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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ARTHUR ISSAO SANTOS IGUMA LETÍCIA LAO WAGNER LUDMYLLA WEBER KIENEN MULLER SIMON NAIURY DA SILVA MARCONDES PRODUÇÃO DE NANOCELULOSE A PARTIR DO BAGAÇO INDUSTRIAL DA LARANJA CURITIBA 2021 ARTHUR ISSAO SANTOS IGUMA LETÍCIA LAO WAGNER LUDMYLLA WEBER KIENEN MULLER SIMON NAIURY DA SILVA MARCONDES PRODUÇÃO DE NANOCELULOSE: PRIMEIRA ENTREGA DO PROJETO INDÚSTRIA QUÍMICA Trabalho apresentada à disciplina de Integração I, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção de nota da disciplina de Integração I. Orientadora: Profa. Dra. Luciana Igarashi Mafra CURITIBA 2021 RESUMO A nanocelulose vem se tornando cada vez um material mais promissor a ser obtido por diversas matérias-primas. Esse composto pode aumentar o desempenho e funcionalidade de materiais já existentes, pois apresenta elevada área superficial e grau de suspensão, e também está tendo muita visibilidade pelas propriedades de expansão térmica, mecânicas e ópticas superiores às da celulose. Atualmente, a nanocelulose, que possui diâmetro entre 1 e 100 nm, vem sendo muito utilizada no setor produtivo, em que se busca uma intensificação da utilização dessas nanofibrilas para desenvolver e reforçar os polímeros e compósitos. Devido a esses motivos, esse mercado vem crescendo significativamente. Por ser um produto de alto valor agregado, busca-se uma produção gastando menos possível, com matérias-primas comuns que geralmente são usadas para finalidades que não trazem retornos financeiros consideráveis. Por isso que os estudos acerca da nanocelulose vêm crescendo cada vez mais, além do interesse comercial na obtenção dessas nanopartículas. Esse trabalho aborda a produção de nanocelulose a partir do bagaço de laranja, uma vez que o Brasil é o maior produtor e consumidor de laranja do mundo, por ser uma das frutas mais consumidas no país. E a composição da laranja é o que mais chama atenção, possui uma alta porcentagem de celulose e metade da fruta é composta por cascas, sementes e polpas, ou seja, se trata dos resíduos. O uso mais comum para esse bagaço é dar, prensado, para os rebanhos bovinos e suínos como forma de suplementação. Mas foi chegado à conclusão de que esse resíduo pode ser melhor utilizado para obter produtos com maiores valores agregados, como a nanocelulose. A rota escolhida para este trabalho começa na moagem do bagaço, passando posteriormente por uma filtração para retirar alguns de seus resíduos, como os açúcares livres, e então, é seco para retirar o excesso de umidade da biomassa lignocelulósica. Nas próximas etapas, com o intuito de reduzir o teor de lignina da biomassa, bem como retirada parcial da hemicelulose presente, a mesma passa por um processo de pré-tratamento com NaOH e, posteriormente, por um pré- branqueamento com H2O2, finalizando com o branqueamento com NaClO2. Então, as fibrilas de celulose resultantes passarão por uma hidrólise ácida com H2SO4 para auxiliar no isolamento da nanocelulose das fibrilas da nanocelulose. Com o objetivo de encerrar essa reação, o produto será lavado e centrifugado para retirar o ácido residual e neutralizar o pH. Por fim, a nanocelulose (mais precisamente as nanofibras de celulose) será dissociada das fibrilas com o processo de nanonização por microfluidização, sendo obtidos em uma filtração final. A escolha de cada etapa e dos equipamentos visou um aproveitamento melhor da matéria-prima e uma maior quantidade e qualidade do produto final, por esse motivo encontramos um rendimento total de 1,93%. Para finalizar, no dimensionamento das bombas e tubulações escolhemos as correntes 12 e 18, de entrada do segundo filtro e de entrada da centrífuga respectivamente. Assumimos o uso de bombas centrífugas, que trabalham em regime permanente e pouca necessidade de manutenção, com tubulações de aço-carbono galvanizado, o qual apresenta maior resistência aos elementos corrosivos que terá contato nesse processo e um dos menores custos relativos. Palavras-chave: Bagaço de laranja industrial, nanocelulose, celulose nanofibrilada, nanofibrilas, nanofibras. ABSTRACT Nanocellulose is increasingly becoming a more promising material to be obtained from various raw materials. This compost can enhance the performance and functionality of existing materials, as it has a high surface area and degree of suspension, and it is also gaining visibility due to their superior thermal, mechanical and optical expansion properties than cellulose’s. Currently, nanocellulose, which has a diameter between 1 and 100 nm, has been widely used in the productive sector, where an intensification of the use of these nanofibrils is sought to develop and reinforce polymers and composites. For these reasons, this market has been growing significantly. As it is a product with high added value, production is sought with the least possible expense, with common raw materials that are generally used for purposes that do not bring considerable financial returns. That is why studies on nanocellulose have been growing more and more, in addition to the commercial interest in obtaining these nanoparticles. This article addresses the production of nanocellulose from orange bagasse, since Brazil is the largest producer and consumer of orange in the world, as it is one of the most consumed fruits in the country. And the composition of the orange is what draws the most attention, it has a high percentage of cellulose and half of the fruit is made up of peels, seeds and pulp, that is, it is waste. The most common use for this bagasse is to give it, pressed, to bovine and swine herds as a form of supplementation. But it was concluded that this residue can be better used to obtain products with higher added values, such as nanocellulose. The route chosen for this work starts with bagasse grinding, later passing through filtration to remove some of its residues, such as free sugars, and then it is dried to remove excess moisture from the lignocellulosic biomass. In the next steps, in order to reduce the lignin content of the biomass, as well as partial removal of the hemicellulose present, it goes through a pre-treatment process with NaOH and, subsequently, a pre-bleaching with H2O2, ending with bleaching with NaClO2. Then, the resulting cellulose fibrils will undergo acid hydrolysis with H2SO4 to aid in isolating the nanocellulose from the nanocellulose fibrils. In order to terminate this reaction, the product will be washed and centrifuged to remove residual acid and neutralize the pH. Finally, the nanocellulose (more precisely, the cellulose nanofibers) will be dissociated from the fibrils with the microfluidization nanonization process, being obtained in a final filtration. The choice of each stage and equipment aimed at a better use of the raw material and a greater quantity and quality of the final product, for this reason we found a total yield of 1.93%. Finally, when sizing the pumps and piping, we chose currents 12 and 18, inlet of the second filter and inlet of the centrifuge, respectively. We assume the use of centrifugal pumps, which work in permanent regime and require little maintenance, with galvanized carbon steel piping, which has greater resistance to corrosive elements that will come into contact in this process and one of the lowest relative costs. Keywords: Industrial orange bagasse, nanocellulose, nanofibrillated cellulose, nanofibrils, nanofibers. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - ESTRUTURA DA BIOMASSA DO BAGAÇO DE LARANJA INDUSTRIAL. ..................................................................................... 18 FIGURA 2 - ESTRUTURA DA CELULOSE E LIGAÇÕES INTRA E INTERMOLECULARES .....................................................................19 FIGURA 3 - AÇÚCARES QUE COMPÕEM AS UNIDADES DE HEMICELULOSES 20 FIGURA 4 - ESTRUTURA DA LIGNINA ................................................................... 21 FIGURA 5 - ESTRUTURA DA PECTINA .................................................................. 22 FIGURA 6 – ESQUEMA DE EXTRAÇÃO DE NANOCELULOSE ATRAVÉS DA BIOMASSA DE LIGNOCELULOSE ................................................... 25 FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DA AÇÃO DE MÉTODOS MECÂNICOS E QUÍMICOS DE PRODUÇÃO DE CNC E CNF A PARTIR DE FIBRAS DE CELULOSE .................................................................................. 25 FIGURA 8 - MORFOLOGIA DA CELULOSE NANOFIBRILADA (A) E NANOCRISTALINA (B) ...................................................................... 26 FIGURA 9 – COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR ....................... 27 FIGURA 10 – COMPOSIÇÃO DA FONTE DE BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA DE BAGAÇO E CANA-DE-AÇÚCAR ....................................................... 28 FIGURA 11 - PARTES DO COCO ............................................................................ 30 FIGURA 12 - COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA FIBRA DE COCO ................................. 30 FIGURA 13 – ESQUEMA MOSTRANDO QUE AS REGIÕES AMORFAS DAS FIBRILAS DE CELULOSE SÃO CINETICAMENTE MAIS FAVORÁVEIS .................................................................................... 33 FIGURA 14 - REMOÇÃO DA LIGNINA E A SOLUBILIZAÇÃO DA HEMICELULOSE DURANTE O PRÉ-TRATAMENTO .................................................... 43 FIGURA 15 - REPRESENTAÇÃO DAS FORÇAS DE CISALHAMENTO ENTRE PLANOS ............................................................................................ 49 FIGURA 16 - MOINHO DE MARTELOS ................................................................... 