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APOSTILA-DE-PSICOPATOLOGIA

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1 
 
 
PSICOPATOLOGIA 
1 
 
 
Sumário 
 
Psicopatologia ................................................................................................. 3 
Conceitos e atribuições históricas da loucura .............................................. 3 
Séculos XVI e metade do século XVII: modelo mágico ............................ 3 
Renascimento: Loucura anexada à razão ................................................ 4 
Século XVIII: Loucura como enfermidade mental: Nascimento da clínica 
psiquiátrica .......................................................................................................... 6 
Século XIX: Teoria da degenerescência ................................................ 11 
Século XX: Movimentos críticos à tradição psiquiátrica ......................... 13 
História da Psicopatologia .......................................................................... 16 
Principais métodos de investigação ....................................................... 18 
Diferentes abordagens na psicopatologia .............................................. 19 
Síndromes psicopatológicas ...................................................................... 22 
Transtornos de ansiedade: ansiedade normal e patológica ................... 23 
Transtornos da ansiedade ...................................................................... 25 
Os transtorno de personalidade ............................................................. 26 
Transtornos do humor ............................................................................ 28 
Os transtornos esquizofrênicos .............................................................. 30 
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação 
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Psicopatologia 
A etimologia da expressão Psicopatologia é composta de três palavras gregas: 
psychê, que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; pathos, que resultou 
em "paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento", "assujeitamento", 
"patológico" e logos, que resultou em "lógica", "discurso", "narrativa", "conhecimento". 
Dessa forma, Psicopatologia pode ser compreendida como um discurso ou um saber 
(logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, um discurso 
representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico 
sobre o padecer psíquico. A psychê é 
alada; mas a direção que ela toma lhe 
é dada pelo pathos, pelas paixões. 
A Psicopatologia é uma ciência 
complexa, uma ciência natural, 
destinada à explicação causal dos 
fenômenos psíquicos mediante os 
recursos e teorias acerca dos nexos 
extraconscientes que determinam 
esses fenômenos; e é ciência do espírito, voltada para a descrição das vivências 
subjetivas, para a interpretação das suas expressões objetivas e para a compreensão 
de seus nexos internos e significativos. A Psicopatologia deve considerar o individuo 
globalmente atentando sempre para os padrões de normalidade aonde o indivíduo a 
ser questionado está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas. 
Considerar um sintoma isolado é fazer com que o objetivo principal de entendê-lo 
(compreender o indivíduo) seja esquecido. 
 
 
 
Conceitos e atribuições históricas da loucura 
Séculos XVI e metade do século XVII: modelo mágico 
 
4 
 
 
A Mania, loucura profética, foi descrita por Homero, na Grécia Antiga, 
atribuindo-se a ela um sentido de sabedoria oracular e mística. A loucura ritual ou 
dionisíaca é outra manifestação de loucura entre os gregos, a qual deu origem aos 
carnavais, que trazia a ideia de que é necessário se liberar das forças “subterrâneas, 
instintivas” da natureza para não enlouquecer. 
 
 
O cristianismo radicalizou o caráter de exterioridade da loucura, atribuindo sua 
causa ao daimon cristianizado, o demônio, valorizando-a negativamente como fruto 
do pecado, responsabilizando moralmente o sujeito por ela acometido. Foi assim que 
fenômenos como os das epidemias de feitiçaria, ocorridos na Idade Média, 
transformaram-se na origem da Inquisição, que foi o “tratamento” indicado pela Igreja 
para curar esta “doença” espiritual. 
 
Renascimento: Loucura anexada à razão 
 
Na metade do século XVII, com a chegada do Renascimento (mundo moderno) 
houve um grande avanço da ciência e da tecnologia ocasionando o desenvolvimento 
da burocracia, da formalização da lei, da difusão das letras e da instrução, e o 
florescimento da economia de mercado levando à valorização da Racionalidade. A 
loucura passa a ser anexada à razão sofrendo sua mais radical modificação. 
Foucault foi o primeiro a estudar profundamente esta questão em sua tese de 
doutorado, “História da loucura na idade clássica”. Mais do que se excluírem, loucura 
e razão aparecem em sua obra animadas por forças que as integram, complementam 
e se fecundam reciprocamente. Loucura e sensatez, razão e desrazão se aliam na 
experiência humana. Diz Foucault que “a loucura é um momento duro porém 
essencial no trabalho da razão; através dela, e ainda em suas vitórias aparentes, a 
razão se manifesta e triunfa” . 
5 
 
 
Relata Foucault que no auge do racionalismo, favorecida pelos escritos de 
Hegel, a razão surgiu como soberana. Foi, todavia, com Descartes que Foucault e 
outros encontraram, já na modernidade, o primeiro corte radical entre a loucura e a 
razão. Na “Primeira” das Meditações Metafísicas, que tem o título “Das coisas que se 
podem duvidar”, escreve Descartes: 
 
 
Com este “são loucos”, Descartes expulsou de cada um a possibilidade do 
outro da loucura e inaugurou a visão moderna, base para a nosografia psiquiátrica. 
Na nascente sociedade burguesa, começava a despontar o privilégio pela razão. Foi 
a "dúvida" de Descartes que encerrou a vitória definitiva à razão (a partir do momento 
em que se antepôs à dialética desatino/razão). O sujeito que duvida, duvida, logo, 
não pode estar louco. 
A razão é o meio pelo qual o sujeito acessa a verdade. O encerramento dos 
loucos estava franqueado e a partir do século XVII. O aparato legal encontrava formas 
de afastar todos que alteravam a ordem social, forma inovadora de tratar da questão 
como uma medida econômica e precaução social. No entanto, não são apenas os 
loucos (como os conhecemos hoje) aqueles que serão internados. Mendigos, 
vagabundos, libertinos, bandidos e os próprios loucos fazem parte desse espaço que 
era único. Não havia um juízo que diferenciasse qualquer das categorias acima. Elas 
simplesmente faziam parte do erro, da não-tentativa à verdade. Assim, o Hospital 
Geral nessa época não possui um caráter médico. 
 
6 
 
 
Século XVIII: Loucura como enfermidade mental: Nascimento da clínica 
psiquiátricaAo final do século XVIII, em vários países da Europa aconteceu um movimento 
de cunho filantrópico que revolucionou a assistência dos alienados e nele 
encontramos a figura de Philippe Pinel (1745-1826). Sintonizado com a sua época, 
leitor dos grandes médicos modernos como Cullen, e dos filósofos Locke, Condillac, 
não agiu em seu tempo aleatoriamente ou intuitivamente. 
Pinel estabeleceu os fundamentos da clínica psiquiátrica, estruturando-a como 
experiência (que privilegia o olhar), um método (a análise, apropriada de Condillac) e 
linguagem (privilegia os signos), numa formalização que ficou conhecida como 
método clínico. Suas obras principais foram: Nosografia Filosófica ou o Método da 
Análise, aplicado à medicina de 1798, e Medicina Clínica ou a Medicina tornada mais 
precisa e mais exata pela aplicação da análise de 1802. 
Influenciado por Locke, Pinel via o conhecimento como um processo cuja base 
é a observação empírica dos fenômenos que constituem a realidade, ou seja, o 
conhecimento tem origem na experiência, nas percepções dos sentidos. Ao introduzir 
o método de análise, ele estrutura a clínica: experiência que privilegia o olhar que 
observa e procura traduzir o visível no enunciável. 
Para Pinel, as alienações mentais seriam devidas a distúrbio funcional do 
sistema nervoso central, as lesões poderiam ou não existir, seriam apenas 
contingentes. Dentro desta concepção, surgem os asilos especializados na custódia 
e tratamento dos alienados, promovendo o chamado “tratamento moral”. A pretensão 
de tal tratamento era moderar as paixões e destruir os delírios a partir do trato amável, 
da persuasão e respeito pela autoridade do médico. O desejo era fazer do louco um 
bom cidadão, um sujeito produtivo e autodisciplinado. Isto podia ser apenas pensado, 
pois, ainda que ancorado na antiga noção de paixões, o processo mórbido, nos ideais 
pinelianos, mantinha o germe da razão. 
A ideia básica era que o alienado, ainda que muito enfermo ou desprovido de 
sua identidade e liberdade moral, conservava um pé no mundo dos civilizados e 
então, reconduzindo-se as paixões a um novo estado de harmonia, ele recobraria a 
7 
 
 
ordem e a clareza que havia perdido. Hegel foi quem captou o vestígio de razão que 
seguia coabitando com a loucura e fez até um elogio a Pinel. 
 
