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Edição, Paginação e Capa Anderson Ferreira Alida Roque Boher Conselho Editorial Alida Roque Boher Adriano Oliveira de Paula Valdete Guerreiro José Edgar Amorim Clara M. Sousa Produtora Editorial Roseli Carlos Oliveira Pinto Diagramação Know-how Editoração Revisão Técnica Alida Roque Boher Depósito Legal: M-28188-2020 BISAC: Public Tender / Commented Questions / Social Work Copyright 2020 © Serviço Social para Concursos. Todos os direitos reservados. Esta obra está protegida legalmente por direitos de autor, estando vedada a sua reprodução, no todo ou em parte, por quaisquer meios sem a prévia autorização por escrito do autor, do editor ou da editora. S417 180 Testes Comentados para Atualização profissional do Assistente So- cial. Alida Boher. – São Paulo. 2020. Volume I ISBN-07: 978-956-353-076-6 ISBN-10: 490 pág. 180 testes específicos, comentados, com prévia contextualização históri- ca pertinente a cada temática abordada. Para atualização, capacitação profissional e preparação em concursos no âmbito do Serviço Social. CDD: 441.33 CDU: 33 (033) BOHER, Alida Roque 6 FUNDAMENTOS E SIGNIFICADO SÓCIO-HISTÓRICO DO SERVIÇO SO- CIAL. AS DIMENSÕES CONSTITUTIVAS DO EXERCICIO PROFISSIONAL E DO PROJETO ÉTICO – POLÍTICO. OS CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DE 1947 A 1993 E A LEI DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO. ASSESSORIA E CONSULTORIA: APONTAMENTOS BIBLIOGRÁFICOS. INTERDISCIPLINARIDADE: DEMARCANDO CONCEITOS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: ALGUMAS NOTAS PARA O DEBATE. ESTATUTO DO IDOSO E POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO. LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS. LEGISLAÇÕES SOBRE A PESSOA COM DEFICIÊNCIA. 63 119 178 220 256 334 389 421 455 sumário Sinônimo de resistência e de compromisso político, essa produção estimula a reflexão teórica e político-interventiva capaz de fortalecer o trabalho profissional, captar elementos antes não percebidos, construir alianças com os demais trabalhadores e voltar a acreditar em tempos jucundos. Experiências como essas merecem nosso respeito e admiração. Além disso, há o inquestionável mérito de construir reflexões a respeito dos fundamentos do Serviço Social, das dimensões constitutivas do trabalho e do projeto ético político profissional, além de problematizações referentes à interdisciplinaridade, à assessoria e consultoria, à política de saúde mental, álcool e outras drogas, ao Estatuto da Criança e do Adolescente, do idoso, às Leis Maria da Penha e da pessoa com deficiência. Não obstante, estes intelectuais, autores e organizadores deste livro, preocupados em garantir uma produção de qualidade que potencialize inserções com maior segurança no mercado de trabalho profissional, mapearam após as problematizações de cada capítulo, questões recorrentes nos principais concursos públicos do País. Além disso, teceram comentários a respeito de cada alternativa de resposta. Por fim, o livro que o leitor tem em mãos merece sua leitura atenta e cuidadosa, capaz de germinar novas perguntas e contribuir para a construção de novos tempos; afinal, o tempo subsiste. APRESENTAÇÃO 4 AO ELABORARMOS ESTE CAPÍTULO, pretendemos contribuir com um importante debate para a categoria profissional e cobrado em quase 99,9% dos concursos. Para tanto, o objetivo deste artigo é contextualizar, a gênese do Serviço Social, bem como seu surgimento no Brasil, analisando a sua inserção na divisão sociotécnica do trabalho e o período de reconceituação do Serviço Social que se constitui, então, como um movimento de revisão profissional e como marco na história da categoria. Para atingirmos o objetivo proposto, os autores utilizados foram selecionados levando em consideração a perspectiva histórico-crítica no que se refere à origem e à legitimação da profissão. Referenciamo-nos em autores como Montaño (2005; 2009), Martinelli (1990), Netto (1999; 2002; 2007), Castro (2003), Estevão (1999), Faleiros (1987; 1997; 2002), Yasbek (1999; 2009), Iamamoto (1992; 1998; 2003), Barroco (2005), entre outros. FUNDAMENTOS: SIGNIFICADO SÓCIO-HISTÓRICO DO SS 6 A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL Quanto ao debate sobre a natureza e gênese da profissão de Serviço Social, não há um consenso. O professor Carlos Montaño (2005) apresenta duas teses opostas sobre o surgimento do Serviço Social. A primeira tese, a endogenista, considera as bases da profissão, assim como sua evolução e, posteriormente, a profissionalização ligadas às formas anteriores de caridade, ajuda e assistência. A segunda tese, a histórico-crítica, defendida por autores como Iamamoto e Netto, entre outros, sustenta que a gênese da profissão tenha se dado nos marcos da sociedade capitalista, des- considerando, portanto, que a profissão tenha se desenvolvido a partir das formas anteriores de ajuda. A anuência existente na categoria profissional, é de que a profissão, diante da expansão e consolidação do capitalismo monopolista, atua na defesa dos interesses da classe dominante. Dessa forma, como afirma Netto (2007), “(...) a constituição da organização monopólica obedeceu a urgência de viabilizar um objetivo primário: o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados. (...) Ademais, a economia de trabalho “vivo”, (...) subordina-se diretamente à depreciação do capital” (NETTO, 2007, p. 20-21). Os principais autores do Serviço Social, como Marilda Villela Iamamoto, Raul de Carvalho, Manuel Manrique de Castro, Vicente de Paula Faleiros, Maria Lúcia Martinelli e José Paulo Neto, são defensores dessa tese: A profissão deve sua existência à síntese das lutas sociais que confluem num projeto político-econômico da classe hegemônica de manutenção do sistema perante a necessidade de legitimá-lo em função das demandas populares e do aumento da acumulação capitalista (MONTAÑO, 2009, p. 33- 34). 