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CIÊNCIA DOS MATERIAIS Prof. ME. DEYVID OLIVEIRA DOS ANJOS 1 005 Aula 01: 013 Aula 02: 022 Aula 03: 033 Aula 04: 041 Aula 05: 049 Aula 06: 058 Aula 07: 068 Aula 08: 075 Aula 09: 083 Aula 10: 092 Aula 11: 100 Aula 12: 107 Aula 13: 116 Aula 14: 125 Aula 15: 132 Aula 16: Estrutura Cristalina Difração de Raios-X Identificação da Estrutura Cristalina dos Sólidos Defeitos em Sólidos Observação de Defeitos por Microscopia Ótica e Eletrônica Difusão em Sólidos Propriedades Mecânicas em Sólidos Mecanismos de Aumento de Resistência em Metais Diagramas de Fases Diagrama Ferro-Carbono Curvas de Resfriamento para Materiais Metálicos e Tratamentos Térmicos de Materiais Metálicos Processamento de Materiais Metálicos Principais Estruturas dos Materiais Cerâmicos Propriedades Mecânicas dos Materiais Cerâmicos Estrutura de Materiais Poliméricos Processamento de Materiais Poliméricos 2 Introdução Prezado(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à disciplina de Ciência dos Materiais. Esta é uma disciplina rica em conceitos referentes à estrutura microscópica dos materiais e às propriedades exibidas macroscopicamente por eles. Todavia, podem surgir algumas dúvidas referentes ao porquê de estudar a fundo tais estruturas. Primeiramente, deve-se lembrar de que tudo a nossa volta é composto por materiais, desde as ferramentas mais simples, utensílios, até peças com aplicabilidades bem restritas. Para cada uma dessas aplicações, inúmeros tipos de materiais podem ser utilizados: sejam metais (por sua resistência e condutividade elétrica e térmica), sejam materiais mais elaborados com propriedades especí�cas, como, por exemplo, as velas de ignição do motor e as pastilhas de freio de um carro (que são submetidos a esforços bem especí�cos e precisam ter qualidades bem delimitadas). Um segundo ponto que se pode usar para destacar a importância da Ciência dos Materiais é sua participação na própria história humana. Há registros de materiais como madeira e metais sendo manipulados há mais de 10 mil anos, principalmente de forma mais natural, sem grandes modi�cações. Porém, a descoberta do fogo propiciou o desenvolvimento de novos materiais, como o vidro, e a transformação de materiais. Já nos dois últimos milênios veri�cou-se o aumento do uso de materiais, a citar: cerâmicas, polímeros e, posteriormente, os vidros, além da combinação deles (compósitos). De forma mais nítida, pode-se lembrar de que desde o �nal do século XX, materiais com aplicabilidades mais especí�cas, como semicondutores, biomateriais, nanomateriais e materiais funcionais têm ganhado importância e se destacado na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e de novas tecnologias. Fica evidente, dessa maneira, o papel que a Ciência dos Materiais desempenha na vida de cientistas e engenheiros, sendo uma importante ferramenta que possibilita entender como é possível utilizar cada material de forma ideal, de 3 acordo com as necessidades humanas. O estudo de materiais é re�exo também da necessidade de se compreender a inter-relação entre materiais, seu processamento e suas propriedades, pois tais propriedades, apesar de terem, muitas vezes, caráter intrínseco (vinculados ao próprio material), podem ser modi�cadas e melhoradas através de processamento. Nessa perspectiva, é de suma importância entender como a função e forma do material se relaciona com suas aplicabilidades. O desa�o é grande, mas com a apresentação dos conceitos básicos referentes a cada tópico da disciplina, a organização do conteúdo e utilização de elementos de composição e ilustração do conteúdo, você será capaz de compreender a Ciência dos Materiais e conseguir avaliar de forma direta e clara as várias nuances que ela possui. Bons estudos! 4 01 Estrutura Cristalina 5 Introdução Em Ciência dos Materiais, a base para o entendimento das propriedades dos mais diferentes materiais e, em adição, o desenvolvimento de aplicações para esses, decorre do estudo das características básicas da estrutura cristalina. Basicamente, os materiais sólidos podem ser categorizados em relação à regularidade com a qual os átomos ou íons presentes neles estão organizados na estrutura. Um material cristalino é aquele no qual os átomos ou íons estão posicionados em um arranjo repetitivo por longos trechos da estrutura, “existe um padrão tridimensional repetitivo, no qual cada átomo está ligado aos seus átomos vizinhos mais próximos” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 47). Dentre os vários tipos de materiais, os que possuem estrutura cristalina são: os metais, muitos materiais cerâmicos e certos polímeros. Isso se veri�ca, em geral, em condições normais de solidi�cação (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Este arranjo repetitivo da estrutura cristalina é denominado de rede. Uma rede pode ser descrita também como sendo o “conjunto de pontos dispostos segundo um padrão periódico, de modo que a vizinhança de cada ponto da rede seja idêntica” e uma rede é um conceito puramente abstrato e de cunho matemático, podendo ser uni, bi ou tridimensional (ASKELAND; WRIGHT, 2019, p. 44). 6 Imagem 1 – Estrutura do Óxido de Titânio | Fonte: Disponível aqui Sabe-se, por meio de averiguações experimentais, que todos os metais, muitos materiais cerâmicos e certos polímeros formam estruturas cristalinas sob condições normais de solidi�cação. Já aqueles materiais que não se cristalizam, essa ordem atômica de longo alcance está ausente, sendo essa a característica dos materiais não cristalinos ou amorfos (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Acesse o link: Disponível aqui “Astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI), em experimentos com cimento, demonstraram que a estrutura microscópica cristalina e, consequentemente, as propriedades do material são diferentes em ambientes com microgravidade quando comparados ao material feito na Terra”. 7 https://visualhunt.com/f3/photo/5867516561/36d2e6ab6d/ https://www.tecmundo.com.br/ciencia/145856-pedreiros-espaciais-astronautas-misturam-cimento-iss.htm Uma vez entendida a ideia de rede em uma estrutura cristalina, pode-se de�nir o conceito de célula unitária. Célula Unitária Em sólidos cristalinos, a ordem em que os átomos aparecem na estrutura é uma sequência repetida, sendo assim, é conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades. Essas entidades são as células unitárias, que correspondem a formas tridimensionais como paralelepípedos, prismas e outras �guras típicas da geometria. Nas células unitárias, as faces costumam ser paralelogramos, retângulos, quadrados, triângulos ou mesmo hexágonos (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Portanto, “uma célula unitária é escolhida para representar a simetria da estrutura cristalina, de forma que todas as posições dos átomos no cristal podem ser geradas por translações dos fatores inteiros dos comprimentos da célula unitária” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 48). Concluindo, percebe-se que a célula unitária é a forma pela qual é possível analisar a estrutura cristalina, sendo ela a principal ferramenta de classi�cação dos diferentes tipos de formações cristalinas nos sólidos. Sistemas Cristalinos Dependendo da maneira como as células unitárias são, pode-se descrever inúmeros sistemas cristalinos, que são as formas que as estruturas cristalinas assumem. Existem sete tipos de sistemas cristalinos: Cúbico: a célula unitária possui todas as arestas (lados) iguais e todos os ângulos iguais (90°); Tetragonal: a célula unitária possui apenas duas arestas iguais entre si, sendo os ângulos todos iguais (90°); Hexagonal: a célula unitária possui apenas duas arestas iguais entre si, sendo dois ângulos iguais a 90° e um deles igual a 120°; 8 Imagem 2 – Sistemas Cristalinos | Fonte: Callister e Rethwisch (2018). Ortorrômbica: todas as arestas são distintas; sendo os ângulos todos iguais (90°); Romboédrica: a célula unitária possui todas as arestas iguais, sendo dois ângulos iguais a 90° e um deles diferente de 90°; Monoclínica: todas as arestas são distintas, sendo dois ângulos iguais a 90°e um deles diferente de 90°; Triclínica: todas as arestas são distintas e todos os ângulos são distintos. A seguir estão representados os sete tipos de estruturas cristalinas. 9 Essas são as maneiras básicas com as quais os átomos estão dispostos na estrutura cristalina, mas, dependendo da posição que os átomos ocupam no sistema cristalino, surgem novas formas de se classi�car a estrutura: as redes de Bravais. Redes de Bravais Em cada sistema cristalino, os átomos estão dispostos nos vértices de cada �gura tridimensional formada. Porém, além dessas posições, os átomos podem ocupar os centros das faces dessas �guras ou mesmo o centro das mesmas. Conforme esses arranjos se modi�cam surgem as Redes de Bravais, que expandem a classi�cação feita através dos sistemas em sólidos cristalinos, como apresentado a seguir: 10 Imagem 3 – Redes de Bravais | Fonte: Askeland e Wright (2019). As classi�cações decorrentes dessas estruturas facilitam os entendimentos de algumas características das estruturas cristalinas e estão ligadas aos cálculos de raio da célula unitária, volume da célula unitária e fator de empacotamento, que serão abordados na aula 3. Além disso, essas classi�cações auxiliam no entendimento de várias propriedades exibidas por sólidos cristalinos. 