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Edmundo José de Bastos Júnior. CÓDIGO PENAL EM EXEMPLOS PRÁTICOS – Parte
Geral. Florianópolis: OAB/SC editora, 4ª edição revista e atualizada, 2003. 304 p.
ÍNDICE
Título I - Da Aplicação da Lei Penal
1. O princípio da legalidade 18
1.1. Exemplos 20
2. Analogia 21
2.1. Exemplos 22
3. Sucessão de leis 23
3.1. Exemplos 23
4. Leis excepcionais e temporárias 24
4.1. Exemplos 24
5. Tempo do crime 25
5.1. Exemplos 25
6. Territorialidade 27
6.1. Exemplos 28
7. Lugar do crime 29
7.1. Exemplos 29
8. Extraterritorialidade 31
8.1. Exemplos 32
9. Pena cumprida no estrangeiro 34
9.1. Exemplo 34
10. Eficácia da sentença estrangeira 35
10.l. Exemplo 35
11. Contagem do prazo 35
11.1. Exemplos 36
12. Frações não computáveis da pena 37
12.1. Exemplo 37
13. Legislação especial 37
09
Título II - Do Crime
14. Conceito de crime 38
15. Relação de causalidade 39
16. Causas preexistentes e concomitantes 40
16.1. Exemplos 40
17. Causas supervenientes 41
17.1. Exemplos 41
18. Relevância penal da omissão 44
18.1. Exemplos 45
19. Fases do crime 47
20. Diferença entre atos preparatórios e atos de execução 48
20.1. Exemplos 50
21. Desistência voluntária e arrependimento eficaz 52
21.1. Exemplos 53
22. Arrependimento posterior 54
22.1. Exemplos 55
23. Crime impossível 56
23.1. Exemplos 57
24. Crime putativo 59
24.1. Exemplos 59
25. Crime provocado e flagrante preparado 59
25.1. Exemplos 60
26. Dolo e culpa 61
27. Diferença entre dolo eventual e culpa consciente 64
28. Dolo eventual e culpa consciente nos delitos do automóvel 66
29. Exemplos 70
29.1. Dolo direto 70
29.2. Dolo eventual 70
29.3. Dolo de perigo 71
29.4. Culpa inconsciente (sem previsão) 72
29.5. Culpa consciente (com previsão) 73
30. Compensação de culpas 74
30.1. Exemplo 74
31. Concorrência de culpas 74
31.1. Exemplo 74
10
32. Culpa presumida 74
32.1. Exemplo 75
33. Excepcionalidade do crime culposo 75
33.1. Exemplos 75
34. Preterdolo. Agravação pelo resultado 76
34.1. Exemplos 77
35. Erro de tipo 78
35.1. Exemplos 79
36. Descriminantes putativas 82
36.1. Exemplos 82
37. Erro provocado por terceiro 86
37.1. Exemplo 87
38. Erro sobre pessoa 88
38.1. Exemplos 88
39. Erro de proibição 89
39.1. Exemplos 90
40. Coação irresistível 92
40.1. Exemplos 93
41. Obediência hierárquica 94
41.1. Exemplos 95
42. Exclusão de ilicitude 97
43. Excesso nas justificativas 99
44. Estado de necessidade 100
44.1. Exemplos 102
45. Legítima defesa 105
45.1. Exemplos 108
46. Estrito cumprimento do dever legal 114
46.1. Exemplos 114
47. Exercício regular de direito 115
47.1. Exemplos 116
48. Ofendículos 116
48.1. Exemplos 118
49. Intervenções médicas e cirúrgicas 119
49.1. Exemplos 119
50. Violência esportiva 120
50.1. Exemplos 120
11
Título III - Da Imputabilidade Penal
51. Imputabilidade 122
51.1 Exemplos 123
52. Menoridade 124
52.1 Exemplos 125
53. Emoção e paixão 126
53.1. Exemplos 127
54 Embriaguez 128
54.1. Exemplos 131
Título IV - Do Concurso de Pessoas
55. Crimes unissubjetivos e plurissubjetivos 133
56. Autoria 133
56.1. Exemplos 134
57. Teorias sobre o concurso 135
58. Requisitos do concurso 136
58.1. Exemplos 137
59. Autoria mediata. Autoria colateral. Autoria incerta 139
59.1. Exemplos 139
60. Participação por omissão 141
60.1. Exemplos 142
61. Concurso em crime culposo 144
62. Participação de menor importância 144
62.1. Exemplo 145
63. Cooperação dolosamente distinta 145
63.1. Exemplos 146
64. Circunstâncias comunicáveis 147
64.1. Exemplos 149
65. Casos de impunibilidade 150
65.1. Exemplos 151
66. Participação e arrependimento 152
66.1 Exemplos 152
67. Agravação e atenuação da pena. Crime multitudinário 153
12
Título V - Das Penas
Capítulo I
Das Espécies de Pena
68. Penas. Conceito. Teorias 155
69. Classificação 155
70. Características 156
71. As penas no Código Penal 157
Seção 1 - Das Penas Privativas da Liberdade
72. Reclusão e detenção 158
73. Regimes prisionais 159
73.1. Exemplos 160
74. Regras do regime fechado 161
75. Regras do regime semi-aberto 162
76. Regras do regime aberto 163
77. Regime especial 165
78. Direitos do preso 165
79. Trabalho do preso 166
80. Legislação especial 167
81. Superveniência de doença mental 167
82. Detração penal 168
82.1. Exemplos 168
Seção 2 - Das Penas Restritivas de Direitos
83. Penas restritivas de direitos 169
84. Requisitos para aplicação das penas restritivas de direitos 173
84. 1. Exemplos 174
85. Conversão das penas restritivas de direitos 175
85.1. Exemplo 175
86. Prestação pecuniária 176
87. Perda de bens e valores 177
88. Prestação de serviços à comunidade 178
89. Interdição temporária de direitos 179
90. Limitação de fins de semana 180
13
Seção 3 - Da Pena de Multa
91. Multa 181
92. Pagamento da multa 182
93. Inscrição da multa como dívida da Fazenda Pública 183
94. Suspensão da execução da pena de multa 183
Capítulo II
Da Cominação das Penas
95. Penas privativas de liberdade 184
96. Penas restritivas de direitos 185
97. Duração das penas restritivas de direitos 185
98. Pressuposto para aplicação das penas de interdição 185
98.1. Exemplos 186
99. Suspensão de habilitação ou autorização para dirigir veículo 186
99.1. Exemplos 187
100. Pena de multa 187
Capítulo III
Da Aplicação da Pena
101. Fixação da pena 188
102. Critérios especiais da pena de multa 191
103. Circunstâncias agravantes 193
104. Agravantes no caso de concurso 196
14
105. Reincidência 196
105.1. Exemplos 197
106. Perda de eficácia da condenação anterior para efeito de reincidência 198
106.1. Exemplos 200
107. Circunstâncias atenuantes 201
108. Circunstâncias atenuantes inominadas 203
109. Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes 203
110. Cálculo da pena 204
110.1. Exemplos 205
111. Concurso material 209
111.1. Exemplos 210
112. Concurso formal 211
112.1. Exemplos 212
113. Crime continuado 214
113.1. Exemplos 216
114. Multas no concurso de crimes 217
115. Erro na execução 218
115.1. Exemplos 218
116. Resultado diverso do pretendido 219
116.1. Exemplos 220
117. Limite das penas 221
117.1. Exemplo 222
118. Concurso de infrações 222
Capítulo IV
Da Suspensão Condicional da Pena
119. Suspensão condicional da pena 223
119.1. Exemplos 225
120. Condições do “sursis” 226
121. Condições judiciais 227
122. Alcance da suspensão 228
123. Revogação 228
124. Extinção da pena 230
15
Capítulo V
Do Livramento Condicional
125. Livramento condicional 231
126. Soma das penas 234
127. Condições do livramento 237
128. Revogação obrigatória 239
128.1. Exemplos 239
129. Revogação facultativa 241
130. Efeitos da revogação 241
130.1. Exemplos 242
131. Prorrogação do período de prova 243
132. Extinção da pena 244
Capítulo VI
Dos Efeitos da Condenação
133. Efeitos genéricos da condenação 244
134. Efeitos específicos da condenação 248
134.1. Exemplos 249
Capítulo VII 
Da Reabilitação
135. Reabilitação 250
136. Requisitos para a reabilitação 252
137. Revogação da reabilitação 253
Título VI - Das Medidas de Segurança
138. Medidas de segurança 254
139. Aplicação da medida de segurança 256
139.1. Exemplos 258
140. Aplicação de medida de segurança ao semi-imputável 258
141. Direitos do internado 259
16
Título VII - Da Ação Penal
142. Da ação penal 260
142.1. Exemplos 263
143. Ação penal no crime complexo 264
144. Irretratabilidade da representação 266
145. Decadência do direito de queixa ou de representação 267
145.1. Exemplos 268
146. Renúncia ao direito de queixa 269
146.1. Exemplos 270
147. Perdão do ofendido 271
148. Formas de perdão 271
148.1. Exemplos 272
Título VIII - Da Extinção da Punibilidade
149. Causas de extinção da punibilidade 274
150. Morte do agente 275
151. Anistia, graça e indulto 276
152. Retroatividade da lei, que não mais considera o fato como criminoso 278
153. Prescrição, decadência e perempção 278
153.1. Exemplos 279
154. Renúncia e perdão 280
155. Retratação do agente 280
156. Casamentodo agente com a vítima 281
157. Casamento da vitima com terceiro 282
158. Perdão judicial 282
159. Extinção da punibilidade nos crimes acessórios e conexos 283
159.1. Exemplos 284
160. Prescrição da pretensão punitiva 285
160.1. Exemplos 286
161. Prescrição da pretensão executória 287
161.1. Exemplos 287
17
162. Prescrição superveniente à condenação 288
162.1. Exemplos 289
163. Prescrição retroativa 289
163.1. Exemplos 290
164. Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final 291
164.1. Exemplos 291
165. Termo inicial da prescrição da pretensão executória 293
166. Prescrição no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento condicional
294
166.1. Exemplos 294
167. Prescrição da multa 295
168. Redução dos prazos de prescrição 296
169. Causas impeditivas da prescrição 297
169.1. Exemplos 298
170. Causas interruptivas da prescrição 299
170.1. Exemplos 301
171. Prescrição das penas mais leves 303
172. Extinção da punibilidade no concurso de crimes 303
173. Natureza da sentença concessiva do perdão judicial 304
18
Código Penal - Parte Geral
TÍTULO I - DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação
legal.
