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TIAGO SCHUH BECK CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS Santa Maria 2015 INTRODUÇÃO Tendo como escopo de estudo Cidadania e Direitos Humanos, o objetivo geral desta pesquisa é analisar a evolução dos direitos humanos com o passar dos tempos, bem como suas diferentes dimensões, além de mostrar o que se entende por direitos humanos nos dias atuais. Desta forma, de modo a contextualizar o tema, em um primeiro momento será analisado os principais marcos históricos que contribuíram para a evolução dos direitos humanos, destacando-se a Constituição dos Estados Unidos, a qual o povo passou a delegar poder a seus representantes, bem como o término da Segunda Guerra Mundial, período em que ocorreu o Tribunal de Nuremberg, o qual foi fundamental para a internacionalização dos direitos humanos. Logo após, trar-se-á o conceito de direitos humanos, destacando-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual tem uma importância mundial, apesar de não obrigar juridicamente que todos os Estados a respeitem. Em seguida, estabelecera-a uma distinção entre direitos humanos, direitos fundamentais e direitos dos homens. Após isso, será feita uma relação entre direitos humanos e Cidadania. Depois, analisar-se-á as diferentes dimensões dos direitos humanos, com destaque para os Direitos Trabalhistas, decorrentes da segunda dimensão. Por fim, serão analisados dois casos de violações aos direitos humanos, ocorridos no Brasil Como técnica de pesquisa será utilizada a bibliográfica, mediante a leitura de artigos, livros, periódicos e demais materiais já publicados. 3 1 MARCOS HISTÓRICOS “A evolução histórica dos direitos inerentes à pessoa humana também é lenta e gradual. Não são reconhecidos ou construídos todos de uma vez, mas sim conforme a própria experiência da vida humana em sociedade [...]1”. 1.1 Código de Ur-Nammu Pertencente à suméria, o código de ur-nammu traz o princípio da reparabilidade, equivalente atualmente aos chamados danos morais. 1.2 Código de Hamurabi Surge com o intuito de disciplinar a vida em sociedade Assírio/Babilônica. Apesar de ser visto como opressor, na época foi uma conquista, em virtude de que não havia regras até então. Também, estabelecia a divisão de classes. Já, quanto às leis criminais, vigorava a “lex-talionis”, conhecida como “olho por olho, dente por dente”. 1.3 Lei das Doze Tábuas A Lei das Doze Tábuas foi um conjunto de regras da vida do povo Romano, compiladas e publicadas por Justiniano, tendo sido escritas pelos magistrados da época. Sua influência se deu no Direito Moderno, com o nascimento da publicidade das normas e o estabelecimento de regras de Direito Processual. Além do mais, foi uma das primeiras leis que ditavam normas eliminando as diferenças de classes, tendo como consequência o nascimento do princípio da igualdade. 1.4 Magna Carta A Magna Carta surgiu em virtude de sucessivos fracassos do Rei Inglês João, levando os barões ingleses a se revoltar e a impor limites ao poder real. Portanto, destaca-se o 1 PEREIRA, D.S.; PICCIRILLO, M.B. Direitos fundamentais: a evolução histórica dos direitos humanos, um longo caminho. Âmbito Jurídico. Disponível em: < http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5414>. Acesso em: 1 set. 2015. 4 fim do absolutismo, uma vez que os barões ingleses obrigaram o Rei a ceder direitos em prol da legalidade. O rei se tornou submisso à lei. Trouxe ainda a proteção de direitos e garantias, Habeas Corpus, direito de propriedade e do devido processo legal. Em relação ao Habeas Corpus, trouxe apenas a previsão. Mais tarde, foi criada a Lei do Habeas Corpus na Inglaterra, esta sim detalhada. A Magna Carta também trouxe a previsão de que a ninguém será negado direito e justiça. 1.5 Bill of Rights Redigida pelo Parlamento, determinou o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada. Há o nascimento da divisão dos poderes, além do parlamento possuir o direito exclusivo em estabelecer impostos. 1.6 Declaração de Direitos do Povo da Virgínia A Declaração de Direitos do Povo da Virgínia teve Inspiração iluminista e contratualista, precedendo a declaração de independência dos Estados Unidos. Sua importância se dá em virtude de ter sido o primeiro documento a manifestar princípios democráticos, sendo a soberania popular – todo o poder emana do povo –, além de direitos inerentes a todo o ser-humano. Ademais, pela primeira vez se entende que a felicidade é um direito do ser-humano. Por outro lado, o governo passa a ser instituído pelo povo, e caso venha a falhar, poderá sofrer o que conhecemos hoje como “impeachment”. 