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TCC HEBERT DA SILVA LEMOS Especialista em Direito Penal e Processo Penal

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
FAVENI
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE GÊNERO DURANTE A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, NO ANO DE 2020
HEBERT DA SILVIA LEMOS
SANTO ANTONIO DE JESUS - BAHIA
2022
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
 NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO 
FAVENI
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE GÊNERO DURANTE A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, NO ANO DE 2020
Artigo científico apresentado à Faculdade Venda Nova do Imigrante - FAVENI como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Direito Penal e Processo Penal.
SANTO ANTONIO DE JESUS - BAHIA
2022
RESUMO: O isolamento social, medida sanitária exigida para conter a pandemia do novo Coronavírus, mudou a rotina das famílias devido às atividades serem desenvolvidas em casa. Essa alteração na rotina familiar aumentou a vulnerabilidade da mulher, deixando-a mais suscetível à violência doméstica, que em sua maioria, é causada pelo próprio companheiro da vítima. Assim, este trabalho objetiva, dentre outros, o índice de casos e possíveis causas de violência contra a mulher durante a pandemia do novo Coronavírus no ano de 2020. A metodologia adotada para o desenvolvimento desta pesquisa foi uma abordagem quantitativa, estrutural e pontual, empregando-se a técnica dedutiva orientada pelo resultado. Os dados de registros de ocorrência envolvendo vítimas mulheres no período de 2009 a 2021, foram fornecidas via e-mail pela Diretoria de Inteligente da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso, possibilitando assim sua análise. Ademais, foi realizado o levantamento bibliográfico, sistematizado e documental a partir de revistas científicas, website/repositório, livros e notas técnicas. Os resultados mostram que o isolamento social influenciou o número de denúncias de violência doméstica contra a mulher, aumentando significativamente as ocorrências que remetem a maior facilidade de encontrar a vítima, visto a necessidade do isolamento social, enquanto outras denúncias de maior registro em 2019 apresentaram queda. Entretanto, essas alterações podem ser em razão da natureza das ocorrências ou pelo fato de as vítimas não conseguirem realizar a denúncia pelos meios eletrônicos pelo maior tempo de convivência com o agressor, ou se deslocar até a delegacia. Esses resultados demonstram a necessidade de realizar mais estudos de acompanhamento dos registros e meios de suporte a essas mulheres vítimas em violência no município de Cáceres-MT. 
PALAVRAS-CHAVE: Isolamento social. Violência contra à mulher. Políticas públicas. Rede de apoio. 
1 INTRODUÇÃO 
	O cenário pandêmico ocasionado pelo novo coronavírus (Covid-19), decretado desde março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), gerou uma série de impactos negativos na economia e sociedade. O isolamento social, medida exigida como contenção no avanço dos casos, mudou a rotina das famílias devido aos trabalhos e aulas serem desenvolvidos em caráter home-office. 
	Esse maior tempo de convivência, somado a fatores financeiros e situações de estresse pela incerteza da pandemia, possivelmente favoreceu o aumento nos casos de violência doméstica nos primeiros meses de isolamento social no mundo todo. Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apontam que durante o ano de 2020 foram registradas 105.671 denúncias de violência contra a mulher. 
A violência doméstica contra a mulher é um problema social e de saúde pública, pois além da frequência e magnitude, afeta a saúde física, mental, sexual e reprodutiva das mulheres. Em sua maioria, a violência doméstica ocorre em casa e tem como principal agressor o companheiro, sem levar em conta nacionalidade, cultura, etnia, religião, classe social e escolaridade, contudo, o fator social e nível escolar são condições que parecem levar ao aumento de casos de violência. 
O aumento nas denúncias pode ser resposta das mulheres frente a rotina de violência, conscientização da sociedade em geral e pelo aumento de redes de apoio criadas tanto por lei quanto por movimentos sociais, ainda que o número de mulheres que sofrem por falta de acesso a informação e recursos seja grande. Os movimentos sociais para resistência e enfretamento a violência contra as mulheres tem crescido substancialmente como forma de mudar o papel “passivo” destas frente a sociedade por vezes machista. 
A legislação, assim como os movimentos sociais, tem evoluído e melhorado os meios de denúncias desde a criação da Lei Maria da Penha (11.340/2006). Contudo, mesmo com os avanços há falhas no sistema, e o número de denúncias de agressão de quaisquer natureza e homicídio de mulheres segue aumentando, demonstrando a necessidade de melhorias na construção legal e social de igualdade. 