7 A propósito, a profissão de Serviço Social só pode ser con- cebida no interior do desenvolvimento das relações capitalistas de produção. Seu entendimento perpassa a compreensão das fun- ções do Estado e das lutas de classes sociais que se organizam em torno da lógica capitalista de acumulação. Lembramos que a existência da força de trabalho como mercadoria e como condição subjetiva da produção é a condição histórica para o surgimento do capital. Quando o trabalhador não dispõe dos meios de produção, não lhe resta alternativa senão vender sua força de trabalho em troca dos meios neces- sários para a sua subsistência. Desta forma, o trabalhador tra- balha sob o controle do capitalista e recebe a título de salário pela venda da sua força de trabalho, ou seja, a força de trabalho é consumida pelo capitalista. É esta mesma força de trabalho que reproduz o capital, a classe capitalista e as condições de sua dominação. O processo de produção capitalista é também processo de relações sociais entre classes, visto que o capital e o trabalho assa- lariado se criam no mesmo processo. Para possibilitar condições necessárias à sua reprodução, o capital passa a articular estra- tégias de manipulação da classe trabalhadora por meio de me- canismos de intervenção que propiciam a sua ampliação. A classe dominante tem, então, como instrumento de exercício de seu poder em relação à sociedade, o Estado. Diante disso, cabe refletir que a classe trabalhadora começa a reivindicar melhores condições de vida e a se organizar em mo- vimentos contra o Estado. A esse respeito Castro, deixa claro que, “as lutas operárias nos anos de 1917 e 1920, que ocorram sob a direção dos anarquistas, ‘expressavam o protesto proletariado numa situação de queda da expansão industrial em relação aos anos de guerra’. No entanto, os movimentos eram fortemente reprimidos pelo Estado” (CASTRO, 2003, p. 101). Na sequência, a crise que se alastra a partir de fins do século 8 Na sequência, a crise que se alastra a partir de fins do século XIX e que se estende até 1929 resulta em revolta dos tra- balhadorescom a situação de conflito gerada pelas consequências da crise. O crescente desemprego, as condições precárias de tra- balho e os baixos salários provocam a insatisfação da classe tra- balhadora e geram lutas em defesa de direitos civis, políticos e sociais. Nesse contexto, a questão social se torna objeto de in- tervenção do Estado, e as políticas sociais surgem como mediação entre estes. A princípio, tais políticas buscavam atender, em par- te, às reivindicações dos trabalhadores, mas seu objetivo maior era assegurar condições favoráveis ao desenvolvimento do capi- talismo, ou seja, tratavam-se de instrumentos de legitimação e consolidação da hegemonia capitalista. De acordo com Montaño, Essas políticas sociais (fundamentalmente estatais, mas também empresariais) se constituem em instrumentos privilegiados de redução de conflitos, já que contêm conquistas populares, sendo que estas travestidas de concessões do Estado e ou da empresa. Tudo indica que a preservação dessas políticas sociais e a incorporação dos sujeitos a elas é um resultado de uma espécie de acordo, de “pacto social”: o Estado concede esses benefícios à população carenciada em troca de que esta última aceite a legitimidade do primeiro (MONTAÑO, 2009, p. 41). Damos ênfase que para o desenvolvimento dessas políticas, eram necessários profissionais que as elaborassem e profissio- nais que as implementassem. É desta forma que, segundo Monta- ño (2009), o Serviço Social surge como profissão cuja função é a execução de tais políticas e que tem como campo de trabalho privilegiado o Estado. Salienta Castro (2003) que a origem do Serviço Social está relacionada à estratégia da Igreja de se adequar às mudanças econômicas e políticas pelas quais passava o país. De acordo com o autor, o Serviço Social surge, no Brasil, “(...) como resposta à questão social e, em particular, à presença do movimento 9 operário e popular, estimulado por contingentes que desen- volviam uma atividade prática de apostolado católico, prove- nientes das classes das classes dominantes” (CASTRO, 2003, p. 109). Na obtenção de seu objetivo, a Igreja utilizou-se de aparatos organizativos, como a Ação Universitária Católica, o Instituto de Estudos Superiores, a Associação de Bibliotecas Católicas, os círculos operários, a Confederação Nacional de Operários, a Liga Eleitoral Católica e a Ação Católica. O Serviço Social, no Brasil, surge por volta dos primeiros anos da década de 1930, tendo o seu início marcado pela criação, em São Paulo, do Centro de Estudos e Ação Social – CEAS – e, nesse centro, a realização do primeiro Curso Intensivo de Formação Social para Moças. Jovens católicas, pertencentes às famílias da burguesia paulista, compunham a clientela desse primeiro curso que se orientava para a difusão da doutrina social da Igreja. Essas ações fazem parte da grande estratégia de mobilização articulada pela Igreja, com o objetivo maior de recuperar sua influência e seus privilégios. 10 O SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: A SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO E RECONCEITUAÇÃO Como vimos, com a tensão diante da preocupação com os movimentos operários e a busca de estratégias para contê-los, surge, em 1930, o Serviço Social no Brasil, como uma estratégia da burguesia, junto à Igreja e ao Estado, para atuar em favor da harmonia social. Segundo Castro, a formação de escolas católicas no Brasil [...] resultou da reativação do movimento católico para renovar e reinserir a presença da Igreja nos novos blocos de poder, mediante a preparação da sua diferenciada militância a fim de responder adequadamente a uma estratégia de ação doutrinária exercendo um trabalho social de evidentes efeitos políticos (CASTRO, 2003, p. 103). O surgimento do Serviço Social, segundo Iamamoto e Carvalho (2005), encontrava-se ligado diretamente às intensas transfor- mações econômicas e sociais pelo qual a sociedade brasileira atravessava e aos grupos, instituições e classes que interagiam com essa transformação, desenvolvendo-se no seio do bloco católico, no momento em que a Igreja tenta recuperar e defender seus privilégios e interesses, a partir de uma nova reordenação interna através de uma militância ativa, formando agentes sociais especializados a partir de sua base social, doutrina e ideologia. O Serviço Social no Brasil, de início, mantinha algumas características e recebia influência do Serviço Social europeu, entre os quais o belga e o francês, tendo também sua identidade atribuída pela classe dominante que objetivava o controle social. Ao longo dos anos de 1930 e 1940, segundo Yasbek (2006), os profissionais do Serviço Social mantinham uma prática profissional que promovia o conservadorismo das relações 11 sociais, sendo essas relações com uma nova roupagem, visando ao ajustamento político e ideológico da classe trabalhadora à lógica capitalista. A partir da década de 1940, segundo Iamamoto e Carvalho (2005), a economia nacional brasileira, devido a vários fatores, sobressai-se no cenário internacional, havendo o aprofunda- mento da industrialização. Engrena-se a ideologia desenvolvi- mentista, em que se tem como foco as condições favoráveis para a expansão econômica. Em decorrência desses fatos, tem-se uma maior aproximação do Brasil com os Estados Unidos, em que o Brasil passa a receber forte influência americana. A influência recebida dos Estados Unidos abrange também o Serviço Social, que deixa de receber