1.7 Declaração de Independência dos Estados Unidos A Declaração de Independência dos Estados Unidos foi inspirada na declaração do povo da Virgínia e no Iluminismo. Serviu de inspiração para os direitos humanos de todo o mundo. O direito à vida, à liberdade e da busca da felicidade passam a ser inalienáveis. 1.8 Constituição dos Estados Unidos 5 A Constituição dos Estados Unidos introduziu o sistema presidencialista. Também, deu início às eleições, com consequente mandato de quatro anos. Destaca-se, ainda, que o povo passou a delegar poder aos representantes. 1.9 Revolução Francesa A Revolução Francesa surgiu com o lema liberdade, igualdade e fraternidade. Surge a declaração de direitos do homem e do cidadão, a qual traz o respeito pela dignidade das pessoas, a liberdade e igualdade dos cidadãos perante a lei, início da laicidade do Estado, liberdade de pensamento e opinião, entre outros. Além do mais, tornou-se parâmetro para a Constituição Francesa, a qual estabelece a divisão dos poderes em legislativo, executivo e judiciário. 1.10 Primeira Guerra Mundial Na Primeira Guerra Mundial destacam-se o Tratado de Versalhes, a criação da Liga das Nações, a OIT – Organização Internacional do Trabalho - e os 14 pontos de Wilson. 1.11 Segunda Guerra Mundial Nunca os direitos humanos estiveram tão próximos da extinção. O extermínio de milhões de judeus – Holocausto - nos terríveis campos de concentração, fez o mundo clamar por mudanças. Portanto, após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi criado o Tribunal de Nuremberg, a fim de julgar os nazistas por crimes contra a humanidade. O julgamento foi a principal ponte de internacionalização dos direitos humanos, uma vez que, pela primeira vez, condenava-se no âmbito internacional, legalmente e politicamente, passando a ser uma questão de grande interesse da comunidade internacional, e não mais somente do Estado. Outro importante marco foi a criação da ONU – Organização das Nações Unidas -. Em 10 de Dezembro de 1948, por recomendação da ONU, surgiu a declaração universal dos direitos humanos, sendo o Brasil o primeiro País a aderir. 6 2 O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS? “Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos – simplesmente por ser um humano -, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição”2. Neste contexto, há uma proteção – pela lei de direitos humanos - em ações que interferem na dignidade humana e em liberdades fundamentais. Normas gerais do direito internacional que visam à proteção dos direitos humanos não possuem efeito vinculativo legal sobre os Estados. Entretanto, elas representam um consenso amplo por parte da comunidade internacional e, portanto, têm uma força moral forte e inegável em termos na prática dos Estados, em relação a sua conduta das relações internacionais. Neste contexto, “a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem uma importância mundial, apesar de não obrigar juridicamente que todos os Estados a respeitem”3.2.1 Direitos humanos x direitos fundamentais x direitos do homem É de suma importância destacar a diferença de nomenclaturas. Os direitos do homem remetem à época do surgimento do jusnaturalismo, onde “bastava ser homem para possuir direitos e usufruí-los4”. Entretanto, tal nomenclatura passou a receber diversas críticas, pois remetia tão somente ao sexo masculino. “Dessa maneira, após várias oposições com relação à nomenclatura adotada, os direitos do homem passaram a ser chamados de direitos fundamentais, os quais se ocupam do plano constitucional e visam assegurar e proteger os direitos inerentes a cada ser humano para que possam usufruir de uma vida digna”5. No que tange aos direitos fundamentais e aos direitos humanos, estes têm sua proteção fundamentada em todo um processo histórico de luta contra o poder e de busca de um sentido para a humanidade. Já, no que se refere aos direitos fundamentais, estes nascem a partir da positivação dos direitos humanos. Assim, 2 _____________Declaração Universal dos Direitos Humanos. O que são os Direitos Humanos? Disponível em: < http://www.dudh.org.br/definicao/>. Acesso em: 1 set. 2015. 