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AVALIAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS PROF.A MA. RENATA RUARO Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Diretor de Ensino a Distância: Prof. Me. Fábio Oliveira Vaz PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Mariana Tait Romancini Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Gestão da Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4 1 - CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE ÁREAS DEGRADADAS ..................................................................................... 5 2 - PROCESSOS GERADORES DE DEGRADAÇÃO ................................................................................................... 8 2.1. DEGRADAÇÃO QUÍMICA E FÍSICA DO SOLO ................................................................................................... 10 2.1.1. EROSÃO E MOVIMENTO DE MASSAS ........................................................................................................... 11 2.1.2. EFEITOS DA DEGRADAÇÃO .......................................................................................................................... 15 2.1.3. ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ................................. 16 CARACTERIZAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E FATORES GERADORES DE DEGRADAÇÃO PROF.A MA. RENATA RUARO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: AVALIAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 4WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nessa unidade veremos os principais conceitos à degradação dos ecossistemas, bem como os principais fatores geradores de degradação. Além disso, estudaremos os efeitos e consequências adversas ao ambiente causado por esses fatores, tanto em área rurais quanto urbanas. Um enfoque é dado aos processos erosivos e sua intensificação pelas atividades humanas. 5WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE ÁREAS DEGRADADAS Desde o seu surgimento, o homem diferenciou-se dos demais animais pela capacidade de criação e aprendizagem. Assim, conquistou novos ambientes e desenvolveu, ao longo da evolução, diferentes modos de vida. Contudo, a partir da Revolução Industrial e intensificação das atividades agropecuárias, as atividades humanas exerceram uma crescente influência sobre os recursos naturais, seja pela extração ou pela deposição de rejeitos no ambiente. Como resultado, temos a poluição e degradação dos ecossistemas naturais. Segundo a Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6938/81, a poluição consiste na degradação da qualidade ambiental decorrente de atividades que direta ou indiretamente causem danos à saúde, segurança e bem estar da população; gerem condições adversas às atividades sociais e econômicas; prejudiquem a fauna e a flora; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais legais. É importante ressaltar, que do ponto de vista legal e de controle da poluição, o conceito de poluição é associado às alterações provocadas pelas atividades humanas, expõe Braga (2005). O conceito de degradação, assim como o conceito de poluição, é associado às consequências ambientais negativas decorrentes das atividades humanas. Segundo o Manual de Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração do IBAMA (1990, p.13) a degradação de uma determinada área ocorre quando “a vegetação nativa e a fauna forem destruídas, removidas ou expulsas; a camada fértil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o regime de vazão do sistema hídrico forem alterados”. Assim, áreas degradadas são áreas que, após sofrer um tipo de impacto, perdem a capacidade de retornar, de maneira natural, ao estado original, anterior ao impacto, segundo Martins (2009). Isso ocorre porque essas áreas perdem sua resiliência. A resiliência é uma propriedade dos ecossistemas relacionada à capacidade de recuperação às perturbações, naturais ou induzidas pelo homem, cita Ricklefs (2010). O conceito de degradação é diferente de perturbação (Quadro 1), pois áreas perturbadas são áreas que ainda possuem resiliência, ou seja, podem regenerar-se naturalmente após um impacto, explica Martins (2009), desde que o dano cesse. Quadro 1 - Características dos processos de perturbação e degradação. Fonte: Martins (2009). 6WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A NBR 13030 (1999, p. 2) específica para atividades de mineração, define áreas degradadas como “áreas com diversos graus de alterações dos fatores bióticos e abióticos, causados pelas atividades de mineração”. Outra normativa que apresenta um conceito importante, relacionado ao solo, é a NBR 10703, na qual a degradação do solo é conceituada como a “alteração adversa das características do solo em relação aos seus diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos em planejamento, como os potenciais” (ABNT, 1989, p.16). Esse último conceito contempla o entendimento do solo enquanto espaço geográfico, assim, ultrapassa o sentido de matéria ou componente predominante abiótico do ambiente, afirma Tavares (2008), considerando a perda de solo para uso humano. Estima-se que cerca de 30% dos solos do mundo estão degradados, revela FAO (2015). Por isso, medidas de controle e recuperação são fundamentais para manutenção da qualidade ambiental e das atividades humanas dependentes dos recursos naturais. As medidas de recuperação são diversas e dependem da natureza e da dimensão do dano gerado. Em geral, são embasadas em três conceitos distintos (Figura 1). Figura 1 - Diferenciação entre os conceitos relacionados à RAD. Fonte: a autora. A restauração é associada à ideia de retorno às condições originais da área, anterior ao impacto, coloca Martins (2010), conforme expõe a Figura 2. Isso quer dizer que a restauração deve promover o retorno às condições ecológicas da área, incluindo fatores como a vegetação, fauna e hidrologia. E por isso, esse termo é, muitas vezes, utilizado de maneira inadequada, considerando que a restauração, de fato, é um objetivo praticamente inatingível em muitos casosde degradação, comenta Tavares (2015). Segundo Martins (2009) em um sentido mais amplo, a restauração busca restaurar a integridade ecológica do ecossistema, sua diversidade biológica e estabilidade ao longo do tempo. Essa interpretação proporciona uma maior flexibilização na elaboração de projetos, tendo em vista que prevê a criação de condições ecológicas para que o ecossistema se regenere, indica Martins (2009). 7WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 2 - Conceitos de restauração, recuperação e reabilitação, após um processo de degradação. Fonte: <http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/estudos_ambientais/ea14.html>. Acesso em: 21 jan. 2018. A lei n° 9.985 de 18/07/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), define a recuperação de áreas degradadas como a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original”. Vale a pena ressaltar aqui, que esse conceito estabelece que as ações de recuperação de áreas degradadas, podem não retornar o ambiente às condições originais, uma vez que muitos tipos de atividades humanas geram impactos irreversíveis nos ecossistemas. Desse modo, a recuperação pode ser entendida como um conjunto de ações necessárias para que a área degradada retorne a uma forma e utilização de acordo com um plano pré-estabelecido para o uso do solo, ou seja, volte a estar apta para algum uso produtivo em condições de equilíbrio ambiental, mostra Martins (2007). Por fim, na reabilitação a área degradada é destinada a uma dada forma de uso de solo, de acordo com projeto prévio e em condições compatíveis com a ocupação circunvizinha, trata- se de reaproveitar a área para outra finalidade, conforme ABNT (1989). Um bom exemplo a ser citado aqui é o parque do Ibirapuera (Figura 3) em São Paulo, onde até a década de 50 era uma área utilizada para a extração de areia, e depois foi reabilitada para uso em recreação e lazer. Figura 3 - Parque do Ibirapuera, São Paulo, antiga cava de extração de areia. Fonte: Dantas (2013). 8WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Sintetizando os conceitos abordados, vimos que a restauração busca a adoção de medidas para retornar as condições do ambiente similar ao que era encontrado antes do impacto ser gerado. Ao passo que a recuperação objetiva a implementação de medidas para reestabelecer as condições ambientais, que podem ser diferentes das condições originais. E por fim, na reabilitação um novo uso é destinado à área degradada. Diante disso, as ações de restauração, recuperação ou reabilitação são consideradas ações corretivas após um processo de degradação (Figura 4). Se nenhuma medida for adotada para controlar ou recuperar a área degradada, a área pode sofrer uma recuperação natural, em casos em que o dano é interrompido, ou continuar sofrendo danos, caso ocorra continuidade da degradação, aponta Sánchez (2006). Figura 4 - Estágios de atuação no processo de recuperação de uma área degradada. Fonte: Sánchez (2006). 2 - PROCESSOS GERADORES DE DEGRADAÇÃO A degradação ambiental é resultado da pressão excessiva do uso do solo e envolve componentes espaciais e temporais, resultando na redução da produtividade de biomassa e da biodiversidade, em mudanças na qualidade e disponibilidade de água e na diminuição da viabilidade econômica local, mostra Kazmierczak; Seabra (2007). De acordo com Decreto Federal 97.632 (1989), os processos de degradação do ambiente induzem a perda ou alteração de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais. Diversos são os fatores causadores da degradação do solo (Figura 4), os quais podem agir de maneira direta ou indireta, mas quase sempre a maioria dos casos de degradação inicia-se com o desmatamento, que pode ser seguido por diversas formas de ocupação desordenada, como agricultura, com uso da queimada, crescimento desordenado das cidades, superpastoreio e uso do solo para disposição de diversos tipos de resíduos industriais e domésticos, sem tratamento adequado, cita Guerra (2014). 9WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 - Fatores de degradação dos ecossistemas florestais. Fonte: Martins (2009). Historicamente, o modelo de desenvolvimento seguido em grande parte do Brasil, foi a substituição das florestas nativas para o plantio de culturas como o café e a soja, ou de pastagens e cana-de-açúcar, conforme Martins (2009). Isso resultou na fragmentação da Mata Atlântica e posteriormente da Floresta Amazônica. A expansão de áreas agrícolas foi e permanece como um dos principais fatores de degradação das florestas, todavia, a maioria das áreas de baixa produtividade, uma vez abandonadas, podem recuperar a cobertura florestal com a implementação de projetos de custos relativamente baixos, cita Martins (2009), dependendo da região e da magnitude do dano. Segundo Martins (2009), as atividades de mineração, embora ocupem áreas menos extensas e localizadas, possuem um potencial de degradação do solo maior e uma recuperação mais complexa, lenta e de maior custo. Um exemplo de degradação pela atividade de mineração é o desastre ocorrido na cidade de Mariana em Minais gerais em novembro de 2015 (Figura 5). Nesse caso, a degradação foi intensificada pelo acidente ambiental, uma vez que a própria atividade por si já causa degradação. Mas, após o acidente a degradação ambiental tomou proporções bem maiores, atingindo níveis e áreas maiores. Figura 6 - Desastre ambiental em Mariana. Fonte: Castilho (2015). 10WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Documentário: Enquanto o trem não passa Disponível em: <http://justicanostrilhos.org/2013/11/11/documentario-trata-dos- -impactos-e-devastacao-da-mineracao-em-terras-brasileiras/>. 2.1. Degradação química e física do solo A deterioração química pode ser provocada pela poluição, perda de nutrientes do solo, pela salinização e pela acidificação. A poluição ocorre principalmente pelo despejo de resíduos domésticos e industriais e pelo uso de agroquímicos no meio rural. Além disso, a aplicação excessiva de fertilizantes ácidos pode levar a acidificação do solo, cita Araújo (2010). Embora a poluição do solo possa ser causada por resíduos nas fases líquida e gasosa, é na fase sólida que se manifesta mais intensamente, por duas razões principais: i) as quantidade geradas são grandes e ii) as características de imobilidade dificultam o transporte no ambiente. Além disso, como vimos anteriormente no desastre ambiental em Minas Gerais, a degradação pode ser causada por processos de poluição por contaminantes como metais pesados, hidrocarbonetos (derrame de petróleo e derivados) e outras substâncias que podem alterar a qualidade do ambiente e ainda trazer riscos a saúde do homem. Aprenderemos mais sobre a contaminação do solo, bem como medidas para tratamento e remediação na última unidade desse material. A perda de nutrientes e matéria orgânica do solo pode ser provocada pela superexploração do solo e por processos erosivos, processos que iremos estudar no próximo tópico, conforme Araújo (2010). Já a salinização ocorre quando temos uma elevada concentração de sais na superfície do solo, explica Braga (2005). Esse processo ocorre por: i) manejo mal realizado da irrigação ou elevada concentração de sais na água de irrigação; ii) invasão da água do mar ou águas subterrâneas salinas em reservas de água doce; e iii) atividades humanas que aumentam a evaporação em solos com material salino ou lençol subterrâneo salino, afirma Araújo (2010). Para melhor compreender os impactos e consequênciasadversas relacionadas às diversas atividades poluidoras e geradoras de degradação ambiental, sugeri- mos a leitura da obra: MATOS, A. T. Poluição Ambiental - Impactos no Meio