O enfrentamento à violência contra a mulher no cenário pandêmico precisa ampliar seus esforços por meio de linhas diretas de prevenção e resposta à violência, divulgação a toda população dos serviços disponíveis e o fortalecimento das redes de apoio, e embora não façam parte de muitas tomadas de decisão, as mulheres são maioria da população brasileira a desempenhar papel no setor de saúde estando na linha de frente durante a pandemia.
O problema da pesquisa definido é demonstrar quais os índices de violência doméstica registrados na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher (DEDM), e quais os fatores que contribuem para a violência doméstica de gênero em tempos de pandemia. A metodologia adotada para o desenvolvimento desta pesquisa foi uma abordagem quantitativa, estrutural e pontual, empregando-se a técnica dedutiva orientada pelo resultado. 
Devido ao período pandêmico, não foi possível proceder com a entrevista pessoal à delegada responsável pela DEDM, entretanto, os dados de registros de ocorrência envolvendo vítimas mulheres no período de 2009 a 2021, foram fornecidas via e-mail pela Diretoria de Inteligente da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso, possibilitando assim sua análise. 
Tal documento foi um importante suporte para reforçar a discussão com os dados do ano de interesse, fortalecendo a discussão dos possíveis fatores que desencadeiam a violência doméstica contra a mulher. Ademais, foi realizado o levantamento bibliográfico, sistematizado e documental a partir de revistas científicas, website/repositório, livros e notas técnicas. 
Nesse cenário, o presente estudo se propõe a estudar o índice de casos e possíveis causas de violência contra a mulher durante a pandemia do novo Coronavírus no ano de 2020, tratando num primeiro momento do contexto histórico e conceitual da violência contra mulher, em seguida abordando os impactos da pandemia do Covid-19 sobre a violência contra a mulher durante o ano de 2020, até desembocar na reflexão crítica a partir da análise dos dados colhidos.
2 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: CONTEXTO HISTÓRICO E CONCEITUAL DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
2.1 Contextualização histórica
As mulheres passaram a ocupar efetividade postos no mercado de trabalho com o advento da Revolução Industrial no XIX, assumindo, principalmente, empregos de manufatura. A partir daí começa sua ascensão para a esfera pública, desencadeando também os primeiros movimentos feministas e a concepção do termo gênero. 
A partir desse período a mulher passou a ter mais autonomia financeira e ajudar no sustento da casa, apesar de ganhar um salário inferior ao homem, ou por vezes sendo a única a manter toda a família (PINAFI, 2007). Contudo, as mulheres percorreram, e ainda percorrem, um longo e árduo caminho até esse reconhecimento na esfera social.
Os primeiros registros de hierarquização e subordinação da mulher em relação ao homem possui cerca de dois mil e quinhentos anos, e foram descritos pelo filósofo Filon de Alexandria que afirmava que a mulher, que não tinha direitos jurídicos e acesso à educação, possuía intelecto e alma inferiores ao homem, no Brasil apenas no ano de 1962 a mulher passou a ser considerada apta para algumas atividades (ANDRADE, 2009, p. 16; CAMPOS e CORRÊA, 2007, p. 99). 
A visãomachista e hierárquica de que, o homem era detentor absoluto dos direitos e da vida da mulher, associada a ideia de supremacia do filósofo anteriormente citado, tornou essa concepção parte da cultura de subordinação que ainda segue até os dias atuais (PINAFI, 2007). 
A definição do tema “violência contra a mulher” ocorreu em meados da década de 70 por meio de iniciativas feministas que deram início a luta por uma vida sem violência e pelos direitos das mulheres (CASTRO; SILVA, 2017, p. 62). 
Contudo, desde o Império Romano o homem demonstrava seu autoritarismo por meio da violência com a mulher, ações que eram vistas como normais na época. A partir de 1980, as iniciativas e mobilizações resultaram nas primeiras denúncias de agressões de violência contra a mulher, que desde então passou a ser tratada como violência doméstica pelas agressões serem cometidas pelos companheiros das vítimas (DEBERT; GREGORI, 1985, p. 168). 
No ano de 1979, a relevância dos movimentos feministas no mundo todo, originou a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, e no ano de 1981 o Brasil, com algumas reservas quanto aos direitos civis, se juntou à Convenção. Entre as décadas de 80 e 90 houveram alguns avanços quanto aos direitos e proteção às mulheres como a lei da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher, apesar da resistência encontrada por parte de algumas instituições brasileiras frente aos movimentos feministas, principalmente pelo fato de ainda ser um período marcado pela ditadura militar (SANTOS; WITECK, 2016). 
As mulheres confrontavam o autoritarismo político com o intuito de abolirem as situações de tortura as quais elas e seus filhos eram expostos (SARTI, 2004, p. 36).