50 FIGURA 17 - FILTRO DE TAMBOR ROTATIVO À VÁCUO ..................................... 52 FIGURA 18 - SECADOR ROTATIVO INDUSTRIAL ................................................. 53 FIGURA 19 - REATOR CSTR ................................................................................... 55 FIGURA 20 - TORRE DE BRANQUEAMENTO DE CONFIGURAÇÃO DESCENDENTE ................................................................................ 56 FIGURA 21 - TORRE DE BRANQUEMENTO DE CONFIGURAÇAO ASCENDENTE ........................................................................................................... 56 FIGURA 22 - TORRE DE BRANQUEAMENTO DE CONFIGURAÇÃO ASCENDENTE-DESCENDENTE ...................................................... 56 FIGURA 23 – TRANSPORTADOR HELICOIDAL ..................................................... 58 FIGURA 24 – CENTRÍFUGA DECANTADORA DE DISCOS.................................... 60 FIGURA 25 - DIFERENTES CÂMARAS DE MICROFLUIDIZADOR ......................... 61 FIGURA 26 - MICROFLUIDIZADOR ......................................................................... 61 FIGURA 27 - BALANÇO DE MASSA DA FILTRAÇÃO (F-01) .................................. 67 FIGURA 28 - BALANÇO DE MASSA DA SECAGEM (S-01) .................................... 69 FIGURA 29 - BALANÇO DE MASSA DO PRÉ-TRATAMENTO (R-01) .................... 75 FIGURA 30 - BALANÇO DE MASSA DO PRÉ-BRANQUEAMENTO E BRANQUEAMENTO (AC-01) ............................................................. 84 FIGURA 31 - BALANCO DE MASSA DA FILTRAÇÃO 2 (F-02) ............................... 88 FIGURA 32 - BALANÇO DE MASSA DA HIDRÓLISE ÁCIDA (R-02) ....................... 95 FIGURA 33 - ANÇO DE MASSA DA LAVAGEM (TH-01) ......................................... 97 FIGURA 34 - BALANÇO DE MASSA DA CENTRIFUGAÇÃO (C-01) ..................... 100 FIGURA 35 - BALANÇO DE MASSA DA FILTRAÇÃO 3 (F-03) ............................. 101 FIGURA 36 - MATERIAIS UTILIZADOS EM TUBULAÇÕES .................................. 104 FIGURA 37 - TUBULAÇÃO DA CORRENTE 12 ..................................................... 110 FIGURA 38 - TUBULAÇÃO DA CORRENTE 18 ..................................................... 113 FIGURA 39 - BOMBA CENTRÍFUGA ..................................................................... 116 FIGURA 40 - BOMBA ALTERNATIVA DE PISTÃO ................................................ 118 FIGURA 41 - BOMBA ALTERNATIVA DE DIAFRAGMA ........................................ 118 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - COMPOSIÇÃO POLIMÉRICA PARA DIVERSAS FONTES DE BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA ...................................................... 18 TABELA 2 – COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DE LARANJA EM BASE SECA ............ 29 TABELA 3 - COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DE LARANJA ........................................ 40 TABELA 4 - COMPARAÇÃO ENTRE OS AGENTES BRANQUEADORES/OXIDANTES ..................................................... 44 TABELA 5 - DIMENSÕES PARA TUBOS DE AÇO CARBONO NORMA ASA B36.10 (SCHEDULE 40) .............................................................................. 111 TABELA 6 - DIMENSIONAMENTO TUBULAÇÃO 1 ............................................... 112 TABELA 7 - DIMENSIONAMENTO TUBULAÇÃO 2 ............................................... 115 TABELA 8 - RELAÇÃO ENTRE NÚMERO DE REYNOLDS E CÁLCULO DO FATOR DE ATRITO ...................................................................................... 121 TABELA 9 - VALORES NECESSÁRIOS PARA O CÁLCULO DA PERDA DE CARGA TOTAL DA TUBULAÇÃO ................................................................. 122 TABELA 10 - VALORES NECESSÁRIOS PARA O CÁLCULO DA POTÊNCIA DA BOMBA ............................................................................................ 124 LISTA DE QUADRO QUADRO 1 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DAS MATÉRIAS- PRIMAS PARA A OBTENÇÃO DE NANOCELULOSE ...................... 39 QUADRO 2 - COMPARAÇÃO ENTRE OS PRÉ-TRATAMENTO QUÍMICOS E O COMBINADO ..................................................................................... 42 QUADRO 3 - COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA OBTENÇÃO DA NANOCELULOSE .............................................................................. 46 QUADRO 4 - COMPARAÇÃO ENTRE MOINHOS MAIS INDICADOS ..................... 49 QUADRO 5 - COMPARAÇÃO ENTRE OS FILTROS MAIS UTILIZADOS EM PROCESSOS INDUSTRIAIS ............................................................. 51 QUADRO 6 - COMPARAÇÃO ENTRE OS SECADORES MAIS UTILIZADOS EM PROCESSOS INDUSTRIAIS ............................................................. 52 QUADRO 7 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DA SECAGEM EM REGIME INTERMITENTE E CONTÍNUO ......................................................... 53 QUADRO 8 - COMPARAÇÃO ENTRE OS REATORES MAIS UTILIZADOS EM PROCESSOS INDUSTRIAIS ............................................................. 54 QUADRO 9 - COMPARAÇÃO ENTRE AS TORRES DE BRANQUEAMENTO ........ 56 QUADRO 10 - AÇOS INOXIDÁVEIS ...................................................................... 106 QUADRO 11 - COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE FERRO FUNDIDO ........... 107 QUADRO 12 - CUSTO RELATIVO DOS MATERIAIS ............................................ 109 QUADRO 13 - VANTAGENS E DESVANTAGENS BOMBAS CENTRÍFUGAS ...... 117 QUADRO 14 - VANTAGENS E DESVANTAGENS BOMBAS ALTERNATIVAS ..... 119 LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS BL - Bagaço da laranja CNC - Celulose nanocristalina CFC - Celulose nanofibrilada HPLC - High Performance Liquid Chromatography CLAE - Cromatografia líquida de alta eficiência �̇� - Vazão mássica 𝑤 - Fração mássica 𝑛 - Número de mols �̇� - Vazão molar �̇� - Vazão volumétrica 𝑀𝑀 - Massa Molar ρ - Densidade 𝐷 - Diâmetro 𝑣𝑒 - Velocidade econômica 𝑣 - Velocidade ∈ - Rugosidade 𝑅𝑒 - Número de Reynolds 𝑓 - Fator de Atrito ℎ𝐿 - Perda de carga 𝐻𝐵 - Head da bomba 𝑝- Pressão 𝑔 - Aceleração gravitacional �̇� - Potência da bomba SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 17 2.1 HISTÓRICO DA NANOCELULOSE .................................................................... 17 2.2 COMPONENTES DA PAREDE CELULAR VEGETAL ........................................ 18 2.2.1 Celulose ........................................................................................................... 19 2.2.2 Hemicelulose .................................................................................................... 20 2.2.3 Lignina .............................................................................................................. 21 2.2.4 Outros componentes ........................................................................................ 22 2.3 NANOCELULOSE ............................................................................................... 22 2.4 APLICAÇÕES DA NANOCELULOSE ................................................................. 23 2.5 DADOS SOBRE O MERCADO NACIONAL E MUNDIAL ................................... 24 2.6 ALTERNATIVAS PARA OBTENÇÃO DE NANOCELULOSE ............................. 24 2.6.1 Matérias-primas ................................................................................................ 27 2.6.2 Pré-tratamentos ................................................................................................ 31 2.6.3 Obtenção de nanocelulose por meios químicos ............................................... 32 2.6.4 Obtenção de nanocelulose por métodos mecânicos ........................................ 35 2.7 ROTA DE OBTENÇÃO DA NANOCELULOSE A PARTIR DO BAGAÇO INDUSTRIAL DE LARANJA ...................................................................................... 38 2.7.1 Bagaço de laranja industrial ............................................................................. 39 2.7.2 Preparação da matéria-prima ........................................................................... 41 2.7.3 Pré-tratamento alcalino/ácido ........................................................................... 42 2.7.4 Branqueamento ................................................................................................ 43 2.7.5 Hidrólise Ácida ................................................................................................. 45 2.7.6 Lavagem ........................................................................................................... 47 2.7.7 Centrifugação ................................................................................................... 47 2.7.8 Nanonização .................................................................................................... 48 2.7.9 Filtração ............................................................................................................ 48 2.8 EQUIPAMENTOS ............................................................................................... 48 2.8.1 Moagem ........................................................................................................... 48 2.8.2 Filtração ............................................................................................................ 50 2.8.3 Secagem .......................................................................................................... 52 2.8.4 Pré-Tratamento e hidrólise ácida ..................................................................... 54 2.8.5 Branqueamento ................................................................................................ 