Manual agricultura natural

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H i r o s h i Seó 
Manual de 
agricultura natural 
C I R C U L O D O 6 I V R O 
CÍRCULO D O L I V R O S . A . 
C a i x a p o s t a l 7 4 1 3 
0 1 0 5 1 São P a u l o , B r a s i l 
Edição i n t e g r a l 
C o p y r i g h t © H i r o s h i Seó 
C a p a : l a y o u t d e N a t a n a e l L o n g o d e O l i v e i r a e 
f o t o d e A l c i r V i l a r i n h o 
Licença e d i t o r i a l p a r a o Círculo d o L i v r o 
p o r c o r t e s i a d a E d i t o r a C u l t r i x L t d a . , 
m e d i a n t e a c o r d o c o m o a u t o r 
V e n d a p e r m i t i d a a p e n a s a o s sócios d o Círculo 
C o m p o s t o p e l a L i n o a r t L t d a . 
I m p r e s s o e e n c a d e r n a d o p e l o Círculo d o L i v r o S . A . 
2 4 6 8 1 0 9 7 5 3 
8 8 9 0 9 1 8 9 8 7 
D e d i c a d o 
minha querida companheira e Alma gémea Ileane 
a meu pai e professor Yutaka 
à minha mãe Toshie 
a São Francisco de Assis e Yoganandaji 
às Minhocas 
ao Sol 
e a quem agora lê 
Sumário 
Apresentação 1 1 
A n t e s d e começar a l e r 1 7 
Introdução 1 9 
O q u e é a g r i c u l t u r a "zen" 2 5 
A fábula d o p l a n e t a Mônada 2 6 
A g r a n d e seleção n a t u r a l 3 2 
M e c a n i s m o s d a s mudanças climáticas 3 3 
A s árvores e o c l i m a 3 4 
A s e c a , a f o m e e o café d a manhã 3 4 
O s o i t o m i t o s a r e s p e i t o d a f o m e 3 5 
R e s u m o : A g r i c u l t u r a a serviço d o l u c r o 3 9 
A e c o l o g i a d o s órgãos 4 2 
A alimentação ecológica e i n t e g r a l 4 3 
O n a t u r a l é m a i s c a r o ? 4 4 
A saúde d o c o r p o 4 5 
C o m o e s c o l h e r a s f r u t a s e a s v e r d u r a s 4 7 
D a r o c h a a o h o m e m 4 9 
A o r i g e m d o s s o l o s 5 0 
O húmus 5 1 
A g o r a s o u e u 5 2 
A Água 5 2 
O V e n t o 5 4 
A S e m e n t e d e A r r o z 5 4 
A fotossíntese: o S o l d e n t r o d e m i m 5 7 
7 
U m p o u c o d e f i s i o l o g i a v e g e t a l 6 0 
A s e i v a : o s a n g u e d a p l a n t a 6 0 
O pulmão d o s o l o 6 1 
O s i s t e m a d i g e s t i v o d o s o l o 6 3 
O i n t e s t i n o d a p l a n t a 6 3 
M u l c h e : a p e l e d o s o l o 6 5 
A u n i d a d e 6 7 
O c o m p o s t o 6 9 
F a t o r e s i m p o r t a n t e s n a c o m p o s t a g e m 7 1 
Dimensões d o c o m p o s t o 7 2 
A adubação v e r d e 7 4 
A s l e g u m i n o s a s 7 5 
A restauração d e s o l o s 7 8 
A importância d a rotação d e c u l t u r a 7 9 
A b o a o l h e i t a 8 1 
Época c o r r e t a 8 1 
S e m e n t e m e l h o r a d a 8 1 
T r a t o s c u l t u r a i s c o r r e i o s 8 2 
C o n t r o l e d a erosão 8 2 
S e m e a d u r a u n i f o r m e , espaçamento c o r r e t o 8 3 
S e c a g e m c o r r e t a 8 3 
O m a t o 8 4 
O aguapé ( " E i c h o r n i a c r a s s i p e s " ) : o f i l t r o b iológico . . . 8 6 
Êxtase d e P r i m a v e r a 8 8 
O s f l a m b o y a n t s estão f l o r i d o s 9 0 
A s p r a g a s e a s doenças 9 2 
A s p l a n t a s c o m p a n h e i r a s 9 3 
O s i n s e t i c i d a s n a t u r a i s 9 4 
C o n t r o l e d a m o s c a - d a - f r u t a 9 7 
O s pássaros a m i g o s 9 9 
" A saúva: a g r a n d e injustiçada" 1 0 1 
Profissão: h o r t i c u l t o r 1 0 4 
A h o r t a 1 0 4 
Agrocalendário: q u a n d o e c o m o p l a n t a r 1 1 0 
P r i n c e s a A i s h a : a essência d a l u z 1 2 4 
A c u l t u r a d o a r r o z 1 3 0 
C i c l o v e g e t a t i v o 1 3 0 
8 
A r r o z d e s e q u e i r o 1 3 1 
A r r o z i r r i g a d o 1 3 2 
Método d o t r a n s p l a n t e 1 3 4 
C o l h e i t a 1 3 5 
C o m o r e c o n h e c e r o a r r o z m a d u r o 1 3 6 
D e b u l h a 1 3 6 
S e c a g e m 1 3 7 
Conservação 1 3 8 
D e p o i m e n t o s 1 3 9 
L u t z e m b e r g e r e a a g r i c u l t u r a ecológica 1 3 9 
S r . Mário N o g u e i r a e a s m i n h o c a s 1 4 2 
Introdução d a c u l t u r a biológica a nível n a c i o n a l 1 4 5 
P r o f e s s o r B r i t o , d e F l o r e s t a l , e a o f i c i n a a l t e r n a t i v a 1 4 7 
S u a organização 1 4 7 
Faça você m e s m o 1 5 0 
Pincéis e e s c o v a d e d e n t e s n a t u r a i s 1 5 0 
E s c o v a d e d e n t e s d e c r i n a 1 5 1 
Túnica d e s a c o d e f a r i n h a 1 5 1 
J a l a n e t e o u l i m p a d o r d e n a r i z 1 5 2 
B a n q u e t a p a r a m e d i t a r ( S e i z a ) 1 5 3 
Caçadeiras d e l a r v a s d e m o s c a s 1 5 4 
S i l o subterrâneo p a r a c e r e a i s 1 5 5 
B i o d i g e s t o r 1 5 6 
C o m o u s a r o S o l , n a prática 1 5 8 
O i n v e n t o r , a observação e o S o l 1 5 8 
S e c a d o r s o l a r m o d e l o L . 0 1 5 9 
F o r n o s o l a r m o d e l o F . V 1 6 1 
A q u e c e d o r s o l a r d e água 1 6 2 
O f u r ô s o l a r 1 6 4 
Fermentação e conservação d e a l i m e n t o s 1 6 7 
C e r v e j a n a t u r a l 1 6 7 
V i n h o d e f r u t a s 1 6 8 
V i n a g r e d e f r u t a s 1 6 9 
C o n s e r v a s láticas 1 6 9 
Missô: o a g e n t e a n t i - r a d i a t i v o 1 7 2 
C o m p o n e n t e s químicos d o missô 1 7 5 
F e r m e n t o d o a r r o z ( k o j i ) 1 7 5 
A v e r d a d e i r a história d e u m a família d o e n t e 1 8 2 
A experiência c o m a i o g a 1 9 0 
9 
Apresentação 
José Hermógenes * 
S o u s u s p e i t o p a r a f a l a r d e H i r o s h i e d e s e u l i v r o , p o i s 
m e c o n s i d e r o p a i e s p i r i t u a l d o p r i m e i r o e , c o n s e q u e n t e m e n -
t e , avô d o s e g u n d o . M a r i a , m i n h a e s p o s a , d i z o m e s m o . O 
q u e v i e r m o s a d i z e r p o d e s e r s u s p e i t o d e " c o r u j i s m o " . 
P a i e s p i r i t u a l , não p o r q u e e l e mê v e j a a s s i m , m a s p o r -
q u e , d e s d e n o s s o p r i m e i r o c o n t a t o , s e n t i - m e a s s i m c o m o u m 
p a i q u e é f e l i z p o r v e r s e u f i l h o c r e s c e n d o e m p u r e z a , a m o r , 
inteligência, c r i a t i v i d a d e , devoção, renúncia, a m o r a D e u s e 
a o próximo. Aliás, a dimensão renúncia e r a a m a i s a c e n t u a d a 
n e l e . 
Q u a n d o M a r i a e éu o e n c o n t r a m o s , n a d a l e v a v a c o n -
s i g o senão u m a r e d u z i d a m o c h i l a , n a q u a l c o n d u z i a t a l v e z 
u m a única m u d a d e r o u p a . Não q u e r i a s a b e r d e g a n h a r d i -
n h e i r o , n e m d e e m p r e g o . Não p r e t e n d i a f i n c a r raízes e m 
q u a l q u e r l u g a r . . . L e m b r a v a - n o s J e s u s a o e n v i a r s e u s discí-
p u l o s , d e d o i s e m d o i s , r e c o m e n d a n d o "não l e v a r e m n a d a 
p a r a a v i a g e m , n e m pão, n e m a l f o r j e n e m d i n h e i r o d e c o b r e 
n o s b o l s o s d o s s e u s c i n t o s . . . " Não e r a u m hippie d e s g r e -
n h a d o , i m u n d o e i n t o x i c a d o . S u a única intoxicação e r a a d e 
a m o r a o próximo, e a s u a preocupação (ética e técnica), c o m 
e s t a i n s e n s a t a destruição d a b i o s f e r a , q u e a i n d a h o j e , e p a -
r e c e , c a d a v e z m a i s , o s estúpidos d o n o s d o p o d e r , d o n o s d o 
m u n d o , c o n t i n u a m a l e v a r às últimas consequências. 
Discípulo d e c l a r a d o d e São F r a n c i s c o d e A s s i s , p o r t a n -
t o a m a n d o d e v o t a d a m e n t e o G r a n d e U n o , o E u S o u , a N a -
t u r e z a , e r a u m c o n t e s t a d o r , a o e s t i l o G a n d h i , i s t o é, c o m 
A h i n s a (não-violência), d e t o d a f o r m a d e injustiça, d e c r i m e , 
d e exploração, d e massificação, d e estupidificação d o h o m e m 
* Membro da Associação Internacional de Professores de Ioga, pio-
neiro em medicina holística no Brasil, ex-vice-presidente da Sociedade 
Teosófica do Brasil. 
1 1 
d e p o d e r c o n t r a o h o m e m o p r i m id o . N a d a c o b r a v a p e l o s e n s i -
n a m e n t o s q u e m i n i s t r a v a s o b r e u m a e s p e c i a l i d a d e , q u e , m e -
d i a n t e v a l i o s a s e às v e z e s d o l o r o s a s experiências, f o i e n r i q u e -
c e n d o . D a v a e n s i n o e a m o r , s e m n a d a c o b r a r , a t r o c o d e 
n a d a , n e m m e s m o d e r e c o n h e c i m e n t o . U m c a n t o p a r a d o r m i r , 
u m l u g a r à m e s a e p r o n t o ! E s t a v a p a g o e f e l i z . N a l i n g u a -
g e m d o s i o g u e s s e r i a c h a m a d o u m samnyasin, i s t o é, a q u e l e 
q u e r e n u n c i a r a às compensações, a o s v a l o r e s e a o s vínculos 
m u n d a n o s . 
A q u e l e j o v e m j a p o n e s i n h o , h u m i l d e d e c a r n e s e d e a p e -
g o , c o n q u i s t o u o coração d o c a s a l Hermógenes. F o i a s s i m q u e 
e s p i r i t u a l m e n t e o a d o t a m o s . 
M a r i a e e u s e n t i m o s o q u a n t o s e u s p a i s consanguíneos 
d e v e r i a m e s t a r p r e o c u p a d o s c o m u m f i l h o , q u e , d e p o i s d e 
t a n t o s a n o s d e g r a n d e s sacrifícios, c o n s e g u i r a u m d i p l o m a e 
a g o r a não o u s a v a p a r a , c o m e l e , g a n h a r a v i d a p r o f i s s i o n a l -
m e n t e . E e r a m p a i s p o b r e s e t i n h a m a q u e l e f i l h o único, q u e 
p e r a m b u l a v a p e l o m u n d o , s e m e i r a n e m b e i r a . 
