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INQUÉRITO POLICIAL Professor Danilo Mesquita Investigação Preliminar O Estado ao tomar conhecimento de uma infração penal, no uso do seu jus puniendi, dá início a persecução penal. Assim, o que até então estava somente em um plano abstrato (normas), passa a existir no plano concreto, através da persecução penal, que pode ser compreendida como “conjunto de atividades levadas adiante pelo Estado, objetivando a aplicação da norma penal ao infrator da lei”. Nessa esteira, no Brasil, temos que a persecução penal é composta por uma fase preliminar investigatória e por uma fase judicial. A fase preliminar, na maior parte das vezes é marcada pela existência do Inquérito Policial. O inquérito policial figura como principal instrumento investigatório. Contudo, não se trata do único meio, existindo outras formas, por exemplo, as investigações feitas pelo MP, pelas CPIs e TCO. Inquérito Policial 1-Conceito: Segundo Renato Brasileiro, o inquérito policial deve ser compreendido como sendo “procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de identificar fontes de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”. →É um procedimento administrativo: IP não é processo, mas sim um procedimento. Tendo natureza de procedimento, não resultará na imposição de sanção penal de imediato. Além disso, nessa fase não há observância do contraditório. Também vemos que o IP é realizado pela polícia judiciária, que é órgão do poder executivo. →É um procedimento inquisitório e preparatório: não há na fase do inquérito policial direito ao contraditório. Prepara, através de elemento de informação uma possível e futura ação penal. →Presidido pela Autoridade Policial: o inquérito policial será presidido pela autoridade policial, referindo-se à “pessoa” do Delegado de Polícia. Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. →Objetivo de identificar fontes de prova e colher elementos de informação: inicialmente, cumpre destacar que as expressões fontes de prova e elementos de informação não possuem o mesmo sentido. Nessa linha, fontes de prova são todas pessoas ou coisas que tem algum conhecimento sobre o fato delituoso, são anteriores ao processo e tem sua existência independentemente do próprio processo. Difere das fontes de prova, os elementos de informação. À luz do art. 155 do CPP, o que é colhido durante o inquérito policial são “elementos de informação”. O termo prova deve ser resguardado para a fase judicial, aquilo que é produzido em juízo com observância do contraditório. Prova: aquilo que é produzido em contraditório judicial. Elementos informativos: colhidos na investigação. ( materialidade e autoria da infração). Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. →Finalidade de subsidiar ação penal Dupla função do IP: Função preservadora: a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado. Assim, através da instauração do IP tenta-se impedir a instauração de processos penais levianos, sobre pessoas inocentes. Função preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo. *******Candidato, qual a natureza jurídica do Inquérito Policial? Trata-se de um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. Não é processo judicial, pois dele não resulta diretamente a imposição de sanção penal. Em virtude disso, não há que se falar em contraditório ou ampla defesa nessa etapa. Por tratar-se de procedimento, eventual vício constante do inquérito, não anulará posterior processo em fase seguinte (não contamina a fase judicial). Elementos Informativos Provas - Colhidos na fase investigatória (IP, PIC, etc.). - Em regra, produzido na fase judicial sob o crivo do contraditório judicial. É a regra, porque existem situações excepcionais em que a prova seria produzida sem ser na fase judicial. - Não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa; (mesmo com o advento da Lei nº 13.245/2016). - É obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa. - O juiz deve intervir apenas quando necessário, e desde que seja provocado nesse sentido. Em nosso Ordenamento Jurídico não se admite a atuação de oficio do magistrado na fase investigatória. - A prova deve ser produzida na presença do juiz. A presença pode ser direta ou remota. Durante o processo, o juiz é dotado de certa iniciativa probatória, a ser exercida de maneira residual. Art. 212, CPP. Finalidade: úteis para a decretação de medidas cautelares e auxiliam na formação da