11 O estanho branco (ou β), que possui uma estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado à temperatura ambiente, transforma-se a 13,2°C no estanho cinza (ou α), que possui uma estrutura cristalina semelhante à do diamante (isto é, a estrutura cristalina cúbica do diamante). A taxa na qual essa mudança ocorre é extremamente lenta; entretanto, quanto menor a temperatura (abaixo de 13,2°C), mais rápida é a taxa de transformação. Acompanhando essa transformação do estanho branco em estanho cinza, ocorre um aumento no volume (27%); de maneira correspondente, ocorre também uma diminuição na massa especí�ca (de 7,30 g/cm³ para 5,77 g/cm³). Consequentemente, essa expansão no volume resulta na desintegração do estanho branco metálico em um pó grosseiro do alótropo cinza. Em temperaturas subambientes normais, não há necessidade de preocupação com esse processo de desintegração em produtos de estanho, uma vez que a transformação ocorre a uma taxa muitíssimo lenta (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Nesta aula, fundamentamos os conceitos básicos referentes ao estudo de materiais cristalinos, diferenciando-os dos materiais amorfos. Estes conceitos serão a base para as discussões presentes nas próximas aulas e é fruto de análises nas estruturas cristalinas, dentre as quais podemos destacar a difração de raios X. 12 02 Difração de Raios-X 13 Como visto no capítulo anterior, o entendimento da estrutura de materiais cristalinos e, consequentemente, das propriedades que eles exibem dependem do estudo microscópico dos arranjos atômicos e tais arranjos podem ser investigados por meio de técnicas cientí�cas especí�cas, como a difração de raios X. Contudo, cabe antes de qualquer coisa, entender o que são os raios X. Raios X Os raios X (radiação X) correspondem a um tipo de radiação eletromagnética, similar à luz. A maioria dos raios X possuem comprimentos de onda entre 0,01 a 10 nanômetros (10-9 m), correspondendo a frequências que variam entre 3.1016 Hz e 3.1019 Hz (HETEM JÚNIOR; HETEM, 2016). As primeiras descrições sobre raios X foram feitas por Wilhelm Conrad Röntgen, em 1895. A publicação caracterizava qualitativamente a, então, nova radiação (MARTINS, 1998). 14 Figura 4 – Imagens obtidas na primeira descrição o�cial de raios-X | Fonte: Martins (1998). Acesse o link: Disponível aqui “A cristalogra�a é o método que serviu de base para mais trabalhos ganhadores de prêmios Nobel até hoje, num total de 29 [...]. A UNESCO reconheceu a importância desta ciência básica e instituiu 2014 como o Ano Internacional da Cristalogra�a”. Os raios X são a ferramenta de trabalho na cristalogra�a enquanto que a difração de raios X é técnica utilizada no estudo da estrutura da matéria. 15 https://revistapesquisa.fapesp.br/2014/04/24/materia-desvendada/ Imagem 5 – Interferência construtiva de ondas | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Difração Segundo Callister e Rethwicsh (2018, p. 79), “muito da nossa compreensão dos arranjos atômicos e moleculares nos sólidos resultou de investigações da difração de raios X”. As técnicas de difração de raios X estão vinculadas ao fato de os comprimentos de onda terem valores próximos aos das distâncias entre os planos cristalográ�cos (SMITH; HASHEMI, 2010). O processo de difração ocorre quando uma onda, ao se propagar, se depara com vários obstáculos posicionados com distâncias regulares um em relação ao outro (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Uma das possibilidades de redirecionamento das ondas é a interferência construtiva. Outra possibilidade corresponde à interferência destrutiva, em que não há onda redirecionada, pois as ondas incidentes se anulam. Por �m, as ondas redirecionadas podem possuir combinações parciais entre as duas situações apresentadas anteriormente. Os casos de interferência construtiva e de interferência destrutiva, respectivamente, estão apresentados a seguir. 16 Imagem 6 – Interferência destrutiva de ondas | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). A Lei de Bragg é a relação entre o comprimento de onda dos raios X, o espaçamento entre os átomos e o ângulo de difração para uma interferência construtiva. Ela é representada pela equação: nλ = 2dhkl. senθ Na Lei de Bragg, que vincula os diversos parâmetros, a magnitude da distância entre dois planos de átomos próximos e paralelos é dependente dos índices de Miller (h, k e l), tais como dos parâmetros da rede cristalina, sendo que todos esses parâmetros serão discutidos na aula 3. 17 Imagem 7 – Incidência de radiação sobre planos cristalográ�cos | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Técnicas de Difração A técnica de difração mais comum utilizada para a aplicação de difração de raios X como meio de análise de estruturas cristalinas emprega uma amostra pulverizada, formada por incontáveis partículas minúsculas distribuídas aleatoriamente. Essa amostra é exposta à radiação X de um único comprimento de onda especi�cado. Cada partícula é um cristal, e o grande número de cristais presentes assegura que todos os conjuntos de planos cristalográ�cos possíveis serão averiguados no procedimento. A seguir, apresenta-se como seria a incidência da radiação sobre o plano cristalográ�co: 18 Os terremotos são fenômenos naturais, cuja ação pode produzir catástrofes e, portanto, devem ser considerados na hora de projetar uma estrutura em regiões sísmicas. O Brasil situa-se, em grande parte, na região central da placa tectônica sul-americana, que é uma região estável. Mas, parte do país situa-se perto das bordas desta placa, em que já foram registradas ações sísmicas signi�cativas e, além disso, existem sismos intraplacas que ocorrem predominantemente ao longo das falhas geológicas. Para de projetar estruturas resistentes a sismos são necessários alguns testes com o solo. O ensaio de adensamento determina as características de compressibilidade dos solos sob a condição de con�namento lateral, conforme NBR 12007. Outros ensaios de laboratório também podem fornecer informações sobre a expansibilidade do solo: granulometria (pela porcentagem da fração argila); índice de plasticidade; difração de raios X (pela caracterização do mineral argílico) (PRADO FILHO, 2019). O aparelho empregado na difração de raios X é o difratômetro. Este equipamento é utilizado para determinar os ângulos nos quais ocorre a difração em amostras pulverizadas. Como apresentado por Callister e Rethwicsh (2018, p. 82), “uma amostra S no formato de uma chapa plana é posicionada de forma que são possíveis rotações ao redor do eixo identi�cado por O; esse eixo é perpendicular ao plano da página”. “O feixe monocromático de raios X é gerado no ponto T, e as intensidades dos feixes difratados são detectadas com um contador, identi�cado pela letra C na �gura. A amostra, a fonte deraios X e o contador estão todos no mesmo plano” 19 Imagem 8 – Difratômetro | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 79). A seguir está representado um esquema de uma difratômetro: As informações obtidas a partir de procedimentos como esse são apresentadas em difratogramas, indicando quais os planos cristalográ�cos presentes preponderantemente na amostra analisada: 20 Imagem 9 – Difratograma | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Nesta aula, discutimos um pouco sobre a difração de raios X como método analítico de estudo dos planos cristalográ�cos e, consequentemente, das características da estrutura cristalina. Com base nesses conhecimentos, podemos entender melhor alguns conceitos que serão apresentados na aula 3, sobre estruturas cristalinas. 21 03 Identificação da Estrutura Cristalina dos Sólidos 22 Imagem 9 – Cristal de Bismuto | Fonte: Disponível aqui Ao se estudar materiais cristalinos, como apresentado anteriormente, é comum discutir sobre um ponto especí�co dentro da célula unitária, ou mesmo direções e planos cristalográ�cos. Pontos Cristalográficos Segundo Callister e Rethwicsh (2018), foram impostas algumas convenções de identi�cação, em que três números ou índices são empregados para designar as localizações de pontos, as direções e os planos. “A base para a determinação dos valores dos índices é a célula unitária, com um sistema de coordenadas, para a direita, que consiste em três eixos (x, y e z) com origem em um dos vértices e coincidentes com as arestas da célula unitária” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 57). 23 https://pixabay.com/images/id-80056/ Imagem 10 – Pontos mais comuns de uma rede cristalina | Fonte: Askeland e Wright (2019). Os números inteiros, ou mesmo fracionários, relacionados a cada coordenada (como na �gura anterior), correspondem à posição relativa do ponto em relação ao tamanho da aresta. Essa consideração é feita para que células unitárias que não possuem todas as arestas iguais, como a cúbica, possam ter a mesma representação de pontos. EXEMPLO 1: Após algumas avaliações, foi constatado que em um material que apresenta células unitárias cúbicas existem alguns átomos ocupando as posições descritas pelos pontos A, B e C. 24 Os pontos estão dispostos da maneira descrita no desenho abaixo: Quais as coordenadas dos pontos descritos na �gura? Resposta: Para o ponto A, tem-se as coordenadas de 1 aresta para “x”, ½ aresta para “y” e 1 aresta para “z”. Sendo assim: A = 1 ½ 1 25 Usando a mesma ideia, B = 1 1 0 e C = 0 1 ⅔. Direções Cristalográficas As direções cristalográ�cas são como linhas direcionadas entre dois pontos, ou seja, elas são representações de um vetor. Para a determinação dessas direções utiliza-se uma sequência de regras, descritas a seguir (CALLISTER; RETHWICSH, 2018): 26 Utiliza-se para a determinação dos pontos inicial e �nal, que delimita a direção, o mesmo sistema orientado que foi usado na determinação das coordenadas dos pontos; De�nem-se as coordenadas de dois pontos que estão sobre uma determinada direção; Realiza-se a operação de subtração das coordenadas (coordenadas iniciais são subtraídas das �nais: xF – xI, yF – yI, zF – zI); Quando necessário, multiplica-se esses resultados por um denominador comum para que os resultados sejam apenas números inteiros. Os três índices resultantes, sem separação por vírgulas, são colocados entre colchetes: [u v w]. Sendo os índices negativos representados por uma barra sobre o índice. EXEMPLO 2: Determine as direções cristalográ�cas AB e BC, usando as informações da mesma célula unitária cúbica apresentada no EXEMPLO 1. 27 Resposta: A = 1 ½ 1 C = 0 1 ⅔ Direção AC = [u v w] = [0 - 1 1 - ½ ⅔ - 1] = [-1 ½ -⅓] Para que não haja fracionários, deve-se multiplicar as coordenadas por 6 (mínimo múltiplo comum): 6.[-1 ½ -⅓] = [-6 3 -2] = [ ] B = 1 1 0 C = 0 1 ⅔ Direção BC = [u v w] = [0 - 1 1 - 1 ⅔ - 0] = [-1 0 ⅔] Para que não haja fracionários, deve-se multiplicar as coordenadas por 3 (mínimo múltiplo comum): ¯̄̄ 63 ¯̄̄ 2 ]¯̄̄3.