A e l e s d i r i g i u m a c a r t a , t e n t a n d o ajudá-los a v e r o f i l h o 
s o b o p r i s m a não pragmático, m a s e s p i r i t u a l , p r o c u r a n d o 
tranquilizá-los s o b r e o q u e p o d e r i a m p e n s a r d e n e g a t i v o — 
o f i l h o , u m hippie irresponsável, e m prejuízo d o agrónomo, 
e m p r e g a d o e g a n h a d o r d e d i n h e i r o . 
O r a , v i v e m o s n u m m u n d o d i f e r e n t e ; n u m m u n d o q u e 
não s a b e r e c e b e r u m samnyasin, o apóstolo r e n u n c i a n t e ; q u e 
não v a l o r i z a a s a b e d o r i a , m a s o " c a n u d o d e p a p e l " ; não o 
a m o r , m a s o status; não a competência e f e t i v a , m a s a " i m a -
g e m " f o r j a d a p e l a p r o p a g a n d a ; não o c i c i a r d a b r i s a , m a s 
rock superdecibélico (bélico, m e s m o , p o i s l e m b r a g u e r r a ) , 
não o q u e é s i m p l e s e p u r o , m a s o b r i l h a n t e m e n t e poluído e 
c o m p l i c a d o . . . 
M a r i a c h a m o u a q u e l e f i l h o às f a l a s . M o s t r o u - l h e q u e a 
g e n t e p o d e p r a t i c a r c a r m a i o g a e m b o r a r e c e b a p r o v e n t o s d e 
u m a profissão h o n e s t a ; q u e a renúncia i n t e r n a é m a i s válida 
d o q u e a e x t e r n a e q u e e l e já e r a i n t i m a m e n t e ( e n t r e e l e e 
D e u s ) u m r e n u n c i a n t e , v i e s s e o u não a e x e r c e r u m t r a b a l h o 
p r o f i s s i o n a l ; q u e , e m b o r a c o n t i n u a s s e i n t e r i o r m e n t e h u m i l -
d e ( d e e g o r e d u z i d o o u d e s a t i v a d o e m f a v o r d e D e u s ) , p r e -
c i s a v a a p a r e c e r , p r o m o v e r - s e , p o i s t o d a a i m e n s a v a l i d a d e d e 
s u a p r o p o s t a ( t e c n o l o g i a a l t e r n a t i v a ) s e p e r d e r i a n o a n o n i -
m a t o ; q u e não é o a s s u m i r u m l u g a r n a s o c i e d a d e q u e i m p e -
1 2 
d e a s a n t i d a d e , m a s , s i m , o d e i x a r - s e d o m i n a r p e l o i m e n s o p o -
d e r c o r r o s i v o d a c u l t u r a m a t e r i a l i s t a s u i c i d a q u e aí está; q u e 
o m u n d o está a s s i m , a g o n i z a n t e , p o r q u e o s sábios e o s s a n t o s 
q u e o s a l v a r i a m i n s i s t e m e m p e r m a n e c e r n o a n o n i m a t o , e n -
q u a n t o d e i x a m , s o b t o d a s a s f o r m a s (política, económica e 
r e l i g i o s a ) , c a m p o l i v r e p a r a q u e o s c o r r u p t o s e c o r r u p t o r e s 
e m l u t a p e l o p o d e r exerçam c r u e l m e n t e s e u s t r u q u e s , s e u s 
g o l p e s , s u a s " c a m p a n h a s " , q u e , n e g a n d o - s e à p r o f i s s i o n a l i z a -
ção, e s t a r i a s e n d o i n j u s t o p a r a c o m s e u s p a i s consanguíneos, 
q u e t a n t o " i n v e s t i r a m " n o filho-esperança e e s t a v a m s o f r e n -
d o , b e m c o m o p a r a c o m a s o c i e d a d e h u m a n a , tão c a r e n t e d a s 
v e r d a d e s e d o know-how d a t e c n o l o g i a a l t e r n a t i v a . . . A a r -
gumentação f o i irrespondível e , a i n d a m a i s , o t o m a m o r o s o -
energético d e mãe p a r a f i l h o . O "puxão d e o r e l h a " v a l e u . 
O p r i m e i r o c u r s o c o m inscrição p a g a f o i l o g o a r r a n j a d o 
p o r nós, e r e a l i z o u - s e n o D e p a r t a m e n t o d e C u l t u r a d a S e c r e -
t a r i a d a Educação d e Petrópolis. A g r a d o u e m c h e i o . S e u c o n -
teúdo é riquíssimo e , p a r t i c u l a r m e n t e , s i n t o q u e f u i e u q u e m 
m a i s l u c r o u . T o m e i c o n h e c i m e n t o d o f a s c i n a n t e m u n d o d e 
soluções n a t u r a i s , s i n g e l a s , p u r a s , económicas e ecológicas 
a p r e s e n t a d a s p a r a o q u a d r o t e n e b r o s o q u e a t e c n o l o g i a d o s 
" g r a n d e s " v e m c r i a n d o , m e d i a n t e a agressão a t o d a s a s m a -
nifestações d a V i d a U n a . 
H i r o s h i não p a r o u m a i s d e r e c e b e r c o n v i t e s p a r a d a r 
c u r s o s p o r t o d o e s t e B r a s i l . Êxito e m t o d o s e l e s . F e z a m i g o s 
p o r t o d a a p a r t e . 
V o l t o u a s u a c a s a p a r a a j u d a r o s p a i s . F o i d a r - l h e s o 
n e c e s s i t a d o e m e r e c i d o a p o i o . F o i f a b r i c a r - l h e s o s móveis, 
p a r a d e s e n v o l v e r e m e l h o r a r o s serviços d a pensão n a t u r i s t a 
q u e p r o f i s s i o n a l m e n t e mantêm. 
C a i u , m o n g e q u e e r a , s o b o sortilégio d e u m a j o v e m 
b a i a n a , e d o c a s a m e n t o n a s c e r a m A i s h a e N a l i n i L u a . E m s u a 
v i d a d e f i l h o a m a n t e e d e p a i e e s p o s o d e s v e l a d o , H i r o s h i 
d i s t r i b u i o t e m p o e n t r e e s t u d o s d e a g r i c u l t u r a n a t u r a l , v i d a 
e s p i r i t u a l , música (compõe, e x e c u t a e c a n t a ) ; p r a t i c a i o g a , 
a r t e s m a r c i a i s , o r a , t r a b a l h a , s e g u e o s e n s i n a m e n t o s d e Y o g a -
n a n d a e São F r a n c i s c o d e A s s i s . S a i f r e q u e n t e m e n t e e m v i a -
g e n s , a e n s i n a r . N o s i n t e r v a l o s , g e r o u o u t r o f i l h o : s e u l i v r o . 
D e s d e o m o m e n t o e m q u e m e f a l o u d o p l a n o d e e s c r e -
vê-lo até h o j e , q u a n d o está p r e s t e s a s a i r , m a n t i v e - m e e m e n -
t u s i a s m a d a e x p e c t a t i v a , p o i s é u m a o b r a q u e fará incalculá-
v e l b e m a o m u n d o s o f r i d o d e n o s s o s d i a s . C o m o p r o d u t o d o 
a m o r , d o propósito d e s e r v i r , d a inspiração d e c i m a , d a n e -
1 3 
c e s s i d a d e d o m o m e n t o , d e u m a v a l i o s a experiência, d e e s t u -
d o s científicos b e m f u n d a d o s — e s t e l i v r o , m e u n e t o , q u e 
a g o r a n a s c e — está d e s t i n a d o a u m g r a n d i o s o f u t u r o . D e s t i -
n a n d o - o a i n s t r u i r f a z e n d e i r o s , d o n o s d e chácaras e sítios, 
s o b r e c o m o , i n d e p e n d e n t e m e n t e d a t e c n o l o g i a s o f i s t i c a d a , 
m e l h o r a r a condição d a p r o p r i e d a d e , t o r n a n d o - a u m v e r d a -
d e i r o e c o s s i s t e m a p r o d u t i v o e b e l o , H i r o s h i está p r e s t a n d o 
u m g r a n d e serviço a t o d o s os q u e d e s e j a m alcançar e l e v a d o 
g r a u d e auto-suficiência. 
O i n c e n t i v o a o a m o r à N a t u r e z a e a o s a l u t a r convívio 
c o m o s e l e m e n t o s — A r , Água, S o l o , V e n t o , S o l — é u m a 
c o n s t a n t e e m t o d a s a s páginas. H i r o s h i , e m c e r t o s parágrafos, 
f a l a b e l o c o m o u m místico discípulo d e São F r a n c i s c o a d i r i -
g i r - s e a o s irmãos S o l , L u a , Húmus, H o m e m , B r i s a , F l o r , F r u -
t o . . . a i d e n t i f i c a r - s e c o m e l e s , a v i v e n c i a r i n e b r i a n t e fusão 
c o m t u d o e c o m o T o d o . N o u t r o s , é o técnico q u e e s t u d o u , 
e x p e r i e n c i o u , o b s e r v o u , e x p e r i m e n t o u , a p r e n d e u , l e u , pôs à 
p r o v a , c u r t i u , a s s i m i l o u , e a g o r a e n s i n a c o m o d e v e s e r , c o m o 
c o r r i g i r , c o m p l e t a r , c o n s t r u i r , p l a n t a r , r e g a r , g e r m i n a r , v i v i -
f i c a r , n u t r i r , c o l h e r , a d u b a r . . . P o e t i c a m e n t e , f a z - n o s v i v e n -
c i a r o s c i c l o s d a N a t u r e z a e o B a i l e S u b l i m e d e s e u s e l e m e n -
t o s , d e n t r o d e u m a b e m intuída visão advaita, q u a n d o 
c o m p r e e n d e m o s q u e s o m o s o T o d o , o U n o s e m S e g u n d o , n a 
experiência p r o f u n d a d e s e r m o s T u d o , t u d o a q u i l o q u e a 
multifária N a t u r e z a é, e m s u a s l e i s , e m s e u d i n a m i s m o , e m 
s e u s p r o f u n d o s mistérios. 
A c r e d i t o q u e g n o m o s , sílfides, s a l a m a n d r a s , t o d o s o s 
devas d a b i o s f e r a estão e m f e s t a e a g r a d e c i d o s a n o s s o " j a -
p o n e s i n h o m a l u c o ' ' e g e n i a l q u e , p o r a m o r a o s h o m e n s e s e u 
habitat, q u e r e n d o q u e t o d o s s e s a l v e m d a catástrofe, lança 
s e u l i v r o , a o m e s m o t e m p o tão b e l o e tão pragmático 
L o u v o r e s a D e u s 
José Lutzemberger * 
A h u m a n i d a d e e n c o n t r a - s e h o j e d i a n t e d e u m a e n c r u z i -
l h a d a f a t a l . Está e v i d e n t e , p a r a t o d o s o s q u e q u e r e m v e r , 
* Engenheiro agrónomo, presidente da Associação Gaúcha de Prote-
ção ao Ambiente. 
1 4 
q u e a s a t u a i s o r g i a s d e e s b a n j a m e n t o d e m a t e r i a i s e d e e n e r -
g i a , a devastação b r u t a l e e n v o l v e n t e d a N a t u r e z a e a c r e s -
c e n t e injustiça s o c i a l não poderão c o n t i n u a r p o r m u i t o 
t e m p o . A insistência n e s s e c a m i n h o levará a c o l a p s o s i n d e s -
critíveis, a convulsões s o c i a i s n u n c a v i s t a s e , p o s s i v e l m e n t e , 
à h e c a t o m b e d e u m c o n f l i t o m u n d i a l n u c l e a r . 
A j u v e n t u d e i n t e l i g e n t e , i n f o r m a d a , i d e a l i s t a s e i n s u r g e 
c o n t r a e s t e e s t a d o d e c o i s a s . Não p o d e aceitá-lo. M a s são 
p o u c o s o s q u e têm a visão, o espírito d e sacrifício e a i n i c i a -
t i v a q u e o s l e v e à ação. M e u q u e r i d o e j o v e m a m i g o H i r o s h i 
é u m d o s h o m e n s d e ação. Será u m d o s g r a n d e s líderes d a 
f u t u r a s o c i e d a d e pós-consumista. 