3 _____________Significados.com.br. O que são Direitos Humanos. Disponível em: < http://www.significados.com.br/direitos-humanos/. Acesso em: 1 set. 2015. 4 BELLINHO, L.A. Uma evolução histórica dos direitos humanos. Unibrasil. Disponível em: < http://www.unibrasil.com.br/arquivos/direito/20092/lilith-abrantes-bellinho.pdf>. Acesso em: 1 set. 2015. 5 BELLINHO, L.A. Uma evolução histórica dos direitos humanos. Unibrasil. Disponível em: < http://www.unibrasil.com.br/arquivos/direito/20092/lilith-abrantes-bellinho.pdf>. Acesso em: 1 set. 2015. 7 a expressão direitos humanos tem sido utilizada pela doutrina para identificar os direitos inerentes à pessoa humana na ordem internacional, enquanto que a expressão, direitos fundamentais refere-se a ordenamentos jurídicos específicos, ao reconhecimento de tais direitos frente a um poder político, geralmente reconhecidos por uma constituição.6 2.2 Direitos humanos e cidadania A cidadania e direitos da cidadania dizem a respeito a uma determinada ordem jurídico-política de um país, de um Estado, no qual uma Constituição define e garante quem é cidadão, que direitos e deveres esse terá em função de uma série de variáveis tais como idade, estado civil, condição física e mental, o fato de estar ou não em dívida com a justiça penal, etc. Os direitos de cidadania não são direitos universais, são direitos específicos dos membros de um determinado Estado e de sua ordem jurídico-política. Porém, em muitos casos, os direitos do cidadão coincidem com os direitos humanos, que são mais amplos e abrangentes. Em sociedades democráticas é, geralmente, o que ocorre. Também, em nenhuma hipótese, direitos ou deveres do cidadão podem ser invocados para justificar violação de direitos humanos fundamentais. Os direitos do cidadão não são direitos naturais, pois são direitos criados e especificados num determinado ordenamento jurídico. Já os Direitos Humanos são universais no sentido de que aquilo que é considerado um direito humano no Brasil, também deverá ser em qualquer país do mundo, porque eles não se referem a um membro de uma sociedade política, eles se referem à pessoa humana na sua universalidade. 6 PEREIRA, D.S.; PICCIRILLO, M.B. Direitos fundamentais: a evolução histórica dos direitos humanos, um longo caminho. Âmbito Jurídico. Disponível em: < http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5414>. Acesso em: 1 set. 2015. 8 3 DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS Os direitos fundamentais, base dos direitos humanos, não surgiram simultaneamente, mas gradualmente, em consonância com a demanda de cada época, motivo pelos quais os estudiosos costumam dividi-los em gerações ou dimensões, conforme sua ingerência nas Constituições. Assim, pode-se classificá-los como direitos de primeira, segunda e terceira dimensões. Alguns doutrinadores entendem que existe uma quarta dimensão, que abrangeria a engenharia genética, e até mesmo uma quinta geração, que seria o direito à democracia e à informática. 3.1 Direitos de primeira dimensão É o primeiro momento dos direitos humanos. Eles são frutos das ideias Iluministas do Assim, são direitos de característica individual, liberdades, direitos exercidos pelo individuo e que limitam a interferência do Estado na vida privada. Podem exemplificar os direitos de primeira dimensão: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade de religião, à participação política, direito ao voto, entre outros. 3.2 Direitos de segunda dimensão Surgem oficialmente no início do século XX, com os direitos trabalhistas evidenciados dentre outros documentos, pela Constituição de Weimar, de 1919 (Alemanha), e pelo Tratado de Versalhes, 1919 (OIT) São direitos que concernem aos direitos sociais, econômicos e culturais de características coletivas, onde o Estado intervém a fim de garantir o bem-estar social, assegurando o princípio da igualdade material entre o ser humano. A exemplo disso se encontram: o direito a saúde, ao trabalho (exercício de oficio ou profissão de forma e escolha livre), o direito a assistência social, o direito a educação, etc. 3.3 Direitos de terceira dimensão São direitos decorrentes de uma sociedade já modernamente organizada, relacionados à vida em comunidade. Consagram os princípios da solidariedade e da fraternidade em caráter coletivo e transindividual. É possível citar como direitos de terceira dimensão: direito ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, direito de comunicação, de 9 propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e direito à paz, cuidando-se de direitos transindividuais, sendo alguns deles coletivos e outros difusos, o que é uma peculiaridade, uma vez que não são concebidos para a proteção do homem isoladamente, mas de coletividades, de grupos. 