[-1 0 ⅔] = [-3 0 2] = [302 28 Planos Cristalográficos Com relação aos planos cristalográ�cos, eles possuem representação semelhante àquela de�nida para as direções cristalográ�cas. Tais são especi�cados por três índices de Miller na forma (h k l). Quaisquer dois planos paralelos entre si são equivalentes e possuem índices idênticos. O procedimento utilizado para determinar os valores dos índices h, k e l é o seguinte (CALLISTER; RETHWICSH, 2018): Quando o plano passa pela origem que foi selecionada, um outro plano paralelo deve ser construído no interior da célula unitária mediante uma translação apropriada; Determina-se a coordenada para a interseção do plano cristalográ�co com cada um dos eixos (em referência à origem do sistema de coordenadas); Obtêm-se os valores inversos desses números. Para um plano paralelo a um eixo, deve-se considerar como tendo uma interseção no in�nito resultando, portanto, em um índice igual a zero. Quando necessário, multiplica-se esses resultados por um denominador comum para que os resultados sejam apenas números inteiros. Os índices inteiros, não separados por vírgulas, são colocados entre parênteses: (h k l). 29 Imagem 11 – Planos Cristalinos | Fonte: Newell (2018). Uma interseção no lado negativo da origem é indicada por uma barra ou um sinal de menos posicionado sobre o índice apropriado. Uma característica interessante dos cristais cúbicos é o fato de que os planos e direções com índices iguais são perpendiculares entre si; porém, para os demais sistemas cristalinos não existem relações geométricas simples entre planos e direções com índices iguais (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). EXEMPLO 3: Qual o plano cristalográ�co que não intercepta o eixo “x”, intercepta o eixo “y” na coordenada -1 e intercepta o eixo “z” na coordenada 1? Resposta: [h k l] = [1/∞ 1/-1 1/1] = [0 -1 1] = [ ]0¯̄̄11 30 Polimorfismo e Estruturas Compactas Certos elementos e compostos químicos existem em mais de uma forma cristalina, em diferentes temperaturas e pressões. Esse fenômeno é conhecido como polimor�smo ou alotropia. Devido a essas mudanças eles podem apresentar níveis diferentes de dureza e de resistência e mesmo terem coloração totalmente distinta. À pressão atmosférica ambiente, muitos metais, alguns deles importantes para a indústria, tais como o ferro, o titânio e o cobalto, sofrem transformações alotrópicas a temperaturas elevadas (CALLISTER; RETHWICSH, 2018; SMITH; HASHEMI, 2010). Dentre todas as possibilidades existentes, as estruturas cristalinas metálicas cúbicas de faces centradas e a hexagonal compacta sempre corresponderão às estruturas com maior quantidade de matéria em relação ao espaço ocupado, ou seja, serão sempre as estruturas mais compactas. Materiais Monocristalinos e Materiais Policristalinos Materiais monocristalinos são aqueles formados por apenas um cristal (monocristal), sendo assim, possuem um arranjo periódico e repetido dos átomos perfeito, tendo todas as células unitárias se ligando da mesma maneira e possuindo a mesma orientação. “Se for permitido que as extremidades de um monocristal cresçam sem nenhuma restrição externa, o cristal assumirá uma forma geométrica regular, com faces planas, como acontece com algumas pedras preciosas” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p.77), como representado na imagem 9 (cristal de Bismuto). No entanto, a maioria dos sólidos cristalinos são policristalinos e é composta por um conjunto de muitos cristais pequenos ou grãos, sendo que a orientação cristalográ�ca deles varia de um para outro. Além disso, existem alguns desajustes dos átomos na região em que dois grãos se encontram chamada de contorno de grão. 31 Nesta aula, estudamos alguns elementos básicos referentes à estrutura cristalina, que, inclusive, podem ser obtidos e avaliados a partir de procedimentos como a difração de raios X. As proposições teóricas abordadas nessa aula, em conjunto com aquelas de�nidas nas aulas anteriores, fundamentam osconceitos primordiais para o entendimento da estrutura cristalina em níveis microscópicos e que são base para as explicações das propriedades macroscópicas apresentadas pelos sólidos cristalinos. 32 04 Defeitos em Sólidos 33 Imagem 12 – Defeito cristalino do tipo lacuna | Fonte: Newell (2018). Lacunas e Impurezas O defeito pontual mais simples é a lacuna, uma posição vaga na rede cristalina que normalmente deveria estar ocupado, mas no qual está faltando um átomo, além do mais, todos os sólidos cristalinos contêm lacunas (ver �guras a seguir). 34 Imagem 13 – Defeitos adimensionais | Fonte: Mo�att et al. (1964 apud CALLISTER; RETHWICSH, 2018). As lacunas são defeitos pontuais, adimensionais, mas não são os únicos, pois impurezas também são consideradas defeitos pontuais. Metais ditos puros possuem átomos diferentes presentes na estrutura cristalina. Esses átomos são conhecidos como impurezas. De fato, boa parte dos metais mais familiares são ligas, em que intencionalmente foram adicionados átomos de impurezas para conferir características especí�cas ao material. 35 Acesse o link: Disponível aqui Em geral, os materiais 2D são “funcionalizados” para aplicações especí�cas adsorvendo (aderindo) diferentes espécies de átomos ou moléculas ou incorporando impurezas na sua estrutura cristalina de outra forma perfeita, da mesma forma que os semicondutores como o silício são funcionalizados por dopagem com impurezas, o que permite a fabricação de dispositivos eletrônicos, como os circuitos integrados dos computadores. 36 https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=materiais-monoatomicos-multitarefa&id=010165170807#.XcirWzNKjIU Imagem 14 – Impurezas na estrutura cristalina | Fonte: Mo�att et al. (1964 apud CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Uma impureza substitucional é a impureza que está na posição que seria naturalmente ocupada por átomo da estrutura cristalina, tendo dimensões de mesma ordem em relação a ele. Já a impureza substitucional corresponde à impureza que está presente nos interstícios da estrutura cristalina, ou seja, nos espaços entre a rede cristalina, tendo, por esse motivo, dimensões menores do que o átomo da rede. 37 Imagem 15 – Impurezas na estrutura cristalina | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Discordâncias Discordâncias são defeitos lineares (unidimensionais) em torno das quais os átomos estão desalinhados, como apresentado abaixo: Existem inúmeras maneiras de as discordâncias se apresentarem na estrutura cristalina, mas em todas elas há um desalinhamento característico desse tipo de defeito. Defeitos Superficiais Segundo Callister e Rethwicsh (2018), os defeitos super�ciais ou interfaciais são superfícies (duas dimensões) e que separam regiões que possuem estruturas cristalinas ou mesmo orientações cristalográ�cas diferentes dentro de uma rede cristalina (material cristalino). Dentre os inúmeros tipos de defeitos interfaciais destacam-se as superfícies externas e os contornos de grão. As superfícies externas correspondem à região na qual a estrutura do cristal para, ela termina. Os átomos da superfície não estão ligados ao número máximo possível de átomos e isso acarreta a origem de uma energia de superfície, 38 minimizada apenas pela diminuição da área super�cial total do material (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). No que se refere ao contorno do grão, ele corresponde à região que separa dois grãos ou cristais com diferentes orientações cristalográ�cas nos materiais policristalinos (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Defeitos Volumétricos São grandes defeitos presentes nos materiais cristalinos, muitas vezes veri�cados na estrutura macroscópica desses materiais, como poros e trincas. Um catalisador é uma substância que acelera a taxa de uma reação química sem participar da reação. Um tipo de catalisador existe como um sólido; as moléculas reagentes em uma fase gasosa ou líquida são adsorvidas na superfície do catalisador, em um local em que ocorre algum tipo de interação que promove um aumento em sua taxa de reatividade química. Os sítios de adsorção em um catalisador são normalmente defeitos super�ciais associados a planos de átomos; uma ligação interatômica/intermolecular é formada entre um sítio de defeito e uma espécie molecular adsorvida. Uma aplicação importante dos catalisadores é nos conversores catalíticos de automóveis, os quais reduzem a emissão de poluentes nos gases de exaustão, tais como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx, em que x é uma variável) e hidrocarbonetos não queimados (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 39 Nesta aula, discutimos sobre defeitos que existem na estrutura cristalina. Estes defeitos, naturais ou arti�ciais, impactam nas características microscópicas e macroscópicas dos materiais, sendo, portanto, de grande necessidade a averiguação e a mensuração desses defeitos nos materiais. 40 05 Observação de Defeitos por Microscopia Ótica e Eletrônica 41 Imagem 16 – Estrutura microscópica de charoite (tipo de silicato) | Fonte: Disponível aqui Introdução Discutimos até agora muitos aspectos práticos da Ciência dos Materiais. Mas como será que cientistas e engenheiros entendem e determinam as características microscópicas dos materiais e seus defeitos? Eles usam várias ferramentas como: as técnicas de microscopia ótica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV), microscopia eletrônica de transmissão (MET), microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução (METAR) e por microscopia de varredura por sonda. Microscopia Ótica Nesse tipo de análise, o microscópio ótico convencional é utilizado para se averiguar a microestrutura do material, sendo os sistemas óticos e de iluminação os seus elementos básicos. Porém, para os materiais opacos à luz visível apenas a superfície está sujeita à observação (CALLISTER; RETHWICSH, 2018; SMITH; 42 https://visualhunt.com/f3/photo/9089740179/0664968f32/ HASHEMI, 2010). Ainda segundo os autores (2018), “As investigações desse tipo são frequentemente denominadas metalográ�cas, uma vez que os metais foram os primeiros materiais a serem examinados com o emprego dessa técnica” A realização da microscopia ou metalogra�a, ótica, depende de um processo de preparação da amostra, que inclui em inúmeros estágios de lixamento (geralmente quatro) que removem da amostra grandes arranhões e �nas camadas plasticamente deformadas. Após esse lixamento é feita uma sequência de polimento (geralmente quatro) que removem os riscos �nos formados durante o estágio de lixamento. Por �m, a microestrutura é revelada por um tratamento de superfície que emprega reagentes químicos apropriados (SMITH; HASHEMI, 2010). Procedimentos como esse resultam em padrões como o apresentado na imagem 16 (estrutura microscópica de charoite). Na �gura a seguir, apresenta-se o princípio básico de funcionamento do microscópico ótico: 43 Imagem 17 – Microscópio ótico | Fonte: Smith e Hashemi (2010). Microscopia Eletrônica Para elementos estruturais muito �nos e para defeitos menores do que contornos de grão, a microscopia ótica não é e�caz devido à sua limitação de ampliação. Nesses casos, utiliza-se o microscópio eletrônico, capaz de ampliações muito maiores. 