56 2.8.6 Lavagem ........................................................................................................... 57 2.8.7 Centrifugação ................................................................................................... 58 2.8.8 Nanonização .................................................................................................... 61 2.8.9 Filtração ............................................................................................................ 62 2.9 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ROTA ESCOLHIDA ............................. 62 BALANÇO DE MASSA E MEMORIAL DESCRITIVO DE CÁLCULO .................. 63 3.1 FILTRAÇÃO 1 (F-01) .......................................................................................... 63 3.2 SECAGEM (S-01) ............................................................................................... 67 3.3 PRÉ-TRATAMENTO (R-01) ................................................................................ 69 3.4 PRÉ-BRANQUEAMENTO E BRANQUEAMENTO (AC-01) ................................ 75 3.5 FILTRAÇÃO 2 (F-02) .......................................................................................... 84 3.6 HIDRÓLISE (R-02) .............................................................................................. 88 3.7 LAVAGEM (TH-01) .............................................................................................. 95 3.8 CENTRIFUGAÇÃO (C-01) .................................................................................. 98 3.9 FILTRAÇÃO 3 (F-03) ........................................................................................ 100 3.10 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO BALANÇO DE MASSA E DO MEMORIAL DESCRITIVO .......................................................................................................... 103 TUBULAÇÕES E BOMBAS ................................................................................ 103 4.1 MATERIAIS DE TUBULAÇÕES ........................................................................ 103 4.1.1 Aços ............................................................................................................... 105 4.1.2 Ferro Fundido ................................................................................................. 106 4.1.3 Alumínio ......................................................................................................... 107 4.1.4 Cobre.............................................................................................................. 107 4.1.5 PVC ................................................................................................................ 108 4.1.6 Seleção do material ........................................................................................ 108 4.2 DIMENSIONAMENTO DA TUBULAÇÃO DA CORRENTE 12 .......................... 109 4.3 DIMENSIONAMENTO DA TUBULAÇÃO DA CORRENTE 18 .......................... 113 4.4 TIPOS DE BOMBAS ......................................................................................... 115 4.4.1 Bombas dinâmicas ......................................................................................... 116 4.4.2 Bombas de deslocamento positivo ................................................................. 117 4.4.3 Seleção da bomba ......................................................................................... 119 4.5 DIMENSIONAMENTO DE BOMBA ................................................................... 120 4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO DIMENSIONAMENTO DAS TUBULAÇÕES E DA BOMBA ............................................................................................................. 124 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 125 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 127 APÊNDICE 1 – DIAGRAMA DE BLOCOS ............................................................. 134 APÊNDICE 2 - FLUXOGRAMA.............................................................................. 135 16 INTRODUÇÃO A nanotecnologia demonstra a cada dia mais sua importância para sociedade pelos avanços tecnológicos que proporcionou à comunidade científica mundial, principalmente no quesito de melhoria das propriedades dos materiais para as mais diversas finalidades. Nesse sentido, se dá enfoque à nanocelulose, cuja base, a celulose, é extensamente utilizada há décadas nas mais variadas aplicações na indústria, por ser uma fonte natural renovável de matéria-prima de grande oferta no mundo, tendo um grande número gêneros agrícolas que podem ser utilizados como fonte desse componente e aproveitados por seus países produtores para obtenção de subprodutos de maior valor agregado. As nanofibrilas de celulose, atualmente, são muito estudadas, tanto pelo fator citado acima, quanto pelo seu maior desempenho em reforçar polímeros e compósitos ao ser comparada à celulose. No entanto, aquela ainda é produzida em escala laboratorial, sem muitos estudos aprofundados e direcionados a uma perspectiva industrial de produção e que busquem reduzir os impactos no meio ambiente, uma vez gerados os resíduos dos processos químicos envolvidos. Escassos, também, são os dados relativos à produção de nanocelulose a partir de gêneros que não têm tanto destaque com processos de beneficiamento como a cana-de-açúcar o possui, a exemplo de seu uso na produção de etanol e da utilização da biomassa residual desse processo (seu bagaço) na obtenção de energia. Tendo em vista essas perspectivas, no presente trabalho, teremos por objetivo determinar um processo otimizado de obtenção de nanocelulose a partir de uma matéria-prima vegetal pouco beneficiada, na tentativa de aliar a eficácia do método empregado com a redução do impacto ambiental resultante do processo. 17 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 HISTÓRICO DA NANOCELULOSE Segundo Machado et al. (2014), várias pesquisas e trabalhos voltados para a área de materiais poliméricos e compósitos estão sendo realizados para proporcionar uma melhor qualidade de materiais desenvolvidos. Partindo desse raciocínio, é evidente o crescimento do interesse comercial na obtenção de nanopartículas para serem utilizadas como aditivos e incorporadas em compósitos em fontes como argila, sílica ou até mesmo nanotubos e carbono. A partir disso, Nechyporchuk, Belgacem e Bras (2016, p. 4) pontuam que “Os nanocristais foram produzidos pela primeira vez por Rånby (1949) usando hidrólise ácida de fibras de celulose dispersas na água. Neste método, usa-se ácido sulfúrico concentrado, cuja a função é degradar regiões amorfas de celulose.”. Em relação as nanofibrilas, enquanto um novo material celulósico, este foi, de acordo com a literatura: Introduzido pela Turbak et al. (1983) e Herrick et al. (1983) que produziram celulose com dimensões laterais na faixa de nanômetros passando uma suspensão aquosa polpa de madeira macia várias vezes através de uma alta pressão homogeneizador. Durante esse tratamento, redes fortemente emaranhadas de nanofibrilas, tendo domínios cristalinos e amorfos, são produzidos devido a altas forças de corte. (apud NECHYPORCHUK; BELGACEM; BRAS, 2016, p. 4). De acordo com Castro (2018, p. 37), “Recentemente, as nanofibras de celulose têm recebido considerável atenção, devido à sua baixa expansão térmica, alta razão de aspecto (relação entre comprimento e diâmetro), propriedades mecânicas e ópticas superiores à celulose.”. A importância dos nanocompósitos com nanocelulose incorporada são devido ao aprimoramento do polímero que podem ter suas propriedades mecânicas e de barreira melhoradas quando comparados a polímeros sem a presença do aditivo. (MACHADO et al., 2014). Diante do avanço dos processos de obtenção da nanocelulose, isso é afirmado por Castro (2018, p. 45) no qual: “A nanocelulose pode ser produzida a partir de métodos químicos, físicos e biológicos. Um procedimento usual é o tratamento ácido da celulose ou a hidrólise ácida, que é utilizado para quebrar as microfibras em nanocristais.”. 18 2.2 COMPONENTES DA PAREDE CELULAR VEGETAL A biomassa vegetal é um termo amplo utilizado para designar o material orgânico produzido pelas plantas, assim como seus resíduos, sendo que os componentes que agregam valor a essa biomassa estão contidos na parede celular vegetal. (SEIXAS, 2019). Em uma célula vegetal, a parede celular é dividida em 4 camadas: parede primária, parede secundária interna, parede secundária média e parede secundária externa. Além das camadas, também dividimos a estrutura em seus principais componentes, sendo eles a celulose, a hemicelulose e a lignina, além de alguns constituintes minoritários. (GAUTO; ROSA, 2011). FIGURA 1 - ESTRUTURA DA BIOMASSA DO BAGAÇO DE LARANJA INDUSTRIAL. FONTE: Adaptado de MUSSATTO et al. (2010). A composição polimérica para diversas fontes de biomassa lignocelulósica varia em relação ao percentual de celulose, hemicelulose e lignina. (ISIKGOR; BECER, 2015). Essa variação pode ser consultada de acordo com a TABELA 1. TABELA 1 - COMPOSIÇÃO POLIMÉRICA PARA DIVERSAS FONTES DE BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA Fonte Material lignocelulósico Celulose (%) Hemicelulose (%) Lignina (%) Floresta Hardwood 40-55 24-40 18-25 Softwood 42-50 25-35 25-30 Resíduos da agroindústria Cascas 28-36 12-36 14-20 Talhos 25-45 16-35 15-25 Palhas 30-40 20-35 6-20 Bagaço de fruta 40-50 15-25 10-20 19 Gramíneas 25-40 35-50 10-30 Resíduos industriais/urbanos Polpa/papel 40-70 10-20 5-10 FONTE: Adaptado de ISIKGOR; BECER (2015). Nos subtópicos seguintes será abordado alguns dos principais componentes da estrutura da parede celular vegetal, sendo respectivamente, a celulose, a hemicelulose, a lignina e a pectina. 