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Unidade IV Aquisição, Desenvolvimento e Distúrbios da Linguagem Escrita Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria LEONARDO TEIXEIRA DE FREITAS RIBEIRO VILHAGRA AUTORIA Leonardo Teixeira de Freitas Ribeiro Vilhagra Sou formado em Letras Português pela Universidade Federal do Espírito Santo e tenho mestrado em Estudos Linguísticos pelo Programa de Pós-Gra- duação em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Espírito Santo, com experiência técnico-profissional de mais de dez anos na área de ensino de Língua Portuguesa. Passei por escolas de ensino fundamental e médio, como a rede Salesiano, o Centro Missionário Agostiniano, o Centro de Ensi- no União dos Professores, COC, de pré-vestibular, como o PUPT (Programa Universidade Para Todos), e no ensino superior, como a UFES e, atualmente, na Universidade Vila Velha, no Espírito Santo. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo. Desde já, desejo bons estudos a tod@s! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO Aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita ................... 10 Teorias e modelos para aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita....................................................................................................................................................... 10 Teoria Behaviorista ....................................................................................................... 11 Teoria Inatista .................................................................................................................. 14 Teoria Sociointeracionista ...................................................................................... 18 Teoria Construtivista................................................................................................... 21 Elementos para a produção textual ....................................................26 Elementos para a produção textual ..................................................................................26 Condições de produção de textos escritos ..............................................29 Elementos para a interpretação textual............................................36 Elementos para a interpretação textual ........................................................................ 36 Conhecimento linguístico ..................................................................................... 40 Conhecimento enciclopédico ............................................................................ 41 Conhecimento Interacional ...................................................................................42 Distúrbios da linguagem escrita ..........................................................45 Distúrbios da linguagem escrita ..........................................................................................45 A disgrafia ........................................................................................................................ 46 A disortografia .............................................................................................................. 48 Dislexia ................................................................................................................................ 50 7 UNIDADE 04 Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 8 INTRODUÇÃO No início do século XVIII, as tropas de Napoleão encontraram um fragmento de rocha no qual continha uma série de inscritos que, depois de analisados, constataram a existência de registros do que se conhece hoje como hieróglifos egípcios do século II a.C. Era a famosa Pedra de Roseta. A Pedra de Roseta é um grande exemplo de como a escrita possui uma alta relevância para as sociedades humanas. Com ela, podemos não só registrar o nosso cotidiano, como também preservar uma série de conhecimentos ao longo do tempo. Porém, de que maneira isso se reflete no ambiente escolar atualmente? Se ela é tão importante assim, quais são as suas principais características a serem aprendidas? E os estudantes? Eles devem compreender tudo o que está relacionado à escrita? Como aplicá-la na escola? Diante disso, nesta unidade, discutiremos acerca de uma faceta relevante do universo da escrita: a aquisição da linguagem escrita, elemento importantíssimo no dia a dia dos profissionais da educação, ainda mais os que atuam na educação básica, contexto no qual frequentemente esse assunto é abordado e requisitado nas instituições educacionais. Dessa forma, em primeiro lugar, veremos as principais teorias e modelos relacionados à aquisição da linguagem escrita moderna. Em seguida, vamos entender sobre os principais conceitos relacionados à produção textual e à interpretação textual. Por fim, apresentaremos e analisaremos os distúrbios da fala mais comuns encontrados nos anos iniciais das crianças. Animado? Então, embarcaremos juntos nesse instigante e rico universo da linguagem. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4 . Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender as principais teorias e modelos linguísticos e psicológicos modernos ligados à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem escrita. 2. Identificar e entender os principais estudos, pesquisas e organizações dos elementos para a produção textual. 3. Discernir sobre os principais estudos, pesquisas e organizações dos elementos para a interpretação textual. 4. Reconhecer os distúrbios da escrita mais comuns, identificando os seus principais indícios. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 10 Aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você entenderá os conceitos básicos ligados à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem escrita. Isso é fundamental, porque essas teorias vão embasar as suas ações e decisões pedagógicas relacionadas ao contexto escolar e, assim, ao exercício de sua profissão. Está motivado? Quer saber ainda mais sobre esse universo instigante? Então, sigamos em frente! Teorias e modelos para aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita O primeiro passo que daremos nesta caminhada está na apresentação e explicação das principais teorias e modelos da aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita. Parafraseando Lorandi, Cruz e Scherer (2011), a aquisição da linguagem escritadiz respeito à compreensão da maneira pela qual um indivíduo passa a escrever a partir de uma determinada língua. Inclusive, no início da disciplina, você as estudou. Porém, agora, veremos cada uma a partir da ótica da escrita, assim, vamos relembrar um pouco sobre elas, mas enfocando a aquisição da escrita. Somado a isso, você notará que cada uma possui características próprias, complementares entre si (longe de uma ser melhor do que a outra), sendo, principalmente, oriundas da Psicologia e da Linguística. Logo, começaremos pela Teoria Behaviorista, passando pela Inatista, depois pela Sociointeracionista e, por fim, culminando na Construtivista. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 11 Teoria Behaviorista DEFINIÇÃO: O Behaviorismo (ou Comportamentalismo) é o ramo da Psicologia que estuda o comportamento humano por meio da observação, desprivilegiando o aspecto mentalístico. Assim, essa vertente investiga as condutas e as ações humanas a partir da relação dos conceitos de ambiente/ organismo e de estímulo/resposta, de modo a prevê-las e controlá-las. Um exemplo que ilustra esses conceitos é o caso da íris no olho humano. A luz solar incide sobre os olhos (estímulo do ambiente) provocando a contração da íris (resposta do organismo). Dessa forma, o behaviorismo almeja “descobrir as associações estímulo-respostas que estariam na base da formação dos hábitos, emoções e instintos, já que estes se reduziam, em última instância, a respostas motoras e glandulares” (PRETTE; PRETTE, 1995, p. 150). Essa vertente da psicologia nasceu nos Estados Unidos, no início do século XX, em 1913, por meio de por John Watson, mas também outros nomes se destacaram, como Ivan Pavlov, cientista e médico russo. Contudo, há um nome de destaque e que mais contribuiu para os estudos da aquisição da linguagem: Burrhus Frederic Skinner. Skinner foi um pesquisador estadunidense da universidade de Harvard. Seus trabalhos não só aprimoraram o behaviorismo, como também servem de referência até hoje em vários países, inclusive, no Brasil. Mas, antes de abordarmos a maneira pela qual essa perspectiva teórica aborda a aquisição da linguagem escrita, é importante compreender a base do conceito desenvolvido por Skinner: o comportamento operante. O Behaviorismo, basicamente, almeja investigar o comportamento humano. Porém, o conceito de comportamento não é único, existem grupos de comportamentos. De um lado, existe o grupo do comportamento reflexo, ou respondente. Sabe aquela situação de antes, a íris do olho humano exposta à luz solar? Pois bem, é um exemplo disso. O estímulo Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 12 do ambiente está diretamente ligado à resposta do organismo, ou seja, é incondicionado. Por outro lado, existe um outro grupo de comportamento reflexo, ou respondente, que pode ser condicionado, isto é, um estímulo que originalmente não provocava uma resposta e passava a ser a nova fonte de estímulo. Um fato que ilustra isso é o choro de uma criança ao se vacinar. Assim que a criança toma a primeira