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108 Unidade IV Unidade IV 7 DIREITO DO CONSUMIDOR Serão analisadas aqui as principais normas envolvendo os Direitos do Consumidor, ou seja, um conjunto de regras jurídicas que visam equilibrar as relações decorrentes do consumo de bens e serviços, envolvendo o fornecedor e o consumidor como destinatário final do objeto dessa relação. 7.1 Código de Defesa do Consumidor (CDC) — Lei n. 8.078/1990 O Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei 8.078/90, estabelece bases para proteger a parte mais frágil nas relações de consumo, ou seja, o consumidor. Mesmo assim, no dia a dia surgem situações não previstas em lei, e cabe aos órgãos de proteção ao cidadão e principalmente aos tribunais a interpretação do que a lei descreve. O consumidor, no Brasil, cada vez mais atento aos seus direitos, deve sempre recorrer ao Judiciário para proteção de seus interesses, mas é sempre recomendável que, em primeiro lugar, procure o serviço de atendimento ao consumidor, se se tratar de fabricante ou de um fornecedor, e tente fazer uma composição. Porque, na verdade, quando existe a prova clara da lesão, o consumidor tem o direito de ser ressarcido. No caso de existir eventual negativa do fornecedor ou do fabricante em compensar aquele dano verificado pelo consumidor, este deve procurar um advogado e fazer valer seus direitos. O nosso CDC foi criado há mais de 20 anos; nesse tempo muitas mudanças nas relações de consumo ocorreram, especialmente diante do ingresso, nos últimos sete anos, de quase 40 milhões de brasileiros das Classes C, D e E no universo do consumo, sem contar a invasão das novas tecnologias no mercado consumidor. Diante deste quadro se faz necessária uma atualização na lei. Para o ministro do STJ, Herman Benjamin (BRASIL, 2012): Um bom Código de Defesa do Consumidor é aquele que garante direitos e impõe obrigações, mas, ao mesmo tempo, facilita a aplicação da lei, do regramento que aí está posto. E, por isso, a comissão de juristas responsável para reformular a lei se preocupa também com a aplicação do CDC, na medida em que não podemos judicializar toda e qualquer disputa de consumo. Nós temos que criar mecanismos alternativos que passam pela conciliação e também pelo fortalecimento da via administrativa dos Procon (BRASIL, 2012). Pesquisa divulgada pelo Ministério da Fazenda (BRASIL, 2012) indica que, em 2020, o Brasil será o quinto mercado consumidor do mundo. A previsão é de que o gasto das famílias brasileiras com 109 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL alimentação, vestuário, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, cuidados pessoais e automóveis, por exemplo, passará de R$ 2,2 trilhões em 2010 para R$ 3,5 trilhões até o final da década – o que se traduz na necessidade de um consumo mais consciente e de uma legislação ágil, que acompanhe o avanço das relações de consumo. O Código de Defesa do Consumidor oficializado na Lei n. 8.078/1990 (CDC), no artigo 4º, constitui-se numa verdadeira alma, no sentido de que visa atender não apenas às necessidades dos consumidores e ao respeito à sua dignidade – de sua saúde e segurança, proteção de seus interesses econômicos, melhoria de sua qualidade de vida, como também à imprescindível harmonia das relações de consumo. 7.2 Relação de consumo Será considerada relação de consumo, para os efeitos da lei, quando ao lado dos interesses figurarem um consumidor e um fornecedor. Essa relação jurídica de consumo envolve duas partes bem definidas: de um lado, o adquirente de um produto ou serviço, chamado de consumidor, enquanto, de outro lado, há o fornecedor ou vendedor de um produto ou serviço. A relação de consumo destina-se à satisfação de uma necessidade privada do consumidor, interesse particular, que, não dispondo de controle sobre a produção de bens ou de serviços que lhe são destinados, submete-se ao poder e às condições dos produtores e fornecedores dos bens e serviços, sendo chamada hipossuficiência ou vulnerabilidade do consumidor. Em outras palavras, como o consumidor não detém todo o conhecimento nem acompanha todo o processo de produção ou prestação do serviço, será considerado sempre como a parte mais fraca da relação, e, portanto, tem especial proteção pelo CDC. Essa relação de consumo pode ser efetiva (exemplo: compra e venda de automóvel) ou potencial (exemplo: propaganda). Portanto, para termos relação de consumo, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, não é necessário que o fornecedor concretamente venda bens ou preste serviços; basta que, mediante oferta, coloque os bens à disposição de consumidores potenciais. 7.3 Conceito de consumidor A Lei n. 8.078/90, que é o Código de Defesa do Consumidor, define consumidor como toda pessoa natural (ser humano) ou jurídica (empresa, por exemplo) que adquire (oneroso ou gratuito) ou utiliza (consome) o produto ou serviço como destinatário final (BRASIL, 1990). O consumidor pode ser efetivo, ou seja, aquele que concretamente adquire o produto ou serviço, ou pode ser consumidor potencial, ou seja, aqueles que são alvos da oferta e/ou da publicidade dos produtos e serviços colocados no mercado à disposição para compra. 110 Unidade IV Equipara-se consumidor à coletividade de pessoas (grupo de pessoas), ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Por exemplo, os doentes de hospital ou alunos de escolas, que adquirem ou utilizam bens e serviços, ou, ainda, os associados a planos de saúde. As pessoas jurídicas também estão incluídas na lei, como consumidoras, mas apenas aquelas que são as destinatárias finais do produto, e não aquelas que adquirem bens ou serviços como matéria-prima necessária ao desempenho de sua atividade lucrativa. Observação Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza o produto ou serviço como destinatário final. 7.4 Conceito de fornecedor O Código de Defesa do Consumidor define fornecedor, no artigo 3º, como toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. É aquele responsável pela colocação de produtos e serviços à disposição do consumidor, com a característica da habitualidade. Desta forma, são fornecedores o supermercado, a grande loja de departamentos, mas também o feirante, o pequeno merceeiro e outros, no que toca a produtos. Assim, também é fornecedora de serviços a companhia aérea, a agência ou a operadora de viagens, como também o eletricista, o marceneiro, o encanador, pequenos empresários etc. O fornecedor pode ser o próprio Poder Público, por si ou por suas empresas autorizadas que desenvolvam atividades de serviços públicos. Os serviços públicos também estão abrangidos pelo Código de Defesa do Consumidor. Dessa forma, o Código de Defesa do Consumidor inclui no rol dos fornecedores a pessoa jurídica pública e, por via de consequência, todos aqueles que em nome dela, direta ou indiretamente, prestam serviços públicos, como toda e qualquer empresa pública ou privada que por via de contratação com a Administração Pública forneça serviços públicos. O ente despersonalizado também é considerado fornecedor pela nossa legislação. A massa falida (pessoa jurídica falida) possui no mercado produtos e, eventualmente, resultados dos serviços que ela ofereceu e efetivou que continuarão sob a proteção da lei do consumidor. Por exemplo: a quebra de um fabricante de televisores não deve eliminar, nem pode, a garantia do funcionamento dos aparelhos pelo prazo da garantia contratual e legal. 111 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL Além disso, também estão dentro do conceito de ente despersonalizado as chamadas “pessoas jurídicas de fato”, ou seja, aquelas que, sem constituir uma pessoa jurídica, desenvolvem, de fato, atividade industrial, comercial, de prestação de serviçosetc. Por exemplo, a figura do “camelô”, ou vendedor ambulante, que não deixa de ser fornecedor, até mesmo porque supre de maneira relevante o mercado de consumo, estando, portanto, obrigado a obedecer às regras contidas no Código de Defesa do Consumidor, pois se enquadra no termo “ente despersonalizado”. No termo Pessoa Física, em primeiro lugar está inclusa a figura do profissional liberal como prestador de serviço e que não escapou da égide do Código de Defesa do Consumidor, não restando dúvida de que o profissional liberal é fornecedor. Contudo, em segundo lugar, pessoa física também corresponde àquela pessoa que desenvolve atividade eventual ou rotineira de venda de produtos, sem ter se estabelecido como pessoa jurídica. Por exemplo, o estudante que, para pagar a mensalidade da escola, compra joias ou produtos de maquiagem para revender entre os colegas. O conceito de fornecedor é gênero, no qual o fabricante, o produtor, o construtor, o importador e o comerciante são espécies. 