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Avaliação Nota 10 Fonte: Reveista Nova Escola Edição Nº147 Novembro de 2001 Existem diversos instrumentos para analisar o desempenho do aluno e fazer com que todos se integrem ao processo de aprendizagem. Escolha o seu Paola Gentile e Cristiana Andrade Você tem alunos pendurados neste final de ano? Alguns deles terão de ser reprovados e isso o angustia? Ou, ao contrário, muitos terão de ser aprovados, por causa dos ciclos, mesmo sem saber tudo o que deveriam — e isso também o incomoda? A idéia de enfrentar um período de recuperação até as vésperas do Natal tira seu sono? É bem provável que a resposta a essas perguntas seja sim. Novembro é, tradicionalmente, um mês de estresse para todos os docen- tes e grande parte do desgaste deve-se à necessidade de fechar as notas. A avaliação, que du- rante décadas foi um instrumento ameaçador e autoritário, está mudando, mas continua sen- do um dos grandes nós da educação moderna. Mas como fazer para não sofrer com esse aspecto tão importante do dia-a-dia da sala de aula? Antes de mais nada, é preciso ter em mente que não há um certo e um errado quando se fala em avaliação. Nesta edição, você vai encontrar alguns elementos para tornar mais produtivo esse processo. Um deles é o quadro, montado com a assessoria da pedagoga Ilza Martins Sant’Anna e da consultora pedagógica da Fundação Victor Civita, Heloisa Cerri Ramos, com as ferramentas mais usadas nas escolas. Todos os especialistas concordam que nenhum é me- lhor do que outro. O ideal é mesclá-los, adaptando-os às necessidades (e à realidade) de cada turma — e, claro, aos objetivos de cada educador. Além disso, é fundamental saber que o próprio docente pode adotar, por conta própria, mode- los mais modernos de avaliar seus estudantes, como explica Mere Abramowicz no Fala, mes- tre!. Outro lembrete importante é prestar atenção à questão lingüística. "Nem sempre a crian- ça compreende o que o professor quer dizer", ensina a psicóloga especialista em desenvolvi- mento humano Elvira de Souza Lima (leia mais). Avaliação formativa Esse processo atende pelo nome de avaliação formativa. Trabalhar assim é mais simples do que parece. Vanda Felício dos Reis leciona Matemática para a 6ª série no Centro Educacional Pluri, em Presidente Prudente, interior de São Paulo. Enquanto a garotada se concentra na so- lução dos desafios propostos em jogos, ela prepara sua avaliação andando pela classe e ano- tando tudo o que observa. Para cada diagnóstico que levanta, uma receita diferente. "O estu- dante que perde na ‘Trilha da Matemática’ precisa receber mais explicações sobre áreas e pe- rímetros, o que não se sai bem no ‘Subindo e Escorregando’ requer novos exercícios sobre classificação e comparação de números inteiros", explica Vanda. É a partir dessas informações que Vanda planeja os conteúdos que vai trabalhar em sala de aula. As anotações que ela faz são importantes, mas não são tudo. Os próprios alunos escre- vem relatórios individuais sobre o que sabiam antes, como participaram das tarefas, o que apreenderam e as dificuldades encontradas. No final do bimestre, todos fazem uma prova. A soma desses elementos indica a evolução dos estudantes e permite à professora conhecer a maneira particular de cada um aprender. "Quanto mais completa for a análise sobre o cresci- mento cognitivo da criança, mais chance eu tenho de ajudá-la", ensina Vanda. De fato, restringir-se a exames pontuais com atribuição de notas e calcular a média dos resul- tados não mede a quantidade nem a qualidade do aprendizado. É um jeito velho (e ultrapassa- do) de enxergar o ensino. Sandra Záckia de Souza, professora do Departamento de Adminis- tração Escolar e Economia da Educação da Universidade de São Paulo (USP), destaca que essa transformação depende mais do uso que se faz dos resultados da avaliação do que dos procedimentos e ferramentas usados. "A nota é apenas uma representação simplificada de um momento do processo de aprendizagem", afirma ela. "O que vale é o