44 Imagem 18 – MET de uma liga de titânio | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). “Uma imagem da estrutura sob investigação é formada usando feixes de elétrons, em lugar de radiação luminosa [...]. O feixe de elétrons é focado e a imagem é formada com lentes magnéticas” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p.114). Para os microscópios eletrônicos são possíveis as modalidades com feixes transmitidos e com feixes re�etidos. Na Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET), a imagem vista é formada por um feixe de elétrons que passa através da amostra e os detalhes das características da microestrutura interna tornam-se acessíveis à observação. Na Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), a superfície de uma amostra a ser examinada é varrida com um feixe de elétrons, e o feixe de elétrons re�etido é coletado e, então, exibidona mesma taxa de varredura em um tubo de raios catódicos (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Na imagem a seguir, apresenta-se uma MET de uma liga de titânio, onde as linhas escuras correspondem à discordância na rede cristalina. 45 Acesse o link: Disponível aqui “A microscopia eletrônica continua mostrando como são estranhas as coisas do nosso dia a dia quando vistas bem de perto. A descrição de que se parece com algo saído de um pesadelo é bem aplicada”. “A varredura de elétrons gera imagens monocromáticas que, posteriormente são coloridas arti�cialmente no computador para que seja mais fácil distinguir entre os elementos da mesma”. METAR A microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução (METAR) tem uma resolução de cerca de 0,1 nm (1 Å), que permite a visualização da estrutura cristalina e defeitos no nível atômico. Ela é bastante similar a MET, mas a amostra analisada deve ser bem mais �na, para que tais resultados sejam obtidos (SMITH; HASHEMI, 2010). 46 https://hypescience.com/microscopia-eletronica/ Microscopia Eletrônica de Varredura por Sonda Microscopia de tunelamento (MT) e microscopia de força atômica (MFA) são duas das mais recentes ferramentas de desenvolvimento que permitem aos cientistas analisar a imagem de materiais em nível atômico. Esses procedimentos, e outros com capacidades semelhantes, são coletivamente classi�cados como microscopia eletrônica de varredura por sonda (MEVS), que são sistemas que têm a capacidade de ampliar as características de uma superfície em escalas nanométricas, produzindo um mapa topográ�co da superfície em escala atômica (SMITH; HASHEMI, 2010). Fonte: Disponível aqui JEOL: Lançamento de um novo Microscópio eletrônico de varredura de emissão de campo (FE, Field Emission) JSM-F100 da Schottky. Os microscópios eletrônicos de varredura (SEMs, Scanning electron microscopes) são usados em diversos campos; nanotecnologia, metais, semicondutores, cerâmica, medicina e biologia. Com a expansão de aplicativos, os usuários de SEMs precisam de uma rápida aquisição de dados de alta qualidade e uma con�rmação simples de informações de composição com operação transparente. 47 https://www.terra.com.br/noticias/dino/jeol-lancamento-de-um-novo-microscopio-eletronico-de-varredura-de-emissao-de-campo-fe-field-emission-jsm-f100-da-schottky,a1e8ecae9f676861241ea241f3bc1ff4hyhudh3i.html/ Discutimos nesta aula os principais métodos de estudo e visualização das microestruturas cristalinas e seus defeitos. Com isso, nos encaminhamos para a �nalização do aspecto mais microscópico de Ciência dos Materiais e passamos, agora, a enfatizar as propriedades macroscópicas dos materiais. 48 06 Difusão em Sólidos 49 Introdução Certas propriedades dos materiais, como resistência à corrosão, podem ser melhoradas através de processos térmicos, que adicionam outros materiais à estrutura original, conferindo-lhe novas características. Um dos exemplos mais clássicos é a adição de carbono ao ferro, dando origem ao aço, ou mesmo a adição de metais com titânio ao aço, auferindo aço inoxidável. Esses processos de adição se dão por meio da difusão de certos átomos e íons na estrutura primária. Mas o que é difusão? Do ponto de vista microscópico, a difusão consiste na movimentação de átomos de um ponto para outro no material, nos casos estudados por nós, na estrutura cristalina. Em determinada temperatura, sempre há uma fração do número total de átomos capaz de se mover por difusão, sendo que essa fração aumenta com o aumento da temperatura (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Em metais, a difusão é promovida aquecendo os materiais a uma temperatura elevada (porém, abaixo da temperatura de fusão de ambos os metais) durante um período de tempo prolongado e depois resfriando até a temperatura ambiente. Mecanismos de Difusão No que se refere à natureza dos materiais envolvidos no processo de difusão, a difusão pode ser classi�cada como interdifusão e autodifusão. Interdifusão: pode ser observada de uma perspectiva macroscópica pelas mudanças na concentração que ocorrem ao longo do tempo. “Existe uma corrente ou transporte líquido dos átomos das regiões de alta concentração para as regiões de baixa concentração” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 129). 50 Imagem 20 – Per�l de concentração na interdifusão entre níquel e cobre | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Autodifusão: a difusão também ocorre em metais puros, mas nesse caso todos os átomos que estão mudando de posição são do mesmo tipo. “Esse processo é denominado autodifusão. Obviamente, a autodifusão não pode ser observada, em geral, por meio do acompanhamento de mudanças na composição” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 129). Segundo Callister e Rethwicsh (2018), foram propostos vários modelos de difusão, entre essas possibilidades, duas são dominantes para a difusão nos metais. Difusão por Lacunas: esse mecanismo envolve a troca de um átomo de uma posição normal da rede para uma posição próxima vaga ou lacuna na rede cristalina. “Em temperaturas elevadas, podem existir concentrações signi�cativas de lacunas. Tanto a autodifusão quanto a interdifusão ocorrem por esse mecanismo” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 129). Difusão Intersticial: esse tipo de difusão envolve átomos que migram de uma posição intersticial para uma posição intersticial vizinha que esteja vazia. “Esse mecanismo é encontrado para a interdifusão de impurezas, tais como hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio”, que são átomos pequenos o bastante para se encaixar nas posições intersticiais (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 129). 51 Dentre as inúmeras aplicabilidades de difusão em processos industriais podem-se citar: Cementação para o endurecimento super�cial de aços; Difusão dopante para dispositivos semicondutores; Cerâmicas condutoras; Desenvolvimento de garrafas plásticas para bebidas; Oxidação do alumínio; Revestimentos de barreira térmica para palhetas de turbinas; Fibras ópticas e componentes microeletrônicos. Fonte: Askeland e Wright (2019). Primeira Lei de Fick Uma vez de�nida a difusão conceitualmente, cabe agora de�nir matematicamente a difusão, ou melhor, dizendo, o �uxo difusivo (J), que indica a quantidade de matéria (M) que migrou de uma região para outra do sistema analisado, em relação à seção transversal (área = A) e ao tempo do processo (t). A partir dessa de�nição, desenvolve-se a Lei de Fick, que relaciona a difusão em regime estacionário em uma única direção (x) proporcional ao gradiente de contração. A constante de proporcionalidade (D) na equação é chamada de coe�ciente de difusão, e é expressa em metros quadrados por segundo. “O sinal negativo nessa expressão indica que a direção da difusão se dá contra o gradiente de concentração, isto é, da concentração mais alta para a mais baixa” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 130). J = M At J = −D dC dx 52 Em regime estacionário, o per�l de concentração é linear em relação à posição, sendo assim, o gradiente de concentração pode ser substituído pela variação da concentração em relação à variação da posição. EXEMPLO 1: Uma placa de ferro é exposta a uma atmosfera rica em carbono em um de seus lados e a uma atmosfera de�ciente em carbono no outro lado. Se uma condição de regime estacionário é atingida, calcule o �uxo difusional do carbono por meio da placa, caso as concentrações de carbono nas posições a 0 e a 10 mm abaixo da superfície rica em carbono sejam de 2,5 e 0,5 kg/m³, respectivamente. Considere um coe�ciente de difusão de 2.10⁻¹¹ m²/s nas condições do experimento (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Resposta: Em x = 0, C = 2,5 kg/m³ Em x = 10 mm (10.10⁻³ = 10⁻²), C = 0,5 kg/m³ D = 2.10⁻¹¹ m²/s O �uxo difusional é de 4.10⁻⁹ kg/m².s J = −D = −D = −2.10−11 = −2.10−11 = = 4.10−9 dC dx CA − CB xA − xB 2, 5 − 0, 5 0 − 10−2 2 −10−2 4.10−11 10−2 Segunda Lei de Fick Grande parte dos processos de difusão se processa em regime estacionário. Sendo assim, “o �uxo difusional e o gradiente de concentração em um ponto especí�co no interior de um sólido variamcom o tempo, e provoca um acúmulo ou um esgotamento líquido do componente que está se difundindo” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 132). Sob condições de regime não estacionário: = (D ) = D ∂C ∂t ∂ ∂x ∂ ∂ ∂2C ∂x2 53 Quais são as diferenças entre a difusão em regime estacionário e difusão em regime não estacionário? 