influência europeia e passa a ser influenciado pelo Serviço Social americano, que referencia uma práxis profissional baseada no pragmatismo das ações desenvolvidas, valorizando as técnicas dentro de um viés fun- cionalista/positivista. A intervenção profissional baseava-se nos casos individuais e, posteriormente, em grupos e comunidade. Essa metodologia pautava-se nas teorias de Mary Richmond. Neste período, a formação profissional do assistente social, no Brasil, centrou-se na valorização do método, destacando-se à instrumentalização técnica, deslocando-se o eixo teórico de influência neotomista para os pressupostos funcionalistas da Sociologia. A penetração dos ideais norte-americanos no Serviço Social brasileiro permitiu a entrada do fortalecimento e do ideal capitalista, em que se procurou, através do aperfeiçoamento técnico da profissão, preparar o assistente social como mão de obra capaz de executar programas sociais viabilizadores de soluções necessárias à efetivação do modelo desenvolvimentista assumido no Brasil, e, para isso, era necessário viabilizar a 12 participação do povo nesse projeto para evitar as tensões resultantes das contradições da política desenvolvimentista: O Estado passa a ser num certo lapso de tempo, uma das molas propulsoras e incentivadoras desse tipo de qualificação técnica, ampliando seu campo de trabalho conforme estratégias estabelecidas pelos setores dominantes para o enfrentamento da questão social, consolidadas em medidas de política social. (IAMAMOTO, 2000, p. 83). Na década 1960, tem-se o afloramento de discussões sobre a prática profissional do Serviço Social por alguns assistentes sociais em que esses profissionais adotam uma nova postura política fundamentada na Teoria Marxista, questionando a necessidade de uma práxis profissional, além de coerente com a realidade social brasileira, voltada, também, para a defesa dos interesses das classes menos favorecidas, referendando, portan- to, a necessidade de romper com as práticas conservadoras, alienadas e caritativas, desenvolvidas nas atuações profissionais. Nesse período, tem-se, também, a abertura de mais campos de atuação para os assistentes sociais e a apropriação de novas técnicas e metodologias de intervenção por estes. Na segunda metade da década 1960, quando emergem as discussões sobre a prática profissional do Serviço Social, tem início o Movimento de Reconceituação. Entendida sob o ponto de vista de questionamentos aos valores e costumes tradicionais, a década de 60 é considerada uma época “revolucionária”, especialmente por sua potencialidadede ruptura ideológica com instituições, papéis sociais e princípios historicamente vinculados a moralização dos costumes: a família, o papel “feminino”, a tradição (BARROCO, 2005, p. 100). Dessa forma, o Movimento de Reconceituação foi um processo de revisão global, que ocorreu em diferentes níveis: teórico, metodológico, operativo e político. Trata-se de um momento em que a própria profissão se põe como objeto de pesquisa, ou seja, a 13 ênfase da análise está na crítica do próprio Serviço Social que se investiga e se questiona. Esses questionamentos, para Netto (2002), são resultados do processo de erosão do Serviço Social provocado pela instauração da autocracia burguesa. Segundo o autor, são três os elementos relevantes para detectar a erosão do Serviço Social tradicional: “a dissincronia com as solicitações contemporâneas, a insuficiência da formação profissional e a subalternidade executiva” (NETTO, 2002, p. 139). Tais elementos estiveram presentes nas discussões do II Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado no Rio de Janeiro. O reconhecimento de que o Serviço Social deveria se sintonizar com as solicitações da sociedade, que se encontrava em fase de mudança para não correr o risco de ter exercício relegado a um segundo plano, levantava a necessidade de aperfeiçoar o aparelhamento conceitual da profissão para elevar o padrão dos profissionais. Além disso, reivindicavam-se funções não apenas executivas na programação e implementação de projetos de desenvolvimento. É nesse sentido que Netto visualiza, no início da década de 1960, um movimento de “desprestígio do Serviço Social ‘tradicional’ e de valorização do que parecia transcendê-lo no próprio terreno profissional” (NETTO, 2002, p. 140). Pode-se afirmar, então, que o Movimento de Reconceituação, que ocorreu na América Latina, foi expressão desse processo de erosão da legitimidade do Serviço Social. De acordo com Netto, a “reconceituação está intimamente vinculada ao circuito sociopolítico latino-americano da década de 1960”, e sua questão central é a funcionalidade profissional na superação do subdesenvolvimento” (NETTO, 2002, p. 146). Dessa forma, indagava-se sobre o papel dos assistentes sociais diante das manifestações da questão social, sobre a adequação dos 14 procedimentos profissionais, a eficácia das ações e a legitimidade das representações profissionais. No Brasil, o processo de renovação da profissão constitui-se de três direções principais. A primeira direção é denominada de Perspectiva Moder- nizadora, fruto dos Seminários de Araxá, ocorrido entre os dias 19 a 26 de março de 1967, e Teresópolis, que ocorreu entre os dias 10 a 17 de janeiro de 1970. Nesta perspectiva, o Serviço Social baseou-se no funcionalismo, que procura instrumentos e técnicas para atender às demandas postas pelo sistema capitalista, inclusive sem questioná-lo e tampouco o período ditatorial brasileiro – antes ao contrário –, com vistas a fortalecer e impulsionar seu desenvolvimento. O conteúdo desse seminário possuía um prisma voltado à adequação da sociedade aos moldes da aristocracia burguesa, sendo perceptíveis as influências de cunho funcionalista, apesar do clima ostensivo de mudanças almejadas tanto pelas classes subalternas quanto pelos profissionais. Netto (2006) ainda lembra que o Seminário de Araxá resultou no Documento de Araxá, o qual estabelecia que o Serviço Social como prática institucionalizada caracteriza-se pela ação junto a indivíduos com desajustamentos familiares e sociais, desajustamentos muitas vezes decorrentes de estruturas sociais inadequadas. O Documento de Araxá, por sua vez, apresentou distinção formal e dinâmica distinta do Documento de Teresópolis (documento resultante do Seminário de Teresópolis), o qual pregava que a perspectiva modernizadora se afirma não apenas como percepção profissional geral, mas sobretudo como pauta preventiva. Com efeito, o objetivo era examinar o Serviço Social como se apresentava no momento, ou seja, teorizá-lo face à realidade brasileira, estabelecendo um ponto de partida para estudos posteriores. 