10 CONCLUSÃO Os direitos humanos são aquelas exigências que brotam da própria condição do homem. Quando falamos da palavra direito enfatizamos um poder ou direito de agir e permissão para agir de uma determinada maneira ou de exigir conduta de outro sujeito. Eles são chamados de direitos humanos, porque são do homem, da pessoa humana, de cada um de nós. O homem é o único destinatário desses direitos. Portanto, exige, em especial por parte das autoridades, o reconhecimento, respeito, proteção e promoção de todos. Ademais, os direitos humanos são, de acordo com diferentes filosofias jurídicas, aquelas liberdades, faculdades, instituições ou reivindicações relacionadas a bens primários ou básicos, incluindo qualquer pessoa, pelo simples fato de ser humano, para garantir uma vida digna. Essas conquistas são resultadas das três dimensões dos direitos fundamentais. Neste sentido, são de todas as pessoas, o que significa que são inerentes, inalienáveis, imprescritíveis durante a sua existência. Eles são únicos para cada pessoa, nada e ninguém pode violar. Já a cidadania, no sentido ser cidadão, é ter consciência de que é um sujeito possuidor de direitos. Direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, aos direitos civis, políticos e sociais. Além do mais, ser cidadão também é ser consciente de seus deveres, de suas responsabilidades para com a sociedade, a nação, o meio ambiente, o Estado, é estar preocupado em dar a sua contribuição para que aconteça a justiça, não apenas tendo como base o ordenamento jurídico, pois, sabe-se que deste advém muitas injustiças, mas, em um sentido mais amplo, ou seja, visando o bem comum. Ainda no contexto evolutivo dos direitos humanos, surgem os órgãos públicos que buscam a proteção dos direitos, podendo proporcionar puniçãoquando alguns deles são violados. Assim, a pessoa que tem seus direitos humanos violados, pode recorrer aos diversos órgãos públicos de proteção e promoção a esses direitos, como Conselhos, Secretarias, Comissões, Câmaras e até mesmo as Defensorias Públicas e Ministérios Públicos. São órgãos que fazem parte do Programa Nacional dos Direitos Humanos os quais se estruturam com base nos direitos políticos, civis, econômicos e culturais buscando a interdependência entre eles. Mesmo vivendo em Estado Democrático, observamos que esses direitos são violados com frequência, como podemos perceber nas notícias anexadas a este trabalho. Na primeira notícia, é relatado que três chineses, aliciados para virem trabalhar no Brasil, foram 11 encontrados em situação de trabalho escravo em pastelarias do Rio de Janeiro. Na segunda noticia é relatado o caso dos trabalhadores bolivianos, que viviam em São Paulo, e que se encontravam em situação degradante e de trabalho escravo na confecção de roupas de uma famosa loja nacional de roupas. Em ambos os casos, temos uma grave violação de direitos fundamentais, onde podemos ver o ferimento das dimensões de direitos: privação da liberdade, propriedade e saúde. Mas também, podemos constatar a intervenção do Estado pelos fsicais do poder público combatendo essas situações degradantes. Ainda que com uma atuação de repressão a atos já efetuados, temos uma fiscalização para tentar impedir esses crimes contra a dignidade da pessoa humana. Atualmente, os direitos humanos são um dos mais recorrentes em tópicos do discurso político e social, tanto das autoridades da sociedade civil e da opinião pública. No entanto, às vezes parece que poucas pessoas realmente compreendem o significado e a importância dos direitos humanos como fundamental para o desenvolvimento dos princípios do indivíduo e da sociedade. Basta olharmos para a realidade social em que vivemos e reconhecermos o que acontece com os que nos cercam (mulheres, negros, indígenas, deficientes, homossexuais, entre outros) estando frequentemente sujeitos a atitudes discriminatórias e intolerantes. Ainda, é preciso refletirmos sobre a importância e a necessidade de respeitarmos os direitos humanos. É vergonhoso saber que é preciso "vender" a ideia de direitos humanos. Mas, como pode ser visto além da obrigação moral de respeitar, há razões práticas, benefícios tangíveis decorrentes da aplicação destes direitos em todas as áreas da experiência social. A partir do momento em que começamos a falar dos direitos inerentes a cada indivíduo, compreenderemos que a história não foi um progresso constante na obtenção de maior liberdade e melhores condições de vida para todos. 