 
Deve-se destacar, não obstante, que esta ideia de Hegel a respeito de Pinel 
não é compartilhada por muitos autores atuais. Como exemplo cita-se o próprio 
Foucault, o qual considera que o trabalho de Pinel libertou os pacientes de suas jaulas 
e algemas, mas os sujeitou à noção de enfermidade, ao asilo e à disciplina 
psiquiátrica. A loucura reduzida quase completamente à enfermidade (nosologia), a 
criação de asilo (institucionalização), a promoção do tratamento moral (caráter 
terapêutico) e a lei de 30 de junho de 1838 (caráter legal) são expressões do trabalho 
deste homem que propunha erradicar o termo “folie” e substituí-lo por “alienation 
mentale”, no rigoroso intento de fazer entrar a loucura no discurso médico. Alienação 
era definida por ele e seus seguidores como um processo único que aglutinava não 
somente as possíveis e profundas variedades mórbidas, mas também os estados de 
afetação moral que induzem a uma perda de liberdade em conseqüência das lesões 
do entendimento. 
Todavia, como qualquer outra enfermidade, a alienação deve ser examinada 
em todas as suas variedades e o alienado, enquanto enfermo, requer tratamento 
específico e estabelecimento adequado para o tratamento. Deste movimento, que 
aproxima a loucura da medicina, origina-se a psiquiatria. Ao aproximá-la do modelo 
médico acaba por delimitar sua exclusão desse modelo: a nosografia contrastava com 
aquela apresentada pela medicina; havia dúvidas, até mesmo pelos médicos 
alienistas, de que seu substrato etiológico se encontrava em uma alteração 
anatomopatológica e que as variadas terapêuticas dos plantonistas do hospital 
servissem aos alienados já que a todos se aplicavam o mesmo tratamento moral; o 
hospital geral acaba por ser considerado inapropriado para acolher os alienados. 
8 
 
 
Segundo Teixeira (1997), as noções introduzidas por Pinel consolidaram novos 
conceitos operatórios: 
(1) uma semiologia psiquiátrica, a partir do olhar do alienista que convive, 
observa e descreve minuciosamente o comportamento dos doentes; 
(2) uma nosografia, com a conhecida divisão pineliana em quatro grandes 
classes, a saber: a mania, a melancolia, a demência e o idiotismo; 
(3) uma abordagem clínica, que parte dos sintomas para chegar aos quadros 
clínicos; e 
(4) uma terapêutica específica da loucura, voltada para o tratamento das 
causas corporais e, principalmente, das chamadas causas morais, isto é, das paixões 
descontroladas, ardentes ou pervertidas que estariam na base da insanidade. 
Jean-Etienne Dominique Esquirol (1772-1840) foi o grande continuador das 
idéias de Pinel, aprofundando-as, enriquecendo-as, mantendo, porém, a concepção 
unitária da patologia mental grave, seguindo um modelo paralelo ao da “psicose 
única” dos clínicos de língua alemã da época (como Griesinger). Complementando 
Pinel, amplia a sua noção de loucura quando a descreve também como uma 
“aberração profunda dos sentimentos morais” , e, assim, reafirma a importância do 
asilo enquanto o único local apropriado para o tratamento moral dos alienados. 
A partir de Esquirol, o afastamento social do louco passa a ser considerado 
terapêutico por si só, e o hospício passa a ser visto definitivamente como um 
instrumento necessário para a intervenção médica na loucura, do qual, portanto, o 
alienista não poderia prescindir. Na sua tese, apresentada em 1805, “As paixões 
consideradas como causas, sintomas e meios curativos da alienação mental” adverte 
que, se as paixões acarretavam as alienações, elas também deviam servir para o 
tratamento. Seguindo uma orientação mais moderada, ele advogava pelo equilíbrio 
das paixões ao invés de sua supressão, levando o louco ao estado em que se 
encontrava antes de precipitar-se na enfermidade. Busca Esquirol a descrição e 
classificação dos transtornos mentais utilizando o método clínico descritivo. 
Esquirol também foi um dos excelentes colaboradores na área médico-legal. 
Em 1818 propôs a criação de dezenas de asilos regionais e teve uma participação 
ativa nos prolongados debates que terminaram na criação da lei de 30 de junho de 
9 
 
 
1838, conhecida como “Lei sobre os alienados”, em vigor até 1990. Quando se depara 
com o texto de lei escrito naquela época se vê sua riqueza. Nele constavam três 
títulos: 
1. Sobre os estabelecimentos para alienados; 
2. Sobre as reclusões nos estabelecimentos para alienados (abarcando as 
internações voluntárias, aquelas ordenadas pela autoridade pública, gastos dos 
serviços e disposições comuns a todos os internados); 
3. Disposições gerais. 
A preocupação principal das abordagens científicas tanto de Pinel como 
Esquirol era de primeiro descrever os fatos, bem organizá-los em categorias; se isso 
era ou não era uma doença, era o menos importante de se tratar. Era isso que se 
discutia nas ciências naturais da época: quais são as ordens, quais são as espécies, 
como uma ordem se relaciona com outra ordem e como delimitar essas grandes 
categorias. Na verdade, o procedimento racional que Pinel e Esquirol colocam dentro 
do campo, fundando o campo da psiquiatria contemporânea, é o de bem descrever, 
bem classificar, bem ordenar os quadros clínicos, muito mais que supor tratar-se de 
doenças. 
Em 1822 Bayle (1799-1858) apresentou uma tese (“Pesquisas sobre as 
doenças mentais”) em que descreveu uma forma de alienação mental acompanhada 
de perturbações motoras e que evoluía em três fases: 
a) delírio monomaníaco com exaltação; 
b) delírio maníaco geral e; 
c) demência com amnésia. 
10 
 