1. O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O princípio da legalidade, ou da reserva legal, cujo antecedente histórico mais citado é
o art. 39 da Magna Charta do Rei João Sem Terra (1215), surgiu, no Direito Penal moderno,
como fruto do pensamento liberal da época do Iluminismo. Proclamou-o Beccaria, em seu
famoso livro Dos Delitos e das Penas (1764). Adotaram-no o Billl of Rights da Filadélfia
(1772), a Declaração de Direitos da Virgínia e a Constituição de Maryland (1776).
Consagrou-o a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e a Constituição
Francesa de 1791. Aparece nas legislações penais da Áustria (1787), da Prússia (1799) e da
França (1810), estendendo-se depois para todo o mundo.
O princípio foi sintetizado por Feuerbach, no início do Século XIX, com a conhecida
fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege.
No Brasil independente, acolheram-no todas as constituições e códigos penais. Na
Carta de 1988 está inscrito no inciso XXXIX do art. 5°.
São desdobramentos do princípio da legalidade: a exigência de lei anterior ao fato (lex
praevia); a exclusão do direito consuetudinário (lex scripta); a proibição da analogia (lex
stricta); e a inadmissibilidade de leis indeterminadas (lex certa).
19
O princípio da reserva legal se reflete na tipicidade. Tipo é a descrição da conduta
contida na lei. Diz-se típico o fato que coincide com o tipo penal, ajustando-se à conduta nele
descrita. Se não há essa coincidência, trata-se de fato atípico, a salvo de qualquer sanção penal
a despeito de sua eventual imoralidade.
1.1. EXEMPLOS
1.1.1. Inocência, no exercício da mais antiga profissão do mundo, realiza
discretamente o seu trottoir, sem praticar qualquer ato ofensivo ao pudor.
1.1.2. Jocasto, de cinqüenta e um anos, após o falecimento da esposa, passa a viver
maritalmente com sua filha Edipina, de vinte e sete, mentalmente sadia, que voluntariamente
aceita a situação.
1.1.3. Uma funcionária pública compareceu à polícia pedindo providências contra seu
chefe, que a vinha assediando com insistentes propostas de relacionamento sexual.
1.1.4. Após partida decisiva de campeonato de futebol, decidida por um gol resultante
de penalidade máxima claramente inexistente, constatou-se que o árbitro João Honesto
recebera uma quantia em dinheiro para favorecer o time vencedor.
1.1.5. Um guarda de trânsito deixa de aplicar multa ao motorista infrator em razão de
propina oferecida por este.
— As duas primeiras hipóteses tratam de condutas imorais, entretanto penalmente
atípicas. A prostituição, em si, não é punível em nosso direito, mas somente a sua exploração
por terceiros (CP, Título VI, Capítulo V). Já o incesto surge apenas como condição de maior
punibilidade em alguns crimes contra os costumes (art. 226, II). Nas edições anteriores,
dizíamos que não havia, até então, norma tipificando o denominado assédio sexual. Bem, em
15/5/2001, entrou em vigor a Lei n° 10.224, que inseriu no Código Penal o art. 216-A, que
comina pena de um a dois anos de detenção a quem “constranger alguém com o intuito de
obter vantagem ou favorecimento pessoal, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
Mas a nova lei tem sido alvo de veementes críticas — às quais fazemos coro — seja por sua
própria necessidade, seja pela deficiência técnica (fala em constranger, sem indicar os meios,
tornando-se, portanto, vaga) e rigor punitivo. Resumindo essas críticas, diz Damásio de Jesus
(1): “Se fosse juiz, confesso, sob o aspecto da tipicidade, não teria tranqüilidade em condenar
nenhum réu por assédio sexual nos termos do referido artigo de lei. Que o legislador faça
outra lei. Mas essa daí é insuportável!”.
20
Nos dois últimos exemplos ocorre venalidade no exercício de função, que só constitui
crime quando o agente é funcionário público (corrupção passiva, art. 317). O particular que
ofereceu a vantagem estaria incurso no art. 333 (corrupção ativa). O árbitro de futebol, porém,
responderia somente perante os tribunais esportivos, segundo as respectivas normas. Não se
trata, como às vezes se pretende, de estelionato, posto que, neste, o sujeito passivo há de ser
pessoa certa. O dinheiro dos ingressos não é vantagem obtida pelo árbitro, nem resultado
direto de sua corrupção. Ademais, o dirigente que deu a vantagem não o fez induzido em erro
pelo árbitro, que, ao contrário, cumpriu honestamente o acordo.
2. ANALOGIA
A analogia não é forma de interpretação, mas de integração da lei. Consiste em
aplicar-se a um fato não previsto pelo legislador uma norma destinada a regular casos
semelhantes.
Como vimos, a analogia em Direito Penal não pode ser aplicada em razão do princípio
da legalidade. A proibição, todavia, não é absoluta, referindo-se somente à definição de fatos
puníveis e à aplicação de penas, ou seja, à denominada analogia in malam parterm.
Quando de trata de suprir lacunas da lei para favorecer o acusado, admite-se o recurso
à analogia, nesse caso denominada in bonam partem.
Difere a analogia da interpretação analógica, ou intra-legem. Na primeira, o fato não
está previsto na lei, nem implicitamente. Na segunda, é a própria lei que determina o emprego
da analogia, quando, na impossibilidade de mencionar todas as hipóteses possíveis, o
legislador recorre a fórmulas casuísticas seguidas de cláusulas genéricas, entendendo-se que
estas somente compreendem os casos análogos aos destacados. É o que acontece, por
exemplo, no art. 251 do CP, em que há menção expressa à dinamite, seguida da expressão
“...ou substância de efeitos análogos”, ou na qualificadora do art. 121, § 2°, IV, em que se
enumeram a traição, a emboscada, a dissimulação, falando-se, em seguida, em “...outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima”.
(1) JESUS, Damásio de. E BIANCHIN, Alice. Assédio Secual Agora é Crime. in Bletim no
105, agosto/2001.
21
Embora alguns autores incluam sob a mesma denominação as interpretações analógica
e extensiva, aponta-se diferença entre elas. Em ambas há a vontade do legislador de prever
casos semelhantes, mas, naquela, a lei menciona claramente, ainda que de forma genérica, as
situações que pretende abranger: nesta, ocorre que a lei diz menos do que pretendia.
Exemplo de interpretação extensiva apontado por Magalhães Noronha (2) é o art. 169
do Código Penal (apropriação de tesouro), em que à palavra proprietário deve ser dado
sentido amplo, para abranger também o enfiteuta que, como aquele, tem direito à metade do
tesouro inventado (Código Civil, art. 1.266).
A interpretaçãotambém pode ser restritiva, quando, ao contrário do que ocorre na
situação acima, é preciso restringir o alcance da norma, que não pode ter a amplitude que
aparenta. Nelson Hungria (3) aponta o art. 24 (atual 28) do estatuto penal, que, declarando a
emoção e a paixão causas não excludentes da imputabilidade, não se refere, obviamente, a
esses estados quando inseridos em quadro de patologia mental, caso em que haveria flagrante
contradição com o art. 22 (hoje 26).
2.1. EXEMPLOS
2.1.1. Um estrangeiro extraditado reingressa no território brasileiro.
2.1.2. Um indivíduo rasga portaria afixada por ordem de funcionário público.
— Ao estrangeiro extraditado não se pode aplicar o art. 338 do CP, que se refere ao
expulso. Já o art. 336 fala em edital, coisa distinta de portaria.
2.1.3. Um co-herdeiro destrói coisa fungível pertencente ao espólio, cujo valor não
excede à quota da herança a que tem direito.
— Aqui se poderia aplicar, invocando a analogia in bonam partem, o § 2° do art. 156,
que declara impunível a subtração de coisa comum fungível cujo valor não exceda à quota a
que tem direito o condômino, co-herdeiro ou sócio (4).
(2) NORONHA, Edgar Magalhães de. Direito Penal, SP, Saraiva, 1º vol., 1985, p. 82. 
(3) HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal, Rio, Forense, vol. 1, Tomo 1, 1955, p.
80.
(4) MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, SP, Atlas, 1 vol., 1995, p. 47.
22
2.1.4. Terêncio encontra seu inimigo Sinfrônio adormecido e disso se aproveita para
matá-lo.
— Trata-se de homicídio enquadrado no inciso IV do § 2° do art. 121, por
interpretação analógica, pois, sem dúvida, houve aproveitamento de situação que tornou
impossível a defesa da vítima.
Art. 2°. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando, em virtude dela, a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o 
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença 
condenatória transitada em julgado.