15 Após as concepções registradas nos Documentos de Araxá e Teresópolis, outra direção identificada no processo de renovação da área em questão, e citada por Silva e Silva (2006), pode ser verificada no terceiro e quarto seminários de teorização da profissão, com colóquios realizados no Rio de Janeiro, deno- minados documentos de Sumaré, que ocorreu na arquidiocese carioca, em 1978 e o documento Alto da Boa Vista, que ocorreu no colégio Coração Eucarístico, no ano de 1984. Esta perspectiva é identificada por uma nova formulação de que se utiliza para legitimar a profissão, ou seja, ela pretende dotar a profissão de instrumentos capazes de responder às demandas, referindo-se às concepções tradicionais com o objetivo de subordiná-las aos seus vieses modernos. No entanto, a hegemonia desta perspectiva é posta em questão em meados da década de 1970, dando espaço para a Reatualização do Conservadorismo. Então, a segunda vertente do Movimento de Reconceituação, analisada por Netto, foi a Reatualização do Conservadorismo, cujos seminários foram o de Sumaré, de 24 a 30 de novembro de 1978, no Rio de Janeiro, e o Seminário do Alto da Boa Vista, no Colégio Coração de Jesus, em 1984, no Rio de Janeiro. Os seminários citados tinham como temáticas a Cientificidade do Serviço Social, e o debate da inserção da Fenomenologia, e da Dialética. Segundo Netto, Trata-se de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão [...] e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxiana (NETTO, 2002, p. 157). Destaca-se que foram estudadas as correntes filosóficas e houve uma busca incessante da cientificidade para a disciplina. 16 NETTO (2006) reitera que: Apreciada com distanciamento, a expectativa profissional não se revelou inteiramente fundada: a polarização ideal da perspectiva modernizadora decrescera a ponto de não se expressar ponderavelmente em qualquer dos dois seminários. A documentação do Sumaré e do Alto da Boa Vista está para o deslocamento da perspectiva modernizadora assim como estão, para seu momento ascendente, os documentos de Araxá e Teresópolis. No tocante, à dimensão ideopolítica, a expectativa também não se comprovou cabalmente: nos dois seminários, notadamente no do Alto da Boa Vista, é perceptível um movimento de abertura a referências distintas do caldo conservador (NETTO, 2006, p. 195). Além disso, nesses dois colóquios cariocas foram realizados estudos em grupo sobre os diversos temas que demandava a sociedade, o que engrenou novos posicionamentos frente às prá- ticas teórico-metodológicas do fazer profissional. Essa nova concepção frente ao tradicionalismo do Serviço Social engen- drou, também no seio da profissão, um caráter dinâmico e bastante fluído na prática profissional; muitas vertentes de pensamento foram instituídas na profissão. No âmbito da reconceituação, a última vertente, que dá início ao projeto político do Serviço Social, é denominada por Netto (2002) de Intenção de Ruptura e é expressa através do Método BH, elaborado pelos professores e acadêmicos da Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte no início da década de 1970. Nesse cenário, atua a interlocução com o marxismo e a metodologia da dialética, que tinha como partes fundamentais a tese, enquanto teoria primária; a antítese, realidade na qual se intervém; e a síntese, nova tese fruto da relação da tese com a antítese. O professor Netto (2006) afirma que o Método BH foi além da crítica ideológica, da denúncia epistemológica e metodológica e da recusa das práticas próprias do tradicionalismo, “(...) ultrapassando um projeto profissional para a formação dos 17 quadros técnicos e para a intervenção do Serviço Social” (NETTO,2006, p. 276). O mesmo autor ainda diz que o trabalho dos professores da PUC de Belo Horizonte consiste em elaborar uma crítica do tradicionalismo, formulando o que denomina Serviço Social Tradicional e o que considera inadequado à realidade latino- americana. Recobre-se, assim, toda a concepção tradicional, articulando uma nova proposta profissional. Ressaltamos que, além da contribuição do Método BH como uma alternativa global ao tradicionalismo, a reflexão de Marilda Villela Iamamoto foi fundamental para construção da Intenção de Ruptura, contando para isso com influência marxiana para consolidar teórica e criticamente esse projeto de ruptura. Essa perspectiva fazia repercussão para além dos muros da academia. Era nítido o confronto com a ordem burguesa nos planos teórico- cultural, profissional e político, sendo visível o seu aspecto contraditório com a ordem capitalista vigente. De acordo com Silva e Silva (2006), É legítimo observar que a intenção de ruptura projetava uma crítica às perspectivas modernizadoras e de reatualização do conservadorismo funcionalista, o qual tinha como substratos diversas concepções teóricas e práticas como o próprio sistema ditatorial recusava e desejava superar. No âmbito acadêmico, a inserção dos cursos de Serviço Social contribuiu de forma decisiva para o processo de renovação da profissão. Sua gênese pode ser verificada nos vetores de crise no final dos anos 50 e moldava-se tanto na esfera estatal quanto privada, sendo crucial um relevante e qualitativo trabalho teórico-metodológico (SILVA E SILVA, 2006, p. 35). O espaço universitário, por assim dizer, constitui-se num espaço de interação e pesquisa, por meio do qual os profissionais passaram a dedicar seu trabalho, tornando possível a realização de experiências piloto, procurando exercer uma relação prático- operativa com a população. À medida que se adentrava os anos 18 1980, a própria evolução nos processos políticos do país engendrou ressonância favorável ao processo de ruptura. A relevância do estudo desse processo está na importância do entendimento das representações do Serviço Social no Brasil ao longo de sua história enquanto profissão, fato que permite identificar também as grandes forças que tensionam e dinamizam a sociedade brasileira. Dessa forma, a renovação do Serviço Social no país possibilitou a formação de um quadro profissional mais atento à realidade sociopolítica da sociedade, através do conhecimento das principais tendências que articulam as classes sociais no enfrentamento das manifestações da questão social. Constitui-se, então, como um movimento de revisão profissional e como marco na história da categoria. Questões de Concursos EBSERH/HRL – UFS – AOCP – 2017 1. Qual perspectiva teórico-metodológica se restringe à visão de teoria ao âmbito do verificável, da experimentação, da fragmentação e não aponta para mudanças, senão dentro da ordem estabelecida? (A) Neotomista. (B) Positivista. (C) Marxista. (D) Estruturalista. (E) Fenomenológica. TRF 2ª – CONSULPLAN – 2017 O significado do Serviço Social, na perspectiva crítica, somente pode ser apreendido no processo de produção e 2. 