7.4.1 Espécies de fornecedores responsáveis • Fornecedor real (fabricante, produtor e construtor): fabricante é quem fabrica e coloca o produto no mercado. Incluem-se também o montador e o fabricante de peça ou componente. Produtor é quem coloca no mercado produtos não industrializados de origem animal ou vegetal. Construtor é quem introduz produtos imobiliários no mercado de consumo, respondendo pela construção, bem como pelo material empregado na obra. • Fornecedor presumido: importador do produto industrializado ou in natura, porque os verdadeiros fabricantes ou produtores não podem, em razão da distância, ser alcançados pelos consumidores. • Fornecedor aparente: também chamado de “quase fornecedor”, é quem apõe seu nome ou marca no produto final, aquele que se apresenta como fornecedor. Aplica-se a Teoria da Aparência, que se justifica pela “apropriação” que a empresa distribuidora faz do produto. Exemplo: Franquia = o franqueador (titular da marca) é o fornecedor aparente. O concessionário franqueado tem responsabilidade solidária. • Comerciantes e demais participantes do ciclo produtivo e distributivo. 7.5 Conceito de produto Nos termos do artigo 3º, parágrafo 1º, do Código de Defesa do Consumidor, produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial, objeto da relação de consumo. Bens econômicos, suscetíveis de apropriação, que podem ser duráveis, não duráveis, de conveniência, de uso especial etc. É qualquer objeto de interesse em dada relação de consumo e destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente, como destinatário final. 112 Unidade IV Os bens materiais são aqueles tangíveis, com consistência (peso, formato), que podem ser tocados; já os bens imateriais são aqueles que, embora não tangíveis, ou seja, que não podem ser tocados, são igualmente objeto de consumo (exemplo: programas/software de computadores que contêm o trabalho intelectual do seu criador). O produto durável é aquele que, como o próprio nome diz, não se extingue com o uso; ele dura, leva tempo para se desgastar, pode e deve ser utilizado muitas vezes. O produto “descartável” não deve ser confundido com produto “não durável”: um produto “descartável” é o “durável” de baixa durabilidade, que na maioria das vezes é utilizado uma única vez. Exemplo: copos ou pratos de plástico ou de papelão. Já o produto “não durável”, por sua vez, é aquele que se acaba com o uso, não tem nenhuma durabilidade. Usado, ele se extingue ou, pelo menos, vai se extinguindo. Estão nessa condição os alimentos, os remédios, os cosméticos etc. As bebidas são exemplos de extinção imediata, pela ingestão; já o sabonete é exemplo de extinção consumativa ou sequencial, que vai se extinguindo enquanto é usado. O eminente economista Philip Kotler (1988, p. 33) pondera: A primeira classificação bens duráveis, bens não duráveis e serviços, que se aplica igualmente tanto a bens de consumo como a bens industriais, distingue três categorias de bens, com base na taxa de consumo e na tangibilidade deles: bens duráveis – bens tangíveis, que normalmente sobrevivem a muitos usos (exemplos: roupas); bens não duráveis – bens tangíveis que normalmente são consumidos em um ou em alguns poucos usos (exemplo: carne, sabonete, etc); serviços – atividades ou satisfações que são oferecidos à venda (exemplo: corte de cabelo, consertos). Os produtos também podem ser classificados como produtos in natura, ou seja, os que não passam pelo sistema de industrialização. O produto in natura, assim, é aquele que vai ao mercado consumidor diretamente do sítio ou da fazenda, do local de pesca, da produção agrícola ou pecuária, em suas hortas, pomares, pastos, granjas etc. São legumes, cereais, grãos, carnes, vegetais, frutas etc. Os produtos in natura não perdem essa característica quando são vendidos embalados em sacos plásticos após serem limpos, lavados ou selecionados. Assim, todas essas classificações de produto podem ser objeto das relações de consumo. Cumpre lembrar que um mesmo produto pode ser classificado de várias formas. Exemplo: maçã é um produto in natura, material e não durável. Os produtos entregues como amostras grátis estão submetidos a todas as exigências legais do Código de Defesa do Consumidor, tais como: de qualidade, garantia, durabilidade, proteção contra vícios, defeitos etc. 113 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 7.6 Conceito de serviço Nos termos do artigo 3º, parágrafo 2º do Código de Defesa do Consumidor, serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. No entendimento da expressão “remuneração”, excluem-se os tributos, as taxas e as contribuições de melhoria, ou seja, excluem-se as relações inseridas na área tributária, que se referem ao Fisco e ao contribuinte. Por outro lado, incluem-se as tarifas ou preços públicos, cobrados pela prestação de serviços pelo Poder Público, ou mediante concessão ou permissão às empresas de iniciativa privada. Exemplo: transportes, telefonia, água, luz etc. Serviço é uma ação humana que tem em vista uma finalidade, sendo tipicamente toda atividade fornecida, ou melhor, prestada no mercado de consumo. O Código de Defesa do Consumidor tratou de definir também os serviços como duráveis e não duráveis. Os serviços não duráveis serão aqueles que, de fato, exercem-se uma vez prestados, tais como os serviços de transporte, de diversões públicas, de hospedagem etc. São considerados serviços duráveis, tais como os contínuos, aqueles que: • tiverem continuidade no tempo em decorrência de urna estipulação contratual; são exemplos a prestação dos serviços escolares, os chamados planos de saúde etc., bem como todo e qualquer serviço que no contrato seja estabelecido como contínuo; • embora típicos de não durabilidade e sem estabelecimento contratual de continuidade, deixarem como resultado um produto; por exemplo, a pintura de uma casa, a instalação de um carpete, a colocação de um boxe, os serviços de assistência técnica e de consertos. 7.7 Política Nacional de Consumo A legislação nacional que rege ase Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e a harmonia das relações de consumo. 7.7.1 Proteção da vida, saúde e segurança Os consumidores têm o direito de não serem expostos a perigos que atinjam sua incolumidade física, pelo fornecimento de produtos ou serviços pelo fornecedor ou produtor. Direito que inclui até mesmo a não colocação no mercado, ou a retirada do mercado, de produtos de alto grau de nocividade ou periculosidade. 114 Unidade IV Se após a colocação no mercado o fornecedor tomar conhecimento da periculosidade, deverá alertar o consumidor, medianteanúncios publicitários, e comunicar o fato às autoridades competentes. 7.7.2 Recall Por meio desse instrumento, o Código de Defesa do Consumidor pretende que o fornecedor impeça ou procure impedir, ainda que tardiamente, que o consumidor sofra algum dano ou perda em função de vício que o produto ou o serviço tenha apresentado após sua comercialização. artigo 10: “O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários”. Para efetivar o recall, o fornecedor deve utilizar-se de todos os meios de comunicação disponíveis (incluindo correspondência) e, claro, com despesas correndo por sua conta. Caso o consumidor não seja encontrado ou não atenda o chamado de recall, o fornecedor continua responsável por eventuais acidentes de consumo causados pelo vício não sanado. Havendo dano, o fornecedor responde por eles, não há excludente de responsabilização. Quando muito, pode-se falar em culpa concorrente do consumidor, caso ele receba o chamado e o negligencie, mas neste caso, de culpa concorrente, pelas leis do consumidor, o fornecedor continua sendo integralmente responsável. 7.7.3 Educação e informação do consumidor Esse direito básico abrange a educação formal nas escolas e a educação informal, a cargo do próprio fornecedor e dos órgãos públicos. A informação que o consumidor deve receber não é somente sobre os riscos do produto, mas sim sobre quantidade, características, composição, qualidade e preço. O direito de informação pode ser contemplado sob três espécies: o direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado. 7.7.4 Proteção contra publicidade enganosa e práticas comerciais abusivas Trata da oferta de produtos e lhe atribui o caráter vinculativo, ou seja, a oferta, criando a expectativa no público consumidor, deverá corresponder exatamente às características do produto. Em relação às cláusulas contratuais, o CDC dispõe sobre sua interpretação da forma mais benéfica ao consumidor, em caso de obscuridade. Entretanto, se as cláusulas forem consideradas abusivas, o art. 51 do CDC determinará sua nulidade. 7.7.5 Prevenção de danos individuais e coletivos O Poder Público tem fiscalização administrativa preventiva sobre a fabricação, a comercialização e a utilização de produtos e serviços. 115 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 7.7.6 Inversão do ônus da prova A proteção conferida pelo art. 6º, inciso VIII, do CDC ao consumidor hipossuficiente deve ser analisada não apenas sob o prisma econômico e social, mas, sobretudo, quanto ao aspecto da produção de prova técnica. Trata-se de hipossuficiência técnica do consumidor o desconhecimento dos mecanismos de segurança utilizados pela instituição financeira em seus procedimentos. Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: [...] VIII — a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Art. 14. [...] § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I — que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II — a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Observação Há, portanto, a responsabilidade objetiva do fabricante/produtor, ou seja, ele é quem tem de provar que o dano não ocorreu por causa do produto ou serviço, mas por outra causa. 8 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR Segundo o enunciado do artigo 6º do CDC (BRASIL, 1990b), são direitos básicos do consumidor: “I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”. É obrigação das diversas modalidades de fornecedores de produtos e serviços adotar todas as providências necessárias, até para evitar riscos ao consumo de produtos, ainda que intrinsecamente apresentem algum risco. É nesse sentido, por exemplo, que os artigos 8º a 10º do CDC estabelecem os seguintes deveres aos fornecedores de produtos e serviços. Art. 8º. Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. 116 Unidade IV Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. § 1°. O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2°. Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, a expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3°. Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito (BRASIL, 1990b). 8.1 Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço É a responsabilidade pelo fato de o produto ou serviço decorrer de um vício capaz de frustrar a legítima expectativa do consumidor quanto a sua utilização ou fruição. A expectativa do consumidor estará frustrada se o produto ou serviço contiver riscos à integridade física (periculosidade) ou patrimonial (insegurança) do consumidor ou de terceiros. Assim, do vício do produto ou serviço podem se originar dois tipos de responsabilidade para o fornecedor: responsabilidade pelo vício e responsabilidade pelo defeito, resultando em danos materiais e/ou morais, que possam vir a ocorrer em razão da existência do vício. Exemplos de fato do produto: telefones celulares cujas baterias explodiram, causando queimaduras no consumidor; o automóvel cujos freios não funcionam, ocasionando um acidente e ferindo o consumidor; um ventilador cuja hélice se solta, ferindo o consumidor; um refrigerante contaminado por larvas ou um alimento estragado que venha a causar intoxicação etc. Exemplos de fato do serviço: uma dedetização cuja aplicação de veneno seja feita em dosagem acima do recomendado, causando intoxicação no consumidor; um serviço de pintura realizado com tinta tóxica, igualmente causando intoxicação; uma instalação de kit-gás em automóvel que venha a provocar um incêndio no veículo etc. É importante memorizar: o fato do produto ou do serviço deve desencadear um dano que extrapole a órbita do próprio produto ou serviço. Sem a ocorrência desse pressuposto da responsabilidade civil, inexistirá o dever de indenizar. 117 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL Prazo para arguir responsabilidade por fato do produto ou do serviço: é prescricional, pois diz respeito a uma pretensão a ser deduzida em juízo. No caso, o prazo é de 5 (cinco) anos, iniciando-se sua contagem a partir do conhecimento do dano e de sua autoria, consoante disposto no art. 27 do CDC (BRASIL, 1990b). Vejamos: Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria (BRASIL, 1990b). 8.1.1 Produtos comvícios O vício tem de ser substancial, levando em conta aspectos intrínsecos e extrínsecos (apresentação do produto ou do serviço) que afetam a segurança do consumidor, considerando o uso e os riscos que razoavelmente se esperam do produto ou serviço. Os vícios podem ser de criação (projeto e fórmula), de produção ou de fabricação, de informação ou comercialização. 8.1.2 Responsabilidade por vício do produto ou serviço Responsáveis são os fornecedores (sem distinção) de serviço ou de produtos de consumo duráveis ou não duráveis. Aqui estão incluídas todas as espécies de fornecedor, sem limitação. A responsabilidade é solidária, ou seja, o consumidor poderá propor a ação judicial contra todos os fornecedores, ou contra alguns, ou até mesmo contra um só. Há a solidariedade passiva, ou seja, se o escolhido não ressarcir o consumidor integralmente, ele poderá intentar ação contra outro fornecedor. A responsabilidade dos fornecedores, além de solidária, é objetiva, ou seja, independente de culpa. 8.1.3 Espécies de vício Como regra geral, os vícios podem ser aparentes ou ocultos. Vícios aparentes (ou de fácil constatação), como o próprio nome diz, são aqueles que aparecem no singelo uso e consumo do produto ou serviço. Vícios ocultos são aqueles que aparecem algum ou muito tempo após o uso e/ou que, por estarem inacessíveis ao consumidor, não podem ser detectados na utilização ordinária. 8.1.4 Vícios de qualidade São os vícios capazes de tornar o produto impróprio ou inadequado ao consumo ou lhe diminuir o valor. Podem ser ocultos (ex.: defeito no sistema de freios) ou aparentes (ex.: vencimento de prazo de validade). A lei equiparou aos vícios de qualidade os vícios decorrentes de disparidades com as indicações do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária. Os fornecedores não estão impedidos de colocar produtos com vícios no mercado, desde que haja abatimento do preço e informações adequadas ao consumidor. 118 Unidade IV 8.1.5 Prazo para saneamento do vício O fornecedor, desde o recebimento do produto com vício, tem trinta dias para saná-lo definitivamente, sem ônus. É proibida a recontagem de tempo (prazo de trinta dias) toda vez que o produto retornar com o mesmo vício, sendo permitida a recontagem no caso de surgimento de vícios diversos. Se o problema não for sanado no prazo de 30 dias, o fornecedor sofrerá as sanções legais (descritas a seguir) à livre escolha do consumidor. O fornecedor e o consumidor podem convencionar redução ou ampliação contratual do prazo de trinta dias para saneamento do vício do produto, que nunca poderá ser inferior a sete nem superior a 180 dias, sendo sempre necessária a concordância do consumidor. 8.1.6 Sanções para os vícios de qualidade Caso o vício não seja sanado dentro do prazo legal (trinta dias), o consumidor poderá exigir, alternativamente, a sua escolha: • a substituição do produto por outro em perfeitas condições de uso, da mesma espécie (marca, modelo); se não for possível, poderá haver substituição por outra espécie, mediante complementação ou substituição de preço; • a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de perdas e danos; • abatimento proporcional do preço. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas supracitadas, ou seja, não precisa esperar o prazo de trinta dias, sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial (ex.: medicamentos, alimentos etc.). 8.1.7 Vícios de quantidade Sempre que respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, o vício de quantidade se dá toda vez que ocorre diferença a menor de qualquer tipo de medida da porção efetivamente adquirida e paga pelo consumidor, com relação às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem, mensagem publicitária, oferta, contrato etc. 8.1.7.1 Sanções para os vícios de quantidade Diferentemente do vício de qualidade, a norma do vício de quantidade não oferece prazo para o fornecedor sanar o problema. Assim, o consumidor poderá exigir o cumprimento imediato das alternativas, à sua escolha: 119 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL • complementação do peso ou da medida; • a substituição do produto por outro, da mesma espécie, marca ou modelo; se não for possível, poderá haver substituição por outra espécie, mediante complementação ou substituição de preço; • a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de perdas e danos; • abatimento proporcional do preço. 8.1.8 Vícios de serviço Os vícios de serviço acontecem quando os serviços se mostram inadequados para os fins que deles se esperam, não atendem as normas regulamentadas de prestabilidade, ou quando há disparidade em relação às indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária. O serviço defeituoso é o que frustra a expectativa do consumidor em relação ao modo como ele é prestado; aos riscos que seu uso apresenta; ou à época em que foi prestado, não podendo mostrar sinais de envelhecimento. 8.1.8.1 Sanções para os vícios de serviço Caso o vício não seja sanado dentro do prazo legal, o consumidor poderá exigir, alternativamente, a sua escolha: • reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; • a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de perdas e danos; • abatimento proporcional do preço. A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. Tendo em vista a natureza dos serviços que se prestam, pode ocorrer que, constatado o vício, o consumidor não queira mais que o mesmo prestador o reexecute porque perdeu a confiança nele. Assim, o consumidor pode escolher um terceiro prestador de serviço de sua confiança para a reexecução dos trabalhos. 