3. SUCESSÃO DE LEIS
Em decorrência do princípio da legalidade, surge o da irretroatividade da lei penal
incriminadora.
Não somente a norma que define crimes e comina penas é irretroativa, mas também a
que, de qualquer forma, torna mais desfavorável a situação do agente.
Os problemas oriundos da sucessão de leis penais são solucionados com a aplicação
do princípio da irretroatividade absoluta da lei mas severa e de sua contrapartida, o da
retroatividade absoluta da lei mais benigna.
Com efeito, a lei mais rigorosa não tem extra-atividade, isto é não pode ser aplicada a
fatos ocorridos anteriormente a sua vigência, nem produz efeitos após sua revogação. Já a lei
mais favorável tanto se aplica a fatos anteriores como, mesmo após sua revogação, aos que
ocorreram durante o tempo em que vigorou.
3.1. EXEMPLOS
3.1.1. Santinha cometeu adultério e foi condenada em sentença irrecorrível. Lei
posterior revoga o art. 240 do Código Penal, deixando, portanto, de considerar criminosa
aquela conduta.
— Se a sentença não foi ainda executada, não mais o será: se já se iniciou a execução,
deve cessar imediatamente. Caso a lei nova surgisse antes de iniciada a ação penal, esta
estaria inviabilizada. A revogação atingiria todos os efeitos penais, restando apenas as
conseqüências civis (separação judicial, divórcio).
23
3.1.2. Em julho de 1990, Libidinaldo, condenado a sentença irrecorrível por estupro,
estava a ponto de cumprir tempo suficiente para passar a regime prisional menos rigoroso. No
dia 25 daquele mês, entrou em vigor a (infeliz) lei n° 8.072, que determina o cumprimento
integral da pena em regime fechado para autores dos crimes que considera hediondos, entre os
quais o estupro.
— A nova lei não poderia ser aplicada a Libidinaldo. Tratando-se de lex gravíor, só
teria aplicação a fatos posteriores a sua entrada em vigor.
3.1.3. Condenado irrecorrivelmente por extorsão mediante seqüestro, Ambrósio
iniciou, em 05/9/95, o cumprimento de sua pena de dez anos de reclusão. Em 02/4/96, entrou
em vigor a Lei n° 9.269, que alterou a redação do § 4° do art. 159 do CP, determinando a
redução da pena daquele crime, no caso de concurso, para o agente que o denunciasse,
facilitando a liberação do seqüestrado, o que fora o seu caso. A redação anterior, dada pela Lei
n° 8.072/90, restringia o beneficio ao delito cometido por quadrilha ou bando.
— A pena de Ambrósio deve ser adaptada à lex mitior, para observância da nova causa
de diminuição.
Art. 3°. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua 
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato 
praticado durante sua vigência.
4. LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS
Leis excepcionais são as promulgadas para vigorar durante períodos anormais (guerra,
calamidades, epidemias, etc.)
Leis temporárias são destinadas a viger por tempo determinado, indicando elas
mesmas o principio e o fim de sua validade.
Há, no caso dessas leis, aparente contradição com o principio da irretroatividade da
norma penal mais severa. Todavia, privadas de ultra-atividade, perderiam elas sua eficácia
intimidatória, porque os seus infratores atuariam na certeza da impunidade, seja pela não
conclusão dos processos durante o tempo de sua vigência, seja pela aplicação retroativa da
norma mais benigna restabelecida.
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4.1. EXEMPLOS
4.1.1. Durante período de violenta estiagem, entrou em vigor lei considerando
contravenção penal o desperdício de água (lavação de veículos, irrigação de jardins, etc.).
Quatro meses depois, cessada a calamidade, a lei perdeu sua eficácia.
4.1.2. Para prevenir a extinção de determinada espécie marinha, foi promulgada lei,
com prazo de vigência fixado em dois anos, considerando crime a sua captura.
— Em ambos os casos, os infratores das leis, mesmo após sua revogação, estariam
sujeitos às respectivas penas.
Art. 4°. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda 
que outro seja o momento do resultado.
5. TEMPO DO CRIME
Há três teorias para a definição do tempo do crime: da ação, do resultado e mista.
Para a primeira, tem-se por acontecido o crime no momento da conduta; para a
segunda, a ocorrência do resultado determina o tempo do delito; para a teoria mista, tempo do
crime tanto é o da ação como o do resultado.
Nosso Código, como claramente se vê no artigo acima transcrito, adotou a teoria da
ação.
5.1. EXEMPLOS
5.1.1. Dirigindo imprudentemente o automóvel de seu pai, Didico, de dezessete anos,
atropela um homem que, em conseqüência dos ferimentos recebidos, morre vinte dias depois.
Entre a data do atropelamento e a da morte da vítima, entra em vigor nova lei, diminuindo de
dezoito para dezesseis anos a maioridade penal.
— A nova lei, que passou a vigorar depois de acontecido o delito (tempo da ação) não
pode-retroagir. Didico não responde criminalmente pela morte do pedestre, permanecendo
sujeito às medidas previstas na legislação sobre menores.
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5.1.2. Vivaldo ilude Simplício com ardil, visando à obtenção de indevida vantagem
econômica (CP, art. 171). A vantagem vem a ser recebida vinte dias depois. Nesse meio
tempo, havia transitado em julgado sentença que condenava Vivaldo por crime anterior,
também de estelionato.
— Vindo Vivaldo a ser condenado, não lhe será aplicada a agravante do art. 61, 1
(reincidência), visto que, quando cometeu o novo crime, não havia ainda passado em julgado
a sentença que o condenara pelo anterior (CP, art. 64).
5.1.3. Quirino, de vinte anos, fere Amâncio, de treze, com dolo de homicídio. Amâncio
falece, em conseqüência do ferimento, vinte dias depois. No entretempo, Quimo completara
vinte e um anos, e Amâncio, quatorze.
— Novamente tendo em vista o tempo do crime, Quimo sebeneficiaria, se condenado,
da atenuante do art. 65, 1 (idade inferior a vinte e um anos). Também seria reduzido à metade
o prazo de prescrição (art. 115). Em contrapartida, estaria sujeito ao aumento de pena
determinado no art. 121, § 4°, última parte (crime doloso praticado contra menor de quatorze
anos).
5.1.4. Durante o tempo em que Lucrécio mantém empregados em condição análoga à
de escravo, entra em vigor nova lei, aumentando a pena do art. 149 do CP.
— Redução à condição análoga à de escravo é um dos crimes denominados
permanentes, nos quais a situação criada com a consumação se prolonga no tempo, podendo
cessar pela vontade do agente. Durante esse período, o delito está acontecendo, dai porque a
nova lei, mesmo mais gravosa, é-lhe aplicável.
Art. 5° Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de 
direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º. Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, 
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, 
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2°. É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de 
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se 
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo 
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
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6. TERRITO1IALIDADE
Na definição de Edmundo Oliveira (5), “território nacional é o espaço de terra, água
ou ar, compreendido dentro dos limites fixados e reconhecidos internacionalmente. É,
portanto, o espaço geográfico dentro do qual um Estado exerce sua soberania. A expressão
território nacional opõe-se a território estrangeiro e a território neutro”.
O art. 5º estabelece a regra geral de que a lei brasileira é aplicável aos crimes
cometidos em território brasileiro. A ressalva refere-se às pessoas revestidas de imunidades
diplomáticas, que não se submetem à jurisdição criminal do Estado em cujo território se
encontram a serviço, respondendo pelas infrações penais que aí vierem a praticar perante a lei
de seu próprio país.
Em relação ao espaço aéreo, o Brasil adotou a teoria da soberania sobre a coluna
atmosférica, delimitada por linhas imaginárias perpendiculares aos limites do território físico,
inclusive o mar territorial, como dispõe o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei n° 7.565/86,
art. 11).
O mar territorial brasileiro compreende, segundo a Lei 8.617/93, a faixa de doze
milhas marítimas medidas a partir do litoral continental e insular. A faixa de duzentas milhas é
considerada de exploração econômica exclusiva, de acordo com a Convenção Internacional
sobre o Direito do Mar, à qual nosso país aderiu.
As embarcações e aeronaves públicas (Marinha, Força Aérea, polícia), assim como as
particulares quando em serviço do governo brasileiro, são consideradas extensões do território
nacional. Assim, ao crime cometido a bordo dessas embarcações e aeronaves, mesmo em
território estrangeiro, será aplicada a lei brasileira. O uso internacional garante idêntico
tratamento aos navios e aeronaves públicas estrangeiras em nosso território. Caso um
marinheiro de navio de guerra em porto estrangeiro desembarque e aí cometa crime, esclarece
Basileu Garcia (6) que se deve fazer distinção: se desceu por motivos particulares, fica sujeito
à lei local; se, entretanto, desceu a serviço do navio, continua vinculado à soberania do Estado
a que pertence a embarcação, devendo a autoridade local entrega-lo ao comandante da
belonave (ou aeronave, se for o caso).
(5) OLIVEIRA, Edmundo. Comentários ao Código Penal. Rio, Forense, 1994, p 153.
(6) GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. SP, Max Limonad, 12 vol., 1972, p. 109.
27
Já as embarcações mercantes ou de propriedade privada são consideradas extensão do
nosso território somente quando em águas internacionais ou no espaço aéreo correspondente.
Encontrando-se em território de outro Estado, submetem-se às leis locais.
6.1. EXEMPLOS
6.1.1. Em um navio mercante sueco atracado no porto de São Francisco do Sul, um
tripulante mata outro, ambos naturais do país da embarcação.
