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HERMENÊUTICA POLÍTICA Pontos positivos & negativos da Reforma Tributária Conheça os pontos da reforma tributária que poderão trazer impactos tanto positivos quanto negativos para a economia.. Pg. 13 Edição 01/2022 Os eventos de alteração da ordem global Pg. 03 Politicamente Correto, Militância Canceladorae Big Techs. Leia tudo sobre o assunto na página 11 Senhoras e Senhores, esse é o circo dos horrores Pg. 09 Vivemos em 1984 de George Orwell Nossa equipe Eduardo Carvalho Eduardo Carvalho é estudante de Direito pela Faculdade de Direito de Contagem - FDCON, estudou Filosofia no Curso Online de Filosofia do Professor Olavo de Carvalho. Na Universidade São Jerônimo, estudou Teologia, sendo aluno de ilustres professores como o filósofo tomista Carlos Nougué e o Padre Anderson Batista. Escreve análises sobre temas políticos e sociais da atualidade por uma perspectiva histórica e filosófica. Marcos Nogueira Marcos Nogueira é aluno Summa Cum Laude em economia pelo IBMEC, mas prefere se definir como um nerd apaixonado por mercado financeiro e tecnologia. Depois de vivências nos EUA e na Espanha, Marcos atualmente é estudante de Data Science na Awari e Cientista de Dados na HRTech Vulpi, em Belo Horizonte. Rodrigo Bueno Rodrigo Bueno é bacharel em Relações Internacionais pelo Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (IBMEC), especialista em Filosofia Política, Ciência Politica e Politica Internacional. Wagner Constâncio Wagner Constâncio é Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH), especialista em Direito Civil e Direito Público. Atualmente exerce a função de Analista Jurídico, bem como também escreve sobre Política nacional, com ênfase à lei e jurisprudência brasileira. Pg. 02 Os eventos de alteração da ordem global Por Rodrigo Bueno Passados cerca de um mês desde o início oficial das hostilidades entre Ucrânia e Rússia cada vez mais temos a sensação de estar vendo um evento definidor na Política Internacional, aqueles raros momentos em que se percebe que o mundo está mudando diante dos seus olhos e ter a verdadeira dimensão disso em tempo real é ainda mais difícil. A minha geração, no meio das suas duas décadas de vida já tinha presenciado um evento dessa magnitude, o 11/09 de 2001. Não vou entrar em detalhes do que ele causou por ser um tema que escrevo de forma recorrente aqui no site, meu foco será a projeção de como será a nova ordem global que irá se desenhar após esse conflito. Antes de tudo é necessário entendermos e analisarmos quais foram os outros eventos definidores da Política Internacional, é sempre bom lembrar que não podemos falar em Política Internacional antes da existência do ator primordial da mesma que é o Estado- Nação, a sua constituição data do chamado tratado de Westphalia de 1648 que colocou fim á chamada Guerra dos 30 anos. Esse evento é o marco zero das Relações Internacionais. Então vamos analisar apenas eventos posteriores em relação a essa data. O primeiro desses eventos é a Revolução Francesa de 1789. Os impactos da Revolução Francesa são sentidos até os dias de hoje, a maioria das ideologias políticas existentes surgiram do apoio ou da oposição frente ao evento, às raízes do socialismo vieram dos jacobinos e sua ambição utópica de construção de um mundo perfeito, ideal que superasse totalmente o passado é a base do chamado progressismo, além disso, duas das principais vertentes políticas da direita, o conservadorismo e o reacionarismo, tiveram sua origem nesse evento como aponta o filósofo Inglês Roger Scruton na obra Conservadorismo: Um convite á grande tradição. Após o caos revolucionário que dominou a França, temos o segundo desses eventos com a ascensão de Napoleão Bonaparte e as Guerras Napoleônicas. Napoleão se aproveitou de um momento político favorável e acabou domando o espírito da revolução ao mesmo tempo que a representava, transformando o caos em ordem e reformando completamente todo o sistema administrativo e legal Francês com os Códigos Napoleônicos internamente, enquanto se lançava em um imperialismo que visava unificar a Europa toda sobre o seu domínio. No ano de 1809 seus exércitos esmagaram totalmente qualquer chance de resistência na Europa ocidental e central, Napoleão redesenhou o mapa da Geopolítica europeia de acordo com suas ambições, anexando territórios vitais à França e estabelecendo Estados satélites em outros, muitas vezes governados por parentes ou agentes franceses, apenas duas nações conseguiram resistir aos avanços da França, Inglaterra e Rússia. A Inglaterra sempre teve uma vantagem geopolítica pelo fato de ser uma ilha, o chamado Stopping power of water imortalizado pelo teórico internacional John Mearsheimer, essa explicação também é válida no contexto da segunda guerra mundial, em que a Inglaterra não foi dominada pela máquina de guerra hitlerista, invadir e dominar pelo mar ou pelo ar é virtualmente impossível. Pg. 03Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os eventos de alteração da ordem global Por Rodrigo Bueno De nada adianta o poder terrestre nesse sentido. Ainda mais contra a senhora absoluta dos mares no contexto da época, sua posição privilegiada permitiu apenas esperar que Napoleão cometesse um erro para capitanear uma reação (ainda que tardia) de toda a Europa contra ele. No caso da Rússia o erro de Napoleão foi estratégico, se achando invencível, resolveu invadir um território extremamente difícil de