1. Antes da difusão, todos os átomos do soluto em difusão que estiverem no sólido estão distribuídos de maneira uniforme, com uma concentração C₀. 2. O valor de x na superfície é zero e aumenta com a distância para o interior do sólido. 3. O tempo zero é tomado como o instante imediatamente anterior ao início do processo de difusão. Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). A resolução da equação diferencial resulta em: ou Onde é conhecida como função erro de Gauss. = 1 − erf ( )Cx−C0 CS−C0 x 2√Dt = erf ( )CS−Cx CS−C0 x 2√Dt erf ( )x 2√Dt 54 Tabela referente à função erro de Gauss: Tabela 1 – Função erro de Gauss | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). z erf(z) z erf(z) z erf(z) 0 0 0,55 0,5633 1,3 0,9340 0,025 0,0282 0,60 0,6039 1,4 0,9523 0,05 0,0564 0,65 0,6420 1,5 0,9661 0,10 0,1125 0,70 0,6778 1,6 0,9763 0,15 0,1680 0,75 0,7112 1,7 0,9838 0,20 0,2227 0,80 0,7421 1,8 0,9891 0,25 0,2763 0,85 0,7707 1,9 0,9928 0,30 0,3286 0,90 0,7970 2,0 0,9953 0,35 0,3794 0,95 0,8209 2,2 0,9981 0,40 0,4284 1,0 0,8427 2,4 0,9993 0,45 0,4755 1,1 0,8802 2,6 0,9998 0,50 0,5205 1,2 0,9103 2,8 0,9999 EXEMPLO 2: Para algumas aplicações, é necessário endurecer a superfície de um aço a níveis superiores aos do seu interior. Uma maneira de conseguir isso é aumentando a concentração de carbono na superfície, por meio de um processo denominado carbonetação (ou cementação). 55 A peça de aço é exposta, em uma temperatura elevada, a uma atmosfera rica em um hidrocarboneto gasoso, tal como o metano (CH₄). Considere uma dessas ligas contendo uma concentração inicial uniforme de carbono de 0,2 %p. Se a concentração de carbono na superfície for repentinamente elevada e mantida em 1,20 %p, quanto tempo será necessário para atingir um teor de carbono de 0,8 %p em uma posição a 0,5 mm abaixo da superfície? O coe�ciente de difusão para o carbono no ferro nessa temperatura é de 1,6.10⁻¹¹ m²/s. Assuma que a peça de aço seja semi-in�nita (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Resposta: C₀ = 0,2 %p C Cₛ = 1,2 %p C Cₓ = 0,8 %p C x = 0,50 mm = 5.10⁻⁴ m D = 1,6.10⁻¹¹ m²/s O valor 0,4 equivale a , porém, como esse valor não está apresentado na Tabela 1, é necessário fazer uma interpolação linear. Portanto, Portanto, o processor deve durar 7,88 horas para que os parâmetros de�nidos sejam atingidos. = = = 0, 4 CS − Cx CS − C0 1, 2 − 0, 8 1, 2 − 0, 2 0, 4 1, 0 erf ( )x 2√Dt = 0, 371 x 2√Dt = 0, 371 → = 0, 1484.104 → √1, 6.10−−11t = 6, 738.10−45.10 −4 2√1, 6.10−−11t 1 √1, 6.10−−11t 1, 6.10−−11t = 45, 4.10−−8 → t = = 28, 377.103 → t = 28377s = 7, 88h 45, 4.10−−8 1, 6.10−−11 Fatores que Influenciam a Difusão Basicamente, existem dois grandes fatores que in�uenciam na difusão: o primeiro deles é a espécie que está se difundindo. A espécie em difusão, assim como o material primário, in�uencia o coe�ciente de difusão, o que afeta diretamente o �uxo difusional. O segundo fator que afeta a difusão é a temperatura, que possui uma in�uência profunda sobre os coe�cientes e as taxas de difusão. 56 A dependência dos coe�cientes de difusão em relação à temperatura é descrita pela equação abaixo: Em que, D₀ = uma constante pré-exponencial independente da temperatura (m²/s) Qd = a energia de ativação para a difusão (J/mol) R = a constante dos gases, 8,31 J/mol·K T = temperatura absoluta (K) Vimos nesta aula a forma como a difusão ocorre em materiais, seja em estado estacionário ou não estacionário (transiente), além de outros aspectos referentes à difusão. Vale a pena lembrar que o processo de difusão está profundamente interligado ao tratamento térmico de materiais e na mudança de propriedades e, por isso, é fundamental em Ciência dos Materiais. D = D0 exp(− ) QD RT 57 07 Propriedades Mecânicas em Sólidos 58 Imagem 21 – Ponte em construção | Fonte: Disponível aqui Introdução Chegou o momento de de�nir as propriedades mecânicas de estruturas cristalinas, como o metal presente na ponte em construção apresentada na imagem anterior. Todas essas propriedades são decorrentes das características da estrutura da rede cristalina em nível microscópico, que, como visto anteriormente, podem ser analisadas e modi�cadas a partir de vários métodos diferentes. Introdução às Propriedades Mecânicas Os princípios mais básicos no que se refere às propriedades mecânicas de materiais são: tensão e deformação. “De�ne-se tensão como a carga mecânica que age na unidade de área sobre a qual essa carga foi aplicada. A deformação é de�nida como a alteração de tamanho por unidade de comprimento” (ASKELAND; WRIGHT, 2019, p. 141). 59 https://visualhunt.com/photo2/343/black-and-white-image-of-bridge-construction/ Imagem 22 – Aplicação de tensões | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). A tensão é expressa, em geral, em Pa (Pascal), enquanto a deformação não tem dimensão, podendo, entretanto, ser expressa em in/in ou cm/cm. As tensões que atuam sobre um corpo/estrutura podem ser normais (perpendiculares à área avaliada), ou de cisalhamento (paralela à área avaliada). As tensões de tração (voltadas para fora da estrutura) e de compressão (voltadas para o interior da estrutura) são tensões normais. A seguir, estão representadas as três situações: tração (acima à esquerda), compressão (acima à direita) e cisalhamento (abaixo) (ASKELAND; WRIGHT, 2019). Outra possibilidade, mas menos comum, de tensão seria de torção, como representado na imagem a seguir: 60 Imagem 23 – Aplicação de tensões | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). O comportamento de corpos e estruturas a cada tipo de tensão comentada é averiguado a partir de ensaios, os quais são feitos em experimentos chamados “ensaios”, conduzidos de forma a avaliar como as estruturas se deformam com a aplicação de tais tensões. Os corpos de prova costumam ser pequenos cilindros do material de interesse. Nos ensaios, algumas equações são de extrema importância no entendimento dos procedimentos. Relação de tensão: Em que, é a força é a área transversal inicial Relação de deformação: σ = F A0 F A0 61 Em que, é a deformação é o comprimento �nal; é o comprimento inicial; é a variação de comprimento Como apresentado inicialmente, esses parâmetros são essenciais na continuidade dos estudos das propriedades dos materiais. e = = l − l0 l0 Δl l0 e l l0 Δl Imagem 24 – Grá�co Tensão x Deformação | Fonte: Askeland e Wright (2019). Relação Tensão x Deformação Inúmeras propriedades mecânicas de materiais podem ser determinadas a partir da análise do comportamento da deformação de um material em relação à tensão aplicada. A seguir, está apresentado o comportamento do ensaio de tração do alumínio, mas que corresponde ao per�l típico de metais: A partir deste per�l, de�ne-se: 62 Limite elástico: tensão crítica para iniciar a deformação plástica. Limite de proporcionalidade: tensão acima da qual a relação entre tensão e deformação deixa de ser linear. Limite convencional de escoamento: primeiramente, é de�nido o ponto de deformação de 0,002 ou 0,2%. Em seguida, traça-se uma reta paralela à parte linear da curva tensão-deformação de engenharia, iniciando no valor de deformação. O valor de tensão correspondente à intersecção dessa linha com a curva tensão-deformação de engenharia é de�nido como limite convencional de escoamento, que é usado devido à di�culdade de determinar o limite elástico e o limite de proporcionalidade, pois são bastante próximos. Se a tensão continuar a aumentar até altos valores de deformação, chega-se ao ponto de ruptura, ponto no qual o material se parte (fratura). Propriedades Elásticas A parte linear do per�l tensão x deformação nos retorna uma informação muito importante, o módulo de elasticidade: Naequação de�nida acima, conhecida como Lei de Hooke, o valor é o módulo de elasticidade, ou ainda, módulo de Young. Outra característica marcante, nesses casos, são os comportamentos deformacionais das estruturas. Primeiramente, é necessário entender que os materiais que são submetidos às tensões não maiores do que o limite de escoamento conseguem retornar ao seu comprimento inicial quando a tensão que estava sendo aplicada cessa. Porém, para a maioria dos materiais metálicos, a deformação elástica ocorre apenas até deformações de aproximadamente 0,005 (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Segundo Callister e Rethwicsh (2018), à medida que o material é deformado além desse ponto, a deformação não é mais proporcional à tensão aplicada e ocorre uma deformação permanente, não recuperável, ou deformação plástica. “A transição do comportamento elástico para o plástico é gradual para a maioria σ = E. e 63 dos metais; ocorre uma curvatura no início da deformação plástica, que aumenta mais rapidamente com o aumento da tensão” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 164). EXEMPLO 1: Uma peça de cobre originalmente com 250 mm de comprimento é tracionada por uma tensão de 300 MPa. Se a deformação é inteiramente elástica, qual será o alongamento resultante? Dados: E = 110.10³ MPa. Resposta: σ = E. e = E. → Δl = → Δl = = 0, 68mm Δl l0 σl0 E 300.250 110.103 Para ensaios de cisalhamento, por exemplo, a relação é semelhante: τ = Gγ Em que, é a tensão de cisalhamento é o módulo de cisalhamento é a deformação Inclusive, existe uma relação entre o módulo de elasticidade e de cisalhamento: Em que é denominado coe�ciente de Poisson de�nido como a razão entre as deformações lateral e axial. τ G γ G = E 2(1 + ν) ν 64 Outras Propriedades Ductilidade A ductilidade mede o grau de deformação plástica até a fratura. Um metal que sofre uma deformação plástica bem pequena, ou mesmo não sofre deformação plástica até a fratura, é conhecido como material frágil. Já os materiais que apresentam