vacina, ela é afetada por um desconforto que, geralmente, provoca dor. Quando ela for tomar outra futuramente, pode chorar simplesmente por ver uma seringa, ou até mesmo uma médica de jaleco. Ou seja, um estímulo do ambiente (seringa) passou a provocar uma resposta no organismo (choro da criança) de modo condicionado. Mas, a partir dos estudos de Skinner na década de 30, houve a adição de um outro grupo de comportamento humano diferente dos outros: o comportamento operante. Isso ocorreu a partir da experiência com ratos, a qual foi denominada como “A caixa de Skinner”. Em seu laboratório, o pesquisador colocou um rato dentro de uma caixa com uma alavanca e deixou o animal sem comer durante 24h. Depois de um tempo e faminto, ao explorar o interior da caixa, o rato encostou na alavanca e acionou uma portinhola. Assim, um pedaço de comida foi despejado no local, saciando a fome do roedor. Com o tempo, toda vez que estava com fome, ele acionava a alavanca e comia. Diferentemente do comportamento reflexo incondicionado e condicionado, o operante age sobre o ambiente e o altera. Por sua vez, o organismo é modificado por essa alteração, sendo que tal ação pode ter uma probabilidade de ocorrer, ou não, futuramente. No caso do rato, ele agiu sobre o ambiente e o alterou (acionou a alavanca). Depois, ele recebeu uma comida e se alimentou (modificação do organismo devido à alteração causado por ele). Por fim, essa ação sobre o ambiente pode ter uma probabilidade de ser repetida futuramente (assim que estiver com fome, o rato pode acionar a alavanca para se alimentar). A probabilidade de tal ação ocorrer dependerá de dois fatores: o reforço, ou a punição (no caso do rato, foi o reforço). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 13 Assim, dentro do grupo do comportamento operante, o qual é uma das principais formas de aprendizagem, segundo o behaviorismo, existe um tipo especial, inclusive, Skinner dedicou um livro só para eles denominado de “Comportamento Verbal” (Verbal Behavior). DEFINIÇÃO: O Comportamento Verbal, para Skinner (1992), é um tipo de Comportamento Operante modificador do ambiente, sendo aquele também modificado por esse, porém, as consequências das respostas são mediadas por um terceiro elemento, o ouvinte (nesse caso, o leitor), membro de uma comunidade verbal treinado por ela. Vamos supor que uma criança brasileira de três anos esteja sendo ensinada pela sua mãe a escrever a palavra “mãe”. Essa escreve tal palavra diversas vezes. A criança, depois de ver, escreve a primeira vez, mas da seguinte forma: “bãe”. Por causa disso, a adulta franze a sobrancelha e redargue a criança com um forte “não”. Depois, repete com mais ênfase a palavra “mãe”. Após isso, a pequena apaga o que foi escrito e reescreve, porém, desta vez, da forma de “mãe”. Logo, a mãe dela sorri, falando agradavelmente e com afagos o resultado esperado. Esse exemplo evidencia a maneira pela qual a linguagem escrita foi desenvolvida à luz do behaviorismo. A adulta estimula a criança a escrever “mãe”. Depois de uma falha, esta recebe uma punição. Após isso, consegue grafar adequadamente, obtendo um reforço, nesse caso, positivo. Logo, essa criança incorporou, por meio da repetição por parte do ouvinte (leitor) já previamente treinado, o vocabulário “mãe”. Nesse caso, Skinner (1992) nos mostra que a comunidade verbal, representada pelo o ouvinte, apropria-se das atividades motoras e mentais da criança, de modo a modelá-lo ora por reforço, ora por punição. Aliás, o autor evidencia que o comportamento verbal, nesse caso escrito, é um conjunto de comportamentos cuja característica é voltada à adaptação do organismo frente ao ambiente no qual está inserido. Em outras palavras, a cada nova resposta em decorrência de um novo estímulo, o comportamento verbal se expande, adaptando-se cada vez mais. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 14 Contudo, o modelo behaviorista não ficou imune às críticas e aos questionamentos. A respeito disso, podemos citar Santos (2003, p. 217): o aprendizado linguístico era análogo a qualquer outro aprendizado (o que, naquela época, significava dizer que todo o comportamento/ aprendizado - linguístico ou não - era visto como aprendido por reforço e privação). Considerando a aquisição desse modo, o behaviorismo acaba recaindo num processo indutivo de aquisição, porque considera somente os fatos observáveis da língua, sem preocupar-se com a existência de um componente estruturador, organizador, que possa estar trabalhando junto com os dados (experiência) na construção da gramática de uma língua particular. (SANTOS, 2003, p. 217) REFLITA: Inclusive, sugerimos que você reflita acerca da seguinte proposição: será que podemos encontrar resquícios das propostas de Skinnerno desenvolvimento da linguagem escrita, a partir do reforço e da punição, nas escolas públicas e privadas brasileiras? Portanto, em decorrência disso, veremos que outras teorias e modelos surgiram, a fim de produzir respostas e questionamentos não abordados no behaviorismo, como a Teoria Inatista. Teoria Inatista A Teoria Inatista é um ramo do conhecimento que possui tanto uma fonte na psicologia, quanto na linguística. O objetivo principal dela é estudar os aspectos biológicos e genéticos relativos ao desenvolvimento humano, sendo a linguagem inserida nesse processo. A base fundamental dessa teoria é que a capacidade de se comunicar é uma característica congênita, incrustada no DNA humano, portanto todas e todos nascem com ela, ou seja, é algo da natureza, inato à espécie humana, “um módulo cognitivo autônomo para a linguagem, independente de fatores externos de ordem social, cultural, ou mesmo histórica” (CARNEIRO, 2010, p. 57). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 15 O Inatismo, como teoria de aquisição de linguagem, já tinha sido pesquisada por autores, como Alfred Binet, psicólogo e pedagogo francês da Universidade de Nice durante transição do século XIX para o XX, e por Arnold Gesell, pediatra e também psicólogo estadunidense da Universidade de Yale. Essa teoria, no entanto, teve mais notoriedade a partir dos estudos de Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), principalmente, a partir da publicação da obra Estrutura Sintáticas (Syntactic Structures). Assim, Chomsky (1981) afirma que o ser humano, diferentemente do Comportamento Verbal behaviorista, possui uma Gramática Universal (GU) detentora de todas as regras e normas de todas as línguas em seu cérebro, fruto de uma herança genética de milhares de ano. A partir dela, existe o Dispositivo de Aquisição de Linguagem (DAL) em sua mente, o qual é ativado espontaneamente no momento em que a criança entra em contato sentenças (inputs) com outras pessoas, geralmente, com adultos. Por conseguinte, dependendo do contexto no qual está inserida, a criança seleciona as regras e normas que mais entra em contato, ignorando as outras que não se relaciona diretamente. Tais conceitos propostos por Chomsky são inovadores. Inclusive, isso explica o fato, por exemplo, de uma criança produzir deduções sobre a própria língua: ao se comparar frases pronunciadas por crianças com as de adultos podemos perceber que aquelas produzem termos que nunca antes foram ouvidos como, por exemplo, “fazi” no lugar de fiz. A criança não chegou a este termo através da repetição, porém de uma adaptação dos verbos da 2ª conjugação que ela incorporou em sua gramática, isto é, de construções do tipo “Eu corri”, “Eu comi”, “Eu perdi”. De acordo com esta hipótese, a criança possui as suas próprias regras de fala que vão sendo aperfeiçoadas a partir do contato com a linguagem adulta. Desta forma, esta teoria se opõe a hipótese de que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem infantil seja mera imitação. (SILVA, s.d., p. 2). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 16 Nesse viés, tais características também aparecem na escrita, uma vez que essas deduções também são possíveis no âmbito da escrita. Contudo, após o desenvolvimento das pesquisas na época, notou-se que a seleção das regras e normas linguísticas, a partir das experiências individuais das crianças, não estava totalmente evidente, necessitando de melhores explicações e investigações. Assim, posteriormente, Chomsky desenvolveu a Teoria dos Princípios e Parâmetros complementar a Gramática Universal. Na visão de Santos (2003, p. 308): a gramática universal é formada por princípios, ou seja, “leis” invariantes, que se aplicam da mesma forma em todas as línguas, e parâmetros, “leis” cujos valores variam entre as línguas e dão origem tanto à diferença entre as línguas como à mudança numa mesma língua. O trabalho da criança está em escolher, a partir do input, o valor que um determinado parâmetro deve tomar. (SANTOS, 2003, p. 318) Um exemplo que autora traz é o sujeito na frase escrita. A princípio, todas as línguas possuem sujeito, aquele que pratica a ação. No entanto, esse pode, ou não aparecer ao escrever. Dessa forma, existe um parâmetro. Se a criança tiver contato com a língua inglesa desde cedo (observe que não foi dito somente crianças de nacionalidade inglesa, pois uma criança de outra nacionalidade em convívio com pessoas que escrevem inglês passa pela mesma situação), ela marcará o valor do parâmetro “o sujeito sempre será preenchido”, como é o caso da sentença “it is snowing” (está nevando). Se ela tiver contato com a Língua Portuguesa desde cedo, o parâmetro