crescimento do aluno em relação a si próprio e aos objetivos propostos." Relembrando conceitos Por isso, não custa retomar alguns fundamentos. Cipriano Carlos Luckesi, professor de pós- graduação em Educação na Universidade Federal da Bahia, diz que o processo de avaliar tem, basicamente, três passos: conhecer o nível de desempenho do aluno (constatação da realidade); comparar essa informação com aquilo que é considerado importante no processo educativo (qualificação); tomar as decisões que possibilitem atingir os resultados esperados. "Seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando provoca o desenvolvimento do educando", afirma Luckesi. Nesse sentido, é essencial definir critérios. "Cabe ao professor listar os itens realmente impor- tantes, informá-los aos alunos e evitar mudanças sem necessidade", defende Léa Depresbite- ris, pedagoga especialista em tecnologia educacional e psicologia escolar. Ou seja, só avalie o Equipe de Educação Infanto-Juvenil – 2° segmento – Formação continuada – Tema: Avaliação Página 1/4 http://novaescola.abril.com.br/ed/147_nov01/html/repcapa_qdo1.htm http://novaescola.abril.com.br/ed/147_nov01/html/repcapa4.htm mailto:pgentile@abril.com.br que foi ensinado. Não adianta exigir que um grupo não orientado sobre as técnicas de seminá- rio se saia bem nesse modelo de apresentação. E é inviável exigir a aplicação prática da tabua- da na prova se, em classe, foi exigida apenas sua memorização. Manter um pé na realidade da turma também é útil. Parece óbvio, mas nem sempre é isso que ocorre. Uma escola do interior de São Paulo, por exemplo, escolheu o circo como tema do se- mestre, sem pensar num "detalhe"; fazia tantos anos que a cidade não recebia uma trupe que as crianças nunca haviam visto um espetáculo circense! Um bom caminho é reservar um tem- po para conversar com cada aluno, como fazem as escolas da rede municipal de Porto Alegre. Nesse diagnóstico inicial, feito na primeira semana de aulas, a gurizada faz testes de escrita e leitura e uma entrevista com o professor, para falar de hábitos e do relacionamento com a fa- mília. Avançar é preciso O exemplo da capital gaúcha encaixa-se bem no modelo proposto por Luckesi. Esse é o primei- ro passo, a chamada avaliação inicial ou diagnóstica. O segundo, batizado de avaliação proces- sual ou reguladora, é o conjunto de aferições feito no decorrer do processo de ensino-aprendi- zagem e serve para mostrar ao professor se determinada tática pedagógica está ou não dando resultados (em caso negativo, não perca tempo: busque alternativas e troque idéias com os co- legas e a coordenação). O terceiro é conhecido como avaliação somativa ou integradora, mo- mento em que o mestre estabelece o conceito final com base em tudo o que observou e anotou durante o processo. Clotilde Bernal, professora de Ciências Naturais da Escola Municipal de Ensino Fundamental Marcos Melegan, em São Paulo, sugere outro bom exemplo de diagnóstico inicial, com uma vantagem: essa é uma tarefa que não precisa ser feita no início do ano letivo, mas sempre que um novo conceito for introduzido em classe. O ponto de partida é lançar uma questão para a turma e anotar as respostas no quadro-negro. A cada lição, as perguntas ficam mais específi- cas. Assim, é possível listar dúvidas e curiosidades sobre o tema e, com essas informações, ori- entar pesquisas (aliás, outro excelente momento para medir o interesse e a participação dos estudantes e os procedimentos adotados por eles). Trabalhar dessa maneira traz vantagens adicionais. Por ser mais dinâmico, o modelo reduziu consideravelmente a indisciplina na sala de Clotilde. "Quando eu copiava os conteúdos no qua- dro, só via a meninada sem interesse", lembra. O mais interessante é que a maioria dos cole- gas dela ainda trabalha desse jeito — e avalia pelo sistema de provas e notas. "Nas reuniões pedagógicas, sempre sugiro que todos mudem, mas ninguém quer saber", diz Clotilde. "Eu não entendo por que tanta resistência. O resultado melhora tanto com o processo contínuo..." Anotar