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Universidade Federal do Ceará Instituto de Ciências do Mar Curso de Oceanografia Disciplina de Economia Ecológica Economia ecológica como ferramenta para o uso sustentável de recursos pesqueiros no Brasil: Impactos da pesca comercial. Ruama Catarina Xavier Rufino Fortaleza 2021 LABOMAR Máquina de escrever XXXXXXXXXXXXXXXX LABOMAR Máquina de escrever XXXX LABOMAR Máquina de escrever XXXXXX LABOMAR Máquina de escrever XXXXXXXXXXXXXXXXXX LABOMAR Destacar LABOMAR Destacar LABOMAR Destacar LABOMAR Máquina de escrever I Introdução A sociedade necessita de bens, meios e produtos para seu funcionamento, dessa forma a economia vem como uma ferramenta de estudo e de auxílio para a sociedade. Robbins, 2012 define a economia como uma ciência que estuda o comportamento da sociedade e suas relações entre fins e meios escassos que possuem usos alternativos. A economia é utilizada na sociedade na tomada de decisões sobre gastos e compras, o quanto trabalham, o quanto produzem, o quanto vende, o quanto exportam e importam, trata de questões de moeda, câmbio, escassez, recursos, inflação, recessão e uso dos recursos naturais (MANKIW, N. G, 2013). Entretanto a economia não possui uma visão holística sobre a relação entre a sociedade e o meio ambiente, tratando os recursos naturais como algo externo e não considerando os fins das produções econômicas, ainda trata os impactos ambientais como externalidades ao sistema econômico, podendo serem internalizadas no sistema de preços (CAVALCANTI, C, 2010). Dessa forma, com os avanços tecnológicos após a revolução industrial e a intensificação da retirada dos recursos naturais, iniciou-se uma nova forma de pensar a economia. A economia ecológica rejeita a visão da economia, propugnando que a desconsideração dos aspectos ambientais do sistema econômico leva a uma análise parcial e necessariamente reducionista das interfaces entre economia e meio ambiente. Ademais, a economia ecológica objetiva uma economia sendo um subsistema de um ecossistema global maior, sendo ele finito e materialmente fechado, embora aberto ao fluxo de energia solar, impondo limites ao crescimento físico do sistema econômico (Andrade, D. C., 2008). Tem como diferença o fato de considerar as trocas de matéria e energia entre o sistema econômico e o meio ambiente, nessa corrente o sistema econômico não pode desconsiderar a biodiversidade que fornece recursos para o sistema econômico. Possui o desafio de compatibilizar e mediar os conceitos de dimensão biofísico e ecológica e os conceitos de dimensão socioeconômica normativa (Amazonas, 2002). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO) foi fundada durante as discussões da Eco-92, onde ocorreram discussões a respeito das novas premissas dessa corrente, que admite o reducionismo dos paradigmas da economia convencional (Costanza & Daly, 1987; Andrade, D. C., 2008). São seis, os princípios gerais da economia ecológica. O primeiro é baseado no princípio de que diferentes objetivos requerem o uso de diferentes instrumentos para alcançá-los. O segundo deles diz respeito à liberdade e a variabilidade no nível micro com controle no nível macro. O terceiro princípio, da necessidade de uma margem de segurança em relação às mudanças que o meio biofísico pode apresentar. O quarto princípio trata das possíveis mudanças por meio de redimensionamento e transformação das instituições. O quinto princípio se relaciona com o quarto, pois fala das mudanças que podem surgir da população e as condições de alterações das políticas. Por fim, o sexto princípio é baseado na subsidiariedade, que relaciona a formulação das políticas com suas causas e efeitos. (Daly e Farley, 2016; Santos, 2018). Tendo em vista esses conceitos, podemos utilizar a economia ecológica na gestão dos recursos pesqueiros, pois os mesmos fazem parte do meio ambiente e usados nos processos econômicos e são bens comuns. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, “os recursos pesqueiros compreendem as espécies de peixes, moluscos e crustáceos, entre outras, que são exploradas economicamente pela pesca, e uma grande diversidade de espécies explotadas caracteriza a pesca marítima e nas águas continentais brasileiras.” Dessa forma, os recursos pesqueiros possuem uma grande importância econômica, pois com eles diversas pessoas no mundo e no Brasil provém o seu sustento. Entretanto, com a retirada exacerbada dos recursos pesqueiros do mar os estoques de pesca passaram a entrar em colapso por conta da sobrepesca, sobrepesca é definida, segundo Caddy & Griffiths (1996), como sendo a condição em que as capturas de uma ou todas as classes de idade em uma população são tão elevadas que reduz a biomassa, o potencial de desova e as capturas no futuro a níveis inferiores aos de segurança. Logo, surge a necessidade de se fomentar meios e ferramentas para o uso e gestão dos recursos pesqueiros, sendo a economia