O s c a m i n h o s d o f u t u r o não estão d o l a d o d a c o n c e n t r a -
ção e d o g i g a n t i s m o tecnológico. E s t e c a m i n h o , m e s m o q u e 
f o s s e e c o l o g i c a m e n t e sustentável, s e r i a execrável, p o i s a c a -
b a r i a p o r l e v a r a o d e s p o t i s m o t o t a l e g l o b a l , e m v i r t u d e d o 
c o n t r o l e c e n t r a l e e n v o l v e n t e q u e pressupõe. C o n t r o l e q u e já 
s e p r e p a r a e s e a l a s t r a . S e q u e r e m o s u m a s o c i e d a d e r e a l m e n -
t e h u m a n a e j u s t a , e m h a r m o n i a sustentável c o m a N a t u r e z a , 
o c a m i n h o a s e g u i r é o c a m i n h o d a s t e c n o l o g i a s b r a n d a s . E n -
q u a n t o q u e a s t e c n o l o g i a s d u r a s d o a t u a l c a m i n h o tecnocráti-
c o " c a p i t a l i s t a " o u " c o m u n i s t a " são t e c n o l o g i a s s e m p r e c o n -
c e b i d a s e m função d o s i n t e r e s s e s d o p o d e r q u e a s p r o m o v e , 
a s t e c n o l o g i a s b r a n d a s têm c o m o a l v o a t e n d e r r e a i s n e c e s -
s i d a d e s h u m a n a s , s e m a demolição d o G r a n d e P r o c e s s o V i t a l , 
d o m a r a v i l h o s o C a u d a l d a V i d a , d o q u a l nós, h u m a n o s , 
s o m o s a p e n a s p a r t e inseparável. 
P e l o b e m d e n o s s o s f i l h o s e d e s c e n d e n t e s , d e s e j o o má-
x i m o s u c e s s o a e s t e l i v r o . 
Ana Primaveú * 
N a d a m a i s i m p o r t a n t e d o q u e o H o m e m s e c o n s c i e n t i -
z a r c o m o p a r t e d a N a t u r e z a . E , a p e s a r d e t o d a técnica s o f i s t i -
* Engenheira agrónoma especialista em usolos e nutrição vegetal". 
Professora adjunta na UFSM, onde fundou e dirigiu o laboratório de 
química do solo. 
1 5 
c a d a , e l e está s u j e i t o às L e i s N a t u r a i s c o m o q u a l q u e r a n i m a l 
o u p l a n t a . 
Q u a n d o s e c o m p o r t a r c o m o p a r a s i t a , terá o f i m d e t o d o s 
o s p a r a s i t a s : s u a auto-extinção. E , q u a n d o s e c o m p o r t a r 
c o m o p a r t e d o t o d o , será p r e s e r v a d o p a r a m a n t e r o equilíbrio. 
M a s p a r a p o d e r c o m p r e e n d e r s e u p a p e l n e s t e m u n d o 
terá d e r e d e s c o b r i r a o r i g e m d e s i m e s m o , o u s e j a , a s u a 
a l m a , p r o c u r a n d o n u t r i - l a c o m o B e l o , o S u t i l e o E t e r n o q u e 
e x i s t e m n e s t e m u n d o . E d e r e p e n t e descobrirá o A m o r a t u d o 
q u e o r o d e i a e , c o m i s s o , a a l e g r i a d e u m a V i d a c h e i a e r e a -
l i z a d a . O v a z i o a t e r r a d o r q u e t o m o u c o n t a d e l e sumirá, não 
n e c e s s i t a n d o s e r a b a f a d o p e l o b a r u l h o . E n o Silêncio e n c o n -
trará a f e l i c i d a d e . 
O t r a b a l h o d e H i r o s h i t e n t a n o s a j u d a r a e n c o n t r a r a 
nós m e s m o s e v e r a b e l e z a d a N a t u r e z a e a t r i s t e z a d e s u a 
destruição. É a p r o c u r a d e u m a v i d a m e n o s a r t i f i c i a l e m a i s 
n a t u r a l , m a i s c a m a r a d a , m a i s b e l a e m a i s c o m p e n s a d o r a . É 
u m a p o e s i a q u e s e e n f i l e i r a n a s m i l e u m a a r m a s c o m q u e 
s e l u t a p e l a preservação d o m e i o a m b i e n t e , d o n o s s o g l o b o 
t e r r e s t r e , d a espécie h u m a n a . 
1 6 
A n t e s d e começar a l e r . . . 
Você p o d e não c o n c o r d a r c o m m u i t a s c o i s a s q u e a q u i 
e s c r e v i . R e s p e i t o . Não s o u d o n o d a V e r d a d e A b s o l u t a . T e -
n h o m u i t o o q u e a p r e n d e r . 
T a l v e z s e j a p o r i s s o q u e e s t e também é u m l i v r o d e 
p o e s i a . O q u e a q u i e s c r e v i são c o i s a s q u e já e x p e r i m e n -
t e i , v i v e n c i e i e a g o r a p a s s o à f r e n t e . N a d a teórico. É a 
V i d a : i n s p i r a r - e x p i r a r , r e c e b e r - d a r , c o m e r - e v a c u a r , n a s c e r -
m o r r e r . . . 
D u r a n t e a n o s , p e s q u i s e i p o r q u a s e t o d o s o s E s t a d o s 
d e s t e país. C o n v i v i c o m c i e n t i s t a s n a s u n i v e r s i d a d e s , c a b o -
c l o s n a s roças, índios n a m a t a , místicos p e l o s p l a n a l t o s , i o -
g u e s e m o n g e s e m s e u s m o s t e i r o s . 
P o r t a n t o , você p o d e s e r u m c i e n t i s t a e l o c a l i z a r m u i t o s 
e r r o s ; o u você po d e s e r u m p o e t a e a c h a r b a n a l m i n h a o b r a . 
M a s , d e q u a l q u e r m a n e i r a , d u r a n t e m i n h a infância, 
a p r e n d i c o m m e u avô-professor e p o e t a z e n a v e r d a d e i r a m e n -
t e l e r , i s t o é, a f i n a r o s a n s e i o s d o l e i t o r c o m a p r o p o s t a d o 
a u t o r ; o l e i t o r s e t r a n s f o r m a n d o n o a u t o r p a r a q u e n e s s e m o -
m e n t o o m e s m o m e c a n i s m o d e raciocínio e percepção s e j a 
d e s e n c a d e a d o . P a r a i s s o , i n i c i o o l i v r o c o m a l g u m a s a p r e s e n -
tações q u e tentarão n o s s i n t o n i z a r . . . A f i n a l , " T u e e u s o -
m o s U m " . . . 
N o t a : Atualmente, o autor é diretor-presidente da Fazenda-Escola, 
entidade jurídica sem fins lucrativos, localizada em Poções, BA, des-
tinada a ensinar e a assistir os agricultores da região, divulgando as 
técnicas da agricultura ecológica. Os valores dos produtos aqui citados 
estão expressos em cruzeiros, moeda em vigor quando este livro foi 
escrito. 
1 7 
Introdução 
N o m o m e n t o , s e n t a d o s o b u m j o v e m l i m o e i r o — o 
c h e i r o d o c e d e s u a s f l o r e s b r a n c a s e x i g e u m a condição p a r a 
s e r p e r c e b i d o : p a r a r . S e n t a r s e m p r e s s a , s e m a i n t r a n q u i l i d a -
d e q u e n o s p r i v a d e v i v e r o a q u i - e - a g o r a , s e m a inútil p r e o -
cupação p o r u m f u t u r o q u e n u n c a c h e g a c o m o q u e r e m o s n e m 
a n o s t a l g i a d o m o m e n t o q u e p a s s o u . 
S i n t o n i z a r s e u s m o v i m e n t o s - p e n s a m e n t o s c o m o T o d o 
a m b i e n t e . A c r e d i t a r q u e também s o m o s e f o m o s c r i a d o s p a r a 
d e s f r u t a r d e s s e Paraíso temporário. 
E m t r o c a d e s s a p e q u e n a exigência, você perceberá q u e 
a t a t u r a n a não é tão f e i a q u a n t o n o s f i z e r a m a c r e d i t a r d u -
r a n t e a n o s ; n a s u a p a z , até o terrível m a r i m b o n d o pousará 
c u r i o s o n o s e u o m b r o s e m picá-lo. R e p a r e q u e c a d a v e z m a i s 
você é i g n o r a d o n e s s e p e q u e n o u n i v e r s o q u e , a s s i m , r e t o m a 
s u a s a t i v i d a d e s n o r m a i s a d m i t i n d o tê-lo c o m o m e r o e s p e c t a -
d o r d e s s e espetáculo diário q u e q u a s e e s q u e c e m o s q u e e x i s t i a . 
M e u p a i v e m c a l m o e s i l e n c i o s o r e g a r a h o r t a — p a -
reço o u v i r a A l e g r i a V e r d e — c o m o u m p i p o q u e i r o c e r c a d o 
d e crianças. . . a vizinhança d i z q u e e l e t e m o " d e d o 
v e r d e " . . . 
C e n o u r a s , c o u v e s , s a l s a s , c e b o l a s , a c e l g a s , n a b o s . . . 
T u d o q u e e l e p l a n t a v i n g a ; até g a l h o u s a d o c o m o e s t a c a r e -
c u p e r a a v i d a . T o d o espaço d o n o s s o q u i n t a l é o c u p a d o p o r 
frutíferas, c o m p o s t o , h o r t a , m u d i n h a s ; s u a a l e g r i a é p r e s e n -
t e a r o s o u t r o s c o m m u d a s d e frutíferas o u f l o r e s . 
L o n g e ouço o c h i l r e a r d a p a n e l a d e pressão. . . m i n h a 
mãe v e m s o r r i d e n t e b u s c a r c e n o u r a s e n a b o s p a r a o almoço. 
S u a m a g i a n a c o z i n h a t e m f e i t o n o s s o p e q u e n o r e s t a u r a n t e 
a t r a i r c a d a v e z m a i s p e s s o a s q u e b u s c a m u m a v i d a m a i s 
n a t u r a l . 
1 9 
Q u a n t a p a z . . . 
Q u a n t a h a r m o n i a . . . 
É dádiva q u e n e n h u m b e m m a t e r i a l p o d e t r a z e r ; s e r 
e x i s t e n c i a l m e n t e f e l i z n a s i m p l i c i d a d e m a t e r i a l . 
P r a q u e a p r e s s a ? 
C o m o u s e m n o s s a p r e s s a o d i a terá v i n t e e q u a t r o h o -
r a s , t u d o será c o m o d e v e s e r . . . é só s e s o l t a r n e s s e m o v i -
m e n t o s e m começo n e m f i m q u e l e v a p a r a u m só l u g a r . . . 
Q u a l o m o m e n t o p a r a começar? 
É c o m o p l a n t a r . U m a m a n g u e i r a d e m o r a p a r a d a r f r u -
t a s ? P l a n t e , p o i s p l a n t a n d o o u não, o t e m p o passará. 
T u d o é i n t e r l i g a d o e i n t e r a g e n t e — d e u m m o d o s u t i l 
o u o b v i a m e n t e visível e s s a l e i cósmica h o j e começa a c o b r a r 
a s p e n a l i d a d e s p e l a s u a não-observância. 
O p l a n e t a está s u p e r p o v o a d o — a Mãe N a t u r e z a f e l i z -
m e n t e já a c i o n o u o m e c a n i s m o d e seleção m a s s a l — a s d o e n -
ças e frustrações psíquicas q u e n o s s o m o m e n t o histórico e n -
f r e n t a são p r o v a d i s s o . 
P o r i s s o d e v e m o s n o s f o r t a l e c e r física, m e n t a l e e s p i r i -
t u a l m e n t e através d a observância d a s l e i s d a evolução e d a 
h a r m o n i a . 
" A v e r d a d e s e m p r e f o i a c e i t a p e l a s p e s s o a s d e b o m s e n -
s o m e s m o a n t e s d e s e r p r o v a d a . " 
O U n i v e r s o é s i m p l e s , b e l o e p e r f e i t o — t u d o a q u i l o 
q u e s e g u i r e s s a r e g r a é m a i s f a c i l m e n t e a c e i t o d o q u e o " c o m -
p l i q u i s m o " i n t e l e c t u a l i z a d o q u e p r e v a l e c e h o j e n a s p e s s o a s . 
P r e c i s a m o s s e r s i m p l e s p a r a v e r o s i m p l e s e m t u d o . 
S i m p l i f i c a r n o s s a alimentação. 
S i m p l i f i c a r n o s s a v e s t i m e n t a . 