 
Bayle correlacionou a referida alienação mental, que denominoude paralisia 
geral, com uma lesão determinada, uma meningite crônica tendo como agente 
etiológico o treponema pallium. Construiu com sua tese o paradigma 
neuropsiquiátrico que fascinou as gerações seguintes, orientando a investigação 
psicopatológica em direção à neuropatologia e transformando definitivamente a 
loucura clássica em uma enfermidade do cérebro e de suas membranas. Ao publicar 
sua tese em Medicina arrasou as ideias da nosologia sindrômica forjada por Pinel e 
Esquirol. Tudo o que estes haviam postulado (mania, melancolia, monomania, 
demência e idiotia) ficou reunido em uma 
única enfermidade cuja evolução se articulava 
formando uma sequência. 
Propõe assim uma teoria globalista, 
unitarista, com dimensão evolutiva, muito 
distinta da de Pinel e Esquirol (nosologia 
sindrômica edificada sobre a fenomenologia 
mais chamativa do quadro clínico). Trabalhando em um hospital onde se internavam 
muitos oficiais do exército, contaminados por sífilis, ele descobriu que determinados 
delírios megalomaníacos e comportamentos motores estavam associados à 
inflamação das meninges, comprovada na mesa de dissecação de cadáveres. Isto o 
levou a escrever e publicar muitos artigos importantes sobre a origem das 
enfermidades mentais no cérebro enfermo organicamente, o que estava bem de 
acordo com o modelo médico. Parecia haver encontrado a organogênese das 
enfermidades mentais e, se no princípio era um pouco discreto em suas publicações, 
à medida que sentia seus efeitos, foi se tornando orgulhoso, generalizando suas 
descobertas que não passaram disto. Com o passar dos tempos, sua etiologia 
cerebral, originada na paralisia cerebral, se evidenciou incorreta, foi muito criticada, e 
muitos acreditam que esta foi uma das causas de seu abandono da clínica mental. 
Enquanto vimos nos clássicos franceses vários nomes como Pinel, Esquirol, 
Bayle entre outros, na escola alemã um nome sobressaiu e dominou amplamente o 
cenário, o de Kraepelin. Publicou em 1883 seu Compêndio de Psiquiatria, com 380 
páginas, que foi revisado e reeditado várias vezes, sendo que na oitava edição, em 
1913, seu Compêndio continha 4 volumes com 2.500 páginas. Influenciado por 
Griesinger, o fundador da escola alemã que entendia serem as doenças mentais, 
11 
 
 
antes de tudo, afecções cerebrais, Kraepelin se orienta na busca do suposto curso 
natural das enfermidades mentais e, mais especificamente, nas manifestações de 
suas formas terminais. 
Desaparece quase por completo a reflexão sobre a loucura, o interesse pelo 
louco se torna inexistente. O enfermo mental tem valor enquanto uma mácula no bom 
funcionamento social na medida em que supõe uma carga para a família, sociedade 
e Estado. Podemos sublinhar que a psiquiatria clássica conheceu duas teorias no que 
se refere à natureza da doença mental: com Pinel temos a hipótese funcionalista 
radical (as alienações mentais seriam devidas a distúrbio funcional do sistema 
nervoso); com Griesinger temos a hipótese organicista (a doença mental seria antes 
de tudo uma afecção cerebral). 
Com a escola francesa vimos o surgimento do método clínico descritivo; já na 
Alemanha surge o método anátomo-clínico (vertente mecanicista com sua concepção 
atomística do organismo concebido como soma de órgãos). 
 
Século XIX: Teoria da degenerescência 
 
Da metade do século XIX em diante o otimismo em relação à cura dos doentes 
mentais pela psiquiatria deixou de existir. A própria psiquiatria se deu conta de que o 
que era capaz de oferecer não operava curas. Surge um novo avanço nas teorias 
médicas da insanidade mental enquanto doença física, agora dentro de uma proposta 
da teoria da degenerescência. A loucura era incurável por ser hereditária, 
constitucional. 
A Teoria da Degenerescência, desenvolvida por Bénédict-Augustin Morel 
(1809-1873), foi uma das grandes influências no meio médico brasileiro da segunda 
metade do século XIX e início do século XX. Essa teoria defende a idéia da 
transmissão de uma predisposição do organismo à degenerescência, que pode ser 
identificada pela ocorrência de traços físicos e morais característicos aos 
degenerados. 
12 
 
 
Leonel Gomes Velho, em sua tese 
“Do degenerado e sua capacidade civil”, 
de 1905, apresenta as idéias de Morel e 
de alguns de seus seguidores, procurando 
inicialmente apontar as diferentes 
definições de “degenerado” e de como 
este se encontra presente em todos os 
recantos da vida – não existem só os degenerados débeis, pouco aptos para as lutas 
pela existência, mas também os superiores, aqueles indivíduos “originais, bizarros e 
excêntricos que, apesar de serem triunfantes na vida e até ocuparem elevadas 
posições sociais, são tão anormais sob o ponto de vista cerebral quanto os idiotas. 
Devido a este fato, os débeis, por serem impotentes, são menos prejudiciais à 
sociedade que os degenerados superiores” (s/esp). Assim, a degenerescência não 
estaria ligada somente à alienação mental, mas à idéia de desvio de modo geral. As 
causas da degeneração são pensadas como podendo ser tanto físicas quanto morais. 
Como possíveis causas físicas são apontadas a insalubridade dos climas, a má 
higiene e a insuficiência das moradias e da nutrição, sendo atribuída especial 
importância ao meio enquanto produtor de condições propícias à instalação de 
processos degenerativos. Como causas morais, por outro lado, figuram a ignorância, 
a avareza, a sede de prazeres, a prostituição, os fanatismos, entre muitas outras. 
No entanto, também são apontadas com frequência lesões físicas, morais e 
intelectuais como sendo consequências do processo de degeneração, o que 
demonstra o caráter paradoxal deste processo, onde causa e efeito são muitas vezes 
confundidos, num processo de retroalimentação. Uma das formas encontradas pela 
medicina para intervenção neste processo foi a higiene, mencionada por Morel como 
possibilidade de tratamento para a degenerescência. 
A higiene moral empenhava-se na moralização dos hábitos e costumes do 
degenerado, a partir da disseminação de uma lei moral que, sendo universal, seria o 
principal fator de união da espécie humana. À higiene física não é atribuída a menor 
importância, pois se proclamava uma interdependência do físico e do moral, já que 
somente em um organismo saudável a moral poderia desenvolver-se 
adequadamente. 
13 
 
 
 
Século XX: Movimentos críticos à tradição psiquiátrica 
 
Começaremos por mencionar brevemente alguns dos principais movimentos 
críticos à tradição psiquiátrica ao longo do século XX. A experiência de Bion é uma 
referência a ser assinalada neste percurso: na Inglaterra do pós-guerra, cria-se como 
possível saída para a grave situação dos hospitais psiquiátricos: a prática da 
psicoterapia grupal. No início dos anos 50, nasce a análise institucional francesa, 
buscando “tratar o doente pela instituição e tratar a instituição como um doente”; na 
mesma época, na Inglaterra, se desenvolvem as comunidades terapêuticas. 
Em todas estas tendências, podemos constatar uma preocupação com a 
pobreza dos laços e da produção humana no interior das instituições, e uma tentativa 
de resgatar este empobrecimento subjetivo pelo viés do grupo, da análise das 
relações intergrupais, institucionais, etc. Logo a seguir surge a antipsiquiatria inglesa: 
envolvendo também a dimensão da reconstrução das relações entre as pessoas na 
instituição, ela acaba por assumir uma posição crítica mais incisiva no seio da 
contracultura dos anos 60. 
Nesta história, temos tido também projetos gerenciais de reestruturação de 
modelos, visando a uma nova política de organização de serviços, como a psiquiatria 
de setor francesa, que se organiza segundo a hierarquização e a regionalização de 
serviços, e a ênfase na prestação de cuidados extra-hospitalares, com a criação de 
ambulatórios, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, etc. 
Um outro exemplo é a psiquiatriapreventiva ou comunitária norte-americana, 
na qual os cuidados se organizam com base nos graus de complexidade primário-
secundário-terciário, enfatizando-se a chamada atenção básica como espaço de 
prevenção do adoecer psíquico. 
Nos anos 70, ocorre na Itália a experiência da psiquiatria democrática, que 
caracteriza uma ruptura com as práticas baseadas numa reforma estritamente 
institucional: levando ao seu limite e evidenciando os impasses das experiências do 
tipo comunidade terapêutica, os italianos optam por uma desconstrução das 
instituições psiquiátricas, cujas características principais são a desmontagem do mito 
14 
 
 
da doença mental e a criação de novas formas de convívio entre a sociedade e a 
loucura. 
 