ecológica uma dessas ferramentas. Objetivo Utilizar das políticas públicas ambientais para propor soluções para os conflitos relacionados à pesca comercial no Brasil. Desenvolvimento A pesca e a tragédia do bem comum A tragédia dos bens comuns representa a degradação do meio ambiente quando se faz uso indiscriminado dos serviços “comuns” que a natureza oferece para a sociedade, sendo esse recurso comum de livre acesso a todos e sem detentores. Acontece quando os interesses individuais sobre um bem sobrepõem os interesses do coletivo (Garrett Hardin, 1968; AGUIAR, W. M & ÍTAVO, L. C. V., 2014). Os recursos naturais marinhos são utilizados por inúmeras pessoas, pois todos possuem direitos sobre eles e sua gestão deve ser de responsabilidade do estado. Contudo, o estado encontra-se distantes de seus utilizadores, não havendo um diálogo efetivo entre os governantes e a sociedade (AGUIAR, W. M & ÍTAVO, L. C. V., 2014). Dessa forma, os recursos passam a ser utilizados de forma desordenada, pois o estado não conhece as individualidades das comunidades e a sociedade não segue as normas estabelecidas pelo estado. A pesca comercial Com isso, novas pescarias surgem, como a comercial, que altera a dinâmica pesqueira à medida que compete com os outros predadores naturais, e até tornando-os como presas. Caracteriza-se principalmente pela sua intensidade e pelos altos índices de esforço de pesca (Diniz; Arrraes, 2001). Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a pesca comercial tem reduzido a abundância dos recursos pesqueiros, pondo em risco a reposição dos estoques pesqueiros. Pesquisadores como Villy Christensen e D. Pauly da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, afirmam que a pesca desordenada pode transformar um ecossistema saudável em um ecossistema deficiente. No Brasil, diversas espécies sofrem da pressão da pesca comercial e de seus petrechos, como lagostas, peixes vermelhos e atuns. Segundo o ICMBIO, os principais petrechos utilizados são as redes, espinhéis, emalhes, armadilhas, etc. A pesca comercial e industrial contribuiu ao longo dos anos com degradação ambiental através da superexploração de recursos pesqueiros de relevância econômica (Haimovici et al., 2006; Haimovici e Cardoso, 2017). A sobrepesca, a captura acidental e a degradação ambiental são as principais ameaças aos organismos marinhos e esses impactados são oriundos da pesca industrial (Harnik et al., 2012). Escala sustentável como ferramenta para o ordenamento do uso de petrechos de pesca A escala sustentável pode ser definida como o limite de o quanto o sistema econômico pode se expandir dentro do ecossistema (Santos, 2018). “A escala sustentável leva em conta que os benefícios econômicos têm custos ambientais que somente serão evitados mantendo-se o equilíbrio. O fator econômico não deve ignorar que existem custos ecológicos, uma vez que o aumento da produtividade implica sacrifício de recursos naturais, de maneira que é essencial haver uma visão ecológica da economia(CAVALCANTI, 2010).” Dessa forma, a escala sustentável pode ser uma importante ferramenta para o ordenamento da gestão de recursos pesqueiros, uma vez que é necessário que ocorra uma produção sustentável da pesca para que mais estoques não entrem em situação de explotação. Para retirada dos peixes do oceano, são utilizados inúmeros petrechos e artes de pesca, que possuem tamanhos, finalidades e impactos diferentes para aquilo que se está pescando e para o meio ambiente. Redes de espera, de arrasto, de emalhe e espinhel são alguns dos petrechos mais nocivos a outras espécies não-alvo da pesca e para o substrato marinho, pois promovem pesca acidental, pesca fantasma e podem destruir substratos marinhos consolidados como recifes de corais. Com isso, a escala sustentável, através da regulação direta, pode ser uma importante ferramenta para o manejo sustentável dessas artes para que suas externalidades negativas sejam amenizadas ou compensadas. A regulação direta é tida como um instrumento de controle na resolução de conflitos ambientais e vem ganhando espaço nas políticas públicas (Lopes& Taques, 2016). Tem como principal função controlar e monitorar a qualidade ambiental utilizando de sanções e penalidades, sempre autorizadas por normas legais (LEAL, 1997). No Brasil, o IBAMA, o ICMbio e o MAPA são os órgãos que possuem o poder de regulamentar os petrechos de pesca. Algumas das regulamentações são: ● O código da pesca – Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 dispõe sobre a Política de Desenvolvimento Sustentável de Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras, revoga a Lei nº 7.679, de 23 de novembro de 1988, e dispositivos do decreto da Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967 e dá outras providências. ● PORTARIA SAP/MAPA Nº 265, DE 29 DE JUNHO DE 2021, que estabelece as normas, os critérios e os procedimentos administrativos para inscrição de pessoas físicas no