S i m p l i f i c a r n o s s o p e n s a m e n t o . 
S i m p l i f i c a r n o s s o v i v e r , p a r a p o d e r e s t a r e m s i n t o n i a 
c o m o U n i v e r s o s i m p l e s , b e l o e p e r f e i t o . 
P a r a a a t u a l s o c i e d a d e " c o m p l i q u i s t a " , t e r u m a máquina 
d e s e c a r r o u p a f a b r i c a d a n o s E s t a d o s U n i d o s , f u n c i o n a n d o à 
c u s t a d e e l e t r i c i d a d e d e u m a u s i n a n u c l e a r o u u m a h i d r e -
létrica a m i l h a r e s d e quilómetros d e distância, é m a i s c o r r e t o 
d o q u e s i m p l e s m e n t e c o l o c a r e s s a m e s m a r o u p a n u m v a r a l . 
A f i n a l , t u d o é i n t e r l i g a d o : u m modus vivendi c o m p l i c a d o e 
i r r a c i o n a l só p o d e g e r a r p e s s o a s c o m p l i c a d a s e i r r a c i o n a i s . 
A p r o v a d i s s o não p r e c i s a m o s b u s c a r e m d a d o s d a ONU 
— é só o l h a r , o u r e s p i r a r , o u s e n t i r . . . 
2 0 
A s p e s s o a s não s a b e m m a i s c o n v e r s a r s o b r e c o i s a s r e a l -
m e n t e p r o d u t i v a s o u c r i a t i v a s ; a p e n a s r e p e t e m m e c a n i c a m e n -
t e slogans c o m e r c i a i s . 
A f i n a l d e c o n t a s , h o j e e m d i a é t u d o p a d r o n i z a d o — 
a s l a r a n j a s são t o d a s i g u a i z i n h a s — , t o d o s c o m e m i g u a l , 
p e n s a m i g u a l , a g e m i g u a l , a s s i m , é m u i t o m a i s fácil i n t r o d u -
z i r p r o d u t o s p a d r o n i z a d o s . 
O c o n s u m i s m o i n d u z i d o o u " a q u i s i t i t e compensatória" 
r e f l e t e b e m a n o s s a f a l t a d e razão e x i s t e n c i a l . 
" Q u a n t o m a i o r o d o r s o , m a i o r a f a c e . " 
" O Lótus b r o t a d o l o d o . " 
V e m o s s u r g i r d e s t e m o m e n t o histórico o b s c u r o o o u t r o 
l a d o ; o a p a r e c i m e n t o s e m p r e c r e s c e n t e d e p e s s o a s q u e b u s -
c a m a v i d a a l t e r n a t i v a , a razão d o e x i s t i r , através d o a p e r -
feiçoamento d o c o r p o , d a m e n t e e d o espírito. 
A u m e n t a m , d i a a d i a , a s e s c o l a s d e i o g a , o s r e s t a u r a n t e s 
n a t u r i s t a s , o s m o v im e n t o s ecológicos, a v o l t a à N a t u r e z a , a 
v o l t a a D e u s . . . 
S e m e r g u l h a r m o s f u n d o e p r o c u r a r m o s o q u e n o s l e v a 
a i s s o t u d o , v e r e m o s q u e , n a v e r d a d e , b u s c a m o s n o s s a f e l i -
c i d a d e s u p r e m a , n o s s a união c o m D e u s . . . e s s e r e n a s c i m e n -
t o i n t e r i o r começa c o m a harmonização c o n s i g o m e s m o . O 
r e s t o v e m d e p o i s , p o r acréscimo. 
T u d o n a N a t u r e z a é i n t e r l i g a d o e i n t e r a g e n t e — o l i v r o 
Manual de agricultura natural não p r e t e n d e s e r m a i s u m a r e -
c e i t a a s e r a p r e n d i d a e d e c o r a d a , e s i m o f e r m e n t o d o p o -
t e n c i a l c r i a t i v o q u e t o d o s t e m o s i n t e r i o r m e n t e . 
C r i a t i v i d a d e — L i b e r d a d e — S e u m a d a s b u s c a s q u e 
t e m o s n e s s a v i d a é a L i b e r d a d e , c o m o p o d e m o s s e r l i v r e s s e 
d e p e n d e m o s d e t a n t a c o i s a p a r a n o s s a t i s f a z e r ? Q u a n t o m e -
n o r n o s s a n e c e s s i d a d e , m a i o r n o s s a L i b e r d a d e . 
T o d o s nós s o m o s artesãos p o r d e n t r o — a s mãos são 
extensões d o p e n s a m e n t o — a s f e r r a m e n t a s são extensões 
d a s mãos. S e p r o j e t a m o s a l g o m e n t a l m e n t e , então p o d e m o s 
r e a l i z a r e s s e p e n s a m e n t o n o p l a n o m a t e r i a l , através d o d o -
mínio d e n o s s a s extensões. 
O o b j e t i v o d e s t e l i v r o também é d e s p e r t a r a s r e m i n i s -
cências r u r a i s q u e t o d o s t e m o s : a v i d a l i v r e n o c a m p o , d e i -
x a n d o - n o s a b s o r v e r n o s c i c l o s , n o s r i t m o s d a s l u a s , d a s - e s t a -
ções, d o c a n t a r d o g a l o , d o a l i m e n t o p l a n t a d o p e l a s próprias 
mãos — r e v i v e r a importância d a c h u v a , d o S o l , d o v e n t o , 
2 1 
d o s pássaros, d a s árvores — r e l e m b r a r q u e também s o m o s 
p a r t e d e s s a " B o l a A z u l " q u e f l u t u a n o espaço. 
O n d e c o n s t r u i r a c a s a ? O n d e p l a n t a r a h o r t a ? E o p o -
m a r ? C o m o t e r f r u t a s , f l o r e s , v e r d u r a s e p l a n t a d e c h e i r o o 
a n o t o d o ? Q u a n d o p l a n t a r ? C o m o a t r a i r pássaros benéficos? 
C o m o m e l h o r a r o s o l o ? C o m o c r i a r m i n h o c a s ? 
N a área d a t e c n o l o g i a a l t e r n a t i v a , v a m o s a c o m p a n h a r a 
trajetória d a e n e r g i a q u e p u l s a n o p l a n e t a — v e r e m o s q u e 
t o d a e l a v e m d o S o l ; d i r e t a o u i n d i r e t a m e n t e , t o d o s o s s e r e s 
v i v o s d e p e n d e m d e s s a b a t e r i a d i s t a n t e e diária. 
C o m o u s a r o S o l p a r a e s q u e n t a r a água? S e c a r f r u t a s ? 
E f a z e r u m pão i n t e g r a l ? 
O c o n h e c i m e n t o d o c o m p o r t a m e n t o e d o c i c l o v i t a l d o s 
f u n g o s e bactérias n o s levará a d o m i n a r a m i c r o a l q u i m i a d a s 
fermentações. Q u a l q u e r a l i m e n t o q u e t i v e r m o s à mão será 
passível d e s e r c o n s e r v a d o s e m p e r d e r s u a s p r o p r i e d a d e s n u -
t r i c i o n a i s e s e m e n v e n e n a r c o m c o n s e r v a n t e s , além d e p o d e r -
m o s a u m e n t a r s u a v i t a l i d a d e . 
S a b e - s e q u e o s f e r m e n t a d o s e x e r c e m e f e i t o s benéficos 
s o b r e o a p a r e l h o d i g e s t i v o , n o s d e s i n t o x i c a m d e t a n t o s p o -
l u e n t e s a q u e e s t a m o s e x p o s t o s . 
O q u e é u m f e r m e n t a d o ? 
C o m o r e c o n h e c e r e u s a r o s m i c r o a m i g o s ? 
O l i v r o e o c u r s o — a m b o s b u s c a m r e g a r a s e m e n t e d a 
fé e d o a m o r à N a t u r e z a q u e t e m o s d e b a i x o d a s máscaras 
d a s conveniências s o c i a i s . Não a fé c e g a o r i u n d a d e u m a v o n -
t a d e i n d u z i d a , m a s s i m a fé n a c e r t e z a n a s c i d a d a experiência 
p e s s o a l c o m a o b r a m a t e m a t i c a m e n t e e x a t a d o G r a n d e A r -
q u i t e t o d o U n i v e r s o . 
O l i v r o é f a r t a m e n t e i l u s t r a d o c o m f i g u r a s e m o d e l o s d e 
a p a r e l h o s s o l a r e s s i m p l e s q u e p o d e m s e r construídos n u m a 
o f i c i n a o u n o f u n i l e i r o d a e s q u i n a . 
O p l a n t a r d e v e v o l t a r a s e r c o m o o próprio r e s p i r a r ; até 
n u m a p a r t a m e n t o p o d e m o s t e r u m a h o r t a , c o n h e c e n d o - s e s u a 
f i s i o l o g i a e exigências n u t r i c i o n a i s . 
O depósito d e f e r r o v e l h o passará a s e r u m a v e r d a d e i r a 
m i n a d e o u r o . 
Q u a l q u e r p e d a c i n h o d e t e r r a l h e valerá m a i s q u e q u a l -
q u e r l u x u o s o a p a r t a m e n t o n o c e n t r o d a c i d a d e . 
2 2 
E a N a t u r e z a será n o s s o m e l h o r l i v r o , s e m p r e a b e r t o e 
s e m p r e e n s i n a n d o . 
N a h o r t a , a s c e n o u r a s e o mamão m a d u r o . 
N o t e l h a d o , o a q u e c e d o r d e água. 
N o s b a r r i s , o s c e r e a i s f e r m e n t a n d o m i c r o a l q u i m i c a -
m e n t e . 
N o f o r n o s o l a r , o s b i s c o i t o s d e g e r g e l i m . 
N o s e c a d o r , a s b a n a n a s e o s c a q u i s . 
N a t e r r a , o v e r d a d e i r o t e s o u r o . 
N a cabeça, m u i t a s i d e i a s v e r d e s . 
N a s mãos, m u i t o p o t e n c i a l c o n s t r u t i v o . 
N o coração, m u i t o a m o r p a r a d e s i n i b i r . 
T R A B A L H A R COM A NATUREZA E SER F E L I Z É D I F Í C I L ? 
2 3 
O q u e é a g r i c u l t u r a <(zeny> 
A p a l a v r a ((zerí} é o c o r r e s p o n d e n t e japonês d a p a l a v r a 
c h i n e s a "chan", q u e v e i o d o sânscrito "dhyana", q u e s i g n i -
f i c a "meditação": m o m e n t o e m q u e o " t u r b i l h o n a m e n t o d a 
m e n t e c e s s a " e s e t r a n s f o r m a n a superfície t r a n q u i l a d e u m 
l a g o ( a m e n t e d e u m B u d a , d e u m C r i s t o ) , r e f l e t i n d o , a s s i m , 
a essência d a r e a l i d a d e s e m a s interferências d o p e n s a m e n t o . 
O zen está p r e s e n t e e m t o d a a t i v i d a d e e m q u e o r a c i o -
cínio não p a r t i c i p a — é u m a l i n g u a g e m d i r e t a p a r a a a l m a . 
N o d e s e n h o c h a m a - s e sumiê. 
N a c a l i g r a f i a , shuuji. 
N a p o e s i a , haicai. 
N a a r t e f l o r a l , ikebana. 
N a alimentação, macrobiótica. 
N a c e r i m o n i a d o chá, tcha-no-yu. 
N a j a r d i n a g e m , te-en. 
N a a r t e m a r c i a l , ai-ki-dô e tai-chi-chuan. 
E n f i m , a g r i c u l t u r a zen é d e i x a r - s e l e v a r p e l o d e s e j o d a 
N a t u r e z a e m relação à produção d e a l i m e n t o s , o u s e j a , o b -
s e r v a r p a r a q u e l a d o f l u i e s t e r i o s e m começo n e m f i m . 
I r c o n t r a e s s e f l u x o levará à d e s a r m o n i a , a p r a g a s , d o e n -
ças e frustrações. O s e g r e d o é s o l t a r - s e n e s t a c o r r e n t e z a , p o i s 
e l a s a b e o q u e é m e l h o r p a r a nós. 
2 5 
A fábula d o p l a n e t a Mônada 
E s t a fábula é o r e l a t o d e u m a catástrofe q u e a c o n t e c e u 
n u m p l a n e t a d i s t a n t e . S o m e n t e a g o r a a e n t e n d e m o s e , p o r 
i s s o , é n e s s e m o m e n t o q u e a t r a n s m i t i m o s a t o d o s , c o m o f o i 
d e s e j o d o s s o b r e v i v e n t e s . . . 