19 reprodução das relações sociais na sociedade capitalista. Segundo esta perspectiva, analise as afirmativas a seguir. I. A dimensão contraditória das demandas e requisições sociais que se apresentam à profissão é expressão do movimento do capital. II. O exercício profissional do assistente social é necessariamente polarizado pela trama das relações e interesses sociais vigentes na sociedade. III. A reprodução das relações sociais na sociedade capitalista é tão somente à reprodução da força viva do trabalho e dos meios materiais de produção. IV. A particularidade do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho coletivo se encontra vinculada às configurações estruturais e conjunturais da questão social e as formas históricas de seu enfrentamento. Estão corretas apenas as afirmativas A) I e II. B) II e III. C) II e IV. D) I e III. TRF 2ª – CONSULPLAN – 2017 Acerca dos fundamentos históricos, teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos do Serviço Social no Brasil, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) A interlocução com os problemas e as polêmicas no conjunto das ciências sociais é um traço do processo de renovação do Serviço Social brasileiro. ( ) As bases da laicização do Serviço Social encontram-se nas condições novas postas à formação profissional pela autocracia burguesa. Neste período instauram-se as condições para a renovação do Serviço Social. ( ) O pluralismo profissional, radicado nos procedimentos diferentes que embasam a prática e a validação teórica, bem 3. 20 como nas matrizes teóricas a que elas se prendem é um traço que se instaura no Serviço Social brasileiro com o projeto ético- político hegemônico na contemporaneidade. ( ) Até a primeira metade da década de 1950, o Serviço Social brasileiro não apresentava polêmicas de relevo, mostrava uma relativa homogeneidade nas suas projeções interventivas fundamentadas no arranjo teórico constituído pelo neotomismo, pela doutrina social da igreja católica e pelo funcionalismo. A sequência está correta em A) V, V, F, F. B) V, F, V, F. C) F, V, F, F. D) F, F, V, V. ELETROBRÁS – EXATUS – 2016 Segundo Netto (2011) três vertentes se fizeram presentes no processo de renovação do Serviço Social no Brasil e instauraram o ecletismo ou o pluralismo profissional: a tendência modernizadora, a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura. Sobre elas, marque V (Verdadeiro) ou F (Falso) para as afirmativas que se seguem: ( ) A vertente modernizadora teve hegemonia até os anos 1970, iniciando-se no Seminário de Araxá em 1967 e se consolidando no Seminário de Teresópolis em 1970. Buscou modernizar o Serviço Social a partir da mesma razão instrumental vigente na profissão (neopositivismo), com isso, faz a revisão de métodos e técnicas para adequar-se às novas exigências postas pelo contexto. O Serviço Social é tido como elemento dinamizador e integrador do processo de desenvolvimento. ( ) A perspectiva de intenção de ruptura remeteu a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes, gerou um 4. 21 inconformismo tanto em relação à fundamentação teórica quanto à prática, fazendo emergir momentos de debates e questionamentos que se estendem não exclusivamente ao que ocorre dentro da profissão, mas principalmente sobre as mudanças políticas, econômicas, culturais e sociais que a sociedade da época enfrentava, consequência do desenvolvimento do capitalismo mundial que impôs à América Latina seu modelo de dominação, da exploração e da exclusão. ( ) A vertente modernizadora se apresentou como um método de ajuda psicossocial fundado na valorização do diálogo e do relacionamento; com isso, reatualiza a forma mais tradicional de atuação profissional: a perspectiva psicologizante da origem da profissão. O marco referencial teórico dessa metodologia é constituído por três grandes conceitos: diálogo, pessoa e transformação social. ( ) A vertente da reatualização do conservadorismo (ou fenomenológica) buscou desenvolver procedimentos diferenciados para a ação profissional, a partir do que seus teóricos conceberam como referencial fenomenológico. Esta vertente recupera o que há de mais conservador na herança profissional, com um enfoque psicologizante das relações sociais e distante do verdadeiro legado fenomenológico de Husserl. Marque, de cima para baixo, a alternativa CORRETA: a) V, V, F, V. b) F, F, F, F. c) V, V, V, V. d) F, F, V, F. IPSMI – Pref. Itaquaquecetuba/SP – VUNESP – 2016 5. O processo de legitimação do Serviço Social surge com o desenvolvimento das grandes entidades assistenciais no Brasil. A vinculação institucional altera a chamada clientela 22 do Serviço Social, cujo âmbito de atuação passa a ser os grandes segmentos do proletariado. O Serviço Social em instituições deixa de ser um mecanismo de distribuição da caridade privada para se transformar em umadas engrenagens de execução das políticas sociais do Estado e dos setores empresariais. Sendo assim, o fundamento do processo de institucionalização do Serviço Social como profissão, na sociedade brasileira, é a (A) violação de direitos. (B) estigmatização da pobreza. (C) questão social. (D) redistribuição da renda. (E) ascensão dos trabalhadores. IPSMI – Pref. Itaquaquecetuba/SP – VUNESP – 2016 6. O Serviço Social em sua origem fundamentou-se teoricamente nos pressupostos da doutrina social da Igreja. Foi com o Movimento de Reconceituação, a partir dos anos 1960, que se viabilizou a crítica ao conservadorismo e a busca de ruptura do compromisso social, histórico do Serviço Social, estabelecido com os interesses (A) do capital humano associado ao financeiro. (B) da classe trabalhadora. (C) presentes nas ações em rede. (D) contidos na teoria da libertação. (E) da ordem burguesa. Prefeitura Municipal de Mandaguari/PR – FAUEL – 2015 7. Nos anos 1990, no âmbito do Serviço Social, se verifica: a. um movimento de renovação na profissão, que se expressa em termos tanto da reatualização do tradicionalismo profissional, quanto de uma busca de ruptura com o conservadorismo. 