2.2.1 Celulose A celulose é um biopolímero linear, com a sua unidade de repetição sendo a glicose e formado pelas ligações β-1,4 glicosídeas. Esse polímero possui alto peso molecular, é insolúvel em água. (GAUTO; ROSA, 2011). A molécula tem um grau elevado de ordenação em sua estrutura cristalina devido às interações de van der Waals e por ligações de hidrogênio entre os grupos hidroxila laterais, como mostra a FIGURA 2. Mesmo com essas interações, a celulose é classificada como um composto polimorfo, ou seja, suas fibras celulósicas ficam agrupadas tanto em regiões cristalinas, que possuem alto grau de ordenamento molecular, quanto em regiões amorfas, que são mais desordenadas. (GOLÇALVES, 2016). FIGURA 2 - ESTRUTURA DA CELULOSE E LIGAÇÕES INTRA E INTERMOLECULARES FONTE: GONÇALVES (2016). 20 Na biomassa vegetal, a celulose é o principal componente da sua estrutura, formando em média 50% do peso molecular, como mostra a TABELA 1. (GAUTO; ROSA, 2011). 2.2.2 Hemicelulose De forma resumida, Pereira et al. (2010, p. 1) “a hemicelulose é um polímero carboidrato complexo de peso molecular inferior ao da celulose, de fórmula química não definida, altamente ramificada e aleatória, formada de diferentes tipos de sacarídeos e facilmente hidrolisável”. Fazendo um paralelo a esse raciocínio, Morais, Nascimento e Melo (2005, p. 30) afirmam que “O termo hemiceluloses se refere a polissacarídeos de massas moleculares relativamente baixas, os quais estão intimamente associados à celulose nos tecidos das plantas.”. Enquanto a celulose, como substância química, contém como unidade fundamental a β-D-glucose, as hemiceluloses são polímeros em cuja composição podem aparecer, condensadas em proporções variadas, diversas unidades de açúcar. (FENGEL; WEGENER, 1989 apud MORAIS; NASCIMENTO; MELO, 2005). Sua composição é representada pela FIGURA 3 . FIGURA 3 - AÇÚCARES QUE COMPÕEM AS UNIDADES DE HEMICELULOSES 21 FONTE: Adaptado de MORAIS; NASCIMENTO; MELO(2005). A composição percentual de hemicelulose varia de acordo com as fontes de biomassa lignocelulósica. Essa variação pode ser consultada na TABELA 1. Em relação ao papel que a hemicelulose desempenha na parede celular, descreve-se: Algumas hemiceluloses possuem a função de estabilizarem a parede celular por meio de ligações de hidrogênio com a celulose e ligações covalentes com a lignina. Já outras são usadas como como mecanismo de retenção de água em sementes. Além disso, as hemiceluloses apresentam uma maior susceptibilidade à hidrólise ácida por possuírem caráter amorfo e pelo grau de polimerização ser significativamente menor. (Pinto, 2019, p. 23). 2.2.3 Lignina A lignina é uma macromolécula amorfa, multifuncional, tridimensional e aromática associada à celulose na parede celular. A função dela é de conferir rigidez, impermeabilidade e resistência mecânica. (MARTÍNEZ et al., 2002; CYPRIANO, 2015). Um ponto importante é que a lignina não é um polissacarídeo, diferente da celulose e da hemicelulose. (CYPRIANO; MARIÑO; TASIC, 2017). A estrutura da lignina é complexa e constituída de fenil-propano, como mostra a FIGURA 4, e possui três carbonos ligados anéis aromáticos. (LADEIRA, 2013, MUSSATTO et al., 2010; CYPRIANO; MARIÑO; TASIC, 2017). FIGURA 4 - ESTRUTURA DA LIGNINA 22 FONTE: Adaptado de AWAN (2013). De acordo com a TABELA 1, os bagaços de frutas possuem de 10 a 20% de lignina (ISIKGOR; BECER, 2015), que se trata de uma porcentagem considerável, mas vale ressaltar que esse valor pode variar bastante dependendo da fruta escolhida. Além disso, o maior contribuinte para a coloração da biomassa lignocelulósica é a lignina, tendo em vista, que os carboidratos, celulose e hemicelulose são quase incolores e suas contribuições para a coloração são desprezíveis. (MOMENTI; PIRES, 2002). 2.2.4 Outros componentes Outro componente da parede celular vegetal é a pectina, um heteropolissacarídeo ramificado contido nas lamelas média e primária e na parede celular de plantas terrestres. Também faz parte da parede celular que envolve as células. Tem como objetivo a firmeza aos tecidos vegetais e um aumento na resistência à compressão. (CYPRIANO, 2015). A estrutura da pectina pode ser observada na FIGURA 5. FIGURA 5 - ESTRUTURA DA PECTINA FONTE: Adaptado de CYPRIANO (2015). 2.3 NANOCELULOSE Com a crescente evolução e utilização da nanotecnologia, a busca por nanomateriais vem aumentando. Esses materiais são cobiçados por cientistas por aumentar o desempenho e funcionalidade de materiais já conhecidos, por 23 apresentarem elevada área superficial e grau de suspensão. (CLARO, 2017). A nanocelulose, em específico, é conhecida por sua baixa expansão térmica, alta resistência, baixo peso molecular e outras boas propriedade mecânicas e ópticas. (POTULSKI, 2016). Em células vegetais, podemos obter a nanocelulose a partir de métodos da desconfiguração da molécula de celulose, já que ela é composta por fibrilas que se organizam em microfibrilas, que se agrupam de maneira polimorfa em fibras celulósicas. (GONÇALVES, 2016). Para serem considerados nanocelulose, os materiais celulósicos devem apresentar pelo menos uma de suas dimensões em escala nanométrica e o diâmetro entre 1 e 100 nm. (NECHYPORCHUK et al., 2016). Quanto à nomenclatura, é possível encontrar outros termos se referindo à nanocelulose, como celulose nanofibrilada, e nanofibras ou nanofibrilas de celulose (NECHYPORCHUK et al., 2016). 2.4 APLICAÇÕES DA NANOCELULOSE Enquanto um material renovável, a celulose e seus derivados têm sido amplamente estudados, com foco em suas propriedades biológicas, químicas e mecânicas. Os materiais baseados em celulose e seus derivados têm sido usados por mais de 150 anos em uma ampla variedade de aplicações, como alimentos, produção de papel, biomateriais e produtos farmacêuticos. (COFFEY et al., 1995; SOUZA; LIMA; BORSALI, 2004 apud PENG et al., 2011). A utilização da nanocelulose é feita de modo que o conhecimento científico e tecnológico obtido desse material fosse parcialmente transferido ao setor produtivo. Diante disso, neste setor percebe-se uma intensificação da utilização dessas fibras para o desenvolvimento e reforço de polímeros e compósitos que aproveitem as características únicas de várias matrizes lignocelulósicas existentes. (SEIXAS, 2019). De acordo com PENG et al. (2011), a nanotecnologia é uma área que tem desenvolvido produtos e por isso, tem sido destacada por muitas agências de financiamento e governo. Sem dúvida, a exploração do nanocelulose se tornará uma ponte entre nanociências e produtos de recursos naturais, o que poderia ter um papel importante na revitalização de países com abundantes recursos florestais. 24 2.5 DADOS SOBRE O MERCADO NACIONAL E MUNDIAL Atualmente, não só o Brasil, como muitos países estão investindo na nanocelulose, um material promissor que pode ser obtido por meio de várias matérias- primas. Consequentemente, o mercado do mesmo vem crescendo e é previsto aumentar ainda mais com o passar dos anos. A Granbio é uma empresa brasileira da biotecnologia industrial que adquiriu 25% da API (American Process Inc.). Essa, por sua vez, anunciou em 2015 uma produção em fase pré-inicial de uma nova tecnologia de baixo custo que visava extrair nanoceluloses a partir de biomassa. A empresa brasileira declarou que desde 2013, em conjunto com a API, investe na pesquisa e desenvolvimento da nanocelulose. (GRANBIO, 2013). No comércio global, existe a CelluForce, a primeira produtora comercial de nanocristais de celulose. A Fibria, empresa líder mundial na venda de celulose no mercado e brasileira, se associou com a CelluForce (capacidade atual de produzir 300t por ano de nanocristais) investindo mais de 4 milhões de dólares. (JORNAL DO COMÉRCIO, 2011). Pode-se perceber, que é um material em ascensão no mercado global. É estimado que o preço dos nanocristais de celulose serão 20 vezes o valor da celulose. Em 2015, a nanocelulose teve um mercado de 65 milhões de dólares, de acordo com a consultoria Market Research, que chega a estimar um valor próximo a 530 milhões de dólares para esse ano, um crescimento significativo. (REVISTA PESQUISA FAPESP, 2017). Finalizando, a Valmet Forward, empresa líder mundial no desenvolvimento de tecnologias no setor de celulose, papel e energia, acredita que esse valor será ainda maior em 2025, chegando a ser de 783 milhões de dólares. (VALMET, 2020). 2.6 ALTERNATIVAS PARA OBTENÇÃO DE NANOCELULOSE A FIGURA 6 mostra, de modo geral, um esquema da extração da nanocelulose através da biomassa da lignocelulose, a qual primeiramente passa por um pré-tratamento até se transformar em fibrilas de celulose. Posteriormente, a nanocelulose é extraída das fibrilas por meio de métodos de extração que serão abordados nesse documento. 25 FIGURA 6 – ESQUEMA DE EXTRAÇÃO DE NANOCELULOSE ATRAVÉS DA BIOMASSA DE LIGNOCELULOSE FONTE: Adaptado de PHANTHONG et al. (2018). De acordo com Pinto (2019, p. 30), “As nanoceluloses (CNC ou CNF) podem ser obtidas utilizando-se métodos químicos, mecânicos e enzimáticos ou através da combinação de mais de um método”. Esses diferentes processos de obtenção foram esquematizados de acordo com a FIGURA 7. FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DA AÇÃO DE MÉTODOS MECÂNICOS E QUÍMICOS DE PRODUÇÃO DE CNC E CNF A PARTIR DE FIBRAS DE CELULOSE FONTE: SOFLA et al. (2016) apud PINTO (2019). 