controlar, dada a sua extensão e também um tipo de ocupação mais cara do que a capacidade de financiamento que seu império lhe permitia. O conceito de guerra total surge nesse contexto das Guerras Napoleônicas, à partir dessa época quando as nações entrassem em conflito, a mobilização dos esforços seria geral, todos os elementos produtivos das economias seriam deslocados para o financiamento do conflito, os tributos aumentariam sensivelmente e o dinamismo da economia se perderia. Essa é a razão para que todo império tenha seu fim, a incapacidade de sustentar o seu tamanho. Com a derrota de Napoleão e o fortalecimento da Inglaterra e da Rússia ficou bem claro que um retorno ao equilíbrio de poder pré-revolucionário seria inviável. É por isso que surge o Congresso de Viena em 1815 que restaura o equilíbrio de poder com um sistema de hegemonia compartilhada entre as potências europeias. “Esse equilíbrio precisava se mostrar capaz de evitar a recorrência do imperialismo francês que resultara numa quase hegemonia da França na Europa, especialmente pelo advento da Rússia haver originado um perigo semelhante a partir do leste”. (KISSINGER, 2015, p 67). Em termos de distribuição de poder a Europa vivia na época o que chamamos de multipolaridade desbalanceada, a Inglaterra era a potência mais poderosa, porém não era poderosa o suficiente para que seu poder não pudesse ser desafiado. O chamado Conserto Europeu permaneceu operante até a eclosão da primeira guerra mundial em 1914, esse sistema estava preparado para conter o ímpeto francês e russo, e foi responsável pelo maior período de paz no continente desde o início da Revolução Francesa, mas ele não estava preparado para conter uma Alemanha recém unificada, com altos níveis de industrialização que desejava desafiar o poder inglês soberano no século XIX e no início do século XX. Historiadores e Analistas Internacionais debatem nos últimos cem anos quais foram os motivos da primeira guerra mundial, o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando é apontado como o estopim, mas o clima europeu no fim do século XIX já apontava que o novo século traria fim ao período de paz e estabilidade que conheceram após o Congresso de Viena. Durante a rodada inicial de negociações do Congresso de Viena foi restaurado para a França suas dimensões territoriais pré expansionismo napoleônico, nos eventos da guerra franco-prussiana de 1870, a França teve parte do seu território tomado pela futura Alemanha. Em relação a Rússia a Alemanha tambémera vista com maus olhos e desconfiança pela ambição de construir uma estrada de ferro ligando Berlim à Bagdá, adentrando totalmente na esfera de influência russa. Pg. 04Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os eventos de alteração da ordem global Por Rodrigo Bueno O aprofundamento dos processos relacionados a revolução industrial fizeram com que a Alemanha conseguisse competir economicamente com a Inglaterra, à partir disso as elites financeiras e industriais de Londres, Paris e St.Petersburg já tinham bem claro, a Alemanha era uma ameaça e precisava ser contida, não fosse o assassinato do arquiduque, seria qualquer outro estopim. O fim da primeira grande guerra trouxe consigo um novo arranjo diplomático com o objetivo declarado de impedir que novos conflitos armados viessem a surgir, A Liga das Nações surgiu dessa ambição ancorada nos princípios da não agressão e da diplomacia como meio de solução das controvérsias entre os membros, baseada no internacionalismo idealista do presidente americano Woodrow Wilson, (o idealismo é uma das vertentes da teoria liberal de política internacional) a Liga das Nações adotou um princípio de igualdade entre seus membros, como resultado qualquer decisão somente seria tomada havendo consenso entre todos os Estados membros. Hoje é bem claro que a Liga das Nações foi um empreendimento falho, mas na época poucos intelectuais e políticos discordaram do entusiasmo de que a então única guerra mundial seria a última. É nesse cenário que o célebre historiador Edward Hallet Carr publicou uma das obras mais relevantes da história das Relações Internacionais. O livro 20 anos de crise: 1919-1939, foi o mais importante relato em tempo real das falhas da Liga das Nações desde a assinatura do tratado de Versalhes. Na obra Carr divide os pensadores da política internacional em duas escolas, os realistas e os idealistas. Os idealistas como Wilson e Norman Angeli acreditavam que uma nova e superior ordem internacional poderia surgir em torno da Liga. Carr aponta que o próprio tratado de Versalhes tinha falhas estruturais e que a Liga não passava de um experimento esperançoso porém incapaz de realizar o necessário para que a paz fosse mantida. Na esteira do pensamento de outro autor realista, Hans Morgenthau, Carr argumenta que as capacidades materiais dos Estados pesavam mais do que suas ideias e que para o realista não existe dimensão moral na Política. Portanto o certo a se fazer é o que gera resultados. Em outras palavras a diplomacia só é útil quando se tem a capacidade material (armas) para sustentá-la. A diplomacia europeia da época não tinha essa capacidade material, Hitler fez as potências europeias de gato e sapato com repetidos sinais de que não iria respeitar nenhuma diplomacia vazia de poder bruto. A Inglaterra de Neville Chamberlain achava que a Alemanha era problema da França, e a França passava a responsabilidade para a Inglaterra que afinal era a