Físico. Viçosa, MG, Universi- dade Federal de Viçosa, 2010 11WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA E você? Você tem contribuído para o aumento da poluição química do solo? Você dispõe o lixo que você gera de maneira adequada? Entre as formas de degradação física do solo, pode-se destacar a compactação do solo, o selamento e a alteração na estrutura do solo. A compactação do solo está relacionada à redução de volume do solo por ação de pressão externa, como o tráfego de máquinas e pisoteio de animais, cita Tavares (2008). Essa redução no volume implica no aumento da densidade, redução da porosidade e permeabilidade do solo. Por isso, a água vai infiltrar com maior dificuldade e a concentração de gases será menor, pois ocorre uma redução nos espaços vazios do solo (poros). O selamento consiste na formação de uma camada densa na superfície do solo. Tanto na compactação quanto no selamento do solo, a infiltração de água é prejudicada, bem como o desenvolvimento de vegetais. A estrutura do solo consiste na organização das partículas do solo, e pode ser alterada pelo manejo do solo, processos erosivos, etc. 2.1.1. Erosão e movimento de massas A erosão dos solos é considerada uma das principais causas da degradação dos solos, que pode ocorrer naturalmente pela ação humana. Quando a erosão é provocada pela ação humana é chamada de erosão acelerada. Nesse livro trataremos da erosão acelerada. A erosão superficial, também conhecida como erosão do solo consiste na remoção das camadas superficiais do solo pela ação da água ou de vento, conforme Araújo (2010). Os movimentos de massa por sua vez, estão relacionados ao movimento descendente de materiais que formam a encosta, e são popularmente conhecidos como deslizamentos e desmoronamentos, cita Araújo (2010), e ocorrem com frequência em áreas urbanas com ocupação inadequada de morros. Segundo Araújo (2010) quando a erosão é causada pela ação do vento ela é chamada de erosão eólica, enquanto que quando é causada pela ação da água é chamada erosão hídrica ou pluvial, no caso da ação pela água da chuva, enquanto que a erosão fluvial é o desgaste provocado pelo leito dos rios tanto quando eles se excedem e avançam sobre as margens quanto quando a vegetação ciliar é removida e desprotege o relevo ao redor dos cursos d´água. A remoção da camada superficial do solo é um problema preocupante, pois elimina uma camada, geralmente rica em nutrientes e materiais orgânicos e minerais, importantes para o crescimento dos vegetais. A erosão hídrica envolve a desagregação, transporte e deposição de partículas 12WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Quadro 2 - Processos da erosão hídrica. Fonte: Capeche (2008) Para prevenir e controlar os processos erosivos é preciso entender o mecanismo do processo. O processo inicia-se por forças de arrasto, de impacto ou de tração atingindo as partículas individuais da superfície do solo, e esse processo depende da velocidade e volume d’água e da forma e rugosidade do terreno, afirma Araújo (2010). As forças de inércia ou coesão entre as partículas resistem às forças de arrasto ou de tração exercidas pela água (Figura 6), dependendo das propriedades básicas e da estrutura física do solo, bem como das interações físicas e químicas que ocorrem no solo, coloca Araújo (2010). Figura 7 - Diagrama esquemático das forças que agem sobre as partículas na superfície do solo. Fonte: Araújo (2010, p. 83). Segundo Araújo (2010, p. 88) é chamado Efeito splash ou salpicamento o “resultado do impacto das gotas de chuva caindo sobre as partículas do solo expostas ou finas superfícies de água cobrindo o solo”. Quando o solo está protegido pela cobertura vegetal, parte da água que cai da chuva é interceptada pela vegetação, assim a vegetação atua como um amortecedor do impacto das gotas de chuva. No entanto, quando as gotas de chuva colidem com o solo desnudo e sem cultivo elas removem as partículas do solo (Figura 7), assim as superfícies expostas ou não protegidas são mais vulneráveis à erosão superficial, cita Araújo (2010). A quantidade de solo arrastado depende muito do tipo de solo, declividade/inclinação do terreno e da intensidade da chuva, afirma Zoccal (2007). 13WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 8 - Impacto da água de chuva na superfície do solo. Fonte: Controle de Erosão, 2ª edição, janeiro de 1990 - SEA/DAEE. De acordo com Araújo (2010), para proteger o solo da erosão, é preciso basicamente: i) reduzir as forças de tração ou de arrasto, reduzindo a velocidade do fluxo d’água sobre a superfície ou dissipando a energia em uma área protegida; e ii) aumentar a resistência à erosão por meio de proteção da superfície do solo com uma cobertura apropriada ou pelo aumento da força de ligação entre as partículas do solo, para que elas não sejam facilmente carregadas. Segundo Capeche (2008), erosão hídrica pode ser: i) laminar, quando o arraste do solo ocorre superficialmente no terreno (Figura 8a); ii) em sulcos/ravinas, quando o escorrimento/ enxurrada provoca a abertura de pequenos canais, pouco a medianamente profundos que podem evoluir para cavidades maiores – ravinas (Figura 6b); e iii) voçorocas, quando ocorre a abertura de grandes sulcos, os quais concentram grande quantidade de água (Figura 9) e são mais facilmente identificadas. Figura 9 - a) erosão laminar; b) erosão em sulcos/ravinas. Fonte: Fürst (2017). 14WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA As ravinas geralmente são mais graves que a erosão laminar, porque as velocidades do escoamento superficial são maiores nas ravinas, enquanto que as voçorocas são canais ainda maiores que as ravinas, e que não podem ser removidos apenas pelo preparo normal do solo, segundo ARAÚJO (2010). Além disso, as voçorocas tendem a se formar onde elevados volumes de escoamento superficial são concentrados e descarregados em encostas erodíveis, expõe Araújo (2010). Por isso, esse tipo de erosão é mais difícil de ser controlado. Se a área não for controlada, as chuvas frequentes podem levar ao desgaste e aprofundamento da voçoroca, aumentando ainda mais o processo de degradação. A ocorrência das voçorocas está relacionada diretamente com o ambiente que a cerca, principalmente o relevo, tipo de solo e cobertura vegetal, tendo maior probabilidade de ocorrer em solos desprotegidos, cita Capeche (2007). Figura 10 - Voçoroca. Fonte: Natureza (2013). A erosão eólica consiste na ação do vento causando a desagregação de rochas, bem como dos agregados do solo, e, ainda, no transporte e deposição do material desagregado, explica Capeche (2007). A erosão eólica também envolve o destacamento de partículas, o transporte e deposição, mas nesse caso a movimentação do solo pelo vento é iniciada como resultado da sua turbulência e velocidade coloca Araújo (2010). A erodibilidade é suscetibilidade de um solo à erosão. Alguns solos, como os siltosos são naturalmente mais erodíveis do que outros tipos, como os argilosos, pois, em geral, o aumento da fração orgânica e do conteúdo de argila de um solo reduz sua erodibilidade, cita Araújo (2010). Segundo Araújo et al. (2010) as variáveis topográficas que influenciam a erosão pluvial são: i) ângulo da encosta, ii) comprimento da encosta e iii) tamanho e forma da bacia hidrográfica. Assim, cada caso de degradação deve ser avaliado conforme as características da região da área degradada. 15WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DEÁ RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para prognósticos de perda de solo em decorrência de processos erosivos pode ser utilizada uma equação semi-empírica denominada Equação Universal de Perdas de Solo (USLE – Universal Soil Loss Equation). Essa equação considera fatores como clima, topografia e cobertura vegetal, pois são fatores que afetam a erosão, coloca Araújo (2010). A perda anual de solo de um determinado local é determinada de acordo com a equação a seguir: E= R. K. L.S. C. P Em que E= a perda de solo por unidade de área; R= erosividade da chuva; K= erodibilidade do solo; L= comprimento da encosta; S= declividade da encosta; C= fator de cobertura do solo; e P= fator referente às práticas de controle da erosão. 2.1.2. Efeitos da Degradação Segundo Campeche (2008), as principais consequências da erosão e degradação ambiental são: ➢ Redução ou perda da capacidade de produção dos solos agrícolas (maiores gastos com fertilizantes, agrotóxicos, crédito rural, etc); ➢ Esgotamento de fontes de água; ➢ Assoreamento dos corpos hídricos; ➢ Desmoronamentos; ➢ Descapitalização dos agricultores; ➢ Abandono de terras e êxodo rural; ➢ Perda de solos; ➢ Aumento dos custos de produção; ➢ Redução de área de plantio; ➢ Redução da fauna silvestre; ➢ Redução da quantidade de água disponível para a população rural e urbana (seca de nascentes e menor vazão dos rios e córregos); ➢ Redução da qualidade da água na cidade e na área rural (água poluída); ➢ Risco de doenças pela contaminação do solo e água subterrânea. A sobreexploração do solo, como nos casos de monocultura sem reposição de nutrientes pode esgotar o solo, reduzindo sua produtividade e fertilidade. Esse empobrecimento do solo e a perda de seu potencial produtivo traduzem o preço que a sociedade paga pela ocorrência de erosão em áreas rurais, cita Braga (2005). Segundo Araújo (2010), a Avaliação Global da Degradação dos Solos (GLASOD) estimou que a perda de solos agrícolas, agrícolas, por exemplo, ocorre a uma taxa de 6 a 7 milhões de hectares por ano, com um adicional de 1,5 milhão de hectares perdidos, em decorrência da exploração de madeira, salinização e acidificação. Dessa forma, a perda de solo não quer dizer necessariamente que a terra desapareça, embora localmente isso possa acontecer, devido à transgressão marinha, ou a erosão de áreas costeiras, afirma Araújo (2010). Geralmente, isso significa que o solo deixará de ser utilizado para a produção porque houve degradação nas propriedades químicas e físicas do solo. 16WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1.3. Aspectos legais relacionados a recuperação de áreas degradadas Conhecer e compreender as principais legislações a respeito da Recuperação de áreas degradadas é muito importante para o profissional de Gestão Ambiental, uma vez que esse profissional poderá atuar na elaboração de projetos de recuperação ambiental. Tanto a avaliação de áreas degradadas, quanto a elaboração de projetos de recuperação, devem ser pautados na legislação ambiental pertinente à esse assunto, pois além de critérios técnicos mínimos a serem atendidos por cada projeto específico, aspectos legais devem ser considerados. As legislações sobre esse tema são recentes (primeiras leis sobre obrigatoriedade de se recuperar áreas degradadas datam do início da década de 1980). Essas leis surgiram, principalmente, a partir das discussões internacionais da Conferência de Nairóbi. Na década de 70, a preocupação das nações industrializadas com as questões ambientais resultou na Reunião Mundial sobre o Meio Ambiente Humano, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) na cidade de Estocolmo, em 1972. Dessa reunião resultou uma declaração com 21 princípios voltados, basicamente, para o controle da poluição hídrica. Na década de 80, a Conferência de Nairóbi, em 1982, foi convocada para uma avaliação da situação e, principalmente, dos resultados da aplicação dos princípios da anterior. Na Conferência de Nairóbi foi concluído que era necessário avançar no processo. Por isso, foram selecionadas duas prioridades: a criação de unidades de conservação e a recuperação de áreas degradadas. A partir daí, a legislação tem evoluído e atualmente temos a obrigação legal de recuperação de áreas degradadas no que se refere à atividade de mineração, florestas e demais formas de vegetação, situadas em áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal, por exemplo, no domínio da Mata Atlântica corresponde a um percentual de 20% da área total do imóvel rural, revela Almeida (2016). Atualmente, todo empreendimento potencialmente impactante deve ser submetido ao processo de licenciamento ambiental, que consiste em um procedimento administrativo no qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação dos empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais e potencialmente causadoras de degradação ao meio ambiente, coloca Sánchez (2006). Segundo Almeida (2016), embora a legislação ambiental preveja a participação popular no processo de licenciamento, falta uma maior participação em todo este processo, como também maior interesse dos órgãos públicos envolvidos na implementação de um sistema eficaz de controle e fiscalização, penalizando abusos contra o meio ambiente. Atrelado ao processo de licenciamento ambiental, a recuperação de áreas degradadas pode ser considerada nas ações condicionantes (mitigadores e compensatórias) para diversos tipos de empreendimentos. Para o caso de mineração, por exemplo, a recuperação é obrigatória, prevista em legislação específica. De modo resumido, iremos ver na sequência principais leis aplicadas à recuperação de áreas degradadas: ➢ Lei Federal 6938/81 - Lei de Política Nacional de Meio Ambiente – uma lei pioneira relacionada ao meio ambiente e toda a estrutura governamental nos níveis federal, estadual e municipal. Instituiu a responsabilidade por ato lesivo ao ambiente, relacionada aos Princípios VIII relativo à Recuperação de áreas degradadas, e IX Proteção de áreas ameaçadas de degradação. Além disso, criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), com uma estrutura hierárquica, e o licenciamento ambiental. 17WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Resolução CONAMA n. 001/86 - institui critérios básicos e diretrizes gerais para o Estudo de Impacto ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Dependendo do tipo e porte do empreendimento é exigido a realização prévia do EIA/RIMA, em que são realizados estudos/diagnósticos e a proposição de medidas para a mitigação de prováveis impactos ambientais. ➢ Constituição Federal de 1988 - Artigo 225 – Está previsto nesse artigo que aquele que explorar recursos minerais é obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica determinada pelo órgão ambiental competente. Ademais, a Constituição estabelece a criação de novas ferramentas aplicáveis para a conservação ambiental, como a ação popular, o mandato de segurança coletivo e o mandato de injunção, além de dar maior respaldo para os mecanismos já existentes. Outra questão interessante é que no terceiro parágrafo, a Constituição determina que os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, que causaram degradação ambiental, estarão sujeitos a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. ➢ Decreto-lei n. 97.632/89 – Esse decreto regulamentou a lei n. 6.938/81, obrigando a recuperação da área degradada como parte do Relatório de Impacto Ambiental para empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais, os quais devem apresentar o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). Segundo Almeida (2016), nenhum estado possui legislação específica sobre Recuperaçãode Áreas Degradadas, complementar à legislação federal já existente, por isso seria importante a ampliação da abrangência das leis por parte dos Estados, não exigindo somente do setor de mineração e de construção de rodovias, mas também a aplicação para outros setores potencialmente degradadores. ➢ Lei Federal n. 9.605, de fevereiro de 1998 – Essa lei é conhecida como a lei dos crimes ambientais, pois dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Segundo essa lei, para aquele que deixar de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente, incidirá pena de detenção e multa. Além disso, esta lei prevê penalidades como prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos, suspensão parcial ou total de atividades, prestação pecuniária e recolhimento domiciliar. A partir dessa lei, também foi criado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que é formalizado pelo órgão ambiental por meio do Ministério Público, com o cumprimento das obrigações estipuladas no TAC, traduzidas muitas vezes em ações de recuperação de áreas degradadas, o infrator pode conseguir uma redução de até 90% do valor da multa ambiental aplicada, explica Almeida (2016). ➢ Lei No 9.985, de 18 de julho de 2000 - institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Nessa importante lei, são estabelecidas as tipologias de Unidades de Conservação no país, bem como são diferencia os termos restauração, recuperação e reabilitação. ➢ Resolução CONAMA n. 420/2009 - Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. Essa resolução é um marco importante para recuperação de áreas contaminadas. 18WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Instrução normativa n. 4, de 13 de abril de 2011 - esta instrução estabelece procedimentos para elaboração de Projeto de Recuperação de Área Degradada - PRAD. Essa instrução normativa orienta a elaboração do PRAD para apresentação aos órgãos federais. Esta instrução traz como anexos Termos de Referência e diferencia os tipos de PRAD (PRAD e PRAD simplificado), solicitados de acordo com cada caso na norma. A instrução estabelece que o PRAD deve conter informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que possibilitem a avaliação da degradação e a definição de medidas apropriadas para a recuperação da área. ➢ Lei Federal n. 12.651/12 – Novo Código Florestal - o novo Código Florestal prevê a recomposição gradual das áreas de reserva legal e recuperação das áreas de preservação permanente em diferentes faixas, dependendo do tamanho dos imóveis rurais (ALMEIDA, 2016). As áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal, que não possuírem mais sua vegetação natural, são consideradas degradadas, e assim, necessitam legalmente de serem recuperadas (ALMEIDA, 2016). Além disso, o código prevê a responsabilidade comum de União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais, assim como a inovação para o uso sustentável e a recuperação, além de criação e mobilização de incentivos jurídicos e econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa (ALMEIDA, 2016). O código também estabeleceu outras ferramentas importante, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), obrigatório à todos os produtores rurais e o Programa de Regularização Ambiental (PRA), que possibilitam a demarcação de áreas para recuperação e conservação ambiental dentro da área da propriedade. 1919WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 20 1 - ELABORAÇÃO DO PRAD ..................................................................................................................................... 21 1.1. ROTEIRO BÁSICO PARA A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE RECUPERAÇÃO ............................................... 21 2 - TÉCNICAS DE BIOENGENHARIA USADAS EM RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ........................ 23 2.1. CONTENÇÃO DE TALUDES E ENCOSTAS ........................................................................................................ 24 2.2. TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE VOÇOROCAS .............................................................................................. 29 2.3. IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO NA ESTABILIDADE DE ENCOSTAS E CONTROLE DE VOÇOROCAS ...... 36 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS PROF.A MA. RENATA RUARO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: AVALIAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 20WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nessa unidade, aprenderemos sobre as principais exigências e etapas para a elaboração do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas. Além disso, estudaremos técnicas usadas em recuperação de áreas degradadas em áreas urbanas e rurais, especialmente técnicas mecânicas e de bioengenharia empregadas na estabilização de encostas e contenção de voçorocas. 21WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - ELABORAÇÃO DO PRAD Como vimos na unidade anterior, a elaboração do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) visa atender às exigências previstas nos instrumentos legais apresentados. O PRAD foi inicialmente instituído para a recomposição de áreas degradadas pela atividade de mineração, sendo elaborado de acordo com as diretrizes fixadas pela NBR 13030, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, e outras normas pertinentes. Contudo, atualmente pode ser solicitado pelo órgão ambiental para outras atividades degradadoras ou modificadoras do meio ambiente, como para a implantação de linhas e redes de transmissão e construção de rodovias, por exemplo, ou também para recuperação de áreas agrícolas degradadas, conforme estabelecido no novo código florestal (Lei n⁰. 12. 