26 A FIGURA 7 ilustra como de acordo com o processo que é adotado, muda-se o produto final. Portanto, ao adotar processos químicos para obtenção de nanocelulose, teremos celulose nanocristalina (CNC), enquanto processos mecânicos geram celulose nanofibrilada (CNF), também denominada nanofibra de celulose. Em relação aos nanocristais de celulose(CNC), Também chamados whiskers ou nanowhiskers, possuem cristalinidade alta (≤80%) e dimensões nas faixas 3-10 nm de diâmetro e 100-300 nm de comprimento (Hooshmand, 2014). Possuem uma menor relação comprimento/diâmetro sendo o produto principal da hidrólise em ácido com concentrações altas. Os nanocristais apresentam propriedades reológicas especiais para formação de géis. (BOHÓRQUEZ, 2017, p. 39). Em relação às CNF, a autora também complementa: Fibrilas compridas e emaranhadas de elevada área superficial similar a uma rede ou espaguete. Possuem um diâmetro de 10-40 nm e comprimento de vários microns. A configuração de rede adiciona características únicas ao biomaterial, como excelente agente estabilizante de partículas na formação de géis e uma grande quantidade de grupos hidroxila na superfície que podem ser funcionalizados a fim de introduzir novas características para potenciais aplicações. A morfologia da NFC é obtida por hidrólise em condições moderadas ou brandas, como enzimática, ácida diluída ou simplesmente um tratamento físico de nanonização. Possuem uma cristalinidade entre 60 a 70% (BOHÓRQUEZ, 2017, p. 37-38). FIGURA 8 - MORFOLOGIA DA CELULOSE NANOFIBRILADA (A) E NANOCRISTALINA (B) FONTE: BOHÓRQUEZ (2017). 27 De acordo com Paakko et al. (2007 apud NECHYPORCHUK, BELGACEM E BRAS, 2016), os métodos de produção da nanocelulose geralmente compreendem várias operações, por exemplo, refinamento, hidrólise enzimática, homogeneização e assim por diante. Neste tópico, serão abordadas algumas operações que podem ser adotadas para a produção de nanocelulose. 2.6.1 Matérias-primas A nanocelulose pode ser obtida através de diversas fontes de biomassa lignocelulósica. Neste tópico, será abordado as principais levantadas pela literatura, sendo elas; bagaço de cana-de-açúcar, bagaço de laranja e fibras de coco. • Bagaço de cana-de-açúcar Segundo Pinto (2019), dentre os subprodutos da indústria sucroalcooleira, mais de 30% em massa da cana moída corresponde ao bagaço. No que se refere ao bagaço de cana-de-açúcar, este é um material lignocelulósico fibroso que se obtém após a moagem da cana-de-açúcar. Ele é formado por um conjunto de fragmentos bastante heterogêneos com dimensões que oscilam de 1 a 25 mm e sua granulometria do bagaço depende do trabalho de moagem e da variedade da cana. (SEIXAS, 2019). A FIGURA 10 detalha sobre a composição desse bagaço. FIGURA 9 – COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR FONTE: Adaptado de SEIXAS (2019). 50% 5% 45% COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DA CANA- DE-AÇÚCAR INDUSTRIAL Umidade Extrativos e componentes inorgânicos Estruturas fibrilares 28 Além disso, de acordo com SEIXAS (2019, p. 39), “esta fração de estruturas fibrilares é composta por 55% a 60% de fibras (células fibrilares), 30% a 35% de medula (células de parênquima) e 10% a 15% de outros componentes.” Em relação a sua composição de celulose, hemicelulose, lignina e extrativos, ela pode ser consultada de acordo com a FIGURA 10. FIGURA 10 – COMPOSIÇÃO DA FONTE DE BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA DE BAGAÇO E CANA-DE-AÇÚCAR FONTE: Adaptado de SEIXAS (2019). Além disso, a cultura da cana-de-açúcar é de grande versatilidade, sendo utilizada desde a forma mais simples como ração animal, até a mais nobre como o açúcar. Da cana nada se perde: do caldo obtêm-se o açúcar, a cachaça, o álcool, a rapadura e outros; do bagaço, o papel, a ração, o adubo ou o combustível; das folhas a cobertura morta ou ração animal (SEIXAS, 2019). Segundo Pinto (2019), o reuso desses subprodutos depende de um adequado manejo devido suas características que podem oferecer riscos e limitações à sua aplicação. São elas o baixo pH, grande concentração de sais, presença de íons metálicos e matéria orgânica. Composição do bagaço de cana-de-açúcar Celulose Hemicelulose Lignina Extrativos 29 • Bagaço de laranja A laranja é uma fruta da família Rutaceae rica em diversos compostos como: sais minerais, vitaminas A, B e C, lipídios entre outros. E pode ser considerada um ótimo auxílio na prevenção de doenças, ou seja, traz grandes benefícios à saúde. (CYPRIANO, 2015). A produção de laranja no Brasil, em 2014, foi cerca de 17 milhões de toneladas, isso porque a laranja é uma das frutas mais consumidas no país. (AGRICULTURA, MG, 2021 apud CYPRIANO, 2015). Levando em conta esse dado, metade disso é composto pelas cascas, sementes e polpas que são considerados os resíduos (bagaços) da fruta. Usualmente, isso é prensado e peletizado e dado aos rebanhos bovinos e suínos para suplementação. No entanto, esse resíduo pode ser melhor utilizado para a obtenção de produtos com maiores valores agregados, como a nanocelulose. (CYPRIANO, 2015). Em relação à composição polimérica do bagaço de laranja, tanto industrial quanto in natura, ela pode ser consultada na TABELA 2. TABELA 2 – COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DE LARANJA EM BASE SECA Composição Bagaço da indústria (%) Bagaço in natura (%) Fração solúvel em água 42,0 ± 4,8 48,1 ± 2,1 Pectina 27,2 ± 1,4 24,5 ± 5,4 Celulose 21,0 ± 7,4 12,0 ± 2,7 Hemicelulose 9,8 ± 7,4 15,6 ± 2,7 Lignina 3,5 ± 0,1 1,7 ± 0,8 FONTE: Adaptado de BOHÓRQUEZ (2017). • Fibra de Coco A fibra de coco é uma opção de matéria prima a ser utilizada para a obtenção de nanocelulose também. Se trata de um material lignocelulósico, resistente e durável, justamente pela quantidade de lignina. A fibra, um subproduto, é extraída do fruto da Cocus nucifera L., ou palmeira de coco. A árvore possui um tronco cilíndrico e um tufo de folhas em folíolos, sob as quais se desenvolvem os frutos compostos por uma 30 semente. As fibras de coco, citadas anteriormente, revestem o fruto e estão presentes no mesocarpo. (ETOUNDI, 2017). FIGURA 11 - PARTES DO COCO FONTE: Adaptado de ERHARDT et al. (1976). Assim como as outras matérias-primas já citadas, a fibra de coco possui certa de 40% de celulose, menos de 1% de hemicelulose e quase 10% de lignina como pode ser observado na FIGURA 12. FIGURA 12 - COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA FIBRA DE COCO FONTE: Adaptado de FARUK et al. (2012). 32 0,15 40 43 0,25 45 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Celulose (%) Hemicelulose (%) Lignina (%) Mínimo Máximo 31 2.6.2 Pré-tratamentos De acordo com Pinto (2019, p. 27), “As etapas de pré-tratamento têm como objetivo a solubilização e separação de um ou mais componentes da biomassa, envolvendo remoção parcial ou completa de materiais contidos na matriz (hemicelulose, lignina, extrativos), restando a celulose.” Um pré-tratamento eficaz deve trazer como resultados: uma alta recuperação dos açúcares, um aumento da digestibilidade dos polissacarídeos, ser rentável, baixa demanda de energia ou ser reutilizado como calor secundário, possibilitar e facilitar a diminuição de custos na obtenção de produtos como a nanocelulose, de um alto valor agregado. (SUN et al., 2002 apud CYPRIANO, 2015). Existem várias opções de pré-tratamentos e cada um traz seus efeitos e rendimentos, e essa escolha está diretamente relacionada a fibra lignocelulósica presente no processo. Os pré-tratamentos existentes podem ser divididos em físicos, biológicos, químicos e físico-químicos. (MOOD et al., 2013; BRINCHI et al., 2013 apud VIEIRA, 2018). • Ácido O pré-tratamento ácido é empregado para a remoção da lignina e hemicelulose, por meio da solubilização da mesma no meio ácido na forma de monossacarídeo, restando apenas a celulose. Esse processo propicia um aumento da digestão da celulose para as etapas seguintes, tornando-o mais acessível a ação de enzimas. (RABELO, 2010 apud SILVA, 2014; BRIENZO et al., 2017 apud AZEVEDO, 2018). Esse pré-tratamento químico consiste na adição de algum ácido (preferencialmente diluído), visando a eliminação da hemicelulosee da pectina das matérias primas, para que esta torne mais fácil o contato com a celulose microcristalina nas etapas seguintes. (CYPRIANO, 2015). Na indústria, o pré-tratamento ácido é considerado o mais favorável e vem sendo muito usado em resíduos ligncelulósicos. (ALVIRA et al., 2010 apud SILVA, 2014). No Brasil, os ácidos mais utilizados são H2SO4, alguns ácidos clorídricos e alguns nítricos. (SUN e CHENG, 2002 apud SILVA, 2014). Em contrapartida, são 32 corrosivos e, consequentemente, se tratam de uma escolha ecologicamente inapropriada considerando um viés ambiental. • Alcalino É um tipo de pré-tratamento químico que utiliza soluções alcalinas diluídas em condições operacionais moderadas de temperatura e pressão, normalmente é realizado utilizando uma solução de NaOH. (BARBOSA, 2011 apud VIEIRA, 2018). O objetivo dessa etapa é a remoção da hemicelulose, lignina, ceras e pectinas presentes nas paredes celulares da planta, com o intuito de obter a celulose pura. Portanto, essa etapa é mais conhecida como uma etapa de purificação da biomassa. (SILVA, 2018). Segundo YADAV (2016), o pré-tratamento alcalino utiliza NaOH ou KOH, o quais são solubilizados em altas temperaturas, para remoção de hemicelulose, pectina e especialmente lignina. Esse pré-tratamento deve ser controlado, de forma a não danificar as fibras e garantir que a hidrólise ocorra apenas na superfície da fibra. Além disso, duas preocupações desse tratamento é a toxidade dos agentes químicos utilizados e o consumo energético pela aplicação de altas temperaturas. Após o tratamento alcalino, as fibras passam a ter uma maior tensão superficial e diâmetro menor, isso acontece devido a remoção quase total da hemicelulose e lignina, tendo como resultado uma melhor adesão com a matriz polimérica. (VIEIRA, 2018, apud SHREEKUMA et al., 2009). 