maior potência do continente. Hitler se aproveitou dessa fraqueza e partiu em busca do seu sonho doentio de uma Alemanha orgulhosa, pura e ariana, quando Churchill chegou ao poder já era tarde demais para conter a Alemanha militarmente sem um enfrentamento direto. É curioso pensar que se o Japão não tivesse feito um cálculo estratégico errado ao atacar Pearl Harbour em dezembro de 1941, o mundo como conhecemos sequer teria existido, o centro de poder global seria entre Berlim, Roma e Tokyo ao invés de Washington, Londres e Paris e a guerra fria seria entre o Nazismo e o Comunismo. Pg. 05Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os eventos de alteração da ordem global Por Rodrigo Bueno O erro japonês custou a vitória ao eixo e deu origem ao mais novo empreendimento global para manutenção da paz em escala global. Ás Nações Unidas ou ONU surge em 1946 simultaneamente como uma substituição e evolução da Liga das Nações. O arranjo da ONU entendeu os erros da sua antecessora e estabeleceu duas arenas de discussão, a Assembleia Geral em que todos tem voto e representação e o conselho de segurança formado pelas potências vencedoras da segunda guerra mundial (Estados Unidos, Rússia,Inglaterra,França) além da China, todos eles possuem poder de veto. Dessa maneira a ONU não foi utópica em sua busca por igualdade, de forma bem consciente se percebeu que a igualdade levada ao extremo gera anarquia e incapacidade de atuação. Desde a sua fundação a ONU e mais especificamente o conselho de segurança conseguiram impedir a eclosão de uma terceira guerra mundial, durante os anos de Guerra Fria, tanto Estados Unidos quanto a União Soviética usaram da sua prerrogativa de veto para moldar a disputa dos dois polos na segunda metade do século XX, a disputa entre as duas superpotências que dividiu o mundo em esferas de influência ocidentais e soviéticas acordada na conferência de Yalta (1945) chega ao fim com a queda do muro de Berlim, a unificação da Alemanha e inclusão da Rússia e das suas ex repúblicas soviéticas no mundo ocidental. A vitória americana na guerra fria levou a anos de otimismo e esperança de que em um mundo que testemunhou o Fim da História como sustentado por Francis Fukuyama. Disputas por poder eram coisa do passado, como a democracia liberal capitalista havia superado seus dois competidores, o Fascismo e o Comunismo. Não haveria mais tanta preocupação estratégica ou política, as Relações Internacionais seriam reduzidas a preocupações econômicas. O 11/09 provou que Fukuyama estava errado e coroou Samuel Huntington que no espetacular Choque de Civilizações (1996) acabou por prever uma reação islâmica frente a existência de um único polo de poder global, no caso os Estados Unidos. Nesse período ficou bem claro que nem a maior nação do mundo estava segura em sua própria casa, a crença de que um país protegido por dois mares e com vizinhos aliados no norte e no sul jamais seria atacado se provou falsa e o ataque direcionado a um dos maiores marcos do capitalismo global anunciava tempos sombrios pela frente, o ocidente sofreu com ataques terroristas por basicamente duas décadas desde então mesmo após a morte de Bin Laden em 2011, surgiu o ISIS, ainda mais cruel e desumano. Fizemos um breve passeio histórico por vários eventos que definiram a ordem global, a Revolução Francesa, ás Guerras Napoleônicas, a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, e o 11/09 detalhando quais foram suas causas e consequências, agora nos resta analisar o último desses eventos. A guerra entre Ucrânia e Rússia de 2022. Pg. 06Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os eventos de alteração da ordem global Por Rodrigo Bueno Ao longo desse passeio vimos como certos erros táticos custam muito caro em um contexto de guerra, Napoleão ao invadir a Rússia, A Alemanha ao desafiar o poderio britânico, o Japão ao atacar Pearl Harbour… Dessa vez o erro aparenta ter sido cometido por Putin, militarmente seu país caminha para uma derrota bem humilhante para um exército menos numeroso e pior equipado, o mesmo nível de humilhação que os Estados Unidos tiveram ao serem escorraçados no Vietnã, o presidente ucraniano se transformou em uma celebridade maior do que a própria vida, ovacionado por todos no ocidente, enquanto ele ficar vivo a Ucrânia não irá se render, e se for morto virará mártir. Instalar um governo fantoche também não irá funcionar com os ucranianos dispostos a lutar pelo seu país e impedir os planos expansionistas de Putin. As esperanças russas de uma Blitzkrieg não foram alcançadas. Putin compartilha com Napoleão e Hitler uma ambição muito clara de redesenhar o mapa geopolítico europeu para atender os seus interesses, e Putin conseguiu essa façanha, mas não do jeito que ele imaginava. Putin tinha razões para acreditar que poderia sair impune dessa invasão, o ocidente parecia estar em declínio crônico, a ascensão de governos impossíveis de serem categorizados no espectro políticoem países como os Estados Unidos, o Brasil, a Polônia e a Hungria, e o Brexit teriam sido provas de uma desintegração dos valores e instituições liberais. Enfraquecidos pela divisão interna e o rancor ideológico entre conservadores e progressistas, além disso a saída desastrosa dos Estados Unidos no Afeganistão e os eventos da invasão do capitólio teriam revelado que os EUA seriam um poder em decadência. Esse raciocínio que deve ter sido a base usada por Moscou antes da invasão somado ao fato da