8.2 Prazo da garantia legal (decadência) Consiste na extinção dos direitos pela inércia dos titulares (consumidores), em determinado período de tempo. O Código do Consumidor estabeleceu, no artigo 24, uma garantia legal, que o fornecedor dela não pode desonerar. Portanto o direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos dos produtos ou serviços extingue-se em: 120 Unidade IV • trinta dias, em se tratando de fornecimento de produtos ou serviços não duráveis; • noventa dias, em se tratando de fornecimento de produtos ou serviços duráveis. A durabilidade está relacionada com o tempo médio de consumo dos produtos ou serviços. Por exemplo: produtos alimentares e vestuário são considerados não duráveis, enquanto eletrodomésticos e veículos são considerados duráveis. O termo inicial da decadência começa a partir da efetiva entrega do produto ou do término da execução do serviço para os vícios aparentes, e a partir do momento em que ficarem evidenciados os defeitos para os vícios ocultos. O início do prazo se dá com a entrega efetiva do produto ou com o término da execução do serviço. Em outras palavras, é preciso que o consumidor possa começar a usufruir do produto e do serviço. O fornecedor pode oferecer maior garantia que a legal: é a chamada garantia contratual. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito. A lei não faz nenhuma distinção entre produto novo e usado, pois cabe ao fornecedor especificar na oferta e/ou no contrato de compra e venda (ou na nota fiscal) as condições reais em que o produto está sendo vendido. A reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços obsta a decadência. 8.3 Prazo de validade O prazo de validade do produto ou serviço garante ao consumidor que o produto, até a data marcada, encontra-se em condições adequadas de consumo e que, após a data marcada, o risco do serviço ou do consumo do produto é do consumidor. Decorre também a proibição da comercialização de produtos fora do prazo,possibilitando a queda de preços dos produtos que estão próximos do último dia do prazo de validade. 8.4 Produtos com defeito O defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa que cause um dano maior que simplesmente o mau funcionamento, o não funcionamento, a quantidade errada, a perda do valor pago. O defeito causa além do dano do vício, porque o produto ou serviço não cumpriram o fim ao qual se destinavam, outros danos ao patrimônio material e/ou moral e/ou estético e/ou à imagem do consumidor. Temos então que o vício pertence ao próprio produto ou serviço, jamais atingindo a pessoa do consumidor ou outros bens seus. O defeito vai além do produto ou do serviço para atingir o consumidor em seu patrimônio jurídico mais amplo. 121 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 8.5 Responsabilidade por danos Segundo o Código de Defesa do Consumidor, também há responsabilidade do fornecedor em relação aos danos causados por defeito no produto ou serviço prestado, ou por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. O Código refere-se a fornecedor abrangendo todos os participantes do ciclo produtivo e distributivo. Entretanto, em matéria de responsabilidade por danos, o código mencionou alguns fornecedores, responsabilizando fabricante, produtor, construtor e importador. O rol é taxativo, com responsabilidade solidária. O comerciante é responsabilizado por via secundária, ou seja, se estes relacionados aanteriormente não puderem ser identificados ou não houver condições suficientes para reparar os danos ocasionados, a responsabilidade do comerciante será então subsidiária. O responsável que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis. A responsabilidade dos fornecedores, além de solidária, é objetiva, ou seja, independente de culpa, há necessidade de provar apenas o nexo de causalidade entre o produto ou serviço e o evento dano. Observação Segundo o artigo 27 do CDC (BRASIL, 1990b), prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 8.6 Responsabilidade civil Entende-se por responsabilidade civil a circunstância de alguém ter de ressarcir algum prejuízo causado a outrem. Seria extremamente difícil para o consumidor demonstrar essa circunstância, mesmo porque ele é a parte vulnerável nas relações de consumo, tendo o CDC optado pela responsabilidade objetiva. Com efeito, dispõe o artigo 12 (BRASIL, 1990b): O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1º. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: 122 Unidade IV I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º. O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3º. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 8.7 Causas excludentes Tenha-se em vista, por outro lado, que o § 3º do artigo 12 do CDC (1990b) alerta para o fato de que a responsabilidade do fornecedor não é admitida em todos os casos, conforme parágrafo anterior. Esse dispositivo trata, portanto, de causas excludentes de responsabilidade. De qualquer forma, entretanto, cumprirá ao fornecedor demonstrá-las, ao ensejo da inversão do ônus da prova. Há alguns anos, uma renomada empresa fabricante de peças automotivas (freios de serviço para caminhões, tratores e ônibus) foi vítima de um roubo na descida da Rodovia Anchieta, quando um de seus caminhões transportava peças ao porto de Santos para exportação. Imediatamente publicou em todos os principais jornais o alerta sobre esse fato, principalmente dizendo que os proprietários de carros de passeio correriam sérios riscos se colocassem esse tipo de freios, podendo sofrer acidentes. Resta claro nesse caso, pois, que a empresa não colocou o produto no mercado, mas foi vítima de um ato ilícito. Outro exemplo de excludente de responsabilidade objetiva que nos ocorre é o de aparelhos de televisão, que trazem uma advertência bastante clara e em cor vermelha na parte de trás, consistente em alertar o consumidor para não mexer ali e, sobretudo, abrir o aparelho, sob pena de levar choques elétricos. Ora, se o consumidor, não obstante tal advertência, simplesmente a desobedecer e em consequência vier a sofrer algum dano à sua incolumidade física, não se poderá responsabilizar o fabricante do referido aparelho. O artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990b) trata da responsabilidade objetiva também do comerciante, em consequência de acidentes de consumo por um defeito constatado, mas nas seguintes condições: 123 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; e III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Seu parágrafo único, todavia, possibilita o chamado direito de regresso. Com efeito: “Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso”. O artigo 14 do CDC (BRASIL, 1990b) trata também da responsabilidade objetiva, mas relativamente aos serviços, a saber: O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; ll - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. O exemplo corresponde ao combate de ratos pelo espargimento de um produto altamente tóxico, que causou a morte de quase uma dezena de operários e a intoxicação em dezenas deles. Ou então ao serviço de dedetização, em face do qual o agente não explica corretamente as cautelas que o consumidor deve ter após aquela atividade, ocasionando danos à saúde da família consumidora daquele serviço. Como acontece com relação aos produtos, também o § 3º do artigo 14 do CDC (1990b) traz algumas excludentes de responsabilidade. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: • que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; • a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 124 Unidade IV 8.8 Qualidade e segurança dos produtos e serviços Dispõe o artigo 8º, do CDC (BRASIL, 1990b): Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito (BRASIL, 1990b). O risco normale previsível refere-se a certa expectativa que o consumidor tem em relação ao produto ou serviço, ou seja, representa uma normalidade e previsibilidade do consumidor em relação ao uso e funcionamento rotineiro do produto ou serviço. Exemplo: um liquidificador apresenta riscos na sua utilização: não se pode, evidentemente, colocar a mão dentro do copo com o aparelho ligado; o mesmo serve para os ventiladores. Esse seria o risco normal e previsível. 8.9 Informações necessárias e adequadas No artigo 8º do CDC, o dever de informar do fornecedor está relacionado ao aspecto do risco à saúde e segurança do consumidor, isto é, o fornecedor deve dar informações sobre os riscos que não são normais e previsíveis em decorrência da natureza dos produtos e dos serviços. Exemplo: se uma indústria cria um triturador cujo manuseio não é, ainda, do conhecimento padrão do consumidor, tem de dar-lhe informações corretas, claras, ostensivas e suficientes, visando esclarecer todos os riscos inerentes à utilização do produto. 