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Prof. MS. Maurício Machado Fernandes Lei dos transplantes Inumação. Exumação. Cremação. Embalsamento. Morte: Natural, Violenta, Suspeita. Morte súbita e morte agônica. Diagnóstico diferencial das Lesões ante e post-mortem. LEI DOS TRANSPLANTES O Decreto n. 2.268, de 30 de junho de 1997, que revogou a Lei n. 8.489, de 19 de novembro de 1992, permite que a retirada de tecidos, órgãos e de partes do corpo, após a morte, para fins terapêuticos, se proceda independentemente de consentimento expresso da família, se, em vida, o falecido a isso não tiver manifestado sua objeção registrada na Carteira de Identidade Civil (expedidas pelas SSP), ou em carteiras fornecidas pelos órgãos de classe, reconhecidas por lei como prova de identidade, mediante a expressão “não doador de órgãos e tecidos”. O transplante será obrigatoriamente realizado por médicos reconhecidamente idôneos e com capacidade técnica comprovada, em estabelecimentos de saúde públicos ou particulares autorizados pelo Ministério da Saúde. Desse modo, no tocante ao doador morto, não é mais vedada a retirada de tecidos, ou órgãos, ou de partes para transplantes, do que, em vida, não expressou, por escrito, desejo de não doar. A retirada de tecidos, órgãos e partes poderá ser efetuada no corpo de pessoa com morte encefálica, confirmada, segundo os critérios clínicos e tecnológicos definidos em resolução do Conselho Federal de Medicina, por dois médicos, no mínimo, um dos quais com título de especialista em neurologia reconhecido no País. Tais procedimentos são dispensáveis quando a morte encefálica decorrer de parada cardíaca irreversível, comprovada por resultado incontestável de exame eletrocardiográfico. É VEDADO participar do processo de verificação de morte encefálica AOS MÉDICOS INTEGRANTES DAS EQUIPES ESPECIALIZADAS AUTORIZADAS A PROCEDER À RETIRADA, TRANSPLANTE OU ENXERTO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES. Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido ou de outro médico indicado pela direção local do SUS no ato de comprovação e atestação da morte encefálica, se a demora de comparecer não for causa, pelo decurso de tempo, de tornar inviável a retirada, mencionando-se essa circunstância no respectivo relatório. Toda morte encefálica, comprovada em hospital público ou particular, é de notificação compulsória, em caráter de emergência. A retirada de tecidos, órgãos ou partes poderá ser efetuada antes da necropsia, obrigatória por lei, se estes não tiverem relação com a causa mortis, circunstância a ser mencionada no respectivo relatório, com cópia que acompanhará o corpo à instituição responsável pelo procedimento médico-legal. Excetuam-se, aqui, os casos de morte ocorrida sem assistência médica, ou em decorrência de causa mal definida, ou que necessite ser esclarecida diante da suspeita de crime, quando a retirada dependerá de autorização expressa do médico patologista ou legista. A lei faculta a doação de tecidos, órgãos e partes do corpo aos maiores e capazes, independente de sexo. É bem de ver, então, que ela exclui os incapazes, que não podem manifestar livremente a sua vontade; todavia, em se tratando de extração de parte da medula óssea poderá ser autorizada judicialmente, com o consentimento de ambos os pais ou responsáveis legais, se o ato não oferecer risco para a sua saúde. Preceito legal exclui também a gestante, salvo para doar tecido de medula óssea, desde que não haja risco para a sua saúde e a do concepto. A autorização do disponente deverá especificar, em documento escrito, firmado também por duas testemunhas, o tecido, órgão ou a parte do seu corpo objeto da retirada e que será(ão) doado(s) para transplante ou enxerto em receptos que identificará, todos devidamente qualificados, inclusive quanto à indicação de endereço. À equipe cirúrgica a lei autoriza somente a retirada de um órgão duplo ou tecidos, vísceras ou parte do corpo com vida, desde que não cause ao doador comprometimento de suas funções vitais e aptidões físicas ou mentais e nem lhe provoque deformação. Em se tratando de rins, exige-se comprovação de, pelo menos, quatro compatibilidades em relação aos antígenos leucocitários humanos (HLA), salvo entre cônjuges e consanguíneos, na linha reta ou colateral, até o terceiro grau inclusive. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor – aposto em documento, que conterá as informações sobre o procedimento e as perspectivas de êxito ou insucesso, e as sequelas previsíveis -, após devidamente aconselhado sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento. Supondo seja o receptor juridicamente incapaz, ou estiver privado dos meios de comunicação oral ou escrita, ou, ainda, não souber ler e escrever, o consentimento para a realização do transplante será dado por um de seus pais ou responsáveis legais, na ausência dos quais a decisão caberá ao médico assistente, se não for possível, por outro modo, mantê-lo vivo. Consiste no sepultamento do cadáver. Confirmada a realidade da morte e após o registro do atestado de óbito nos cartórios, o cadáver é habitualmente sepultado em inumatórios de 1,75m de profundidade por 0,80m de largura, afastados uns dos outros pelo menos 0,60m em todos os sentidos, ou, então, em túmulos ou jazigos construídos conforme as exigências sanitárias. No Brasil, como são as leis municipais que geralmente fixam as regras de direito funerário, as dimensões de covas são muito variadas, para tal caso encontra-se as seguintes medidas: Na cidade de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, as covas devem ter o comprimento de 2,00 m, a largura de 0,75 m e a profundidade de 1,70 m; já na cidade de São Paulo, no Estado de São Paulo, as covas devem ter o comprimento de 2,20 m e a largura deve ser de 0,80 m, enquanto que a profundidade fica com 1,55 m; na cidade de Cachoeira do Sul no Estado do Rio Grande do Sul a cova tem o comprimento de 2,10 m e largura de 0,80 m, com profundidade de 1,55 m; em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, a cova tem comprimento de 2,50 m, largura de 0,90 m e profundidade de 0,90 m; em Cuiabá, no Mato Grosso, o comprimento é de 2,20 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,55 m; já em Foz do Iguaçú, no Estado do Paraná, o comprimento da cova é de 2,20 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,55 m; na Cidade de Joinville em Santa Catarina, o comprimento da cova fica estipulado em 2,00 m de comprimento, 0,80 m de largura e 2,00 m de profundidade; a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, tem como medidas para as covas o comprimento de 2,20 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,55 m; por fim a cidade de Vitória, no Estado do Espirito Santo, tem suas covas com o comprimento de 2,10 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,50 m. Exceção dos óbitos por moléstia infecciosa grave, epidemias, conflitos armados, cataclismos, em que a inumação poderá ser imediata, os sepultamentos não se processarão antes das 24 horas, nem após 36 horas da morte. Contudo existem casos de inumação antes de 24 horas. Exemplo: sepultamentos seguindo os costumes judaicos (inumação dos esquifes antes do pôr do sol). Nas mortes violentas, após necropsia estatuída pela lei processual penal, serão os cadáveres inumados como habitualmente, depois de terem sido recompostos. Cadáver é o corpo morto, enquanto conserva a aparência humana por não ter cessado totalmente a conexão de suas partes. O conceito exclui o arcabouço ósseo, as cinzas, os restos mortais em completa decomposição (RT, 479:303) e a múmia. Arcabouço ósseo é o esqueleto, v. g., conjunto de 208 ossos ou “simplesmente uma série de vértebras superpostas, que têm dos lados dois pares de apêndices ou membros”. Não se consideram cadáver os restos humanos em estadode quase completa esqueletização (RT, 479:304). Cinzar humanas são os restos de um cadáver. As cinzar não são parte do cadáver, do mesmo modo que os escombros de uma casa incendiada já não integram o que se chama de casa. As partes de um corpo humano sem vida, em adiantado estado de putrefação, e as peças amputadas de um corpus vivus não fazem jus à tutela da lei substantiva penal. Configurará, todavia, o delito previsto no art. 211 do Código Penal: “Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele”, se a ação do agente recair sobre despojos de um cadáver mutilado sem decomposição. “O cadáver é uma res extra commercium e a proteção é erigida em razão de princípios éticos, religiosos, sanitários e de ordem pública que o direito positivo impõe. A sua subtração, segundo já se acentuou, bem como a subtração de peças anatômicas desagregadas do corpo humano, imputa ao agente o crime preceituado no art. 211 do CP.” Destruição, subtração ou ocultação de cadáver. Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. A título de ilustração, será permitido o sepultamento do cadáver sem atestado de óbito, por inexistência de médico no lugar, o qual, conforme o art. 77 da Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1979 (Lei de Registros Públicos), é suprido pelo testemunho de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte. E o art. 83 estabelece que: “83. Quando o assento for posterior ao enterro, faltando atestado de médico ou de duas pessoas qualificadas, assinarão, com a que fizer a declaração, duas testemunhas que tiverem assistido ao falecimento ou ao funeral e puderem atestar, por conhecimento próprio ou por informação que tiverem colhido, a identidade do cadáver. Consiste no desenterramento do cadáver, não importa o local onde se encontra sepultado. Exumar um cadáver, ou uma ossada, sob observância das disposições legais, é diligencia indispensável que não deve ser procedida de afogadilho – quando se suspeita, após o sepultamento, ter sido violenta a causa jurídica da morte, ou para dirimir dúvida porventura fluídas da primeira necropsia, ou para verificação de identidade, como ocorreu no Rio de Janeiro, em 1885, na célebre questão Castro-Malta, cujo sepultus foi identificado, na segunda exumação, por um calo de fratura consolidada 11 anos antes, assentada no colo do úmero direito, e por genu valgum duplo, ou simplesmente para transladamento do corpo. Revela dizer que a exumação que se processa sem observâncias das disposições legais constitui infração penal, consoante o art. 67 da Lei das Contravenções Penais. Art. 67. Inumar ou exumar cadáver, com infração das disposições legais: Pena – prisão simples, de um mês a um ano, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. As formalidades legais implicam a presença, em dia e hora previamente marcados, da autoridade policial (art. 6º, I, do CPP), dos peritos, do escrivão, do administrador do cemitério público (para indicar, sob pena de desobediência, o local da sepultura) e, se possível, de familiares do morto e testemunhas que estiveram presentes à inumação. Localizada a sepultura, deve-se fotografá-la juntamente com outra, tomada como ponto de referência, após o que procede-se à sua abertura. O caixão e, depois de sua abertura, o cadáver, ou o que dele restar, serão fotografados na posição em que forem encontrados (art. 164 do CPP). Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) Identificado o morto, efetua-se o exame cadavérico a céu aberto ou em morgue anexa ao coemiterium, quando houver, descrevendo os competentes minuciosamente, no auto de exumação e reconhecimento, a sepultura, o esquife, as vestes, o aspecto do de cujus, o grau de putrefação, ou a ossada, se já atingiu a fase da esqueletização. Nos casos de exumação por suspeita de envenenamento, os peritos recolherão os órgãos, seus destroços ou resíduos putrefeitos, cabelos e ossos, em vasos adequados. Serão também recolhidas substâncias pulverulentas achadas, amostras de terra aderente e de alguns metros distantes, de natureza análoga, para efeito de exame comparativo, se for preciso. O material será conduzido, com segurança e cautela, ao laboratório onde serão procedidos os exames toxicológicos necessários. Finda a perícia, o cadáver, ou seus despojos, é novamente inumado. Consiste na incineração do cadáver, reduzindo-o a cinzas. A cremação processa-se em fornos aquecidos a lenha, coque, óleo, gás e, modernamente, eletricidade, constituídos de uma grelha rotatória e um coletor de cinzas, à temperatura de 1.000 a 1.200º C, que reduzem o cadáver de um adulto de 1,5 a 2,5 Kg de cinzas, conforme o peso, em aproximadamente 1:30 minutos, que são recolhidas numa caixa de metal soldada e colocada numa urna de bronze, de acabamento artístico. As urnas podem ser enterradas ou, então, colocadas em nichos, construídos em muros arguidos especialmente para esse fim. Na Argentina, a legislação pertinente permite guardar as cinzar nas residências. Na Índia, se arrojam as cinzas no Ganges por crerem os hindus que suas águas sagradas têm a virtude de lavar todos os pecados cármicos. Os apologistas da cremação apontam as seguintes vantagens: 1 – Higiene – É processo ideal do ponto de vista higiênico; 2 – Economia monetária – As despesas da cremação custam 20 a 40% menos que as do enterro. Essa vantagem torna-se ainda maior quando os restos mortais devem ser transportados. 