Rússia não enxergar que a Ucrânia exista de fato e que ela nada mais é que parte da Rússia. O erro mais grave de Putin foi dar ao ocidente um inimigo em comum, Putin em poucos meses conseguiu uma reversão política de 180° graus na Política Externa alemã, tradicionalmente relutante em se envolver em conflitos armados, pelas razões históricas mencionadas acima, anunciou que irá duplicar o seu orçamento de defesa, Biden em discurso apaixonado no State of The Union unificou republicanos e democratas e impôs sanções pesadíssimas ao setor energético russo, Boris Johnson que parecia estar com um pé fora de Westminster agora é aplaudido até por rivais políticos, Macron que poderia perder a reeleição para um candidato de viés nacionalista e eurocético desponta como franco favorito à reeleição. Quem também encontrou novo propósito foi a OTAN, que quase foi desmontada no governo Trump e hoje funciona como uma linha vermelha para às ambições expansionistas russas. Publicamente Putin vem minimizando o impacto das sanções em sua economia, mas já enfrenta pressão das elites russas e dos militares para encerrar sua incursão militar. Por mais que Putin negue, a Rússia estava sim integrada a economia global, acabou expulsa do sistema global de pagamentos (SWIFT), suas indústrias, incluindo petróleo e gás, dependem de bens e componentes importados. Pg. 07Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os eventos de alteração da ordem global Por Rodrigo Bueno Na prática o que Putin conseguiu foi uma nova cortina de ferro separando a Rússia do mundo rico, uma Ucrânia ainda mais determinada em se juntar ao ocidente, uma derrota militar acachapante, uma OTAN com novo propósito e mais financiamento, e o ocidente esquecendo seus problemas internos para defender o seu modo de vida. Não é por acaso que na última rodada de negociações a Rússia apontou que deseja apenas proteger regiões que na prática já eram domínio dela como o Dombass. Economicamente a Rússia sai extremamente enfraquecida, militarmente com a reputação de um gigante com pés de barro, incapaz de exercer seu hard power pois os demais vizinhos já buscam o ingresso na OTAN para terem a proteção do artigo 5°, incapaz de exercer seu soft power pelo seu isolamento, e com um líder orgulhoso demais para buscar uma saída que não os prejudique tanto, a única coisa que resta para a Rússia é se aproximar da China, mas sem uma relação de igualdade entre às partes, e sim uma de suserania e vassalagem. Referências Bibliográficas CARR, H.Edward (1939). 20 anos de crise: 1919-1939. Brasília: Universidade de Brasília, IPRI/FUNAG, 2001. FUKUYAMA, Francis. O Fim da história e o último homem, Rio de Janeiro: Rocco, 1992 HUNTINGTON, Samuel P. The clash of civilizations and the Remaking of world order: New York, Simon & Schuster, 1996 KISSINGER, Henry. Ordem Mundial : Rio de Janeiro, Objetiva, 2015 MEARSHEIMER, John. The Tragedy of great power politics. New York : W.W Norton & Company, 2001 SCRUTON, Roger. Conservadorismo: Um convite à grande tradição: Rio de Janeiro, Record, 2019 Pg. 09Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Senhoras e Senhores, esse é o circo dos horrores Por Marcos Nogueira Ministério Público gastando milhões com Iphones e Samsungs novos para promotores de “justiça”, STJ com orçamento de meio milhão para comprar biscoitos e doce de leite, prefeito pego com dólares na cueca sendo reeleito,…, todas essas situações, para alguém que, como eu, é um grande apreciador de stand-up comedy parecem vindas de um set de piadas de algum humorista mais sarcástico, ou de um especial do Netflix, mas, acredite se quiser (se não quiser, vai continuar acontecendo assim mesmo), isso está acontecendo no nosso Brasil brasileiro, o Brasil do meu amor, terra de nosso senhor. Que o judiciário manda no país todos já sabemos, e que ele não é eleito por ninguém para cargos vitalícios já é fato recorrente, os supersalários também já são notícia requentada, então, vou colocar outro ponto de vista sobre isso: dívida pública brasileira. O Brasil possui, no primeiro semestre de 2021, mais de R$ 650 BILHÕES para pagar de dívida, contraída a uma taxa média de aproximadamente 8% a.a., mas, como é sabido, nenhum governo em qualquer lugar do mundo paga suas dívidas, eles fazem o processo de rolagem (basicamente adiar o pagamento da dívida atual contraindo uma dívida futura). A taxa de rolagem da dívida brasileira está em 2% a.a., mas pensem bem: você emprestaria todo esse dinheiro para o governo brasileiro recebendo apenas 2% a.a.? Não né. Pois então, nem você, nem ninguém, tanto é que o tesouro SELIC já está pagando 110% da SELIC, e, assim, reflete-se o quanto esta taxa está irreal para o nível de risco país em que o Brasil se encontra. Lembrando que esse é o título de menor risco do Brasil, nosso risco soberano. Não somos o pior dos países emergentes, mas também não podemos nos dar ao luxo de cometer os excessos ali acima descritos, principalmente pelo fato de que estamos entrando numa trajetória de juros extremamente perversa: para manter essa taxa de juros (repito: artificialmente) baixa, o governo tem sido forçado a diminuir os prazos de pagamento da dívida interna brasileira (registrada pelas linhas azuis, a mais cara e mais perigosa que temos, dado que o prazo da dívida externa, registrado em laranja, está bem confortável), como se pode ver no gráfico abaixo. Com isso, gera-se um ciclo vicioso de aumento de risco e redução do prazo da dívida