Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À SUSTENTABILIDADE UNIASSELVI-PÓS Autoria: Me. Aline Aparecida Carvalho França Me. Leilson Alves dos Santos Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. F814l França, Aline Aparecida Carvalho Legislação ambiental aplicada à sustentabilidade. / Aline Aparecida Carvalho França; Leilson Alves dos Santos. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 167 p.; il. ISBN 978-65-5646-355-1 ISBN Digital 978-65-5646-354-4 1. Direito ambiental. - Brasil. I. Santos, Leilson Alves dos. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 341.347 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS ......................................................................7 CAPÍTULO 2 JURISDIÇÃO AMBIENTAL: AS BASES LEGAIS DO MEIO AMBIEN- TE NO BRASIL ...............................................................................51 CAPÍTULO 3 RETÓRICA VERBOVISUAL E EVENTOS ...................................123 APRESENTAÇÃO Caro estudante, o livro didático de Legislação ambiental aplicada à sustentabilidade tem como propósito oferecer a você um material que lhe proporcione conhecimentos a respeito da legislação ambiental, das consequências jurídicas do não cumprimento da mesma, noções do direito ambiental e a importância da sustentabilidade nos dias atuais. Durante sua vida acadêmica, você irá perceber que o cumprimento das normas vigentes e o desenvolvimento de iniciativas que priorizem a preservação dos recursos naturais é condição necessária para uma gestão ambiental eficiente. Você entenderá que sem regulamentações e leis adequadas, a preservação do meio ambiente não aconteceria e que é através das legislações adequadas que se pode garantir uma natureza saudável para as gerações futuras, obedecendo assim ao conceito de Desenvolvimento Sustentável. Para tanto será demandado de você, futuro profissional da área, conhecimento, ações e soluções sobre a temática. Este livro didático servirá como guia para que você possa aprofundar seus conhecimentos teóricos e se sentir preparado para colocá-los em prática, quando for chamado para executar alguma atividade profissional na área. O livro didático está dividido em três capítulos, cada um contendo objetivos, conteúdo, atividades de estudo, dicas, sugestões e recomendações para um melhor aproveitamento da disciplina e aprendizado. No primeiro capítulo, intitulado Legislação Ambiental: dos princípios aos desafios contemporâneos, você irá percorrer pelos caminhos da evolução histórica acerca da legislação ambiental em termos de Brasil e, principalmente como surge a legislação ambiental internacional. Ou seja, aquela que promulga normas que devem ser cumpridas pelos países adeptos da Organização das Nações Unidas e estabelece sanções a todos os Estados que descumprirem tais normas ambientais. Neste capítulo é abordado, ainda, a importância das Conferências Mundiais para debater as questões ambientais e acordos firmados entre os países. Já no segundo capítulo, Jurisdição Ambiental será possível compreender o significado de Direito Ambiental e você verá os princípios jurídicos e normas jurídicas voltados à proteção jurídica da qualidade do meio ambiente. Nesse capítulo, veremos ainda as brasileiras que regulam as questões ambientais no território nacional. No terceiro capítulo: O Brasil e o Meio Ambiente você vai ter a oportunidade de conhecer como o Brasil se tornou referência mundial na política de legislação ambiental como também irá perceber os inúmeros desafios que o país enfrenta para alcançar o tão desejado desenvolvimento sustentável. Assim, desejamos que você se sinta estimulado a estudar mais profundamente a temática e possa usar dos muitos conhecimentos aqui apresentados, durante sua vida acadêmica e profissional. Os autores. CAPÍTULO 1 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender a evolução histórica acerca da legislação ambiental e entender como atualmente está confi gurado as leis ambientais no Brasil. • Ao fi nalizar esse capítulo, o aluno será capaz de identifi car os inúmeros dispositivos jurídicos presentes ao longo da história que já previam a proteção legal ao meio ambiente bem como será capaz de analisar, compreender e debater sobre a legislação ambiental nos dias atuais. 8 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE 9 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Caro aluno, neste capítulo veremos um pouco do contexto histórico da legislação ambiental no Brasil. Por mais que nosso país apresente nos dias atuais, um complexo sistema institucional para a gestão do meio ambiente, a legislação ambiental vigente é resultado de um processo histórico que envolveu diferentes contextos sociais, políticos e econômicos e evoluiu com as diversas concepções de meio ambiente de cada época. O presente capítulo irá abordar historicamente a origem do pensamento de preservação e o cuidado com o Meio Ambiente, bem como os acontecimentos decisivos que motivaram a preocupação com a questão ambiental e que acabaram por contribuir para a criação de uma legislação que fosse capaz de abarcar tanto a proteção do meio ambiente quanto a conscientização do cidadão com a temática. Vamos destacar momentos importantes que colaboraram para o surgimento de uma preocupação com a proteção ao meio ambiente no Brasil como por exemplo, na fase colonial, ainda na criação do Governo Geral, na qual se utilizava as leis do próprio reino ou as Ordenações. Iremos ver, ainda, o período em que a sociedade civil, a comunidade acadêmica e líderes de governos despertam sobre as preocupações com a degradação ambiental, este período coincide com o fi m da Segunda Guerra Mundial, momento que o mundo apresentava intensa degradação do meio natural e baixa qualidade de vida nos centros urbanos. É nesse momento de agitação e protestos em prol do meio ambiente que surgem as grandes conferências mundiais para debater essa temática, a primeira realizada na cidade de Estocolmo, Suécia, em 1972 que abordou o Meio Ambiente Humana e é considerada o marco principal da legislação ambiental internacional. Esta conferência forneceu a base para diversos outros encontros ao redor mundo em prol de se encontrar alternativa capaz de promover o equilíbrio entre as demandas sociais, econômicas e ambientais. Veremos também que a Organização das Nações Unidas – ONU, tem um papel fundamental em defesa do meio ambiente, pois é esta instituição que regulamenta internacionalmente os acordos ambientais fi rmados pelos países e cabe a ela também o papel de fi scalizar se tais acordos estão sendo cumpridos pelas partes, para isso sempre que há a necessidade a ONU convoca assembleias e, consequente conferências. Ao fi nal da leitura você, aluno, deverá perceber e compreender as mudanças de objetivos das legislações de cunho ambiental, criadas ao longo da história de acordo com os interessesque direcionaram as Políticas Públicas em cada 10 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE período histórico, bem como verá os grandes avanços ocorridos a partir do Século XX, como por exemplo a tão conhecida Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO-92, um importante evento de grande repercussão no debate ambiental, onde se discutiu tanto sobre os problemas já existentes quanto dos progressos realizados desde de Estocolmo 1972, e onde também foi elaborado documentos importantes que continuam sendo referência nas discussões ambientais atuais. Veremos que a ECO-92 é considerada a mais importante conferência ambiental até o momento, isso devido ao grande número de chefes de Estados e organizações que participaram do evento. Foi nessa conferência que se discutiu pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável. 2 CONQUISTAS AMBIENTAIS: CONTEXTO HISTÓRICO 2.1 AS ORDENAÇÕES E A LEGISLAÇÃO PORTUGUESA A literatura reporta que a legislação portuguesa protegia as árvores, os animais e as águas. Deve-se mencionar aqui, que após a chegada de Pedro Álvares Cabral no ano de 1500, em terras brasileiras, predominava a dinâmica de uma política de ocupação territorial pautada no regime de sesmarias, que era vigente em Portugal desde 1375. O regime de sesmarias se manteve vigente nas Ordenações que discutiremos a seguir. À época do descobrimento estava em vigor em Portugal as Ordenações Afonsinas, que era a legislação que vigorava no reino e em suas colônias em 1446 durante o reinado de Dom Afonso IV. Nas ordenações Afonsinas é possível observar algumas referências à preocupação com o meio ambiente, como por exemplo, um dispositivo, no Livro V, título LVIII, que caracterizava o corte de árvores frutíferas como crime de injúria ao rei. Em tal documento não há menção de proteção jurídica das águas. 