 
 
 
 
 
Reforma Psiquiátrica Brasileira: Após a política assistencial da primeira 
metade do século, que priorizava a construção de grandes hospícios públicos como 
referência para a população, temos, a partir dos anos 60, uma enorme proliferação 
de hospitais psiquiátricos privados conveniados com o poder público, de acordo com 
a política fortemente privatista que caracterizou o governo militar. 
No final dos anos 70, terminada a ditadura militar, num movimento muito vivo 
de reorganização de forças democráticas do país, alguns dos trabalhadores de Saúde 
Mental de vários estados brasileiros se reúnem em torno de propostas de reforma. 
No final dos anos 80, o então chamado Movimento dos Trabalhadores de 
Saúde Mental politizou decididamente a questão da Reforma, e levou às suas últimas 
implicações a crítica ao modelo representado pelo hospital psiquiátrico. Em um 
manifesto histórico, afirma “marcar uma ruptura” ao definir que “não basta racionalizar 
e modernizar os serviços nos quais trabalhamos”. Sustenta a necessidade de 
promover a extinção dos manicômios, compreendidos como “mecanismo de 
opressão”. Emprega-se já então a expressão “luta antimanicomial”, e afirma-se a 
aliança 
Ainda no final dos anos 80, acontecem no Brasil importantes eventos relativos 
à saúde pública. A saúde é afirmada como direito do cidadão e dever do Estado, e 
concebida em sua determinação pela organização social e política, em seus laços 
com a qualidade de vida, o trabalho, o lazer; cria-se o Sistema Único de Saúde – o 
SUS – com garantia da universalidade do acesso, da eqüidade, da descentralização 
15 
 
 
de recursos e decisões, priorizando-se o nível local; garante-se o controle social, onde 
a Saúde se torna desde então uma área pioneira. 
No início dos anos 90, o movimento dos trabalhadores da Saúde Mental, que 
já se intitulava como antimanicomial, procede à sua organização, em nível nacional, 
como movimento social autônomo, independente de serviços, administradores ou 
partidos. Experiências como a psiquiatria democrática, textos como os de Foucault, 
têm sido referências importantes para esse movimento: Basaglia e Foucault, cada 
qual à sua maneira, mostram que o processo histórico de exclusão da loucura não 
tem suas raízes na natureza da loucura, não são características inerentes ao sujeito 
louco que geram tal exclusão; esse processo resulta de uma série de embates, 
enfrentamentos, correlações de força, no âmbito de uma cultura que acredita 
demasiadamente em sua própria razão. 
Os princípios do movimento antimanicomial são: 
1. a consideração da dimensão da subjetividade nas experiências da loucura 
em particular, e na luta política em geral; 
2. a extinção do hospital psiquiátrico e sua substituição por um modelo 
assistencial radicalmente diverso; 
3. a abordagem das experiências da loucura deve apontar para a sua presença 
e produção no campo da cultura; 
4. o movimento antimanicomial é um movimento social, que organiza 
trabalhadores, famílias e usuários de Saúde Mental no combate às diferentes formas 
de exclusão da loucura; 
5. o movimento antimanicomial, em aliança com outros segmentos da 
sociedade civil organizada, participa de uma luta política por transformações 
estruturais da sociedade. 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
História da Psicopatologia 
 
A psicopatologia percorreu um caminho extremamente difícil até se tornar uma 
ciência autônoma. Psicopatologia e Psicologia científica se iniciaram através de 
Wundt, Kraepelin e Pavlov, os quais começaram seus caminhos juntos nos mesmos 
laboratórios. Muito rápido, seguiram rumos diferentes. Não encontrando na Psicologia 
recursos descritivos e explicativos suficientes para o comportamento anormal, a 
psicopatologia foi buscá-los na Filosofia, na Retórica e na Literatura, tentando 
encontrar uma linguagem que a Psicologia não proporcionava. 
Segundo Isaías Paim, não é fácil descobrir a origem do termo psicopatologia. 
É possível que o seu criador tenha sido Jeremy Bentham, filósofo inglês (Londres, 
1748- 1832), que, ao preparar uma lista das motivações humanas, reconheceu a 
necessidade da organização de uma psychological pathology (1817). 
Cheniaux (2002) refere que Esquirol e Griesinger, com seus trabalhos 
publicados, respectivamente na França (em 1837) e na Alemanha (em 1845), é que 
seriam considerados os criadores da psicopatologia. 
Para Hervé Beauchesne, a psicopatologia teria surgido no século XX, na 
França, no momento em que a psicologia, enquanto disciplina científica, começou a 
se separar da filosofia. “Com algumas raras exceções, os psicólogos de meu país 
(França) deixaram aos alemães as pesquisas psicofísicas, aos ingleses o estudo da 
psicologia Podemos definir de forma ampla a psicopatologia como a disciplina que se 
ocupa do sofrimento psíquico. 
17 
 
 
Sims (2001) refere que a psicopatologia é 
“o estudo sistemático do comportamento, da 
cognição e da experiência anormais; o estudo 
dos produtos de uma mente com um transtorno 
mental. Isto inclui as psicopatologias 
explicativas, nas quais existem supostas 
explicações, de acordo com conceitos teóricos 
(p. ex., a partir de uma base psicodinâmica, 
comportamental ou existencial, e assim por diante), e a psicopatologia descritiva, que 
consiste da descrição e da categorização precisas de experiências anormais, como 
informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento”. 
Didaticamente podemos então dividir as psicopatologias em dois grupos: as 
psicopatologias explicativas, baseadas em modelos teóricos ou achados 
experimentais, que buscam esclarecimentos quanto à etiologia de uma enfermidade, 
e as psicopatologias descritivas, que, por sua vez, consistem na descrição e na 
categorização precisas das experiências patológicas, como informadas pelo paciente 
e observadas em seu comportamento. 
O Webster’s New Internacional Dictionary define o termo como “o estudo 
científico das alterações mentais do ponto de vista psicológico”. Outras definições 
são: “Investigação sistemática de estados mentais mórbidos” e “o ramo da ciência 
que trata da morbidade e patologia da psique ou mente”. 
Pelas definições apontadas podemos ver que permanece em nossos tempos, 
não obstante, uma certa confusão quanto ao objeto de estudo da psicopatologia: é a 
enfermidade mental ou a conduta anormal? É a conduta anormal ou a desadaptada?. 
Isto se deve às diferenças de enfoques existentes na área ainda que se saiba que a 
variedade de estabelecimentos de critérios não é característica peculiar da 
psicopatologia. 
Como aponta Pereira (2000), “há um problema teórico e ético que acompanha 
toda a história da psicopatologia: qual a relação do sujeito com o seu próprio 
sofrimento, com sua própria loucura? Seria ele vítima do acaso, do acidental, daquilo 
sobre o que ele não tem como interferir enquanto existente? Ou, ao contrário, seria o 
homem, de alguma forma, o paradoxal sujeito de seu próprio sofrimento?” 
18 
 
 
Existem alguns fatos importantes 
que marcam a psicopatologia desde o final 
da Segunda Guerra Mundial até o 
momento atual: 
a) a relação da psicopatologia com 
a prática da psicologia clínica– isto 
contribuiu para a extensão da ideia de um 
contínuo entre o estudo do comportamento 
normal e patológico, ambos sendo regidos por leis idênticas. A psicologia 
experimental tem tido até o momento uma dificuldade enorme para gerar explicações 
e modelos que tenham aplicação nos problemas específicos da psicologia clínica e, 
desta maneira, pode-se falar de duas psicopatologias: uma clínica, basicamente 
descritiva e fenomenológica, e outra experimental, basicamente especulativa e com 
pouca capacidade de explicação dos fenômenos clínicos; 
b) a fragmentação em modelos e escolas; 
c) o estabelecimento de nosologias e sistemas diagnósticos reconhecidos; 
d) a Segunda revolução terapêutica (transformação dos hospitais psiquiátricos, 
atenção comunitária, avanços da farmacologia); 
e) os aportes das neurociências, sem dúvida, muito importantes. 
 