6.1.2. A bordo de embarcação brasileira de propriedade privada, em alto-mar, um
estrangeiro comete crime contra brasileiro.
6.1.3. A bordo de um avião comercial brasileiro, procedente de Buenos Aires, com
destino a Florianópolis, mas ainda em espaço aéreo argentino, ocorre um crime, sendo autor e
vitima naturais do país vizinho.
— A lei brasileira só não seria aplicável na terceira situação (pouco importando a
nacionalidade dos envolvidos), uma vez que aeronave brasileira de propriedade privada, em
espaço aéreo estrangeiro, não é extensão de nosso território.
6.1.4. Um tripulante de navio de guerra brasileiro, ancorado no porto de Amsterdã,
desce à terra a serviço da embarcação, e aí acaba praticando crime contra cidadão
dinamarquês.
6.1.5. Um marinheiro de navio de guerra estrangeiro, atracado no porto de Itajaí,
aproveita folga para ir à terra e divertir-se. Ai acaba cometendo crime contra companheiro de
tripulação.
— Os dois últimos exemplos correspondem às hipóteses lembradas por Basileu
Garcia. Em ambas, os autores estariam sujeitos à lei brasileira.
Art. 6°. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou 
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se
o resultado.
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7. LUGAR DO CRIME
Tal como ocorre em relação ao tempo (art. 4°), para a determinação do lugar do crime
a doutrina apresenta três teorias: da ação, para a qual local do crime é o da conduta; do
resultado, em que este determina o lugar da infração; e mista, ou da ubiqüidade, que entende o
crime praticado tanto onde ocorreu a ação ou omissão, como no lugar em que aconteceu, ou
deveria acontecer — caso de tentativa — o resultado.
Em direito interno, a questão não tem maior relevo, determinando-se a competência
jurisdicional através das leis processuais. No caso, porém, dos chamados crimes à distância,
ou plurilocais, em que a ação é exercida no território de um Estado e o resultado vem a
ocorrer em outro, o problema se complica, porque envolve o princípio da soberania.
O Brasil, como se depreende do art. 6° do Código Penal, adotou, na matéria, a teoria
mista, ou da ubiqüidade: desde que a ação ou o resultado tenham ocorrido em nosso país, a lei
brasileira é aplicável ao crime. No dizer de Nelson Hungria (7), basta que o crime, na fase da
tentativa ou da consumação, haja tocado o território nacional, para que seja submetido à lei
brasileira.
7.1. EXEMPLOS
7.1.1. Na localidade argentina de Bernardo Yrigoyen, um indivíduo, nacional daquele
país, ministra veneno a um compatriota, a quem deseja matar. Transportada a vítima para um
hospital em Dionísio Cerqueira, cidade catarinense fronteiriça, aí vem a falecer.
7.1.2. Em um ônibus que viajava de Florianópolis para Montevidéu, lotado com
turistas uruguaios que retornavam a seu país, um passageiro, ainda em território brasileiro,
desferiu uma facada em outro, que morreu quando o veículo já rodava em solo do país
vizinho.
7.1.3. Da localidade paraguaia de Ciudad del Este, Pablo, nacional daquele país,
inconformado com rompimento de relação amorosa, envia a sua compatriota Juanita,
residente em Foz do Iguaçu (Paraná), embalado como presente, um rádio-relógio, no qual
instalara poderosa bomba, que explode ao ser ligado o aparelho, matando a moça.
7.1.4. Um avião da VARIG parte de New York, em vôo direto para o Rio de Janeiro.
Ainda em espaço aéreoamericano, um passageiro, espanhol, fere outro, húngaro, com dolo de
homicídio. O vôo prossegue, e o húngaro morre quando a aeronave já sobrevoava alto-mar.
(7) HUNGRIA, Nelson, ob. cit., p. 152.
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7.1.5. Dois tripulantes de navio de guerra brasileiro ancorado em porto estrangeiro
descem à terra para divertir-se, e acabam envolvendo-se em briga com nacionais do país. No
curso da luta, um dos marinheiros é ferido por contendor nativo. Levado pelo colega para
bordo da embarcação, aí vem a falecer, em decorrência do ferimento.
7.1.6. Dois bolivianos seqüestram, no Brasil, uma criança chilena, levando-a para
Assunção, Paraguai, onde o resgate é pago.
— Em todas as situações acima a lei brasileira é aplicável, posto que, tendo ocorrido
uma das fases do crime em território nacional ou sua extensão, nele se considera praticado o
crime, independentemente da nacionalidade dos envolvidos.
7.1.7. Em avião de empresa privada alemã, que fazia o vôo Frankfurt-Buenos Aires,
dois passageiros, um francês e outro argentino, travaram discussão a respeito da qualidade das
respectivas equipes nacionais de futebol. O argentino acabou desferindo violento soco no
francês, que, além de perder dois dentes, se desequilibrou e caiu, sofrendo fratura exposta em
um braço. Diante disso, o comandante da aeronave — que se encontrava em espaço aéreo
internacional — mudou a rota para uma escala não prevista no aeroporto de Guararapes, no
Recife. Aí recebeu a vítima cuidados médicos, após o que o avião seguiu viagem rumo à
capital do país vizinho.
— Não tendo qualquer fase do crime ocorrido em território nacional ou sua extensão,
a lei brasileira não lhe é aplicável.
Art. 7°. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I — os crimes
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, 
de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou 
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
II — os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ lº. Nos casos do inciso 1, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que 
absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º. Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das 
seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a 
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, de acordo com a lei mais favorável.
§ 3°. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo 
anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
30
8. EXTRATERRITORIALIDADE
Como já se viu, o princípio fundamental para aplicação da lei penal brasileira é o da
territorialidade (art. 5°).
Existem casos, todavia, em que o interesse de um Estado determina a aplicação de sua
lei a crimes ocorridos fora de seu território, obviamente sem violar a soberania local.
Essa necessidade se faz a cada dia mais premente, haja vista a extraordinária
mobilidade propiciada pelos modernos meios de transporte, e a facilidade de comunicação
que permite aos grandes criminosos cometer delitos em países que sequer conhecem
pessoalmente (narcotráfico, contrabando, crimes financeiros).
31
Para tanto, ou seja, para ensejar eficácia extraterritorial à lei de um Estado, a doutrina
desenvolveu alguns princípios. São eles:
a) princípio real, de proteção ou de defesa, pelo qual a relevância atribuída a alguns
bens jurídicos os coloca sob proteção da lei penal do Estado interessado, mesmo contra
violações fora de suas fronteiras.
b) principio da justiça universal, ou cosmopolita, que corresponde ao ideal de
cooperação internacional na luta contra o crime, no sentido de não deixar impune o criminoso
onde quer que se encontre. Foi elaborado para aplicação aos denominados crimes
internacionais (tráfico de mulheres, de drogas, moeda falsa, material obsceno);
c) princípio da nacionalidade, ou da personalidade, segundo o qual o cidadão fica
sujeito às leis do seu país onde quer que tenha delinqüido. Subdivide-se em princípio da
personalidade ativa (nacionalidade do agente determina a aplicação da lei de seu Estado) e
passiva (para a aplicação da lei penal, é necessário que tanto o autor como o ofendido sejam
nacionais do Estado interessado);
d) princípio da representação, que faz submeter à lei de um Estado crime ocorrido a
bordo de embarcação ou aeronave mercante ou de propriedade privada, de sua bandeira, em
território estrangeiro, não tendo aí sido julgado.
Nosso Código Penal adotou todos esses princípios: o real, de proteção ou de defesa, no
art. 7°, I, “a” a “d” e § 3º; o da justiça universal no art. 7º, II, “a”; o da personalidade ou
nacionalidade (ativa), no art. 7º, II “b”; e o da representação, no art. 7º, “c”.
Note-se que, no caso do art. 7º, I, a aplicação da lei brasileira não está sujeita a
qualquer condição, podendo acontecer mesmo que o agente tenha sido absolvido, condenado,
ou até cumprido pena no país onde o crime aconteceu. Trata-se de extraterritorialidade
incondicionada. A regra do art. 8°, adiante comentada, impede o bis in idem.
Já nos casos mencionados no inciso II do mesmo art. 7°, a lei brasileira só será
aplicável se estiverem presentes todas as condições mencionadas no § 2°, “a” a “e”, às quais
se devem somar as previstas no § 3°, “a” e “b”, quando se tratar de crime cometido por
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil.
32
8.1. EXEMPLOS
8.1.1. Durante visita do Presidente da República a pais estrangeiro, um nacional desse
pais tenta matá-lo. Ai é processado, condenado e cumpre pena.
8.1.2. Um estrangeiro, em seu país, comete crime contra o patrimônio de sociedade de
economia mista brasileira. Lá é processado, julgado e absolvido.
— Nos dois casos, os agentes permaneceriam sujeitos à lei brasileira, enquanto não
ocorresse prescrição ou outra forma de extinção da punibilidade, segundo nossa lei.
8.1.3. Uma brasileira se submete, no estrangeiro, a aborto, licitamente, segundo as leis
locais, e retorna em seguida ao Brasil.
— Não sendo punível também no país em que foi praticado, falha um dos requisitos
para imposição da lei brasileira ao fato (art. 7°. § 2°, “b”).
8.1.4. Um brasileiro, em viagem por outro país, aí comete homicídio. Procurado pela
polícia, consegue escapar e retorna ao Brasil.
— A Constituição (8) não permite a extradição de brasileiro, salvo o naturalizado, em
caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei (9). A garantia constitucional
não pode, como é evidente, servir de manto protetor, a garantir a impunidade de brasileiros
que cometam crimes no exterior. No caso, presentes as demais condições estabelecidas no §
2° do art. 7°, o sujeito seria processado no Brasil, de acordo com nossas leis.