11 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 ORDENAÇÕES: Ordenações signifi ca ordens, decisões ou normas jurídicas independentes ou coletâneas que se elaboraram ao longo da história do direito português. Eram compilações das leis régias em vigor no país, e tinham como objetivos a seleção e sistematização dos diplomas jurídicos de reinados sucessivos; dessa forma atendiam ao problema de haver legislação aprovada de forma assistemática e dispersa, por um lado, e de ser preciso esclarecer o estatuto e a validade das normas do direito costumeiro, por outro. Exemplos são as Ordenações Afonsinas, as Manuelinas e as Filipinas, que constituem códigos de leis promulgados e publicados por determinação de D. Afonso V, D. Manuel I e Filipe I, respetivamente. Para mais detalhes sobre as Ordenações Afonsinas ver o site: http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/ SESMARIAS: O nome sesmaria decorre de sesmar, dividir. Foi um instituto jurídico português que organizava a distribuição de terras com fi ns à produção agrícola. Neste sistema, as terras cultivadas nas comunidades eram divididas de acordo com o número de habitantes. O Estado, então recém-formado e sem capacidade para organizar a produção de alimentos, decide passar a particulares essa função. Este sistema surgiu em Portugal durante o século XIV, com a Lei das Sesmarias de 1375, criada para combater a crise agrícola e econômica que atingia o país e a Europa. 12 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE As Ordenações Manuelinas, cuja edição defi nitiva ocorreu em 1521, trouxeram normas mais detalhadas. Permanecem a proibição do corte de árvores frutíferas, agora com algumas modifi cações quanto às penas aplicadas ao bem violado - a sanção para este crime estabelecia o envio do infrator de Portugal para o Brasil. No Livro I, título LXXXIII foi estabelecido a proibição da caça de perdizes, lebres e coelhos através de meios que fossem capazes de causar sofrimento no momento da morte destes animais, e também é determinado o respeito às crias, nos meses de março, abril e maio, sendo o caçador que tivesse descumprido a referida lei, condenando ao pagamento de "mil reais", além da perda dos animais e instrumentos mecânicos utilizadas na caça. Também foi defendido nessas ordenações a proibição da comercialização das colmeias, sem a devida preservação das abelhas. Por tudo isso, é atribuído a essas ordenações as primeiras noções de zoneamento ambiental, ao vedar a caça em determinados locais, bem como a noção de reparação do dano ecológico. A partir de 1580, com o falecimento de Dom Henrique, o Brasil passa a enfrentar o domínio espanhol sob Filipe II, que invadiu Portugal e se declarou rei. Em meados de 1594, Dom Filipe determinou a criação de áreas de preservação ambiental, com a intenção de proteger as poucas fl orestas portuguesas que restaram após os intensos cortes para a indústria naval. Houve uma acelerada devastação das fl orestas portuguesas, causada pelo corte descontrolado das árvores cuja madeira era utilizada exaustivamente para a construção de navios. Logo após esse período, foi emitido um novo documento, conhecido como Ordenações Filipinas. Sobre este documento, a primeira edição portuguesa original da legislação data de 1603, sob o Título “Ordenações do Reino de Portugal” resumidas por mandado de “El Rei Dom Philippe de Portugal” que passou a ser chamado de “Ordenações Filipinas”, cuja aplicação se estendia do Reino Português à todas as suas Colônias, a qual o Brasil fazia parte. As Ordenações Filipinas não só mantiveram a proteção as árvores como estabeleceu algumas modifi cações quanto às penas aplicadas. Era condenado com pena gravíssima quem viesse a cortar árvores ou fruto, sendo o indivíduo praticante de tal ato, submetido ao açoite e ao deporto para a África por quatro anos caso o dano fosse mínimo e defi nitivo em casos de danos graves. Esta Ordenação inovou ao proibir a pesca em determinados locais, períodos do ano e com certos instrumentos. No tocante à proteção dos recursos hídricos, no Parágrafo 7° do Título LXXXVIII das Ordenações Filipinas têm-se um indicativo de preocupação com a qualidade das águas ao fornecer o conceito de poluição. De acordo com o 13 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 documento, fi cou proibido a qualquer pessoa jogar material que viesse a provocar a morte dos peixes bem como prejudicar a sua criação ou sujar as águas dos rios e das lagoas. Em 12 de dezembro de 1605 editou-se o "Regimento do Pau-Brasil". Tal regimento constitui a primeira lei de proteção fl orestal do Brasil, afi m de se coibir o contrabando e a devastação das matas brasileiras pela exploração do pau- brasil. Tal regimento específi co foi criado em virtude dos prejuízos decorrentes dos descaminhos do pau-brasil e da má utilização do solo, o que trazia perdas fi nanceiras para o reino. De acordo com tal documento, a extração da madeira agora se dava de forma regulamentada, e a sua retirada da mata só poderia ocorrer mediante licença expedida por pessoas competentes. Também continha nesse documento orientações para o controle das licenças concedidas e os procedimentos para a concessão bem como as penas aplicáveis a quem desrespeitasse os dispositivos legais. Sobre este último, as pessoas que cortassem mais madeira do que previa o regimento, deveriam receber punições que variavam de pena pecuniária, açoite, degredo e até pena de morte. Abaixo podemos visualizar o que trazem os dez parágrafos do referido regimento: • No parágrafo 1 esclarece-se que é proibido a qualquer pessoa cortar ou mandar cortar sem nenhuma autorização, o pau-brasil. Caso contrário, tal ação resultaria em pena de morte e confi sco da fazenda do autor da ação. • No parágrafo 2, é esclarecido que o “Provedor Mór” antes de conceder a licença, deveria buscar informações sobre o requerente ao corte e em caso de suspeita ou antecedentes duvidosos, tal licença seria repassado a outrointeressado. “PROVEDOR MÓR” Responsável por garantir a arrecadação dos impostos em terras brasileiras e cuidar dos gastos que o governo geral tivesse na administração do território. 14 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE • No parágrafo 3 é declarado que a organização sobre as licenças concedidas, o responsável, quantidades de corte permitido e demais informações que se julgarem importantes, será feita em um livro que será assinado e enumerado pelo Provedor Mór. • No parágrafo 4 o documento explica quais punições será aplicada a quem agir incorretamente, cortando mais pau-brasil do que o concedido na licença. Fica assim esclarecido: Em caso de mais corte do que o previsto em licença: perderá o material cortado para a fazenda do concessor. Em caso de o corte ultrapassar o valor de “dez quintaes” o autor da infração será penalizado em cem cruzados. Em caso de o corte ultrapassar o valor de “cinquenta quintaes” o autor da infração será açoitado, e enviado para Angola, onde deverá fi car por dez anos. Em caso de o corte ultrapassar o valor de “cinquenta quintaes” o autor da infração será morto e perderá toda a sua fazenda. • No parágrafo 5 é descrito como será feita a organização para as licenças de corte, de modo que cada morador da Capitania terá sua parte, conforme as possibilidades de cada um e que para todos deverá ser obedecido o valor determinado de corte, de modo que não exceda a quantidade que foi ordenada. • No parágrafo 6 determina-se o prazo de um ano para que seja refeita a repartição de quantidade de pau-brasil. Tal medida tinha como objetivo evitar o corte desordenado e sobrecarregar a Capitania com o corte além da capacidade de suporte. • No parágrafo 7 é dito que a repartição do pau-brasil a cada capitania será feita sob a presença do governado do Estado juntamente com o Provedor Mór da fazenda. Neste parágrafo é destacado que se deve levar em consideração o estado das matas de cada capitania afi m de que não se sobrecarregue as mesmas. • No parágrafo 8 fi ca estabelecido que os contratantes devem aceitar todo o material proveniente do corte do pau-brasil e não se deve de forma alguma deixar resíduos provenientes do corte, pelo caminho. Tal medida se deu em razão do desperdício de material pela mata, quando apresenta utilidade para uso em tintas. Também neste parágrafo, é discutido sobre o modo como o pau-brasil é cortado, o que acelerava a extinção deste. Os responsáveis pelo corte da madeira, tinham o hábito de queimar as raízes o que culminava com a morte da árvore. • Sobre isso fi ca estabelecido a proibição de roças em terras das matas do pau-brasil bem como é estabelecido ao contratante, que se deve priorizar a conservação da árvore, deixando varas e troncos de modo a 15 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 permitir que a mesma venha brotar. Quem desobedecesse a tal regra, seria punido conforme o grau do seu prejuízo. • No parágrafo 9 é dito que todos os anos deve-se fazer um balanço sobre o corte do pau-brasil, onde será verifi cado se houve descumprimentos às normas estabelecidas. • No parágrafo 10 fi ca estabelecido a importância de se manter resguardadas as matas com pau-brasil em cada capitania, e para isso deve-se manter guardas na região a ser protegida. Tais guardas deverão passar pela aprovação dos provedores da fazenda. Neste mesmo período, intensifi cando a proteção à extração madeireira no país ocorre a complementação do Regimento Pau-Brasil, onde a legislação agora se preocupava não só com a venda da árvore, mas também com o desmatamento que se dava em quantidade abusiva. A partir do século XVIII passa-se a ter uma maior preocupação com a extração de ouro e diamantes, havendo por parte da Coroa, cobranças de tributos equivalentes a um quinto da extração; somado a isso, os mineradores ainda tinham que dar uma contribuição extraofi cial à Coroa. Por volta de 1740, percebe-se que a preocupação com a proteção ambiental vai se intensifi cando, resultando no surgimento de novas leis, cartas régias, alvarás e demais regimentos para as fl orestas. Como exemplo, podemos citar duas legislações complementares de 1742 e 1751, que proibiam a extração do Mangue Vermelho e instituíram a casa de Relação do Rio de Janeiro, cujo objetivo era maior atenção e cuidado com as queimas de lenhas e cortes de árvores. Importante destacar que em 1822, concomitantemente com a independência, ocorreu no Brasil a invalidação do regime das sesmarias. Sobre o Regimento do Pau-Brasil, documento de grande importância para frear o uso abusivo da madeira, faça uma leitura crítica dos artigos de autoria de Maria Isabel de Siqueira: “Considerações sobre ordem em colônias: As Legislações na exploração do Pau-Brasil” e “Conservação ou preservação das riquezas naturais na américa portuguesa: O Regimento do Pau- Brasil”. Após a leitura, exponha sua opinião sobre o que de fato mudou (ou não) no uso da madeira. Qual o real objetivo do regimento criado? O regimento foi efetivo nos seus objetivos? 