 
 
Principais métodos de investigação 
 
A psicopatologia está relacionada a múltiplas abordagens e referências 
teóricas. Destacamos seus principais métodos de investigação: 
- Fenomenológica: apreende os dados imediatos da consciência tais como eles 
se apresentam; utiliza a compreensão empática. O fenomenólogo busca colocar-se 
no lugar do paciente, a fim de sentir como ele se sente, em sintonia e consonância 
19 
 
 
com ele. Transcreve as vivências patológicas e descreve as condutas anormais do 
doente, indagando sempre a essência dos fenômenos apresentados. 
- Psicodinâmica: valoriza o papel do Ics buscando o significado do sintoma, e 
levando em conta os fenômenos da transferência. 
- Analítico-existencial: retira o foco da essência dos fenômenos para a 
existência dos pacientes em obediência aos preceitos da filosofia existencial 
(Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty) e também do método psicanalítico. Confere 
especial importância às formas de existências patológicas, às noções de tempo e 
espaço em nossa vida psíquica e aos modos de adoecer mentalmente. (Biswanger, 
Minkowski). 
- Neurociências: buscam aporte da psicofarmacologia para possibilitar-lhes 
melhor conhecimento bioquímico dos transtornos mentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diferentes abordagens na psicopatologia 
 
Ainda que na tendência atual algo pareça estar mudando, até hoje são 
encontrados dois grupos claros na psicopatologia: aqueles que se interessam pela 
investigação básica dos processos psicopatológicos subjetivos e aqueles 
interessados na prática clínica, que procura evitar os modelos etiológicos e se 
interessa mais pelas técnicas e procedimentos diagnóstico a partir de uma posição 
próxima da fenomenologia. 
20 
 
 
 
De fato, cada disciplina que se ocupa do sofrimento psíquico produz modelos 
específicos de psicopatologia, coerentes no interior do referencial teórico em que se 
inscrevem e respondendo a certos problemas inerentes à clínica. Os diferentes 
enfoques ou abordagens atuais na psicopatologia, de acordo com Ionescu (1997), 
são: 
1. Psicopatologia experimental: Pavlov utiliza pela primeira vez este termo em 
1903. É a abordagem dedicada ao estudo do comportamento patológico experimental 
ou ao estudo experimental do comportamento patológico. 
2. Psicopatologia behaviorista: os comportamentos anormais e normais são 
adquiridos e mantidos por mecanismos idênticos e segundo leis gerais de 
aprendizagem. Rejeita toda causa interna como causa última do comportamento e 
liga o aparecimento de todo comportamento ao ambiente do sujeito. Por esta razão, 
o clínico busca precisar as condições específicas ambientais que precedem, 
acompanham ou seguem os comportamentos estudados. Trata-se de uma análise 
destinada a precisar as variáveis ambientais que estão em relação com os 
comportamentos respectivos. 
3. Psicopatologia cognitivista: visa explicar os transtornos mentais levando em 
conta os processos pelos quais uma pessoa adquire informações sobre ela e seu 
meio e as assimila para pautar seu comportamento. Assim, os determinantes 
principais do comportamento anormal são construtores cognitivos. A mente é 
entendida como um sistema de processamento de informação, o qual, como os 
computadores, recebe, seleciona, transforma, armazena e recupera dados. Os 
21 
 
 
transtornos podem ser explicados a partir de um mau funcionamento de alguns 
componentes desse sistema. 
4. Psicopatologia biológica: a ênfase é colocada na influência das modificações 
morfológicas ou funcionais do sistema nervoso sobre a gênese dos transtornos 
mentais. A tese de que as afecções mentais possuem um substrato orgânico é antiga, 
e a obra de Kraepelin é considerada como o apogeu da psiquiatria organicista. A 
evolução posterior implica o aparecimento de duas correntes: a psicobiologia de Adolf 
Meyer (que considerava a patologia como uma patologia funcional da adaptação) e o 
organodinamismo de Henry Ey. Nesta abordagem os transtornos mentais são 
enfermidades cerebrais, que podem ser, de acordo com Buss (1962), causadas por 
um agente externo (por exemplo, um vírus) que ataca o organismo (enfermidade 
infecciosa), um mau funcionamento de algum órgão (enfermidade sistêmica) ou 
trauma (enfermidade traumática). 
5. Psicopatologia existencialista: procura ver o paciente tal como é realmente, 
descobri-lo enquanto ser humano, enquanto ser no mundo e não como uma simples 
projeção de nossas teorias sobre ele. Interessados pela decisão e vontade humana, 
os existencialistas insistem sobre o fato de que o ser humano pode influir na sua 
relação com o próprio destino. Coloca em questão a fronteira entre a normalidade e 
a patologia, fazendo-nos descobrir uma psicopatologia da média. 
6. Psicopatologia fenomenológica: apresenta origens da filosofia alemã nas 
obras de Husserl e de Heidegger. Temos dois métodos: o primeiro que se pode 
qualificar de descritivo (Biswanger) e o de Karl Jaspers. Nesse caso, a psicopatologia 
ocupa-se, sobretudo, do que os doentes vivem, estuda seus estados de espíritos, visa 
a desvelar significações. 
7. Psicopatologia psicanalítica: leva em conta os conceitos fundamentais da 
psicanálise, a saber, o inconsciente, a transferência, a pulsão e a repetição. 8. 
Psicopatologia social ou Psiquiatria social: estudo do papel dos fatores sociais na 
etiologia das manifestações psicopatológicas (ou a sociogênese destas) e as 
repercussões da doença mental sobre as relações do paciente com seu meio 
ambiente. 
 
22 
 
 
Síndromes psicopatológicas 
 
Uma síndrome é conjunto de sinais e sintomas que podem aparecer em um 
sujeito em um determinado momento. Para Dalgalarrondo (2008, p. 304-389), uma 
síndrome pode estar presente em vários transtornos diferentes, como a síndrome 
delirante-alucinatória (que apresenta como característica delírios e alucinações) que 
pode estar presente tanto na esquizofrenia como também no transtorno bipolar. Os 
sujeitos podem ter diferentes e diversas síndromes ao longo de sua vida. Uma pessoa 
portadora de esquizofrenia pode iniciar seu quadro com uma síndrome negativista, 
para algum tempo depois apresentar uma síndrome delirante-alucinatória. 
Nas doenças clínicas, temos a etiologia, os sinais e sintomas, a evolução, o 
prognóstico e a resposta dos pacientes aos tratamentos. Mas, nos transtornos 
mentais temos os sinais e sintomas, a evolução, o prognóstico e a resposta dos 
pacientes aos tratamentos, mas não inclui a etiologia, porque até ainda hoje não 
podemos precisar uma causa que justifique todos os sinais e sintomas que os 
pacientes apresentam. 
 