23 b. o crescimento do questionamento da perspectiva técnico- burocrática, por ser esta considerada como instrumento de dominação de classe, a serviço dos interesses capitalistas. Inaugura-se o debate da ética no Serviço Social, buscando-se romper com a ética da neutralidade e com o tradicionalismo filosófico fundado na ética neotomista e no humanismo cristão. c. a laicização do Serviço Social que passa a incorporar nos seus quadros segmentos dos setores subalternizados da sociedade. Estabelece interlocução com as Ciências Sociais e se aproxima dos movimentos “de esquerda”, sobretudo do sindicalismo combativo e classista que se revigora nesse contexto. Profissionais ampliam sua atuação para as áreas de pesquisa, administração, planejamento, acompanhamento e avaliação de programas sociais, além das atividades de execução e desenvolvimento de ações de assessoria aos setores populares. d. os efeitos do neoliberalismo, da flexibilização da economia e reestruturação no mundo do trabalho, da redução do Estado e da retração dos direitos sociais. O Serviço Social amplia os campos de atuação, passando a atuar no chamado terceiro setor, nos conselhos de direitos e ocupa funções de assessoria entre outros. Prefeitura Municipal de Mandaguari/PR – FAUEL – 2015 8. “[...] se constitui num instrumento fundamental na formação da análise crítica e da capacidade interventiva, propositiva e investigativa do(a) estudante, que precisa apreender os elementos concretos que constituem a realidade social capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como profissional, nas diferentes expressões da questão social, que vem se agravando diante do movimento mais recente de colapso mundial da economia, em sua fase financeira, e de desregulamentação do trabalho 24 e dos direitos sociais” (ABEPSS, 2009, p. 11). A citação acima se refere: a. ao estágio supervisionado em Serviço Social. b. ao trabalho de conclusão de curso. c. às disciplinas técnico-operativas do Serviço Social. d. às disciplinas teórico-metodológicos do Serviço Social. Prefeitura Municipal de Várzea da Palma/MG – COTEC – 2015 9. Netto, em seu livro “Ditadura e Serviço Social”, afirma que a perspectiva da intenção de ruptura desenvolveu a sua politização, sempre em confronto com a ditadura, em certos momentos caiu para a partidarização e em posturas de evidente estreiteza. Assinale a alternativa que corresponde aos momentos constitutivos da perspectiva da intenção de ruptura. a. Modernização conservadora e reatualização do conservadorismo. b. Político, histórico e dialético. c. Funcionalismo e tradição marxista. d. Emersão, consolidação acadêmica e espraiamento sobre a categoria profissional. Serviço Social Autônomo do Hospital Metropolitano Doutor Célio de Castro/MG – IBFC – 2015 10. Iamamoto (2001, p. 57 a71) faz uma série de colocações sobre os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social. Embasado no pensamento da autora, julgue os itens abaixo: I. A compreensão dos fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social parte da premissa que a profissão é socialmente determinada na história da sociedade brasileira. II. Analisar o Serviço Social supõe abordar, simultaneamente, os 25 II. Analisar o Serviço Social supõe abordar, simultaneamente, os modos de atuar e de pensar que foram por seus agentes incorporados. III. As políticas sociais devem ser o elemento privilegiado para se pensar a fundação do Serviço Social na sociedade. IV. A evolução das formas de ajuda é o único conhecimento necessário ao entendimento da fundação do Serviço Social enquanto profissão socialmente necessária. Correspondem ao disposto por Iamamoto (2001, p. 57 a71) às afirmativas: a. I e IV. b. III e IV. c. I e II. d. II e III. Prefeitura Municipal de Cubatão/SP – VUNESP – 2015 11. Existem duas teses, claramente opostas, sobre a gênese do Serviço Social. [...] A perspectiva endogenista: a primeira das teses sustenta a origem do Serviço Social na evolução, organização e profissionalização das formas “anteriores” de ajuda, da caridade e da filantropia, vinculadas agora à intervenção na “questão social”. [...] A perspectiva histórico- crítica: [surge uma segunda tese que] entende o surgimento da profissão do Assistente Social como um produto da síntese dos projetos político-econômicos que operam no desenvolvimento histórico [...] quando, no contexto do capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma para si as respostas à “questão social”. MONTAÑO, Carlos. A natureza do Serviço Social. S. Paulo: Cortez, 2007, p. 19-20 e 30 (Adaptado). Analise as afirmações a seguir, levando em consideração o texto acima. I – Há consenso, na bibliografia profissional, sobre a gênese do 26 I – Há consenso, na bibliografia profissional, sobre a gênese do Serviço Social como profissão. II – A primeira tese privilegia a dinâmica interna das protoformas do Serviço Social para explicar a sua evolução. III – Na segunda tese, ganham destaque as conexões genéticas do Serviço Social com o desenvolvimento econômico. IV – Em ambas as teses, o Serviço Social está, mesmo que diversamente, vinculado à questão social. V – A oposição entre as duas teses tem por base a negação do enfrentamento da questão social. São consistentes com o texto as afirmações: a. I e IV, apenas. b. I, III e V, apenas. c. II, III e IV, apenas. d. II, IV e V, apenas. e. I, II, III, IV e V. Prefeitura Municipal de Cubatão/SP – VUNESP – 2015 12. Para os assistentes sociais, o processo de construção da hegemonia dos novos referenciais teórico-metodológicos e interventivos, a partir da tradição _____________ ocorre em um amplo debate em diferentes fóruns de natureza acadêmica e/ou investigativa, além de permear a produção intelectual da área. Trata-se de um debate _________, que implica a convivência e o diálogo de diferentes tendências, mas que supõe uma direção ___________. As lacunas do texto devem ser, CORRETA e respectivamente, preenchidas com: a. dialógica … conceitual … harmônica b. althusseriana … geral … totalitária c. weberiana … recente … possível d. marxista … plural … hegemônica 27 e. comtiana … único … simplista Tribunal de Justiça/PA – VUNESP – 2014 13. Apesar de toda a complexidade que envolve o estudo dos valores do Serviço Social, esse tema é de suma importância. A existência dessa dimensão filosófica determina maior consistência à prática profissional do Serviço Social já que possibilita ao assistente social, no nível teórico, questionar o valor do mundo e, no nível da prática, agir com responsabilidade em relação a esse mundo. Essa dimensão filosófica, em última instância, implica respeito à dignidade humana e à capacidade de autodeterminação do homem, derivando, destas, outras normas referentes à atitude profissional frente ao homem, aos grupos e à sociedade. O enunciado explicitauma determinada linha teórica, fundamentada na perspectiva a. humanista. b. funcionalista. c. socialista. d. fenomenológica. e. estruturalista. Câmara Municipal de Recife/PE – FGV – 2014 14. De acordo com Netto (2008): “É elemento constitutivo da renovação do Serviço Social a emergência, notadamente a partir de meados da década de setenta, de (...) um significativo debate teórico-metodológico”. As direções tomadas por essa renovação e suas respectivas vinculações teórico-metodológica, foram: a. reformismo conservador/estruturalismo; perspectiva modernizadora/ecletismo; e vertente reconceituadora/modernismo. 