A violência doméstica nunca é apenas contra a mulher, pois tem o poder de afetar toda a família, principalmente os filhos que podem desenvolver transtornos emocionais e comportamentais, ampliando os impactos da violência para problemas sociais e de saúde pública (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). 
A repercussão com que o tema tem sido tratado nos últimos anos, tem intensificado a criação de órgãos e programas de apoio como: Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Conselhos Estaduais e Municipais da Condição Feminina, Delegacias de Defesa da Mulher e o SOS Mulher e demais Serviços de Atendimento a Mulheres Vítimas de Violência, que em sua maioria são extensões de organizações não governamentais desenvolvidas por outras mulheres que buscam por políticas públicas de proteção a mulher (ARAÚJO, 2008, p. 2).
O impacto causado pelos programas e o avanço nos estudos ocasionaram, na década de 90, a mudança no termo de violência contra a mulher para violência de gênero, já que crianças e adolescentes também eram vítimas de violência (SAFFIOTI; ALMEIDA, 1995, p. 34). A violência de gênero engloba diferentes classes, raças e formas de violência, e demonstra o “poder” patriarcal que pode envolver violência para impor domínio e controle no ambiente familiar (ARAÚJO, 2008, p. 2). 
Apesar de toda a evolução tecnológica e acesso a meios de comunicação e cultura, percebemos que os costumes antigos, ainda estão impregnados na mente e no dia a dia da família brasileira, e por mais que conceitos como o “patriarcado” tendem a perder força, ainda é uma realidade da vida de milhares de famílias. 
As mulheres conquistaram mais visibilidade, no mercado de trabalho, nas universidades, porém, as mulheres ainda são vulneráveis e precisam da proteção constante do Estado para garantir seus direitos e serem protegidas. 
2.2 Violência Doméstica de Gênero contra a mulher
A violência contra a mulher é um problema que atinge diferentes classes sociais, faixa etária, escolaridade, religião, e em sua maioria, se inicia com violência psicológica (ameaças, enganos, coação), seguem para violência física até casos de feminicídio. Fonseca et al. (2012, p. 308) aponta que a violência pode estar associada a problemas variados, complexos e viola os direitos humanos. 
Considerada mundialmente um problema social, de saúde e histórico, a violência contra mulher foi normalizada por muitos séculos devido a misoginia instituída na concepção das sociedades (ENGEL, 2020, p. 171). 
Uma a cada três mulheres estão vulneráveis a sucessivas ameaças e agressões física e/ou sexual praticada pelo próprio parceiro, por conhecidos, amigos ou estranhos, e grande parte dessas mulheres permanecem nesses relacionamentos coagidas emocionalmente e/ou financeiramente, potencializando esse ciclo abusivo (PINTO, 2008, p. 30; GARCIA-MORENO et al., 2015, p. 1267). 
O elevado número se dá por características culturais e questões sociais devido a mulher, historicamente, ter uma relação de inferioridade frente ao homem (RIBEIRO; COUTINHO, 2011, p. 52). Assim, pode-se compreender que a violência doméstica está intimamente ligada à ideologia de gênero.
Na construção social do feminino e do masculino atribuiu-se diferentes escalas de poder para o homem e para a mulher, sendo que o masculino ocupou um lugar privilegiado e de destacado poder, em detrimento da desvalorização e subalternidade feminina (CARNEIRO et. al; 2012, p.372).
O aumento de casos colocou a violência doméstica entre as prioridades da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1996 (SOUSA, et al., 2013, p. 426). Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) mostram o Brasil em quinto lugar de casos de feminicídio no mundo, atrás de países como: El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Saffioti (1994, p. 454), salienta que “o fenômeno da violência é transversal à sociedade, ignorando fronteiras de classe social e de raça/etnia, mesmo que as classes mais abastadas dispõem de recursos políticos e econômicos, para ocultar a violência doméstica.
[...] a chamada violência doméstica não é privilégio das classes populares, como a ideologia dominante quer fazer crer. Ao contrário, certos tipos específicos de violência que ocorrem na família, no "lar, doce lar", ocorrem com uma incidência maior nas camadas sociais médias e altas, como, por exemplo, de abusos sexuais contra crianças. (SILVA, 1992, p. 67).
Os avanços legislativos foram tímidos com relação aos direitos femininos até a promulgação da Constituição de 1988. Ainda assim, as leis brasileiras até o ano de 1995, consideravam a violência contra a mulher um crime de "menor potencial ofensivo" com período de detenção de no máximo um ano para o agressor. 