23 
 
 
Transtornos de ansiedade: ansiedade normal e patológica 
 
Inicialmente, precisamos chamar sua atenção para uma discussão 
fundamental a fim de entendermos os transtornos psicopatológicos. A sugestão de 
Dalgalarrondo (2008, p. 301) é que as vivências psicopatológicas acontecem em duas 
perspectivas: de um lado o que ele chama de transfundo das vivências 
psicopatológicas, uma espécie de palco, de contexto geral, em que surgemos 
sintomas. De outro lado, os sintomas emergentes, sintomas específicos vivenciados. 
Há uma relação direta e dialética entre o sintoma e o transfundo das vivências 
psicopatológicas onde ocorre. Texto e contexto se articulam, e precisam ser 
analisados nesse entrelaçamento para que possamos compreender o sujeito em seu 
sofrimento. 
Dalgalarrondo (2008, p. 302) ainda faz uma distinção entre dois tipos de 
transfundo: os estáveis e duradouros e os mutáveis e momentâneos. 
1. Transfundos estáveis – seriam a personalidade e a inteligência dos sujeitos. 
Os sintomas, em geral, estão em acordo com os traços de personalidade. Exemplo: 
pessoas mais contidas, tímidas, tendem a ter sintomas mais passivos. Os sujeitos 
mais explosivos, hipersensíveis, podem apresentar sintomas mais vivos, ativos. Já a 
inteligência fará o contorno, a diferenciação e a riqueza dos sintomas. Sujeitos muito 
inteligentes produzem sintomas elaborados, ricos em detalhes, em cores e 
complexos. Sujeitos com inteligência reduzida criam quadros psicopatológicos mais 
simples, sem detalhes e muitas vezes bastante pueris. 
2. Transfundos mutáveis e momentâneos – Dalgalarrondo (2005) divide em 
dois esse transfundo – o nível da consciência e o humor. O nível da consciência diz 
respeito à clareza e à precisão dos sintomas. Quanto ao humor, podemos dizer que 
os estados afetivo-volitivos influem no surgimento dos sintomas, e também no 
colorido específico dos sintomas. 
Para Dalgalarrondo (2005, p. 302), vários fatores contribuem para a 
manifestação dos sintomas: 
24 
 
 
 
A associação de fatores precipitantes com vulnerabilidade constitucional e 
fatores predisponentes ocorre ao longo da história de vida dos sujeitos, dentro de um 
contexto sociocultural específico. Portanto, cada sujeito produzirá uma sintomatologia 
única e pessoal. 
Dalgalarrondo (2008, p. 295) faz uma distinção entre as manifestações dos 
transtornos: 
Patogenia (patogênico) – é a manifestação dos sintomas que ocorrem nos 
transtornos mentais. Na mania, a agitação psicomotora, hipertimia são comuns. 
Patoplastia – está relacionado aos fatores da personalidade que antecederam 
a eclosão do transtorno. A história de vida do sujeito, sua cultura, seu comportamento, 
sua origem. Ao que lhe era peculiar antes do surgimento do transtorno. 
Psicoplastia – está relacionada à forma como o sujeito se relaciona com o seu 
entorno após o surgimento do transtorno. Os cursos crônicos dos transtornos mentais 
podem ser de dois tipos: processo e desenvolvimento. 
Processo – é uma transformação lenta, insidiosa e incompreensível da 
personalidade causada pelas alterações psicopatológicas. Consideramos processo 
porque a evolução vai transformando lentamente a personalidade do sujeito. 
Desenvolvimento – é uma transformação psicológica e compreensível da 
personalidade. Essa evolução pode ser normal ou anormal, determinado por 
transtornos da personalidade ou das neuroses. 
Fenômenos agudos ou subagudos são classificados da seguinte forma: 
Crise ou ataque – tem o surgimento ou término abrupto e dura minutos, 
raramente horas. Chamamos de crise as de natureza epilética, histérica e de agitação 
psicomotora. 
Episódio – tem duração de dias ou até semanas. O termo crise ou episódio 
refere-se apenas à temporalidade do fenômeno. 
25 
 
 
Fase – refere-se principalmente às fases de depressão (diminuição da 
atividade psíquica) ou da mania dos transtornos afetivos. 
Surto – é a eclosão abrupta da doença de base endógena não compreensível 
psicologicamente. 
 
Sinais e sintomas prodrômicos 
 
São chamados também de personalidade pré-mórbida e são aqueles 
comportamentos identificados em períodos anteriores a eclosão do transtorno. 
Podem ocorrer desde a infância, já antecipando o início do transtorno, segundo 
Dalgalarrondo (2008, p. 298). 
Transtornos da ansiedade 
 
 A ansiedade pode ser normal ou patológica. A ansiedade normal funciona com 
um alerta vermelho, indicando para o sujeito que ele precisa tomar as medidas 
necessárias para lidar com as ameaças. A ansiedade normal faz com que o professor 
prepare e organize suas aulas com cuidado, faz com que o ator se prepare em 
detalhes para o espetáculo ou que os namorados apaixonados se arrumem da melhor 
forma possível para o encontro. 
Segundo Nunes (1996), a ansiedade normal é uma sensação difusa (não está 
concentrada em nenhuma parte específica do corpo), é desagradável, de apreensão 
(sentimos que algo de ruim vai acontecer, mas não conseguimos saber exatamente 
o que) e, em geral, vem acompanhada de sensações físicas: mal-estar epigástrico, 
aperto no tórax, palpitações, sudorese excessiva, cefaleia, súbita necessidade de 
evacuar, inquietação etc. Esses sintomas podem 
variar de pessoa para pessoa. Fazer uma distinção 
precisa entre medo e ansiedade é uma tarefa 
complicada. O medo é uma reação normal, 
fundamental para a proteção dos sujeitos. Se não 
tivéssemos medo, sairíamos de madruga para 
lugares perigosos, não tentaríamos nos proteger. O 
26 
 
 
medo aparece em situações que apresentam um perigo real ou imaginário. 
A ansiedade normal é vaga e difusa, e pode ajudar em algumas situações. Já 
a ansiedade patológica paralisa o sujeito, traz prejuízos ao seu desempenho, não 
permite que o sujeito se proteja das ansiedades ameaçadoras. Segue na figura abaixo 
os principais transtornos de ansiedade, seguindo a 10ª Classificação de Transtornos 
Mentais da Organização Mundial de Saúde (CID10, 1993) e a quinta edição do 
Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-V, 2014) da Associação Americana de 
Psiquiatria (APA). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os transtorno de personalidade 
 
Um transtorno de personalidade significa que a pessoa tem um grave distúrbio 
de comportamento, que envolve todas as áreas 
de atuação da pessoa, resultando em sérias 
dificuldades pessoais, afetivas e sociais. As 
alterações não são secundárias a outro 
transtorno. A ciência ainda não chegou a um 
consenso para determinar a origem dos 
transtornos. Os transtornos começam a ser 
27 
 
 
notados no final da infância ou início da adolescência. O diagnóstico só pode ser 
efetivado após os 18 anos de idade. 
 
Diretrizes diagnósticas no CID-10 (1993, p. 196) 
De acordo com o CID-10 (1993) essas condições do transtorno abrangem 
padrões de comportamento arraigados e permanentes. São respostas inflexíveis que 
independem das situações que as envolvem. São desvios extremos ou significativos 
do modo como a média das pessoas de determinada cultura reagiriam. 
O CID-10 (F60) relaciona os seguintes transtornos de Personalidade: 
personalidade paranoide; esquizoide, antissocial, emocionalmente instável, 
narcisista, evitativa, histriônica, anancástica, ansiosa ou de evitação, dependente. 
 