12 REFERÊNCIAS PEREIRA, D.S.; PICCIRILLO, M.B. Direitos fundamentais: a evolução histórica dos direitos humanos, um longo caminho. Âmbito Jurídico. Disponível em: < http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5414> . Acesso em: 1 set. 2015 _____________Declaração Universal dos Direitos Humanos. O que são os Direitos Humanos? Disponível em: < http://www.dudh.org.br/definicao/>. Acesso em: 1 set. 2015. _____________Significados.com.br. O que são Direitos Humanos. Disponível em: < http://www.significados.com.br/direitos-humanos/. Acesso em: 1 set. 2015. BELLINHO, L.A. Uma evolução histórica dos direitos humanos. Unibrasil. Disponível em: < http://www.unibrasil.com.br/arquivos/direito/20092/lilith-abrantes-bellinho.pdf>. Acesso em: 1 set. 2015. BENEVIDES, Maria Victoria. Cidadania e Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf>. Acesso em: 26 set. 2015. DIAS CARNEIRO, Alexandre. Resenha sobre o livro "O que é cidadania"? Jus Navigandi. Disponível em: < http://jus.com.br/artigos/38367/resenha-sobre-o-livro-o-que-e-cidadania>. Acesso em: 26 set. 2015. LO-BIANCO, Alessandro. Fiscais encontram três chineses em situação de trabalho escravo em pastelarias do Rio. O Globo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/fiscais- encontram-tres-chineses-em-situacao-de-trabalho-escravo-em-pastelarias-do-rio-15903908>. Acesso em: 26 set. 2015. OJEDA, Igor. Fiscalização flagra exploração de trabalho escravo na confecção de roupas da Renner. Repórter Brasil. Disponível em: < http://reporterbrasil.org.br/2014/11/fiscalizacao- flagra-exploracao-de-trabalho-escravo-na-confeccao-de-roupas-da-renner/>. Acesso em: 26 set. 2015. 13 ANEXOS No dia 17/05/2014, o jornal O GLOBO divulgou que três chineses foram encontrados em uma pastelaria no Rio de Janeiro, eles eram submetidos a condições análogas à escravidão. Um deles estava em um buraco junto a fios de eletricidade no sótão de uma loja na Rua Camerino, na Praça Mauá, no Centro, em condições desumanas; os outros dois, em um estabelecimento na Rua Luís Barbosa, em Vila Isabel. Os locais foram interditados por falta de higiene, e amostras de seus salgados serão analisadas em um laboratório, que indicará a procedência dos alimentos usados como recheios. Dias depois, O GLOBO revelou que, durante uma operação do Ministério Público do Trabalho, procuradores encontraram carne de cachorro congelada em uma pastelaria de Parada de Lucas, na qual um funcionário, também chinês, tinha várias marcas de tortura pelo corpo. A fiscalização fez parte da quarta etapa da chamada Operação Yulin (porque este é o nome de uma cidade chinesa onde, anualmente, acontece um festival culinário no qual cães são abatidos para o preparo de vários pratos), lançada em 2011. Os três chineses encontrados nas pastelarias da Praça Mauá e de Vila Isabel não falam português nem tinham documentos. Eles foram levados para a sede do SRTE-RJ) para prestar depoimentos com o auxílio de um intérprete. Em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, chineses que trabalhavam em uma lanchonete saíram correndo da loja no momento em que perceberam a aproximação de agentes do Procon e de auditores fiscais da SRTE-RJ. O estabelecimento, que não tinha alvará nem condições básicas de higiene, foi interditado. Segundo procuradores do Ministério Público do Trabalho, investigações apontam que moradores da cidade de Guangzhou, na China, recebem convites para vir ao Brasil, mas, quando chegam às pastelarias do Rio, são informados que terão de trabalhar de graça por três anos para pagar as passagens aéreas, a estadia e a alimentação. O esquema de aliciamento teria a participação de homens com entrada liberada em áreas privativas do Aeroporto Internacional Galeão-Tom Jobim. Responsável pelo setor de imigração, a Polícia Federal informou que não comenta casos que estão sendo apurados. 