A partir desse ano, com a promulgação da Lei 9.099/95, esperava-se que houvesse maior punição e apoio e proteção à mulher, entretanto, houve uma flexibilização nas penas e na responsabilidade do agressor, o que não encorajava a denúncia e consolidava o ciclo abusivo (ARAÚJO, 2008, p. 4).
A violência contra a mulher traz consequências biológicas, psicológicas, morais e sociais que impactam de diversas formas a sociedade (CASTRO; SILVA, 2017, p. 60). 
No Brasil, a violência contra a mulher se tornou um problema de saúde pública, e dados do Mapa da Violência (2018, p. 53), mostra que desde a sanção da lei do feminicídio (Lei 13.104 / 2015) foram registrados 15.925 casos no país, ocorreram em casa praticados por seus parceiros, sejam marido ou namorado, atual ou ex. 
A repercussão dos casos em meios de comunicação e o suporte social e legal contra a violência doméstica colaborou para a criação e sanção da Lei nº 11.340. A implementação dessa lei culminou na formação de mais de 300 delegacias especializadas e unidades de apoio à mulher vítima e a seus filhos com o propósito de prevenir e cessar os casos de violência (DEBERT; OLIVEIRA, 2007, p.; FONSECA et al., 2012, p. 309). 
Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública de Mato Grosso – SESP/MT, a violência doméstica contra a mulher lidera as ocorrências no estado.
2.3 Da Lei n. 11.340/2006 e o avanço às medidas protetivas 
Dentre as conquistas históricas para a violência contra a mulher, no parágrafo 8º do artigo 226 da Constituição Federal está a lei n. 11.340/2006 popularmente difundida comoLei Maria da Penha. Esta lei foi criada com o objetivo de aumentar o rigor das punições às agressões contra as mulheres no âmbito doméstico ou familiar assegurando que: “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial” devem ser respaldados pela mesma. Porém, mesmo toda intolerância descrita na lei não é fator suficientemente intimidante e/ou inibidores para os agressores, e os registros de violência contra a mulher crescem exponencialmente pelo país. 
A própria Lei n° 11.340, que rege os mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, define os tipos de violência, delimitando cinco domínios, a saber: físico, patrimonial, sexual, moral e psicológico. A Violência física implica ferir e causar danos ao corpo e é caracterizada por tapas, empurrões, chutes, murros, perfurações, queimaduras, tiros, dentre outros; Violência patrimonial refere-se à destruição de bens materiais, objetos, documentos de outrem; Violência sexual, entre outros tipos de manifestação, ocorre quando o agressor obriga a vítima, por meio de conduta que a constranja, a presenciar, manter ou a participar de relação sexual não desejada; Violência moral constitui qualquer conduta que caracterize calúnia, difamação ou injúria e a Violência psicológica ou emocional é a mais silenciosa, deixando marcas profundas, por não ter um caráter momentâneo e ter efeito cumulativo, sendo caracterizada por qualquer conduta que resulte em dano emocional como a diminuição da autoestima, coação, humilhações, imposições, jogos de poder, desvalorização, xingamentos, gritos, desprezo, desrespeito, enfim, todas as ações que caracterizem transgressão dos valores morais (FONSECA, 2012, p.308).
Para Rocha (2010, p. 15), “as mulheres fazem parte de um dos grupos que sofrem com a discriminação por ser considerado minoritário e frágil, sendo esta uma forma de violência, a qual emerge do preconceito de uma sociedade que violenta a mulher”. 
E Silva (1992, p. 67) assinala que “o silêncio que decorre do aprisionamento das vítimas entre as quatro paredes da relação "doméstica" pode ser um dos responsáveis pela gravidade de muitos crimes contra a mulher”.
Nesse sentido, quando a violência é presenciada ou levada ao conhecimento de alguém, ocorre a cumplicidade com o agressor e a omissão perante a mulher: "Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Frequentemente, não só os familiares e pessoas de relações da mulher não querem meter a colher, como também os próprios agentes da lei" (SILVA, 1992, p. 67).
Para Ribeiro e Coutinho (2011, p. 53), “a violência doméstica contra a mulher atinge repercussões em vários aspectos da sua vida, no trabalho, nas relações sociais e na saúde física e psicológica”. Ainda segundo os autores, na América Latina, “a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres, uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência”.
A Lei n. 11.340/2006 prevê que os juizados poderão contar com uma equipe multidisciplinar composta por uma rede de profissionais das áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Nas comarcas onde esses ainda não tenham sido criados, os crimes devem ser julgados nas varas criminais. A lei também proíbe a aplicação de penas pecuniárias e pagamentos de cestas básicas (CARNEIRO, 2012, p.378).