16 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE Continuando a percorrer pelos caminhos da evolução legislativa, temos em 1830, uma vez promulgada a Constituição Imperial (ocorrida em 25 de março de 1824), foi determinada a elaboração de um Código Civil e um Código Criminal. O Código Penal apresentava dois dispositivos, os artigos 178 e 257, que estabeleciam penas para o corte ilegal de madeiras. Inicialmente a Constituição Imperial para tratar do novo regime de ocupação de terra, trazia em seu Artigo 179 a garantia dos direitos civis e políticos dos cidadãos, tendo como princípio a liberdade, a segurança individual e a propriedade. No Inciso XXII do mesmo documento, assegurava o direito de propriedade, sem deixar muito claro como ocorreria esse novo regime de ocupação e uso do território. Apenas em 1850, com a promulgação da Lei 601, conhecida como “Lei de Terras”, é que se obtém regras de direito que traga detalhes sobre o novo regime particular de ocupação e uso do território por meio da garantia da propriedade. Segundo este documento, e diante da inexistência de um regime legal para a propriedade desde a revogação do regime das sesmarias, em seu Artigo 1º é estabelecido que a única maneira de se adquirir terras pertencentes ao Estado (devolutas) seria mediante a compra e venda, sendo obrigatório o registro de todas as terras ocupadas, extinguindo assim, a prática de aquisição de terras por meio da posse. No Artigo 2º do referido documento, é apresentado as sanções administrativas e penais, onde é estabelecido punição pela derrubada de matas e queimadas, de forma que o infrator fosse responsabilizado pelo dano causado. O infrator deveria responder civilmente, com o pagamento de multa em valor estabelecido no documento e, penalmente, com a prisão que variava de dois a seis meses. Sobre a Lei 601, conhecida como “Lei de Terras”, vê-se que enquanto regulamentação da relação tanto do Estado quanto do particular sobre o território, a lei tem por objetivos assegurar a demarcação, uso, ocupação e separação entre as terras públicas e privadas em busca da circulação de riquezas e da comercialização da própria propriedade. Assim sendo, faça uma leitura mais aprofundada da referida lei e discorra sobre de que forma esta lei impactou o uso e proteção dos recursos naturais. 17 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 Perpassando pelo período republicano, tem-se que neste período, a Constituição Republicana de 1891 previa no seu Artigo 34, Inciso XXIX, a competência da União para legislar sobre suas minas e terras. Já se entendia ser necessário um novo modelo jurídico para o país, que se readequassem com as modifi cações ocorridas na forma de Estado. Em 1916 promulgou-se o Código Civil Brasileiro que aboliu as Ordenações, alvarás, leis,decretos e qualquer outro ato normativo advindo de Portugal. Apesar de não tratar de forma específi ca sobre questões ambientais, este código previa nos seus Artigos 554 e 555 a censura ao uso nocivo da propriedade e, no Artigo 582, outorga ao dono do prédio vizinho ameaçado, a oportunidade de solicitar o embargo de obras de chaminés, fogões ou fornos. A Revolução de 1930 e a Constituição de 1934 marcaram a transição de um Brasil que antes dominado pelas elites rurais, agora começa a viver a industrialização e urbanização. A Constituição de 1934, estabelecia no seu Artigo 10, a competência conferida a União e aos Estados para proteger as riquezas naturais e os monumentos de valor histórico e artístico. Nesta década surgem os primeiros documentos ofi ciais, que iniciam a proteção específi ca do meio ambiente. Temos então o Decreto n° 24.645, de 10 de julho de 1934 que estabelecia medidas de proteção aos animais e o Decreto n° 24.643, de 10 de julho de 1934, conhecido como código de Águas. O Decreto n° 24.645, em seu Artigo 1° determina que todos os animais existentes no país são tutelados do Estado, e em seu Artigo 2° fi ca estabelecido aplicação de multa e pena de prisão para aqueles que em lugar público ou privado, venha aplicar ou fi zer aplicar maus tratos aos animais, sendo o praticante da ação dono ou não do animal maltratado. O Decreto n° 24.643, código de Águas apresenta um modelo de gerenciamento de águas orientado por tipos de uso. Pode-se perceber que a escrita do documento foi fortemente infl uenciada pelo pensamento da época ao permitir ao Poder Público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas. Como os recursos naturais existentes na época eram abundantes, as águas foram tratadas como um dos elementos básicos do desenvolvimento, por se tratar de matéria-prima para a geração de eletricidade, um subproduto fundamental para a industrialização. 18 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE Caro aluno faça uma leitura minuciosa do Decreto n° 24.645 e o Decreto n° 24.643 e destaque os pontos que você julga ser mais importante e compare com a legislação atual, destacando as mudanças ocorridas. Também de grande relevância, tem-se nessa época o surgimento do nosso primeiro Código Florestal através do Decreto-Lei 23.793, em 1934. Tal decreto foi sancionado pelo então presidente Getúlio Vargas, cujo objetivo era a preservação das fl orestas, estabelecendo as regras de exploração fl orestal e as penas aplicadas àqueles que as transgredissem. Em 1965, outro Código Florestal foi instituído sob a Lei 4.771/65, agora levando-se em consideração a modernização da agricultura. O contínuo avanço na cultura do solo demandou a necessidade de uma readequação no código instituído em 1965 em relação à lavoura, e assim um novo documento foi criado, a PL 1.876 de 1999 que dispõe sobre as áreas de preservação permanente, reserva legal e exploração fl orestal. O primeiro Código Florestal representa a primeira iniciativa legal de conservação de fl orestas, trazendo as primeiras infrações para condutas lesivas às mesmas, as quais podem ser vistas em seu Artigo 70 e seguintes. Porém, deve-se ressaltar que tal documento tinha como objetivo estabelecer diretrizes básicas para a exploração das fl orestas, principalmente no que se referia à extração de madeira, uma vez que este documento foi elaborado numa época em que o governo tinha como principal foco o controle da exploração para fi ns econômicos e não necessariamente um cunho ambientalista (Santos Filho et al., 2015). 2.2 HISTÓRIA DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Para falar um pouco sobre o saneamento básico no Brasil, vamos voltar um pouco no tempo. Fica a cargo de Estácio de Sá, a primeira obra de saneamento no nosso país, em 1561, onde o mesmo comandou a construção de um poço para abastecimento da cidade. 19 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 Estácio de Sá (1520-1567) nasceu em Coimbra, Portugal. Foi um militar português que lutou para expulsar os franceses da baía da Guanabara e fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1567, com uma infecção causada por um ferimento no rosto, ao ser acertado por uma fl echa envenenada, durante um combate decisivo que culminou com a expulsão dos tamoios e franceses. Também devemos mencionar aqui o primeiro aqueduto do país, também instalado na cidade do Rio de Janeiro. Essa construção foi considerada a obra arquitetônica de maior importância do período colonial do Brasil, e tinha como objetivo resolver a problemática da falta de água na cidade. O aqueduto, que hoje é conhecido como Arcos da Lapa, transportava água do Rio Carioca para o Chafariz, estendendo-se entre os morros de Santa Teresa e de Santo Antônio, abastecendo assim a população da cidade. Hoje a obra é um dos principais pontos turísticos da cidade. Embora não encontremos muitos registros sobre a temática antes da chegada dos portugueses nas nossas terras, vê-se que após esse evento, começam a surgir problemas decorrentes do crescimento populacional como destinação adequada para os dejetos produzidos e fornecimento de água. Na época já se tinham conhecimento sobre as doenças transmitidas pela água, mas as ações para resolver a problemática eram tidas como individuais. A literatura reporta que no Brasil, os escravos eram responsáveis por pegar água para abastecer a Casa Grande e carregar suas fezes e de seus senhores para um local afastado. Por desempenharem este trabalho, tais trabalhadores eram chamados de “escravos