8.10 Impressos O parágrafo único do artigo 8º do CDC (BRASIL, 1990b) especifica a obrigação do fabricante do produto industrializado de fornecer as informações em impressos que devem acompanhar o produto. Exemplo: manual de instruções. Se o produto é importado e na origem é feito por indústria, é ao importador que cabe fornecer as informações, e se elas já acompanharem o produto, será ele o responsável pela tradução a ser oferecida em impresso próprio que deverá acompanhar o produto. Para dar guarida ao dever imposto no parágrafo único do artigo 8º do CDC (BRASIL, 1990b), o legislador criou o tipo penal do artigo 63: “omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade. Pena: detenção de seis meses a dois anos e multa”. O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou a segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. 125 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 8.11 Direito de arrependimento O Código de Defesa do Consumidor dispõe sobre o direito de arrependimento do consumidor, que pode voltar atrás em sua declaração de vontade de celebrar a relação jurídica de consumo. Esse direito poderá ocorrer se a contratação for efetuada fora do estabelecimento comercial, “especialmente” se for por telefone ou em domicílio. Esse direito não precisa ser justificado pelo consumidor. Não precisa ter motivo declarado. Basta a vontade de voltar atrás. 8.12 Prazo de reflexão: sete dias (para evitar abusos) Contagem: a partir da conclusão do contrato de consumo ou do ato de recebimento do produto ou serviço. O prazo não começará em feriado e, se acabar em feriado, será prorrogado até o dia útil seguinte. Observação O defeito é o vício acrescido de um problema extra, algo que cause um dano maior que simplesmente o mau funcionamento, o não funcionamento, a quantidade errada, a perda do valor pago. 8.13 Práticas comerciais abusivas São as condições irregulares de negociação nas relações de consumo, que ferem a boa-fé, os bons costumes, a ordem pública e a ordem jurídica. Essas condições têm de estar ligadas ao bem-estar do consumidor final. É o abuso contra o consumidor. 8.13.1 Hipóteses legais • Condicionamento do fornecimento de produto ou serviço: podem ocorrer duas hipóteses: venda casada, em que o fornecedor se nega a fornecer produto ou serviço, a não ser que o consumidor adquira também outro produto ou serviço, e não só a venda, mas também qualquer outra forma de fornecimento pode ser objeto de prática abusiva; e condição quantitativa: diz respeito ao mesmo produto ou serviço objeto do fornecimento. O fornecedor só vende se for “X” quantia do produto; se for mais ou menos, não vende. A proibição não é absoluta, já que a lei admite a Justa Causa. Ex.: estoque limitado. • Recusa do atendimento à demanda do consumidor: desde que o fornecedor tenha estoque de produtos e esteja habilitado a prestar o serviço, não pode recusar-se a atender à demanda do consumidor. • Fornecimento não solicitado: o produto ou serviço só pode ser fornecido desde que haja solicitação prévia por parte do consumidor. Se ocorrer o fornecimento sem solicitação, o consumidor deve recebê-lo como amostra grátis, não cabendo nenhum pagamento. 126 Unidade IV • Aproveitamento da hipossuficiência do consumidor: o fornecedor não pode valer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços. Aqui estão incluídas as técnicas mercadológicas, a propaganda, o marketing, as práticas comerciais de modo geral. • Exigência de vantagem excessiva: vantagem excessiva é a vantagem exagerada, incomum, desproporcional. Basta a exigência para configurar a prática abusiva. • Serviços sem orçamento ou autorização do consumidor: para que o fornecedor possa dar início ao serviço, é preciso autorização do consumidor, autorização expressa e aprovação expressa do orçamento. Não basta só a apresentação do orçamento. Tem de haver concordância expressa do consumidor. Serviço prestado sem autorização será considerado amostra grátis. • Divulgação de informações negativas sobre o consumidor: nenhum fornecedor pode divulgar informação depreciativa sobre o consumidor. • Colocar no mercado produtos e serviços em desacordo com as normas técnicas: se existir norma técnica expedida por órgão público, ou mesmo entidade privada credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial (Conmetro), cabe ao fornecedor respeitá-la. • Inexistência ou deficiência de prazo para cumprimento da obrigação por parte do fornecedor: o Código de Defesa do Consumidor obriga o fornecedor a entregar ao consumidor orçamento prévio, discriminando o valor e as condições de pagamento, com as datas de início e término dos serviços. Salvo estipulação em contrário, o orçamento tem validade de dez dias, contados do seu recebimento pelo consumidor. Existem vários casos de práticas comerciais abusivas em desfavor do consumidor, e o Judiciário está sempre atento e combatendo estes ilícitos. A seguir, algumas decisões que demonstram claramente o abuso contra o consumidor. “INDENIZAÇÃO - DANO MORAL - Concessão pela ré de financiamento fraudulento a terceiro, sem as devidas cautelas - Negativação indevida do nome da autora nos cadastros restritivos de crédito, o que a impediu de adquirir bens a prazo no comercio local - Responsabilidade da ré e dano moral caracterizados”. Procedência da ação que era mesmo de rigor - Porém, o quantum indenizatório foi fixado em valor módico, se comparado àqueles normalmente arbitrados por esta Col. Câmara em casos correlatos, razão pela qual será majorado, como pede a autora - Recurso provido. (Apelação n. 0016905-72.2009.8.26.0032, Rei. RIZZATTO NUNES, 23ª Câmara de Direito Privado, j . 19/05/2010, r. 08/06/2010). 127 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL “DANO MORAL - Utilização de documentos falsos, por terceiro, para abertura de conta bancária em nome do autor - Inscrição dos dados pessoais da demandante, junto aos cadastros as entidades defensoras do crédito - Responsabilidade objetiva do Banco”. (Apelação 991030926409 (1258880000), Rei. ELMANO DE OLIVEIRA, 23ª Câmara de Direito Privado, j . 24/02/2010, r. 18/03/2010). “RESPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL - Negativação de nome - Contrato que deu origem à restrição que foi celebrado com apresentação de documento de identidade falso e por pessoa diversa do autor - Fato não negado pelo banco - Responsabilidade deste, pois, evidenciada - Quantum indenizatório mantido, convertido, de ofício, os salários mínimos para reais e fixada a data da prolação da sentença como o dies a quo da incidência de correção monetária e dosjuros de mora de 1% ao mês - Apelo desprovido, com determinação.” (Apelação 991050424328 (3005823600), Rei. RIZZATTO NUNES, 23ª Câmara de Direito Privado, j . 28/05/2008, r. 09/06/2008). RESPONSABILIDADE CIVIL – REMESSA DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO DO CONSUMIDOR – PRÁTICA ABUSIVA – INDEVIDA COBRANÇA DE FATURAS MENSAIS – AUSÊNCIA DE PROVA DA ANUÊNCIA E UTILIZAÇÃO DO CARTÃO PELO CONSUMIDOR – DANO MORAL CONFIGURADO – NEXO CAUSAL – MONTANTE INDENIZATÓRIO. 1. Apresenta-se ilegal o procedimento do banco que envia cartão de crédito ao consumidor sem a prévia solicitação. Termo de Compromisso originado do Ministério da Justiça. Prática abusiva – CDC, art. 39, III. Procedimento que colore a figura do ilícito, ensejando reparação por danos morais. Nexo causal configurado. 2. A fixação do montante indenizatório a título de dano moral segue critérios subjetivos do juiz, e deve ser consentâneo à realidade dos fatos. Proveram o apelo. Fonte: Ferraz (2011). 8.14 Decadência e Prescrição A Decadência é conhecida como a perda do direito material em razão do decurso do tempo, ou seja, perde-se o direito de algo por ter acabado o tempo, seja de reclamar ou reaver o bem ou direito. Segundo Harada (2005, p. 504), o instituto da decadência é conceituado como “[...] sendo o perecimento do direito por não ter sido exercitado dentro de determinado prazo”. Com relação à prescrição, pode-se afirmar que é conhecida como a perda do direito de ação em razão do decurso do tempo, ou, em outras palavras, perde-se o direito de reclamar em juízo sua pretensão em função da perda do tempo. Para Harada (2005), prescrição é um prazo concedido para que seja exercitado o direito, aplicando-se causas de suspensão e interrupção. O Código do Consumidor, entretanto, contrariou esses preceitos tradicionais, já que prevê, no artigo 26: 128 Unidade IV O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - 30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto não duráveis; II - 90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto duráveis. Em seu § 2º, diz que obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (vetado); III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. Com relação ao início dos referidos prazos decadenciais, preveem os § 1º e 3º do mesmo artigo: § 1º. Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços; [...] § 3º. Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Em termos de defeitos − na nomenclatura bem-entendida do Código de Defesa do Consumidor − dispõe seu art. 27: “Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”. A seguir, uma decisão judicial em segundo grau de jurisdição, através de um recurso de apelação em que a magistrada sentenciante utilizou todos os conhecimentos repassados aqui, em especial o instituto da prescrição e decadência tratado neste último tópico. Apelação cível. Ação de indenização por vício do produto. Sentença que declarou a decadência. Art. 26, ii, do CDC. Reclamação que obstou a ocorrência da decadência. Prazo. Prescrição. Incidência do art. 27 do CDC, e não do art. 26 do mesmo código. Não incidência do § 3, do art. 515 do CDC. Recurso conhecido e provido para cassar a decisão a quo, retornando à origem para regular prosseguimento (BRASIL, 2012). 129 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 8.15 Da proteção contratual 8.15.1 Cláusulas abusivas As cláusulas abusivas são notoriamente desfavoráveis ao consumidor, parte mais fraca da relação. 8.15.2 Cláusulas exemplificativas Há um rol enorme de possibilidades contratuais que podem configurar situações ilícitas, que venham a ser enquadradas como de cláusulas abusivas, geradoras de desequilíbrio ao consumidor. Com base em legislações internacionais que enfrentam o tema, o Brasil optou pelo sistema de listas exemplificativas acerca das cláusulas abusivas, por exemplo: • Cláusula de não indenizar − é nula a cláusula que contenha óbice ao dever legal de indenizar. A proibição atinge qualquer cláusula que tenha por objetivo exonerar, impossibilitar ou atenuar a responsabilidade do fornecedor. • Cláusula de renúncia ou disposição de direitos. • Cláusula de limitação da indenização com consumidor. • Cláusula que impeça o reembolso da quantia paga pelo consumidor etc. 8.15.3 Compra e venda à prestação Seja de móveis ou imóveis, a lei veda cláusula que estipule a perda total dos valores pagos pelo consumidor em caso de resolução do contrato por inadimplência. É permitida, contudo, a estipulação de pena ao consumidor pelo inadimplemento contratual, desde que essa pena seja equitativa. 8.15.4 Contratos de adesão São contratos cujas cláusulas tenham sido estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. A lei não veda, mas estipula certas condições: a principal seria que as cláusulas limitativas de direitos do consumidor deverão ser regidas com destaque, permitindo imediata e fácil compreensão, bem como que todo o escrito deverá ter redação clara e legível. 8.15.5 Cobrança de dívidas Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto ao ridículo, nem submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito a Repetição de Indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo engano justificável. Muitas vezes, a cobrança indevida decorre da adoção, pelo credor, de critérios de cálculos e cláusulas contratuais financeiras não 130 Unidade IV conformes com o sistema legal de proteção do consumidor, em razão do princípio que veda o enriquecimento injustificado do credor. A seguir um rol de exemplos de práticas abusivas em desrespeito ao direito do consumidor combatidas pela Justiça. CONTRATO - Compra e venda - Rescisão - Perda dos valores já pagos - Acolhimento que ensejaria enriquecimento indevido, em face da ausência de prejuízo - Cláusula leonina configurada - Verba Indevida - Recurso não provido. (Apelação Cível n. 186.199-2 - São Paulo - Apelantes e apelados: Neide Maria de Oliveira Camargo e W.R.C. Incorporações Ltda. - RJTJESP, ED. LEX - 137/91.) No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo (BRASIL, 1964). “CONTRATO - Rescisão - Cláusula penal - Perdas e danos consubstanciados na perda das quantias pagas - Interpretação que deve ser feita em favor do aderente - Acolhimento da cláusula, ademais, que conduziria a condenação do próprio direito - Devolução das importâncias pagas ordenadas - Recursos próprios para esse fim.” (Apelação Cível n. 197.165-2 - São Paulo - Apelante: Osvaldo Rodrigues - Apelada: Construtora e Administradora Taquaral S.A. - RJTJESP, Ed. LEX - 139/41.) “RESCISÃO CONTRATUAL - Contrato de Adesão e o Código de Defesa do Consumidor - Aplicação imediata - Excessiva onerosidade da cláusula penal - Ofensa ao art. 53, caput da Lei 8078/90.” “O contrato de adesão possibilita a intervenção judicial, para a correção de cláusulas excessivamente onerosas para a parte aderente. O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, cujas normas são de ordem pública e de interesse social (art. 1º), considera nulas de pleno direito cláusulas que estabeleçam a perda total das prestaçõespagas, no caso de resolução do contrato de compra e venda de coisa móvel ou imóvel, por inadimplemento do comprador (art. 53). Esta disposição, por ser de ordem pública, aplica-se aos contratos anteriores ao referido estatuto legal, de forma a nulificar a cláusula do contrato que estabelece a perda”. - (TJSP - Ap. Cível 197.165-2/3 - SP - 11ª Câm. Civil Rel. Des. Pinheiro Franco - j. 22.10.92 - m. v.) “Aplicam-se as normas do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de execução diferida, não obstante ter sido pactuado antes da vigência deste diploma legal - art. 1º. Improcede o pedido de perdas das parcelas pagas, porque nula é a cláusula contratual que a estabelece, face a sua abusividade”. - (TJDF - Ap. Cível 31.902/94 - DF - 3ª T. - Rel. Des. Nancy Andrighi - j. 16.05.94 - m. v.) 131 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL “Ainda que pactuada anteriormente à vigência do Código de Defesa do Consumidor, a cláusula penal que estipula a perda de todas as importâncias pagas é draconiana e deve ser reduzida aos seus limites, perdendo o promissário inadimplente apenas o sinal, assegurando o seu direito de reaver as demais quantias, corrigidas após o desembolso e com juros de 6% ao ano, a partir da citação”. - (Ac. da 4ª Câm. Civ. do TAMG - Ap. Civ. 158.893-4 - Rel. Juiz Jarbas Ladeira - j. 6.10.93) “Eficácia na resolução. Desfazendo a relação contratual e os seus efeitos, a resolução determina o retorno ao estado anterior, inclusive a devolução das parcelas do preço já pagas, exceto o sinal, por força de expressa norma legal (CC, art. 1097)”. (RT 653/193) 8.16 Publicidade e propaganda O anúncio publicitário não pode de forma alguma faltar com a verdade daquilo que anuncia, quer seja por afirmação, quer por omissão. Nem mesmo manipulando frases, sons e imagens para, de maneira confusa ou ambígua, iludir o destinatário do anúncio. O anúncio deve apresentar o preço de forma clara, bem como as condições de seu pagamento: à vista, a prazo, parcelado etc. Nos pagamentos a prazo ou parcelado, devem constar os valores da entrada (se houver), das prestações, das taxas de juros e das demais despesas. A atividade publicitária deve respeitar a dignidade da pessoa humana, a intimidade, o interesse social, as instituições e símbolos nacionais, as autoridades instituídas e o núcleo familiar. Os anúncios não devem conter nada que possa induzir a atividades ilegais e/ou criminosas ou que pareça favorecer, enaltecer ou estimular tais atividades. Os anúncios também não podem apresentar de nenhuma maneira afirmações, apresentações visuais ou auditivas, nem mensagens que ofendam os padrões de decência prevalecentes no meio social, sob pena de serem considerados abusivos. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações: • corretas – praticamente o óbvio ululante, seria absolutamente inadmissível que o fornecedor desse informações incorretas; • claras – a norma pretende evitar o uso de linguagem técnica ou inacessível (ex.: bulas de remédios); • precisas – a lei impede o uso de termos vagos e/ou ambíguos (ex.: bancos que informam que o cliente tem x dias para usar o cheque especial sem que lhe cobrem os juros correspondentes, porém não informam que, se o uso superar o dia x, os juros do período anterior serão somados e cobrados); • ostensivas – dirige-se especificamente àquelas informações impressas em letras miúdas, difíceis de serem lidas; a informação ou cláusula impressa dessa forma não tem validade alguma; • língua portuguesa – seria um disparate aceitar o uso da língua alienígena no contexto nacional, fazendo vingar direitos contra os brasileiros; 132 Unidade IV • linguagem legível – principalmente a informações manuscritas ou apagadas (ex.: receita de médico, tinta opaca); Por outro lado, as informações sobre os produtos e serviços, nesses moldes, devem ser em relação às suas: • Características (tamanho, forma, cor etc.), qualidade (utilidade), quantidade, composição, garantia contratual e origem. • Preço – preço à vista: preço só existe à vista, não se pode confundir preço com forma de pagamento, que pode ser a prazo, em parcelas, financiado etc. A forma pode variar, mas o preço tem de ser o mesmo que foi estipulado à vista da compra. Ex.: se o preço à vista é R$ 100,00 e o pagamento é a prazo, o fornecedor não pode dizer que para 60 