sempre Vanda,a professora de Matemática de Presidente Prudente, concorda 100%. "Antes, era pos- sível jogar o exercício no quadro e ficar lendo o jornal", conta. "Hoje, me envolvo muito mais, mas sei cada ponto em que o aluno tem dificuldade e o que eu preciso fazer para envolvê-lo no processo de aprendizagem. É gratificante ver o crescimento de cada um." As brincadeiras e jo- gos que Vanda usa em sala de aula são um ótimo exemplo de avaliação processual. Como você pode imaginar, essa prática gera uma grande quantidade de dados. E isso, obviamente, exige organização para analisar esses dados. Do contrário, a avaliação somativa pode ser prejudica- da. "A chave é anotar tudo com muita objetividade, para não ser traído pela memória nem ti- rar conclusões precipitadas", ensina Yeda Varlota, consultora de secretarias municipais que estão implantando o sistema de ciclos. Na Escola Cooperativa, em São Paulo, os professores usam diversas fichas. Uma funciona como diário de classe, registro de tudo o que acontece na sala de aula, com destaque para a participação de cada aluno. Assim que uma atividade é finalizada, são anotados os comentá- rios sobre o que aconteceu. No final do trimestre, o dossiê vira base para o preenchimento da ficha de indicadores de avaliação. O documento contém informações sobre atitude, procedi- mentos e apreensão de conteúdos e conceitos. Antes da definição do parecer, porém, o estu- dante também faz sua auto-avaliação. "Queremos o mais completo registro do processo de aprendizagem", define a coordenadora pedagógica Suzir Palhares. Ao dialogar com a turma, a escola divide a responsabilidade sobre o resultado. A auto-avalia- ção coloca o jovem como sujeito da própria educação e dá mais segurança ao educador, que muitas vezes teme ser injusto ou tendencioso na hora de dar notas. Na hora do conceito final, não há uma média matemática. O professor tem de rever o trabalho realizado. "Comparamos as últimas produções dos alunos com as primeiras. É a evolução que importa", afirma Marly de Souza Barbosa, professora de Língua Portuguesa da 3ª série na Cooperativa. Para quem acha muito complexo envolver a garotada, existe uma velha prática tão eficiente quanto: o conselho de classe. "As reuniões podem ser o caminho para superar o sistema de no- tas", acredita Ilza Sant’Anna. "Elas servem para aperfeiçoar o trabalho docente e adaptar o currículo." Em Porto Alegre, a Escola Municipal Dolores Alcarás Caldas não tem boletim nem nota. O dossiê do educando é preparado durante as reuniões do conselho, quando a equipe Equipe de Educação Infanto-Juvenil – 2° segmento – Formação continuada – Tema: Avaliação Página 2/4 discute o relatório do professor-titular e faz uma comparação com a auto-avaliação do aluno e da turma como um todo. A orientação gera é dividir a classe em grupos menores e trabalhar com cada um deles no contraturno pelo menos uma vez por semana. "Conforme as necessida- des, crio tarefas específicas", diz Patrícia Costa, que leciona para o 1o ciclo. Na Escola Estadual Emílio de Menezes, em Curitiba, a equipe pedagógica participa de seis en- contros anuais com a direção (quatro pré-conselhos por turma e dois conselhos participativos). Nos primeiros, são discutidas as dificuldades de cada estudante. O reforço é coordenado por graduandos em Pedagogia, que se tornam padrinhos de um grupo ou de um aluno, acompa- nhando as atividades extraclasse. A idéia de envolver a família também surgiu numa dessas reuniões: pais são convidados a se sentar ao lado dos filhos na classe, ajudando o professor a detectar os motivos da falta de atenção ou da indisciplina. Bons resultados Observar, anotar, replanejar, envolver todos os alunos nas atividades de classe, fazer uma ava- liação precisa e abrangente. E agora, o que fazer com os resultados? Segundo os especialistas, não se pode perder de vista que eles interessam a quatro públicos: ao aluno, que tem o direito de conhecer o próprio processo de aprendizagem para se empe- nhar na superação das necessidades; aos pais, também