8.1.5. A bordo de avião comercial brasileiro, em vôo sobre território de outro Estado,
ocorre um crime, sendo autor e vítima estrangeiros. A aeronave não faz escalas e prossegue
direto para Guarulhos. São Paulo.
8.1.6.Um navio mercante brasileiro voltava da Holanda para o Brasil. Quase ao deixar
o mar territorial holandês, ocorre um crime a bordo. Autor e vitima são estrangeiros. O
comandante não retorna ao porto, prosseguindo viagem diretamente para o Rio de Janeiro.
— Nessas duas hipóteses, não tendo os crimes ocorrido em território nacional e não
envolvendo brasileiros, ficariam impunes não pudesse o Brasil representar o Estado em cujo
território aconteceram, processando e julgando os autores segundo nossas leis. Trata-se de
aplicação do princípio da representação (art. 7º, II, “c”).
(8) Art. 5º, LI.
(9) Sobre extradição, ver arts. 76 e 77, da lei nº 6.815, de 19/8/90. 
33
Art. 8°. A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo 
mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
9. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO
Amenizando o rigor do § 1º do art. 7°, que declara o agente punível segundo a lei
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro, o art. 8° afasta a possibilidade de
bis in idem.
De acordo com a regra aí estabelecida, nos casos de extraterritorialidade
incondicionada (art. 7°, I), tendo o agente cumprido pena privativa de liberdade em outro país,
o tempo respectivo deverá ser computado na que lhe vier a ser imposta no Brasil pelo mesmo
crime. Sendo de espécie diferente, a pena cumprida lá fora atenua a que deva ser aplicada em
nosso pais, em proporção a ser fixada pelo juiz.
9.1. EXEMPLO
9.1.1. Um estrangeiro, em seu país, comete crime de falsificação de selo postal
brasileiro (contra a fé pública da União) e é aí condenado a dois anos de prisão, que cumpre.
No Brasil, vem a ser condenado, pelo mesmo crime (10), a três anos de reclusão.
— O condenado deverá cumprir somente a diferença (um ano). Se a pena no exterior
tivesse sido de multa, o juiz brasileiro a levaria em conta como atenuante, em quantidade a
seu critério.
Art. 9°. A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na 
espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil, para:
I — obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e outros efeitos 
civis; 
II — sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único. A homologação depende:
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
b) para os demais efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de 
cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de 
requisição do Ministro da Justiça.
(10) Lei nº 6.538, de 22/6/78, art. 36.
34
10. EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA
Um Estado soberano não pode permitir a execução de sentença estrangeira em seu
território, mas pode reconhecer-lhe a existência e, por ato de sua própria jurisdição, atribuir-
lhe efeitos previstos em suas leis.
É do que trata o art. 9°, que permite a homologação de sentença estrangeira, quando da
lei brasileira resultarem as mesmas conseqüências, unicamente para efeito civil de reparação
do dano ou da restituição da coisa, ou, ainda, imposição de medida de segurança (que, como
observa Edmundo Oliveira (11), é ato formalmente penal, mas substancialmente
administrativo).
A homologação é da competência do Supremo Tribunal Federal (12) e depende das
condições estabelecidas no parágrafo único do artigo em exame.
Por outro lado, não há necessidade de homologação — sendo suficiente apenas a
comprovação por meio idôneo — para que a sentença estrangeira condenatória seja
reconhecida para efeito de gerar reincidência, servir como prova no caso de
extraterritorialidade condicionada (art. 7°, § 2°, “d” e “e”), ou atenuar a pena imposta no
Brasil no caso de extraterritorialidade incondicionada.
10.1. EXEMPLO
10.1.1. Um brasileiro, em viagem por país estrangeiro, ai comete um crime, também
previsto em nossa lei, pelo qual vem a ser condenado tempos depois de ter retornado ao
Brasil. Quando o fato se tornou aqui conhecido, já ocorrera prescrição da pretensão punitiva,
ficando, assim, inviabilizada a aplicação extraterritorial da lei brasileira (art. 7°, § 2°, “e”).
— A sentença não será executada, podendo somente produzir os efeitos acima
mencionados.
(11) OLIVEIRA, Edmundo, ob. cit., p. 161.
(12) Constituição da República, ad. 102, I, “h”.
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Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, 
meses e os anos pelo calendário comum.
11. CONTAGEM DE PRAZO
Diversamente do que ocorre em relação aos prazos processuais penais — em que não
se conta o dia do começo e se inclui o do vencimento (13) — no direito substantivo penal o
dia do início é computado, ainda que se trate de fração.
A diferença se explica pela intenção de não prejudicar os réus.
A regra deste artigo se aplica, portanto, à duração da pena, ao período de prova do
sursis, ao tempo necessário para obtenção do livramento condicional, assim como à
decadência e à prescrição, que são de direito substantivo.
A segunda parte do dispositivo determina que os dias, meses e anos sejam contados
pelo calendário comum, vale dizer, o gregoriano. Isto significa que o mês poderá ter 28, 29,
30 ou 31 dias, pois é calculado a partir de dia determinado até a véspera do mesmo dia, no
mês seguinte. Da mesma forma, trate-se ou não de ano bissexto, um ano é contado do dia
determinado até a véspera do mesmo dia e mês do ano subseqüente.
Assim, a sentença condenatória deverá referir-se a um mês ou a um ano, não a 30 ou
365 dias.
11.1. EXEMPLOS
11.1.1. Um condenado é recolhido à prisão às 19 horas do dia 02 de fevereiro, para
cumprir pena de seis meses de detenção.
— A pena estará concluída às 24 horas do dia 1° de agosto.
11.1.2. Um preso, maior de 21 anos na época do crime (art. 115, primeira parte) e
primário, evadiu-se às 23 horas do dia 18/9/93, quando faltava menos de um ano para o
término de sua pena. Na madrugada de 18/9/95, foi localizado durante blitz policial e preso.
— O prazo de prescrição, que se regula, no caso, pelo tempo da pena que resta a
cumprir, é de dois anos (CP, arts. 109, VI e 113). Assim, às 24 horas do dia 17/9/95,
extinguiu-se a punibilidade, e o condenado não cumpriria o restante da pena.
11.1.3. Um indivíduo foi vítima de crime de ação penal de iniciativa privada, que se
consumou às 15 horas do dia 05 de março.
(13) Código de Processo Penal, art. 789, § 2º, “a”.
36
— O ofendido poderá oferecer queixa até 04 de setembro. Nesse dia, às 24 horas,
ocorre a decadência desse seu direito.
Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de 
direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
12. FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA
Frações de dias são as horas, que deverão ser descartadas no cálculo da pena privativa
de liberdade ou restritiva de direitos. Da mesma forma, nas penas de multa, devem ser
deixados de lado os centavos.
12.1 EXEMPLO
12.1.1 Ao calcular uma pena de detenção, um juiz chegou ao quantum de um ano e
quinze dias, que deve ser reduzida à metade. Na mesma sentença, foi aplicada pena de multa,
fixada em R$ 72,70.
Metade de um ano e quinze dias são exatamente seis meses, sete dias e doze hora.
Desprezada a fração de dia, a pena definitiva ficará em seis meses e sete dias. A multa,
descartados os centavos, será de R$ 72,00.
Art. 12. As regras deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se
esta não dispuser de modo diverso.
13. LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Várias leis, além do Código Penal, definem infrações penais e cominam penas. São as
leis especiais, também chamadas extravagantes. É o caso das leis que tratam dos crimes
relacionados com tóxicos, falimentares, de imprensa, contra o meio ambiente, contra o
sistema financeiro, a Lei das Contravenções, o Código Penal Militar e muitas outras.
A essas leis, a menos que disponham de forma diferente,aplicam-se as regras gerais
do Código Penal, não apenas as contidas em sua Parte Geral, como também as que se
encontram na Parte Especial, como a que conceitua funcionário público, por exemplo (art.
327).
37
TÍTULO II - DO CRIME
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido.
§ 1°. A superveniência de causa independente exclui a imputação quando, por si 
só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os 
praticou.
§ 2°. A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir 
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
14. CONCEITO DE CRIME
Do ponto de vista dos elementos que o compõem, o crime é, para uns, um fato típico,
antijurídico e culpável. Para outros, simplesmente um fato típico e antijurídico, sendo a
culpabilidade pressuposto da pena. Outros, ainda, acrescentam à estrutura do crime a
punibilidade, mas esta, para a maioria dos autores, é sua conseqüência, não elemento
constitutivo. Filiamo-nos à segunda posição.
Tenha-se presente que o crime é um todo indivisível, servindo sua decomposição em
elementos constitutivos tão somente para fins de análise. Assim, tipicidade e antijuricidade
não são propriamente elementos do crime, mas características que identificam a conduta
humana delituosa, assim como a culpabilidade é um conjunto de requisitos que tornam
penalmente punível o seu autor.
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O fato típico é constituído pela conduta, pelo resultado, pela relação de causalidade
entre esta e aquela, e pela tipicidade, que é a sua adequação ao modelo descrito na norma
incriminadora, ou tipo penal. A ocorrência do fato típico é indício de crime, pelo que o Estado
se investe no direito de submeter seu autor à investigação policial e ao processo penal, para
que se verifique a presença dos requisitos da antijuridicidade e da culpabilidade.
15. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
A maioria dos crimes é de resultado naturalístico, ou seja, há uma modificação
perceptível pelos sentidos no mundo exterior, decorrente da conduta do agente. Assim, para
que este responda por essa conseqüência, faz-se mister que haja entre conduta e resultado uma
relação de causa e efeito, de causalidade.
Questão das mais simples, na maioria dos casos, em que o evento é resultante de uma
única causa, torna-se, entretanto, espinhosa e complexa quando, para a produção do resultado,
cooperam outras causas, sejam oriundas de conduta humana, condições da vítima ou outras
circunstâncias que podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes à conduta do
agente.
Dentre as várias teorias propostas para a solução do problema, nosso Código adotou a
da equivalência dos antecedentes, ou da conditio sine qua non, que “não distingue entre causa
e condição tudo o que concorre, in concreto, para o resultado, é causa. Ao agente não deixa de
ser imputável o resultado ainda quando, para a produção deste, se tenha aliado à sua ação ou
omissão, uma concausa, isto é, uma outra preexistente, concomitante ou superveniente.
Somente no caso em que se verifique uma interrupção de causalidade, ou seja, quando
sobrevém uma causa que, sem cooperar propriamente com a ação ou omissão, ou
representando uma cadeia causal autônoma, produz, por si só, o evento, é que este não poderá
ser atribuído ao agente, a quem, em tal caso, apenas será imputado o evento que se tenha
verificado por efeito exclusivo da ação ou omissão” (14).
Para identificação da causa produtora do resultado, sugere-se o recurso ao “processo
de eliminação hipotética” de Thyrén, segundo o qual devem-se suprimir imaginariamente as
várias causas que concorreram para o evento. Aquela sem a qual ele não teria ocorrido é sua
causa.
(14) Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, nº 11.
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Advirta-se que estamos no plano da causalidade física, que encontra o seu limite na
causalidade psíquica. Assim, o causador material de um resultado típico somente responderá
por ele, na esfera criminal, se tiver atuado com dolo ou culpa.
16. CAUSAS PREEXISTENTES E CONCOMITANTES
Para a produção do resultado, como já se viu, podem interferir outras causas, alheias à
conduta do agente. Essas causas, preexistentes ou concomitantes, podem ser absoluta ou
relativamente independentes daquela conduta. Se a aplicação do processo de eliminação
hipotética indicar a causa preexistente ou concomitante como causadora do evento, este não
poderá ser imputado ao agente, que, ao contrário, responderá pelo resultado, se ele decorreu
de seu comportamento, ainda que auxiliado por uma daquelas causas.
16.1 EXEMPLOS
16.1.1. Afrísio, acometido de infarto agudo do miocárdio, é transportado para um
hospital em um táxi, que, no caminho, é abalroado pelo automóvel dirigido por Zenóbio, que
invadira imprudentemente a via preferencial. Na colisão, Afrísio sofre lesões leves, mas vem a
falecer exclusivamente em conseqüência do infarto.
— O infarto é causa preexistente absolutamente independente da conduta de Zenóbio,
que só poderá responder pelo que causou (lesão corporal culposa). Mesmo em caso de dolo,
como no conhecido exemplo do golpe desferido, com intenção de matar, em pessoa que vem a
morrer unicamente em conseqüência de veneno anteriormente ingerido, o resultado não seria
atribuível ao autor, que, neste caso, deveria responder por homicídio tentado.
16.1.2. Zelão, com dolo de homicídio, golpeia Ataliba, diabético. O ferimento, em si,
não era mortal, mas, agravado pela moléstia de Ataliba, acaba provocando-lhe a morte.
— Zelão responde por homicídio consumado. O diabetes da vitima, causa preexistente
que se aliou à conduta de Zelão para produção do resultado, é relativamente
independentemente, e, portanto, não exclui a sua responsabilidade. Eliminado hipoteticamente
o golpe, o resultado não teria ocorrido.
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16.1.3 Pretendendo matar Juca, Teco serve-lhe bebida a que previamente misturara
veneno. Nesse exato momento, Juca é atingido e morto por uma bala perdida, disparada de
um morro próximo.
— O tiro é causa concomitante absolutamente independente. Teco responde por
tentativa de homicídio.
16.1.4. Suponha-se que, na situação anterior, Juca, após sorver o primeiro gole da
bebida envenenada, sofra ataque cardíaco, que, com complicações resultantes da quantidade
de veneno ingerida, lhe determine a morte.
— Teco responde por homicídio consumado. O ataque cardíaco é causa concomitante
relativamente independente, pois só provocou a morte da vítima com as complicações
advindas do ferimento. Nenhuma das causas, isoladamente, teria ocasionado o resultado, que
decorreu de sua combinação. Não fosse o veneno, Juca teria sobrevivido.
17. CAUSAS SUPERVENIENTES
Tal como acontece com as preexistentes e concomitantes, as causas supervenientes
podem ser absoluta ou relativamente independentes em relação à conduta do sujeito.
17.1. EXEMPLOS
17.1.1. Chico Bento desentende-se com Zé Bernardo, na venda do vilarejo, e aplica-
lhe alguns socos, de que resultam lesões corporais leves. Aborrecido, Zé retira-se para sua
residência, mas, no caminho, é atacado por um touro bravo que fugira de uma fazenda
próxima, sofrendo, então, ferimentos dos quais resultou incapacidade permanente para o
trabalho.
— É de toda a evidência que o ataque do touro é uma causa superveniente
absolutamente independente da agressão de Chico Bento, que só responderia por lesão
corporal leve (art. 129, “caput”), desde que Zé formulasse a representação instituídapela Lei
n° 9.099/95.
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A solução, para essa hipótese, assim como as anteriores (n° 16), encontra-se no
“caput” do art. 13, bastando empregar-se o processo de eliminação hipotética já referido.
O § 1º do mesmo artigo, porém, estatui que a causa superveniente relativamente
independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado, imputando-se os
fatos anteriores a quem os tenha praticado. Assim, nesse caso — superveniência de causa
relativamente independente — há que se fazer distinção: a nova causa constitui
desenvolvimento natural da ação, em homogeneidade com (Petrocelli) ou na linha evolutiva
do perigo criado por ela (De Marsico) (15), ou inaugura um novo curso causa estranho ao
perigo que o fato anterior normalmente acarretaria.
17.1.2. Num ônibus de excursão bate/volta a Foz do Iguaçu, José Sacoleiro desfere
punhalada em Tonico Muamba, com dolo de homicídio. Vendo Tonico mortalmente ferido,
esvaindo-se em sangue, o motorista acelera o veículo, na esperança de alcançar a tempo o
hospital mais próximo.
Considerem-se as seguintes hipóteses:
a) o ônibus fica retido durante algum tempo em razão de bloqueio da rodovia,
resultante de manifestação de protesto, e Tonico morre quando o veículo finalmente chega ao
hospital, sendo certo que socorro oportuno lhe teria salvado a vida;
b) Tonico chega ao hospital em condições de ser salvo, mas, em conseqüência de greve
no setor de emergência, tem seu atendimento retardado, e acaba falecendo;
c) ao chegar ao hospital, Tonico é atendido pelo único médico disponível, um jovem
residente, sem experiência suficiente para executar os procedimentos que poderiam evitar o
óbito;
d) não há, no hospital, estoque de sangue compatível com o de Tonico, que,
necessitando de transfusão, morre durante cirurgia de emergência;
e) Tonico é operado e posto fora de perigo imediato. Recupera-se satisfatoriamente,
mas, acometido de infecção hospitalar, morre;
f) em virtude da velocidade, o ônibus sai da pista e cai num perau. Tonico morre
prensado nas ferragens do veículo;
g) Tonico chega ao hospital, é atendida e posto fora de perigo imediato. Como fizesse
muito frio, um aquecedor elétrico ligado é colocado próximo de sua cama. O aparelho,
defeituoso, se incendeia; o fogo passa ao forro plástico da cama e logo ao colchão,
provocando chamas, que causam em Tonico queimaduras que lhe determinam a morte;
(15) FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. A Nova Parte Geral. Rio, Forense,
10ª ed., 1986, p. 171.
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h) Tonico é operado e está em franca recuperação. Como a cozinha do hospital
estivesse em obras, a alimentação é fornecida por empresa contratada. Certo dia, Tonico
consome comida contaminada com salmonella, sobrevindo grave infecção intestinal e
conseqüente óbito;
i) sabendo que Tonico está no hospital, um seu inimigo, a pretexto de visitá-lo, tem
acesso a seu quarto e, valendo-se de sua imobilidade, injeta-lhe substância tóxica através do
tubo do soro, matando-o;
j) Tonico é operado e tem boas probabilidades de sobrevivência. Na noite seguinte,
violento temporal provoca o desabamento da ala do hospital em que se encontra, e ele
sucumbe soterrado.
— Nos exemplos sub “a” a “e”, (a que se poderiam acrescentar os casos de choque
anafilático provocado pela anestesia, falta de energia elétrica durante cirurgia, negligência no
atendimento e inúmeros outros), o resultado decorre de desdobramento natural da situação
criada pela conduta de José, que, assim, deveria responder por homicídio consumado, com
base no art. 13, “caput”.
Já nos exemplos sub “f’ a ‘j”, a causa superveniente, mesmo que em relativa ligação
com a situação criada pelo ferimento, não se insere na linha do perigo que ele normalmente
ocasionaria. É em casos como esses que o § lº do art. 13, ainda que a expressão “por si só”
não seja a mais feliz, considera rompido o nexo de causalidade — o que naturalisticamente
não ocorre — determinando que só sejam imputados ao autor os fatos anteriores. Nesses
casos, José Sacoleiro responderia por tentativa de homicídio.