Diretrizes diagnósticas no DSM-V (2014, p. 645) 
Critério A – Padrão persistente de experiências interna e comportamento 
desviante acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. O padrão 
manifesta-se em duas ou mais das seguintes áreas: 1. Cognição, afetividade, 
funcionamento interpessoal, controle dos impulsos. 
Critério B – Padrão persistente e inflexível e abrange situações pessoais e 
sociais. 
Critério C – O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo 
e prejuízos no funcionamento social, profissional e pessoal. 
Critério D – O padrão é estável e de longa duração. No DSM-V (2014, p. 645) 
os transtornos de personalidade (DSM-V 300) relacionados são os seguintes: 
paranoide, esquizoide, esquizotípica, antissocial, borderline, narcisista, histriônica, 
evitativa, dependente, obsessiva-compulsiva. 
28 
 
 
 
 
Transtornos do humor 
 
 
 
Transtorno depressivo persistente distímico 
 
Este transtorno representa uma consolidação do transtorno depressivo maior 
crônico e do transtorno distímico definidos no DSM-IV. Humor deprimido na maior 
parte do dia, namaioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou por observação feita 
por outras pessoas. A característica essencial do transtorno depressivo persistente 
(distimia) é um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos 
dias, por pelo menos dois anos, ou por pelo menos um ano para crianças e 
adolescentes. 
29 
 
 
 
Ciclotimia 
 
O transtorno ciclotímico tem como característica essencial a cronicidade e a 
oscilação do humor, envolvendo vários períodos de sintomas hipomaníacos e 
períodos de sintomas depressivos. 
 
Transtorno bipolar 
 
No DSM-V (2008, p. 123), vemos que o transtorno bipolar é um transtorno do 
humor é está dividido em bipolar I e II. Os critérios para transtorno bipolar tipo I 
representam o entendimento moderno do transtorno maníaco-depressivo clássico, ou 
psicose afetiva, descrito no século XIX. Diferem da descrição clássica somente no 
que se refere ao fato de não haver exigência de psicose ou de experiência na vida de 
um episódio depressivo maior. No entanto, a vasta maioria dos indivíduos cujos 
sintomas atendem aos critérios para um episódio 
maníaco também tem episódios depressivos 
maiores durante o curso de suas vidas. 
O transtorno bipolar tipo II, que requer um ou 
mais episódios depressivos maiores e pelo menos 
um episódio hipomaníaco durante o curso da vida, 
não é mais considerado uma condição “mais leve” 
que o transtorno bipolar tipo I, em grande parte em 
razão da quantidade de tempo que pessoas com essa condição passam em 
depressão e pelo fato de a instabilidade do humor vivenciada ser tipicamente 
acompanhada de prejuízo grave no funcionamento profissional e social. 
 
 
Transtorno depressivo maior 
 
O transtorno depressivo maior representa é caracterizado por episódios 
distintos de pelo menos duas semanas de duração (embora a maioria dos episódios 
dure um tempo consideravelmente maior) envolvendo alterações nítidas no afeto, na 
cognição e em funções neurovegetativas, e remissões interepisódicas. O diagnóstico 
30 
 
 
baseado em um único episódio é possível, embora o transtorno seja recorrente na 
maioria dos casos. 
Atenção especial é dada à diferenciação da tristeza e do luto normais em 
relação a um episódio depressivo maior. 
O luto pode induzir grande sofrimento, mas não costuma provocar um episódio 
de transtorno depressivo maior. Quando ocorrem em conjunto, os sintomas 
depressivos e o prejuízo funcional tendem a ser mais graves, e o prognóstico é pior 
comparado com o luto que não é acompanhado de transtorno depressivo maior. 
A depressão relacionada ao luto tende a ocorrer em pessoas com outras 
vulnerabilidades a transtornos depressivos, e a recuperação pode ser facilitada pelo 
tratamento com antidepressivos. 
 
Os transtornos esquizofrênicos 
 
A esquizofrenia tem um longo histórico. Nunes (1996, p. 91) mostra que na 
descrição de Benedict Morel, em 1852, aparece pela primeira vez a menção à 
esquizofrenia como démence précoce. Referia-se a certas formas especiais de 
demência que surgem na adolescência, como os distúrbios do pensamento e afeto, 
e manifestações delirantes. Surgiram também as descrições de quadros semelhantes 
feitos por Ewald Hecker, em 1863, e 
denominados hebefrenia. Já K. Kahlbaum, 
em 1874, descreveu os sintomas da 
catatonia. 
Nunes (1996, p. 92) segue mostrando 
que Emil Kraepelin, em 1896, em seu Tratado 
de psiquiatria, elencou os termos até então conhecidos, mas que ficavam dispersos 
– dementia praecox, a catatonia e a demência paranoica. Kraepelin reúne os termos 
num tratado de psicopatologia sob a rubrica de doenças do metabolismo junto com o 
mixedema (infiltração cutânea causadora de edema firme e elástico nos tecidos, 
especialmente no tecido do rosto e nos membros, acarretada por diminuição da 
atividade da tireoide), o hipotireoidismo e o cretinismo (perturbação grave e 
relativamente rara do desenvolvimento físico e intelectual devido a uma diminuição 
31 
 
 
da atividade tireoidiana). Na sexta edição do seu tratado, em 1899, a dementia 
praecox ganhou a autonomia para se contrapor à “loucura maníaco-depressiva”. 
Eugen Bleuler (1911 apud PEREIRA, 2000) consagra o termo esquizofrenia 
em substituição à demência precoce. O termo esquizofrenia, de acordo com Bleuler 
(1911, p. 91), diz respeito à “mente cindida” que expressava a dissociação entre o 
pensamento dos afetos e da psicomotricidade. Nunes (1996, p. 92) mostra que 
Bleuler procurava um distúrbio fundamental em que pudesse basear o diagnóstico 
sem fixá-lo no curso ou quadros finais. 
Ele também aponta que Bleuler descreveu os sintomas (a) da esquizofrenia: 
associação dos pensamentos; distúrbios afetivos; ambivalência e autismo (tem a ver 
com o sujeito ensimesmado, diferentemente do que hoje diagnosticamos como 
autismo). Eugen Bleuler e Karl Jaspers (este último introduziu o método 
fenomenológico em psiquiatria) influenciaram toda a psiquiatria. 
A ideia central da fenomenologia, de acordo com Nunes (1996, p. 91), era 
descrever com precisão as experiências vividas pelos pacientes. Até a publicação do 
DSMIII, em 1980, pessoas com quadros depressivos e outros transtornos mentais 
eram tratados como esquizofrênicas. Foi a descoberta dos neurolépticos-
antipsicóticos que exigiu uma precisão maior nos diagnósticos e forçou a mudança 
do DSMII para o DSMIII. 
Os critérios de Kurt Schneider estabeleceram uma distinção entre os sintomas 
de primeira e de segunda ordem, o que permitiu organizar o diagnóstico de modo 
mais simples e preciso, mais tarde incorporados ao DSM-IV (2014) e consagrados no 
CID-10 (1993). 
Os sintomas de primeira ordem da esquizofrenia descritos por Schneider (apud 
DALGALARRONDO, 2008, p. 328) são: 
1. Percepção delirante – Uma percepção absolutamente normal recebe uma 
significação delirante, que ocorre de modo simultâneo ao ato perceptivo. Exemplo: a 
turma da professora Anna resolve oferecer uma festinha de aniversário para ela. 
Organizam a mesa do parabéns colocando guardanapos, copos para os refrigerantes 
e a faca para cortar o bolo. Quando a professora entra na sala, onde está sendo 
32 
 