As normas programáticas estabelecidas na Lei Maria da Penha visam ao resguardo da mulher vítima de violência doméstica de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Parafraseando o autor supramencionado; “a legislação específica delimita a violência praticada contra as mulheres, bem como estabelece a criação de juizados especializados para o julgamento dos crimes nela previstos”.
Corrêa (2010) explica que “a Lei Maria da Penha marca o início de um novo tempo, pois transformou os casos envolvendo vítimas de violência, uma vez que antes eram tratados pelo direito penal como irrelevantes, e enquadravam em crimes de menor potencial ofensivo”, contudo é passível de críticas e entendimentos diversos sobre sua aplicabilidade e constitucionalidade”. 
É fato que a Lei institui uma nova norma jurídica na vida da vítima de violência doméstica. No entanto, é cabível salientar que muitas mulheres desconhecem as garantias advindas com a Lei n. 11.340/2006. Uma vez que os efeitos da violência doméstica são devastadores na vida da mulher, é imperativo que o Estado assegure mecanismos de proteção à mesma.
Apesar dos avanços de políticas públicas e das penas mais rígidas contra os agentes que praticam a violência contra a mulher, nós podemos ver que ainda há muitos casos de violência, que inclusive, se intensificaram durante o período da pandemia, onde as mulheres estiveram expostas a convivência quase que integral com os parceiros. 
Ou seja, mesmo com todo o avanço no sentido de endurecer as penas e buscando proteção, as mulheres continuam sendo agredidas por seus parceiros no âmbito doméstico. 
3 DA PANDEMIA E OS IMPACTOS NA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO ANO DE 2020 
3.1 Impactos da pandemia do covid-19 no Brasil
A violência contra mulher é considerada um crime e grave violação de direitos humanos que segue em exponencial crescimento, e se tornando um problema de saúde pública cada vez mais maior, pois as mulheres vítimas de violência estão mais propensas a utilizar frequentemente os serviços de saúde pública (PAZ et al., 2019, p. 8). 
Dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres apontam que 71% dos milhares de casos apresentam alta frequência diária e semanal, sendo 51,06% agressões físicas e 31,10% de violência psicológica (ALVES; OLIVEIRA, 2017, p. 65), e esses números que já eram elevados foram fortemente influenciados pelo cenário pandêmico no ano de 2020. 
No ano de 2019, 62% das vítimas de violência domésticas foram mulheres negras, seguidas por mulheres brancas (38,5%), indígenas (0,3%) e amarelas (0,2%) (BRASIL, 2019, p. 112).
A mudança na rotina das famílias no Brasil e no mundo ocasionada pela pandemia do Covid-19 indiretamente favoreceu o aumento exponencial das denúncias de violência contra a mulher, contudo, estes dados podem estar refletindo no crescimento de busca de apoio e proteção por parte da vítima. 
No Brasil, os casos de violência contra a mulher no ano de 2020 cresceram 22,2% em relação a 2019, e 37,6% entre os dois primeiros meses de isolamento social, contudo, os registros de lesão corporal reduziram significativamente, com o estado do Maranhão retendo 97,3% de redução, os estados do Rio de Janeiro e Pará reduziram 48,5% e 47,8%. 
O Estado do Rio Grande do Norte foi o único a apresentar crescimento no número de registros no primeiro mês e queda de 57,7% em abril, nesse mês as medidas de isolamento social já estavam em vigência. Os registros de estupro também apresentaram queda no país, o que pode indicar dificuldade no acesso à delegacia devido as medidas de contenção (FBSP, 2020, p. 11). 
O único estado a não apresentar queda nas denúncias foi o Rio Grande do Norte. Ceará, Acre e Mato Grosso, são os estados que apresentaram maior redução nos registros com 29,1%; 28,6% e 21,9% respectivamente. 
Para o estado de Mato Grosso os dados demonstram que de 100% das denúncias registradas no primeiro ano de pandemia, 62% ocorreram em casa, 31% dessas mulheres se denominaram pardas ou pretas, e que apenas 28% tem 2º grau e/ou formação superior. 
No primeiro semestre de 2020 foi registrada queda de 12,3% nas denúncias, porém, houve aumento de 79% no feminicídio nos primeiros seis meses de 2020 no estado. A redução nas denúncias pode ter sido condicionada pela restrição nos horários de atendimento nas delegacias, dificultando assim o acesso e indiretamente silenciando a vítima (SESP, 2021, p. 13). 