muda, porque, de acordo com esse idioma, a omissão do sujeito pode ocorrer da mesma forma que a exposição dele “Ø está chovendo”. Portanto, de uma forma geral, segundo Fontana e Cruz (1997, p. 12): os fatores inatos são mais poderosos na determinação das aptidões individuais e do grau em que estas podem se desenvolver do que a experiência, meio social e a educação. O papel do meio social, segundo esta perspectiva inatista, se restringe a impedir ou a permitir Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 17 que estas aptidões se manifestem. (FONTANA; CRUZ, 1997, p. 12) Contudo, essa teoria possui algumas lacunas as quais não são explicadas, ou que, por opção, não foram pesquisadas. Um fato que ilustra isso é a concordância verbal. Vamos supor que exista um professor universitário e um estudante do ensino fundamental no Amazonas. O primeiro tem um alto grau de escolaridade. O segundo está no processo de ter. Considerando isso, vamos supor que cada um escreve os seguintes bilhetes: – Professor universitário: “Nós pescamos os peixes”. – Estudante do ensino fundamental: “Nós pesquemu os peixe”. Observe que, segundo a língua portuguesa, a estrutura está adequada: Quadro 1 – Estrutura sintática do exemplo Doutor em Linguística: “Nós pescamos os peixes.” Pescador: “Nós pesquemu os peixes.” Sujeito Predicado Fonte: Elaborado pelo autor (2022). O sujeito inicia o período, seguido do predicado. Contudo, não houve marcação do plural na palavra “peixe”, bem como o verbo, de acordo com a norma culta, deveria ser “pescamos”. Esse fato é muito recorrente em usuários da língua que não tiveram ou que estão se familiarizando com o acesso à educação formal. Em relação a isso, provavelmente, o pesquisador inatista desconsidera tal fenômeno, uma vez que a estrutura gramatical da Língua Portuguesa se mantém. Logo, para ele, não há necessidade de pesquisar Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 18 fatores externos ao idioma, bem como não importa o fator social. Em outras palavras, desconsidera-se o contexto social de quem está escrevendo. REFLITA: Aproveitando este momento, sugerimos que você reflita acerca da seguinte proposição: será que o contexto social influencia mesmo no desenvolvimento da escrita? De outra forma, Carneiro (2010, p. 62) nos mostra que “a explicação inatista omite, portanto, o papel decisivo dos fatores sociais e comunicativos”. Porém, outras teorias e modelos vão questionar esse posicionamento, passando a abranger os elementos culturais e sociais, como veremos a seguir. Teoria Sociointeracionista DEFINIÇÃO: A Teoria Sociointerativista é a área da psicologia cujo objetivo é estudar a maneira pela qual o ser humano desenvolve o seu aprendizado, em que os aspectos individual e social desempenham um papel relevante nesse processo. Assim, segundo essa teoria, o conhecimento se configura na interação entre os seres humanos e o meio social. Nesse viés, bem como outras ações, a aquisição da escrita também seria fruto desse procedimento, sendo que o contexto sociocultural é decisivo nesse processo. O principal estudioso dessa área do conhecimentoé Lev Semionovitch Vygotsky. De origem russa, ele desenvolveu seus estudos na Universidade de Moscou durante a década de 30 do século XX. ............... Embora sua formação inicial seja o Direito, esse pesquisador também se enveredou por outras áreas, como a Medicina, a Psicologia, a História, a Literatura e a Filosofia, por isso, seus estudos possuem uma face interdisciplinar considerável. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 19 Ainda que tenha morrido precocemente aos 37 anos, Vygotsky tem uma extensa produção acadêmica e científica. Seus livros foram traduzidos em várias línguas e são estudados até hoje. Nesse contexto, vamos priorizar duas obras: a “Formação social da mente” e “Linguagem e Pensamento”. Na visão de Vygotsky (1984), a atividade cerebral constitui as funções psicológicas do ser humano, principalmente, no período da infância. Contudo, esse aspecto não age sozinho, uma vez que essas vão se desenvolver a partir de ações integradas entre os sujeitos sociais e históricos (por isso, o nome sociointeracionistas). Logo, quanto mais a criança interage com o mundo e com os outros, mais ela necessita organizar os seus pensamentos, planejar o seu raciocínio e elaborar aquilo que ela quer expressar, a fim de que ela seja entendida por quem está a sua volta. Observem que o autor une dois elementos, o aspecto mental e o social, fato até então inédito, a fim de explicar a maneira pela qual o ser humano desenvolve, nesse caso, a escrita. Se compararmos as duas teorias anteriores, a Behaviorista e a Inatista, ambas vão priorizar mais o indivíduo, desconsiderando os fatores sociais e culturais. Na visão das autoras Lorandi, Cruz e Scherer (2011, p. 148): a questão central de sua teoria é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Essa teoria, conhecida como sociointeracionista, leva em consideração não o produto da fala da criança ou de seu cuidador, mas a relação dialógica que se instaura entre os dois, em seus papeis de falante e de interlocutor. (LORANDI; CRUZ; SHERER, 2011, p. 148) Sabendo disso, vamos nos aprofundar mais nesse processo. Para Vygotsky (1984), a aquisição da linguagem possui quatro estágios, conforme podemos ver no quadro a seguir. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 20 Quadro 2 – Estágios do desenvolvimento da linguagem para Vygotsky (1994) ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO CARACTERÍSTICAS 1º estágio Natural ou primitivo Corresponde ao pensamento pré-verbal e à fala pré-intelectual. O grito, o balbucio, as primeiras palavras são consideradas fala pré- intelectual. As operações aparecem de forma original, sendo que a expressão de palavras ocorre difi cilmente. 2º estágio Psicologia ingênua Experiência da criança com o seu próprio corpo e aplicação dessa experiência ao uso de instrumentos. Início da inteligência prática. A fala se manifesta pelo uso correto das formas e estruturas gramaticais antes de aprender as operações lógicas que representam. Domina a sintaxe da fala antes da sintaxe do pensamento. Opera com orações subordinadas, com palavras como, por que, se, quando, e, mas, antes de aprender as relações causais, condicionais e temporais. A criança assimila a estrutura externa do signo e considera a palavra como parte do objeto, ou seja, as crianças pequenas explicam o nome dos objetos pelas suas propriedades. Não conseguem interpretar o signifi cado da palavra em outros contextos. 3º estágio Signos exteriores A criança realiza operações externas que auxiliam na resolução de problemas internos, por exemplo, a utilização dos dedos para contar. É caracterizado pela utilização dos signos mnemotécnicos externos nos processos de memorização. Surge a fala egocêntrica nesse estágio. 4º estágio Crescimento interior As operações externas se interiorizam e passam por uma profunda mudança no processo. A criança começa a usar a memória lógica, isto é, a operar com relações intrínsecas e signos interiores. Ex.: contar mentalmente. Estágio fi nal da fala interior, silenciosa. As interações entre as operações externas e internas ocorrem sem esforço, transformando-se uma nas outras. Fonte: Vygotsky (apud GANDIN, [s.d.] p. 4). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 21 Assim, o desenvolvimento integra-se ao sujeito por meio da atividade cerebral incentivada e instigada por um outro sujeito, ou seja, por meio da mediação, conforme Gandin (s.d., p. 4): o mediador cultural, que pode ser um professor, os responsáveis pela criança ou até mesmo uma criança mais capaz, que ao ler com o pequeno leitor poderá motivá-lo ou despertar indagações a partir do significado dicionarizado da palavra ou do sentido construído pelo contexto do enunciado. (GANDIN, s.d., p. 4) Em virtude disso, a partir da fala e da mediação, o indivíduo começa a exercitar a escrita. IMPORTANTE: Aliás, é interessante frisar que as contribuições do sociointeracionismo foram inovadoras, porque uniu o fator biológico/mental ao fator social/cultural, bem como evidenciou o papel importante que o mediador assume nessa dinâmica. Dessa forma, como Soares afirma, o sociointeracionismo ofereceu: muitas respostas às lacunas deixadas pelas teorias comportamentais e inatistas, ao partir do pressuposto de que o sujeito interage ativamente com o meio e que este modifica aquele em função de sua ação. Isto favoreceu, [...], à proliferação de pesquisas em contextos interacionais diversos (lar, escola, creches, etc.), caracterizados tanto por relações assimétricas (adulto-criança), como por relações simétricas (criança-criança). (SOARES, 2008, p. 2) Teoria Construtivista Já a Teoria Construtivista é uma vertente da Psicologia que possui o intuito de pesquisar o desenvolvimento da aprendizagem do ser humano enquanto espécie, incluindo, o desenvolvimento da escrita. De maneira um pouco semelhante ao Sociointeracionismo, o Construtivismo também considera o nível individual e o social nesse contexto, mas atesta que o elemento cognitivo possui um papel mais fundamental do que o meio social. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 22 Inclusive, alguns teóricos, como Soares (2008), afirmam que o Construtivismo e o Sociointeracionismo estão inseridos na mesma área do conhecimento do Interacionismo, no entanto, como o Construtivista privilegia o nível mental fisiológico ao social e cultural, esse pode ser denominado também de Construtivismo Cognitivista. Sabendo disso, vamos à premissa básica dessa teoria. O Construtivismo entende que a aprendizagem humana é fruto de uma construção mental gradativa feita pela interação entre ambiente e organismo. Nesse contexto, o autor em destaque é Jean Piaget. Nascido na cidade suíça de Neuchâtel no final do século XIX, ele se formou em Biologia, mas também se dedicou a outras áreas, como a Psicologia e a Pedagogia, chegando a atuar como professor na Universidade de Genebra. Durante a década de 1940, produziu muitos trabalhos acadêmicos, revisitados e procurados até mesmo depois de sua morte em 1980. Aqui, vamos nos aprofundar mais na sua obra “Epistemologia Genética”, principalmente, no que diz respeito aos períodos de desenvolvimento humano, ou seja, na visão do autor, o ser humano possui estágios os quais devem ser superados gradativamente. O primeiro é o sensório motor. Geralmente, esse início vai dos 0 aos 2 anos de idade, momento no qual a criança aprimora suas habilidades motoras primárias, como o engatinhar, pegar objetos, mexer a boca etc., possibilitando a consciência da distinção entre o seu próprio corpo e o mundo externo, aprimorando as suas percepções simbólicas. Por exemplo, a criança vê um objeto esférico de plástico. Depois, vai em direção a ele, tateando-o e movimentando-o até que alguém diga a palavra “bola”. Comisso, ela associa o som ouvido com o objeto físico, mas é importante que esse esteja presente, esteja no contato visual dela. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 23 A respeito disso, Soares nos mostra que (2008, p. 3): as primeiros esquemas de ação (sucção, preensão) vão se estender, assim, a objetos diversos e, simultaneamente, as ações se modificarão em função de novos objetos. Aos poucos, os diferentes esquemas de ação irão, igualmente, se coordenando: no início, o bebê, ou olha um objeto, ou pega-o; mais tarde, ele poderá pegá-lo e olhá-lo e, mais adiante, ele poderá utilizá-lo como intermediário (meio) para a realização de um outro objetivo. (SOARES, 2008, p. 3) Esse desenvolvimento motor aliado ao simbólico será importante para o desenvolvimento da escrita, uma vez que, para fazer as ações de registrar os símbolos gráficos, é necessária uma base motora do corpo, junto com uma capacidade de abstração do símbolo. Após acumular e aprimorar o estágio sensório motor, passa-se ao segundo, o pré-operatório. Em geral, ele ocorre de 2 a 7 anos, a criança começa a usar a sua fala, com o intuito de se referir ao objeto sem que ele esteja presente, aprimorando a sua capacidade simbólica. Há também o surgimento do conceito de egocentrismo. Isso se refere à descoberta de si enquanto sujeito no mundo, por isso, nessa época, é natural que muitas crianças se comuniquem sozinhas, mesmo no meio de outras pessoas. Outro fato ligado a isso é, que pode acontecer de elas não conseguirem se colocar no lugar do outro, isto é, de só considerarem o seu ponto de vista em uma conversação. Com o aprimoramento disso tudo, há uma transição para o estágio operatório concreto o qual vai, por via de regra, dos 7 até os 12 anos. Nesse período, Piaget trabalha mais a questão lógica matemática, como volumes e quantidades, com poucas considerações à linguagem, uma vez que o nível de abstração ainda é um pouco deficitário, bem como o processo de internalização, ou seja, as ações comuns à inteligência sensório-motor, como necessitar dos dedos para fazer uma separação silábica, ainda não foi concluído devidamente. Mas, ao mesmo tempo, há o desaparecimento do egocentrismo, provocando, assim, o aumento da socialização, pois o outro é descoberto, ou seja, o “eu” existe no mundo, mas esse é compartilhado com outras pessoas que não sejam “eu”. Dessa forma, a interação é aprimorada, pois o Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 24 ponto de vista desse outro começa a ser levado em consideração. Assim, por exemplo, ela começa a escrever histórias e inserir os seus amigos e amigas nela. Por fim, há o último estágio operatório formal, o qual ocorre, geralmente, aos 12 anos em diante. Nesse período, a criança começa a internalizar o pensamento formal, podendo elaborar abstrações, bem como passa a assumir um caráter hipotético-dedutivo, isto é, uma conclusão do geral, para o particular. Em função disso, o indivíduo nesse período, caso o desenvolvimento cognitivo e social tenha sido pleno, consegue elaborar enunciados mais complexos, principalmente, a argumentação. Aliás, segundo Mata (2007, p. 17), é nesse estágio de desenvolvimento em que a capacidade da estudante em planejar textos escritos mais elaborados se aprimora, pois essa fase corresponde ao rascunho mental da composição. Nele são sintetizados todos os elementos do texto (conteúdo e forma estrutural, sentido do texto e intenção significativa). Planejar significa realizar uma tarefa em nível abstrato, antes de realizá-la em um nível concreto. (MATA, 2007, p. 17) IMPORTANTE: É interessante destacar aqui algumas nuances entre as contribuições de Piaget e de Vygotysk, uma vez que eles guardam algumas singularidades. Em função disso, podemos lançar mão do exemplo formulado por De Vitto (apud OLIVEIRA, 1991, p. 45): [...] a criança piagetiana tem um longo caminho a percorrer antes de se poder dizer que suas ações sejam socializadas e sua linguagem comunicativa. Já para Vygotsky, esse desenvolvimento se dá através da linguagem (enquanto pensamento e linguagem) facilitados pelos instrumentos lingüísticos/psicológicos/signos e experiência sócio-cultural da criança, enaltecendo, portanto, o contato social com mediação. (DE VITTO apud OLIVEIRA, 1991, p. 45) Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 25 REFLITA: Antes de fecharmos este item, instigamos você a refletir sobre a seguinte proposição: será que os conceitos de Vygotsky e de Piaget podem ser aplicados juntos na sala de aula infantil? RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido que existem algumas teorias e modelos para a aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita cada uma com suas características próprias, como a behaviorista, a inatista, a sociointeracionista e a construtivista. A teoria behaviorista estuda o comportamento humano e pode ser: comportamento reflexo e comportamento operante, e que o comportamento verbal é um tipo especial do grupo do comportamento operante. Conhecemos a teoria inatista na qual estuda os aspectos biológicos e genéticos relacionados com o desenvolvimento humano. Compreendemos a teoria sociointeracionista que estuda o desenvolvimento do aprendizado pelo ser humano, conhecendo os estágios do desenvolvimento da linguagem segundo Vygotskty. Vimos ainda a teoria construtivista com foco na pesquisa do desenvolvimento e aprendizagem do ser humano enquanto espécie, incluindo o da escrita e que leva em consideração o nível individual e social bem como o elemento cognitivo. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 26 Elementos para a produção textual OBJETIVO: Nesta seção, apresentaremos os principais conceitos envolvidos na produção textual dentro de um contexto escolar. Para isso, recorreremos aos estudos desenvolvidos por pesquisadores tanto da área da linguística, quanto da pedagogia, os quais serão consideravelmente relevantes e impactarão diretamente na formação profissional de vocês, futuros profissionais da educação. Elementos para a produção textual Antes de começarmos, convidamos você a relembrar, caso não tenha estudado no Brasil, pergunte às pessoas que estudaram: como foram as suas aulas de português, quando fazia o ensino fundamental, ou o segmento escolar correlato? Em algum momento, você foi orientado a fazer uma “redação narrando como foi as suas férias”? Bem, depois dessa pequena reflexão, daremos os passos iniciais destinados a atingir o nosso objetivo. A primeira coisa a se fazer é partir de uma das possíveis definições ligadas à produção de texto, segundo Fiad e Val (2014, on-line) a qual significa: dizer algo a alguém, por algum motivo, de algum modo, em determinada situação. O texto é resultado de um processo em que os sujeitos interagem através da linguagem. Nessas interações, os sujeitos compreendem, concordam, discordam, interrogam seus interlocutores. (FIAD; VAL, 2014, on-line) Vamos supor que existam um médico e um paciente. Na interação, o primeiro instrui o segundo a comprar e usar um determinado remédio, o médico produz um texto específico, a receita médica, ao paciente. Assim, a produção de texto pode ser tanto feita de modo oral, como também de maneira escrita. Nessa última modalidade, há a possibilidade de reescrever o que foi escrito no decorrer do ato, e após isso, é possível voltar ao texto, analisando a sua composição, entre outras singularidades. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 27 Figura 1 – Receita médica Fonte: Freepik Todavia, quando se aborda a produção de texto no ambiente escolar, essas definições são redesenhadas, ganhando contornos específicos. Segundo o PCNde Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, é de responsabilidade da “escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas” (BRASIL, 1998, p. 30). Já Rojo (2009) possui uma visão parecida com o documento oficial anterior, pois, para ela, as aulas de língua materna na educação básica possuem a meta de “possibilitar que seus alunos possam participar das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita na vida da cidade, de maneira ética, crítica e democrática” (ROJO, 2009, n.p.). No momento em que a autora utiliza o termo “práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita”, faz menção diretamente aos textos expostos no PCN, ou seja, os textos escritos ajudam a compor as mais diversas atividades que ocorrem em uma sociedade. E, a fim de que os estudantes participem de tais práticas empregadas na leitura e a escrita, Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 28 é necessário consigam produzir textos específicos, de modo a atender e se adequar a tal prática. IMPORTANTE: Logo, as aulas que envolvem o ensino do português devem estar voltadas à aplicação da língua materna em situações reais de comunicação, isso ocorre por meio do ensino da produção de textos, nesse caso, também os textos escritos. Agora, vamos retomar aquela lembrança das aulas de português antigamente. Se não passou, você deve conhecer alguém que passou pela famosa “escreva sobre as suas férias”, isto é, o professor pedia para os estudantes que escrevessem como foram as suas férias escolares. Se observarmos essa atividade (inclusive, que ilustra bem outras desse tipo), ela é totalmente descontextualizada e não possui uma ligação com uma prática social encontrada na realidade. Assim, a produção do texto tem um fim nele mesmo, resumindo-se ao produzir por produzir. Em relação a isso, Antunes (2003, p. 26) critica esse tipo de atividades envolvendo a escrita de textos, afirmando que muitos professores promovem a prática de uma escrita artificial e inexpressiva e, realizada em exercícios de criar listas de palavras soltas ou, ainda, de formar frases” (ANTUNES, 2003, p.23). Dialogando com Antunes (2003), Marcuschi (2008, p. 77) também afirma que: a artificialização de se produzir textos é comum nas escolas brasileiras, pois, muitas vezes, [...] não se define com precisão a quem o aluno se dirige. A cena textual não fica clara. Ele não tem um outro (o auditório) bem determinado e assim tem dificuldade de operar com a linguagem e escreve tudo para o mesmo interlocutor que é o professor. (MARCUSCHI, 2008, p. 77) Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 29 IMPORTANTE: Em virtude disso, o estudante não desenvolve adequadamente a produção de texto, muito menos o aprendizado da língua materna. Logo, é fundamental que você comece a alargar o conceito de produção de texto, principalmente, de modo que o processo de ensino/ aprendizado enfoque não apenas no produto, ou seja, no texto escrito, mas sim no seu processo como um todo, desde o seu início, até o final. Figura 2 – Texto escrito Fonte: Freepik Para isso, podemos lançar mão dos estudos de João Wanderley Geraldi, professor da UNICAMP e pesquisador da área da linguística e da educação. Em sua obra, “Portos de passagem”, o autor tece uma série de elementos importantes destinados à produção de texto no ambiente escolar denominados condições de produção de textos. Condições de produção de textos escritos Conforme Geraldi (1997, p. 130), para se produzir adequadamente textos escritos nas escolas, é necessário que: Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 30 se tenha o que dizer; se tenha uma razão para se dizer o que se tem a dizer; se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; o locutor se constitua como tal enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz; e se escolham as estratégias para realizar. (GERALDI, 1997, p. 130) Voltando aquele exemplo anteriormente abordado no início, o “escreva sobre as suas férias”, podemos observar que os elementos sugeridos por Geraldi (1997) não são totalmente contemplados na proposta. Até existe “algo a se dizer”, ou seja, o escrever sobre as férias do estudante. Mas, se levarmos em consideração os outros elementos, não há correspondência. Não há uma razão para se dizer sobre as férias, não há para quem dizer sobre as férias, de maneira efetiva, não há uma constituição do estudante enquanto sujeito escritor das suas férias e não há uma orientação direcionada às estratégias para se dizer sobre as férias. Com o intuito de ilustrar melhor tais elementos ligados à produção de texto no ambiente escolar, Geraldi (1997) elaborou um fluxograma, o qual pode ser observado a seguir: Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 31 Figura 3 – Fluxograma Fonte: Geraldi (1997, p. 160). No momento em que tais elementos associados às condições de produção de textos são considerados, a concepção de escrita dos textos muda completamente, essencialmente, quando o estudante se assume como locutor produtor de um texto. Aliás, em relação a esse último fato, Geraldi (1997, p. 160) afirma que o estudante ganha protagonismo enquanto ser no mundo, uma vez que “a devolução da palavra ao aluno faz deste o condutor de seu processo de aprendizagem assumindo-se como tal”. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 32 Sabendo disso, aprofundaremos um pouco sobre cada um desses elementos propostos pelo autor. – Se tenha o que dizer: este elemento está associado ao tema, ao assunto a ser abordado no texto escrito. Todo texto possui um tema, pode parecer implícito, de forma mais indireta e propositadamente escondida, mas ainda sim possui um. Assim, quando traçado o que se tem a dizer, é importante que você, futuro profissional da educação, estimule seus estudantes a pesquisarem mais sobre o tema escolhido, mesmo que a estudante saiba sobre o assunto delimitado. Em função disso, ele deve ler em diversas fontes confiáveis acerca disso, como livros, jornais, enciclopédias, sites especializados etc. – Se tenha uma razão para se dizer o que se tem a dizer: este segundo elemento representa a finalidade, o motivo pelo qual o estudante escreve o texto. Assim, é preciso estabelecer evidentemente um objetivo da tarefa de escrever. Caso isso não ocorra, pode trazer prejuízos a tal ação. Acerca disso, Butzge e Casagrande (2012) nos mostram que, geralmente, na prática escolar, esse elemento está vinculado à avaliação da disciplina, ou seja, à nota. Por causa disso, muitas vezes, inviabiliza o desenvolvimento da escrita, bem como o do aprendizado da língua materna. Dessa forma, ainda que a razão pela qual a produção de texto esteja vinculada à nota, é necessário que a professor encontre objetivos mais concretos de escrita, principalmente, ligado à realidade do estudante. – Se tenha para quem dizer o que se tem a dizer: o terceiro elemento está ligado diretamente ao outro, isto é, para quem o texto é produzido. De uma maneira geral, a comunicação é feita de modo dialógica. Segundo Bakhtin (2012, p. 117): o diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas, é verdade que das mais importantes, da interação verbal. Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido amplo, isto é, não apenas como a comunicação em voz alta, de Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 33 pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. (BAKHTIN, 2012, p. 117) Como a interação entre duas pessoas é a constituição básica da comunicação humana, se a pessoa para quem nos direcionamos não estiver definida, o ato comunicativo será comprometido. Figura 4 – Comunicação humana Fonte: Freepik Aliás, muitas vezes na educaçãobásica, é isso que ocorre, uma vez que muitos professores orientam os estudantes a produzir um texto para o próprio docente. Butzge e Casagrande (2012, p. 3) criticam tal orientação, dizendo que o interlocutor para quem o texto produzido pelo aluno é endereçado. Não pode ser exclusivamente o professor, este deve ser o mediador/orientador, apenas; se o produtor do texto não consegue formar imagem do seu interlocutor, como poderá escolher as formas adequadas de compor seu texto? (BUTZGE; CASAGRANDE, 2012, p. 3) Portanto, é fundamental que seja idealizada a existência do outro para quem o texto produzido será direcionado, de modo que isso fique evidente no momento da produção textual. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 34 – O locutor se constitua como tal enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz: este elemento representa o sujeito produtor do texto. Assim que se estabelece o outro, o para quem o texto será destinado, aquele que escreve também assume um papel específico. Voltemos aquele exemplo do médico no início deste item. Em uma consulta médica, os principais interlocutores envolvidos são o médico e o paciente. Não é a médica e a estudante. Não é a professora e a paciente. Dessa forma, ao se definir para quem o texto será destinado, o sujeito passa a assumir um papel específico. Isso influencia diretamente na produção textual, uma vez que o conteúdo temático do texto muda, a maneira pela qual o sujeito que o produz também. Na sala de aula, caso o professor não determine isso, a produção fica prejudicada, conforme evidencia Butzge e Casagrande (2012, p. 3), como poderá o locutor posicionar-se frente ao seu interlocutor, como sujeito do seu dizer, se não conhece a imagem do seu interlocutor e, por consequência, desconhece a imagem que o interlocutor faz dele, locutor? (BUTZGE; CASAGRANDE, 2012, p. 3) – Se escolham as estratégias para realizar (os elementos anteriores): por fim, existe o último elemento: as estratégias para se realizar a produção textual. Na visão de Geraldi (1997), essa contempla e orienta todas as anteriores, além de estar relacionada diretamente com a escolha do gênero textual pretendido. Acerca disso, Butzge e Casagrande fazem uma explanação relevante: não se trata da simples escolha de se definir se a melhor opção é escrever uma reportagem ou um artigo de opinião, mas sim compreender que esta escolha implicará na forma de abordar o assunto, na linguagem adotada, no tratamento prestado ao interlocutor, no modo como o sujeito se revela, na composição estrutural e gramatical do texto, etc. É saber também as implicações futuras que o dizer trará (por exemplo, vive-se hoje num mundo judicialmente cerceado, em que o texto publicado é evidência/prova); é saber se há sustentação ao que foi dito, quando vierem os contra-argumentos; é saber das Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 35 implicações sócio-políticas do dizer produzido. (BUTZGE; CASAGRANDE, 2012, p. 3-4) Portanto, no momento em que você aplicar tais conceitos ligados à produção textual, não só a produção textual dos seus futuros estudantes serão melhores, mas também o processo de alfabetização e, por sua vez, no ensino de língua materna será potencializado, formando produtores de textos escritos mais competentes. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido os elementos para a produção textual os quais envolvem ter o que dizer, assumir-se como locutor, escolher estratégias para dizer, ter interlocutores a quem se diz, uma relação interlocutora e razões para dizer, entendendo as principais características de cada um desses elementos, como possuir um tema, um assunto a ser abordado; um motivo ou finalidade para a escrita do texto; ter um destinatário, alguém a quem deva se dirigir o texto; a pessoa que escreve o texto também ter um papel específico, de destaque; e possuir estratégias no momento de realizar a produção textual. Mediante esses elementos, é possível executar uma produção textual com mais competência e com uma melhor adequação ao que se espera dessa produção, com contornos específicos e apropriados com a aprendizagem textual. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 36 Elementos para a interpretação textual OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender as contribuições teóricas das áreas da linguística e da educação, por isso serão apresentados os principais conceitos, análises, elementos relacionados à interpretação textual no contexto escolar. Assim, no final, você estará munido desse arcabouço teórico, o qual vai lhe deixar ainda mais apto a desenvolver, principalmente, as atividades de interpretação de texto nas suas atividades pedagógicas futuras. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Elementos para a interpretação textual Nesse viés, em primeiro lugar, vamos desconstruir a ideia presente no senso comum de que a interpretação textual é uma simples atividade de decodificação. Lembrando que decodificação é uma atividade feita pelo leitor que “transforma as retas e curvas que compõem as letras em sons oralizados ou numa imagem mental do som” (COSCARELLI, 2014, on-line). Vamos supor que exista a palavra “amor”. Se o leitor praticar a leitura por vias da decodificação, existem os fonemas ([a], [m], [o], [r]) representados por letras (a, m, o, r), existe uma correspondência a um significado de compaixão, afeto, romance, zelo etc. Porém, se considerarmos apenas esse nível, a interpretação de textos mais complexa fica inviável. Sem falar que, na realidade, os textos vão muito além do que um amontoado de palavras e fonemas soltos. Só para você, futuro profissional da educação, ter uma ideia de como a interpretação textual é abrangente, contemplando outras ações além da decodificação, podemos usar o exemplo do poema do escritor modernista Oswald de Andrade (aliás, uma das palavras contidas nessa obra é igual ao do exemplo passado). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 37 Figura 5 – Oswald de Andrade Fonte: Wikimedia Commons O poema em questão é: Amor Humor (ANDRADE, 1991, p. 12) Considerado o menor poema já escrito na língua portuguesa, se fôssemos decodificá-lo, encontraríamos duas palavras, as quais possuem 9 letras e 8 fonemas, o significado da primeira seria a compaixão, o afeto, o zelo etc., e a segunda, seria o risível, o engraçado e outros sentidos similares. Todavia, isso é muito superficial, uma vez que existem muitos outros elementos a serem considerados nesse meio. A partir de um olhar ingênuo, esse poema pode parecer até simples, mas não se engane. Em primeiro lugar, devemos nos lembrar que Oswald de Andrade é um escritor modernista brasileiro. Por causa disso, em sua obra literária, ele almejou combater as produções artísticas anteriores ao século XIX, principalmente, o Romantismo. Aliás, umas das temáticas mais visadas pelos autores dessa escola literária era o amor. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 38 Em virtude disso, ele promove uma dessacralização do amor, e passa a estar em função das variações de ânimos e do humor de alguém. Além disso, segundo Palomo: a informação estética suscitada pelos poemas- piada forjados por Oswald de Andrade exemplifica uma das formas de ruptura em relação à sintaxe e campos semânticos herdados à portuguesa, “Amor humor” constitui uma significativa transformação do discurso amoroso na literatura brasileira, em um período pós-colonial. (PALOMO, 2015, p. 132) Portanto, conforme vimos anteriormente, a interpretação vai muito além da decodificação, ou seja, daquilo que está superficialmente no texto. E, caso o profissionalda educação insista nessa visão simplista e limitada, poderá trazer grandes prejuízos para os futuros estudantes. Sobre isso, Araujo (2013, p. 4) nos mostra que: o professor deve ter consciência de que a leitura não depende apenas daquilo que está diante dos olhos, mas de sua junção com o conhecimento de mundo de seu aluno e dos dados do contexto sociocomunicativo no qual o texto foi produzido. (ARAUJO, 2013, p. 4) Diante disso, daremos seguimento à apresentação e à discussão dos principais conceitos e elementos ligados à interpretação textual. A interpretação, a qual é feita por meio da leitura, é uma ação cognitiva, ou seja, uma atividade realizada na mente do ser humano que objetiva construir os significados a partir do texto lido. Para isso, o ser humano mobiliza uma série sistemas de conhecimentos e estratégias cognitivas específicas. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 39 Figura 6 – Interpretação como ação cognitiva Fonte: Freepik Conforme Vanda Maria Elias e Ingedore Villaça Koch, respectivamente, professoras da Unifesp e ex-professora da UNICAMP, ambas da área da linguística, em sua obra “Ler e compreender: os sentidos do texto”, a interpretação textual está ligada diretamente à leitura e à compreensão, ocorridas por meio de estratégias cognitivas denominadas sistemas de conhecimento. Esses sistemas os quais estão presentes na memória de cada ser humano processam as informações contidas no texto aliando às informações já presentes na mente do leitor. Dessa forma, há um deslocamento da interpretação textual, ou seja, interpretar um texto não se limita apenas ao texto, mas sim no espaço de interação entre autor- texto-leitor, de acordo com Elias e Koch (2007, p. 11): é uma atividade interativa complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes. (ELIAS; KOCH, 2007, p. 11) Logo, esses conjuntos de saberes são os sistemas de conhecimentos que veremos agora. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 40 Conhecimento linguístico Na visão das autoras, esse tipo de conhecimento: abrange o conhecimento gramatical e o lexical. Baseados nesse tipo de conhecimento, podemos compreender: a organização textual do material linguístico na superfície textual, o uso dos meios coesivos para efetuar a remissão ou a sequenciação textual, a seleção lexical adequada ao tema ou aos modelos cognitivos ativados. (ELIAS; KOCH, 2007, p. 40) Em outras palavras, é todo o conhecimento ligado aos diferentes níveis de estruturação de qualquer língua, isto é, o nível sonoro (fonético e fonológico), o nível da estruturação das palavras (morfológico), a da aplicação das palavras em orações e períodos (sintático), o significado delas (semântico). Vale destacar que tal conhecimento é compartilhado dentro de uma comunidade linguística. Por exemplo, os falantes da Língua Portuguesa entendem que, quando se faz uma pergunta a alguém (você está bem?), não é preciso inverter a ordem do sujeito e do verbo, como ocorre na Língua Inglesa (“are you ok?”). Figura 7 – Conhecimento linguístico Conhecimento ligado aos diferentes níveis de estruturação de qualquer língua. Morfológico Semântico Sintático Fonético e fonológico Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Porém, como você verá, a interpretação textual não se limita apenas ao nível do conhecimento linguístico. É necessário, assim, uma interação entre os outros dois. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 41 Conhecimento enciclopédico Para Elias e Koch (2007, p. 42), o Conhecimento Enciclopédico Refere-se a conhecimentos gerais sobre o mundo - uma espécie de thesaurus mental - bem como a conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espácio-temporalmente situados, permitindo a produção de sentidos. (ELIAS; KOCH, 2007, p. 42) Caso você seja um estudante mais novo, é bem provável que não tenha entrado em contato com as famosas enciclopédias. A denominação desse tipo de conhecimento faz referências às enciclopédias, um conjunto de livros nos quais continham informações sobre diversas áreas do conhecimento humano, desde uma bola de gude até um foguete espacial. Geralmente, elas possuíam vários volumes, cada um dividido em ordem alfabética. Figura 8 – Enciclopédias Fonte: Wikimedia Commons Em virtude disso, o Conhecimento Enciclopédico depende diretamente da quantidade de informações armazenadas em nossas mentes. Aliás, é importante frisar que tais informações podem vir de Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 42 diferentes fontes, como de livros literários, obras artísticas, leitura de enciclopédias, mas também de experiências de vida comum oriundas de diversas situações do cotidiano. Conhecimento Interacional O Conhecimento Interacional diz respeito à maneira pela qual a linguagem é empregada pelos sujeitos em situações reais de uso. Conforme Elias e Koch (2007) afirmam, esse tipo de conhecimento é subdividido em: ilocucional, comunicacional, superestrutural e metacomunicativo. – Ilocucional O Ilocucional está diretamente associado à intenção do produtor do texto. Assim, saber identificar a pretensão do escritor é indispensável no momento da interpretação. Aliás, tal intenção pode ser tanto explícita quanto implícita. – Comunicacional Segundo Elias e Koch (2007, p. 50): – Quantidade de informação necessária, numa situação comunicativa concreta, para que o parceiro seja capaz de reconstruir o objetivo da produção do texto. – Seleção da variante linguística adequada a cada situação de interação. – Adequação do gênero textual. Dessa forma, é fundamental que, no momento de se interpretar um texto, tenha uma carga informacional eficaz, que a variante linguística (variação culta, padrão, coloquial, popular etc.) esteja contextualizada e o gênero textual esteja de acordo com o ato comunicativo em questão. – Metacomunicativo O metacomunicativo simboliza: o conhecimento que assegura a compreensão textual através das pistas deixadas pelo autor – expressas Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 43 por meio de sinais de articulação, e das atividades de formulação e construção dos textos – que fazem com que o leitor vá seguindo os vários tipos de ações linguísticas deixadas pelo produtor. (ELIAS; KOCH, 2007, p. 53) Como todo texto possui uma sequência e organização própria, por sua vez, também existe uma série de indícios que acompanham tais sequências e organizações próprias e também auxiliam na interpretação. Ao ter esse conhecimento desenvolvido, a interpretação é potencializada. Um exemplo que podemos dar a você é a questão a partir do texto Sedutor médio, de Luis Fernando Veríssimo. Vamos juntar Nossas rendas e expectativas de vida querida, o que me dizes? Ter 2, 3 filhos e ser meio felizes? (VERÍSSIMO, 2002, p. 45). Observe que esse poema é uma ironia à figura do sedutor. Em vez de ser infalível e conquistador, ele é mediano, não conseguindo atingir a felicidade plena. Isso é possível, a partir das pistas deixadas no texto, como o adjetivo “médio” e o advérbio “meio”, além do sinal da pontuação “?”, o qual simboliza um flerte junto a uma mulher. – Superestrutural Por fim, há a última subdivisão do Conhecimento Interacional: o superestrutural. Segundo Elias e Koch (2007, p. 55), ele se relaciona com: a identificação de textos como exemplares adequados aos diversos eventos da vida social. Envolve também conhecimentos sobre as macrocategorias ou unidades globais que distiguem vários tipos de textos, bem como sobre a ordenação ou sequenciação textual em conexão com os objetivos pretendidos. (ELIAS; KOCH, 2007, p. 55) Ter noções acerca da superestrutura do texto é relevante, uma vez que cada texto está ligadoa uma situação comunicativa da realidade. Por exemplo, caso o leitor não tiver conhecimento sobre o gênero textual ata, bem como sua funcionalidade e seus elementos básicos de composição, a interpretação dela será dificultosa e até inviabilizada. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 44 Assim que você aplicar esses conceitos associados à interpretação textual, por conseguinte, não só a interpretação textual dos seus futuros estudantes vão progredir, como também o processo de leitura e, por sua vez, o ensino de língua materna será potencializado, contribuindo para a inserção adequada ao mundo letrado contemporâneo. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido os elementos para a interpretação textual, entendendo inicialmente que a interpretação de texto não se trata de uma simples atividade de decodificação, visto que os textos não são apenas uma junção de palavras e fonemas. Vimos que a interpretação é feita por meio da leitura e é uma ação cognitiva diretamente ligada à leitura e à compreensão realizada por meio dos sistemas de conhecimento, o conhecimento linguístico, que envolve a fonética, fonologia, morfologia, sintaxe e semântica; conhecimento enciclopédico, conhecimentos gerais sobre o mundo; e o conhecimento interacional, subdividido em ilocucional, comunicacional, superestrutural e metacomunicação. Além disso, conhecemos as principais características de cada uma dessas subdivisões do conhecimento interacional. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 45 Distúrbios da linguagem escrita OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender os principais distúrbios relacionados à escrita e suas principais características, identificando os seus principais indícios. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Distúrbios da linguagem escrita Os distúrbios da linguagem escrita são aqueles relacionados com o desenvolvimento da linguagem e demonstrados por meio da dificuldade em adquirir ou desenvolver a linguagem escrita. Aqui, você verá os distúrbios mais comuns do cotidiano escolar, principalmente, a dislexia, a disgrafia e a disortografia, lembrando que, anteriormente, já vimos um pouco acerca da dislexia, mas vamos relembrar um pouco sobre ela como distúrbio da linguagem escrita. Figura 9 – Distúrbios da linguagem escrita Dislexia Disgrafi a Disortografi a Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Vale lembrar que tais distúrbios não só trazem prejuízos no nível de sociabilidade do ser humano, mas também comprometem a qualidade do ensino e, consequentemente, o sucesso profissional (GOULART; CHIARI, 2014). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 46 Sobre a questão dos prejuízos de sociabilidade e do comprometimento profissional, eu convido você a assistir ao filme O Discurso do Rei. Porém, antes de explanarmos sobre eles, você pode se perguntar: “como eu posso lidar com essas doenças, se não sou da área da saúde?”. Realmente, o fonoaudiólogo, o pediatra e o neurologista são peças-chave no processo de diagnóstico e de tratamento disso. Mas, como bem nos lembra Prates e Martins: é fundamental a participação de outros profissionais que acompanham o desenvolvimento infantil, como pediatras, educadores, psicólogos, terapeutas ocupacionais, agentes comunitários de saúde, entre outros. De maneira geral, pediatras e professores são os primeiros profissionais solicitados a opinar e orientar, por serem mais presentes no acompanhamento do desenvolvimento infantil. (PRATES; MARTINS, 2011, p. 55) Logo, sabendo disso, vamos às considerações iniciais acerca dos distúrbios mais comuns e suas principais características. A disgrafia Algumas pessoas demonstram um tipo de distúrbio referente à execução da escrita à mão, no qual há uma ausência de regularidade bem como um controle ruim da escrita, esse distúrbio é chamado de disgrafia. Figura 10 – Disgrafia Disgrafi a Problemas com escrita à mão Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Na visão de Torres e Fernández (2001, p. 127), a disgrafia é “uma perturbação de tipo funcional que afeta a qualidade da escrita do sujeito, no que se refere ao seu traçado ou à grafia”. Aliás, essa palavra é formada por outras duas: “dis” (desvio) + “grafia” (escrita). Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 47 Ainda na visão de Torres e Fernández (2001), a disgrafia pode se manifestar das seguintes maneiras: – Letra excessivamente grande (macrografia) ou pequena (micrografia);. – Forma das letras irreconhecível (por vezes distorcem, inclinam ou simplificam tanto as letras que a escrita é praticamente indecifrável). – Traçado exagerado e grosso (que vinca o papel) ou demasiado suave e imperceptível. – Grafismo trêmulo ou com uma marcada irregularidade, originando variações nos tamanhos dos grafemas. – Escrita demasiada rápida ou lenta. – Espaçamento irregular das letras ou das palavras, aparecem desligadas, sobrepostas ou ilegíveis ou, pelo contrário, muito juntas. – Erros e borrões que quase não deixam possibilidade para a leitura da escrita (embora as crianças sejam capazes de ler o que escrevem). – Desorganização geral na folha/texto. – Utilização incorreta do instrumento com que escrevem. A seguir está um exemplo de um estudante com disgrafia. Figura 11 – Exemplo de disgrafia Fonte: Wikimedia Commons Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 48 A criança no processo de desenvolvimento da escrita pode apresentar alguns desses indícios de disgrafia. O problema se manifesta assim que tais indícios não param de acontecer, bem como eles podem ocorrer de maneira conjunta. No entanto, Almeida et al. (2010, p. 8) citam algumas ações que podem ser tomadas em relação a disgrafia: diante da suspetia de que a pessoa possa ou não ser portadora de disgrafia o primeiro