opinio delicti (convicção do titular da ação penal). Finalidade: Auxiliar na formação da convicção do juiz. O art. 155 menciona que o juiz deve se valer da prova para formar sua convicção. →Sistema do livre convencimento motivado Obs.1: O fato de o advogado assistir o investigado na fase do inquérito policial não retira daquele a característica de ser “elemento informativo”. Obs.2: O juiz não deve atuar de ofício na fase investigatória, sob pena de violação ao sistema acusatório e do princípio da imparcialidade. Na fase investigatória o juiz deve intervir apenas quando necessário, e desde que seja provocado nesse sentido. Obs.3: O juiz pode fundamentar sua decisão com base apenas nos elementos informativos? Nos termos do art. 155 do CPP, não pode ser se for exclusivamente. O JUIZ NÃO PODE CONDENAR COM BASE APENAS com o que consta no IP, pode utilizá-lo de maneira a complementá-lo. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Diante do exposto, temos que “elementos informativos, isoladamente considerados, não podem fundamentar uma sentença. Porém, tais elementos não devem ser desprezados durante a fase judicial, podendo se somar à prova produzida em juízo para auxiliar na formação da convicção do magistrado”. Provas cautelares Provas antecipadas Provas não-repetíveis São aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do decurso do tempo. Fácil perecimento. São de natureza urgente. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido. Exemplo: interceptação telefônica. Precisa de ser produzida de imediato, sob risco de É aquela que uma vez produzida não tem como ser novamente coletada e razão do desaparecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Não dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido. Exemplo: Exame de corpo de delito em infração penal cujos vestígios podem desaparecer. São aquelas que não podem ser produzidas novamente na fase processual. Situação de urgência e relevância. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fasejudicial. Dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será real. Exemplo: Art. 225, CPP. Testemunha que está correndo risco de morte. perecer. - Lei nº. 12.830/2013 – LEI DO DELEGADO DE POLÍCIA Art. 2º. As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. §1º. Ao delegado de polícia, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo, a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. Embora a atribuição da presidência do inquérito policial seja exclusiva da polícia, existem outros meios de investigação que poderão ser feitos por outro órgão, que não a Polícia Judiciária. (Ex. Ministério Público realiza PIC - Procedimento Investigatório Criminal). §2º. Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. §4º. O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia das investigações. →Os Delegados de Polícia não são dotados da garantia da independência funcional, inamovibilidade. →Na hipótese de avocação ou redistribuição será necessário a fundamentação (... mediante despacho fundamentado). §5º. A remoção do Delegado dar-se-á somente por ato fundamentado. A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado. (§5º, Art. 2, Lei 12.830/13). Isto porque Delegado de Polícia não é dotado da garantia da inamovibilidade. Decisão →somente por ATO OU DESPACHO FUNDAMENTADO! 2- Natureza do crime e atribuição para as investigações a) Crime militar da competência da Justiça Militar da União: as investigações serão realizadas pelas Forças Armadas através de um inquérito policial militar, no qual um oficial será designado como encarregado. b) Crime militar da competência da Justiça Militar Estadual: as funções de polícia judiciária serão exercidas pela Polícia Militar ou pelo Corpo de Bombeiros – oficial designado como encarregado. c) Crime “Federal”: crimes da competência da Justiça Federal (aqueles que estão listados nos incisos do art. 109 CF): as investigações ficarão a cargo da Polícia Federal. d) Crime comum da Competência da Justiça Estadual: em regra, a investigação será realizada pela Polícia Civil. *******A Polícia Federal também pode investigar crimes da competência da Justiça Estadual, desde que tais delitos sejam dotados de repercussão interestadual ou internacional e houver previsão legal. Nesse sentido, proclama a Constituição Federal: CF, Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. →Terrorismo (Legislação especial): o art. 11 da Lei n. 13.260/16 atribui à Polícia Federal a atribuição para investigar os crimes ali previstos. Vejamos: Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal. 3- Características do nquérito Procedimento Escrito Art. 9º, CPP Procedimento Dispensável Art. 39, §5º, CPP Procedimento Sigiloso Art. 20, CPP Procedimento Inquisitorial Procedimento Discricionário Art. 14, CPP Procedimento Indisponível Art. 17, CPP Procedimento Temporário Art. 10, CPP Procedimento escrito: é um procedimento que deve ser documentado. Tem que documentar e relatar todos os elementos que foram encontrados. Nesse sentido, dispõe o artigo 9º do Código de Processo Penal: Art. 9º. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. Será que atos do inquérito podem ser gravados pelo Delegado? Importante destacar que com a inovação dos recursos é possível ainda que atos do Inquérito sejam gravados!!! Procedimento dispensável: se houver como formar a justa causa (lastro probatório mínimo que demonstre os indícios mínimos de autoria e materialidade do crime), que não pelo inquérito policial, poderá este último ser dispensado. Assim, se já houver uma peça de informação com todos os elementos necessários de autoria e materialidade do crime, o inquérito poderá ser dispensado. Nesse sentido, dispõe o art. 39, § 5º do CPP: Art. 39, §5º. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. Sigiloso: o artigo 20, do CPP dispõe que a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Nas investigações, EM REGRA, o inquérito policial deve ser conduzido de maneira sigilosa. O sigilo é importante para assegurar a eficácia das investigações, por exemplo, não pode divulgar a decretação da interceptação telefônica, sob pena da prova restar prejudicada. É sabido que a CF, em seu art. 93, IX garante o direito a publicidade. Contudo, o princípio da publicidade é válido na fase judicial da persecução penal. Exceção: Publicidade – Retrato Falado: O retrato falado chega a ser, inclusive, importante para o desenvolvimento das investigações a publicidade nesta hipótese. Nesse caso, a publicidade é de caráter importante para constatar outras pessoas que foram vítimas daquele criminoso. ******Acesso do Advogado aos autos do Inquérito Policial O advogado tem acesso aos autos do Inquérito Policial? Precisa de procuração? Precisa de autorização Judicial prévia? Qual o grau de acesso? CF, art. 5º. LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado. Estatuto da OAB, Art. 7º – São direitos do advogado: XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, MESMO SEM PROCURAÇÃO, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. §10º. NOS AUTOS SUJEITOS A SIGILO, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos que trata o inciso XIV. Desnecessidade de Procuração. Em regra, não há necessidade de procuração. SALVO quando houver informações sigilosas, ligadas a intimidade ou a vida privada do investigado naqueles autos. Logo a necessidade de procuração é medida excepcional, imprescindível quando tiver informações sigilosas. Vamos esquematizar a informação? Regra Exceção Advogado tem acesso, mesmo SEM procuração. Autos sujeitos a SIGILO, advogado deve APRESENTAR a procuração. Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado,ter acesso amplo aos elementos de prova que, JÁ DOCUMENTADOS em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Qual seria a amplitude do advogado aos autos da investigação reliminar? O acesso está restrito as diligências JÁ DOCUMENTADAS, e não aquelas ainda em andamento. Inquisitorial: o inquérito policial é um procedimento inquisitorial posto que não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa. →A Lei nº 13.245/2016, assegurou a assistência de advogado ao investigado. Contudo, esse direito não lhes retira o caráter de procedimento inquisitorial. Procedimento discricionário: discricionariedade significa liberdade de atuação dentro dos parâmetros legais. Existe uma liberdade de atuação da Autoridade Policial nos limites traçados pela lei. Por exemplo, ao teor dos arts. 6 e 7º do CPP, consta um rol exemplificativo de diligências que poderão ser realizadas pelo Delegado de Polícia. Não há um rito procedimental rígido que deve ser observado pelo Delegado, trata-se de rol exemplificativo. Assim, a diligência será realizada ou não, a cargo da liberdade de atuação da autoridade. A discricionariedade não pode ser confundida com arbitrariedade. Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade. Exceção: pedido de exame de corpo de delito por alguma das partes. Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. ********Mitigação da discricionariedade, diante do poder de requisição do Ministério Público O Artigo 129, VIII da Constituição Federal dispõe que “são funções institucionais do Ministério Público: requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos ...” trata-se do poder de investigação do Ministério Público. →O art.129, VIII da CF, confere ao Ministério Público o poder de requisitar diligências investigatórias. Se o poder discricionário do Delegado fosse absoluto, não seria obrigado este a atender as requisições do órgão Ministerial. Cumpre destacar que a requisição deve ser legal sob pena do Delegado não ser obrigado a cumprir. Cabe ao Delegado, na hipótese de requisição ilegal, recusar-se ao seu cumprimento, tomando as medidas necessárias, tais como comunicação aos órgãos correcionais do Ministério Público. Procedimento indisponível: significa que a autoridade policial, uma vez instaurado o referido procedimento, não poderá mandar arquivar autos do inquérito. Art. 17 do CPP. Art. 17 do CPP - A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito ******O Delegado NÃO PODE arquivar o inquérito.***** Procedimento temporário: o inquérito policial é um procedimento temporário, isso porque ele possui prazo determinado para ser encerrado. O prazo para conclusão do inquérito irá variar conforme a situação prisional do investigado, se solto ou se preso, é o que dispõe o art. 10 do CPP. Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. ****Doutrina moderna defende que a garantia da razoável duração do processo também se aplica ao inquérito policial, evitando-se com isso inquéritos “eternos”, por exemplo, trancamento do Inquérito policial pelo fato do referido já vim tramitando há mais de 7 anos para que a Denúncia fosse oferecida.***** 4- Formas de instauração do Inquérito Policial Sobre as formas de instauração do inquérito, é imprescindível o conhecimento da espécie de ação penal a que aquele delito está sujeito, pois, a depender da espécie de ação penal, a instauração dependerá ou não do requerimento ou representação da vítima. Instauração do IP nos crimes de ação penal pública condicionada ou de ação de iniciativa privada (crimes contra honra, por exemplo): Nesses casos, o inquérito policial não pode ser instaurado de ofício. O crime de estupro, por exemplo, em regra, depende de representação da vítima. Os crimes contra a honra, por seu turno, dependem de requerimento da vítima. Desse modo, nesses casos, a instauração do inquérito, igualmente, depende de prévia manifestação da vítima. ****** Nos casos de crimes de ação penal privada, a instauração do inquérito policial depende de REQUERIMENTO da vitima ou seu representante legal, enquanto que os de ação penal condicionada, dependem de REPRESENTAÇÃO do ofendido.****** Instauração do IP nos crimes de ação penal pública incondicionada: a. De ofício: nos crimes de ação penal pública incondicionada a instauração do IP poderá ocorrer de ofício, isso porque o Delegado de Polícia também está vinculado ao princípio da obrigatoriedade, de modo que, a partir do momento que ele toma conhecimento da existência de um crime de ação penal pública incondicionada ele é obrigado a agir. Deve-se lavrar a PORTARIA – peça inaugural do inquérito policial. b. Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: a PEÇA INAUGURAL será a própria REQUISIÇÃO MINISTERIAL ou JUDICIAL. Porém, nada obsta que seja elaborada Portaria. c. Requerimento do ofendido ou de seu representante legal: na hipótese de requerimento do ofendido ou de seu representante legal, a peça inaugural é a PORTARIA. Nessa esteira, diante do requerimento, o Delegado de Polícia deve verificar a procedência das informações, de modo a evitar a instauração de um inquérito abusivo/temerário. d. Notícia oferecida por qualquer do povo: qualquer pessoa do povo, ao tomar conhecimento da prática de crime de ação penal incondicionada pode levá-lo ao conhecimento do Delegado, o qual, verificado a procedência das informações, deverá instaurar inquérito através da peça inaugural, qual seja, a PORTARIA. e. Auto de Prisão em Flagrante – APF – As peças iniciais do IP será o próprio APF. 5- Notitia criminis Conceito: é o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, ao Mp ou ao Magistrado acerca de um fato criminoso. Trata- se do conhecimento por parte do Delegado de um fato criminoso. Espécies de