que acaba culminando em aumento de inflação. Não sei vocês particularmente, mas eu fiquei com uma sensação de ter comido muito nessa pandemia. E não só eu, mas o mundo inteiro fez isso. Na internet em 2020, além dos africanos do caixão, um meme que circulou muito foi o do preço do arroz. Mas, como vemos abaixo, todos os alimentos subiram de preço esse ano, e exageradamente. Mais importante que lembrar que as commodities são todas dolarizadas, é lembrar que, ainda que a patrulha de PT, PSOL, PC do B, entre outros discorde, o Brasil é um país pobre (emergente ou em desenvolvimento é apenas um eufemismo, principalmente porque já temos esse rótulo há mais de 30 anos), com uma população que compromete grande parte de sua renda com alimentação básica, e, portanto, esses produtos têm grande peso nos índices de inflação. Pg. 09Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Senhoras e Senhores, esse é o circo dos horrores Por Marcos Nogueira Mas como o risco aumentou se a bolsa de valores se recuperou bem depois de passada a pandemia? Ela de fato recuperou, e até passou em alguns lugares do mundo, os patamares pré-COVID, mas, como a alta massiva de metais preciosos, como ouro e prata, e das criptomoedas, como bitcoin e ethereum, indicam, provavelmente não foram as empresas que evoluíram, mas sim o dinheiro que perdeu valor, dada a injeção massiva de moeda pelo FED nos Estados Unidos, pelo BCE na Europa e, em muito menor grau, pelo BC aqui do Brasil. Estão aí mais dois argumentos para provar que os juros e os riscos do Brasil estão em patamares preocupantes para se dizer o mínimo, e aí entra a questão da trajetória fiscal no Brasil, que está péssima (não venham dizer que é por causa dos gastos de pandemia, já estava ruim bem antes, a pandemia só agravou). A reforma da previdência ajudou um pouco na amenizada dessa curva, porém, a reforma administrativa é talvez 10x mais importante que isso, pois, cada vez mais, os governos,em todas as instâncias, comprometem e fixam gastos que não podem ser financiados nem por aumento de impostos, pois a população não consegue mais pagar tantos, nem por impressão de moeda, que só agravaria a tendência inflacionária citada acima. A única forma de resolver esse impasse é o governo gastar menos. Não existe mágica. O gráfico nos mostra o quão alarmante a situação é e o quão rápido o governo tupiniquim tem que agir. A linha azul mostra as taxas dos contratos de títulos de dívida de 2022, a linha vermelha mostra a mesma grandeza mas para 2025 e a verdinha, para 2031. Para rolar a dívida por mais tempo, terá de pagar muito mais. Por isso, os prazos de dívida caem e a qualidade da dívida piora, elevando os riscos de maneira cíclica. Sem querer ser um teórico do caos, mas sabendo que já estou sendo, o departamento VDM do governo deve ser acionado rapidamente, ou o circo dos horrores poderá ser instalado no Brasil já em 2021. Pg. 10Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Politicamente Correto, Militância canceladora e Big Techs. Vivemos em 1984 de George Orwell Por Eduardo Carvalho 1984 é a grande obra prima de George Orwell, o escritor inglês construiu um universo em que um governo totalitário exerce total controle sobre à vida dos indivíduos, em constante vigia, perpetuando esse controle por meio da mentira e da censura. No mundo real, observamos algo semelhante em países totalitários como China e Coreia do Norte. Veríamos algo semelhante em uma vitória da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, ou num expansionismo da União Soviética em âmbito global, mas não é difícil observar um certo simulacro da obra de Orwell no mundo democrático, principalmente no meio digital. Peguemos alguns conceitos da obra de Orwell: Novafala, Grande Irmão e Dois Minutos de Ódio. Novafala descreve uma nova linguagem que visa estreitar o âmbito de pensamento. Não haveria mais o crime de pensamento — crime que consiste no ato em que o criminoso pensa e expressa algo que não está de acordo com as doutrinas do Partido — pois aquelas palavras que desagradam o Partido serão eliminadas. Ora, não vemos na ideia da Novafala uma semelhança com o politicamente correto e, mais especificamente, a tal linguagem neutra? Um Partido corrompe a linguagem para adequá-la a sua visão ideológica. A corrupção da linguagem ao estilo Novafala não se restringe ao ambiente digital e já é aplicada de forma autoritária no ambiente acadêmico. Em notícia publicada no primeiro semestre de 2017 pelo jornal britânico The Telegraph, alunos da Hull University estavam sob risco de terem suas notas rebaixadas caso não utilizassem a linguagem neutra em dissertações. Alguns acadêmicos se pronunciaram contra, afirmando ser isto uma atitude de “policiamento linguístico”. Assim como a Novafala tem seu simulacro na realidade, o Grande Irmão não é diferente. Um dos grupos que parecem inspirados no homem de bigode que vigia os cidadãos de Oceania é o fascistoide Sleeping Giants, esquerdistas extremos, atuam como vigilantes do pensamento. O grupo de extrema-esquerda vasculha a internet a procura de indivíduos que explanam certos pensamentos divergentes do esquerdismo, buscam por meio de pressões covardes, o boicote financeiro de empresas aos seus alvos, que tem por meio delas, seu meio de sustento financeiro. Caso a empresa negue o boicote, é difamada, se torna pária, financiadora do tal “nazifascismo”. É o Grande Irmão digital. É correto pensar que em um governo totalitário, a punição