tigres”, que tinham as peles queimadas pelos respingos dos excrementos e o calor do sol. 20 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE Agora que falamos um pouco sobre o trabalho dos “escravos tigres”, convido-os a pesquisarem para saber um pouco mais sobre este assunto. Busquem na internet mais informações a respeito desse trabalho. Afi nal, novos conhecimentos sempre são bem- vindos, não é mesmo? A chegada da Corte Portuguesa e da Família Real no Rio de Janeiro em 1808, trouxe profundas mudanças para a população que vivia no Brasil. No tocante a hábitos de higiene, os historiadores relatam que as mulheres portuguesas, já no desembarque, refl etiam em suas fi sionomias os sinais da ausência de hábitos higiênicos, pois seus cabelos haviam sido raspados em razão de uma infestação de piolhos durante a viagem e por isso foram obrigadas a desembarcar usando turbantes na cabeça (Sabatovicz, 2013). Para mais informações sobre a viagem e os problemas advindos da falta de higiene, convido-os a assistirem o curto vídeo “Homens ao mar”, disponível na plataforma Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=QvWSE-sF-w4&feature=sha re&list=PL401CB23CF025E581 Durante a estadia da Família Real no Brasil, a corte portuguesa deparou-se com um grande problema: Não havia moradia sufi ciente para todos na cidade. Para resolver a problemática e acomodar todos da corte, diversos brasileiros foram despejados, o que gerou insatisfação popular. Para instalar a Corte na cidade foi instituído o sistema de aposentadorias que, na prática, confi scava as casas dos moradores locais para o abrigo da nobreza. Para tanto, foram afi xadas nas portas de muitas casas as letras PR de “Príncipe Regente”, que foram interpretadas pela população como “Ponha-se na Rua” (Meireles, 2015). Assim, com o grande volume de pessoas agora instaladas na cidade, os problemas urbanos agravaram-se, pois além da falta de moradia, havia defi ciência no abastecimento de água, condições precárias de saneamento e segurança pública. 21 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 Assistam ao vídeo “Olha a Corte aí, gente”, que nos conta sobre a Corte no Rio de Janeiro e a problemática de habitação para milhares de recém-chegados. Disponível no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=VaHrSAFBf1U&feature=share&list=PL401CB23CF025E581 A partir daí inicia-se uma busca por soluções para o saneamento básico e obras de saneamento começaram a ser mais necessárias, já que após a vinda da família real portuguesa, a população brasileira praticamente dobrou em 30 anos (Meireles, 2015). A essa altura os próprios senhores de escravos já estavam convencidos de que o sistema de serviços empregando os “escravos tigres” eram prejudiciais não só para a saúde dos escravos, mas também da população em geral. Então, no fi nal do século XIX os serviços de saneamento foram organizados e concedidos a empresas estrangeiras. Data-se que entre os anos de 1857 a 1877 o governo de São Paulo construiu o seu primeiro sistema de abastecimento de água encanada. Em Porto Alegre o abastecimento de água encanada se deu no ano de 1861 e no Rio de Janeiro em 1876. Porém o desenvolvimento da área gerou descontentamento, pois os serviços prestados pelas empresas estrangeiras eram de péssima qualidade o que forçou o governo a estatizar o serviço no início do século XX. Então, a constituição de 1930 deixa a cargo dos municípios, os serviços de saneamento e abastecimento de água. Mas somente a Constituição não foi sufi ciente para materializar os serviços de saneamento prestados, e assim devemos discutir sobre os eventos que contribuíram para as bases atuais do saneamento no nosso país. Em meados da década de 1940 os serviços de saneamento começaram a ser comercializados, o que contribuiu para o surgimento de autarquias e políticas de fi nanciamento. Destaca-se nesta época o surgimento das bases Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que atendia pelo nome de Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). 22 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE Durante o governo militar, foi elaborado um decreto de Lei 1969 que autorizava o agora extinto, Banco Nacional de Habitação (BNH) a aplicar recursos próprios e do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para fi nanciamento do saneamento. Já em 1971, o Plano Nacional de Saneamento (Plansa) foi estabelecido com a premissa de autonomia e autossustentação, por meio das tarifas e fi nanciamentos fundamentados em recursos retornáveis consolidados em recursos retornáveis. A partir daí temos as companhias estaduais se impondo aos serviços municipais e uma segregação das instituições que cuidavam da saúde das que planejavam o saneamento. Após intensa luta, em 2007, os municípios conquistam a titularidade dos serviços de saneamento através da Lei Nacional do Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007). Essa Lei estabeleceu as diretrizes nacionais para o saneamento básico no Brasil e consiste em um grande avanço para o nosso país. Ainda falando sobre legislação do saneamento básico, temos a Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020, que atualiza o marco legal do saneamento básico e faz várias alterações em legislações anteriores. Dentre as leis alteradas podemos citar a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, no qual atribui à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar normas de referência sobre o serviço de saneamento; a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar normas de referência sobre o serviço de saneamento; e a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, para aprimorar as condições estruturais do saneamento básico no país, dentre outras alterações. Nos dias atuais o Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico) consiste no planejamento integrado do saneamento básico, conduz as políticas públicas e traça metas e estratégias para o setor. Inclui os quatro componentes: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais urbanas. Outros órgãos também devem ser citados, pelo seu grau de importância para o setor de saneamento básico no Brasil, como a Agência Nacional de Águas - ANA, que atualmente tem competência para editar normas de referência sobre o serviço de saneamento e o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento – SNIS, responsável pelas informações sobre saneamento. 23 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 2.3 SÉCULO XX E AS CONQUISTAS AMBIENTAIS Como vimos nos tópicos anteriores, a preocupação com o meio ambiente não é algo recente, a sociedade desde muito cedo apresentou inquietudes sobre como a natureza estava sendo tratada pelo homem. No entanto, somente após a Segunda Guerra Mundial, que de fato, a comunidade cientifi ca, governos e sociedade civil se unem em prol de debater sobre os impactos ambientais e suas consequências para a vida no planeta, bem como pensando qual herança deixaremos para as futuras gerações. Tais inquietações despertou o interesse em discutir de forma global os problemas ambientais pelo qual o mundo passava em meados do século XX, período de intenso crescimento populacional, principalmente entre os anos de 1946 e 1960 no qual a Europa, Estados Unidos, Austrália e Canadá registraram aumento signifi cativo de nascimentos, evento conhecido como Baby Boom, com isso tem-se o aumento por demanda de alimentos e bens de consumo o que demanda mais recursos naturais. Baby Boom é a explosão demográfi ca que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, onde o número de casamentos aumentou signifi cativamente na Europa, Estados Unidos, Austrália e Canadá e, consequentemente muitos nascimentos. Nos Estados Unidos este evento chegou a representar 20% da população. O crescimento da população mundial também foi sentido nos países considerados em desenvolvimento e/ou subdesenvolvidos, principalmente na América do Sul, Ásia e África. Tanto o Baby Boom quanto a explosão demográfi ca, ocorridas a partir meados do século XX, estão diretamente relacionadas com o fi m da Segunda Guerra Mundial, a primeira atribui-se ao aumento do número de casamentos ocorridos nesse período e a segunda ao acesso aos serviços de saúde, controle de pragas, doenças e vacinas proporcionado pelo avanço da medicina. Bem, mas o que tudo isso tem a ver com o meio ambiente e a legislação ambiental? Pensem e refl itam, quanto mais pessoas no mundo maior será a demanda por alimentos e bens de consumo e, consequentemente maior a procura por espaços para plantações, ocasionando desmatamentos de grandes áreas 24 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE para serem ocupadas pela agropecuária, as indústrias irão produzir o máximo que puderem o que requer mais matéria-prima, ou seja, mais recursos naturais e com isso favorecendo a poluição do ar, das águas, a destruição de fl orestas e, assim proporcionando o desaparecimento dos habitat natural de muitas espécies da fauna e fl ora tudo em prol de atender a essa sociedade movida pelo consumo. Com a iminência de uma crise ambiental anunciada a partir de 1960, sobretudo em virtude da expansão econômica e de maior crescimento industrial do século, anunciadas por uma série de catástrofes ambientais despertam o anseio da sociedade por medidas urgentes de proteção da natureza, assim, as