N u m a galáxia d i s t a n t e , n u m p l a n e t a c h a m a d o Mônada, 
e x i s t i a m s e r e s b e m d i f e r e n t e s d e nós, é c l ar o . E r a m o s E g s . 
N o p l a n e t a só e x i s t i a m d u a s aglomerações: S o m o r r a e G o d o -
m a , o n d e m o r a v a m o s E g s . E n t r e e l e s h a v i a u m a espécie d e 
c a s t a . O s Egões e r a m a m i n o r i a , e d e várias m a n e i r a s d o m i -
n a v a m o s d e m a i s , o s E g u i n s . O q u e d i s t i n g u i a a s c a s t a s u m a s 
d a s o u t r a s e r a a q u a n t i d a d e d e u m m a t e r i a l a b s t r a i o c h a -
m a d o D i n , q u e t o d o s n o p l a n e t a e r a m c o n d i c i o n a d o s a j u n t a r 
d e s d e p e q u e n o s . 
U m a d a s f o r m a s d e dominação e r a r e p r e s e n t a d a p o r 
u m a espécie d e a p a r e l h o q u e t o d o s t i n h a m e m s u a s O i k a s — 
o H i p n o s . O s Egões, q u e c o n t r o l a v a m o t a l a p a r e l h o , q u e -
r i a m q u e t o d o s o s h a b i t a n t e s d e Mônada f o s s e m i g u a i s e m 
p e n s a m e n t o s e o b j e t i v o s , p o r i s s o e r a s u a intenção q u e e m t o -
d a s a s o i k a s h o u v e s s e u m h i p n o s p a r a c u m p r i r t a l f i n a l i d a d e . 
E s s e a p a r e l h o i m p e d i a - o s d e p e n s a r d i r e i t o , até m e s m o 
d e s e o l h a r e m . F i c a v a m t o d o s o l h a n d o p a r a o h i p n o s , q u e 
t r a n s m i t i a u m a doença d e s c o n h e c i d a e n t r e nós: a aquisitite 
crónica induzida 1 o u consumite compensatória, c u j o s i n t o m a 
e r a a verborragia superficiosa. 
Até a n u d e z e a procriação e r a m c o m p l i c a d a s e c h e i a s 
d e mistérios — só p a r a g e r a r m a i s confusão e d e s e n t e n d i -
m e n t o e n t r e e l e s . 
O t r a b a l h o e r a sacrifício e o a m o r , p e c a d o . H i p n o s t a m -
1 Chegamos a encontrar, no interior do Mato Grosso, caipiras que 
caminhavam vinte quilómetros para comprar margarina, porque "a 
televisão falou que faz bem ao coração"... . 
2 6 
b e m t r a n s m i t i a m e n s a g e n s d i r e t a s o u i n d i r e t a s , p a r a q u e 
t o d o s q u i s e s s e m t e r m a i s e m a i s o t a l d i n . E c o m o m u i t o s 
começaram a u s a r d e artifícios ilícitos p a r a c o n s e g u i r d i n , o s 
Egões e s t i p u l a r a m r e g r a s , d e m o d o a p a r e c e r q u e t o d o s o s 
E g s t i n h a m o s m e s m o s d i r e i t o s . Só q u e e s s a s r e g r a s , p o r s e -
r e m f e i t a s p e l o s Egões, b e n e f i c i a v a m s o b r e t u d o a e l e s 
m e s m o s . 
T o d o s o s E g s e r a m m u i t o d o e n t e s , p o r q u e e x i s t i a m a l -
g u n s Egões q u e e n v e n e n a v a m a própria c o m i d a — e r a m o s 
Agrocômícos. E , p a r a c u r a r e s s e s e n v e n e n a m e n t o s , e x i s t i a m 
Egões q u e e s t u d a v a m só p a r a e s s e f i m : e r a m o s R e m e n d a -
d o r e s o u Medegões. O medegão q u e r e m e n d a v a o dedão d o 
pé não s a b i a r e m e n d a r o dedão d a mão e v i c e - v e r s a . 
Q u a n t o m a i s títulos u m medegão o u agrocômico t i n h a 
n a f r e n t e d o n o m e , m a i s d i n e l e g a n h a v a : D r . P h d , M s , e t c . . . 
E n t r e t a n t o , o s E g s não s a b i a m q u e e x i s t i a m o u t r o s 
s e r e s q u e também e r a m v i v o s — o s G r a n d e s Irmãos. 
Ninguém p e r c e b i a q u e e l e s e r a m v i v o s , p o r q u e t o d o s 
e s t a v a m m u i t o o c u p a d o s e m g a n h a r d i n . E s s e s s e r e s e r a m 
irmãos e n t r e s i . U m d e l e s , Tér, o n d e t u d o s e a s s e n t a v a , e r a 
responsável p e l o s a l i m e n t o s , p e l a s r o u p a s , p e l o c l i m a e a m o -
r a d i a . O Irmão A g u , p o r intermédio d e g r a n d e s s u l c o s p l a n e -
j a d o s p e l o G r a n d e E n g e n h e i r o , a j u d a v a o s s e r e s v i v o s a t e -
r e m a l i m e n t o e a B e b i d a d a V i d a . H a v i a a i n d a a Irmã I n v i -
sível, c u j a presença só e r a n o t a d a q u a n d o o s h a b i t a n t e s f e -
c h a v a m o s N a s o s . 
O s G r a n d e s Irmãos já não s u p o r t a v a m m a i s o m o d o 
c o m o o s E g s o s t r a t a v a m , n a ânsia d e c o n s e g u i r e a c u m u l a r 
d i n , através d e l e s . A ganância d o s E g s e s t a v a m a t a n d o o s 
G r a n d e s Irmãos. . . Tér, p o r e x e m p l o , não a g u e n t a v a a s má-
q u i n a s p e s a d a s q u e o c o r t a v a m , o s p r o d u t o s químicos q u e 
j o g a v a m e m c i m a d e l e , o u a r e t i r a d a d e s u a p e l e v e r d e . 
A g u e r a o q u e m a i s s o f r i a . T u d o o q u e não s e u s a v a 
p a r a g e r a r d i n e r a a t i r a d o n e l e . C h e g a r a m a o cúmulo d e l h e 
a t i r a r f e z e s . A g u e s t a v a b r a v o : " D e i o m e l h o r q u e p u d e — 
vocês não m e d e r a m v a l o r — , m e i n j e t a r a m d r o g a s e v e n e -
n o s — a g o r a m o r r o . . . p r i m e i r o v o u f e d e r b a s t a n t e p a r a q u e 
vocês p e r c e b a m . Será m e u u l t i m a t o . T o d o s t i v e r a m c h a n c e . 
Não o u v i r a m . Pagarão c a r o a B e b i d a d a V i d a , q u e a n t e s e r a 
dádiva d e D e u s ; até e u , q u e o u t r o r a f u i c r i s t a l i n o , c h e i o d e 
v i d a , e s t o u m o r r e n d o . . 
A Irmã Invisível, c o m o s i n a l d e r e v o l t a , f o i d e i x a n d o 
2 7 
s o l t o s n o a r t o d o s o s g a s e s v e n e n o s o s q u e r e c e b i a . O Irmão 
Múu e r a i m p i e d o s a m e n t e m o r t o a m a r t e l a d a s , e , n a h o r a d a 
m o r t e , lançava n a própria c a r n e t o d a s a s sensações d a q u e l e 
m o m e n t o : o m e d o , a i r a , a r e v o l t a e a angústia — a s s i m , o s 
E g s q u e o d e v o r a v a m a s s i m i l a v a m t u d o a q u i l o : e r a u m a e s -
pécie d e vingança. 
A m o r t e , a s doenças e o s d e s a s t r e s c h e g a v a m s u t i l m e n t e 
a t o d o s o s c a n t o s , m a s o s E g s não p e r c e b i a m a r e v o l t a d o s 
G r a n d e s Irmãos. A f o m e e a miséria c e r c a r a m S o m o r r a e 
G o d o m a . Q u e m m a i s s o f r i a , g e r a l m e n t e , e r a m o s E g u i n s . 
T o d o s e s s e s a c o n t e c i m e n t o s , porém, f o r a m i n s u f i c i e n t e s 
p a r a d e s p e r t a r o s E g s d o s e u egoísmo. T a m p o u c o e n t e n d i a m 
a l i n g u a g e m d o s G r a n d e s Irmãos, q u e e r a m o s t e r r e m o t o s , 
a s e n c h e n t e s , a s s e c a s , a s e p i d e m i a s , e t c . 
Então, o s G r a n d e s Irmãos s e r e u n i r a m , c o n v o c a r a m o 
G r a n d e E n g e n h e i r o e d i s s e r a m : " S e n h o r , o s E g s estão n o s 
m a t a n d o , e l e s não e n t e n d e m n o s s a l i n g u a g e m , t e r e m o s q u e 
destruí-los o u e l e s n o s matarão". M a s o G r a n d e E n g e n h e i r o , 
além d e j u s t o , e r a s e n h o r d e t o d o o a m o r e r e s o l v e u d a r u m a 
o p o r t u n i d a d e a o s h a b i t a n t e s d a q u e l e p l a n e t a longínquo. 
D i s s e : " V o u f a z e r n a s c e r e n t r e o s E g s s e r e s q u e viverão e m 
h a r m o n i a c o m vocês, G r a n d e s Irmãos. E l e s tentarão e n s i n a r 
q u e a v i d a s e r e a l i z a através d o a m o r , d o r e s p e i t o e d a g r a -
tidão p o r t o d a s a s c r i a t u r a s . Saberão q u e o p l a n e t a é u m a 
g r a n d e o r q u e s t r a , o n d e t o d o s e r v i v e n t e , p o r m e n o r q u e s e j a , 
é tão i m p o r t a n t e q u a n t o q u a l q u e r o u t r o . E l e s serão s i m p l e s , 
h u m i l d e s e não s e interessarão p o r d i n . Serão f e l i z e s , m e s m o 
s e m e l e . Farão c o m q u e t o d o s o s E g s ouçam a s p a l a v r a s : 
S i m p l i c i d a d e , Justiça, S o r r i s o e A m o r . E ss e s n o v o s s e r e s 
chamar-se-ão A r n s " . 
E n t r e t a n t o , o s p r i m e i r o s A r n s f o r a m c r u e l m e n t e m a l t r a -
t a d o s e r i d i c u l a r i z a d o s . D i z i a m o s E g s : " A m o r a o próximo? 
S i m p l i c i d a d e ? Vocês estão é d r o g a d o s , s e u s v a g a b u n d o s " . 
M a s o s A r n s i n s i s t i a m : " T u d o n o p l a n e t a é i n t e r l i g a d o e i n -
t e r a g e n t e . O v e r d a d e i r o t e s o u r o não p o d e s e r r o u b a d o n e m 
e n f e r r u j a d o , n e m s o f r e d e s a j u s t e monetário — b u s q u e m p r i -
m e i r o o r e i n o d a p a z , d e p o i s o r e s t o virá p o r acréscimo. 
S e j a m l i v r e s : q u a n t o m e n o r e s a s n o s s a s n e c e s s i d a d e s , m a i o r 
a n o s s a l i b e r d a d e . V e j a m o s Irmãos V o a d o r e s , q u e não p l a n -
t a m n e m e n c e l e i r a m , porém o G r a n d e E n g e n h e i r o não l h e s 
d e i x a f a l t a r n a d a — a c a s o s o m o s i n f e r i o r e s a e l e s ? " 
" C h e g a . C h e g a " , g r i t a v a m o s E g s , q u e não q u e r i a m 
o u v i - l o s , "vocês estão d r o g a d o s . " D i z e n d o i s t o , e s p a n c a v a m 
2 8 
o s A r n s . C h e g a r a m a o cúmulo d e p e n d u r a r u m d e l e s n u m 
pedaço d e p a u . 
I r a d o s c o m e s s e a c o n t e c i m e n t o , o s G r a n d e s Irmãos s e 
r e u n i r a m n o v a m e n t e e c o n v o c a r a m o G r a n d e E n g e n h e i r o . 
