases, os enfermeiros podem desde sua formação acadêmica procurar meios para a superação de tais obstáculos quando do cuidar. 17 5 Raciocínio em enfermagem Conforme assinalam Santos et al. (2019, p. 596) em decorrência de a enfermagem “estar inserida em cenários caracterizados por assistência biomédica, hospitalocêntrica, fragmentada e tecnicista, podem ocorrer influência nos perfis de atuação dos enfermeiros com divergências de modelos conceituais da profissão que estruturam o raciocínio clínico do enfermeiro”. A prática assistencial de enfermagem e a ampliação da autonomia profissional dependem da consolidação do saber próprio da profissão. Esse “saber” relaciona-se com o “ser”, sustentado pelas teorias da área. Tal compreensão da função e do papel social do enfermeiro para o pleno exercício legal, ético e moral da profissão caracteriza a postura e atitude do enfermeiro (SANTOS et al., 2019). 5.1 Habilidades do profissional Conforme definem Carvalho, Oliveira-Kumakura e Morais (2017) o raciocínio em enfermagem é uma habilidade a ser desenvolvida pelo profissional enfermeiro, isto porque é essencial para um processo de cuidado seguro e eficaz. É também um desafio, uma vez que, o enfermeiro precisa buscar e desenvolver, por meio de estratégias e experiências, o aprimoramento de tal habilidade. Todo o processocomeçando pelos processos de pensamento que são: conceber, julgar, raciocinar. Estes auxiliam o alcance dos dados junto ao paciente quando do quadro doença-saúde. Tendo o enfermeiro optado por uma metodologia do cuidado, realiza a seleção das melhores intervenções de assistência, e, então, julgando a melhor estratégia de cuidado, efetiva a tomada de decisão. Para melhor ilustrar essa definição de Carvalho, Oliveira-Kumakura e Morais (2017) acerca do raciocínio crítico e do julgamento clínico do enfermeiro, observe a figura a seguir. 18 #PraCegoVer: A imagem mostra os processos do pensamento, apoiados nas habilidades para o pensamento crítico, que compõem o raciocínio clínico, subsidiando a tomada de decisão clínica (diagnóstica ou terapêutica). Logo, deve o enfermeiro reconhecer os significados conceituais das teorias de enfermagem desde a sua formação. Teorias e modos que contribuem para dar sentido à sua prática assistencial, podendo esta postura e atitude por parte do enfermeiro diferenciar-se na construção do raciocínio e do julgamento clínico, além de interferir na escolha das melhores intervenções de enfermagem, na identificação dos fenômenos pelos quais é responsável. Dessa forma, poderá alcançar os melhores resultados (SANTOS et al., 2019). No entender de Peixoto e Peixoto (2017, p. 126) “o pensamento crítico em enfermagem pode ser definido como o processo de julgamento intencional e reflexivo sobre problemas de enfermagem, onde o foco é a tomada de decisões clínicas, a fim de prestar cuidados seguros e eficazes”. Neste complexo e mutável ambiente de prestação de cuidados, os profissionais de enfermagem necessitam de pensar permanentemente e desenvolver habilidades que permitam a resolução de problemas reais ou potenciais, através de um efetivo julgamento clínico e uma eficaz tomada de decisão (PEIXOTO; PEIXOTO, 2017, p. 126). Para Santos (2017, p. 1) a questão do raciocínio crítico e o julgamento clínico do profissional enfermeiro estaria estabelecido já desde a própria história da enfermagem, uma vez que, tudo começou com a técnica, avançou para os princípios científicos, chegou à teorização do seu saber e enfrenta no momento atual o desafio de operacionalizar a sua prática, incluindo exatamente técnicas, métodos, teorias e instrumentos que auxiliem a tomada de decisão e organização do trabalho sob uma égide crítico-clínica. 