ações do homem sobre o meio ambiente tornaram-se foco das discussões a partir de reações populares como passeatas e protestos contra a degradação ambiental. Dessa maneira, o progresso científi co tão almejado naquele momento ver sua hegemonia ameaçada, o padrão de consumo estabelecido até então passou a ser questionado, será se vale a pena tudo isso? Do que adianta tanto progresso sem qualidade de vida? Os movimentos que surgem contra o exacerbado consumismo vieram de grupos dos trabalhadores que viviam em condições precárias de trabalho e com salários medíocres pagos pelas fábricas, de movimentos de naturalistas como os hippies, das mulheres, dos negros dentre outros movimentos que se enquadram na chamada minorias de classe. No entanto, esses movimentos ganham mais forças com a adesão da sociedade acadêmica, diversosintelectuais começam a publicar trabalhos questionando e indicando limites ecológicos e sociais que a sociedade capitalista e industrial dominante teria que atentar para que se alcançasse um equilíbrio ecológico e econômico. A partir daí surgem eventos nacionais e internacionais para discutir os rumos do desenvolvimento econômico e do meio ambiente. Logo após o fi m da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1948 é criada a União Internacional para Conservação da Natureza formada por governos e a sociedade civil é uma instituição destinada para orientar e implantar áreas de conservação ao redor do mundo. Ela pode ser considerada a pioneira para fomentar das discussões de legislação ambiental a nível global. Para mais informações sobre União Internacional para Conservação da Natureza acesse o site: https://www.iucn.org/ 25 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 Com as intensas manifestações advindas de diversas partes da sociedade civil, universitária e governamental preocupados como o uso desenfreado de agrotóxicos utilizados nas lavouras e a poluição advinda das fábricas culminando com a escassez de alguns recursos naturais, bem como com a poluição de corpos d’água. Assim, em meados do século XX surge a necessidade se discutir as ações humanas sobre a natureza e quais seriam suas consequências para o futuro do planeta. No ano de 1962, Rachel Carson publica o livro Primavera Silenciosa, considerado um marco para o despertar do debate sobre o uso de agrotóxicos, bem como questionar sobre o limite para o progresso tecnológico e qual seria o papel da ciência nessa conjuntura. No livro Rachel Carson elenca uma série de problemas ambientais oriundos do padrão de consumo estabelecido até então, dentre os quais a alteração dos processos celulares em plantas, o desaparecimento de ecossistemas e, consequentemente o risco a saúde humana. Após a publicação desse livro o mundo ganhou um novo fôlego e reacendeu o debate pela crise ecológica. Nesse momento, surgem diversos movimentos reivindicando por melhores condições ambientais com destaque para dois movimentos o preservacionista e o conservacionista que tinham como objetivo chamar a atenção para o que estava acontecendo com o meio ambiente, bem como propor medidas a serem tomadas para parar a degradação ambiental. Preservação – ato de não usufruir dos recursos naturais, ou seja, deixar intacto, pode ser usado somente para fi ns de pesquisas científi cas. Conservação – essa corrente preconiza o uso de forma controlada, ou seja, respeitando o tempo de resiliência da natureza. Fonte: EMBRAPA, 2011. Considerando o contexto mundial e as discussões ao redor do mundo em prol do meio ambiente em 15 de setembro de 1965 o Congresso Nacional do Brasil aprova a Lei 4.771 também conhecida como Lei do Código Florestal, este acontecimento foi um marco histórico para a conservação das fl orestas e dos ecossistemas, a partir desse momento o país torna-se referência mundial em legislação em prol do meio ambiente. 26 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE É importante salientar que não se pode defi nir ao certo quando e onde começou a emergir as inquietações ambientais, pois foram em diversos lugares e com distintas temáticas, porém o que se sabe é que a partir da década de 1960 que esses movimentos ganham forças e despertam o interesse internacional para se discutir sobre o desenvolvimento e os recursos naturais. No ano de 1972, um grupo formado por cientistas, economistas, empresários, governantes e ex- governantes se juntaram formando o chamado Clube de Roma e publicaram um relatório denominado “Os limites do Crescimento”, esse documento foi elaborado considerando o desenvolvimento e o rápido crescimento populacional e previu que se não houvesse uma mudança no modo de produção o colapso ambiental seria eminente. No entanto, os países industrializados resolveram não acolher as medidas proposta no relatório (SIRVINSKAS, 2019). A década de 1970 marca de fato o início das discussões internacionais sobre desenvolvimento econômico e a relação da humanidade com o meio ambiente, é nessa década que se tem início os grandes encontros internacionais para debater sobre os problemas ambientais, a industrialização, qualidade de vida, bem-estar social e a natureza. A partir dessas conferências surgiram documentos para orientar uma política internacional aliando desenvolvimento e o uso consciente dos recursos naturais. 3.1 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO – ESTOCOLMO 1972 A Organização das Nações Unidos convocou toda a comunidade internacional para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humana em realizada na Estocolmo, Suécia, no ano de 1972, esse evento é considerado até os dias atuais como mais importante já realizado para discutir sobre esse tema, pois a partir dele sugiram documentos que fomentaram a legislação ambiental e acordos internacionais em prol do meio ambiente. Contanto com a presença de 113 chefes de Estado e mais de 400 organizações/instituições governamentais e não governamentais discutiu temas diversos, mas destacando principalmente a poluição atmosférica e os recursos naturais. Viu-se também acirrar o debate entre os países desenvolvidos/industrializados e aqueles considerados subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento, pois enquanto os primeiros não abriam mão de reduzir sua produção os demais resistiam em parar ou mesmo iniciar seu processo de desenvolvimento econômico. No entanto, temos que destacar mesmo não chegando a um consenso, a 27 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 Conferência de Estocolmo resultou em um importante documento para reger a política ambiental global, denominado de Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Este é considerado a base do direito internacional sobre meio ambiente, pois reconhece o direito de o homem viver em harmonia com a natureza (ONU, 1972). E, ainda, dentre outras questões proclamou: • O homem pertence e constrói o meio ambiente de que o cerca, tirando seu sustento material e ao mesmo tempo se desenvolvendo intelectual, moral, social e espiritualmente. Assim, o natural e o artifi cial devem andar juntos para garantir o bem-estar do homem, bem como o pleno usufruto dos direitos humanos fundamentais. • A proteção do meio ambiente humano é fundamental e afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico em todo o mundo, é desejo urgente dos povos e dever do Estado. • O homem deve realizar a auto avaliação constantemente e continuar descobrindo, desenvolvendo, cirando e evoluindo. Atualmente, a capacidade do homem transformar tudo ao seu redor deve ser utilizada com discernimento e, assim levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento, oferendo a oportunidade de dignifi car sua existência. Aplicado errônea e imprudentemente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser humano e a seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicar-se as provas do dano causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e graves defi ciências, nocivas para a saúde física, mental e social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente naquele em que vive e trabalha. • Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais estão motivados pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo muito abaixo dos níveis mínimos necessários para uma existência humana digna, sem alimentação e vestuário, sem habitação e educação, sem condições de saúde e de higiene adequadas. Assim, os países em desenvolvimento devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo presente suas prioridades e a necessidadede salvaguardar e melhorar o meio ambiente. Dessa forma, os países industrializados devem esforçar-se para reduzir a distância que os separa dos países em desenvolvimento. Nos países industrializados, os problemas ambientais estão geralmente relacionados com a industrialização e o desenvolvimento tecnológico. • O crescimento natural da população evidencia problemas relativos à preservação do meio ambiente, e devem-se adotar as normas e medidas 28 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE apropriadas para enfrentar esses problemas. De todas as coisas do mundo, os seres humanos são a mais valiosa. Eles são os que promovem o progresso social, criam riqueza social, desenvolvem a ciência e a tecnologia e, com seu trabalho transformam continuamente o meio ambiente humano. Com o progresso social e os avanços da produção, da