Desde o registro do primeiro caso do novo coronavírus (Covid-19) em dezembro de 2019 na China até o dia 8 de abril de 2020, o Brasil já registrava a confirmação de 15.927 casos e 800 mortes pelo vírus (Ministérioda Saúde, 2020). 
Dentre as medidas de contenção orientadas, o isolamento e o distanciamento social foram ditas como umas das medidas mais efetivas (HELLEWELL et al., 2020, p. 488), contudo, essa mudança brusca na rotina repercutiu negativamente na economia e na vida cotidiana da maioria das famílias brasileiras.
A maior frequência de trabalhos realizados em caráter home office devido a pandemia foi um dos fatores que favoreceu o aumento da violência doméstica contra as mulheres no mundo todo (MARQUES et al., 2020, p. 3). 
No Brasil, os órgãos de defesa e segurança pública registraram 105.821 denúncias, contabilizando um aumento da violência contra a mulher já na primeira semana de isolamento social, com os estados do Rio de Janeiro, Paraná, Ceará, Pernambuco e São Paulo com os maiores registros (Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh/paineldedadosdaondh. Acesso em: 03 de junho de 2021).
Um dos fatores citados como responsáveis pelo aumento da violência doméstica contra a mulher é a participação mais ativa do companheiro em atividades conduzidas pela mulher, pois este pode interpretar a condução da mulher como ofensiva para seu ego e autoridade, sendo isto um estímulo necessário para o início das agressões (VIEIRA et al., 2020, p. 3). 
A mudança na rotina social, o aumento de situações de estresse pelo medo de adoecer e condição financeira também estão entre as razões para o aumento da violência (MARQUES et al., 2020, p. 2; ROESCH et al., 2020, p. 1; Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP, 2020, p.11).
Outro fator a ser analisado é a limitação do acesso as instituições de serviço público e social em decorrência da pandemia. Consequentemente, esse fator também reduziu a busca por ajuda e proteção aos mais variados locais que antes poderiam contribuir para a redução da violência doméstica, reprimindo até a busca nos sistemas de saúde visto a prioridade no atendimento aos pacientes acometidos pelo vírus (MARQUES et al., 2020, p. 2). 
Dados da OMS demonstraram que no mundo todo houve uma queda nas denúncias apontando que além da maior suscetibilidade ao agressor, pela presença constante do mesmo, também aumentou o medo de registrar a queixa, então a alta já registrada apesar de significativa, pode ser apenas uma pequena porcentagem de todos os casos de violência doméstica de gênero. 
Confirmando os dados do FBSP realizado entre os meses de abril a junho de 2020, o
Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicou uma análise comparativa dos registros de violência contra a mulher entre os primeiros semestres de 2019 e 2020, e mostrou uma drástica redução nas denúncias, exceto em casos de óbito que apontou crescimento. 
	O relatório do FBSP de 2021 divulgou que uma a cada quatro mulheres, aproximadamente 17 milhões, maiores de 16 anos sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses de pandemia. 
	A violência de gênero ainda é uma realidade silenciada, e ultrapassa classe econômica, religião e país. No Brasil, transcende a pandemia e se torna um problema social e de saúde pública ainda maior. Segundo Lima e Macedo (2020, p. 3) “A violência doméstica é silenciosa, é invisível, e a vergonha é uma questão ainda muito presente... é cultural”. 
E também debatem acerca da necessidade de aprimorar medidas legais para conter essa crescente violência, especialmente durante a pandemia. 
	Ante o agravamento da violência doméstica de gênero contra a mulher no período pandêmico a juíza Henriqueta Fernanda Lima apontou, no encontro virtual do CONPEDI (2020), como esses tempos de isolamento involuntário foi fator que contribuiu para o aumento da vulnerabilidade da mulher nas relações de âmbito doméstico, causando assim maiores índices de registro de agressões. 
	Nota-se a partir deste estudo que segundo dados da OMS o aumento foi significativo nas denúncias de violência doméstica ainda no primeiro ano da pandemia. 
3.2 Registros de violência doméstica de gênero no ano de 2020 em 
Tabela 1. Relação dos registros de ocorrências (crescimento e queda) com mulheres acima de 18 anos, crimes no âmbito da Lei 11.340/2006, no município de Cáceres durante os anos de 2019 e 2020 na pandemia do novo Coronavírus (Covid-19).