responsáveis pela educação dos filhos e por parte significativa dos estímu- los que eles recebem; ao professor, que precisa constantemente avaliar a própria prática; à equipe docente, que deve garantir continuidade e coerência no percurso escolar da criança e do jovem. Cipriano Luckesi diz que, "enquanto é avaliado, o educando expõe sua capacidade de racioci- nar e criar histórias, seu modo de entender e de viver". Essa é a razão pela qual todas as atividades avaliadas devem ser devolvidas aos autores com os respectivos comentários. Cuidado, porém, com o uso da caneta vermelha. Especialistas ar- gumentam que ela pode constranger a garotada. Da mesma forma, encher o trabalho de ano- tações pode significar desrespeito. Tente ser discreto. Faça as considerações à parte ou use um lápis, ok? Alguns educadores, como o espanhol Antoni Zabala e o suíço Philippe Perrenoud, defendem ainda que os detalhes da avaliação final permaneçam na privacidade aluno-professor. No Bra- sil prevalece outra corrente, com mais participação da comunidade escolar e da família. A Es- cola Projeto Vida, de São Paulo, não mantém os números finais restritos à sala de aula, mas procura um pouco de privacidade na hora de comunicá-los aos estudantes. Os de 1ª a 4ª série recebem duas cartas por ano dos professores, uma no final do 2º bimestre e outra no início do 4º. Sueli dos Santos, que leciona na 2ª série, começa o texto ressaltando as qualidades do aluno e destacando as boas intervenções e as atitudes de cooperação. "No meio e no final, aponto os momentos nos quais ele poderia ter se saído melhor", afirma. Depois de ler a carta, cada um conversa com o mestre. Muitos escrevem de volta, revelando dificulda- des e alegrias. "Avaliar é um ato amoroso", diz Luckesi. "Nós, professores, temos de acolher os acertos e erros do aluno para ajudá-lo a progredir." Se você estiver diante de uma pilha de diários e precisa passar centenas de médias aritméti- cas avaliadas pelo sistema de provas, vá em frente. O ano está terminando e talvez não haja tempo para recomeçar o trabalho. No próximo ano, porém, que tal ler atentamente o quadro com as formas de avaliação mais comuns e encontrar as que, misturadas, melhor se adaptam à realidade de suas turmas? Com certeza, a aprendizagem dos alunos deixará de ser apenas um número — vermelho ou azul — num quadradinho do diário. Quer saber mais? Centro Educacional Pluri, R. Padre João Goetz, 632, CEP 19061-460, Presidente Prudente, SP, tel. (0_ _18) 229-4622 Colégio Estadual Emílio de Menezes, R. José Zaleski, 450, CEP 81130-060, Curitiba, PR, tel. (0_ _41) 246-8443 Escola Cooperativa, R. Cons. Rodrigues Alves, 138, CEP 01440-010, São Paulo, SP, tel. (0_ _11) 5579-4819 Escola Municipal Marcos Melegan, R. Montblanc, 98, CEP 02440-010, São Paulo, SP, tel. (0_ _11) 6231-1020 Escola Municipal Dolores Alcarás Caldas, R. Dr. Carlos Niederauer Hoffmeister, 85, CEP 91790-020, Porto Alegre, RS, tel. (0_ _51) 3250-1609 Escola Municipal Sebastião Sayego de Carvalho, Estr. do Taquaral, 100, CEP 09000-400, Ribeirão Pires, SP, tel. (0_ _11) 4827-0950 Escola Projeto Vida, R. Soror Angélica, 364, CEP 02452-060, São Paulo, SP, tel. (0_ _11) 6236-1459 Equipe de Educação Infanto-Juvenil – 2° segmento – Formação continuada – Tema: Avaliação Página 3/4 Bibliografia Avaliação da Aprendizagem Escolar, Cipriano C. Luckesi, 180 págs., Ed. Cortez, tel. (0 _ _ 11) 3864-0111, 19 reais Modelos de Avaliação, Jean-Jacques Bonniol e Michel Vial, 367 págs., Ed. Artmed, tel. (0_ _ 51) 3330-3444, 46 reais O Desafio da Avaliação da Aprendizagem, Léa Depresbiteris, 91 págs., E.P.U., tel. (0 _ _ 11) 3168-6077, 19 reais Por que Avaliar? Como Avaliar?, Ilza Martins Sant'Anna, 137 págs., Ed. Vozes, tel. (0_ _ 24) 2233-9000, 13,80 reais Vídeo Avaliação da Aprendizagem, entrevista com Cipriano Lukesi, 90 min., Atta Mídia e Educa- ção, tel. (0 _ _11) 3675-6690, 25 reais Equipe de Educação Infanto-Juvenil – 2° segmento – Formação continuada – Tema: Avaliação Página 4/4
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