28 b. tendência inovadora/positivismo; corrente politicista/pragmatismo; e perspectiva ampliada/dialética. c. vertente desenvolvimentista/ecletismo; intenção de ruptura/materialismo dialético; e ruptura conclusa/pluralismo. d. perspectiva modernizadora/estrutural-funcionalismo; reatualização do conservadorismo/fenomenologia; e intenção de ruptura/tradição marxista. e. concepção tradicionalista/historicismo; neodesenvolvimentismo/teologia; e perspectiva emancipadora/epistemologia Câmara Municipal de Recife/PE – FGV – 2014 15. Ao analisar a produção teórica brasileira sobre os fundamentos do trabalho do assistente social, Iamamoto (2008) recorre a vários autores, imputando a cada um uma tese. Correlacione cada autor à sua tese: A sequência CORRETA é: A) Vicente de Paula Faleiros ( ) identidade alienada B) Maria Lúcia Martinelli ( ) proteção social C) Suely Gomes Costa ( ) correlação de forças a. A – B – C; b. C – A – B; c. B – C – A; d. C – B – A; e. B – A – C. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – VUNESP – 2013 16. O Serviço Social é compreendido como especialização do 29 16. O Serviço Social é compreendido como especialização do trabalho coletivo, e sua prática, como concretização de um processo de trabalho que tem como objetivo o enfrentamento das inúmeras expressões da questão social. Essa compreensão lhe dá um caráter dinâmico, permitindo pensar o serviço social como uma profissão histórica, instituinte, uma construção social, uma vez que a profissão se transforma ao se transformarem as condições em que se dá o seu engendramento histórico. Nesta perspectiva, o sentido e a direcionalidade da ação profissional demandam um movimento permanente de: a. definição de alianças estratégicas que lhe deem sustentação. b. busca de aportes teóricos que o justifiquem. c. afirmação de conteúdos e propósitos pré-estabelecidos. d. compromisso explícito com a ordem estabelecida. e. construção/reconstrução crítica. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – VUNESP – 2013 17. A segunda metade dos anos 1960 marca, na maioria dos países em que o Serviço Social já se institucionalizara como profissão, uma conjuntura de profunda erosão das suas práticas tradicionais. A transição da década de 1960 para 1970 foi, de fato, assinalada por uma forte crítica ao que se pode designar como um Serviço Social tradicional, caracterizado por prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma ética a. emancipatória. b. liberal-burguesa. c. democrática. d. vinculada a luta de classes. e. totalitária. 30 Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – VUNESP – 2013 18. Na América latina, o Serviço Social foi influenciado, principalmente, a partir da segunda metade da década de 1940, pelo Serviço Social norte-americano. Em relação à sistematização de Serviço Social de Grupo então proposto, estudiosos do tema destacam que esse padrão de atuação passou de um caráter paliativo, paternalista e assistencialista para o preventivo e o promocional. Tais mudanças inseriam-se na necessidade de integrar o Serviço Social no processo de desenvolvimento, assegurando a participação ativa dos diversos grupos para que o homem fosse o agente e o sujeito desse desenvolvimento. Assim, o Serviço Social de Grupo responderia à questão de como integrar as massas ao desenvolvimento, sendo um (a) a. ação necessária ao rompimento de paradigmas. b. método de educação psicossocial informal. c. alternativa suplementar ao Serviço Social de Caso. d. possibilidade transformadora de atuação à disposição do profissional em seu cotidiano. e. estratégia de treinamento para capacitar o indivíduo à mobilização social de sua comunidade. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região/SP – FCC – 2012 19. O Serviço Social profissional, numa interpretação não conservadora, pode ser compreendido como: I. atividade definida pela divisão sociotécnica do trabalho no âmbito da sociedade capitalista burguesa. II. profissão cujo objeto constitui um conjunto de situações que exigem intervenções sobre variáreis empíricas. III. capaz de dispor de um sistema original de saber e detentor de uma teoria particular. Está CORRETO o que consta em 31 a. I e II, apenas. b. II, apenas. c. III, apenas. d. I, apenas. e. I, II e III. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região/SP – FCC – 2012 20. O Serviço Social, enquanto profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, tem sua configuração influenciada pela: a. lógica corporativa que define a metodologia do trabalho profissional no interior das instituições públicas e privadas. b. construção de uma teoria própria, pois, no debate atual, o Serviço Social constitui-se numa ciência humana específica. c. polarização de interesses sociais de classes, com caráter político da prática profissional. d. crise do Estado Patrimonialista e pelo modo de produção do capitalismo concorrencial. e. estrutura de consensos das classes sociais (burguesia e proletariado) que, ao estabelecer um campo harmônico, influencia a politização da profissão. Prefeitura Municipal de São José dos Campos/SP – VUNESP – 2012 21. É no âmbito do movimento de Reconceituação e em seus desdobramentos, que se definem de forma mais clara e se confrontam diferentes tendências voltadas à fundamentação do exercício e dos posicionamentos teóricos do Serviço Social. Tendências que resultam de conjunturas sociais particulares dos países da América Latina e que levam, por exemplo, no Brasil, o movimento em seus primeiros momentos (em tempos de ditadura militar e de impossibilidade de contestação política) a priorizar um 32 projeto _____ do qual Araxá e Teresópolis são as melhores expressões. Assinale a alternativa que completa, CORRETAMENTE, a lacuna do texto. a. crítico/transformador b. eficiente/sofisticado c. complexo/conservador d. burocrático/teórico e. tecnocrático/modernizador Prefeitura Municipal de São José dos Campos/SP – VUNESP – 2012 22. Em seu processo sócio-histórico, a matriz teórica positivista, como uma das expressões da razão moderna, passa a fazer parte do suporte teórico-metodológico buscado pela profissão enquanto necessidade de qualificação técnico- científica para responder às exigências de modernização da sociedade e do Estado decorrentes da consolidação do capitalismo monopolista no Brasil. Nesta perspectiva, o conhecimento dos fenômenos sociais é realizado por meio de um conhecimento formal-abstrato, a partir de dados imediatos empíricos e objetivos. A ação profissional nos diferentes espaços socio-ocupacionais, caracteriza-se, assim, pelo seu caráter empirista e pragmático, pela busca de controle, dominação, a. emancipação e liberdade dos usuários dos serviços sociais. b. autonomia e