D i s s e r a m - l h e : " S e n h o r , i n f e l i z m e n t e a c h a m o s q u e d e v e m o s 
e l i m i n a r o s E g s d o p l a n e t a — p e r m i t a - n o s c u m p r i r e s s a l i m -
p e z a " . 
N o v a m e n t e o S e r S u p r e m o d e u p r o v a d o s e u i m e n s o 
a m o r , d i z e n d o : " D e s t a v e z , o s A r n s serão e x e m p l o s v i v o s d a 
V e r d a d e Única. E l e s sairão d e S o m o r r a e G o d o m a e viverão 
j u n t o à Irmã V e r d e . D a q u i a a l g u m t e m p o vocês poderão s e -
p a r a r o j o i o d o t r i g o " . 
O s A r n s e r a m c o m o u m a g r a n d e família. E n t r e e l e s e x i s -
t i a u m a v e r d a d e i r a união; v i v i a m a l e g r e s e s o r r i d e n t e s . A c h a -
v a m q u e u m c o r p o saudável, através d u m a alimentação n a -
t u r a l , t e r i a saúde e , t e n d o saúde, e r a m f e l i z e s e , t e n d o f e l i -
c i d a d e , não p r e c i s a v a m d o t a l d i n . 
O Irmão S o l e n s i n o u - l h e s c o m o c o z i n h a r o s a l i m e n t o s 
s e m p r e c i s a r c o r t a r a s Irmãs Árvores; a Irmã Invisível m o -
v i a c a t a - v e n t o s q u e moíam c e r e a i s , b o m b e a v a m água e g e r a -
v a m a l u z . O Irmão A g u t r a b a l h a c o m p r a z e r p a r a e l e s . E l e 
g i r a v a r o d a s e n o r m e s , q u e e r a m l i g a d a s às s e r r a s c i r c u l a r e s , 
n a s m a r c e n a r i a s d o s A r n s . 
Não c o n h e c i a m a s p a l a v r a s e x p l o r a r , m a t a r . A n t e s d e 
c o r t a r d e t e r m i n a d a árvore, e l e s p l a n t a v a m três o u q u a t r o d a 
m e s m a espécie. C o r t a v a m s o m e n t e q u a n d o e r a necessário, e 
r e s p e i t a v a m m u i t o c a d a u m a d e l a s . H a v i a t o d o u m r i t u a l 
p a r a cortá-las, s a b i a m d a importância d e l a s n a s i n f o n i a d o 
equilíbrio d o p l a n e t a . 
P a r t e d o a n o e r a d e d i c a d a a p l a n t a r , a c u i d a r d a p l a n -
tação e à c o l h e i t a , m a s a m a i o r p a r t e d o a n o e r a d e d i c a d a à 
apreciação d a a r t e e d a c u l t u r a , à meditação e a o a p r e n d i z a d o 
c o m o s G r a n d e s Irmãos. U m a d a s lições d e q u e e l e s m a i s 
g o s t a v a m e r a e n s i n a d a p e l o s Irmãos Pássaros, e d i z i a : 
" Q u a n t o m e n o s a g e n t e t e m , m a i s l e v e a g e n t e f i c a , m a i s 
a l t o a g e n t e v o a e m a i s l o n g e a g e n t e vê " . A Irmã S e m e n t e 
d i z i a : " T o d o s vocês são d e u s e s p o r d e n t r o , a s s i m c o m o d e n -
t r o d e m i m e x i s t e u m p o m a r " . 
A Irmã F l o r d i z i a : " Q u a n d o a v a i d a d e e a ambição s e 
a p r o x i m a r e m d e vocês, l e m b r e m - s e d e m i m . S o u b e l a e f e l i z 
e p a r a i s s o só p r e c i s o d e u m p o u c o d e água, d e s o l e d e a r " . 
2 9 
O Irmão Tér e n s i n a v a a p l a n t a r : " D e v o l v a m - m e t u d o 
o q u e não u s a r e m p a r a c o m e r , o s p e q u e n o s irmãozinhos d o 
chão farão c o m q u e t u d o s e t o r n e a d u b o , o u t r a v e z . O b s e r -
v e m , é u m c i c l o , o s r e s t o s d e u n s são a l i m e n t o s d e o u t r o s " . 
A Irmã V e r d a d e e n s i n o u : " N u n c a m i n t a . Q u a n d o c h e -
g a r o m o m e n t o e m q u e i s s o a c o n t e c e r , d i g a a o c e g o : 'Você 
e n x e r g a ' , e e l e enxergará; à m o n t a n h a : ' A t i r e - s e a o m a r ' , e 
e l a cairá a o m a r . S i m p l e s m e n t e p o r q u e você não m e n t e " . 
O Irmão L a g o d i s s e : " O b s e r v e o r e f l e x o d o S o l q u a n d o 
m i n h a s águas estão c a l m a s . A s s i m também é o r e f l e x o d o S e r 
D i v i n o q u e j a z d e n t r o d e c a d a u m d e vocês, q u a n d o a s m e n -
t e s estão c a l m a s " . 
E o u t r a s lições m a r a v i l h o s a s , o s G r a n d e s Irmãos e n s i -
n a v a m a o s A m s . 
Lá, e m S o m o r r a e G o d o m a , o s E g s contraíram u m a n o v a 
doença: a " c o m p l i q u i t e c o m p l i c o s a " l . E s s a doença f a z i a t u d o 
p a r e c e r m a i s c o m p l i c a d o . N e n h u m E g e n t e n d i a o s i m p l e s , 
o b e l o . E r a t u d o a s s i m : " A m a i o r u s i n a d o m u n d o " , o u 
" e n e r g i a n u c l e a r " , o u c o m p l i c a d a s c i r u r g i a s p a r a e x t i r p a r u m 
s i n t o m a . 
C o m o a v i d a d o s E g s e r a m u i t o s e m s e n t i d o , a p a r e c e -
r a m m u i t o s f a l s o s p r o f e t a s q u e e n g a n a r a m até a l g u n s A m s . 
S e u l e m a e r a " T o x i - m a g i - s e x " . P r o m e t i a m a consciência cós-
m i c a , m a s só c h e g a v a m à inconsciência cómica 2 . 
D i z i a m : " D i s c i p l i n a é c o i s a u l t r a p a s s a d a . A m o d a a g o r a 
é a libertinização d o s i n s t i n t o s r e p r i m i d o s , d e s b l o q u e a r , s e 
i l u m i n a r f a z e n d o a c o i s a q u e m a i s g o s t a . . . v a l e t u d o " . 
Começaram até a u s a r a r m a s n u c l e a r e s , q u e d i z i a m s e r -
v i r p a r a c u r a r a d o r d e d e n t e . 
" Q u e m a r a v i l h a o u s o pacífico d a b o m b a atómica", 
; Compliquite complicosa: "Os americanos são famosos pela sua efi-
ciência em achar novas formas de comodismo. Para aumentar o con-
sumo de laranjas, a Associação dos Citricultores reuniu-se e colocou 
no mercado a laranja descascada: não dá o trabalho de descascar e 
sobra mais tempo. 
Acontece que a laranja descascada desidrata e fica murcha. Então, 
envolveram a laranja numa embalagem plástica muito bonita. Acon-
tece que, por falta de transpiração, a laranja apodrecia. Então lançaram 
mão da eficiente tecnologia e inventaram uma embalagem plastificada 
e porosa ao mesmo tempo. Mas os economistas descobriram que 
encarecia muito o produto final. 
Reuniram-se num Congresso Nacional e chegaram à seguinte con-
clusão: a melhor, mais económica e prática embalagem da laranja é 
a sua casca!". 
2 Hermógenes. 
3 0 
d i z i a m . N u m a d e s s a s explosões "pacíficas", o céu e o S o l 
f i c a r a m e n c o b e r t o s p o r u m a e n o r m e fumaça, c o m o a d e u m a 
e n o r m e f o r n a l h a . D e s s a fumaça i r r o mp e r a m g a f a n h o t o s d o -
t a d o s d e p o d e r e s s e m e l h a n t e s a o s escorpiões d a t e r r a . F o i -
l h e s d i t o q u e não p i c a s s e m n e n h u m d o s G r a n d e s Irmãos e 
n e n h u m d o s A m s , p o r q u e e l e s t r a z i a m n a f r o n t e a m a r c a d e 
D e u s . . . 1 
Q U A L Q U E R SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA. ISTO 
OCORREU N U M P L A N E T A DISTANTE CHAMADO MÔNADA. 
Apocalipse. 
3 1 
A g r a n d e seleção n a t u r a l 
Q u a n d o e s t u d a m o s e c o l o g i a , v e m o s q u e m u i t a s l e i s s u t i s 
estão c o n s t a n t e m e n t e a f e t a n d o o c o m p o r t a m e n t o d o s s e r e s 
v i v o s . 
P o r e x e m p l o : t o d o s o s s e r e s v i v o s têm s e u s p r e d a d o r e s , 
i n c l u s i v e o h o m e m . Q u a n d o c e r t a espécie s e reúne n u m e s -
paço l i m i t a d o , s e u s i n i m i g o s n a t u r a i s são atraídos p e l a n a -
t u r e z a p a r a " d a r u m a s e l e c i o n a d i n h a " . 
A q u i , n a E s c o l a S u p e r i o r d e A g r i c u l t u r a , t e m o s u m l a -
boratório c h e i o d e r a t o s , p a r a experiências. A o s e n t i r e m o 
c h e i r o , o s ruídos, a s vibrações d e s s e s a n i m a i z i n h o s , l o g o s e 
a p r e s e n t a m o s p r e d a d o r e s d o r a t o . É c o m u m o s funcionários 
m a t a r e m c o b r a s , q u e r o d e i a m o prédio o n d e estão o s r a t o s . 
O n d e há m u i t o s pulgões, s e m p r e vão a p a r e c e r a s 
j o a n i n h a s . 
O n d e há m u i t a g e n t e ( c i d a d e g r a n d e ) , s e m p r e v a i a p a -
r e c e r m u i t o câncer, e n f a r t e , a t r o p e l a m e n t o , a s s a s s i n a t o , s u i -
cídio, e t c . 
" O leão p e g a p r i m e i r o a z e b r a q u e é m a n c a . " A N a t u -
r e z a não é má, a p e n a s d e s e j a q u e o s indivíduos m a i s f o r t e s 
d e i x e m d e s c e n d e n t e s férteis (é e s p a n t o s o o número d e p e s -
s o a s estéreis, p r i n c i p a l m e n t e n o s c e n t r o s u r b a n o s m a i s " a v a n -
çados") . 
Não é b a r g a n h a n d o c o m D e u s , i s t o é, c o m p r a n d o i n g r e s -
s o p a r a o Céu, q u e e s c a p a m o s a e s s a L e i metafísica, e s i m 
esforçando-nos p a r a s e g u i - l a . M a s o n d e está e s s a L e i ? 1 
1 "Em tudo aquilo que tenha vida, está escrita a Lei. Encontrá-la-eis 
nos campos, nas árvores, no rio, na montanha, nas aves do céu, nos 
peixes do mar, mas huscai-a, principalmente, em vós mesmos. Porque 
em verdade vos digo que todas as coisas vivas estão mais perto de 
Deus que as Escrituras, que carecem de vida." (Evangelho Essênio 
da Paz.) 
3 2 
M e c a n i s m o s d a s mudanças climáticas 
" A n t i g a m e n t e a g e n t e p r a n t a v a e m s e t e m b r o , d i s p o i s a 
g e n t e começou a p r a n t a r e m o u t u b r o , a g o r a a c h u v a só c o -
meça e m n o v e m b r o . . . " ( d e u m h o m e m d o c a m p o ) . 
Q u a n d o v e m o s u m d o s n o s s o s g r a n d e s r i o s , c o m t o d a s 
a s s u a s c u r v a s e q u e d a s , d e v e m o s n o s l e m b r a r d e q u e s e u 
c o m p o r t a m e n t o a t u a l é o r e s u l t a d o d e u m a adaptação l e n t a : 
m i l h a r e s d e a n o s , p r o c u r a n d o l o c a i s m a i s b a i x o s , s o l u b i l i z a n -
d o r o c h a s , a l a r g a n d o o u a p r o f u n d a n d o s e u l e i t o . . . Então, 
s e h o j e e s s e e n o r m e v o l u m e d e água c o r r e e m direção a o 
m a r , t e v e s u a s razões. . . 