	OCORRÊNCIAS
	2019
	2020
	REDUÇÃO OU AUMENTO
	ART. 24-A. DESCUMPRIR DECISÃO JUDICIAL QUE OFERECE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA PREVISTA NESTA LEI
	1
	47
	4.600%
	SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO
	8
	20
	150%
	IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - ART. 215-A. PRATICAR CONTRA ALGUÉM E SEM A SUA ANUÊNCIA ATO LIBIDINOSO COM O OBJETIVO DE SATISFAZER A PRÓPRIA LASCÍVIA OU A DE TERCEIRO
	-
	10
	100%
	ASSÉDIO SEXUAL
	4
	8
	 100%
	VIAS DE FATO
	17
	32
	88,3%
	ESTUPRO
	10
	15
	50%
	VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
	16
	21
	31,3%
	DANO
	72
	79
	9,73%
	ESTUPRO DE VULNERÁVEL
	4
	5
	7,7%
	MAUS TRATOS
	13
	14
	7,7%
	ATO OBSCENO
	1
	3
	 -300%
	INJÚRIA REAL 
	1
	3
	-300%
	INJÚRIA MEDIANTE PRECONCEITO 
	-
	2
	-100%
	FEMINICÍDIO (CONSUMADO)
	-
	1
	-100%
	HOMICÍDIO DOLOSO (TENTADO)
	6
	3
	-50
%
	HOMICÍDIO DOLOSO (CONSUMADO)
	3
	2
	-33,9%
	PERTURBAÇÃO DA TRANQUILIDADE
	39
	31
	-20,52%
	INJÚRIA
	229
	190
	-17,05%
	AMEAÇA
	756
	646
	-14,82%
	CALÚNIA
	68
	60
	-11,77%
	LESÃO CORPORAL
	410
	367
	-10,49%
	DIFAMAÇÃO
	65
	63
	-3,08%
	PRATICAR, INDUZIR OU INCITAR A DISCRIMINAÇÃO OU PRECONCEITO DE RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO OU PROCEDÊNCIA NACIONAL 
	1
	-
	0
	ART. 216-B. PRODUZIR, FOTOGRAFAR, FILMAR OU REGISTRAR, POR QUALQUER MEIO, CONTEÚDO COM CENA DE NUDEZ OU ATO SEXUAL OU LIBIDINOSO DE CARÁTER ÍNTIMO E PRIVADO SEM AUTORIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES.
	1
	-
	0
	TOTAL GERAL 
	1726
	1623
	5,97%
Fonte: SROP PJCMT/PMMT.
Sebaldeli et al. (2021), em uma análise realizada nos órgãos de defesa da mulher no município de Cáceres, apontaram que 296 mulheres sofreram algum tipo de violência, e os casos de lesão corporal tiveram o maior percentual (57,4%). Durante o primeiro ano de pandemia, ocorrências dessa natureza tiveram queda de 10,49%. Para o município de Embu (SP) mesmo sem a condição de isolamento social, os casos de violência grave aumentaram 33% (BRUSCHI et al., 2006).
Ora, as políticas públicas têm a função de garantir a mulher a integridade psicológica e física e tem sido tem sido ágil em casos de desrespeito a estas condições. A breve análise dos dados acima mencionados, demonstra que o aumento das denúncias reflete a determinação de mulheres frente as constantes agressões as quais diariamente são submetidas. 
Conforme aponta o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), organização não-governamental de cooperação técnica na área de segurança pública, desde a promulgação da Lei Maria da Penha, outras ações como medidas protetivas de urgência foram criadas a fim de reduzir os casos de violência doméstica (FBSP, 2021).
	Dados dos Tribunais de Justiça dos estados brasileiros apontaram oscilações nas solicitações e concessões dessas medidas durante o mês de março de 2020. Mesmo com o fácil acesso e meios de denúncias, algumas vítimas ainda padecem tanto por condições financeiras, deslocamento até uma delegacia, que durante a pandemia reduziu drasticamente o atendimento ao público físico, quanto por fatores de pressão psicológica (FBSP, 2020). As agressões são agravadas pelo maior tempo de convivência e outros fatores sociais anteriormente abordados.
	Vieira et al. (2020, p. 4) pontua a necessidade de ampliar o atendimento as mulheres por meio do “aumento de equipes nas linhas diretas de prevenção e resposta à violência, na ampla divulgação dos serviços disponíveis, capacitação dos trabalhadores da saúde para identificar situações de risco, e a expansão e o fortalecimento das redes de apoio e abrigos para mulheres sobreviventes”.
Em uma sociedade que proclama a ociosidade feminina e que valoriza na mulher apenas a sua faceta de companheira e mãe verifica-se a importância que o trabalho assume na existência das mulheres, através do trabalho doméstico e extra doméstico, na conciliação das duas esferas, por meio da dupla jornada, o que é em sua grande maioria fator desencadeante da violência e discriminação,tendo em vista ainda a convicção social de que a mulher não pode ser superior ao homem em nenhum quesito. 