notitia criminis De cognição espontânea/direta: a autoridade policial toma conhecimento do crime através de suas atividades rotineiras. Exemplo: interceptação telefônica sobre determinado delito e descoberta fortuita de elementos quanto a outros delitos. De cognição provocada/indireta: a autoridade policial toma conhecimento do crime através de um expediente escrito. Ex: encaminhamento de ofício por outro órgão público informando a notícia de um possível crime; requerimento do ofendido; requisição do juiz ou do MP. De cognição coercitiva: nesse caso a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso através da apresentação de indivíduo preso em flagrante. Notitia criminis inqualificada: também denominada de “denúncia anônima ou apócrifa”. A Jurisprudência entende que a denúncia anônima por si só não pode levar a instauração de um inquérito policial. Assim, antes de ser instaurado um inquérito policial, incube ao Delegado verificar a procedência das informações. →Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes de instaurar o inquérito policial, verificar a procedência e veracidade das informações por ela veiculadas. →A denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de inquérito policial, mas, a partir dela, pode a polícia realizar diligências preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente e, então, instaurar o procedimento investigatóriopropriamente dito. Portanto, as formas de instauração de IP são: 1- De ofício 2- Requisição do MP ou Juiz 3- Requerimento do Ofendido 4- Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante ***** Incomunicabilidade: o indivíduo fora preso e não poderá se comunicar com ninguém. O artigo 21 do CPP dispõe isso! Porém o artigo 21 do CPP não foi recepcionado pela Constituição de 1988. 6- Identificação Criminal Obrigatoriedade da Identificação Criminal Nos termos da Constituição Federal, art. 5º, LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, SALVO nas hipóteses previstas em lei. (E que lei é essa? A Lei nº 12.037)! Espécies de Identificação: a) Identificação fotográfica: através de fotografia. b) Identificação datiloscópica: através da colheita das impressões digitais. c) Identificação do perfil genético (como meio de prova): material biológico para que possa identificar o acusado. A identificação do perfil genético fora introduzida com o advento da Lei nº. 12.654/2012. **** sempre que for essencial à apuração da infração, poderá o juiz, de ofício, ou mediante representação da autoridade policial ou, ainda, a requerimento do Ministério Público ou da defesa, determinar a coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do investigado ou réu (art. 5º, parágrafo único, da Lei n. 12.037/2009). É importante lembrar, portanto, que esse meio de identificação criminal, ao contrário do que ocorre com a identificação dactiloscópica e fotográfica, só pode ser adotado por decisão judicial, ainda que no curso da investigação policial. Se determinada a coleta de material biológico, a extração da amostra deve ser realizada por técnica indolor, para, em seguida, realizar-se o cotejo do perfil genético do investigado com o do material apreendido.**** Assim: - Aquele que for civilmente identificado, não será submetido a identificação criminal. Entretanto, ainda que tenha sido identificado civilmente, nas hipóteses previstas em lei é possível se exigir também a identificação criminal (ainda que identificado civilmente). E quais as hipóteses em que será admitida a identificação? A Lei nº 12.037/2009 elenca hipóteses em que autorizam a identificação criminal independentemente de anterior identificação civil. Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; (por exemplo: registro de nascimento, haja vista que esse não apresenta foto). III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente (autorização judicial), que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa; V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado. A identificação criminal na hipótese da alínea IV, está sujeita a chamada cláusula de reserva de Jurisdição. 