2.6.3 Obtenção de nanocelulose por meios químicos De acordo com a literatura: A digestão da celulose é um tratamento realizado para aumentar a cristalinidade do material. Através deste processo são solubilizadas principalmente as regiões menos densas das fibrilas (amorfas), sendo assim melhoradas a estabilidade e homogeneidade do polímero. Existem dois métodos predominantes utilizados na indústria para este objetivo: A hidrólise química e a enzimática. (BOHÓRQUEZ, 2017, p. 31). 33 • Hidrólise Ácida Por definição, hidrólise é uma reação na qual ocorre a quebra de uma ligação química com inserção de água a fim de converter os carboidratos em monômeros (GROHMANN e BALDWIN, 1992 apud CYPRIANO, 2015), conforme a equação abaixo: (𝐶6𝐻10𝑂5)𝑛 + 𝑛𝐻2𝑂 → (𝐶6𝐻12𝑂6)𝑛 Segundo Peng et al. (2011), entre os vários métodos de preparação de nanocelulose, a hidrólise ácida é o mais conhecido e amplamente utilizado. Este processo baseia-se no fato de as regiões cristalinas serem pouco acessíveis nas condições utilizadas para as extrações. Além disso, A hidrólise ácida consiste na quebra das moléculas de celulose, presentes na biomassa, por meio da adição de ácido. O catalisador ácido (já que pode ser recuperado no processo) utilizado nesse tipo de hidrólise age de maneira rápida e, por isso, a reação deve ser controlada para evitar reações paralelas indesejáveis. (ARAUJO et al., 2013, p. 8). De acordo com Martins (2016 apud Habibi et al., 2010), na hidrólise ácida são preservados os domínios cristalinos. Durante a reação, as regiões amorfas, mais acessíveis, são rapidamente atacadas em comparação com os domínios cristalinos que permanecem intactos após o processo. Essa reação é exemplificada na FIGURA 13 . FIGURA 13 – ESQUEMA MOSTRANDO QUE AS REGIÕES AMORFAS DAS FIBRILAS DE CELULOSE SÃO CINETICAMENTE MAIS FAVORÁVEIS FONTE: HABIBI et al., 2010. 34 Segundo Silva e D’Almeida (2009, apud CRUZ, 2017), as variáveis mais importantes encontradas na literatura para as condições de hidrólise são: concentração do ácido, tempo, temperatura e a carga de sólidos (ácido/matéria- prima). Essa rota é a mais eficaz para produzir estruturas nanocristalinas com cargas de superfície, o que o tornam materiais promissores para serem utilizados em diversas aplicações. (CRUZ, 2017). Apesar de ser a principal rota, ela apresenta um baixo rendimento e também é nociva ao meio ambiente. (KIRACZ, 2018). • Hidrólise Enzimática As enzimas são proteínas responsáveis em catalisar, ou seja, aumentar a velocidade das reações químicas sem que haja interferência no processo. Isso se dá por apresentarem a especificidade de interagir somente com determinadas substâncias, os substratos, constituindo complexos enzima-substrato com formação do produto desejado. (CRUZ, 2017). O processo enzimático de quebra da celulose depende de alguns fatores, como a concentração da enzima, superfície de contato disponível do substrato (celulose), temperatura de reação e duração da atividade enzimática. (GEORGE et al., 2011 apud CRUZ, 2017). A hidrólise enzimática da celulose é realizada por enzimas denominadas celulases, sendo esse processo muito estudado pela já citada especificidade da reação. Além da ausência de reações secundárias (as quais afetam o rendimento da reação global) e da formação produtos secundários (que podem atuar como inibidores de processos fermentativos), a reação não ocorre em condições mais extremas, a exemplo de altas pressões e temperaturas ou em meios corrosivos para os equipamentos envolvidos no processo. (CRUZ, 2017). Por conta da especificidade da enzima, os produtos da hidrólise são compostos de basicamente glicose e alguns oligômeros, auxiliando no controle da formação dos produtos. Como as reações são conduzidas sob condições mais amenas de pH (entre 4 e 5) e de temperatura (entre 40°C e 50°C), são menos comuns problemas associados à corrosão de reatores, os custos de energia elétrica são reduzidos e a toxicidade dos reagentes é baixa. Em detrimento dos pontos levantados, 35 a hidrólise enzimática torna-se um processo atrativo e vantajoso para ser utilizado na obtenção de nanocristais de biomassas lignocelulósicas. (CRUZ, 2017). 2.6.4 Obtenção de nanocelulose por métodos mecânicos Segundo Moon (2011 apud SILVA, 2018), o processo de obtenção de nanocelulose por meio de refinos mecânicos resulta na morfologia de microfibras de celulose ou nanofibras de celulose. Os métodos mais empregados são: homogeneização de alta pressão, esmerilhamento, sonificação. Além disso, Esse processo consiste em aplicar uma alta taxa de cisalhamento na celulose previamente purificada, de modo a cisalhar transversalmente ao longo do eixo longitudinal da estrutura da fibra elementar, obtendo fibrilas longas de celulose. Esse processo pode ser seguido por uma hidrólise ácida, a fim de diminuir a quantidade de regiões amorfas ou também funcionalizar a superfície da microfibra. (SILVA, 2018, p. 33). Esse processo pode ser repetido por diversas vezes, resultando em partículas com diâmetro menos e mais uniformes, entretanto o número de defeitos causados pelo refino mecânico aumenta, diminuindo a porcentagem de celulose cristalina na nanopartícula. (MOON, 2011 apud SILVA, 2018). • Desfibrilação Mecânica ou Micro Moagem Esse método de obtenção de nanocelulose se dá pelo rompimento das fibras celulósicas por uma alta taxa de cisalhamento de um moinho que contém uma abertura e dois discos de pedra: um rotativo e um estático. Obtemos o produto de interesse quando a polpa entra no moinho e as forças de atrito e de compressão desfibrilam mecanicamente a celulose. (NECHYPORCHUK et al., 2016). • Microfluidização e Homogeneização Os dois métodos de obtenção são similares e muitas vezes usados em conjunto. Seus princípios se baseiam no cisalhamento das partículas pela colisão com uma superfície e pela alta pressão. A principal diferença seria no funcionamento dosequipamentos utilizados em cada método, sendo que o microfluidizador indicado para 36 a obtenção das nanofibrilas de celulose é o com câmara em Z. (NECHYPORCHUK et al., 2016). • Sonicação De acordo com Wang e Chen (2009 apud SEIXAS, 2019), o ultrassom é uma parte do espectro do som que vai de 20 KHz até 10 MHz gerado por um transdutor que converte energia mecânica PI elétrica em energia acústica de alta frequência. Camargo (2010) pontua que os efeitos químicos do ultrassom derivam primariamente da cavitação acústica, no qual bolhas colapsam nos líquidos resultando em uma enorme concentração de energia a partir da conversão de energia cinética do líquido em movimento. Sobre cavitação acústica, Camargo continua: A cavitação acústica é responsável pelos mecanismos primários dos efeitos da sonicação. Durante a cavitação, as bolhas colapsadas produzem intenso aquecimento local e altas pressões a uma frequência muito alta; este transiente localizado conduz a uma alta energia para reações químicas. Esta cavitação serve como um meio de concentração da energia difusa do som. Adicionalmente, as regiões em volta das bolhas cavitadas além de possuírem alta temperatura e pressão produzem gradientes elétricos. O líquido em movimento também gera forças de tensão e cisalhamento; causadas pelo rápido fluxo das moléculas do solvente ao redor da bolha cavitada, bem como uma intensa onda de choque emanada no colapso da bolha. (CAMARGO, 2010, p. 81-83). Os efeitos químicos do ultrassom caem nas seguintes áreas: sonicação de sistemas homogêneos de líquidos, emulsificação de sistemas heterogêneos de líquidos, sono catálise e sonicação de sistemas líquidos-sólidos para homogeneizar, desagregar, cisalhar e dispersar partículas. Os efeitos químicos da alta intensidade do ultrassom, aos quais sempre tem consequências que incluem maior transporte de massa, emulsificação, aquecimento e uma variedade de efeitos nos sólidos. As consequências químicas da alta intensidade do ultrassom não surgem a partir de uma interação de ondas acústicas e matéria em um nível molecular ou atômico. (CAMARGO, 2010). Esse tratamento produz um forte processo de cisalhamento hidrodinâmico, que pode ser usado para delaminar a parede celular da fibra celulósica. Alguns pesquisadores usaram da sonicação para produzir nanofibrilas de celulose sem pré- tratamentos bioquímicos (CHENG et al., 2009; WANG; CHENG, 2009; CHENG et al., 37 2011 apud NECHYPORCHUK et al., 2016) ou após oxidação mediada por TEMPO. (SAITO et al., 2006; JOHNSON et al., 2008; ZHOU et al., 2012; SAITO et al., 2013 apud NECHYPORCHUK et al., 2016). Após a ultrassonicação, as suspensões de celulose foram centrifugadas e as nanofibrilas de celulose recuperadas do sobrenadante. (CAMARGO, 2010). • Cryocrushing Esse método mecânico consiste no congelamento da celulose a partir de nitrogênio líquido (NL2) e logo depois a trituração devido a aplicação de algumas forças de cisalhamento, que levam à ruptura das paredes celulares, por causa da pressão exercida pelo gelo. O cryocrushing é bastante usado para realizar fibrilação de colheitas agrícolas, pois produz fibrilas com diâmetros grandes. As nanofibras resultantes desse método exibem uma grande capacidade de dispersão em emulsão em relação à água. Uma desvantagem de usar esse método é que possuí um alto consumo de energia, baixa produtividade e é caro. (NECHYPORCHUK; BELGACEM; BRAS, 2015). • Cisalhamento por bolas (Ball Milling) Num recipiente cilíndrico e oco, preenchido com bolas de diferentes materiais, tais como: cerâmica, zircônia e metal por exemplo, é colocado a celulose em suspensão. Esse reservatório começa a girar e isso faz com que a celulose se desintegre devido a