14 Em 28/11/2014, o Repórter Brasil divulgou que a rede varejista Renner, presente em todo o Brasil, foi responsabilizada por autoridades trabalhistas pela exploração de 37 costureiros (sendo 21 homens e 15 mulheres e um adolescente) bolivianos em regime de escravidão contemporânea em uma oficina de costura terceirizada localizada na periferia de São Paulo (SP). Os trabalhadores viviam sob condições degradantes em alojamentos, cumpriam jornadas exaustivas e parte deles estava submetida à servidão por dívida. Tais condições constam no artigo 149 do Código Penal Brasileiro como suficientes (mesmo que isoladas) para se configurar o crime de utilização de trabalho escravo. A fiscalização, realizada entre outubro e novembro de 2014, foi comandada pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) e contou com a participação do Ministério Público do Trabalho e da Defensoria Pública da União. A confecção terceirizada costurava roupas para as linhas Cortelle, Blue Steel, Blue Steel Urban e Just Be, todas da Renner. Durante a operação,foram encontradas um total de 35.019 peças já costuradas ou a costurar, com as respectivas notas fiscais. A fiscalização teve início após uma denúncia encaminhada à SRTE/SP. A oficina de costura onde os costureiros trabalhavam sob regime de escravidão contemporânea é de propriedade de uma boliviana e está situada no bairro Jardim Labiraty, no extremo Norte do município de São Paulo. Os dados da notícia apontam que a dona da oficina mantinha três alojamentos nas proximidades da confecção. Na avaliação dos integrantes da fiscalização, o objetivo era exercer o controle total sobre o horário de trabalho dos costureiros, evitando as demoras nos deslocamentos ao serviço ou nas pausas para o almoço, e gerar uma relação de dependência deles com os patrões. Uma rápida observação do ambiente é suficiente para constatar que o local é repleto de soluções improvisadas. Os colchões estão em mau estado, não há armários, objetos pessoais se acumulam em um só canto dos cômodos, e a privacidade é preservada com toalhas, pedaços de papelão ou lonas nas janelas e portas. “São suprimidos, dessa forma, direitos fundamentais à privacidade e à intimidade dos trabalhadores, os quais se submetem a essas condições para garantir a própria subsistência e a de suas famílias”, diz o relatório de fiscalização. Em um dos espaços, um fogão e um botijão de gás funciona ao lado de um vaso sanitário. Foram encontrados também produtos vencidos ou à temperatura ambiente quando deveriam ser refrigerados. Para piorar, estavam expostos à contaminação, por conta da grande quantidade de baratas existentes, inclusive, dentro de geladeiras. Embora a oficina tenha 15 afirmado que pagava salários mensais e fixos aos seus costureiros e estes assinassem holerites, as autoridades trabalhistas apuraram que na verdade eles recebiam por produção. Os valores por peça variavam de R$ 0,30 as mais simples a R$ 1,80 as mais elaboradas. “O aliciamento ocorreu com traços de logro, simulação, fraude e outros artifícios para atrair e manter os trabalhadores em atividade na oficina de costura fiscalizada, movimentar mão de obra de um lugar para o outro na América do Sul, com o objetivo único de lucro, conseguido em cima do engano do trabalhador e de sua utilização como mão de obra similar à de escravos, em alguma parte do ciclo produtivo da empresa autuada”, diz o relatório da SRTE/SP. De acordo com os auditores-fiscais, por ficar caracterizado o alojamento e acolhimento de trabalhadores explorados em regime de escravidão contemporânea, “conclui- se também pela ocorrência de tráfico de pessoas para fins de exploração de trabalho em condição análoga à de escravo”. Após as diligências realizadas na oficina terceirizada da Renner, as autoridades trabalhistas emitiram guias de seguro-desemprego para os 37 trabalhadores escravizados e exigiram da empresa as anotações das carteiras de trabalho dos costureiros em seu nome e a rescisão indireta dos respectivos contratos de trabalho, com a quitação dos salários devidos e das multas rescisórias. Tais medidas, no entanto, não foram tomadas pela Renner. As despesas, que chegaram a quase R$ 900 mil, foram oficialmente pagas pela confecção. Entretanto, Luís Alexandre de Faria acredita que tais valores foram desembolsados pelas empresas intermediárias. Além disso, as multas administrativas, que serão calculadas a partir da decisão de procedência dos 30 autos de infração lavrados em nome da Renner, deverão chegar a quase R$ 2 milhões, estima Faria.
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