passo é iniciar uma investigação minuciosa comparando o traçado do propósito com a média de grafia para a idade equivalente sendo possível o diagnóstico, através de desenhos, rabiscos e outros. Poderemos então iniciar um trabalho para a prevenção da mesma. (ALMEIDA et al., 2010, p. 8) Portanto, é fundamental a existência de uma observação atenta ao aluno para verificar se ele possui esse distúrbio, para que assim seja possível ajudá-lo adequadamente. A disortografia Já a disortografia está mais centrada na composição do texto e sua ordem ortográfica. Segundo Pereira (2009, p. 9): perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos. As dificuldades centram-se na organização, estruturação e composição de textos escritos; a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a presença de múltiplos erros ortográficos e [por vezes] má qualidade gráfica. (PEREIRA, 2009, p. 9) Figura 12 – Disortografia Disortografi a Difi culdade na escrita Principalmente na ortografi a Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Assim, isso reflete muito na capacidade de produção de textos das crianças, uma vez que elas se sentem desmotivadas e inibidas. Inclusive, quando acabam fazendo, o produto escrito é pequeno, ou pouco Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 49 desenvolvido, além de ter uma pontuação inadequada, palavras grafadas inapropriadamente e com períodos desestruturados. Na visão de Torres e Fernández (2001), os principais indícios da disortografia são: – Erros de caráter linguístico-percetivo: • Omissões, adições e inversões de letras, de sílabas ou de palavras. • Troca de símbolos linguísticos que se parecem sonoramente (“faca”/“vaca”). – Erros de caráter visoespacial: • Substitui letrasque se diferenciam pela sua posição no espaço (“b”/“d”). • Confunde-se com fonemas que apresentam dupla grafia (“ch”/“x”). • Omite a letra “h”, por não ter correspondência fonêmica. - Erros de caráter visoanalítico: • Não faz sínteses e/ou associações entre fonemas e grafemas, trocando letras sem qualquer sentido. - Erros relativos ao conteúdo: • Não separa sequências gráficas pertencentes a uma dada sucessão fônica, ou seja, une palavras (“ocarro” em vez de “o carro”), junta sílabas pertencentes a duas palavras (“no diaseguinte”) ou separa palavras incorretamente. - Erros referentes às regras de ortografia: • Não coloca “m” antes de “b” ou “p”. • Ignora as regras de pontuação. • Esquece-se de iniciar as frases com letra maiúscula. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 50 • Desconhece a forma correta de separação das palavras na mudança de linha, a sua divisão silábica, a utilização do hífen. Dislexia Como dissemos, já falamos em uma unidade anterior sobre a dislexia, no entanto, para que o nosso estudo nesse capítulo seja completo sobre os distúrbios da escrita é necessário que aqui também tragamos algumas explanações sobre esse tema voltado para a escrita. A dislexia é considerada como um distúrbio da linguagem, no qual existe a manifestação de sintomas incluída a dificuldade de adquirir e produzir a leitura e a escrita, além de apresentar dificuldade com a ortografia. Figura 13 – Dislexia Dislexia Problemas de escrita, ortografi a e leitura. Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Como bem explicam Lima et al. (2014, p. 134): uma das causas mais conhecidas de problemas com a aquisição da leitura e da escrita é um distúrbio de aprendizagem conhecido como dislexia. O termo dislexia tem sido tradicionalmente empregado para descrever o caso de alunos que, mesmo sem motivos mais evidentes, não conseguem se desenvolver no que diz respeito ao aprendizado da leitura e da escrita. Embora inicialmente tenha sido empregada para dar conta dos distúrbios de leitura, tal noção acabou englobando também a escrita. (LIMA et al., 2014, p. 134) Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 51 Normalmente, a dislexia é evidenciada por meio da desconformidade existente entre a capacidade oral do aluno e o desempenho ruim no papel. Assim, o aluno demonstra possuir uma capacidade boa quando está falando, oferecendo contribuições inteligentes, mas quando vão escrever ou passar as informações para um papel acabam não tendo o mesmo desempenho. Hudson (2019) relaciona alguns indicadores apresentados pelos alunos com dislexia que se referem à escrita: – Lentidão na escrita. – Qualidade ruim em relação à ortografia e à pontuação. – Incapacidade de pensar de forma simultânea na ortografia e no conteúdo. IMPORTANTE: Nesse caso, é interessante perceber que quando o conteúdo é bom a ortografia pode não ser. E quando o aluno se desconcentra no conteúdo por ficar preocupado com a ortografia, a probabildiade é que o conteúdo fique prejudicado. – Podem ser evitadas determinadas palavras devido a incerteza quanto à ortografia, por isso, os trabalhos podem ser apresentados mais curtos e de maneira mais simples do que o que se esperava. – Podem ser encontradas letras maiúculas de modo aleatório ao longo do texto escrito. – Pode apresentar textos difíceis de ler por causa da não completude de letras como: a, d, g e q. – Apresentar dificuldade na estruturação dos pensamentos de modo claro e lógico. Além disso, algumas perguntas podem não ser respondidas devido a uma interpretação errônea ou, até mesmo, porque compreendeu de uma maneira distinta da realidade, gerando um afastamento do tema. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 52 A autora ainda traz outros indicativos que estão diretamente relacionados com a ortografia e, assim, não deixam de se referir à escrita: – Ortografia incoerente da mesma palavra em um mesmo texto escrito. Exemplo: Quando o aluno em um mesmo texto escreve a palavra “sapato” uma vez no texto e depois escreve “satapo”. – Troca de letras que possuem uma ortografia parecida. Exemplo: Quando o aluno escreve apartar no lugar de apertar. – Pode demonstrar a compreensão da ortografia de uma palavra em um dia mas esquecer no outro. – Escrever de maneira errada nome de pessoas e lugares. No entanto, esses alunos podem demonstrar uma grande imaginação e um pensamento inovador, bem como serem criativos e terem um bom relacionamento interpessoal e são persistentes. Desse modo, é necessário compreender as limitações que as pessoas com dislexia apresentam para que possam ser incentivadas a prosseguir. Além de criar estratégias de aprendizagem para lidar com esse tipo de distúrbio, principalmente em relação ao tempo depreendido por uma pessoa com dislexia ao escrever, visto que eles levam mais tempo do que o normal. SAIBA MAIS: Aprofunde-se no estudo sobre os distúrbios da escrita assistindo ao vídeo “DISGRAFIA, DISORTOGRAFIA E DISCALCULIA: Entenda a diferença | Lives NeuroSaber”. Nele são apresentadas informações muito interessantes e que ajudarão a ampliar o conhecimento sobre esse tema. Para ter acesso clique aqui . Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita https://www.youtube.com/watch?v=PQ-NbQuvOt0 53 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido que os distúrbios da linguagem escrita são demonstrados por meio da dificuldade em adquirir ou desenvolver a linguagem escrita, e que os casos mais comuns são de dislexia, disgrafia e disortografia. Vimos que na disgrafia, a dificuldade está na execução da escrita à mão e pode se manifestar de diversas formas, por exemplo, por meio de letras muito grandes. Entendemos que a disortografia é a dificuldade na escrita relacionada, principalmente, com a ortografia, na qual são demonstrados muitos erros e podem apresentar muitos indícios de caráter linguístico-perceptivo; erros de caráter visoespacial; erros de caráter visoanalítico, erros relativos ao conteúdo e erros referente às regras de ortografia. Por fim, conhecemos como a dislexia pode dificultar a escrita e a ortografia, compreendendo alguns indicadores, como a lentidão na escrita. Além disso, compreendemos que os alunos que apresentam qualquer um desses distúrbios precisam ser compreendidos e de atenção para que assim possam desenvolver a escrita adequadamente. Processos de Aquisição da Linguagem Oral e da Escrita 54 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. et. al. Manual para tratamento de Disgrafia, Disortografia e Troca de Letras. São Paulo: Biblioteca 24horas, 2010. ANDRADE, O. Primeiro caderno de poesia do aluno Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 1991. ANTUNES, I. Aula de português encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. ARAUJO, M. A leitura como caminho para a construção de sentidos e para a produção textual na EJA. In: Anais do SILEL. vol. 3, n. 1. Uberlândia: EDUFU, 2013. Disponível em: www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/wp-content/ uploads/2014/04/silel2013_311.pdf. Acesso em: 07 jul. 2019. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2012. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BUTZGE, C.; CASAGRANDE, S. Autoria e Leitor: o processo de produção textual no projeto “Comunica Realiza”. In: Anais do SIELP. Uberlândia: EDUFU, 2012. Disponível em: www.ileel. fu.br/anaisdosielp/ wp-content/uploads/2014/06/volume_2_ artigo_078.pdf. Acesso em: 07 jul. 2019. CARNEIRO, P. A hipótese Inatista de aquisição da linguagem perspectiva: aspectos realçados encobertos. Disponível em: http://www. periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/dclv/article/view/4759/4669.
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