5.2 Renovação na busca por mudanças Segundo Santos et al. (2017, p. 1), para desenvolver senso crítico e aprimorar seu julgamento clínico, faz-se necessário que o profissional enfermeiro esteja empenhado “com a sua prática, buscando renovar constantemente seus conhecimentos. Deve também buscar sempre aproximação com o principal sentido da sua profissão, o cuidado, que se traduz por proteger, promover e preservar a humanidade, ajudando pessoas a encontrar significados na doença, no sofrimento, na dor e na própria existência”. Nas concepções de Carvalho, Oliveira-Kumakura e Morais (2017), uma definição para julgamento clínico do profissional enfermeiro parte do fato de que, julgamento pode ser compreendido igualmente como o raciocínio crítico, uma capacidade flexível e diferenciada para reconhecer aspectos (dados) relevantes de uma situação clínica indefinida, levando o enfermeiro a interpretar seus significados e dar uma resposta apropriada diante de determinado quadro ou 19 situação, pois, ao realizar um julgamento, o enfermeiro usa o seu pensamento crítico. Segundo postulam Carvalho, Oliveira-Kumakura e Morais (2017), tanto o raciocínio crítico quanto o julgamento clínico do enfermeiro são habilidades que podem ser aprendidas e configuram atitudes necessárias para o profissional. Habilidades estas que estão alocadas em três categorias: Segundo destacam Peixoto e Peixoto (2017), o desenvolver raciocínio crítico e julgamento clínico efetivo por parte do profissional enfermeiro tem três motivos essenciais: pela necessidade de o enfermeiro utilizar julgamento independente, ou seja, de atuar suportado por uma avaliação racional da situação e não de forma preconceituosa ou de submissão sem questionamento, às imposições de outros profissionais e das instituições; pela libertação do indivíduo, em que o profissional se afasta do controle de crenças e atitudes injustificadas, e age de acordo com os próprios ideais tendo em consideração sempre os dos outros; e pela necessidade de se desenvolver, em benefício do receptor de cuidados, a racionalidade no julgamento clínico e cientifico inerente ao processo de enfermagem. Verifica-se, então que, a habilidade do raciocínio clínico em enfermagem se estabelece a partir de um processo mental complexo e dinâmico, que pode acontecer já na identificação de situações que demandam atendimento de enfermagem, envolvem também a seleção de ações necessárias para esse atendimento de assistência ou cuidado, isto para o alcance de resultados de 20 promoção de saúde e manutenção da vida pelos quais a enfermagem é responsável. Sobretudo, para o pleno exercício profissional sob a égide do raciocínio crítico por parte do enfermeiro, este precisa estar imbuído de amplo conhecimento teórico, alicerçado pela experiência adquirida na prática, e, tendo aprimorada a capacidade de julgamento e de raciocínio com o constante uso do bom senso. É propor ao enfermeiro desde a sua formação acadêmica e pela vida profissional a fora a continua busca pelo desenvolver e dominar habilidades de pensamento suportado pelo facto de que o raciocínio e a crítica, quando inseridos no pensar, são ferramentas mentais essenciais para a compreensão da realidade e ajuste do conhecimento. É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: aprender que o fazer da enfermagem compreende as muitas relações que se estendem com os avanços científicos, com a postura e empatia do profissional de enfermagem, dentro de um contexto; conhecer as teorias de enfermagem (princípios, doutrinas, fundamentos, generalidades, dentre outros) é também reconhecer inter-relações ou interfaces que implicam nas ações, intervenções, rotinas e demandas da enfermagem; entender que há muitas teorias de enfermagem. A 1ª nasceu dos preceitos de F. Nightingale, em 1910, com a Teoria Ambiental e, a teoria que embasa a SAE fora postulada por W. Horta, em 1979; estudar que a enfermagem tem, historicamente, seus conteúdos e fundamentos voltados para o cuidado humano; compreender que o raciocínio crítico em enfermagem configura-se nas muitas habilidades, conhecimentos e destrezas que o profissional precisa desenvolver e aprimorar para o efetivo processo de assistência. E que o julgamento clínico inicia-se quando o enfermeiro adota um processo de pensamento baseado nas ações: conceber, julgar e raciocinar. 21 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, R. Teorias da Enfermagem. Disponível em: http://files.robertoalbuquerque.webnode.com.br/200000007- 233b223b88/Teorias%20da%20Enfermagem.pdf. Acesso em: 13 fev. 2020. BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Enfermagem em números. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/enfermagem-em-numeros. Acesso em: 14 fev. 2020. CARVALHO, E. A. As teorias de enfermagem e sua interface nos, notas de estudo de Enfermagem. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Enfermagem. 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