3 – Economia de espaço – O corpo cremado ocupa um espaço, em geral, 14 d 20 vezes menor que o inumado. Como desvantagem, do ponto de vista médico-legal, cita-se a impossibilidade da verificação post mortem, quando surge uma suspeita de crime, ou elucidação de dúvidas por acaso verificadas na necropsia, ou, ainda, a possibilidade de causa mortis que dê direito aos remanescentes à indenização, como, por exemplo, no caso de envenenamento industrial. Esses inconvenientes serão, no entanto, contornados pelo cumprimento de prescrições especiais para a expedição da licença de cremação, como a exigência de prévio e minucioso exame do cadáver, registro das impressões digitais, descrição das arcadas dentárias, palatoscopia, etc. Só se procederá à cremação facultativamente e mediante vontade expressa em vida, ou, compulsoriamente no interesse da saúde pública (Lei n. 6.015/73), e se o atestado de ótico houver sido firmado por dois médicos ou por um legisperito e, no caso de morte violenta depois de autorizada pela autoridade judiciária. Consiste na introdução nas artérias carótida comum ou femoral e nas cavidades tóraco- abdominal e craniana, nesta última através da lâmina crivosa de etmoide, de líquido desinfetantes, conservadores, dotados de intenso poder germicida, objetivando impedir a putrefação do cadáver. O embalsamamento objetiva impedir a decomposição putrefativa do cadáver e a consequente desconexão de suas partes, ou permitir o seu sepultamento em prazo maior que 4 dias após o falecimento, ou seu transporte para fora do município ou do país em que ocorreu o óbito. Com efeito, consoante a legislação vigente, a critério do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), o transporte de cadáveres só poderá ser feito, sem conservação, até o prazo máximo de 24 horas entre o falecimento e o sepultamento. Dessarte, será exigida conservação simples de cadáver, por formolização, por exemplo, quando a inumação for feita dentro de 3 dias após a morte, sendo exigido o embalsamamento com esquife hermeticamente fechado e selado quandose tratar de prazos maiores. A formolização de cadáver, sendo obrigatória em certas circunstâncias, independe de anuência; ademais, por não constituir actus medicus, pode ser realizada por um técnico em necropsia supervisionado pelo profissional de Medicina, que é o responsável pelo ato, nas entidades públicas ou privadas autorizadas para tanto pelo SVO, desde que satisfaçam determinadas condições estabelecidas pelo próprio SVO. O embalsamamento só se procederá após o diagnóstico da realidade da causa mortis, por médico estranho ao ato, e com autorização das autoridades policiais e sanitárias, e sempre na presença de testemunhas. O embalsamador pode optar por vários processos: 1 – Processo do IML do Rio de Janeiro; 2 – Processo de Tanner de Abreu; 3 – Processo de Pais Leme; 4 – Processo de Lastrowski; 5 – Processo Espanhol; 6 – Processo de Laskowski. Findo o embalsamamento lavrar-se-á ata em quatro vias, que serão assinadas pela autoridade sanitária, pela autoridade policial e pelo médico que atestou o óbito, pelo médico embalsamador, pelo representante da família do morto e pelas pessoas que testemunharam a operação. A velocidade de instalação e ultimação do processo de morte poderá ser útil para criar uma subdivisão que é usada pelos médicos legistas. Denomina-se morte súbita aquela que, pela brevidade de instalação do processo, desde segundos até horas-, não possibilita que seja realizada uma pesquisa profunda e uma observação apurada da sintomatologia clínica, hábil a ensejar um diagnóstico com certeza e segurança. O conceito mais aceito de morte súbita se deve a Vibert: "compreendem-se, em Medicina Legal, sob o nome de morte súbita, os casos onde a morte sobrevém mais ou menos rapidamente, em alguns segundos, algumas horas, ou mesmo dias, mas de modo imprevisto, atingido, sem causa aparente um indivíduo até então de boa saúde ou que não apresentava se não ligeiros distúrbios ou que, pelo menos, assim parecia às pessoas que o circundavam" O termo morte súbita tem uma dupla conotação: 1. objetiva: a rapidez com o que ocorre o óbito. 2. subjetiva: caráter inesperado com que se dá o decesso. - afecções cardiovasculares; - lesões encefálicas; - tumores cerebrais; - AVC; - infarto do miocárdio; - fibrilação ventricular; - edema agudo dos pulmões; - insuficiência cardiaca congestiva; - ruptura das visceras ocas e/ou maciças; - ruptura de aneurisma; - asfixia mecânicas; - edema de glote; - choque hemorrágico anafilático; - doenças tromboembólicas; - etc... Outrossim, criminalmente falando, certas mortes são consideradas suspeitas, até prova contrária. Os legisperitos, contudo, sempre saberão estabelecer o diagnóstico diferencial entre a morte súbita e a morte suspeita, examinando o local onde o óbito ocorreu, ouvindo testemunhas, se houver, realizando a indispensável necropsia e exames complementares. E aquela que sobrevém como consequência de um processo esperado e previsível. Por exemplo, nos casos de envelhecimento natural, com esgotamento progressivo das funções orgânicas. Em outros casos, o óbito é um corolário de uma doença