S e d e r e p e n t e r e p r e s a r m o s e s s e i m e n s o r i o , e s s e e n o r m e 
v o l u m e d e água s e concentrará ( c a d a m e t r o cúbico d e água 
p e s a u m a t o n e l a d a ) n u m a e s t r u t u r a geológica q u e f o i e s c o -
l h i d a p a r a s e r r i o e não l a g o . 
O q u e a c o n t e c e c o m a s tensões e pressões tectónicas? 
O q u e a c o n t e c e c o m o c l i m a d a região, c o m a f l o r a e a 
f a u n a ? 
A s árvores e v i t a m q u e a c h u v a b a t a d i r e t a m e n t e n o s o l o , 
p r o m o v e n d o a s s i m a infiltração d a água até o s lençóis freá-
t i c o s ( r i o s subterrâneos), q u e f a z e m s u r g i r f o n t e s e p o d e m 
s e r c a p t a d o s p o r poços. C o m a r e t i r a d a d a s árvores, a s c h u v a s 
b a t e m d i r e t a m e n t e n o s o l o n u , s o l u b i l i z a n d o a c a m a d a m a i s 
s u p e r f i c i a l , p r o v o c a n d o erosão e s u j a n d o o s r i o s . S a b e m o s 
q u e a c a m a d a s u p e r i o r d o s o l o é a m a i s r i c a p a r a plantações. 
C o m o t e m p o , e s s a t e r r a p r e c i p i t a - s e n o f u n d o d o s r i o s , d i -
m i n u i n d o - l h e s a p r o f u n d i d a d e , m a s a l a r g a n d o - o s . A s s i m , c o m 
a s c h u v a s , o v o l u m e d e água a u m e n t a c o n s i d e r a v e l m e n t e e 
c a u s a a s e n c h e n t e s , f o r m a poças d'água e s t a g n a d a s , f o c o s d e 
i n s e t o s e p a r a s i t a s , e t c . 
N a s estações s e c a s , o v e n t o não é b l o q u e a d o p e l a s árvo-
r e s e v a r r e a superfície n u a , v a g a r o s a m e n t e r o u b a n d o - l h e a 
t e r r a m a i s fértil. 
"Mas pergunta aos animais e eles te ensinarão. E às aves dos 
céus, e cada uma delas te ensinará. Ou fala com a Terra e ela te 
instruirá; até os peixes do mar te contarão." (Jó 12:7) 
3 3 
A s árvores e o c l i m a 
T o d o m u n d o já d e v e t e r p a s s a d o s o b u m a r v o r e d o 
n u m a t a r d e d e verão. . . n o t a r a m q u e é m u i t o m a i s f r e s c o e 
agradável? I m a g i n e m a g o r a u m a situação m a i o r — u m a c i -
d a d e q u a l q u e r , o n d e p r e d o m i n e m o c i m e n t o e o a s f a l t o , a f u -
maça, o b a r u l h o e a p r e s s a . . . 
A s s i m c o m o n o s s o s pêlos s e eriçam p a r a s e g u r a r o a r 
q u e n t e e m t o r n o d e n o s s a p e l e n u m d i a d e f r i o , o s prédios e 
construções s e g u r a m a fumaça e o s resíduos d o a r d u m a c i -
d a d e , f o r m a n d o u m a espécie d e "bolsão d e fumaça". O C O 2 
a c u m u l a d o p r o d u z o " e f e i t o e s t u f a " , q u e é a reabsorção d o 
c a l o r r e f l e t i d o , c a l o r a b a f a d o e fumaça. T o d o o m i c r o c l i m a 
d e s s a c i d a d e já está a l t e r a d o . 
D u r a n t e m i l h a r e s d e a n o s , a q u e l a região s e m p r e d e v o l -
v e u à a t m o s f e r a t o d a s a s s u a s "obrigações a m b i e n t a i s " , i s t o 
é, v a p o r d'água, oxigénio, t e m p e r a t u r a e a l b e d o v e g e t a l ( l u z 
r e f l e t i d a n a vegetação). D e r e p e n t e , t e m o s u m a c i d a d e c i m e n -
t a d a q u e d e v o l v e fumaça, f u l i g e m . O c l i m a d e s s a região não 
mudará? E o s pássaros q u e m o r a v a m n a q u e l a s árvores q u e 
não m a i s e x i s t e m ? E o s a n i m a i s ? 
Q u a n d o f i c a m o s s a b e n d o d a s "explosões pacíficas" d a s 
experiências n u c l e a r e s , q u a n d o v e m o s o m a r s e t r a n s f o r -
m a n d o e m e s g o t o , v e m o s multidões m o r r e n d o d e câncer e 
e n f a r t e . . . 
A s e c a , a f o m e e o café d a manhã 
Q u a n d o o s p r i m e i r o s p o r t u g u e s e s c h e g a r a m a o B r a s i l , 
t o d a e s t a n o s s a t e r r a e r a fértil. T o d o o s e u i n t e r i o r e t o d o 
o l i t o r a l e r a m férteis. Então, começou a exploração d a s m a -
t a s litorâneas ( c o m o a i n d a h o j e s e f a z ) , p a r a transformá-las 
e m móveis e l e n h a 1 . 
D e p o i s , v e i o a q u e i m a , s e g u i d a d a plantação d a c a n a - d e -
açúcar ( o n o r d e s t e b r a s i l e i r o é u m d o s m a i o r e s p ro d u t o r e s 
d e açúcar d o m u n d o ) . E m s e g u i d a , o café, e q u a n d o o s o l o 
s e e s g o t o u , f i z e r a m - s e o s p a s t o s , p a r a criação d e g a d o . 
; Essas matas bloqueavam certas massas de ar, que mantinham chu-
voso o clima do interior. 
3 4 
A o t o m a r m o s , b e m c e d o , e n q u a n t o l e m o s a s notícias 
dramáticas d a s s e c a s n o sertão n o r d e s t i n o , o i n o f e n s i v o café 
c o m l e i t e e açúcar, e s t a m o s , s e m o s a b e r , p a c t u a n d o c o m e s s a 
devastação. 
O s o i t o m i t o s a r e s p e i t o d a f o m e 1 
O s c o n c e i t o s q u e s e f a z e m s o b r e o p r o b l e m a d a f o m e 
n o m u n d o m a s c a r a m f r e q u e n t e m e n t e o f a t o d e a a u t o n o m i a 
a l i m e n t a r s e r possível a t o d o s o s países d o m u n d o , c a s o s e 
q u e i r a a t a c a r o m a l p e l a r a i z . 
É i s t o q u e René T e r r i e r , b a s e a n d o - s e e m u m e s t u d o d a 
Ceres ( r e v i s t a d a FAO s o b r e a g r i c u l t u r a e d e s e n v o l v i m e n t o ) , 
d e m o n s t r a , e x p l i c a n d o q u e a f o m e é m u i t o m a i s u m p r o b l e -
m a político d o q u e técnico. 
E i s a q u i , d e m o d o sumário, o j u l g a m e n t o q u e e l e f a z 
s o b r e a l g u n s m i t o s m a n t i d o s . . . h a b i t u a l m e n t e p e l o s b e m 
a l i m e n t a d o s ! 
Mito n.° 1: " O m u n d o t e m f o m e d e v i d o à f a l t a d e a l i -
m e n t o s " . 
P e s q u i s a s r e v e l a m q u e : 
H a v e r i a b a s t a n t e s a l i m e n t o s p a r a n u t r i r c o r r e t a m e n t e 
t o d a a população d o g l o b o ( 3 0 0 0 c a l o r i a s / d i a / p e s s o a ) , s e 
o s m a i s n e c e s s i t a d o s t i v e s s e m o s m e i o s d e c o n s e g u i - l o s e s e 
e s s e s a l i m e n t o s f o s s e m u t i l i z a d o s r a c i o n a l m e n t e . 
U m terço d a produção m u n d i a l d e c e r e a i s ( 7 / 8 n o s paí-
s e s i n d u s t r i a l i z a d o s ) d e s t i n a - s e à alimentação d e g a d o . 
A d e m a i s , o s países c h a m a d o s p o b r e s e m a l i m e n t o s e x -
p o r t a m p r o d u t o s agrícolas, e n q u a n t o e l e s m e s m o s m o r r e m 
d e f o m e . 
E x e m p l o s : 
— S a n e i e x p o r t o u a p r o x i m a d a m e n t e 1 5 milhões d e q u i -
l o s d e l e g u m e s , p r i n c i p a l m e n t e p a r a a E u r o p a , d u r a n t e a s e c a 
d e 1 9 7 1 . 
— E m B a n g l a d e s h , 4 milhões d e t o n e l a d a s d e a r r o z s e 
; Tradução do texto publicado no jornal Solidarités, vol. 5, n.° 4. 
(Développement et Paix — Canadá.) 
3 5 
a c u m u l a r a m após a s e n c h e n t e s d e 1 9 7 4 , p o r q u e a g r a n d e 
m a i o r i a d a população e s t a v a tão p o b r e q u e não pôde c o m p r a r . 
Mito n.° 2: " O m u n d o t e m f o m e d e v i d o à f a l t a d e t e r r a " . 
P e s q u i s a s r e v e l a m q u e : 
A p e n a s 4 4 p o r c e n t o d a s t e r r a s cultiváveis d o p l a n e t a 
são h o j e e x p l o r a d o s , o q u e s e e x p l i c a e m p a r t e p e l o f a t o d e 
n u m e r o s o s proprietários c o n s i d e r a r e m q u e a t e r r a é m u i t o 
m a i s u m i n v e s t i m e n t o d o q u e u m a f o n t e d e a l i m e n t o s , e d e i -
x a r e m g r a n d e s superfícies s e m c u l t i v o . 
P o r o u t r o l a d o , u m a b o a p a r t e d a s t e r r a s ( a s m e l h o r e s ) 
é u t i l i z a d a p a r a a s c u l t u r a s d e exportação. 
— N a África, a produção d e café q u a d r u p l i c o u d u r a n t e 
o s d o i s últimos decénios; a d o chá m u l t i p l i c o u - s e p o r s e i s , 
e n q u a n t o a produção d e c a c a u e algodão d o b r a v a , e a d a 
cana-de-açúcar t r i p l i c a v a . I s s o e m d e t r i m e n t o d a s c u l t u r a s d e 
subsistência. 
Mito n.° 3: " A T e r r a é s u p e r p o v o a d a " . 
Só p a r e c e , m a s . . . 
A f o m e não é c a u s a d a p e l a superpopulação. E l a não 
e x i s t e e m função d a d e n s i d a d e demográfica, m a s d o s i s t e m a 
agrário e d a i m p o s s i b i l i d a d e d e possuírem a t e r r a a q u e l e s q u e 
a c u l t i v a m . 
E x e m p l o s : 
— A C h i n a p o s s u i m e n o s d a m e t a d e d a superfície c u l t i -
vável p o r h a b i t a n t e q u e a índia; e n t r e t a n t o , lá s e c o n s e g u i u 
e l i m i n a r t o t a l m e n t e a subalimentação e v i d e n t e . 
— O B r a s i l t e m u m a superfície cultivável, p o r h a b i t a n -
t e , m u i t o m a i o r q u e o s E s t a d o s U n i d o s ; e n t r e t a n t o , n o s últi-
m o s a n o s , s u a população s u b n u t r i d a p a s s o u d e 4 5 p o r c e n t o 
a 7 2 p o r c e n t o . 
Mito n.° 4: " A única solução c o n s i s t e e m p r o d u z i r m u i t o 
m a i s a l i m e n t o s " . 
Também é i m p o r t a n t e , m a s . . . 
E s t i m u l a - s e então u m a política d e modernização d a a g r i -
c u l t u r a p a r a a u m e n t a r o s r e n d i m e n t o s d a t e r r a , porém a s 
n o v a s técnicas ( a d u b o s , p e s t i c i d a s , máquinas. . . ) não b e n e -
f i c i a m senão a o s q u e já são proprietários, têm c a p i t a l o u têm 
influência política. A q u e l e s q u e p r e c i s a m m e s m o d e s s e s m e -
l h o r a m e n t o s não têm m e i o s d e s e b e n e f i c i a r . A o contrário, a 
q u a n t i d a d e d e d e s e m p r e g a d o s e d o s " s e m - t e r r a " t e m c r e s c i d o . 