protagonismo na definição de metas pessoais e sociais. c. integração e ajustamento dos indivíduos sociais à ordem estabelecida. d. identificação e atendimento de demandas compreendidas como direitos. e. racionalização e otimização de recursos postos à disposição da 33 e. racionalização e otimização de recursos postos à disposição da população. Prefeitura Municipal de São José dos Campos/SP – VUNESP – 2012 23. As reflexões sobre o fazer profissional do assistente social apoiam-se na compreensão dos processos societários mais amplos, situados no atual contexto socioeconômico e político. Tais processos vêm alterando os modos de vida das classes subalternas, ou seja, dos vários segmentos da população usuáriados serviços profissionais do assistente social. Essas reflexões têm priorizado a análise da intervenção do Estado, via políticas sociais públicas, e daí extraído os seus efeitos na sociedade. Diante disso, é correto afirmar que, em consequência do crescimento da pressão na demanda por serviços, mediante o aumento da pauperização da população, amplia-se cada vez mais a: a. seletividade dos atendimentos. b. garantia dos direitos sociais. c. autonomia do gestor na definição da oferta de serviços. d. oferta genérica na emergência social. e. competência dos serviços prestados. Ministério da Integração Nacional – ESAF – 2012 24. Sobre a história do Serviço Social no Brasil, assinale a opção INCORRETA. a. O Serviço Social surge como profissão atrelada à doutrina social da Igreja Católica e à ideologia dominante. b. O Estado adotou estratégias institucionais e ideológicas visando disciplinar os trabalhadores, e o Serviço Social e o Assistente Social constituíram agentes importantes desse processo. c. As instituições de assistência social foram criadas durante o 34 c. As instituições de assistência social foram criadas durante o período da ditadura do Estado novo (1937/1945). d. A Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi criada em 1942, com o objetivo específico de atuar junto aos moradores das favelas. e. A Constituição Federal de 1988 reconhece a Assistência Social como Política de Seguridade Social. Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas/AL – CESPE – 2012 25. Assinale a opção correta acerca dos fundamentos históricos e teórico-metodológicos do Serviço Social. a. Um dos fundamentos da vertente modernizadora, oriunda do movimento de Reconceituação do Serviço Social, corresponde à necessidade de tomada de consciência por parte do profissional de Serviço Social acerca de seu papel na sociedade de classes. b. O Serviço Social surgiu no cenário histórico brasileiro como uma área cuja identidade é designada mediante uma perspectiva capitalista. c. De acordo com a totalidade dos estudiosos do Serviço Social, a gênese dessa área de atuação na América Latina relaciona-se a iniciativas individuais de filantropos. d. O processo de profissionalização do Serviço Social dissocia-se das atividades de implementação de políticas sociais. e. O projeto ético-político do Serviço Social defendido atualmente pelas entidades organizativas da profissão fundamenta-se na perspectiva teórico-metodológica, que compreende a prática institucionalizada do assistente social como o conjunto de ações voltadas a indivíduos com desajustes familiares e sociais. Gabarito Comentado 35 1 – Resposta: A. Comentário: Para a corrente positivista, apontam Iamamoto e Carvalho, a ideia de sociedade é visualizada enquanto um todo unificado através das conexões através das tradições, dogmas e princípios morais de que ela é depositária. Indivíduos e fenômenos sociais coexistem em coesão orgânica com a sociedade em sua totalidade. 2 – Resposta: C. Comentário: A questão solicita do candidato que identifique as alternativas corretas e assinale a correspondente. As afirmações II e IV estão corretas. A afirmativa I. a dimensão contraditória das demandas e requisições sociais que se apresentam à profissão é expressão do movimento do capital, esta incorreta. Lembra-nos Iamamoto e Carvalho, na obra Relações Sociais e Serviço Social, que um aspecto da realidade social é a contradição e esta é o motor da história e é através da consideração de que as relações sociais se caracterizam pela contraditoriedade, que podemos apontar que os mecanismo de dominação e as necessidades da classe trabalhadora são duas faces de uma mesma moeda. Nesse sentido, é a partir dessa compreensão que se pode estabelecer uma estratégia profissional e política, para fortalecer as metas do capital ou do trabalho, mas não se pode exclui-las do contexto da prática profissional, visto que as classes só existem inter-relacionadas. É isso inclusive, que viabiliza a possibilidade de o profissional colocar-se no horizonte dos interesses das classes trabalhadoras. A afirmativa III esta incorreta quando afirma que, a reprodução das relações sociais na sociedade capitalista é tão somente à reprodução da força viva do trabalho e dos meios materiais de produção. 36 Afirmam Iamamoto e Carvalho que, a reprodução das relações sociais e consequentemente do capitalismo, é reprodução da totalidade do processo social, a reprodução de um determinado modo de vida que envolve o cotidiano da vida em sociedade; o modo de viver e trabalhar, de forma socialmente determinada, dos indivíduos em sociedade. 3 – Resposta: A. Comentário: A questão pede que o candidato identifique se as afirmativas são falsas ou verdadeiras e depois assinale a opção correspondente sobre os fundamentos históricos, teórico- metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos do Serviço Social no Brasil. Para justificar as afirmativas falsas e verdadeiras, recorremos a Neto, no texto, O Movimento de Reconceituação: 40 anos depois. A primeira afirmativa, “a interlocução com os problemas e as polêmicas no conjunto das ciências sociais é um traço do processo de renovação do Serviço Social brasileiro” é verdadeira. Segundo Neto, a reconceituação lançou as bases para uma nova interlocução do serviço social com as ciências sociais, abrindo-se a novos influxos (inclusive da tradição marxista) e sintonizando- se com tendências diversificadas do pensamento social então contemporâneo. A segunda afirmativa, “as bases da laicização do Serviço Social encontram-se nas condições novas postas à formação profissional pela autocracia burguesa. Neste período instauram- se as condições para a renovação do Serviço Social”, também é verdadeira. A terceira afirmativa, “o pluralismo profissional, radicado nos procedimentos diferentes que embasam a prática e a validação teórica, bem como nas matrizes teóricas a que elas se prendem é um traço que se instaura no Serviço Social brasileiro com o 37
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