ciência e da tecnologia, a capacidade do homem de melhorar o meio ambiente aumenta a cada dia. • Nesse momento da história devemos orientar nossos atos em todo o mundo com particular atenção às consequências que podem ter para o meio ambiente. Por ignorância ou indiferença, podemos causar danos imensos e irreparáveis ao meio ambiente da terra do qual dependem nossa vida e nosso bem-estar. Com um conhecimento mais profundo e uma ação mais prudente, podemos conseguir para nós mesmos e para nossa posteridade, condições melhores de vida, em um meio ambiente mais de acordo com as necessidades e anseios do homem. As perspectivas de elevar a qualidade do meio ambiente e de criar uma vida satisfatória são grandes. É preciso entusiasmo, mas, por outro lado, serenidade de ânimo, trabalho duro e sistemático. Para chegar à plenitude de sua liberdade dentro da natureza, e, em harmonia com ela, o homem deve aplicar seus conhecimentos para criar um meio ambiente melhor. A defesa e o melhoramento do meio ambiente humano para as gerações presentes e futuras são as metas que humanidade devem perseguir, ao mesmo tempo em que se mantém as metas fundamentais já estabelecidas, da paz e do desenvolvimento econômico e social em todo o mundo e, em conformidade com elas. • Para se alcançar essa meta será necessário que cidadãos e comunidades, empresas e instituições, em todos os planos, aceitem as responsabilidades que possuem e que todos participem equitativamente, nesse esforço comum. Homens de toda condição e organizações de diferentes tipos unidos pelo meio ambiente do futuro, integrando seus próprios valores e a soma de suas atividades. As administrações locais e nacionais e, suas respectivas jurisdições são as responsáveis pelo estabelecimento de normas e aplicações de medidas em grande escala sobre o meio ambiente. Também se requer a cooperação internacional com o objetivo de conseguir recursos que ajudem os países em desenvolvimento a cumprir sua parte nesta esfera. Há um número cada vez maior de problemas relativos ao meio ambiente que, por ser de alcance regional ou mundial ou por repercutir no âmbito internacional comum, exigem uma ampla colaboração entre as nações e a adoção de medidas para as organizações internacionais, no interesse de todos. Assim, a Conferência encarece aos governos e aos povos que unam esforços para preservar e melhorar o meio ambiente humano em benefício do homem e de sua posteridade. 29 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 A partir dessas considerações e recomendações a Conferência de Estocolmo também propôs princípios sobre o Meio Ambiente Humano que serviram de instrumento legal para a construção da legislação ambiental em diversos países. No total foram 26 princípios que norteiam os direitos, deveres e ações para que as sociedades tenham o direito ao Meio Ambiente equilibrado e seguro (ONU, 1972). Veja abaixo os princípios sobre o Meio Ambiente Humano deliberado na Conferência de Estocolmo. • O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e usufruir de condições de vida adequadas e um meio ambiente de qualidade que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo como obrigação proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações atuais e futuras. A este respeito, as políticas que promovem o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas. Apartheid - Sistema de segregação racial adotado na África do Sul a partir de 1948 e que durou 46 anos, e seu fi m ocorreu com a eleição de Nelson Mandela à Presidência do país em 1994. FONTE: Pereira, (2008) • Os recursos naturais da Terra como o ar, a água, a terra, a fl ora e a fauna e os ecossistemas naturais devem ser preservados em benefícios das gerações presentes e futuras através da ordem e planejamento. • Deve-se manter, e sempre que possível restaurar ou melhorar a capacidade da Terra em produzir os recursos vitais renováveis. • É responsabilidade do homem preservar e administrar e assegurar o patrimônio da fl ora e fauna silvestres e seu habitat, que se encontram em intenso perigo na atualidade, devido a uma combinação de fatores. Consequentemente, ao igualar o desenvolvimento econômico deve- se atribuir a importância à conservação da natureza, incluídas a fl ora e fauna silvestre. • Os recursos não renováveis da Terra devem ser utilizados de maneira a evitar seu esgotamento e a assegurar que toda humanidade compartilhe dos benefícios de sua utilização. • Deve-se pôr fi m à descarga de substâncias toxicas ou de outros materiais que liberem calor em quantidades ou concentrações tais que o 30 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE meio ambiente não possa neutralizá-los, para que não se causem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a poluição. • Os Estados devem tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por substâncias que possam pôr em perigo a saúde do homem e a vida marinha, menosprezar possibilidades de derramamento ou impedir outras utilizações ilegítimas do mar. • O desenvolvimento econômico e social é fundamental para assegurar ao homem um ambiente favorável à vida e ao trabalho e, assim, criar na Terra condições necessárias de melhoria da qualidade de vida. • As defi ciências do meio ambiente oriundas das condições de subdesenvolvimento e os desastres naturais colocam graves problemas. A melhor maneira de resolvê-la está no rápido desenvolvimento, mediante a transferência de quantidades consideráveis de assistência fi nanceira e tecnológica que complementem os esforços internos dos países em desenvolvimento e a ajuda apropriada que possam requerer. • Nos países em desenvolvimento devem ser garantidos a estabilidade dos preços e o valor adequado das importações de produtos básicos e de matérias-primas, que são elementos fundamentais para o equilíbrio do meio ambiente, considerando os fatores econômicos e os processos ecológicos. • As políticas ambientais de todos as Estados/Nações devem estar direcionadas para aumentar o potencial de crescimento atual e/ou futuro dos países em desenvolvimento e não devem restringir esse potencial nem colocar obstáculos para a conquista de melhores condições de vida para todos. Os Estados e as organizações internacionais devem tomar decisões pertinentes, como vistas a chegar a um acordo, para enfrentar as consequências econômicas que possam resultar da aplicação de medidas ambientais, seja nos planos nacional e internacional. • Recursos fi nanceiros devem ser destinados para a preservação e melhoramento do meio ambiente considerando as circunstâncias e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento e destinando investimentos para a inclusão de medidas de conservação do meio ambiente, contidos em seus planos de desenvolvimento, bem como a necessidade de oferecer-lhes ajuda sempre que solicitado mais assistência técnica efi nanceira internacional. • Com o objetivo de conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e melhorar as condições ambientais, os Estados devem adotar um enfoque integrado e coordenado de planejamento de seu desenvolvimento, a fi m de que assegure a compatibilidade entre o desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício da população. • O planejamento racional constitui um instrumento essencial para conciliar 31 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 as diferenças que possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente. • Deve-se aplicar o planejamento aos assentamentos humanos e a urbanização com vistas a evitar repercussões prejudiciais sobre o meio ambiente e a obter os máximos benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos. Sobre essa questão, deve-se abandonar os projetos destinados a dominação colonialista e racista. • Nas regiões aonde exista o risco de que a taxa de crescimento demográfi co e/ou as concentrações excessivas de população prejudiquem o meio ambiente ou o desenvolvimento, ou ainda, a baixa densidade de população possa impedir o melhoramento do meio ambiente humano e limitar o desenvolvimento, deve-se ser aplicada políticas demográfi cas que respeitassem os direitos humanos fundamentais e contar com a aprovação dos governos interessados. • Deve-se confi ar às instituições nacionais competentes a tarefa de planejar, administrar e/ou controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fi m de melhorar a qualidade do meio ambiente. • Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social deve-se utilizar a ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade. • Esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado; para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fi m de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. • Devem-se fomentar em todos os países, sobretudo nos países em desenvolvimento, a pesquisa e o desenvolvimento científi cos referentes aos problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais. Neste caso, a livre troca de informação científi ca atualizada e de experiência sobre a transferência deve ser objeto de apoio e de assistência, a fi m de facilitar a solução dos problemas ambientais. As tecnologias ambientais devem ser postas à disposição dos países em desenvolvimento de forma a favorecer sua ampla difusão, sem que constituam uma carga econômica para esses países. • Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de