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Dilema ético na reprodução assistida

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N3: Dilema ético na reprodução assistida 
Projeto Integrador Diagnóstico Molecular e Triagem neonatal 
Professora Geórgia Muccillo Dexheimer 
Bruna Milesi 
 
 
Caso: 
“Uma mulher de 44 anos, mãe de 5 filhos, todos do sexo masculino, solicitou a 
um médico que realizasse um procedimento de inseminação artificial com 
prévia seleção de gametas masculinos apenas com cromossomo X, que 
gerassem apenas embriões do sexo feminino, com a finalidade de realizar um 
grande desejo e superar a profunda frustração de não ter uma filha. Os 
médicos afirmaram ao juiz que nenhuma terapia havia tido sucesso em 
melhorar o quadro depressivo desta paciente, que havia sido agravado pelo 
diagnóstico errado na sua última gestação. Nesta ocasião informaram-lhe que 
estava gestando uma menina, porém nasceu o seu quinto filho homem. A ideia 
de ter uma filha que a cuidasse na velhice tornou-se uma obsessão para ela, 
também de acordo com o relato médico. Neste mesmo documento os médicos 
afirmavam que o procedimento que a paciente seria submetida era simples e 
sem riscos, com um único senão que era o de não poder garantir em 100% das 
situações possíveis, que ela gestaria uma filha. O juiz solicitou pareceres de 
vários peritos médicos, incluindo psiquiatras. Todos eram favoráveis a 
realização do procedimento, pois não reconheciam qualquer impropriedade e 
vislumbravam a possibilidade de que tendo uma filha esta senhora melhoraria 
do quadro depressivo refratário a tratamentos até então utilizados.” 
“Com base nestes depoimentos e pareceres o juiz de primeira instância 
autorizou judicialmente, em 2/8/1990, a realização dos procedimentos nesta 
senhora. A promotoria pública recorreu da decisão e a sentença foi revogada 
em segunda instância. A senhora solicitou um recurso a ao Tribunal Supremo 
que o julgou inadmissível.” 
Este fato ocorreu em Barcelona/Espanha. 
 
 
 No Brasil, a escolha do sexo do bebê é proibida pelo Conselho Federal 
de Medicina prevista na resolução n° 2.168/2017. Esta decisão apenas é 
permitida em casos especiais como o de doenças genéticas ligadas ao sexo, 
em que se deve transferir ao útero apenas os embriões do sexo que não é 
acometido pela doença. As mais frequentes são: 
 Síndrome do X frágil, doença que gera uma deficiência mental e embora 
aconteça em ambos os sexos é mais grave nos homens; 
 Hemofilia, doença que causa dificuldades na coagulação sanguínea e é 
mais provável de afetar os homens; 
 Microdeleção do cromossomo Y, que se configura na ausência total ou 
parcial das informações genéticas responsáveis pela reprodução dos 
espermatozoides; 
São conhecidas mais de duzentas doenças relacionadas ao sexo, 
particularmente à masculina. 
Nesse caso, o embrião obtido por meio da reprodução humana assistida, 
passará por uma biópsia no 5º ou 6º dia de desenvolvimento (estágio de 
blastocisto). O material é analisado para qualificar o patrimônio genético do 
embrião; nele consta também a avaliação dos cromossomos sexuais. 
A família precisa ter histórico da ocorrência dessas doenças, justificando a 
seleção do sexo nesses casos, a decisão de optar pelo sexo do bebê é sempre 
dos futuros pais. Assim, é importante que o médico informe ao casal quanto às 
doenças ligadas ao sexo, os riscos de produzir embriões portadores de tais 
alterações e as possíveis implicações desses diagnósticos. Para que o 
procedimento ocorra, não é necessária autorização judicial, já que essa 
possibilidade, respeitando-se as indicações, é prevista na resolução do CFM 
sobre reprodução assistida. Além disso, essa decisão apenas está ligada ao 
sexo do bebê, ou seja, não é permitido definir antecipadamente outras 
características, como cor do cabelo, da pele ou dos olhos da criança. Caso o 
médico realize esta seleção de forma indiscriminada, sem respeitar as 
indicações estabelecidas, ele poderá sofrer sanções éticas por essa atitude. 
No caso de escolha de sexo para balanço familiar que é quando há 
predominância do outro sexo em uma família, como no caso citado acima, ou, 
ainda, por uma associação de razões sociais, culturais, econômicas e 
https://ceferp.com.br/blog/blastocisto-ou-d3
https://ceferp.com.br/blog/analise-genetica-do-embriao/
https://ceferp.com.br/blog/analise-genetica-do-embriao/
pessoais, que levam a preferir um dos sexos em relação ao outro, são 
proibidas no Brasil. 
O debate ético, atualmente, mostra que optar por essas características 
seriam um tipo de eugenia e de discriminação, e em diversos países ocorreria 
sempre à eliminação de meninas, como é o caso da China e Índia, que 
culturalmente a mulher é considera o sexo inferior. Esses países tem altos 
índices de abortos de fetos femininos e infanticídio seletivo. As principais 
preocupações que envolvem estes tipos de razões incluem risco de distorção 
do índice masculino/feminino devido à preferência por meninos sobre meninas, 
o custo do sexismo, risco de uma imagem estereotipada nas crianças 
selecionadas, podendo criar dificuldades no desenvolvimento posterior se a 
criança não corresponder ao sonho/projeto criado pelos pais, perigo de 
transformar as crianças em commodities, risco de eugenia. 
 
CLOTET, Joaquim; GOLDIM, José R. (orgs.). Seleção de sexo e bioética. 
Porto Alegre, RS: EDIPUCRS, 2004. Disponível em: https://books.google.com. 
br/books?id=ECX8LfoF__oC&printsec=frontcover&hl=ptBR#v=onepage&q&f=fa 
ise. Acesso em: 27 jun. 2022. 
GOLDIM, José R. Bioética. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
2022. Disponível em: https://www.ufrgs.br/bioetica/bioetica.htm. Acesso em: 27 
jun. 2022. 
VIDAL, Camilla. É possível escolher o sexo do bebê na reprodução assistida? Centro 
de Fertilidade do Ribeirão Preto. 2018. Disponível em: https://ceferp.com.br/blog/ 
e-possivel-escolher-o-sexo-do-bebe-na-reproducao-assistida/. Acesso em: 27 
jun. 2022.

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