considerável deformação plástica antes da ruptura são de�nidos como sendo um material dúctil. A ductilidade pode ser expressa quantitativamente tanto como um alongamento percentual quanto como uma redução percentual na área (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Resiliência Resiliência é a capacidade de um material de absorver energia quando ele é deformado elasticamente e, depois, com a remoção da tensão, permitir a recuperação dessa energia (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Tenacidade Tenacidade à fratura é uma propriedade indicativa da resistência de um material à fratura quando uma trinca está presente. Como é praticamente impossível fabricar materiais sem defeitos, a tenacidade à fratura é uma das principais considerações para todos os materiais estruturais (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). A relação que mede a resistência de um material a uma fratura quando uma trinca está presente é apresentada abaixo: K = Y σ√πa 65 Onde, K = tenacidade à fratura Y = parâmetro dimensional (Y = 1,1 na porção central de uma superfície e Y = 1,0 nas laterais de uma superfície) a = tamanho da trinca Acesse o link: Disponível aqui Há muito interesse em materiais de engenharia para imitar a tenacidade da pele, e foi desenvolvida uma �bra que superou a tenacidade da pele e ainda é elástica como ela. As �bras podem ser reutilizadas fundindo-se novamente os núcleos de metal - o gálio funde-se a meros 30º C, o que signi�ca que o polímero não é afetado. Dureza A dureza é a medida da resistência de um material à deformação plástica localizada. Essa propriedade pode ser avaliada de acordo com vários ensaios, cada um com procedimentos bem de�nidos (CALLISTER; RETHWICSH, 2018): Rockwell; Brinell; Knoop e Vickers. 66 https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=fibra-junta-melhor-borracha-fios-metalicos&id=010160190610#.Xc3mJ1dKjIU Nesta aula, vimos as propriedades mecânicas mais importantes relacionadas aos materiais cristalinos, bem como a maneira como são de�nidas e como são obtidas. Agora podemos estudar alguns procedimentos que permitem que essas propriedades sejam modi�cadas e melhoradas. 67 08 Mecanismos de Aumento de Resistência em Metais 68 Imagem 25 – Ponte de estrutura metálica | Fonte: Disponível aqui Introdução Os pro�ssionais da área de Ciência dos Materiais têm desenvolvido inúmeros projetos com o intuito de desenvolver materiais e ligas que possuem alta resistência, sem sacri�car propriedades como ductilidade e tenacidade. Normalmente, a resistência é destacada, em detrimento dessas duas propriedades. Várias técnicas de endurecimento estão à disposição do engenheiro, e com frequência a seleção de uma liga depende da capacidade que um material tem de ser adaptado às características mecânicas necessárias para uma dada aplicação (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 69 https://www.pexels.com/photo/black-and-white-building-construction-industry-53176/ Acesse o link: Disponível aqui [...] um composto de níquel-grafeno se mostrou 180 vezes mais forte, enquanto um composto de cobre-grafeno aguentou 500 vezes mais que o cobre sozinho – e tudo isso com um aumento de apenas 0,00004% no peso do material. No que se refere ao comportamento mecânico de metais, a relação entre o movimento das discordâncias e o comportamento é importante para a compreensão dos mecanismos de aumento da resistência. Sabe-se que a deformação plástica macroscópica corresponde ao movimento de grande número de discordâncias, assim, a habilidade de um metal se deformar plasticamente depende do fato das discordâncias se moverem. E, uma vez que a dureza e a resistência estão relacionadas com a facilidade pela qual a deformação plástica pode ser induzida, a resistência mecânica pode ser melhorada. Em contraste, quanto menos restrito estiver o movimento das discordâncias, maior será a facilidade de um metal poder se deformar, e mais dúctil e menos resistente ele se tornará. Portanto, todas as técnicas de aumento de resistência dependem do seguinte princípio: A restrição ou o impedimento ao movimento das discordâncias confere maior dureza e resistência ao material (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 70 https://www.tecmundo.com.br/grafeno/43817-grafeno-pode-ser-usado-para-aumentar-resistencia-de-metais-em-ate-500-vezes.htm Imagem 26 – Representação esquemática de grãos com orientações cristalográ�cas distintas | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Aumento da Resistência pela Redução do Tamanho do Grão O tamanho médio dos grãos em um metal policristalino in�uencia suas propriedades mecânicas. Isso se deve ao fato de os grãos adjacentes possuírem, normalmente, orientações cristalográ�cas diferentes e, obviamente, um contorno de grão comum durante a deformação plástica, o escorregamento ou movimento das discordâncias deve ocorrer por meio desse contorno comum e o contorno de grão acaba atuando como uma barreira ao movimento das discordâncias pelas seguintes razões (CALLISTER; RETHWICSH, 2018): Uma vez que os dois grãos têm orientações diferentes, uma discordância que passe para um grão com orientação cristalográ�ca diferente terá que mudar a direção do seu movimento; isso se torna mais difícil conforme aumenta a diferença na orientação cristalográ�ca. A falta de ordem atômica na região do contorno de grão resultará em uma descontinuidade dos planos de escorregamento de um grão para o outro. “Um material com granulação �na tem dureza maior e é mais resistente que um material com granulação grosseira, uma vez que o primeiro possui maior área total de contornos de grão para impedir o movimento das discordâncias” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 211). 71 Além disso, vale a pena ressaltar que para vários materiais, o limite de escoamento varia com o tamanho do grão. Aumento da Resistência por Solução Sólida Outra técnica utilizada para aumentar a resistência e endurecer metais corresponde à formação de ligas com átomos de impurezas que formam uma solução sólida intersticial. Os metais com alta pureza têm, geralmente, menor dureza e menorresistência do que as ligas compostas pelos mesmos metais base. O aumento da concentração de impurezas resulta em um aumento no limite de resistência à tração e no limite de escoamento. Acesse o link: Disponível aqui [Os cientistas] doparam fortemente - mais de 15% do volume �nal são dopantes - o alumínio fundido com níquel e lantânio, criando um material (Al-Ni-La) que combina os benefícios dos materiais compósitos e das ligas metálicas, apresentando simultaneamente �exibilidade, força e leveza. As ligas são mais resistentes que os metais puros, uma vez que os átomos de impurezas que estão participando na solução sólida normalmente impõem deformações de rede sobre os átomos hospedeiros vizinhos. Assim, resultam interações do campo de deformação da rede entre as discordâncias e esses átomos de impurezas, e, consequentemente, o movimento das discordâncias �ca restrito. 72 https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=aluminio-mais-forte-nunca-virar-novo-aco&id=010170190610#.XdXxcldKjIU As imagens a seguir mostram como é a variação do limite de resistência à tração e do limite de escoamento, mostrando o aumento da resistência, em função do teor de níquel para ligas cobre-níquel. Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Encruamento “O encruamento é o fenômeno pelo qual um metal dúctil se torna mais duro e mais resistente à medida que é deformado plasticamente. Algumas vezes, esse fenômeno também é chamado de endurecimento por trabalho ou de trabalho a frio” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 211). 73 Diversas vezes o processo de encruamento acaba sendo indesejado e essas propriedades e estruturas podem ser revertidas aos seus estados anteriores ao trabalho a frio mediante um tratamento térmico apropriado (tratamento de recozimento). Essa restauração resulta de dois processos diferentes que ocorrem em temperaturas elevadas: recuperação e recristalização, que podem ser seguidos por crescimento de grão. Nesta aula, apresentamosalguns procedimentos que podem ser utilizados para aumentar a resistência demateriais. Percebe-se que tais propriedades estão vinculadas à estrutura dosgrãos, às discordâncias e à presença de impurezas na composição do materialmetálico de estrutura cristalina. 74 09 Diagramas de Fases 75 Imagem 27 – Digrama de fases P x T para a água | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Introdução Temos falado até agora das propriedades dos materiais, ressaltando o fato de sempre haver impurezas neles e pontuando que, diversas vezes, tais impurezas são adicionadas propositalmente, de modo a modi�car as propriedades mecânicas dos materiais. Todavia, ao fazermos isso, devemos lembrar que diferentes materiais possuem diferentes pontos de liquefação/solidi�cação; uma vez que os tratamentos aplicados aos materiais são, em geral, de cunho térmico, dependendo da composição do sistema teremos estruturas distintas, características múltiplas e até mesmo mistura de sólidos e líquidos. Antes de de�nirmos as características básicas de um diagrama de fases, que corresponde a um grá�co/diagrama que relaciona as características do sistema analisado de acordo com sua composição e temperatura, cabe de�nir alguns termos comuns a esses estudos. 