7- Diligências do IP Após a instauração do inquérito, a autoridade deverá determinar a realização das diligências pertinentes ao esclarecimento do fato delituoso. Assim, os arts. 6º e 7º do Código de Processo Penal elencam um rol de diligências em rol exemplificativo que devem ser observadas, desde que cabíveis no caso concreto. O art. 6º dispõe que, logo que tomar conhecimento da prática da infração penal, a autoridade deverá: I-dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter; X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. Quanto a reprodução simulada dos fatos, é a famosa reconstituição do crime e tem a finalidade de verificar se a infração foi praticada de determinado modo. O suspeito não é obrigado a participar, mas é obrigado a comparecer. 8- Indiciamento Conceito: indiciar significa apontar o dedo para alguém, no sentido de aponta-lo como provável autor do delito. Nessa esteira, segundo Renato Brasileiro, indiciar consiste em atribuir a alguém a autoria ou participação em determinada infração penal. Momento: é exclusivo da fase investigatória!! Competência: é privativo da autoridade policial. Ninguém pode determinar que o delegado indicie alguém. Fundamentos: para que o sujeito seja indiciado é necessário o mínimo de elementos informativos quanto a autoria e materialidade. Não pode ser um ato http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#livroitituloviicapituloiii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#livroitituloviicapituloiii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art41 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art41 arbitrário do Delegado de Polícia. INDICIOS DE AUTORIA + PROVA DO CRIME/MATERIALIDADE= FUMMUS COMISSI DELICTI Desindiciamento: trata-se do ato de cassação ou revogação de anterior indiciamento. Pode ser feito não apenas pelo Delegado, mas também pelo poder judiciário, uma vez verificado a ilegalidade daquele indiciamento. → O indiciamento é privativo do Delgado, mas o desindiciamento pode ser feito pelo próprio Delegado, mas também poderá ser feito pelo Poder Judiciário se acaso reconhecido constrangimento ilegal no julgamento de um Habeas corpus. 9 -Prazo para conclusão do Inquérito Policial O prazo para conclusão do inquérito irá variar conforme a situação prisional do investigado, se solto ou se preso. PRAZO PRESO SOLTO JUSTIÇA ESTADUAL 10 improrrogável 30 prorrogável JUSTIÇA FEDERAL 15 + 15 30 prorrogável JUSTIÇA MILITAR 20 40 + 20 LEI DE DROGAS 30 + 30 90 + 90 CRIMES HEDIONDOS E PRISÃO TEMPORARIA 30+30 10- Relatório do IP realizado pelo Delegado Conceito: peça elaborada pela autoridade policial (Delegado de Polícia), de conteúdoeminentemente descritivo, onde deve ser feito um esboço das principais diligências realizadas na investigação criminal. PEÇA DESCRITIVA. A produção do relatório policial não é condição indispensável para o oferecimento da denúncia. Se nem mesmo o IP é indispensável para o oferecimento da ação penal, imagina o relatório. Contudo, trata-se de um dever legal do Delegado, sob pena de ser responsabilizado disciplinarmente. É preciso destacarmos que, em regra o Delegado deve se abster de dar uma opinião, já que o promotor é o titular da ação, mas cuidado com uma exceção, qual seja, a Lei de drogas, pois ela exige do Delegado uma opinião acerca da classificação, ou seja, se se trata de tráfico de drogas ou porte de drogas para consumo pessoal. Logicamente, esta opinião do Delegado de Polícia não vincula o órgão ministerial nem tampouco o juiz. 11- Destinatário dos autos do IP Conforme dispõe o §1º, do artigo 10 do CPP, “a autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente”. Nos moldes do previsto no CPP a tramitação dos autos é a seguinte: sai da polícia até o juiz, e do juiz ao Ministério Público; do MP retorna ao Juiz que retorna a Polícia. DESTINATARIO IMEDIATO: MP DESTINATARIO MEDIATO: JUIZ Nota-se que que essa tramitação do inquérito pelo judiciário é evidente causa de excesso de prazo. Por isso, vários juízos já estão entendendo que não precisa passar pelos juízes. Nessa linha, a Resolução n. 63/2009 do Conselho da Justiça Federal trata da possibilidade de tramitação direta, ou seja, salvo hipóteses em que houver necessidade de intervenção judicial, os autos devem tramitar diretamente entre a Polícia e o Ministério Público. Da posse do IP, o MP terá as seguintes opções: Iniciar a ação penal (denuncia); requisitar novas diligências a polícia e ou requerer o arquivamento do IP. 12- ARQUIVAMENTO DE IP: O IP para de tramitar sem chegar em um resultado final prático; vai para o “arquivo”. Quando o MP entender que o IP não obteve êxito, não prova nada quanto a fato ou quanto à autoria, nem existe, no momento, expectativa de que novas diligências vão mudar esse cenário. - Não pode ser arquivado pelo Delegado de Polícia, conforme dispõe