dias o preço é R$ 120,00 (acréscimo ilegal). Só é possível cobrar juros em operação sustentada por instituição financeira (são as únicas autorizadas a cobrarem juros remuneratórios); preço visível: o preço tem de estar à mostra, claramente visível ao consumidor, inclusive nos produtos das prateleiras dos supermercados e nas vitrinas. A lei visa impedir que o consumidor seja constrangido, isso porque é prática bastante conhecida de venda (a gíria comercial diz “malho”) a de atrair o consumidor para dentro do estabelecimento, oferecer-lhe os produtos sem que ele saiba quanto custa e, depois que ele fica bastante interessado e diz que quer comprar, só aí é que o preço é dito. O consumidor constrangido acaba adquirindo um bem com custo muito mais elevado do que pretendia. Consigne-se que o preço não declarado não precisa ser pago, se o consumidor considerá-lo abusivo e/ou fora do padrão esperado. • Prazos de validade – todo produto perecível deve trazer informado o prazo de validade. Certos produtos devem apresentar dois prazos de validade distintos: um até que a embalagem seja aberta e outro para o consumo após sua abertura. São centenas de produtos que a pessoa abre e demora para consumir totalmente, como requeijão, biscoito etc. Com efeito, o artigo 37 do CDC considera enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir a erro o consumidor a respeito de natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços; a publicidade também é enganosa por omissão quando deixa de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. 8.16.1 Formas comuns de publicidade enganosa O “chamariz” Modo enganoso de atrair o consumidor para que ele, uma vez estando no estabelecimento (ou telefonando), acabe comprando algo muitas vezes bem constrangido. Por exemplo, anuncia-se a liquidação com grandes descontos e quando o consumidor chega à loja a liquidação é restrita a uma única prateleira ou estante; ou “os primeiros 10 ouvintes que ligarem terão desconto de 50% na compra 133 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL de tal produto” e, quando o consumidor liga, ainda que seja logo em seguida, recebe a resposta de que é o décimo primeiro a ligar. Informação distorcida A publicidade seria enganosa caso o consumidor pudesse não ter adquirido o produto ou o serviço se este tivesse sido anunciado corretamente; o anúncio será enganoso se não corresponder à verdade, se esta não se verificar. Por exemplo, o fornecedor diz que o produto dura dois meses e em um mês ele está estragado; ou que o curso é grátis, exceto o material didático. Ambiguidade Se o anúncio “brincar” com o sentido ambíguo de seu texto ou se utilizar a ambiguidade com o intuito de confundir, será enganoso. Se, ao ler o texto, assistir à imagem, ouvir a mensagem falada, restar possível mais de uma interpretação e uma delas levar à “enganosidade”, o anúncio já será enganoso. Por exemplo, anúncio com foto de um aparelho de melhor qualidade, diferente da sigla junto do preço ao pé da fotografia que indicava um aparelho de qualidade inferior. 8.16.2 Responsabilidade do fornecedor-anunciante, das agências e do veículo A responsabilidade é solidária de todos aqueles que participam da produção do anúncio e de sua veiculação. Tanto o anunciante quanto sua agência e o veículo são responsáveis solidários pelo dano que o anúncio causar e pelas infrações praticadas. Exceção: tanto a agência quanto o veículo anunciantenão terão responsabilidade quando do anúncio não se extrair a “enganosidade” ou por cuja publicidade não for possível, por falta de condições reais, saber se o anúncio é enganoso ou depende de uma ação real, concreta e posterior do fornecedor-anunciante. Por exemplo, uma loja anuncia desconto de 50% nos preços das mercadorias, e quando o consumidor comparece à loja, vê que os descontos são de apenas 20%. 8.16.3 Oferta e publicidade Poderíamos afirmar que oferta é gênero e que publicidade é espécie. Com efeito, a oferta de produtos e serviços se refere a toda e qualquer manifestação do anunciante-fornecedor, com o objetivo de propor sua colocação no mercado (prospectos distribuídos de mão em mão, malas diretas, mensagens veiculadas por veículos com alto-falantes, exibição de produtos em vitrines de lojas, correspondência contendo propostas concretas etc.). Já publicidade vem a ser a mensagem estratégica e tecnicamente elaborada por profissionais especificamente treinados e preparados para tanto, veiculada igualmente por meios de comunicação de massa mais sofisticados (como outdoors, mensagens por televisão, rádios, revistas, jornais, internet etc.). Esses esclarecimentos são necessários, na medida em que três são as personagens de uma mensagem publicitária: 134 Unidade IV • anunciante – que é o próprio fornecedor, na extensão em que é definido pelo CDC; • agente publicitário – que é o profissional que engendra e produz a publicidade; • o veículo – qualquer meio de comunicação em massa que leva mensagens publicitárias até seus destinatários, consumidores ou potenciais consumidores. 8.16.4 Conceitos de publicidade enganosa e abusiva O próprio Código de Defesa do Consumidor, no art. 37 (BRASIL, 1990), encarrega-se de definir publicidade enganosa e abusiva. Com efeito: Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1º - É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2º. É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3º. Para os efeitos deste Código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. 8.16.5 Princípio da vinculação O art. 30 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990b), por seu turno, dispõe: Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado (BRASIL, 1990b). Já o artigo 35 (BRASIL, 1990b) oferece a sanção civil cabível no caso, a saber: Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: 135 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia e eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos (BRASIL, 1990b). 8.16.6 Princípio da transparência Dispõe o parágrafo único do art. 36 do CDC (BRASIL, 1990b) que a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Cuida-se de princípio eminentemente ético e tem por base o dever posto tanto aos anunciantes como aos seus agentes publicitários que, ao transmitirem alguma característica especial sobre determinado bem ou serviço, e caso haja dúvidas a respeito, a justifiquem cientificamente. Exemplo: o sabão X lava muito mais branco do que o Y porque contém o princípio ativo H. Lembrete A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas, em língua portuguesa e com linguagem legível. 8.17 Serviço de Atendimento Telefônico aos Consumidores (SAC) O Decreto n. 6.523 (BRASIL, 2008b) regulamentou o Código de Defesa do Consumidor e estabeleceu regras para o Serviço de Atendimento aos Consumidores. O Decreto é destinado somente aos fornecedores de serviços regulados pelo poder público federal. Assim, podemos afirmar que não são todos os fornecedores que estão sujeitos às regras estabelecidas pelo Decreto. Somente os serviços regulados pelo poder público, através de agências (Anatel, Aneel, Ancine, ANS) ou autarquias (Susep, Banco Central, CVM), é que estarão sujeitos às regras. As empresas prestadoras de serviços que são reguladas pelo poder público (energia elétrica, telefonia móvel ou fixa, televisão por assinatura, planos de saúde, aviação civil, empresas de ônibus interestaduais, seguradoras, bancos, financeiras, operadoras de cartões de crédito, consórcios) devem seguir determinações estipuladas pelo Decreto Federal n. 6.523 (BRASIL, 2008). O objetivo do Decreto é a observância dos direitos básicos do consumidor de obter informação adequada e clara sobre os serviços que contratar e de se manter protegido contra práticas abusivas ou ilegais impostas no fornecimento desses serviços. 