76 Terminologia Segundo Callister e Rethwicsh (2018), os termos mais importantes utilizados no estudo dos diagramas de fases são: Componente: são elementos puros, como os metais que compõem uma liga. Sistema: corpo especí�co do material que está sendo considerado ou série de possíveis ligas compostas pelos mesmos componentes, porém de maneira independente à composição da liga (sistema ferro-carbono). Limite de solubilidade: concentração máxima de átomos de soluto que pode se dissolver no solvente para formar uma solução sólida. Fase: porção homogênea de um sistema que possui características físicas e químicas uniformes. Todo material puro é considerado uma fase; da mesma forma, também o são todas as soluções sólidas, líquidas e gasosas. Equilíbrio: estado em que as características do sistema não mudam ao longo do tempo, mas persistem inde�nidamente, ou seja, o sistema é estável. Equilíbrio de fases: equilíbrio na medida em que este se aplica a sistemas nos quais pode existir mais que uma única fase. Muitas das informações sobre o controle da estrutura das fases de um sistema são exibidas de maneira didática no diagrama de fases, como citado anteriormente. Existem três parâmetros que podem ser controlados e que determinarão a estrutura das fases: temperatura, pressão e composição, e os diagramas de fases são construídos quando várias combinações desses parâmetros são traçadas umas em função das outras. Os diagramas de fases pode ser unitário (substância pura), como apresentado na imagem 26 (Aula 8), bifásico ou multifásico. Sistema Binário Um diagrama de fases mostra as fases e suas composições em qualquer combinação de temperatura e composição de liga dentro dos limites do diagrama. Quando somente dois elementos/compostos estão presentes em um 77 material, pode ser de�nido um diagrama de fases binário isomorfo. Nesses sistemas, apenas uma fase sólida é formada, uma vez que os dois componentes apresentam solubilidade sólida total. Qualquer ponto que se localiza entre a linha liquidus e a linha solidus de�ne a situação em que coexistem a fase líquida e a fase sólida. Nesses pontos, pode-se utilizar uma linha horizontal (linha de amarração) traçada na temperatura de interesse para determinar a composição das duas fases. A interseção da linha de amarração com a linha liquidus fornece a composição da fase líquida, enquanto que a interseção da linha de amarração com a linha solidus representa a composição da fase sólida. Linhas de amarração não são usadas em regiões monofásicas porque não temos duas fases para serem unidas (SHACKELFORD, 2008; SMITH; HASHEMI, 2010). EXEMPLO 1: Durante a análise de uma determinada liga, de cobre-níquel, um engenheiro analisou-a na composição C₀ igual a 35% de níquel e à temperatura de 1250 ºC. Nessas condições, qual a composição da fase sólida e qual a composição da fase líquida? (Use o diagrama binário abaixo). 78 Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Resposta: O ponto B corresponde ao ponto determinado no enunciado e a linha em azul equivale à linha de amarração. A linha de amarração toca a linha liquidus em CL igual a 31,5 %p de Ni, aproximadamente, e a linha de amarração toca a linha solidus em Cα igual a 42,5 %p de Ni, aproximadamente. Pode-se notar que apesar de muito úteis, as informações extraídas do diagrama estão relacionadas ao erro de medição e de tomada de valores. 79 Regra da Alavanca Em qualquer região bifásica de um diagrama de fases binário, as porcentagens em peso de cada uma das fases podem ser determinadas utilizando a regra da alavanca. Para se calcular as quantidades de líquido e sólido, constrói-se uma alavanca sobre a linha de amarração, sendo a composição original da liga o ponto de apoio da alavanca. O braço da alavanca oposta à composição da fase, cuja massa está sendo calculada, é dividido pelo comprimento total da alavanca para fornecer a quantidade daquela fase (CALLISTER; RETHWICSH, 2018; SHACKELFORD, 2008; SMITH; HASHEMI, 2010). 80 Onde WL corresponde à fração mássica da fase líquida e Wα corresponde à fração mássica da fase sólida. O exemplo apresentado Cu-Ni é válido para qualquer situação de mistura binária. Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). 81 EXEMPLO 2: Utilizando a mesma imagem apresentada no EXEMPLO 1 nas mesmas condições de operação; se, agora, o engenheiro desejasse encontrar as quantidades relativas de cada fase (α e L), quais seriam esses valores? Resposta: Pode-se utilizar tanto medida de comprimento relacionado ao diagrama como as medidas de concentração vinculadas aos pontos delimitados: condição de trabalho e extremos da linha de amarração. Sendo assim, para cada quilo de liga Cu-Ni nessas condições teríamos, aproximadamente, 320 gramas de fase sólida e 680 gramas de líquido. Nesta aula, vimos como podem ser estudadosos comportamentos de ligas metálicas em diversas condições de temperatura e composição. Essa representação é feita em diagramas que apresentam as fases possíveis e situações de equilíbrio. Por �m, através de cálculos de proporção ainda é possível averiguar as quantidades relativas em condições de equilíbrio. Wα = = ≈ 0, 32 WL = = ≈ 0, 68 35−31,5 42,5−31,5 3,5 11 42,5−35 42,5−31,5 7,5 11 82 10 Diagrama Ferro-Carbono 83 Imagem 28 – Ferrita α e austenita | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Introdução Nesta aula vamos estudar o digrama de fases ferro-carbono, no entanto, antes de nos aprofundarmos nessa avaliação, é necessário de�nir o que é um diagrama de fases eutético. Sistemas Eutéticos Binários Um diagrama de fases eutético binário é outro tipo comum de diagrama de fases, decorrente da solubilidade limitada que alguns metais possuem entre si. Esses diagramas possuem, como características básicas: (CALLISTER; RETHWICSH, 2018): São encontradas três regiões monofásicas no diagrama: α, β e líquido; A fase α é uma solução sólida rica no primeiro metal da liga, tendo a presença do segundo metal/material como o componente soluto; A solução sólida β o primeiro metal/material é o soluto; Os metais puros também são considerados como as fases α e β. 84 Imagem 29 – Diagrama eutetoide Cu-Ag | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Esses aspectos ocorrem em muitas ligas muito comuns na engenharia, como o próprio aço. Nesse tipo de diagrama, além dos elementos já de�nidos na aula 9, existem alguns conceitos novos, dentre eles (CALLISTER; RETHWICSH, 2018; NEWELL, 2018): Linha solvus: linha que de�ne a fronteira entre a fase α e a região bifásica α+β, e a que de�ne a fronteira entre β e α+β. Ponto eutético: um tipo particular de ponto invariante, que é qualquer ponto em um diagrama de fases no qual três fases estão em equilíbrio. Ponto eutetoide: ponto no qual uma fase sólida está em equilíbrio com uma mistura de duas fases sólidas diferentes. Ponto peritético: ponto no qual uma fase sólida e uma líquida estão em equilíbrio com uma fase sólida diferente. Abaixo, está representado um exemplo de diagrama eutetoide para exempli�cação: 85 Imagem 30 – Diagrama eutetoide Fe-Fe₃C | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Diagrama de Fases Ferro-carbeto de Ferro (Fe-Fe₃C) Um dos mais importantes diagramas eutéticos é o diagrama de fases ferro- carbeto de ferro, que está representado no início desta aula (imagem 28). Ao aquecermos o ferro puro, este apresenta duas mudanças de estrutura cristalina antes de se fundir. À temperatura ambiente, a forma estável, ferrita (ferro α), apresenta uma estrutura cristalina CCC. A ferrita, a 912ºC, se transforma em austenita CFC (ferro γ). Essa austenita persiste até 1394ºC, quando a austenita CFC é convertida em uma fase CCC, chamada de ferrita δ, e, por �m, se funde a 1538ºC. Todas essas mudanças �cam evidentes ao longo do eixo vertical, à esquerda, no diagrama de fases (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 86 O eixo das composições na imagem 30 (diagrama eutetóide Fe-Fe₃C) se estende apenas até 6,70 %p C; nessa concentração se forma o composto intermediário carbeto de ferro, ou cementita (Fe₃C), representado por uma linha vertical no diagrama de fases. Na prática, todos os aços e ferros fundidos apresentam teores de carbono inferiores a 6,70 %p C (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). A cementita (Fe₃C) forma-se quando o limite de solubilidade para o carbono na ferrita α é excedido abaixo de 727ºC (para composições na região das fases α + Fe₃C). Mecanicamente, a cementita é muito dura e frágil; a resistência de alguns aços é aumentada substancialmente por sua presença. Em maiores concentrações de carbono, na parte inferior, à direita do diagrama, existe uma mistura bifásica de ferrita a e cementita, denominada perlita (NEWELL, 2018). Ligas Hipoeutetoides Correspondem às ligas com composição entre 0,022 % p de C e 0,76 %p C. São denominadas dessa forma por estarem antes do ponto eutetoide. 87 Imagem 31 – Diagrama eutetoide Fe-Fe₃C | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). Ligas Hipereutetoides Transformações e microestruturas referentes às ligas hipereutetoides são aquelas que contêm entre 0,76 e 2,14 %p C. 88 Imagem 32 – Diagrama eutetoide Fe-Fe₃C – região hipereutetoide | Fonte: Callister e Rethwicsh (2018). 89 Quanto à classi�cação das ligas ferrosas, temos três tipos: Ferro: possui concentrações de carbono inferiores a 0,008%p. Aço: possui concentrações de carbono entre 0,008%p e 2,14%p. Ferro fundido: possui concentrações de carbono entre 2,14%p e 6,7%p. Tipos de Aço Em diversos casos, outros metais/elementos são adicionados para aumentar a resistência dos aços, melhorar a resistência à corrosão ou aumentar a temperabilidade do metal. Esses aços são conhecidos como aços-liga e podem conter mais da metade de sua composição em elementos diferentes do ferro (NEWELL, 2018). “Os elementos de liga mais comuns são o cromo e o níquel. Sendo que, quando pelo menos 12% de cromo estiver presente na liga, o metal é classi�cado como aço inoxidável” (NEWELL, 2018, p, 106). Acesse o link: Disponível aqui Existem mais de 3.500 tipos diferentes de aço e cerca de 75% deles foram desenvolvidos nos últimos 20 anos. Isso mostra uma enorme evolução no setor. O aço carbono possui em sua composição apenas quantidades limitadas de elementos químicos como carbono, silício, manganês, enxofre e fósforo. Outros elementos químicos existem apenas em quantidades residuais. 90 https://revistaadnormas.com.br/2019/07/30/o-aco-carbono-e-microligado-para-uso-estrutural/ Nesta aula, estudamos um tipo especí�co de diagrama de fases, o diagrama de fases binário eutético e, em especial, demos ênfase ao diagrama ferro-carbono, ou ferro-carbeto de ferro. Analisamos várias de suas características estruturais, as temperaturas e concentrações em que cada tipo de estrutura está presente e mostramos algumas classi�cações extras de aços. Vale ressaltar que regras práticas de cálculo de concentração e de composição como o traçamento da linha de amarração e a regra da alavanca são aplicáveis também a esses tipos de diagramas. 