Veja-se este último exemplo:
17.1.3. João, culposamente atropelado por Manoel, sofre gravíssimas lesões e entra em
estado de coma, que os médicos consideram irreversível. Mesmo assim, a família, de posses,
contrata um avião-ambulância para removê-lo para São Paulo, na vã esperança de salvar-lhe a
vida. Durante o vôo, o avião sofre pane e cai ao mar, perecendo todos os ocupantes.
— Vale, aqui, o magistério de Damásio de Jesus (16): “O procedimento hipotético de
eliminação precisa ser bem compreendido. O importante é fixar que, excluindo-se
determinado acontecimento, o resultado não teria ocorrido ‘como ocorreu’: a conduta é causa
quando, suprimida mentalmente, o evento in concreto não teria ocorrido no momento em que
ocorreu”.
(16) JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. SP, Saraiva, 1991, p. 218.
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É verdade que, afastado hipoteticamente o acidente com o avião, João teria morrido
em conseqüência dos ferimentos anteriores. Sem o acidente, todavia, a morte não teria
ocorrido como ocorreu Manoel não deve responder por homicídio culposo, mas por lesão
corporal culposa.
Tome-se, por oportuno, o caso, amplamente noticiado, do atendente de enfermagem
que matou um número até agora indeterminado de pacientes internados na UTI do hospital em
que trabalhava, ministrando-lhes solução de cloreto de potássio pelo cateter do soro. Seu
objetivo era de que a morte ocorresse em seu turno de trabalho, para que pudesse auferir
comissão sobre os serviços funerários da empresa à qual tratava de comunicar o óbito.
Suponha-se que, num caso, tenha ele apenas antecipado a morte de paciente desenganado,
vitima de agressão com dolo de homicídio. O caso ajusta-se perfeitamente ao que acima está
dito: mesmo sem a conduta do atendente, o paciente teria morrido: mas sua morte teria
ocorrido em razão dos ferimentos recebidos, não por injeção de cloreto de potássio. O
agressor responderia pela tentativa de homicídio.
18. RELEVÂNCIA PENAL DA OMISSÃO
A conduta pode apresentar-se sob a forma de ação ou omissão. Ambas são formas de
realização do fato punível.
Os crimes que podem ser cometidos através de ação denominam-se comissivos. Os
que podem ser realizados por omissão chamam-se omissivos.
Os crimes omissivos se subdividem em: omissivos próprios ou puros, que se
completam mediante simples conduta negativa descrita na norma (omissão de socorro,
omissão de notificação de doença, abandono material, abandono intelectual); e omissivos
impróprios ou comissivos por omissão, nos quais, embora o tipo descreva ação (matar,
ofender a integridade corporal, praticar aborto), o resultado pode ser devido à inação de quem
tenha a obrigação de impedi-lo.
Há duas teorias a respeito da omissão: naturalista e normativa.
Para a primeira, a omissão é tão real quanto a ação, pois é forma de comportamento
humano reconhecido pela simples observação: tendo conteúdo real, pode dar origem a um
processo causal.
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Para os partidários da teoria normativa, a omissão consiste na não realização de
conduta esperada em face da norma que a determina. É a norma, portanto, que, impondo o
dever de agir, dá relevância jurídica à omissão.
Nosso Código Penal declara, na segunda parte do “caput” do art. 13, que “considera-se
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido” (teoria naturalista), mas,
no § 2° do mesmo artigo, diz que “a omissão é penalmente relevante quando o omitente podia
e devia agir para evitar o resultado” (teoria normativa).
A contradição não se encontrava no projeto original de reforma da Parte Geral do
Código, devendo-se a emenda introduzida durante a tramitação no Congresso Nacional.
De qualquer modo, vê-seque a responsabilidade penal por omissão decorre de
inobservância do dever de impedir o resultado — não simples mente moral, mas imposto pela
norma — por parte de quem tenha condições de atuar nesse sentido.
Nas alíneas “a” a “c” do citado parágrafo estão enumeradas as situações que
determinam o dever de agir.
A primeira resulta de mandamento legal, que impõe deveres de cuidado, proteção e
vigilância (pais, tutores, curadores, policiais, bombeiros).
A segunda refere-se à assunção, de fato, haja ou não contrato, da posição de garantidor
da não ocorrência do resultado (enfermeiro, salva-vidas, vigia).
Na última hipótese, a posição de garante deriva de conduta anterior de que resultou o
perigo. Aplica-se, aí, o principio de que ao causador de situação de risco incumbe evitar-lhe a
conseqüência danosa. Seria o caso de quem leva uma criança para um passeio de lancha e,
soçobrando a embarcação, trata de salvar-se, deixando perecer o menor, tendo condições de
salvá-lo.
É bem de ver que, além, do dever legal de impedir o resultado, é indispensável o
elemento subjetivo — dolo ou culpa — na omissão da conduta devida. Não responde, assim,
pelo homicídio, o policial que, por covardia, se absteve de impedir a sua execução.
18.1 EXEMPLOS
18.1.1. O encarregado de uma cadeia pública deixa de fornecer medicamento
disponível, prescrito por médico, a um detento gravemente enfermo. Alertado sobre as
possíveis conseqüências de sua atitude, responde que a morte do preso (que acaba sobrevindo)
não lhe importaria, pois “cadeia não é hospital de vagabundo”.
— O encarregado da cadeia, legalmente responsável pela incolumidade física do
preso, responde por homicídio doloso (dolo eventual).
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18.1.2. Um guarda-vidas, de serviço em uma praia, percebe pedido de socorro de
pessoa que se debate nas ondas. Pelo binóculo, vê que o banhista em grave risco de vida é um
seu inimigo e, desejando-lhe a morte, nada faz, deixando-o perecer, resultado que tinha
condições de evitar.
— O guarda-vidas, na posição de garante, em razão de contrato, responde por
homicídio doloso (dolo direto).
18.1.3. O técnico de um nadador, acompanhando-o, numa lancha, em longa travessia,
deixa de interromper a prova (como era sua atribuição, de acordo com o regulamento
respectivo), mesmo diante de evidentes sinais de exaustão por parte do atleta, que acaba
perecendo. O técnico — que nada recebia por seu trabalho, fazendo-o por relações de amizade
— acreditava que o nadador pudesse completar o percurso, quebrando o recorde da travessia.
— Mesmo sem contrato, estava o técnico em situação de garantidor da não ocorrência
do resultado fatal, podendo por ele responder a titulo de culpa (negligência).
18.1.4. Um pugilista morre dias depois de uma luta, em conseqüência de lesões
provenientes de golpes recebidos do contendor. O trágico resultado ocorreu porque o árbitro
não obedeceu à norma regulamentar que determina a suspensão do combate quando a
supremacia de um dos lutadores colocar em risco a integridade física do adversário, mesmo
que este permaneça em pé. Explicou o árbitro que, ao retardar a interrupção da disputa, sua
intenção era de que não pairassem dúvidas quanto ao resultado da luta, válida por título
mundial, e que não previra conseqüência tão grave.
— Trata-se de outra situação que se enquadra na alínea “b”, do § 2° do art. 13. O
árbitro pode ser responsabilizado, por culpa, pela morte do lutador, por ter, negligentemente,
omitido providência, de sua atribuição, destinada a evitá-la.
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18.1.5. Um indivíduo escava um poço e, por relaxamento, deixa descoberta a boca,
planejando providenciar a tampa no dia seguinte. Um vizinho, passando pelo local, percebe a
situação de perigo, mas prossegue em seu caminho, indiferente. Mais tarde, uma criança caí
no poço e morre.
18.1.6. Retornando para casa depois de um temporal, Aristarco vê que a enxurrada
destruíra parte do piso de um pontilhão, deixando abertura que, na escuridão, oferecia grave e
evidente risco a passante menos atento. Por mero comodismo e indiferença em relação ao que
pudesse previsivelmente acontecer, segue seu caminho, sem sequer se abalar a sinalizar o
perigo com ramos de arbusto ou coisa semelhante. Pouco depois, Mané Pinguço, embriagado,
cai no buraco e fratura as duas pernas.
— O vizinho egoísta e Aristarco falharam à obrigação moral, mas, não se enquadrando
em nenhuma das situações legais que impõem o de ver de agir, não estão sujeitos a sanção
penal. Pela morte da criança responde, a título de culpa, o escavador do poço, que, tendo
criado a situação de perigo, omitiu negligentemente a providência que impediria aquele
resultado.
Art. 14. Diz-se o crime:
I — consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
II — tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena 
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
19. FASES DO CRIME
A via do crime — iter criminis — começa no instante em que surge na mente de um
ser humano a idéia de praticá-lo. Conforme a natureza e intensidade dos escrúpulos e temores
em contraposição à força do impulso criminoso, a fase da cogitação terá maior ou menor
duração. Essa fase interior é indiferente ao Direito Penal, mesmo que haja manifestação do
propósito delituoso através de palavras ou outro meio simbólico, salvo no caso de expressa
previsão legal, como na ameaça (art. 147).
47
Firmada a deliberação de praticar o crime, a etapa seguinte é a da preparação escolha
da vítima, aliciamento de parceiros, planejamento da ação, obtenção de instrumentos, etc. Os
atos preparatórios, em regra, não são puníveis em nosso direito. Todavia, excepcionalmente, o
legislador define algumas dessas condutas como crimes autônomos, como no caso de
quadrilha ou bando, incitação ao crime, petrechos para fabricação de moeda (arts. 288, 286 e
291) e outros.