3 6 
E x e m p l o s : 
— E m S o n o r a , México, o t a m a n h o d a s p r o p r i e d a d e s 
a n t e s d a "Revolução V e r d e " e r a d e 1 6 0 h e c t a r e s . Após v i n t e 
a n o s d e modernização, e s t a média, só n a região d e H e r m o -
s i l l o , p a s s o u a 8 0 0 h e c t a r e s , c e r t a s p r o p r i e d a d e s t e n d o m e s -
m o até 1 0 0 0 0 h e c t a r e s , e n q u a n t o o s três q u a r t o s d o s 
l a v r a d o r e s não p o s s u e m m a i s t e r r a . P o r o u t r o l a d o , a s e m -
p r e s a s alimentícias c o n c e n t r a m a produção d e a l i m e n t o s d e 
a l t o v a l o r ( l e g u m e s , c a r n e s , e t c . ) n o s países e m v i a s d e d e -
s e n v o l v i m e n t o , o n d e a t e r r a e a mão-de-obra são b a r a t a s . 
E s t e s p r o d u t o s são, e m s e g u i d a , e x p o r t a d o s p a r a o s países 
r i c o s e a m a i o r i a p o b r e d o s países p r o d u t o r e s não p o d e p a g a r 
p o r e l e s . 
— N o s E s t a d o s U n i d o s , m e n o s d e 0 , 2 p o r c e n t o d a s 
e m p r e s a s d e a l i m e n t o c o n t r o l a m c e r c a d e 5 0 p o r c e n t o d e s t a 
indústria. 
Mito n.° 5 : " O s g r a n d e s proprietários p o d e m r e s o l v e r , s o -
z i n h o s , o p r o b l e m a d a f o m e " . 
" É p r e c i s o c o n t a r u n i c a m e n t e c o m o s g r a n d e s 
proprietários p a r a g a r a n t i r a segurança d a a l i -
mentação, p o r q u e e s t a é a m a n e i r a m a i s rápida 
d e a u m e n t a r a produção d e a l i m e n t o s . " 
N a r e a l i d a d e , são o s p e q u e n o s a g r i c u l t o r e s q u e s e r e v e -
l a m o s m a i s p r o d u t i v o s , c o m o m o s t r a r a m e s t u d o s r e a l i z a d o s 
n a América L a t i n a , n o s E s t a d o s U n i d o s e n a Rússia. C o n c e n -
t r a n d o - s e o s i n v e s t i m e n t o s n o s g r a n d e s proprietários, e s t e s 
a u m e n t a m s e u s domínios e o r i e n t a m s u a produção p a r a a s 
c u l t u r a s d e exportação m a i s rentáveis, e q u e não são o s a l i -
m e n t o s básicos c a p a z e s d e r e s o l v e r o s p r o b l e m a s d o s q u e 
têm f o m e . Além d i s s o , e s t a política não p r o p o r c i o n a ao s p o -
b r e s o r e t o r n o necessário p a r a a c o m p r a d e a l i m e n t o s . 
E x e m p l o : 
— N o S e n e g a l , o s f u n d o s d e d e s e n v o l v i m e n t o s e r v i r a m 
p a r a i r r i g a r o d e s e r t o , v i s a n d o a o c u l t i v o d e f r u t a s d e s t i n a -
d a s à alimentação d o s e u r o p e u s . 
Mito n.° 6: " É p r e c i s o a u m e n t a r a produção, i n d e p e n d e n -
t e m e n t e d o sacrifício d o m e i o a m b i e n t e " . 
A s soluções a l t e r n a t i v a s a o u s o d e i n s e t i c i d a s químicos 
são n u m e r o s a s . Além d o m a i s , o s i n s e t i c i d a s c u s t a m m u i t o 
c a r o . 
3 7 
E x e m p l o s : 
— A C h i n a r e d u z i u a o mínimo o e m p r e g o d o s i n s e t i -
c i d a s , graças a u m s i s t e m a d e informação p r e v e n t i v o a nível 
n a c i o n a l . 
— A Agência A m e r i c a n a p a r a a Proteção d o M e i o A m -
b i e n t e e s t i m a q u e , há t r i n t a a n o s , o s a g r i c u l t o r e s a m e r i c a n o s 
u t i l i z a v a m 2 2 6 5 t o n e l a d a s d e i n s e t i c i d a s , e p e r d i a m 7 p o r 
c e n t o d e s u a c u l t u r a a n t e s d a s a f r a . H o j e e m d i a , e l e s e m -
p r e g a m d o z e v e z e s m a i s i n s e t i c i d a s e , n o e n t a n t o , a p e r c e n -
t a g e m d e p e r d a c h e g o u p r a t i c a m e n t e a d o b r a r . 
Mito n.° 7: " C a d a país d e v e e s p e c i a l i z a r - s e n a q u i l o q u e p r o -
d u z m a i s f a c i l m e n t e " . 
É p e r i g o s o p a r a u m país c o n t a r s o m e n t e c o m u m o u 
d o i s p r o d u t o s p a r a f i n a n c i a r a t o t a l i d a d e d e s u a s importações. 
C o m e f e i t o , passará, então, a d e p e n d e r económica e p o l i t i -
c a m e n t e d a q u e l e s q u e d e c i d e m s o b r e o s preços d o m e r c a d o 
i n t e r n a c i o n a l . Além d i s s o , a q u e l e s q u e r e c e b e m o s benefícios 
d a s exportações não são o s q u e p r e c i s a m d e a l i m e n t o s . A s s i m , 
n u m e r o s o s países i m p o r t a m , c o m s u a s r e c e i t a s d e e x p o r t a -
ção, b e n s supérfluos d e l u x o , a r m a s , e t c . 
E x e m p l o : 
— U m p r e s i d e n t e d o Gabão f e z v i r d o e s t r a n g e i r o , 
p o r v i a aérea, mármore p a r a c o n s t r u i r u m s u n t u o s o p a -
lácio. 
Mito n.° 8: " A f o m e é u m equilíbrio e n t r e o m u n d o r i c o e 
o m u n d o p o b r e " . 
" O s p o b r e s a p a r e c e m c o m o u m a ameaça a o 
b e m - e s t a r m a t e r i a l d o s países r i c o s . " 
N a r e a l i d a d e , a m a i o r i a d a população d o T e r c e i r o M u n -
d o e o s cidadãos médios d o s países i n d u s t r i a l i z a d o s estão 
u n i d o s p o r u m a ameaça c o m u m : o c r e s c i m e n t o d o c o n t r o l e 
d o s a l i m e n t o s , a nível n a c i o n a l e m u n d i a l . 
CONCLUSÕES 
• O m u n d o t e m o s r e c u r s o s necessários p a r a a l i m e n t a r s u a 
população. 
• É p r e c i s o , então, a t a c a r a s c a u s a s r e a i s d a f o m e : a i n s e g u -
rança e a p o b r e z a d a m a i o r i a d o s h a b i t a n t e s d o T e r c e i r o 
3 8 
M u n d o , q u e r e s u l t a m d o a p o d e r a m e n t o c r e s c e n t e d e a l -
g u n s privilégios s o b r e a t o t a l i d a d e d o s r e c u r s o s n a c i o n a i s . 
• A q u e l e q u e p o s s u i a t e r r a d e c i d e o q u e v a i s e r p r o d u z i d o , 
q u e m v a i p r o d u z i r e p a r a q u e m . O p r o b l e m a é s a b e r c o m o 
a população p o d e e x e r c e r u m c o n t r o l e s o b r e o s r e c u r s o s 
a l i m e n t a r e s . 
O REMÉDIO É, A N T E S D E T U D O , D E N A T U R E Z A POLÍTICA. 
R e s u m o : 
" A g r i c u l t u r a a serviço d o l u c r o 
D u r a n t e milénios, o o b j e t i v o único d a a g r i c u l t u r a f o i 
a l i m e n t a r o s h o m e n s . A aliança e n t r e a a g r i c u l t u r a e a indús-
t r i a , e n t r e t a n t o , v e i o m o d i f i c a r e s s a função. 
A agroindústria não o s a l i m e n t a , senão t i r a n d o l u c r o 
d i s s o . A a g r i c u l t u r a m o d e r n a c o n v e r t e u - s e e m u m a v e r d a d e i -
r a indústria q u e , c o m o t o d a s a s co-irmãs, v i s a a c i m a d e t u d o 
a r e n t a b i l i d a d e . 
A produção, o t r a t a m e n t o e a distribuição d o s a l i m e n -
t o s c o n s t i t u e m , p o r t a n t o , u m a c o r r e n t e d e produção q u e está 
s u b m i s s a a o s i m p e r a t i v o s d o c a p i t a l . 
E s s a concepção m o d e r n a d a a g r i c u l t u r a t e m p r o v o c a d o 
e m t o d a p a r t e o m e s m o m e c a n i s m o : a s t e r r a s cultiváveis s e 
c o n c e n t r a m c a d a v e z m a i s n a s mãos d o s g r a n d e s f a z e n d e i r o s 
q u e , l i g a d o s a o s i n t e r e s s e s d e subsistência, s e l i m i t a m à c u l t u -
r a d e p r o d u t o s d e exportação. 
A p e s a r d o s êxodos r u r a i s maciços, c a l c u l a d o s e m m i -
lhões através d o m u n d o , o s d e m a g o g o s a v a l i a m q u e d a q u i a 
v i n t e a n o s a população d o c a m p o terá a u m e n t a d o e m 7 0 0 
milhões d e p e s s o a s . D e q u e t e r r a s viverão? E c o m o u t i l i -
zarão e s s a s t e r r a s ? 
S a b e - s e h o j e q u e não f a l t a a l i m e n t o . Não f a l t a , porém, 
senão p a r a o s q u e p o d e m p a g a r o s e u preço. E f e t i v a m e n t e , 
milhões d e p e s s o a s não têm m e i o s d e fazê-lo. P o r c o n s e g u i n -
t e , não d e v e m o s e s t r a n h a r expressões c o m o : " a a r m a d o 
t r i g o " , " a indústria d a f o m e " , e t c . 
C o m o a f i r m a v a c i n i c a m e n t e H . K i s s i n g e r , há a l g u n s 
a n o s , a agroindústria será u m d o s m e l h o r e s a l i a d o s econó-
m i c o s d o s países i n d u s t r i a l i z a d o s n o s próximos decénios. 
E n q u a n t o c o n s u m i d o r e s d e a l i m e n t o s , nós e s t a m o s e m 
3 9 
u m a e x t r e m i d a d e d a c o r r e n t e e n o s s a m a n e i r a d e c o n d i c i o n a r 
a d e m a n d a i n f l u i n e c e s s a r i a m e n t e s o b r e a produção. D e q u e 
m a n e i r a nós contribuímos p a r a f o r j a r u m c e r t o m o d e l o 
a l i m e n t a r ? 
C o m o s e p o d e e x e r c e r e s t a p e q u e n a p a r c e l a d e p o d e r 
q u e n o s é d a d a p e l o f a t o d e s e r m o s c o m p r a d o r e s , n a e x t r e m i -
d a d e d a c o r r e n t e ? 
O rio Piracicaba e a cana1 
O B r a s i l é o m a i o r p r o d u t o r d e açúcar e d e álcool d o 
m u n d o , e a região d e P i r a c i c a b a é a q u e c o n s e g u e t e c n o l o g i a 
m a i s aperfeiçoada e m a i o r produção. 
A c o n t e c e q u e , p a r a c a d a l i t r o d e álcool p r o d u z i d o , s o -
b r a m 1 4 l i t r o s d e v i n h o t o 2 , j o g a d o s n o r i o m a i s próximo 
— n o c a s o , o P i r a c i c a b a . A n o s atrás, a p r i n c i p a l atração t u -
rística d a c i d a d e e r a a b e l a c a c h o e i r a , o n d e s e p o d i a m o b s e r -
v a r e n o r m e s p e i x e s s u b i n d o a s c o r r e d e i r a s . 
M a s a s l a r v a s d e p e r n i l o n g o , q u e s e d e s e n v o l v e m n a s 
águas poluídas, não e n c o n t r a n d o m a i s o s s e u s c o n t r o l a d o r e s 
n a t u r a i s , p r o l i f e r a m d e m a n e i r a incrível. A s s i m , d e p o i s d a s 
d e z o i t o h o r a s , t o r n o u - s e impossível p e r m a n e c e r alguém a l i , 
p a r a d o , s e m s e r a t a c a d o p o r e n x a m e s d e s s e s p e q u e n o s 
v a m p i r o s . 
Então, a t e c n o l o g i a r e s o l v e u o p r o b l e m a , d e f o r m a rá-
p i d