é muito pior, na tirania estatal, a punição é aplicada com torturas e assassinatos àqueles que descumprem a ordem do Partido. A militância orwelliana esquerdista não vai lhe causar danos físicos, mas buscará destruir sua reputação, sua honra, tirar até mesmo sua forma de sustento (o grupelho já citado é expert nisso). Uma militância que nos remete aos “Dois Minutos de Ódio”. Na obra de George Orwell, Dois Minutos de Ódio é o momento em que as massas irracionais, submissas ao totalitarismo, se unem diante de uma grande tela para execrar os “inimigos” da pátria. Pg. 11Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Politicamente Correto, Militância canceladora e Big Techs. Vivemos em 1984 de George Orwell Por Eduardo Carvalho A militância esquerdista nas redes sociais atua da mesma forma, promovem linchamento virtual para aqueles que falem algo, escrevem algo, não condizente com a Novafala progressista, frases supostamente machistas, racistas e homofobicas. São os inimigos a ser execrados. São os ditos “cancelados”. Aqueles que se colocam no lugar do governo são as Big Techs (Facebook, Google, Microsoft, Apple e Amazon), que exercem à censura concreta, como oligopólios de comunicação em massa, com claro potencial de moldar a opinião pública, inclusive coletando e processando nossos dados sem que percebamos, não se limitam as meras relações de uma empresa privada comum, adquirem responsabilidade política e social. O grande problema é que as Big Techs usam de seu aspecto político-social para censurar aqueles que defendem ideias que não vão de acordo com os ideais esquerdistas. Em 2018, o Facebook deletou mais de 196 páginas e 87 contas no Brasil, algumas páginas continham centenas de milhares de seguidores. Segundo a rede social de Zuckerberg, faziam parte de: “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. Todas as páginas e contas deletadas continham viés conservador e liberal em suas publicações. A justificativa da rede social, deveras esdruxula, pois, diversas contas possuíam endereços profissionais e contatos telefônicos, como no caso do Movimento Brasil Livre (MBL), que teve contas deletadas na ação do Facebook, portanto, a alegação de perfis falsos era, em si, falsa. Recentemente nos Estados Unidos, tivemos o exemplo do ex-presidente Donald Trump, que teve sua voz cerceada a mais de 80 milhões de usuários do Twitter por uma interpretação subjetiva de suas falas ao concluir que teriam levado a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021. O app Parler, popular entre conservadores, foi banido de serviços de distribuição de aplicativos pertencentes as Big Techs (Apple Store e Google Play) por rejeitar a censura contra grupos conservadores. Novafala restringindo o vocabulário para levar a um pensamento permitido (politicamente correto, linguagem neutra, etc.); um governo central com poder de censura (Big Techs); a constante vigilância onipresente do Big Brother “zelando” por nós (algoritimos/Sleeping Giants); Dois Minutos de Ódio (militância canceladora). Se Orwell estivesse vivo, tenho certeza que diria: “Não seus idiotas! Vocês entenderam tudo errado!”. REFERÊNCIAS: https://medium.com/@joaopayne/george- orwell-explica-politicamente-correto- %C3%A9-censura-bbb13455cfbc https://g1.globo.com/economia/tecnologia/n oticia/2018/07/25/facebook-retira-do-ar- rede-de-fake-news-ligada-ao-mbl-antes-das- eleicoes-dizem-fontes.ghtml Pg. 12Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br https://medium.com/@joaopayne/george-orwell-explica-politicamente-correto-%C3%A9-censura-bbb13455cfbc https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2018/07/25/facebook-retira-do-ar-rede-de-fake-news-ligada-ao-mbl-antes-das-eleicoes-dizem-fontes.ghtml http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os pontos positivos e negativos da reforma tributária Por Wagner Constâncio Os brasileiros têm total consciência que o sistema tributário nacional é um dos mais burocráticos e complexos do planeta, o que impede a indústria de desenvolver o seu potencial com preços justos e competitivos. Há estudos como do IPEA — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada — que afirma, categoricamente, que os impostos sobre consumo podem representar mais de 51% da carga tributária brasileira.[1] E nessa linha, após muitas reinvindicações do povo e promessas depolíticos sobre enxugamento de gastos, transparência, justiça, modernização, desburocratização e flexibilização do sistema tributário nacional, finalmente foi apresentado o projeto de lei nº 3.887/2020, com o intuito de atender essa demanda, principalmente para tornar o país mais produtivo, confiável e seguro, a fim de investimentos internos e externos. A reforma será conduzida em fases distintas. No momento foi apresentada apenas a 1ª parte do projeto, que prevê a criação de um tipo de IVA Federal (Imposto sobre Valor Agregado), no caso, a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS) em substituição à atual cobrança das alíquotas de PIS/Pasep e COFINS. Por conseguinte, será apresentada também, como 2ª parte do projeto, a criação do novo tributo sobre transações digitais, cuja alíquota será de 0,2% sobre todas as transações eletrônicas, com o intuito de ajudar a produzir uma receita fiscal extra e, então, permitir a redução da carga tributária que as empresas pagam sobre a folha de salários dos trabalhadores. A proposta está sendo duramente criticada por especialistas e alguns afirmam