136 Unidade IV As principais regras estabelecidas pelo Decreto no atendimento aos consumidores são as seguintes: • as ligações para a solução dos problemas dos consumidores devem ser gratuitas, e o atendimento das solicitações e demandas não deverá resultar em qualquer ônus para o consumidor (artigo 3º); • o serviço deverá garantir ao consumidor, no primeiro menu eletrônico, as opções de contato com o atendente, de reclamação e de cancelamento de contratos e serviços (artigo 4º); • a opção de contratar o atendimento pessoal constará de todas as subdivisões do menu eletrônico (artigo 4º); • o consumidor não terá a sua ligação finalizada pelo fornecedor antes da conclusão do atendimento (artigo 4º); • o acesso inicial ao atendente não será condicionado ao prévio fornecimento de dados pelo consumidor (artigo 4º); • o serviço deverá ficar disponível, ininterruptamente, durante vinte quatro horas por dia e sete dias por semana, ressalvado o disposto em normas específicas (artigo 5º); • o acesso das pessoas com deficiência auditiva ou de fala será garantido pelo SAC, em caráter preferencial, facultado à empresa atribuir número telefônico específico para este fim (artigo 6º); • o número de telefone do serviço de atendimento ao consumidor deverá constar de forma clara e objetiva em todos os documentos e materiais impressos entregues ao consumidor no momento da contratação do serviço e durante o seu fornecimento, bem como na página eletrônica da empresa na rede mundial de computadores (artigo 7º). É obrigatória a manutenção da gravação das chamadas efetuadas para o SAC, pelo prazo mínimo de noventa dias, durante o qual o consumidor poderá requerer acesso ao seu conteúdo. O registro eletrônico do atendimento será mantido à disposição do consumidor e do órgão ou da entidade fiscalizadora por um período de dois anos após a solução da demanda. O consumidor terá direito de acesso ao conteúdo do histórico de suas demandas, que lhe será enviado, quando solicitado, no prazo máximo de setenta e duas horas, por correspondência ou por meio eletrônico, a seu critério. O decreto dispõe ainda que, nos casos de reclamação e de cancelamento de serviço, o atendente deverá transferir imediatamente a ligação em, no máximo 60segundos, para o setor competente para o atendimento definitivo do consumidor. O consumidor pode cancelar o serviço por todos os meios disponíveis para a contratação do serviço. 137 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL Os dados pessoais do consumidor devem ser mantidos em sigilo e utilizados exclusivamente para o atendimento. A empresa deve fornecer, no início do atendimento, o número de protocolo, com data, horário e assunto. Saiba mais Para saber mais sobre a proteção, os diretos e as obrigações do consumidor, acesse: www.procon.sp.gov.br http://www.idec.org.br/ Resumo Nesta unidade, abordamos que nas relações de consumo estão presentes, obrigatoriamente, as figuras do consumidor e do fornecedor de bens (produtos) ou de serviços. O consumidor é classificado como toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza o produto ou serviço como destinatário final. Por sua vez, fornecedor é aquele responsável pela colocação de produtos e serviços à disposição do consumidor, com a característica da habitualidade. Estudamos, ainda, que os objetos dessa relação de consumo configuram-se no produto, que se refere a qualquer objeto de interesse em uma relação de consumo e destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente (consumidor) como destinatário final; serviço refere-se a toda atividade fornecida, ou melhor, prestada no mercado de consumo. Destacamos que todos os produtos ou serviços colocados no mercado de consumo devem apresentar o termo de garantia padronizado e que esclareça, de maneira adequada, em que consiste a garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exigida, devendo ser entregue corretamente preenchida pelo fornecedor no ato do fornecimento do produto ou serviço, acompanhada do manual de instrução, de instalação e de uso do produto, em linguagem didática, com ilustrações. Por fim, apreendemos que, em relação às cláusulas contratuais, o Código de Defesa do Consumidor dispõe sobre sua interpretação da forma mais benéfica ao consumidor, em caso de obscuridade. Entretanto, se as cláusulas forem consideradas abusivas, o artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor determinará sua nulidade. 138 Unidade IV Exercícios Questão 1. Fonte: Disponível em: http://www.masquemario.net/images/charges_2008/08-12-consumismo.png. Acesso em: 21 de dezembro de 2011. Analisando a charge, é possível concluir que pai e filha foram à lanchonete que oferecia, na compra de um sanduíche, alguns brinquedos, supostamente grátis ou como brindes. Esse tipo de apelo é comum na publicidade destinada ao público infantil, mas é vedado pela Lei n. 8.078, de 1990, porque esse tipo de publicidade é: A) Enganosa, porque omite que a qualidade do sanduíche será ruim pelo fato de que o consumidor vai ganhar brindes. B) Abusiva, porque incita o consumidor a consumir produtos extremamente prejudiciais à sua saúde. 139 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL C) Enganosa, porque omite as características dos brinquedos que serão dados ao consumidor como brinde. D) Abusiva, porque se vale da deficiência de julgamento da criança, que acredita que aquele sanduíche é o melhor porque fornece brindes. E) Nem enganosa, e nem abusiva, mas prejudicial, porque incentiva a discordância entre pais e filhos e, consequentemente, a perda da autoridade dos pais. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a análise do sabor do sanduíche é subjetiva e, portanto, não caracteriza a omissão de informação. Para algumas pessoas pode não estar saboroso, e para outras pode estar excelente. O que não seria possível é omitir a falta de qualidade dos componentes do sanduíche, ou o fato de estarem estragados ou vencidos. Mas no caso a garota se refere apenas ao gosto, que pode ser decorrente do fato de ela apreciar mais outro sanduíche, vendido em outro lugar. B) Alternativa incorreta. Justificativa: não existem informações científicas de que os sanduíches vendidos em cadeias de alimentos sejam extremamente prejudiciais à saúde. O que está comprovado é que o consumo excessivo pode causar sérios danos porque haverá ingestão indevida de componentes prejudiciais à saúde, como gordura e sal. Mas o consumo equilibrado, feito em pequenas quantidades e esporadicamente não é extremamente prejudicial à saúde de uma pessoa saudável. C) Alternativa incorreta. Justificativa: não há elementos para afirmar que as características dos brinquedos dados como brindes tenham sido omitidas, até porque o comentário da garota na charge não se refere à qualidade dos brinquedos, mas sim ao gosto do sanduíche, que para ela era horrível. D) Alternativa correta. Justificativa: a publicidade de sanduíches feita por cadeias de lojas de alimentação que prometem a entrega de brindes para a aquisição de determinados produtos, normalmente os mais caros entre aqueles oferecidos no cardápio, é abusiva porque se vale da falta de maturidade emocional da criança, que deseja tanto o brinquedo que insiste com os pais para consumir o sanduíche. A criança não tem experiência de vida para avaliar que nessas condições o brinquedo não está sendo oferecido gratuitamente, porque seu custo está embutido no preço do produto. A graça da charge é que, no caso, o pai é que se deixou seduzir pelo produto que era oferecido junto com o brinquedo, e não a criança, como seria natural. 140 Unidade IV E) Alternativa incorreta. Justificativa: não existem elementos para afirmar que neste caso tenha ocorrido um incentivo à discordância entre pais e filhos, mas já existiram casos em que isso aconteceu. No passado recente, no Brasil, foram veiculadas propagandas que incentivavam as crianças a insistir com os pais para que eles adquirissem determinados produtos, chegando mesmo a recomendar à criança que adotasse um comportamento irritado ou agressivo caso seus pais não concordassem com a compra. Felizmente, por iniciativa dos órgãos de defesa do consumidor (Procons, Defensoria Pública e Ministério Público), esse tipo de publicidade está vedado no Brasil. Questão 2. Pedro Caramujo adquiriu um veículo zero quilômetro e foi buscá-lo na concessionária depois de ter sido feita a revisão completa de entrega. Saiu com o veículo e parou no primeiro posto de gasolina para abastecer. Nada de anormal aconteceu ali, e o carro foi abastecido. Alguns quilômetros depois, Pedro Caramujo observou que saía fumaça do capô do carro. Parou junto ao meio-fio, abriu a tampa do capô e foi verificar. Tomou um enorme susto, porque o veículo estava pegando fogo. Antes que ele tivesse tempo de utilizar o extintor de incêndio e antes de os bombeiros chegarem ao local, o carro foi inteiramente destruído pelo fogo. Pedro Caramujo retornou à concessionária para reclamar e foi informado de que eles não tinham nada a ver com o ocorrido, porque provavelmente o incêndio teria ocorrido em razão de problemas no abastecimento do veículo. Ele fez contato com o fabricante do veículo, que informou que o carro foi entregue tecnicamente perfeito e não havia nenhum indício de que o incêndio tivesse decorrido de um problema mecânico. Pedro Caramujo contratou um advogado, que ingressou com uma ação judicial contra o fabricante do veículo para requerer a devolução do valor gasto com o carro, alegando que o incêndio só poderia ter ocorrido em razão de um problema mecânico. O fabricante do veículo contestou a ação e afirmou que Pedro tem de fazer prova de que o dano foi decorrente de problemas no veículo. O advogado de Pedro Caramujo resolve, então, requerer ao juiz que aplique a inversão do ônus da prova, que é um instrumento do Direito do Consumidor que permite: A) Que o fornecedor seja condenado sem a necessidade de ser apresentada prova contra ele. B) Que o fornecedor seja obrigado a fazer prova de que não forneceu aquele tipo de produto no mercado de consumo. C) Que o consumidor transfira para o fornecedor a obrigação de provar que não agiu da forma
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