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A Psicologia Pré-Científica

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A PSICOLOGIA PRÉ-CIENTÍFICA
Certamente a psicologia existiu desde o princípio da humanidade. Numa busca incessante pelo consolo e pelo conforto, os primeiros indivíduos certamente forneciam serviços de natureza psicológica aos seus companheiros. Chamados de curandeiros, bruxos, magos, videntes, seus ofícios envolviam uma combinação de medicina, religião e psicologia, tornando-os então numa espécie de ícone de poder. Com o passar do tempo, houve a especialização, levando à separação dessas ciências. Contudo, ainda podemos dizer que ambas, mesmo nos dias atuais, permanecem interligadas como fonte de estudo onde uma completa a outra.
A psicologia moderna, também conhecida como psicologia científica, tem o seu marco inicial com a criação do primeiro laboratório experimental de pesquisa montado em 1879 por Wilhelm Wundt, na Alemanha. Esse processo de criação se expandiu pela América do Norte no final do século XIX. Por volta de 1900, com mais de quarenta desses laboratórios, procurava-se aplicar novos métodos científicos baseados nos conceitos de fisiologia e psicofísica.
Quando essa nova ciência chegou a solo americano, já existia uma psicologia estabelecida por lá. Na verdade, existiam duas psicologias: a psicologia que já existia desde o princípio da humanidade, e a outra que existia, em grande parte, dentro das universidades, conhecida como filosofia mental.
Em pleno século XXI, psicologia se tornou um tema atrativo pelas pessoas. Poder compreender e entender o que se passa na mente do outro. Conhecer mais de si e de todos. Assim como hoje, no século XIX a coisa não era diferente. Muitas psicologias pseudocientíficas foram desenvolvidas neste período.
A frenologia, por exemplo, baseava na concepção de que o formato da cabeça, através das medidas do crânio, dava descrições sobre a personalidade do indivíduo, suas habilidades e sua inteligência. A fisiognomonia, por sua vez, avalia o carácter, o intelecto e as habilidades de uma pessoa com base nos traços fisionômicos – narizes arqueados na parte superior, por exemplo, significavam uma pessoa medrosa e voluptuosa -. Havia o mesmerismo que usava uma forma de hipnose para incentivar mudanças no comportamento de seus clientes. O espiritualismo tratava da crença de espíritos e energias invisíveis onde espiritualistas se comunicavam com entes queridos, ofereciam tratamentos psicológicos contra depressão e aconselhamento sobre problemas num geral. A cura pela mente tinha o propósito de mostrar para o paciente que a cura para as suas doenças estava nos poderes mentais onde, uma vez aprendido o “pensamento correto”, as pessoas seriam totalmente capazes de curar-se.
Diante de uma variedade de psicologias pseudocientíficas, a nova psicologia teve que trabalhar por sua respeitabilidade científica, procurando fazer parte do clube das ciências antigas. Outra oposição vinha de dentro dos muros acadêmicos, dos mesmos departamentos de filosofia das universidades que deveriam abrigar os novos psicólogos. Esses oponentes eram os filósofos mentais.
Com a entrada da psicologia acadêmica na América do Norte, em meados dos anos 1880, os novos psicólogos experimentais se alojaram nos departamentos de filosofia porque não existiam os departamentos de psicologia. Surgiu então a chamada filosofia mental tendo como base os ensinamentos deixados por John Locke. Esses filósofos criaram uma ciência empírica da mente, que buscava resposta para muitas das mesmas questões que seriam trabalhadas pelos novos experimentalistas.
Comparando a mente humana como sendo uma “tabela branca”, John Locke formula os conceitos básicos do Empirismo Britânico. Em seu Essay, Locke negou a existência de qualquer ideia nata. Ele descreveu que todo conhecimento vem de sensações e de reflexões. Essas ideias iniciaram uma abordagem empírica do estudo da mente que enfatizava a observação dos sentidos e, especialmente, a compreensão dos processos de percepção, aprendizagem, pensamento e memória.
O clérigo escocês Thomas Reid é reconhecido como fundador do realismo escocês. Autor de uma série de livros que exploravam os cinco sentidos, através da percepção e da sensação, Reid constatava que na ciência psicológica empírica, a observação e o observado seriam a mesma coisa, ou seja, a mente.
O domínio do pensamento escocês coincidiu com um momento importante na vida acadêmica: o uso de livros didáticos. Thomas Upham, professor de filosofia mental, é considerado o autor do primeiro livro didático de psicologia. Upham dividiu a filosofia mental em três territórios: intelecto, sensibilidades e vontade.
Quando os primeiros americanos retornaram de seus estudos nos laboratórios de psicologia da Alemanha, por volta de 1880, encontraram uma série de obstáculos. Eles acreditavam que a psicologia poderia e deveria ser uma ciência natural e buscavam esse reconhecimento. Entretanto, as psicologias ainda existentes na América eram consideradas problemáticas. A psicologia popular que cativou o público americano com os seus leitores de mente, das saliências em crânios e conjuração de espíritos eram uma nódoa na reputação da nova ciência.
Quanto à filosofia mental, muitos dos novos psicólogos a rejeitavam como forma válida de psicologia. Esse conflito com a filosofia moldaria muito os debates na psicologia durante seu desenvolvimento ao longo do século XX, especialmente com o surgimento do behaviorismo. Essa época foi descrita como o tempo em que a psicologia perdeu a cabeça.
			
Fonte: Uma Breve História da Psicologia Moderna (Benjamim, Jr., Ludy T.).

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