direito internacional, os Estados têm o direito soberano de explorar 32 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE seus próprios recursos em aplicação de sua própria política ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as atividades que se levem a cabo, dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros Estados ou de zonas situadas fora de toda jurisdição nacional. • Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização às vítimas da poluição e de outros danos ambientais que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob o controle de tais Estados causem a zonas fora de sua jurisdição. • Sem prejuízo dos critérios de consenso da comunidade internacional e das normas que deverão ser defi nidas a nível nacional, em todos os casos será indispensável considerar os sistemas de valores prevalecentes em cada país, e, a aplicabilidade de normas que, embora válidas para os países mais avançados, possam ser inadequadas e de alto custo social para países em desenvolvimento. • Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação e em pé de igualdade das questões internacionais relativas à proteção e melhoramento do meio ambiente. É indispensável cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar efi cazmente os efeitos prejudiciais que as atividades que se realizem em qualquer esfera, possam ter para o meio ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios apropriados, respeitados a soberania e os interesses de todos os Estados. • Os Estados devem assegurar-se de que as organizações internacionais realizem um trabalho coordenado, efi caz e dinâmico na conservação e no melhoramento do meio ambiente. • É preciso livrar o homem e seu meio ambiente dos efeitos das armas nucleares e de todos os demais meios de destruição em massa. Os Estados devem-se esforçar para chegar logo a um acordo – nos órgãos internacionais pertinentes – sobre a eliminação e a destruição completa de tais armas. Embora a Conferência de Estocolmo tenha tido grande repercussão mundial as questões levantadas e apontadas nela não foram implementadas, sobretudo, pelos países desenvolvidos que se recusaram a frear seu desenvolvimento e, em detrimento os países em desenvolvimentos não acharam justo ter que arcar com essa responsabilidade sozinhos colocando em risco seu desenvolvimento econômico (SIRVINSKAS, 2019; WAINER, 1993). Nesse período tendo como base as recomendações de Estocolmo, o Congresso Nacional do Brasil, em 31 de agosto de 1981, cria a Lei 6.938 denominada Política Nacional de Meio Ambiente considerada uma das mais importantes legislações de proteção ambiental no mundo. 33 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 3.2 RELATÓRIO DE BRUNDTLAND: NOSSO FUTURO COMUM DE 1987 A Organização das Nações Unidas, em 1983 constituiu a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que tinha como objetivo analisar os rumos que desenvolvimento estava tomando ao redor do mundo e quais seriam as consequências para o Planeta caso não fossem tomadas medidas em prol do meio ambiente. No ano de 1987 a comissão chefi ada pela médica Gro Harlem Brundtland, apresentou um relatório para ONU denominado “Nosso Futuro Comum” ou simplesmente “Relatório de Brundtland” que relatava sobre o cenário atual da época e projeções futuras que o planeta teria pela frente e a urgência para tomadas de novas medidas em defesa do meio ambiente em escala global. Neste relatório é recitada a necessidade de se propor um plano de desenvolvimento sustentável que garanta o desenvolvimento atual e futuro, ou seja, que o uso dos recursos naturais não comprometa a sobrevivência das gerações seguintes. Dessa forma, a relação homem-natureza deve seguir de forma harmonizada e equilibrada assegurando a alimentação e o bem-estar da população. O Relatório de Brundtland propôs uma série de medidas que os países poderiam adotar através de uma legislação própria (Quadro 1). QUADRO 1 - MEDIDAS PROPOSTAS NO RELATÓRIO DE BRUNDTLAND PARA OS PAÍSES 1-Adotar políticas de crescimento populacional 5- Desenvolvimento de tecnologia ecologica- mente corretas para serem usadas em países em fase de industrialização 2- Acesso a água, alimentação e energia 6- Planejamento urbano adequado e oferecer condições para camponeses permanecerem no campo 3- Preservar a biodiversidade e ecossistemas 7- Garantir o acesso saúde, educação e mora- dia. 4- Implementação fontes energéticas renováveisFONTE: FGV (1991) O Relatório recomenda ainda acordos internacionais visando uma melhor integração e comprometimento entre as partes envolvidas com o melhoramento do meio ambiente e melhor qualidade de vida a população global. Entre as medidas propôs-se: a) a elaboração de um plano de desenvolvimento sustentável lideradas por órgãos e instituições fi nanceiras internacionais; b) Proteção de ecossistemas globais pela comunidade internacional, tais como a Antártica e 34 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE oceanos; c) que as Nações Unidas criassem um programa de desenvolvimento sustentável. Cabe destacar que esse relatório foi decisivo para a ONU convocar uma nova conferência mundial para retomar as discussões sobre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico. 3.3 PROTOCOLO DE MONTREAL 1987 Como o mundo não havia seguido as recomendações da Carta de Estocolmo o meio ambiente começa a apresentar sintomas do desenvolvimento desenfreado, ou seja, o vale tudo pelo avanço não estava dando certo, na década de 1980 estudos apontam a destruição da camada de ozônio provocada pela intensa acumulação de gases nocivos ao ozônio sobretudo os CFCs (clorofl uorcarbono) expelidos pelas fábricas que produziam a todo vapor. Em 1985, uma comunidade de nações se reúne em Viena, Áustria, para discutir questões climáticas tendo em vista a proteção da Camada de Ozônio. Nesta reunião foi discutido como os governos tinham obrigação de tomar medidas jurídicas e administrativas que visassem a redução de gases na atmosfera. No ano de 1987 ocorre a conferência na cidade Montreal no Canadá que resultou no documento denominado Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a Camada de Ozônio assinado por 197 Estados Partes (FELDMAN, 1997). Este documento delibera que os países membros são obrigados a apresentarem medidas de redução e/ou eliminação de substâncias que destroem a Camada de Ozônio. O Brasil se compromete com o Protocolo de Montreal através do Decreto Federal nº 99.280 de 06 de junho de 1990. Assim, todos os demais membros se comprometeram em criar uma legislação que regulamentasse a emissão de gases nocivos a camada de ozônio. A Camada de Ozônio é uma fi na camada de gases que envolve a Terra regulando a temperatura e protegendo contra a entrada de raios ultravioleta. Essa proteção é essencial para as condições de vida na Terra. 35 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 1. A partir de meados do Século XX houve uma maior preocupação sobre a relação sociedade-natureza, sobretudo, a respeito das consequências das ações antrópicas sobre o meio ambiente natural. Assim, foram realizados diversos eventos, reuniões, conferências que resultaram em acordos internacionais intermediados pela a Organização das Nações Unidas. A esse respeito, analise as questões abaixo: I. O Relatório Nosso Futuro traz como uma das principais sugestões para lidar com a degradação ambiental a proposta de Desenvolvimento Sustentável. II. A 1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente foi realizada Viena em 1972. III. Desde a conferência ambiental de 1972 vários movimentos ecológicos e entidades de proteção ao meio ambiente têm sido criados, dentre elas: Fundo Mundial para a Natureza – WWF, Greenpeace, SOS Mata Atlântica. IV. O Protocolo de Montreal estabeleceu que os países membros deveriam criar legislação específi ca para regular e diminuir a emissão de gases do efeito estufa. V. A Conferência de Estocolmo promulgou que é dever do Estado, da sociedade civil e das instituições públicas e privadas a responsabilidade de cuidar do meio ambiente. Estão corretas somente as afi rmativas a) I, II, III e IV b) I, III, IV e V c) II, III e IV d) I, II, III e V 3.2 CONFERÊNCIA DA NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO – ECO-92 Tendo várias questões urgentes sobre a degradação da natureza, é convocada uma nova reunião a ser realizada no ano de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como ECO 92. Este é considerado o evento mais importante sobre o tema, além de comemorar os 20 de Estocolmo era preciso 36 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE debater os resultados do Relatório Nosso Futuro Comum e, sobretudo, discutir os rumos do desenvolvimento sustentável. De acordo com dados da ONU compareçam representantes de 179 países que assumiram o compromisso com os 27 princípios deliberados nessa conferência. Abaixo listamos estes princípios que reforçam a importância da elaboração de legislação que proteja o meio ambiente da devastação (ONU, 1992; RADIMD, RIBEIRO, 1992; IPHAN, 1995). 