Infere-se que é preciso erradicar todas as formas de violência contra a mulher que, ainda hoje, sofre com a violência silenciosa praticada na esfera doméstica. 
A Sociedade por não deixar intimidar-se ao envolvimento no crime, não expressa qualquer tipo de atitude, sendo que não sabem que a denúncia é anônima. 
Atualmente existe a Delegacia de Defesa da Mulher que recebe todas as queixas de violência contra as mulheres e passam a investigar e punir os seus agressores. Em toda a Polícia Civil, o registro das ocorrências, ou seja, a queixa é efetuada de um Boletim de Ocorrência (documento essencialmente informativo) com todos os dados sobre o ocorrido com a finalidade de instruir a autoridade policial sobre qual a tipicidade penal e o modo de proceder durante as investigações.
Toda a mulher violentada física ou moralmente, precisa ter a coragem para denunciar o agressor, pois agindo assim ela está se protegendo contra futuras agressões, e incentivando outras mulheres fazer a mesma atitude.
Afinal, enquanto houver a ocultação do crime sofrido, não possível encontrar soluções para o problema. É necessário que toda a população reconheça que a violência contra a mulher é um atentado aos Direitos Humanos, um obstáculo ao desenvolvimento e à consolidação plena da democracia no Brasil.
4 CONCLUSÃO 
	Percebemos que todo o contexto histórico e cultural levou a sociedade brasileira a adquirir costumes machistas e patriarcais, desvalorizado a mulher como pessoa. Nesse cenário a mulher se tornou vulnerável, na medida que esse contexto influenciou na vida profissional, na política e financeiramente. Sendo assim, por mais que políticas públicas e medidas de enfrentamento a violência doméstica tenham avançado, ainda é registrado inúmeros casos de violência contra mulheres, que se estendem a todas as classes sociais. 
	O isolamento social foi uma medida de contenção efetiva para minimizar os efeitos da COVID-19, contudo, foi desfavorável quanto ao enfrentamento à violência contra a mulher. Vimos que o aumento nos casos de violência doméstica registrado foi tímido se enfrentarmos toda a problemática de vítima e agressor ficarem no mesmo ambiente por mais tempo, além dos estresses que a própria pandemia ocasionou em relação a saúde e finanças. 
No cenário pandêmico faz-se necessário ampliar os esforços por meio de linhas diretas de prevenção e resposta à violência, divulgação a toda população dos serviços disponíveis e o fortalecimento das redes de apoio, e embora não façam parte de muitas tomadas de decisão, as mulheres são maioria da população brasileira a desempenhar papel no setor de saúde estando na linha de frente durante a pandemia.
	Os registros obtidos quanto os casos envolvendo violência de gênero em Cáceres-MT, apontam que houve aumentos significativos nos casos de descumprimento de medidas protetivas de urgência. 
	Noutro norte houve queda de registros de denúncias, mas ainda assim, mais metade das ocorrências foram por lesão corporal. Importante observar que a queda em denúncias não sugere que a violência tenha diminuído, mas sim que as vítimas tiveram maior dificuldade em denunciar e buscar proteção devido as restrições imposta pela pandemia. 
Todas as estratégias sociais e legais são fundamentais para a luta que ainda é a violência doméstica e familiar, considerando ainda que a violência contra a mulher se apresenta em diversas formas e etapas de sua vida reitera-se a importância de estratégias preventivas e voltadas na igualdade de gênero, e assim subsidiar o âmbito jurídico a tomar medidas protetivas de maior eficácia. 
Portanto, todo o contexto histórico e cultural em que as mulheres foram submetidas ao longo de toda a história, assim como as imposições do patriarcado fizeram com que a violência de gênero contra a mulher se tornasse comum em todas as classes sociais. Por isso, as leis de enfrentamento a violência doméstica e de gênero são essenciais para a proteção das vítimas e coibição da violência, principalmente quando se utiliza das medidas protetivas de urgência.
Contudo, a realidade trazida pela pandemia, trouxe-nos dados de que a violência contra a mulher persistiu, ou pior, agravou-se, um exemplo é a cidade de Cáceres, objeto do presente estudo, onde os dados indicam que por mais que não houve aumento percentual nas ocorrências em geral, ocorreu um aumento significativo no descumprimento de medidas protetivas e aumento de casos de lesão corporal, indicando que o isolamento trazido pela pandemia expôs ainda mais a vulnerabilidade da mulher no âmbito doméstico. 
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