Registro Geral da Atividade Pesqueira, na categoria de Pescador e Pescadora Profissional, e para a concessão da Licença de Pescador e Pescadora Profissional. ● Legislação pesqueira de 2013. ● PORTARIA SAP/MAPA Nº 159, DE 10 DE MAIO DE 2021: consulta Pública sobre a Matriz de Modalidades de Pesca para a concessão de Permissão Prévia de Pesca e Autorização de Pesca para embarcações de pesca brasileiras para o uso sustentável dos recursos pesqueiros ● INSTRUÇÃO NORMATIVA MAPA Nº 53, DE 29 DE OUTUBRO DE 2019, que altera a Portaria Interministerial nº 59-A, de 9 de novembro de 2018, da Secretaria-Geral da Presidência da República e do Ministério do Meio Ambiente, que define as medidas, os critérios e os padrões para a pesca de cardume associado e para outros aspectos da pesca de atuns e afins no mar territorial, na Zona Econômica Exclusiva e nas águas internacionais por embarcações de pesca brasileiras. ● LEI Nº 13.497, DE 06.07.04 (DO. 09.07.04), que dispõe sobre a Política Estadual de Desenvolvimento da Pesca e Aquicultura, cria o Sistema Estadual da Pesca e da Aquicultura – SEPAQ, e dá outras providências. Mesmo com inúmeras regulamentações sobre a pesca e seus atributos, no Brasil, sua regulação é complexa e muitas vezes ineficiente. É complexa à medida que geralmente as regulamentações são restritas a municípios e estados, sendo difícil a implementação de políticas públicas nacionais por conta da extensa costa e zona econômica exclusiva que o país possui. E é ineficiente, pois os órgãos responsáveis pela regulação direta encontram-se em situação de desmonte. São poucas as regulamentações diretas que ainda funcionam no país, como o período do defeso da lagosta, do caranguejo, da piracema e a proibição da pesca de determinadas espécies. Mas quando se trata da regulamentação dos petrechos e artes de pesca, as regulações se tornam complexas, pois como existem falhas na regulamentações, os princípios da alocação direta não podem ser aplicados e se torna difícil mensurar economicamente o problema da falta de fiscalização de petrechos de pesca problemáticos. A quantidade de peixes não alvo, tartarugas, mamíferos e aves capturadas por esses petrechos é bastante significativa e outro ponto importante de ser discutido é em como as regulamentações proíbem a pesca em determinadas regiões como unidades de conservação, mas como não ocorre fiscalização, as pescarias clandestinas continuam a existir, tornando difícil mensurar economicamente as externalidades negativas dessas pescarias. Nesse contexto, a economia azul surge trazendo reflexões sobre a contribuição dos oceanos à economia e a importância de garantir a sustentabilidade dos oceanos e ao mesmo tempo que instrumenta o uso dos recursos marinhos em prol do desenvolvimento, ela promove uma crescente preocupação com a saúde dos oceanos, principalmente para assegurar que as futuras gerações também possam usufruir dos recursos neles existentes. A tecnologia vem como uma ferramenta para amenizar os impactos da pesca, pensando em petrechos de pesca alternativos, como redes com áreas de escape, anzóis diferentes, materiais biodegradáveis, etc. Devem ser implementados políticas públicas que monitorem o impacto dos petrechos e que gerem impostos para aqueles que possuem capital para ter atitudes sustentáveis, para os pescadores que possuem menos capital o estado deve ser responsável por promover meios para que as pescarias tradicionais também possam ser sustentáveis. As multas e impostos devem ser os pilares para a regulamentação, pois o capital é um dos principais meios da economia e os valores advindos dessas fiscalizações devem ser alocados para o gerenciamento costeiro. Conclusão A Marinha aponta que em aproximadamente 8.500 km de faixa litorânea, concentram-se 80% da população, são produzidos 90% do produto interno bruto (PIB) brasileiro e estão localizados os principais destinos turísticos nacionais. Dessa forma, a zona costeira e os oceanos são de suma importância para a economia do país e do mundo, os esforços para a sustentabilidade da pesca devem ser de caráter nacional e uma prioridade dos governos locais, as regulamentações devem ser realmente aplicadas através de programas nacionais e as leis e normas devem ser de fácil acesso e explicadas para os pescadores. Referências bibliográficas Robbins, Lionel. Um ensaio sobre a natureza e a importância da ciência econômica. São Paulo: Saraiva, 2012. MANKIW, N. G. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2013. CAVALCANTI, C. Concepções da economia ecológica: suas relações com a economia dominante e a economia ambiental. Estudos Avançados, v. 24, n. 68, p. 53-67, 2010. Andrade, D. C. (2008). Economia e meio ambiente : aspectos teóricos e metodológicos nas visões neoclássica e da economia ecológica. Leituras de Economia Política, (14), 1–31. AMAZONAS, M. de C. Desenvolvimento sustentável e a economia ecológica. 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