91 11 Curvas de Resfriamento para Materiais Metálicos e Tratamentos Térmicos de Materiais Metálicos 92 Introdução Como visto anteriormente, nas aulas 09 e 10, o diagrama de fases representa, de forma grá�ca, a relação entre a estrutura dos materiais, a concentração dos componentes e a temperatura de operação. Nesses diagramas, é possível avaliar transformações de fases, mais especi�camente, transformações térmicas. Porém, para que sejam feitas averiguações mais acuradas, outras ferramentas podem, e devem ser utilizadas. Para a maioria dos metais, pode ser de�nida uma curva comparando a fração convertida de material, por processos térmicos com o logaritmo do tempo decorrido. O grá�co indica ainda, o tempo inicialmente gasto na nucleação e o início do crescimento de grão. Infelizmente, cada grá�co desses corresponde à taxa de conversão em apenas uma temperatura. Uma série de curvas seria necessária para caracterizar completamente a conversão em diferentes temperaturas. Dessa forma, as informações de muitos desses grá�cos são combinadas em um diagrama de transformações isotérmicas, mais comumente chamado de diagrama T-T-T (transformação — tempo — temperatura), como mostrado na imagem a seguir. O diagrama consiste em três curvas: a de conversão de 0%, a curva de 50% de conversão e a curva de conversão indica quanto tempo é necessário para a conversão total (NEWELL, 2018). 93 Imagem 34 – Diagrama TTT | Fonte: Newell (2018). Sendo essa, a representação de processos térmicos, cabe agora de�ni-los de forma clara. Tratamentos Térmicos Os tratamentos térmicos são processos que envolvem aquecimento e/ou resfriamento, em condições especi�cadas, com o objetivo de modi�car as propriedades dos materiais (VALE, 2011). O tratamento térmico pode ser executado basicamente, a partir de três fases: Aquecimento; Manutenção da temperatura; 94 Resfriamento.Esses tratamentos podem remover tensões internas, modi�car a dureza, aumentar a resistência mecânica, melhorar a ductilidade, melhorar a resistência ao desgaste, à corrosão e ao calor, além de poder melhorar outras propriedades, como elétricas e magnéticas (ASKELAND; WRIGHT, 2019; VALE, 2011). Classificação dos Tratamentos Térmicos Os tratamentos térmicos são classi�cados na temperatura em que eles ocorrerão, o tempo de exposição às altas temperaturas, a velocidade e forma de resfriamento e a atmosfera onde se executará tal procedimento. Os tipos de tratamento térmico são: Recozimento: corresponde a um tratamento térmico no qual um material é exposto a uma temperatura elevada durante um período de tempo prolongado e então é resfriado lentamente. Pode ser dividido em: alívio de tensões, recozimento para recristalização, recozimento para homogeneização, recozimento total, recozimento isotérmico e coalescimento. Os recozimentos para alívio de tensões e para recristalização são aplicados a qualquer liga metálica. O recozimento para homogeneização é indicado para peças fundidas. O recozimento total ou pleno e o recozimento isotérmico ou cíclico são indicados para os aços em geral (CALLISTER; RETHWICSH, 2018; VALE, 2011). Normalização: é obtida pelo aquecimento até pelo menos 55°C acima da temperatura crítica superior e para composições maiores que a eutetóide (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 95 Imagem 35 – Diagrama dos processos de recozimento e normalização | Fonte: Askeland e Wright (2019). Têmpera e Revenido: a têmpera é um processo que endurece a maioria dos aços, e o revenimento é utilizado de forma a aumentar sua tenacidade (SMITH; HASHEMI, 2010). Na têmpera, o aquecimento é superior à temperatura crítica, que é de 727ºC, já no revenimento, é o reaquecimento das peças temperadas, a temperatura abaixo da linha inferior de transformação do aço (ASKELAND; WRIGHT, 2019; VALE, 2011). 96 Coalescimento: processo que pode ocorrer de três formas: aquecimento da liga até uma temperatura imediatamente abaixo da eutetoide; aquecimento até uma temperatura imediatamente acima da temperatura eutetoide, e então um resfriamento muito lento no forno ou a manutenção a uma temperatura imediatamente abaixo da temperatura eutetoide; aquecimento e resfriamento alternados (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Envelhecimento: o envelhecimento é um processo térmico que possui duas etapas, a primeira etapa é a solubilização, que envolve o aquecimento até que uma fase tenha se dissolvido completamente na outra, a segunda etapa do endurecimento por envelhecimento é a precipitação, na qual a taxa de difusão aumenta su�cientemente para permitir que uma fase forme �nos precipitados (NEWELL, 2018). 97 Fonte: Newell (2018). Produtos Aços-Carbono Fase Microestrutura Formada por Propriedades Mecânicas Martensita Células tetragonais de corpo centrado com todo o carbono como impureza intersticial Resfriamento rápido da austenita até a temperatura ambiente Mais dura e mais resistente, mas difícil de usinar; ductilidade muito baixa Bainita Partículas alongadas, semelhante a agulhas, de cementita em uma matriz de ferrita α Têmpera da austenita até entre 550ºC e 250ºC, seguido de manutenção nessa temperatura Segunda em dureza, após a martensita, mas mais dúctil e mais fácil de usinar Esferoidita Esferas de cementita em uma matriz de ferrita α Aquecimento da bainita ou da perlita por 18 a 24 horas próximo a 700ºC O menos duro e menos resistente dos produtos fora do equilíbrio, mas mais dúctil e mais fácil de usinar Perlita grossa Camadas alternadas grossas de cementita e ferrita α Tratamento isotérmico logo abaixo da temperatura eutetoide A menos resistente e menos dura, à exceção da esferoidita; segunda em ductilidade, a seguir da esferoidita Perlita �na Camadas mais �nas de cementita e ferrita α Tratamento térmico a temperaturas mais baixas Entre a bainita e a perlita grossa tanto em relação à resistência quanto à ductilidade 98 Nesta aula, apresentamos os principais processos térmicos aplicados às diferentes ligas metálicas existentes de forma a melhorar suas propriedades mecânicas, ou mesmo, produzir ligas com características especí�cas de operação. 99 12 Processamento de Materiais Metálicos 100 Dentre os processamentos mais clássicos aplicados a metais, há a fusão, a sinterização e a soldagem. Esses procedimentos se complementam aos tratamentos térmicos apresentados na aula anterior. Fusão Um dos métodos mais comuns utilizados no processamento de metais, ligas e outros materiais não metálicos envolve a fusão/fundição dos materiais em um determinado formato. Fundição é um processo de fabricação no qual um metal totalmente fundido é derramado na cavidade de um molde que apresenta a forma desejada; com a solidi�cação, o metal assume a forma do molde. (ASKELAND; WRIGHT, 2019; CALLISTER; RETHWICSH, 2018). Sinterização A sinterização é o tratamento de alta temperatura que faz com que as partículas se unam, reduzindo gradualmente o volume de espaço poroso entre elas. A sinterização é uma etapa frequente na produção de partes metálicas através da metalurgia do pó – uma rota de processamento por meio da qual os pós são pressionados e sinterizados em componentes densos e monolíticos (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 101 Acesse o link: Disponível aqui A impressão 3D de metais avançou muito nos últimos anos, já sendo possível imprimir peças com gradientes de metais diferentes. [...] A primeira etapa usa uma tinta líquida de metal, ou uma mistura de pós metálicos, solventes e um ligante de elastômero, sendo essa tinta liberada através de um bocal, a temperatura ambiente. [...] Na segunda etapa, já em sua forma de�nitiva, a peça é recozida por aquecimento em um forno comum, um processo conhecido como sinterização, no qual os pós metálicos se unem sem fusão. Soldagem Corresponde ao método de unir metais por certa sequência de processos: primeiramente, unem-se as duas superfícies por compressão a uma alta temperatura e pressão, achatando a superfície; os átomos se condensam e reduzem o tamanho dos vazios na interface. Já que a difusão do contorno de grão é rápida, essa segunda etapa deve ocorrer rapidamente. O processo de soldagem por difusão normalmente é usado para unir metais reativos, como o titânio, metais e materiais diferentes e cerâmicas (CALLISTER; RETHWICSH, 2018). 102 https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=metais-impressos-3d-tinta-liquida-ferrugem&id=010170160118#.XeExuOhKjIU Acesse o link: Disponível aqui Chama-se de usinagem a um processo de fabricação em que se parte de uma peça bruta maior do que aquilo que se deseja produzir, da qual é removido material com auxílio de uma ferramenta de corte, produzindo-se cavaco e obtendo-se uma nova peça com as formas e dimensões desejadas. De um modo geral, as principais operações de usinagem podem ser classi�cadas em torneamento, aplainamento, fresamento, furação, brochamento e reti�cação. Processos de Conformação Forjamento: “O forjamento consiste no trabalho ou na deformação mecânica de uma única peça de metal que se encontra normalmente quente; isso pode ser obtido pela aplicação de golpes sucessivos ou por compressão contínua” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 397). Laminação: “A laminação consiste em passar uma peça metálica entre dois cilindros. A laminação a frio pode ser empregada na produção de chapas, tiras e folhas, com elevada qualidade de acabamento super�cial” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 398). 103 https://revistaadnormas.com.br/2019/03/05/a-qualidade-normativa-dos-processos-de-usinagem/ Imagem 37 – Placas de alumínio | Fonte: Disponível aqui Extrusão: “Em uma extrusão, uma barra metálica é forçada através de um orifício em uma matriz por uma força de compressão, a qual é aplicada sobre um êmbolo; a peça extrudada tem a forma desejada e uma área de seção transversal reduzida” (CALLISTER; RETHWICSH, 2018, p. 398). 104 https://www.pexels.com/pt-br/foto/aco-aco-inoxidavel-aluminio-close-2610319/
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