 
preparada a festa, ela subitamente tem uma espécie de revelação e passa a acreditar 
que a faca está ali para feri-la, para matá-la. 
2. Alucinações auditivas características – São vozes que comentam e ou 
comandam a ação do paciente. Exemplo: Luciana ouve vozes que lhe dizem para que 
ela tome banho, que fique acordada e para que pule na linha do trem e morra. 
3. Eco do pensamento ou sonorização do pensamento – O paciente escuta 
seus pensamentos ao pensá-los. Exemplo: Jorge reclama que antes de pensar ouve 
os seus pensamentos. 
4. Roubo do pensamento – O paciente tem certeza de que seu pensamento foi 
inexplicavelmente roubado. Exemplo: Jorge, durante a entrevista inicial, começa 
contando sua história, mas para inesperadamente. Quando indagado por que parou 
de relatá-la, ele conta que o seu pensamento foi roubado, ficando sem poder 
continuar a história. 
5. Vivências de influência corporal ou ideativa – 
a) vivências de influência: são experiências onde o paciente sente que uma 
força externa age sobre o seu corpo ou seus órgãos, emitindo raios, influenciando 
suas funções corporais. 
b) vivências de influência sobre o pensamento: refere-se à experiência de que 
algo influencie seus pensamentos. O paciente recebe pensamentos impostos de fora, 
pensamentos postos em seus cérebros. 
Os sintomas de primeira ordem indicam, segundo Dalgalarrondo (2008, p. 
328), uma profunda alteração Eu-mundo. 
Nessa alteração, o sujeito tem uma perda 
significativa da sua intimidade; o mundo 
externo invade a intimidade do sujeito. 
Essas experiências sugerem uma “fusão” 
entre o particular e o público. 
Os sintomas de segunda ordem de 
Schneider, de acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 328), são menos significativos 
para o diagnóstico da esquizofrenia: perplexidade,alterações da sensopercepção 
(excluindo aqueles de primeira ordem), vivências de influência no campo dos 
33 
 
 
sentimentos, impulsos ou vontade, empobrecimento afetivo, intuição delirante e 
alterações do ânimo de colorido depressivo maniatiforme. 
 
 
Síndrome negativa ou deficitária (sintomas negativos) 
 
Os sintomas negativos das psicoses esquizofrênicas podem ser caracterizados 
pela perda de funções psíquicas nas áreas da vontade, do pensamento, da linguagem 
e um empobrecimento da vida afetiva, cognitiva e social. Dalgalarrondo (2008, p. 328) 
relaciona os seguintes sintomas ditos negativos: 
1. Distanciamento afetivo – aparece em graus variáveis até o completo 
embotamento (perda da capacidade de sintonizar afetivamente com as pessoas). 
Exemplo: Jorgina adoeceu com 23 anos. Pouco a pouco, foi ficando cada vez mais 
fechada em si mesma. Evita o contato com as pessoas, não inicia conversas, só 
responde quando solicitada. Não faz contato visual com as pessoas. Fica sempre 
quieta em seu canto. 
2. Retração social – o paciente vai se isolando progressivamente do contato 
social. Exemplo: Lúcia, uma jovem muito sociável, sofre um surto psicótico e desde 
então se tranca em casa, não fala com ninguém, terminou o namoro, saiu da escola. 
Seu único contato com outras pessoas é com sua mãe, que fica muito preocupada 
com sua filha. 
3. Empobrecimento da linguagem e do pensamento, e diminuição da fluência 
verbal – O paciente diminui a quantidade de suas falas, não inicia conversas, fica 
responsivo. Exemplo: Lucia fica o dia todo olhando pela janela fechada. Sua mãe 
pergunta alguma coisa e ela responde apenas ao que é solicitado. 
34 
 
 
4. Diminuição da vontade (avolição) e hipopragmatismo – Incapacidade de 
realizar ações, trabalhos ou tarefas que exigem o mínimo de iniciativa e organização. 
Exemplo: Lucia deixou de cuidar da casa, de suas tarefas cotidianas. Passa o tempo 
todo sentada diante de uma janela fechada. 
5. Negligência quanto a si mesmo – A pessoa apresenta um descuido consigo 
mesmo. Desinteressa-se com a higiene, a aparência e a saúde. Exemplo: Lúcia fica 
sentada desde que o dia amanhece até o anoitecer. Só escova os dentes, toma banho 
ou penteia os cabelos se sua mãe insistir muito. 
6. Lentificação e empobrecimento psicomotor – O paciente fica lentificado, com 
dificuldade para responder de forma rápida as solicitações do meio. Exemplo: Lúcia 
fica sentada o dia todo em frente a uma janela, e dificilmente se levanta para fazer 
qualquer coisa. Atualmente, prefere dormir próximo à cadeira que fica na sala a ir 
para o seu quarto. Repare que ela não senta na cadeira apenas dorme próximo a ela. 
 
Síndrome positiva ou sintomas positivos 
 
Ao contrário dos sintomas negativos, os sintomas positivos são manifestações 
novas, intensas e produtivas. Dalgalarrondo (2008, p. 331) relaciona os sintomas 
produtivos: 
1. Alucinações – ilusões ou pseudoalucinações auditivas (as mais comuns), ou 
visuais. Exemplo: Jorge ouve constantemente vozes que lhe dão ordens para se 
matar ou para matar outras pessoas. 
2. Ideias delirantes – de conteúdo paranoide, autorreferente, ou de influência 
(o paciente sente-se perseguido por outras pessoas ou instituições). 
3. Comportamentos bizarros – atos impulsivos. Ex.: Jorge tem como hábito 
abrir e fechar portas todo o tempo, incomodando todas as outras pessoas. 
4. Agitação psicomotora – a pessoa fica muito agitada, anda e fala muito 
enfaticamente e rapidamente. 
5. Ideias bizarras – não necessariamente delirante. Ex.: Jorge acredita que é 
capaz de comandar o fluxo dos carros numa avenida bastando manter o olhar fixo 
nos veículos. 
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6. Neologismos – palavras novas, ou com significado único e particular para o 
paciente. Ex.: Leandra criou a palavra fogteu – que significa que seu namorado era 
ateu. 
 
Síndrome psicótica desorganizada 
 
Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 331), a síndrome corresponde ao subtipo 
classicamente denominado de esquizofrenia hebefrênica, que apresenta as seguintes 
características: 
1. Pensamento progressivamente desorganizado – de um leve afrouxamento 
das associações até a total desagregação e produção de um pensamento totalmente 
incompreensível. 
2. Comportamentos desorganizados – comportamentos sociais e sexuais 
inadequados, agitação psicomotora, vestimenta e aparência bizarras. 
3. Afeto inadequado – descompasso entre as esferas afetivas, ideativas e da 
vontade. 
4. Afeto pueril – o paciente reage de forma infantil, boba. 
 
Espectro da esquizofrenia 
 
O espectro da esquizofrenia no DSM-V (2014, p. 87) inclui esquizofrenia, 
outros transtornos psicóticos e transtornos de personalidade esquizotípica. Esses 
transtornos são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios: 
alucinações, pensamento desorganizado, comportamento motor desorganizado ou 
anormal, sintomas negativos e delírios. 
Os delírios são caracterizados por crenças fixas, não passiveis de mudanças 
à luz de evidências conflitante, tais como: 
Delírios persecutórios – crença de que a pessoa irá ser prejudicada por outra 
pessoa, grupos ou organização. 
Delírio de referência – crença que alguns gestos, comentários ou estímulos do 
ambiente são direcionados ao paciente. 
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Delírios somáticos – crença de que se está com alguma doença física; 
preocupação excessiva com a saúde. 
Delírios religiosos – crença de que a pessoa é escolhida por deus, tem ligações 
fortes com entidades religiosas ou acredita que é um profeta ou santo. 
Delírios de grandeza – a pessoa acredita que tem habilidades excepcionais, 
riqueza ou fama. 
Delírio erotomaníaco – a pessoa acredita falsamente que outra pessoa está 
apaixonada por ela. 
Delírio niilista – crença de que alguma tragédia irá ocorrer. Também há os 
delírios bizarros e não bizarros: 
Delírio bizarro – a crença de que, por exemplo, a pessoa sofreu uma cirurgia e 
lhe trocaram o cérebro. Delírio não bizarro – a crença de que, por exemplo, a polícia 
o está vigiando. 
Segue abaixo os principais tipos de transtornos esquizofrênicos. Usaremos os 
critérios diagnósticos e o curso contidos no DSM-V com o respectivo CID para simples 
conferência. 
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