interna, aguda ou crônica, a qual pode ter acontecido e transcorrido sem intervenção ou uso de qualquer fator externo ou exógeno. É evidente que strictu senso, a causa do óbito não é "natural" e, sim, patológica. Todavia, habitual do termo considera o tipo de morte como natural. Rotula-se como morte suspeita aquela que, mesmo com testemunhas, e com alguns dados de orientação diagnostica, se mostra duvidosa quanto à sua origem. Sua frequência é bastante elevada. Segundo Armando Canger Rodrigues, de acordo com estatística realizada na cidade de S. Paulo, foi observada uma incidência de 12% de mortes de causa indeterminada. As maiores dúvidas que suscitam este tipo de óbito se relacionam com o fato de ocorrer sem testemunhas, em locais isolados ou em pessoas que moram sozinhas e que, tampouco procuram auxílio. Os SVOs , Serviços de Verificação de Óbito são instituições que têm por finalidade a determinação da realidade da morte, bem como a sua causa - desde que natural e não-externa - nos casos de óbitos ocorridos sem assistência médica ou com assistência médica, mas em que este sobreveio por moléstia maldefinida. Lei n. 5452, de 22.12.86 reorganizou esses serviços. Ver também os arts. 15, 72, 114 do Código de Ética Médica, Resolução CF M n. 1.246, de 8.1.68. Morte agônica é aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais processa-se paulatinamente, com estertores, num tempo relativamente longo; nela os livores hipostáticos forma-se mais lentamente. O diagnóstico diferencial entre a morte súbita e a morte agônica é firmado pelo expertos, habitualmente, durante a necropsia; há casos raros, todavia, em que se torna necessária a complementação diagnóstica pelas docimasias hepáticas e suprarrenal. Baseiam-se elas na pesquisa de glicose e de glicogênio no fígado, e de adrenalina e sua dosagem nas glândulas suprarrenais. A docimasia hepática pode ser: química e histológica; e a docimasia suprarrenal, de ordem química, histológica e fisiológica. O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas foram causadas: a) bem antes da morte; b) imediatamente antes da morte; c) logo após a morte; d) certo tempo após a morte. As lesões corporais sofridas in vitam traduzem sempre reações vitais. 1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão produzida no vivo aloja-se no interior do corpo sob forma de grandes coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é sempre de reduzidíssima dimensão, ou não existe, e o sangue não coagula.. 2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os corto contundentes mostram as margens afastadas, devido à retração dos tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os músculos perdem a contratilidade. 3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações significa lesão intra vitam. Dessarte, pergaminhamento da pele escoriada é sinal seguro de lesão pos mortem. 4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatismo, e se apagam lenta e paulatinamente. No cadáver não ocorrem essas contínuas variações de tonalidades cromáticas. 5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse modo, é a inflamação importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem antes da morte. 6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações dependem do órgão em que ocorrem. Chama-se embolia à obliteração súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou por um corpo estranho líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo. 7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de uma fratura varia conforme o osso. Amiúde demanda 1 ou 2 meses. 8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as flictenas contendo líquido límpido ou citrino, leucócitos, cloreto de sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâneo afirmam queimaduras intra vitam. No cadáver não se forma nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes assestam-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido desprovido de albuminas e de glóbulos brancos. 9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se forma nos afogados que reagiram à proximidade da morte cedo foram retirados do meio líquido. 10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e no estômago, nos asfixiados por submersão, de substâncias sólidas no interior da traqueia e dos brônquios, no soterramento, de fuligem nas vias respiratórias e monóxido de carbono no sangue dos que respiraram no focode incêndio, de aeração pulmonar e conteúdo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos de reação vital.
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