Seguem-se os atos diretamente ligados à consecução do objetivo, isto é, de execução,
que, se eficazes, culminam com a consumação. Com esta se completa a via do crime.
Pode acontecer que o objetivo do agente transcenda a própria consumação: obtenção
de herança, no induzimento a suicídio; casamento com a viúva da vítima, no homicídio,
condenação de inocente, na denunciação caluniosa, etc. Alcançado esse objetivo, ocorre o
exaurimento, que, nos exemplos citados, é indiferente (salvo na dosimetria da pena), mas
pode funcionar como condição de maior punibilidade, como no caso da não realização de ato
legal em razão da resistência (art. 329, § 1°). Crime consumado e crime exaurido são,
portanto, coisas diferentes.
20. DIFERENÇA ENTRE ATOS PREPARATÓRIOS E ATOS DE EXECUÇÃO
Nosso Código (art. 14, II), diz o crime tentado quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. São, portanto, elementos da
tentativa: ato de execução, interrupção por circunstâncias alheias à vontade do agente e dolo.
A distinção entre atos preparatórios e atos de execução é, assim, essencial à
configuração da tentativa. Trata-se de questão das mais complexas em Direito Penal, cuja
doutrina tem buscado insistentemente critérios que permitam diferenciá-los com razoável
precisão.
Os critérios mais aceitos são o material, ou do ataque ao bem jurídico, para o qual há
tentativa quando a conduta do agente expõe a perigo o bem jurídico tutelado pela norma: e o
formal, ou do início da execução do tipo, segundo o qual a execução começa com a realização
da conduta descrita no núcleo (verbo) do tipo. Ambos tem sido criticados. O primeiro porque
há atos preparatórios que colocam em perigo o bem jurídico. O segundo porque há casos em
que é lícito consideraratos executórios condutas que não se compreendem no núcleo do tipo,
como no exemplo do ladrão surpreendido no interior da casa em que havia penetrado com
intenção de furtar, sem ter ainda praticado ato de “subtrair” qualquer objeto.
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Costuma-se também fundamentar a distinção entre atos de preparação e de execução
com base nos princípios de idoneidade e univocidade. Ato executivo seria, assim, aquele que,
além de idôneo (apto para produzir o resultado) fosse inequívoco (indubitavelmente dirigido
àquele fim).
O Código, ao declarar que o crime se diz tentado quando “iniciada a execução adotou
o critério formal. Entende-se, porém, que esse critério necessita de complementação, para
inclusão, no conceito de tentativa, dos atos que, por sua proximidade e vinculação com a ação
típica, devem ser tidos como parte integrante desta. Damásio de Jesus (17) adere ao critério
objetivo-individual, proposto por Welzel e também defendido por Zaffaroni e Pierangeli (18),
segundo o qual deve-se distinguir entre “começo da execução da ação típica” e “começo da
execução do crime”, conceito este mais abrangente, incluindo atos que, de acordo com o
plano do autor, são imediatamente anteriores do início da execução da ação típica.
Trata-se, de qualquer forma, de questão ainda não satisfatoriamente resolvida na
doutrina e na jurisprudência.
Fundamental para a caracterização da tentativa é também o elemento subjetivo: o dolo,
que é o do crime consumado. É o dolo, por exemplo, que permite distinguir entre o crime de
lesão corporal consumado e o de homicídio tentado. Há o primeiro quando a intenção do
agente seja apenas ferir. Se o dolo é, entretanto, de matar, ocorre a tentativa de homicídio.
Há duas teorias a respeito da punibilidade da tentativa: a subjetiva, que defende para o
crime tentado a mesma pena aplicável à consumação, visto que, sob esse aspecto (subjetivo),
não há distinção entre as duas situações, e a objetiva, que baseada na menor lesão ou até na
inexistência de lesão ao bem jurídico no crime que não atinge a consumação, entende que,
neste caso, a punição deve ser menos severa.
O parágrafo único do art. 14 inspirou-se na teoria objetiva, ao determinar que, salvo
disposição em contrário, a tentativa deve ser punida com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços. A ressalva refere-se aos casos em que o próprio
tipo inclui a forma tentada, aplicando-se-lhe, assim, pena idêntica à da consumação (art. 352
— “evadir-se ou tentar evadir-se...”; art. 335 — “afastar ou procurar afastar concorrente ou
licitante).
(17) JESUS, Damásio E. de, ob. cit., p. 287.
(18) ZAFFARONI, Eugénio Raul, e PIERANGELI, José Henrique. Da Tentativa SP, RT,
1995, p. 54 e 56.
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20.1. EXEMPLOS
20.1.1. João Dedinho decide realizar furto na casa de um rico industrial, que sabia
ausente, em viagem. Munido de pé-de-cabra e outros apetrechos apropriados, aproxima-se, de
madrugada, da casa visada, mas, percebendo a presença de um vigia no local, retira-se,
adiando indefinida mente o projeto.
20.1.2. Descobrindo que seu sócio Ligeirildo o enganava nos negócios, Licurgo
resolve matá-lo, e manifesta esse propósito a várias pessoas. Adquire um revólver, carrega-o e
se dirige ao prédio da empresa, onde se encontrava o sócio. O porteiro do edifício, porém,
sabedor da intenção de Licurgo, desarma-o e impede o confronto.
20.1.3. Janjão, com dolo de homicídio, desfere punhalada em Petrúcio, ferindo-o
mortalmente. É impedido de prosseguir no ataque por terceiros, que tratam de conduzir a
vítima a um hospital, onde os médicos lhe salvam a vida.
20.1.4. Pio Gaturamo quebra o vidro de um automóvel estacionado, com intenção de
apoderar-se de uma valise que estava no interior do veículo. Nesse momento, é surpreendido
por um policial, que o prende em flagrante.
20.1.5. Disposto a causar incêndio em uma casa, Zeca Pavio põe fogo a um monte de
trapos e papéis velhos junto a uma parede de madeira, retirando-se em seguida. Antes que as
chamas tomassem vulto capaz de caracterizar perigo comum, forte aguaceiro extingue o fogo
incipiente, que, não fosse por essa circunstância fortuita, certamente se propagaria.
— Nos dois primeiros exemplos não ocorreu tentativa, posto que as ações de João
Dedinho e Licurgo não ultrapassaram a fase dos atos preparatórios. Não estão os autores,
assim, sujeitos a sanção penal alguma, ressalvada, em relação ao primeiro, eventual
ocorrência da contravenção prevista no art. 25 da Lei das Contravenções Penais (posse não
justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto) e, quanto ao segundo,
infração ao art. 10 da Lei n° 9.437, de 20/2/97 (porte ilegal de arma).
50
Nas situações descritas em 20.1.3. a 20.1.5., a tentativa está bem caracterizada. Houve
atos de execução, não ocorrendo à consumação por circunstâncias que escaparam ao controle
dos agentes: a intervenção de terceiros e atendimento médico, a chegada do policial e o
providencial aguaceiro. Vale assinalar que, no furto, a execução muitas vezes se inicia pela
qualificadora (rompimento de obstáculo).
20.1.6. Tibúrcio, planejando matar Totonho, convida-o para degustar um prato à base
de frutos do mar que ele próprio, exímio cozinheiro, prepararia. Pronta a comida, Tibúrcio
adiciona veneno à porção que pretende servir a Totonho, mas, nesse momento, o telefone
celular deste toca e ele se retira para atender a uma emergência familiar.
20.1.7. Mimosa, disposta a se livrar do marido Amado Trambolho, mistura formicida
ao café da garrafa térmica que ele costuma levar para beber na hora do lanche em seu
trabalho. Naquele dia, porém, Amado, tendo que sair para cumprir tarefa externa, não se serve
do café.
— Nesses dois casos de venefício tem aplicação a questão do plano concreto do
autorsuscitado por Welzel e citado por Zaffaroni e Pierangelli (19): como, segundo o plano
concreto de Tibúrcio, ele deveria servir o alimento envenenado a Totonho, e isto não chegou a
acontecer, a adição do veneno à comida foi ato preparatório; já no segundo caso, como o
próprio Amado Trambolho se serviria do café a que Mimosa havia misturado formicida, a
conduta dela é ato de execução, caracterizando-se, na hipótese, tentativa de homicídio.
20.1.8. Uma enfermeira, contratada para cuidar de pessoa enferma e valetudinária,
resolve deixá-la morrer, para tanto suspendendo medicação que, de acordo com a prescrição
médica, devia ministrar-lhe a inter valos regulares. O médico, todavia, desconfiado com a
acelerada deterioração do estado do paciente, despede a enfermeira. Restabelecida a
medicação, volta o enfermo à situação anterior.
— A hipótese trata de crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão. Ao
contrário do que acontece nos crimes omissivos próprios, que não admitem a forma tentada
(até o momento em que é possível a conduta devida não há nada; passado esse momento o
crime está consumado), neste caso, a tentativa de homicídio está perfeitamente caracterizada:
a suspensão da medicação por parte de quem estava contratualmente obrigado a ministrá-la só
não resultou na morte da vítima pela intervenção do médico.
(19) ZAFFARONI, Eugênio Raul, e PIERANGELLI, José Henrique, ob. cit., p. 53.
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Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de pros seguir na execução ou 
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
21. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
Diz-se a tentativa perfeita — também chamada crime falho — quando o agente
praticou todos os atos necessários à produção do resultado, que não ocorre por circunstâncias
alheias a sua vontade: e imperfeita, quando os atos praticados não são suficientes para
alcançar o objetivo visado.
A desistência voluntária, prevista na primeira parte deste art. 15, tem lugar na tentativa
imperfeita. O agente inicia

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