o art. 17 do CPP. (INDISPONIBILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL); - O inquérito policial não pode ser arquivado de Ofício pelo juiz; - O arquivamento é uma decisão judicial resultado do consenso entre o magistrado e o Ministério Público. O Ministério Público promoverá o pedido de arquivamento; em sequência, o magistrado irá avaliar o referido pedido, e em concordando, homologa a promoção de arquivamento. MP requer arquivamento. Se o Juiz concorda, homologa. Se não concorda, encaminha o IP ao Procurador Geral. Este vai decidir definitivamente. Ou manda arquivar ou oferece denuncia ou determina que outro membro do Mp denuncie. Art. 28 do CPP. - Importante salientar que o chamado PACOTE ANTICRIME, Lei 13964 de 2019, modificou a sistemática do arquivamento do IP. Passou a ser feito dentro do âmbito interno do Ministério Público, que é o titular da ação penal, sem qualquer interferência do poder judiciário. Acontece que, neste ponto, o STF suspendeu a eficácia do normativo. Fundamentos para se arquivar um IP: 1- Falta de justa causa (indícios de autoria e materialidade) 2- Atipico 3- Excludentes de ilicitude 4- Excludentes de culpabilidade, exceto inimputabilidade 5- Excludentes de punibilidade De outro ponto, devemos destacar duas formas de arquivamento trazidos pela doutrina brasileira: Arquivamento Implícito: O arquivamento Implícito ocorre quando o parquet (ministério público) não inclui na denúncia um indiciado, ou em se tratando de mais de um crime, não inclui todos eles. A exemplo da denúncia em face de três acusados, porém a mesma é oferecida apenas em face de dois deles; na mesma casuística, suponha que a denúncia seja oferecida em face de três indivíduos acusados de praticar dois crimes distintos, mas o Ministério Público, na denúncia, imputa-lhes a prática de somente um crime. Não oferece, portanto, a denúncia em sua totalidade, mas também não solicita o arquivamento do inquérito em relação aos demais indiciados ou demais fatos. Essa forma de arquivamento não é aceita pelo nosso ordenamento jurídico, assim, o STF já se manifestou contrário ao arquivamento implícito, dentre outras razões, em face do postulado da indisponibilidade da ação penal pública. Arquivamento Indireto: O arquivamento indireto ocorre quando o juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, fundamentado em razões de incompetência da autoridade jurisdicional, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento. Quando o magistrado não concorda com o pedido de declinação de competência formulado pelo órgão ministerial, não pode obrigar o Ministério Público a oferecer denúncia, sob pena de violação a sua independência funcional (CF, art. 127, § Io). Há, assim, um impasse, porque o juiz se recusa a remeter os autos a outro juízo, por se considerar competente para o feito, ao passo que o órgão do Ministério Público recusa-se a oferecer denúncia, porque entende que a autoridade judiciária não é o juiz natural da causa. Nesse caso, deve o juiz receber a manifestação como se tratasse de um pedido indireto de arquivamento, aplicando, por analogia, o quanto disposto no art. 28 do CPP: os autos serão remetidos ao órgão de controle revisional do Ministério Público, seja o Procurador- Geral de Justiça, no âmbito do Ministério Público dos Estados, seja a Câmara de Coordenação e Revisão, na esfera do Ministério Público da União. É este o denominado arquivamento indireto. 13- Diferença entre IP x TCO: O inquérito policial é instaurado para apurar infrações penais que tenham pena superior a 2 anos, já que, no caso das infrações de menor potencial ofensivo, determina o art. 69 da Lei n. 9.099/95 a mera lavratura de termo circunstanciado. As infrações de menor potencial ofensivo são os crimes com pena máxima não superior a 2 anos e as contravenções penais (art. 61 da Lei n. 9.099/95). Todavia, que, se a infração de menor potencial ofensivo cometida revestir-se de alguma complexidade, inviabilizando sua apuração mediante termo circunstanciado, será, excepcionalmente, instaurado inquérito policial que, posteriormente, será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. Além disso, nos termos do art. 41 da Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), todas as infrações que envolvam violência doméstica ou familiar contra a mulher se apuram mediante inquérito policial, ainda que a pena máxima não seja superior a 2 anos.
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