até se tratar do retorno da antiga CPMF. Sobre os pontos positivos da reforma, o primeiro a ser apresentado é a extinção da ausência de transparência, no que concerne ao pagamento dos impostos. Os brasileiros saberão, de fato, o que, assim como o porquê estão pagando determinado imposto ou tributo, o que antes não era possível. Além disso, extinguirá vários regimes diferenciados de tributação dos produtos das empresas, que antes refletia na alíquota e a base de cálculo para o pagamento do PIS-PASEP/COFINS. Antes, havia uma tributação diferenciada para cada tipo de produto, que incidia de acordo com todas as receitas. Com a CBS (Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços), haverá apenas um imposto único, em que cada empresa pagará somente sobre o valor que agrega ao produto ou ao serviço com alíquota de 12%, o que trará mais segurança jurídica, pois, incidirá sobre a receita bruta. O segundo ponto positivo é o fim da cumulatividade. Antes, os impostos / tributos incidiam em todas as etapas dos processos produtivos e/ou de comercialização de determinado bem, inclusive sobre o próprio anteriormente pago, da origem até o consumidor final, influenciando em seu custo e na determinação do preço de venda.[2] Agora, haverá a cobrança apenas sobre o valor adicionado por empresa e receitas não operacionais não serão tributadas (dividendos, rendimentos de aplicações financeiras e juros sobre capital próprio), o que proporcionará mais concorrência entre as empresas. Nessa mesma linha, quem exporta Pg. 13Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os pontos positivos e negativos da reforma tributária Por Wagner Constâncio ou investe compensará imediatamente o crédito ou receberá o valor em dinheiro. Já o terceiro ponto positivo, consiste na capacidade dessa reforma de limitar a representatividade de se ter a cobrança de impostos indiretos, ou seja, naqueles que incidem na compra de mercadorias e serviços, o que também aumentará a competitividade das empresas e o interesse em novos investimentos no cenário nacional, bem como internacional. Todavia, apesar dos pontos positivos, pode-se vislumbrar os negativos. A ideia de se criar um imposto sobre transações digitais, por exemplo, é totalmente contrária aos princípios que regem propriamente a reforma. Se é para modernizar, simplificar e desburocratizar, qual é o motivo da criação de mais um imposto? No momento não há uma conclusão racional sobre o assunto. A reforma beneficiará mais a classe empresarial do que os cidadãos de fato, principalmente os mais pobres. De maneira geral, o Sr. José que compra a sua cachaça no mercado do Sr. Orlando diariamente, a Dona Carolina que deseja comprar seu tão sonhado vestido de grife e o Francisco que gosta de comer um torresmo no bar do Sr. Manoel, sentirão, quase de maneira imperceptível, os impactos na redução do preço final do produto e serviço, o que não aumentará significativamente o poder de compra, muito menos melhorará a qualidade de vida. Para isso, é preciso uma reforma tributária a nível estadual, criando-se assim um sistema de IVA Estadual, a fim de modernizar, simplificar e unificar impostos, gerando economia e redução no preço final dos produtos e serviços. Atualmente, de acordo com a Constituição Federal e o Código Tributário Nacional (CTN), os impostos estaduais dividem-se em três: o ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação), o IPVA (imposto sobre a propriedade de veículos automotores) e o ITCMD ou ITCD (Imposto sobre Transmissão Causa mortis e Doação). Para os cidadãos sentirem verdadeiramente os impactos positivos dessa reforma no bolso, é preciso revogar esses três impostos e criar um IVA estadual, que os substitua. Assim, gerará mais segurança jurídica, agilidade, simplificação e economia para o cidadão. É importante ressaltar acerca da função de cada um dos impostos estaduais. A cobrança do ICMS, por exemplo, se dá através do fato gerador a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, o transporte de pessoas, bens, cargas e valores, os serviços de comunicação, bem como a mercadoria, que deverá ser bem móvel em circulação onerosa, ou seja, cobrando-se em dinheiro, devendo ter a circulação e a transferência de titularidade. Ou seja, os cidadãos pagam o ICMS, por exemplo, na emissão de passagens rodoviárias por trecho percorrido pela empresa, pelo transporte público municipal para ir e voltar do trabalho, as cargas de mudança, no carregamento de mercadorias, etc. Pg. 14Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os pontos positivos e negativos da reforma tributária Por Wagner Constâncio Já o IPVA, o fato gerador é a propriedade de veículo automotor. A propriedade, no entanto, é diferente de posse do veículo. É, por exemplo, o Tiago que comprou o carro do Jorge, mas, não transferiu a propriedade do veículo. Contudo, apesar da posse do carro por Tiago, Jorge ainda detém a propriedade do veículo e, portanto, é responsável pelo pagamento do imposto. No que tange o imposto, os contribuintes a cada dia se revoltam. Recentemente, proprietários de veículos criticam mudança na cobrança do imposto. É que foi aprovado o fim da isenção da cobrança para carros com idade entre 20 e 40 anos e a ampliação de 0,5 ponto percentual da alíquota (de 3%) aplicada para veículos leves devem representar incremento de R$ 740 milhões aos cofres públicos do Estado. [3] Ainda, o governo de São Paulo planeja aumentar a cobrança do imposto para duas categorias de veículos. O planejamento é acabar com alíquota de 3% para os carros híbridos, elétricos GNV ou etanol. Se isto se confirmar, a cobrança será de 4%, o mesmo dos carros a gasolina, flex e diesel, conforme informações do FDR notícias.