651/2012). Segundo Almeida (2016), o PRAD tem como objetivo principal criar um plano sistemático, contendo as informações e especificações técnicas organizadas em etapas lógicas, para orientar a tecnologia de recuperação ambiental de áreas degradadas ou perturbadas. O PRAD deve reunir informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que possibilitem a avaliação da degradação ou alteração e a definição de medidas adequadas à recuperação da área, coloca IBAMA (2011). Cada PRAD deve ser elaborado de acordo com as características do local em que o dano ocorreu. Assim, o PRAD deve levar em conta características bióticas e abióticas da área e conhecimentos sobre o tipo de impacto causado. No Projeto deverão ser definidas as medidas necessárias à recuperação ou restauração da área degradada, considerando o conjunto de métodos, instruções e materiais, necessários para o retorno do sítio degradado à uma determinada forma de uso do solo visando à utilização, de acordo com o plano preestabelecido para o uso ou capacidade produtiva dos recursos ambientais. O PRAD deverá apresentar embasamento teórico que contemple as variáveis ambientais e seu funcionamento similar ao dos ecossistemas da região. Assim, ao ser protocolado no órgão ambiental (IBAMA, Órgão Estadual de Meio Ambiente ou Órgão Municipal de Meio Ambiente), deve ser acompanhado de estudos e outros documentos, que podem variar, dependendo do órgão responsável por sua avaliação e do tipode empreendimento. Atualmente existem vários termos de referência (roteiros) para a elaboração do PRAD, pois vários Estados disponibilizam diferentes termos de acordo com normas estaduais. Ao nível federal, existe uma Instrução Normativa nº 4/2011 do IBAMA que estabelece exigências mínimas e orientações para nortear a elaboração do PRAD. Essa normativa traz, ainda, na forma de anexos, Termos de Referência para estruturar o PRAD e PRAD Simplificado (aplicado em casos em que recuperação área é menos complexa). 1.1. Roteiro básico para a elaboração do projeto de recuperação Para a caracterização geral dos procedimentos e métodos para elaboração de PRAD utilizaremos como base a Instrução Normativa nº 4/2011. Assim, veremos as informações mínimas gerais que um PRAD deve conter. 22WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Na parte introdutória, são apresentados os objetivo do Projeto de recuperação, bem como a as metas, justificativa e caracterização da(s) área(s) a ser(em) recuperada(s). Para cada tipo de área degradada envolvida no projeto deve-se especificar e quantificar as áreas a serem recuperadas (ALMEIDA, 2016). Além disso, devem ser apresentadas informações gerais sobre a equipe responsável pelo projeto empreendimento, caracterização da área e objetivos do projeto, conforme descrito a seguir: ➢ Equipe responsável: Nome; CPF; formação profissional; número do registro no conselho profissional, Cadastro Técnico Federal do IBAMA, Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), endereço e telefone. ➢ Empreendimento: Denominação (nome da propriedade e do proprietário); endereço; telefone, Área (ha); Atividades econômicas desenvolvidas, área degradada, atividade e substância retirada, responsável técnico pela atividade degradadora; relação de todas as licenças ambientais existentes no empreendimento e respectivos condicionantes. Roteiro de acesso ao empreendimento, além de croqui ou mapa com localização das estradas de acesso, e demarcação das áreas a serem exploradas ou degradadas. ➢ Caracterização da degradação: Nesse item deve-se identificar a área degradada ou alterada e informar se a área engloba Área de Reserva Legal e/ou Área de Preservação Permanente. Além disso, devem ser descritos os processos causadores de degradação, destacando as causas (Exemplos: pecuária, mineração e obras civis) e atividades causadoras de impactos (Exemplos: extração mineral de argila e alteração de curso d’água). Por fim, devem ser elencados os efeitos causados ao ambiente (Exemplos: perda de biodiversidade; alteração dos corpos hídricos; processos erosivos). ➢ Caracterização Ambiental da área: nesse item devem-se apresentar informações sobre os diagnósticos ambientais, contendo informações sobre: i) Meio físico caracterizar o relevo na propriedade, tipo de solo, erodibilidade, textura e estrutura, a sub-bacia e bacia hidrográfica nas quais está inserida a área (Citar todos os cursos d’água, nascentes e áreas úmidas existentes), classificação climática, precipitação média anual, período chuvoso e período seco, déficit hídrico, temperatura média anual, temperatura máxima e mínima; ii) Meio biótico: informar as espécies de fauna e flora (nome vulgar, científico e família) que ocorrem na área e no entorno; Informar as regiões fitoecológicas dominantes na região (espaço definido por uma florística de gêneros típicos e de formas biológicas características ex: Floresta Ombrófila Mista), e as espécies (nome comum, nome científico e família) que ocorrem na propriedade, destacando as áreas do projeto, Preservação Permanente, remanescente e Reserva Legal. Para a caracterização ambiental podem ser utilizados dados secundários e dados primários. Os dados secundários correspondem às informações já disponíveis, como informações sobre relevo, bacias hidrográficas e clima. Já os dados primários correspondem às informações levantadas no projeto, como análises físico- químicas da água e do solo e inventário de espécies. ➢ Caracterização da Área a Ser Recuperada: descrever a situação original imediatamente antes da degradação ou alteração, ou ecossistema de referência e a situação atual, após a degradação, descrevendo alterações em componentes como relevo, solo e subsolo, hidrografia e cobertura vegetal. 23WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Medidas de recuperação: informar os métodos e técnicas de recuperação da área degradada que serão utilizados, sendo que os mesmos deverão ser justificados, detalhando-se a relação com o diagnóstico e com o objetivo da recuperação da área degradada. Além disso, no PRAD deverá constar o Cronograma de execução das atividades, bem como informações sobre a manutenção das medidas de recuperação e programa de monitoramento da recuperação. Esse último é realizado para avaliar a efetividade das medidas implementadas, bem como para identificar a necessidade de medidas complementares. Para isso são adotadas variáveis indicadoras, como variáveis de qualidade do solo (Exemplos: matéria orgânica, condutividade elétrica da solução do solo, estrutura e densidade do solo); variáveis de qualidade da água (Exemplos: concentração de metais pesados, demanda bioquímica de oxigênio e pH), e variáveis bióticas (Exemplos: Riqueza de espécies, Abundância e frequência de espécies vegetais). Uma vez que o PRAD é protocolado no órgão ambiental, ele será avaliado pelos analistas ambientais, os quais podem propor alterações para a melhoria do programa de recuperação. Essas recomendações, geralmente, são elencadas em um parecer técnico emitido pelo órgão ambiental. 