colisão entre as bolas, com uma energia excessiva. É importante ressaltar, que esse processo é influenciado por alguns fatores como a diferença entre o tamanho e peso das bolas e da celulose, umidade, tempo de moagem, entre outros. O resultado desse método é justamente as fibrilas da celulose com um diâmetro menor. (NECHYPORCHUK; BELGACEM; BRAS, 2015). • Explosão por vapor Nesse pré-tratamento termomecânico, a celulose fica exposta ao vapor pressurizado (alta temperatura) por um tempo curto até que o material seco sature. Logo após, ocorre a liberação da pressão, momento que a evaporação rápida da água 38 efetua a força termomecânica, que é responsável pela quebra da parede celular da fibra. A principal utilidade desse método é a polpação (usado na extração de fibras de celulose de lignocelulose). (NECHYPORCHUK; BELGACEM; BRAS, 2015). • Contra colisão aquosa Nesse processo jatos com suspensões de celulose aquosas se chocam, devido a uma alta pressão e isso resulta na pulverização úmida do material e na formação de uma dispersão aquosa de nanomateriais. Basicamente, microfibras são expelidos pelos bicos dos jatos, de modo que haja a colisão entre as duas correntes. (KONDO et al, 2013). Um ponto a se observar caso esse seja o método escolhido, é que o tamanho da celulose utilizada para ser processada deve ser menor que o diâmetro do jarro, para evitar um bloqueio. Além disso, o número de etapas e a pressão a ser submetida devem ser ajustados de forma que resulte na quantidade desejada de passagens de pulverização. (NECHYPORCHUK; BELGACEM; BRAS, 2015). 2.7 ROTA DE OBTENÇÃO DA NANOCELULOSE A PARTIR DO BAGAÇO INDUSTRIAL DE LARANJA A rota escolhida para este trabalho foi a obtenção de nanocelulose a partir do bagaço laranja industrial. Primeiramente, o bagaço será moído, passando posteriormente por uma filtração para retirar alguns de seus resíduos, como os açúcares livres, e, então, é seco para retirar o excesso de umidade da biomassa lignocelulósica. Nas próximas etapas, com o intuito de reduzir o teor de lignina da biomassa, bem como retirada parcial da hemicelulose presente, a mesma passa por um processo de pré-tratamento com NaOH e, posteriormente, por um pré-branqueamento com H2O2, finalizando com o branqueamento com NaClO2. Então, as fibrilas de celulose resultantes passarão por uma hidrólise ácida com H2SO4 para auxiliar no isolamento da nanocelulose das fibrilas da nanocelulose. Com o objetivo de encerrar essa reação, o produto será lavado e centrifugado para retirar o ácido residual e neutralizar o pH. 39 Por fim, a nanocelulose (mais precisamente as nanofibras de celulose) será dissociada das fibrilas com o processo de nanonização por microfluidização, sendo obtidos em uma filtração final. Dado o panorama dos caminhos selecionados, nos subtópicos a seguir, serão descritas de forma mais aprofundada cada uma das etapas, bem como suas vantagens e desvantagens em comparação a outras alternativas e/ou justificando o motivo de sua presença no processo final. 2.7.1 Bagaço de laranja industrial QUADRO 1 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMAS PARA A OBTENÇÃO DE NANOCELULOSE Matéria-Prima Vantagens Desvantagens Bagaço de Laranja Laranja é muito produzida no país, resultando em milhões de toneladas de bagaço destinados a ração de animal principalmente. Pode ser melhor utilizado. Bagaço in natura possui um teor de hemicelulose menor que o industrial, enquanto esse possui quase o dobro de celulose e lignina do que o in natura. Cana-de-açúcar Resíduo agroindustrial em maior quantidade no Brasil. Baixo custo de produção do mundo. O bagaço possuí muitas aplicações, podendo ser usado para obtenção de outros produtos. Fibra de Coco Grandes quantidades no país, renovável, biodegradável, melhores propriedades mecânicas. Resulta em nanocristais com grande potencial para reforço de matrizes poliméricas biodegradáveis Alto preço por ser uma atividade artesanal, o preço da fibra de coco é cerca de 10% a 15% mais caro que similares.FONTE: Adaptado de ETOUNDI (2017); BOHÓRQUEZ (2017); CYPRIANO (2015); SEIXAS (2019). De acordo com Bohórquez (2017, p. 29), “O resíduo agroindustrial do processamento da laranja é classificado como uns dos resíduos da agroindústria mais produzidos mundialmente, sendo o Brasil e os Estados Unidos as principais indústrias 40 produtoras.” Esse fator contribuiu para a decisão da matéria-prima deste trabalho, sendo o bagaço da laranja industrial. Considerando os dados atuais de produção do bagaço de laranja, é possível obter até 119 mil toneladas de nanocelulose, o que equivale a uma rentabilidade de 127 bilhões de dólares. (TETREAU, 2010 apud CYPRIANO, 2015). Após processamento da laranja para o suco, o resíduo gerado é conhecido como bagaço de laranja (BL) contribuindo com em torno de 50% da massa do fruto e inclui a casca (epicarpo e mesocarpo), membranas e sementes. (WILKINS et al., 2007 apud BOHÓRQUEZ, 2017). A TABELA 3 apresenta a comparação entre a composição do bagaço de laranja industrial avaliado neste trabalho e a composição de acordo com Rivas et al. (2008). TABELA 3 - COMPOSIÇÃO DO BAGAÇO DE LARANJA Composição Bagaço de laranja (%) Água 72,00-86,00 Proteína 1,16 Celulose 1,93 Hemicelulose 2,21 Lignina 0,18 Pectina 8,93 Açúcar livre 3,55 Cinzas 0,74 FONTE: RIVAS et al. (2008). Segundo Cypriano et al. (2017), o BL pode apresentar composições diferentes de acordo com variedades das plantas, a constituição do solo, o clima (temperatura, umidade), a época de colheita e até mesmo o método de plantio. Em relação à umidade do BL, pode-se afirmar que: Devido ao alto conteúdo de água, industrialmente o BL é transformado em um resíduo sólido seco para facilitar o seu manuseio e transporte. O produto resultante é chamado polpa do flotador, e é obtido pressionando e secando o bagaço de laranja (casca, polpa e sementes) após a extração de suco. Este resíduo apresenta na sua composição uma grande quantidade de fibra e açúcar adequados para a produção de etanol-2G e etanol-1G, respectivamente. (CYPRIANO, 2015, p. 53). 41 A escolha do BL industrial explica-se pela imensa disponibilidade desses resíduos agrícolas no Brasil e América Latina como um todo. Esses resíduos de interesse são considerados subprodutos que geralmente são descartados ou incinerados para geração de calor e eletricidade. Em vista disso, faz-se necessária uma avaliação dos usos potenciais dessa biomassa e o reaproveitamento para a produção de nanocelulose semicristalina. (BOHÓRQUEZ, 2017). A escolha do bagaço da laranja industrial ao invés do bagaço in natura é de acordo com a comparação de resultados obtidos por Bohórquez (2017), indicando que o bagaço da indústria possui um teor de celulose e lignina, aproximadamente, o dobro do encontrado para o bagaço in natura. Isso se explica uma vez que o bagaço industrial apresenta folhas e galhos que geralmente apresentam um maior teor de celulose e lignina em sua composição. 2.7.2 Preparação da matéria-prima A realização de pré-tratamentos na polpa celulósica é essencial, pois é o começo das alterações na estrutura morfológica da molécula, facilitando o processo principal, pois já quebra ligações de hidrogênio e a superfície de contato, assim aumentando a reatividade da molécula e diminuindo a demanda de energia nos processos posteriores, além de já separar algumas substâncias indesejadas. (KARGARZADEH et al., 2017). • Moagem Primeiramente, o bagaço da laranja industrial passa por um processo de redução do tamanho de suas partículas chamado de moagem. (BOHÓRQUEZ, 2017). Essa etapa ocorre antes dos tratamentos químicos justamente por haver um aumento na superfície de contato das partículas com o cisalhamento, logo, as etapas seguintes serão mais efetivas. (KARGARZADEH et al., 2017). • Filtração Após a redução do tamanho, o bagaço passa por uma etapa de separação dos resíduos da sua biomassa. Portanto, ocorre uma filtração de modo que seja 42 possível extrair os açúcares livres residuais da biomassa do BL industrial. Este processo de separação ocorre a partir de uma filtração com água quente. (BOHÓRQUEZ, 2017). • Secagem Esta etapa busca concentrar a polpa celulósica, já que ela possui alta quantidade de água, como visto na TABELA 1. (BOHÓRQUEZ, 2017). Após passar pela filtração, a matéria se encontra altamente úmida, então é preciso secá-la antes de se começarem os pré-tratamentos. (KARGARZADEH et al., 2017). 2.7.3 Pré-tratamento alcalino/ácido QUADRO 2 - COMPARAÇÃO ENTRE OS PRÉ-TRATAMENTO QUÍMICOS E O COMBINADO Pré-tratamento Celulose Hemicelulose Lignina Vantagens Desvantagens Químico Ácido diluído Pouca despolimerização 80-100% de remoção. Pouca remoção, mas ocorre mudança na estrutura Condições médias, altas de produção de xilose Ambientalmente incorreto, difícil recuperação do ácido, corrosivo e relativamente custoso Hidróxido de sódio Inchação significativa Considerável solubilidade e separação sem degradação da celulose da hemicelulose Considerável solubilização >50%, separação sem degradação Remoção efetiva de ésteres Reagente de alto custo, recuperação alcalina. Tratamento fácil e de baixo custo. Combinado Explosão à vapor Pouca despolimerização 80-100% Pouca remoção, mas ocorre mudança na estrutura Energia eficiente, nenhum custo de reciclagem Degradação da xilana com produto inibitório FONTE: Adaptado SANTOS et al. (2012). O pré-tratamento para o bagaço de laranja consiste na conversão do material lignocelulósico em monômeros. Além disso, ocorre a separação da lignina da parede celular, solubilização da hemicelulose e a redução do grau de cristalinidade da celulose. De forma mais direcionada ao BL, o principal objetivo é a remoção da hemicelulose e da lignina das fibras do bagaço de laranja porque assim torna-se mais 43 fácil o contato com a celulose microcristalina nas etapas seguintes. (LEE et al, 2014 apud CYPRIANO, 2015). Para o objetivo desse trabalho, será mais eficiente o uso do pré-tratamento alcalino, ao passo que, de acordo com o QUADRO 2, ao ser utilizado o hidróxido de sódio (NaOH), de grande eficiência, se observará uma solubilização considerável da hemicelulose, mas sem degradação. Ademais, há a separação da celulose e da hemicelulose e uma remoção significativa de ésteres, fora que é o mais ambientalmente correto. Em contrapartida, seguindo um viés ambiental, o pré- tratamento ácido é corrosivo e, apesar de ter uma remoção favorável, ele degrada os materiais lignocelulósicos. Se compararmos com o pré-tratamento existente para o bagaço de cana-de- açúcar, o mais utilizado é o hidrotérmico, com o principal objetivo de retirar as hemiceluloses das fibras utilizando água como solvente a 190°C por cerca de 10 minutos. Nesse caso, há uma razão de 1:10 no quesito biomassa/solvente. Pode ser usado, também, o KOH. (BOHÓRQUEZ; 2017). FIGURA 14 - REMOÇÃO DA LIGNINA E A SOLUBILIZAÇÃO DA HEMICELULOSE DURANTE O PRÉ-TRATAMENTO FONTE: Adaptado de CYPRIANO (2015). 