[4] Para o professor de Direito Empresarial e Tributário da FGV/SP, da FIA e da Universidade Mackenzie de São Paulo – SP, Alexandre Pacheco, o IPVA é um dos piores impostos no Brasil e que em uma próxima reforma tributária, esse poderia ser extinto. Para ele, é um imposto, ineficiente, pouco produtivo, antieconômico, porque não dispõe de boa racionalidade econômica e, por isso, causa maior indignação nos seus contribuintes, pois, onera os mais pobres que têm família ou que utilizam o veículo para o trabalho quando não há transporte público satisfatório, pressionando a renda de quem justamente não tem sobras confortáveis para pagar o imposto, principalmente os que financiam a sua compra no limite de suas possibilidades de renda.[5] O ITCMD ou ITCD, o fato gerador é qualquer patrimônio com relevância econômica, pertencente ao “De Cujus”, que transmite automaticamente para os seus herdeiros. Neste sentido, cobra-se o imposto. Transmite-se também por ITCD nos casos de morte presumida. A transmissão pode-sedar por sucessão legítima, testamentária ou por morte presumida. A morte presumida pode ser por decretação ou sem decretação de ausência. As alíquotas máximas são fixadas pelo senado e são vigentes à data da abertura da Sucessão (Súmula 112, STF) e progressivas, segundo o STF, (RES 62.045) por até 5 anos. Essa estrutura de arrecadação nos Estados da federação onera, de maneira injusta, os cidadãos, trazendo-lhes transtornos e diminuindo o seu poder de compra. Portanto, conclui-se que a reforma a nível federal em si é benéfica. Modernizando e simplificando a base federal do sistema tributário pode trazer benefícios para o empresário, reduzindo a burocracia e os custos de produção, aumentando-se a competitividade e o interesse em investimentos. Pg. 15Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br http://hermeneuticapolitica.com.br/ Os pontos positivos e negativos da reforma tributária Por Wagner Constâncio Isso, por sua vez, refletirá no preço final dos produtos e serviços, que poderão ficar mais baratos para os cidadãos. Mas é preciso fazer mais. Somente a reforma a nível federal não é o suficiente, já que os impostos a nível estadual também oneram os cidadãos, retirando-lhes o poder de compra e a qualidade de vida. Talvez, com a criação de um IVA a nível estadual, resolveria esse problema, o que pode trazer a possibilidade do Brasil sair do ranking dos piores e mais burocráticos sistemas tributários do planeta. NOTAS: [1] Há estudos como do IPEA — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [link] — que validam a explicação sobre essa dificuldade da competitividade industrial. De acordo com a pesquisa os impostos sobre consumo podem representar mais de 51% da carga tributária brasileira. Disponível em: https://arquivei.com.br/blog/aspectosreform a-fiscal-e-tributaria-tf/ . (Acesso em nov. 2020). [2] Um imposto ou tributo cumulativo é aquele que incide em todas as etapas intermediárias dos processos produtivo e/ou de comercialização de determinado bem, inclusive sobre o próprio imposto/tributo anteriormente pago, da origem até o consumidor final, influindo na composição de seu custo e, em consequência, na fixação de seu preço de venda. Disponível em: https://blog.grupostudio.com.br/studio- fiscal/o-que-sao-tributos-cumulativos-e-nao- cumulativos/#:~:text=Um%20imposto%20ou %20tributo%20cumulativo,e%2C%20em%20 consequ%C3%AAncia%2C%20na%20fixa%C 3%A7%C3%A3o . (Acesso em nov. 2020). [3] O fim da isenção da cobrança de IPVA para carros com idade entre 20 e 40 anos e a ampliação de 0,5 ponto percentual da alíquota (de 3%) aplicada para veículos leves devem representar incremento de R$ 740 milhões aos cofres públicos do Estado. Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteu do/economia/2020/07/749907- proprietarios-de-veiculos-criticam-mudanca- no-ipva.html (Acesso em nov. 2020). [4] IPVA SP: Governo estuda aumentar cobrança para duas categorias de veículos. Disponível em: https://fdr.com.br/2020/08/27/ipva-sp- governo-estuda-aumentar-cobranca-para- duas-categorias-de-veiculos/ . (Acesso em nov. 2020). [5] IPVA – um dos piores impostos do Brasil. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/colunistas/jo go-das-regras/ipva-um-dos-piores-impostos- do- brasil/#:~:text=O%20IPVA%20%C3%A9%20 um%20desses,a%20um%20sistema%20tribut %C3%A1rio%20p%C3%A9ssimo . (Acesso em nov. 2020). Pg. 16Acesse o site: http://hermeneuticapolitica.com.br https://arquivei.com.br/blog/aspectosreforma-fiscal-e-tributaria-tf/ https://blog.grupostudio.com.br/studio-fiscal/o-que-sao-tributos-cumulativos-e-nao-cumulativos/#:~:text=Um%20imposto%20ou%20tributo%20cumulativo,e%2C%20em%20consequ%C3%AAncia%2C%20na%20fixa%C3%A7%C3%A3o https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/economia/2020/07/749907-proprietarios-de-veiculos-criticam-mudanca-no-ipva.html https://fdr.com.br/2020/08/27/ipva-sp-governo-estuda-aumentar-cobranca-para-duas-categorias-de-veiculos/ https://www.infomoney.com.br/colunistas/jogo-das-regras/ipva-um-dos-piores-impostos-do-brasil/#:~:text=O%20IPVA%20%C3%A9%20um%20desses,a%20um%20sistema%20tribut%C3%A1rio%20p%C3%A9ssimo http://hermeneuticapolitica.com.br/
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