3.2.1 PriNCÍPioS DA ECO – 92 • Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza. • De acordo com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional, os Estados têm o direito supremo de aproveitar seus próprios recursos segundo suas peculiaridades políticas, ambientais e de desenvolvimento e é responsável por zelar pelas atividades realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle para que não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de zonas que estejam fora dos limites da jurisdição. • O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerais presentes e futuras. • O desenvolvimento sustentável será alcançado quando a proteção ambiental for parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste. • Todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atender às necessidades dos povos do mundo. • A situação e necessidades especiais dos países em desenvolvimento, em particular dos países menos desenvolvidos relativo e daqueles ambientalmente mais vulneráveis, devem receber prioridade especial. Ações internacionais no campo do meio ambiente e do desenvolvimento devem, também, atender aos interesses e necessidades de todos os países. • Os Estados devem cooperar em espirito de solidariedade mundial para conservar, proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra. Na medida em que tenham contribuído em graus variados para a degradação do meio ambiente mundial, os Estados têm responsabilidade comuns, mas diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional 37 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões que suas sociedades exercem no meio ambiente mundial, das tecnologias e dos recursos fi nanceiros de que dispõem. • Os Estados devem reduzir e eliminar as modalidades de produção e consumo insustentável e fomentar apropriadas políticas demográfi cas para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado e consequentemente a melhoria na qualidade de vida de todas as pessoas. • Os Estados devem cooperar com vistas ao fortalecimento da capacitação endógena para o desenvolvimento sustentável, pelo aprimoramento da compreensão científi ca por meio do intercâmbio de conhecimento científi co e tecnológico e, pela intensifi cação do desenvolvimento, adaptação, difusão e transferência de tecnologia, inclusive tecnologias novas e inovadoras. • O melhor modo de tratar as questões ambientais é assegurar a participação de todos os cidadãos interessados no nível correspondente. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridadespúblicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar de processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos. Deverá ser proporcionado acesso efetivo aos procedimentos judiciais e administrativos, entre os quais o ressarcimento de danos e os recursos pertinentes. • Os Estados devem promulgar leis efi cazes sobre o meio ambiente. As normas, os objetivos de planejamento e as prioridades ambientais devem refl etir o contexto ambiental e de desenvolvimento a que se aplicam. As normas utilizadas por alguns países podem resultar inadequadas e representar um custo social e econômico injustifi cado para outros, particularmente para os países em desenvolvimento. • Os Estados devem cooperar na promoção de um sistema econômico internacional favorável e aberto que conduza ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável de todos os países, a fi m de abordar da melhor forma os problemas da degradação ambiental. As medidas de política comercial com fi ns ambientais não deveriam constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustifi cável, nem uma restrição velada ao comércio internacional. Deve-se evitar a adoção de medidas unilaterais para solucionar os problemas ambientais que se produzem fora da jurisdição do país importador. As medidas destinadas a tratar dos problemas ambientais transfronteiriços ou mundiais, na medida do possível, devem basear-se em um consenso internacional. • Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros danos 38 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE ambientais. Os Estados devem, ainda, cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de normas de direito internacional ambiental relativa à responsabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. • Os Estados devem cooperar de modo efetivo para desestimular ou prevenir a mudança ou transferência para outros Estados de quaisquer atividades ou substâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudicais à saúde humana. • Com a fi nalidade de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução, de acordo com suas capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de certeza cientifi camente absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar a adoção de medidas e efi cazes, em função dos custos, para impedir a degradação do meio ambiente. • As autoridades nacionais devem procurar incentivar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em consideração o critério de que o que contamina deve, em princípio, arcar com os custos da contaminação, levando devidamente em conta o interesse público e sem distorcer o comércio nem os investimentos internacionais. • A avalição do impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional. • Os Estados devem notifi car imediatamente outros Estados de quaisquer desastres naturais ou outras emergências que possam gerar efeitos nocivos súbitos sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforços devem ser empreendidos pela comunidade internacional para auxiliar os Estados afetados. • Os Estados devem prover oportunamente, a Estados que possam ser afetados, notifi cação previa e informações relevantes sobre atividades potencialmente causadoras de considerável impacto transfronteiriços negativo sobre o meio ambiente e, devem consultar-se com estes tão logo quanto possível e de boa fé. • As mulheres desempenham papel fundamental na gestão do meio ambiente e no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial para a promoção do desenvolvimento sustentável. • Devem ser mobilizados a criatividade, os ideais e a valor dos jovens do mundo para forjar uma aliança mundial orientada a obter o desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos. • As populações indígenas e suas comunidades, assim como outras comunidades locais desempenham um papel fundamental no 39 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL: DOS PRINCÍPIOS AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Capítulo 1 planejamento do meio ambiente e no desenvolvimento, graças aos seus conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e aprovar devidamente sua identidade, cultura e interesses e tornar possível sua participação na obtenção do desenvolvimento sustentável. • O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos à opressão, dominação e ocupação devem ser protegidos. • A guerra é, por sua natureza, contrária ao desenvolvimento sustentável. Os Estados devem, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à proteção do meio ambiente em tempos de confl ito armado e, cooperar para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário. • A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisíveis. • Os Estados devem solucionar todas as suas controvérsias ambientais de forma pacífi ca, utilizando-se dos meios apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas. • Os Estados e os povos devem cooperar de boa fé e imbuídos de um espírito de parceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração e, para o desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo do desenvolvimento sustentável. A partir da promulgação desses princípios a Organização das Nações Unidas fi rma um pacto mundial em defesa do meio ambiente visando o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo alertando todas as nações do mundo da urgência em se criar leis em suas jurisprudências que garantam a preservação, conservação e resiliência dos recursos naturais, além de convocar os Estados da importância do cumprimento dos acordos internacionais e, consequente sanções para aqueles que não respeitarem e/ou descumprirem as normas ambientais internacionais. A ECO 92 foi de extrema importância para a consolidação de um plano de desenvolvimento sustentável, além dos princípios foi elaborado um plano de ação de desenvolvimento econômico e social aliado ao meio ambiente embasado em uma série de estudos de governos e organizações internacionais denominada de Agenda 21. Segundo o Ministério do Meio Ambiente do Brasil a Agenda 21 Global Constitui a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento sustentável”. O termo “Agenda 21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse novo modelo de desenvolvimento para o século XXI. A Agenda 21 pode ser defi nida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográfi cas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e efi ciência econômica (MMA, 2020). 40 LEGiSLAÇÃo AmBiENTAL APLiCADA À SuSTENTABiLiDADE A partir das metas estabelecidas na Agenda 21 os Estados/Nações poderiam traçar seus próprios planos de desenvolvimento sustentável embasados em pelos três pilares: o ambiental, o econômico e social. Para tanto, a interação e cooperação entre os países, regidas pelos acordos internacionais, são fundamentais para o sucesso da Agenda 21, sobretudo, no que se refere a ajuda dos países ricos para os países pobres. A Rio 92 foi de grande magnitude ao mesmo tempo abrigou, ainda, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre a Diversidade Biológicas, além de produzir a Declaração de Princípios para o Manejo
Compartilhar