2.7.4 Branqueamento De acordo com Benini (2011 apud VIERA, 2015), “Entende-se por branqueamento o processo de alvura das fibras naturais que tem como principal objetivo a remoção da lignina residual de tratamentos anteriores, como por exemplo, o tratamento alcalino.”. 44 Seguindo o raciocínio, Momenti (2002) pontua que o branqueamento também pode ser definido como um tratamento que visa melhorar as propriedades da pasta celulósica a ele submetida e, portanto, torná-la mais clara ao remover lignina e outros compostos não desejáveis. “Os processos mais convencionais de branqueamento envolvem o cloro como agente branqueador (cloro, dióxido de cloro ou hipocloritode sódio), porém, esses processos vêm perdendo o foco devido aos impactos ambientais causados pelos mesmos”. (BRASILEIRO et al., 2001 apud VIERA, 2015). Na TABELA 4 será feita uma comparação entre os principais agentes oxidantes e branqueadores utilizados pela indústria de celulose e nanocelulose. TABELA 4 - COMPARAÇÃO ENTRE OS AGENTES BRANQUEADORES/OXIDANTES Agente branqueador / oxidante Vantagens e desvantagens Cloro (Cl) É o mais utilizado nos processos de branqueamento por apresentar grandes vantagens quanto ao custo e a eficiência. No entanto, seu uso está em declínio atualmente devido as preocupações ambientais em relação ao seu uso e formação de compostos organoclorados. Dióxido de Carbono (CO2) É o agente oxidante mais poderoso, e também o agente branqueador mais altamente seletivo, capaz de solubilizar a lignina residual relativamente intratável. Hipoclorito de Sódio (NaClO) Oxida, descolore e solubiliza a lignina. É aplicada sob condições alcalinas em etapas intermediárias ou finais de sequências de branqueamento, conhecida por seu custo baixo e fácil manuseio. Sua maior desvantagem é a perda de resistência da celulose. Ozônio (O2) Apresenta como vantagem a redução do cloro ativo, e consequentemente a redução da poluição ambiental. Porém é um procedimento de alto custo e com baixa capacidade de deslignificação. Peróxido de Hidrogênio (H2O2) Catalisa o processo de deslignificação, atacando a estrutura do anel de lignina. Este tratamento é adequado para a extração de celulose (sendo dificilmente decomposta sob essa condição), mais agressivo na lignina e parcialmente na hemicelulose. Clorito de Sódio (NaClO2) A lignina reage com o clorito de sódio e ocorre uma fragmentação oxidativa da lignina e parte da lignina dissolve-se como cloreto de lignina. São empregadas condições ácidas para uma remoção de impurezas que estejam ligadas às superfícies das fibras. O percentual 45 de aumento do componente de celulose e diminuição da lignina com cada etapa de processamento são as principais observações FONTE: Adaptado de UIEDA (2014); VIERA (2015); LEAL (2018); MOMENTI (2002). “Esse é um processo, na qual as propriedades ópticas das fibras são mudadas, pela remoção dos componentes capazes de absorver luz visível e pela redução de sua capacidade de absorção da luz.” (MOMENTI, 2002, p. 15). De acordo com a literatura, Os compostos responsáveis pela cor das polpas não podem ser eliminados simultaneamente em uma única etapa devido a sua diferente reatividade e localização, ou seja, acessibilidade. Por isso, o processo de branqueamento é dividido em diferentes estágios para maximizar a eficiência do processo. (DENCE e REEVE, 1996 apud MORBECK, 2013, p. 14) Primeiramente, para a etapa do branqueamento, é feito um pré- branqueamento com H2O2 que está acoplado ao branqueamento com NaClO. “Ao se aplicar peróxido de hidrogênio, a fibra ganha valor, pois há eliminação de componentes que conferem a cor natural. Dependendo das condições, a fibra pode conter alguns traços de resíduos, como a hemicelulose e a lignina”. (PEREIRA, 2010, p. 12). Além disso, O peróxido de hidrogênio é um reagente nucleofílico que não tem efeito direto na degradação dos carboidratos da polpa. No entanto, em meio alcalino, o peróxido se decompõe gerando radicais livres que atuam no processo de deslignificação e degradação da polpa. A decomposição do peróxido de hidrogênio gera reações que escurecem a polpa, especialmente quando há consumo total do peróxido de hidrogênio e aumento do pH do meio, que levam à instabilidade de alvura. Por outro lado, se a solução alcalina for totalmente consumida antes do peróxido de hidrogênio, o pH do meio não será adequado para promover a ação branqueadora. Nesse estágio aconselha-se alto teor de peróxido residual e baixa concentração de NaOH, suficiente para possibilitar a ação do agente oxidante” (DENCE e REEVE, 1996 apud AZEVEDO, 2011, p. 25). 2.7.5 Hidrólise Ácida Após serem feitos os processos de pré-tratamento e branqueamento, a biomassa é geralmente submetida por mais um processo de purificação da celulose, com o intuito de despolimerizar o material e aumentar sua cristalinidade, isolando as partículas nanocristalinas de interesse. (BOHÓRQUEZ, 2017). 46 O QUADRO 3 traz algumas perspectivas de alguns métodos passíveis de serem utilizados na produção da nanocelulose. QUADRO 3 - COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA OBTENÇÃO DA NANOCELULOSE Métodos Vantagens Desvantagens Métodos Químicos Geral Maior rendimento, preservação da cristalinidade da molécula, maior grau de pureza na nanocelulose Processos com menos etapas quando comparados aos métodos mecânicos. Hidrólise ácida Valorização das nanoestruturas cristalinas da celulose. Processo com menor rendimento, mais poluente, tóxico e corrosivo, feito em condições mais extremas. Hidrólise enzimática Especificidade de ação, menos problemas associados à corrosão de reatores, poluição, menor custo com energia elétrica são e baixa toxicidade. Processo mais lento e menos econômico por conta do custo das enzimas envolvidas. Cristalinidade do material. Proteção da Lignina e as configurações espaciais do complexo celulose-hemicelulose- lignina. Processo lento e pouco econômico Métodos Mecânicos Nenhuma vantagem que se sobressai de acordo com a proposta pelo trabalho em questão. Alto custo energético, necessidade de manutenção frequente dos equipamentos, pode danificar a cristalinidade final da nanocelulose cristalina, exige tratamentos prévios. FONTE: Adaptado de CRUZ (2017); KIRACZ (2018). Conforme exposto no QUADRO 3 , os métodos químicos se sobressaem em detrimento dos mecânicos. Levando em consideração, ainda, fatores como tempo de reação, custo geral e qualidade do produto final, destaca-se a hidrólise ácida. Esse é um processo já muito utilizado e estabelecido na indústria da nanocelulose. (LEE et al., 2014 apud BOHÓRQUEZ, 2017). 47 De acordo com Lacerda (2012 apud CRUZ, 2017), os principais ácidos empregados no processo de hidrólise ácida de biomassa celulósica são: ácido sulfúrico, ácido clorídrico, ácido fosfórico, ácido fórmico e ácido oxálico. Segundo Pereira et al. (2010), “o ácido sulfúrico é comumente utilizado na hidrólise ácida, pois gera uma solução coloidal estável, provocada pela repulsão eletrostática entre os nanocristais, causada pela carga superficial negativa obtida da substituição dos grupos hidroxila por grupos sulfatos esterificados, após hidrólise”. (PEREIRA et al., 2010, p. 43). Normalmente essa substância é utilizada em concentrações de 64 % (v.v-1) a 45°C. (BOHÓRQUEZ, 2018). Tendo em vista as desvantagens citadas na QUADRO 3 em relação à corrosão e toxidade do componente ácido, e, com base nos estudos feitos por Bohórquez (2017), a utilização dessa substância em quantidades de 5 a 10% (m.v-1), caracterizando um processo de hidrólise moderada, não fez necessário o pré-tratamento com ácido clorídrico (HCl) para remoção de pectina proposto anteriormente em seu estudo, o que também auxilia a contornar os pontos negativos do processo original citado anteriormente. 2.7.6 Lavagem Com base nos estudos de Hahmann e Silva (2020), após a hidrólise ácida terá sequência a lavagem da solução obtida, com o objetivo de interromper a reação química da biomassa celulósica com o ácido sulfúrico (H2SO4) e reduzir o pH do sistema – recuperando o ácido diluído em questão – para que não haja corrosão dos equipamentos das próximas etapas com que o produto terá contato. 2.7.7 Centrifugação O processo de centrifugação se trata do método de separação utilizado para sedimentar sólidos em líquidos, ou líquidos imiscíveis com diferentes densidades, por meio da força centrífuga gerada pela rotação da amostra desejada. (FILHO,
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