2 - TÉCNICAS DE BIOENGENHARIA USADAS EM RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS A partir de agora aprenderemos sobre as principais estratégias utilizadas em programas de recuperação de áreas degradadas. Nessa unidade, veremos métodos físicos e as técnicas de bioengenharia empregadas na recuperação de áreas degradadas, especialmente para controle da erosão, estabilização de encostas (taludes) e contenção de voçorocas. Para entendermos melhor e visualizar um exemplo de PRAD, sugerimos a leitura de um modelo de PRAD, considerando a elaboração, execução e monitoramento de áreas degradadas para implantação de linhas e redes de distribuição, veja a referência: Cemig Distribuição S.A. Programa de recuperação de áreas degradadas – PRAD para implantação de linhas e redes de distribuição: Modelo para elaboração, exe- cução e monitoramento. 2013. Disponível em: <ftp://ftp.cemig.com.br/licitaserv/530-H08657-ANEXOS%20E1/ CD%20MS-CS/Documenta%E7%E3o/Documenta%E7%E3o%20T%E9cnica%20 -%20Padr%E3o/PRAD%20para%20implanta%E7%E3o%20de%20linhas%20e%20 redes%20de%20distribui%E7%E3o%20%20Modelo_PRAD_v06.pdf> 24WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1. Contenção de taludes e encostas Todas as encostas podem sofrer com a erosão do solo e com movimentos de massa (deslizamentos, desmoronamentos), expõe Araújo (2010), pois apresentam elevada declividade, o que também dificulta a recuperação, segundo Martins (2009). Em geral, podem ser encontrados três tipos de taludes, os taludes rodoviários e de mineração, e as encostas urbanas. Assim, cada tipo de talude pode representar uma situação especifica de degradação, propõe Martins (2009). Os taludes de corte são taludes naturais com algum tipo de escavação, enquanto que os taludes artificiais são aqueles construídos artificialmente, como nos aterros sanitários. É importante destacar que taludes naturais como as encostas de morros em áreas urbanas quando apresentam declividade superior a 45° são considerados Áreas de Preservação Permanente (APP), assim muitos deslizamentos e desmoronamentos ocorrem em virtude da ocupação inadequada e não atendimento à legislação ambiental. Por isso, a vegetaçãodo solo deve ser mantida para evitar que deslizamentos e desmoronamentos ocorram. Um caso marcante no Brasil foi a tragédia provocada pelo deslizamento de terra no Morro do Bumba em Niterói-RJ ocorrida em 2010 em uma região que abrigava um antigo lixão no município. Figura 11 - Deslizamento de terra no Morro do Bumba. Fonte: Gazeta do Povo (2010). Segundo Araújo (2010), alguns princípios devem ser observados para o controle da erosão, dentre eles destaca-se: 1) o controle da velocidade do escoamento superficial ou 2) desvio desse escoamento de áreas íngremes e desprotegidas por meio da construção de drenos de interceptação; 3) proteção com cobertura vegetal viva ou morta; 4) Construção de bacias de sedimentação para que o solo erodido seja carregado pela enxurrada, e 5) a adoção de medidas de controle da erosão serão menos complexas se adotadas o mais cedo possível. 25WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A maioria das estratégias utilizadas para contenção de encostas consiste em técnicas de bioengenharia, que em envolvem processos mecânicos associados à revegetação. Além disso, em muitos casos se faz necessário a recomposição topográfica, conhecida como sistematização (Figura 2), que envolve obras de engenharia civil para tornar o talude mais estável, cita Martins (2009). Essas obras são necessárias para tornar o talude adequado para receber a cobertura de vegetação, bem como para proteger da erosão, coloca Araújo (2010). Segundo Martins (2009), a sistematização engloba a definição do ângulo de inclinação do talude, a largura das bermas, a implantação de drenos para captação e drenagem da água da chuva. Figura 12 - Sistematização de talude. Fonte: Martins (2009). De acordo com Araújo (2010), os métodos de proteção das encostas e controle da erosão são classificados em três grupos: 1) Construções inertes (Emprego de estruturas inertes ou sistemas mecânicos); 2) Construções vivas (Plantio vegetal); e 3) Construções mistas (Associa técnicas de bioengenharia com plantio de vegetais). As construções inertes são amplamente empregadas, considerando a disponibilidade, facilidade de instalação, existência de padrões e aceitação das técnicas pelos engenheiros projetistas, expõe Araújo (2010), pois é esperado que os materiais inertes, como o aço e o concreto, possuem propriedades previsíveis e invariáveis, além de que demoram muito tempo para se degradar. Existem várias estruturas inertes de contenção, com diferentes configurações, dentre as quais é possível destacar: ➢ Muros: de arrimo (Figura 4)., de bloco articulado, de pedra, de saco solo-cimento, etc. Essas estruturas são empregadas para evitar movimentos de massas nas encostas. No Brasil, é comum também a construção de muro de solo-pneu, o qual é feito com pneus descartados. A utilização de pneus usados em obras geotécnicas apresenta-se como uma solução que combina a elevada resistência mecânica do material com o baixo custo, comparativamente aos materiais convencionais. Os muros para contenção de encostas são muito comuns em encostas rodoviárias. 26WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Gabiões: são constituídos de gaiolas metálicas preenchidas com pedras (Figura 4). A vantagem dessa estrutura é que a rede metálica apresenta resistência mecânica elevada. Figura 13 - Estruturas de contenção: muros de arrimo e gabiões. Fonte: a autora. ➢ Estruturas de contenção com solo reforçado com geossintéticos: são estruturas sintéticas ou naturais, que possuem funções de reforço, filtração, drenagem, proteção, separação, controle de fluxo e controle de erosão superficial. As geogrelhas são bons exemplos dessa técnica (Figura 5), pois as grelhas reforçam o solo e dificultam a erosão. Figura 15 - Aplicação de geogrelhas. Fonte: Roma (2013). 27WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Crib walls: são estruturas formadas por elementos pré-moldados de concreto armado, madeira ou aço, que são montados em forma de fogueiras justapostas e interligadas. O espaço interno é preenchido com material granular resistente. Figura 16 - Crib walls. Fonte: Portal Virtuhab (s.d.). → Cobertura do solo: consiste na adição de uma camada de cobertura morta, que pode ser de material artificial, conhecida como mulche, fabricada a partir de material sintético como fibra de vidro. Ou pode ser uma cobertura natural, conhecidas como biomantas, como fibra de coco. As mantas naturais são vantajosas porque são biodegradáveis e podem ser incorporadas ao solo do talude, enquanto que as sintéticas não são biodegradáveis, porém possuem vida útil superior, afirma Martins (2009). Figura 17 - Aplicação de biomanta. Fonte: Projar (s.d.). 28WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA As construções vivas usam o plantio de vegetais para controlar a erosão (Figura 8), pois a vegetação aumenta a resistência do solo à erosão. Vários tipos de vegetação herbácea e gramínea são utilizados nessa técnica, que pode ser por meio de estaquia, transplantio, tapetes de grama ou semeadura direta, comenta Araújo (2010). Segundo Martins (2009), alguns aspectos devem ser considerados nessa técnica, como o tipo de talude, inclinação do talude, localização do talude, clima da região, disponibilidade de sementes e mudas, e recursos financeiros disponíveis. Além disso, uma questão crucial é a escolha das espécies. Por isso, devem-se considerar as exigências ambientais das espécies, a fragilidade da espécie em relação ao vento e declividade, o sistema radicular da espécie (o ideal é que as raízes sejam profundas e vigoras, dependendo da situação), a associação com microrganismos fixadores de nitrogênio (importante para a nutrição do vegetal) e tempo de crescimento e cobertura do solo, cita Martins (2009). É importante sempre dar prioridade para o uso de espécies nativas da região (ARAÚJO et al., 2010). Figura 18 - Revegetação de talude. Fonte: Diprotec (s.d.). Por fim, as construções mistas empregam ao em mesmo tempo construções inertes e vivas, como é possível observar na figura 9, em que o plantio de espécies é associado com a colocação de biomanta. 29WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 19 - Construção mista. Fonte: Sistema Vetiver (2012). 2.2. Técnicas de contenção de voçorocas Veremos agora medidas para prevenção da erosão e controle de voçorocas que podem ser aplicadas na recuperação de áreas urbanas e rurais. Visto que o problema da erosão não é restrito à áreas agrícolas, pois elas podem ser originadas por uma série de fatores como a retirada da vegetação, canalização e desvio inadequado das água pluviais nas estradas, construção de barragens e açudes, explica Campeche (2008). De acordo com Martins (2009), quando a erosão atinge o estágio de voçoroca o seu controle é difícil e oneroso, e muitas situações exigem intervenções com obras de engenharia, por isso, para evitar a erosão, o ideal é que sejam adotadas práticas conservacionistas no uso de solos agrícolas ou urbanos. As estratégias de recuperação são diferentes para as diferentes categorias de solos degradados. A primeira medida conservacionista consiste em atender a legislação sobre APPs e manter a vegetação em encostas íngremes, pois essas áreas são mais susceptíveis à erosão, e a cobertura florestal nessas áreas reduz a formação de enxurradas, aumenta a infiltração de água no solo e reduz o impacto das gotas de chuva, protegendo o solo da erosão (MARTINS, 2009). Além disso, a conservação da vegetação ciliar é importante também para proteção dos corpos hídricos e para evitar o assoreamento (acúmulode detritos ou partículas no leito dos rios). 30WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Segundo Martins (2009), as principais medidas conservacionistas envolvem: ➢ Plantio em nível: nesse sistema as linhas de plantas acompanham o nível do terreno (Figura 20), e assim, atuam como uma barreira, reduzindo a velocidade da água do escoamento superficial e facilitando a infiltração. ➢ Plantio direto: nessa técnica a semente é colocada no solo não revolvido (sem prévia aração ou gradagem niveladora), incorporando os restos vegetais de uma cultura para a próxima. Essa técnica evita a erosão, pois reduz a exposição do solo aos fatores erosivos e melhora as características físicas e químicas do solo. ➢ Terraceamento: É uma das práticas mais eficientes para controlar a erosão de terras cultivadas. Os terraços são formados por um canal e um camalhão ou a combinação de camalhão e canal, construídos em nível em intervalos entre linhas da cultura plantada. Os terraços de infiltração interceptam a enxurrada e promovem a infiltração da água no canal do terraço, e os terraços de drenagem interceptam a enxurrada e a conduzem para um sistema de escoamento que pode ser uma grota vegetada ou um canal escoadouro. O espaçamento entre terraços é calculado de acordo com a capacidade de infiltração de água no solo, a resistência que o solo oferece à erosão e o uso e manejo do solo. Figura 20 - Práticas de conservação do solo: a) plantio em nível; b) plantio direto e c) terraceamen- to. Fonte: a autora. 31WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Sistema agroflorestal: Compreendem os cultivos consorciados de espécies arbóreas com culturas agrícolas e/ou animais (Figura 21). Consistem em uma boa alternativa para agricultura familiar, pois possibilitam a redução nos custos em virtude da redução no uso de insumos e agrotóxicos. Figura 21 - Sistema agroflorestal. Fonte: Aduba o Futuro (2017). Para a contenção de voçorocas, as técnicas a serem adotadas irão depender das características do local e do tamanho da voçoroca. Por isso, o primeiro passo é analisar todo o entorno da área e identificar os fatores que geraram a voçoroca e que mantém o processo erosivo. Dependendo do tamanho da voçoroca e da relação custo benefício, pode-se optar pela recuperação total ou estabilização da área, com possibilidade de usá-la para outras finalidades como canal escoadouro vegetado para descarga da enxurrada de terraços, habitat para a fauna, área reflorestada, pastagem ou, até mesmo, ser reincorporada ao processo agrícola produtivo, explica Campeche (2008). Para saber mais sobre as medidas de conservação do solo empregadas para evi- tar a erosão sugerimos o vídeo descrito a seguir: Técnicas de conservação do solo e da água - Dia de Campo na TV Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Hot1ErGiOho>. 32WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Segundo Campeche (2008), independente do processo de formação das voçorocas, alguns procedimentos básicos deverão ser utilizados: ➢ Isolamento da área de contribuição da formação da voçoroca: Esse procedimento objetiva eliminar os fatores que estejam influenciando e contribuindo para a concentração da água na área de contribuição (bacia de captação), e no interior da voçoroca, e interromper seu crescimento. Por isso, deve-se: evitar o entrada de animais; o tráfego de máquinas e veículos nas áreas adjacentes; a atividade agrícola sem práticas conservacionistas no entorno da voçoroca; atividades extrativistas, a alocação inadequada de estradas e caminhos que direcionam a enxurrada para a voçoroca, coloca Campeche (2008). ➢ Controle da erosão em toda a bacia de captação de água da voçoroca: objetiva executar práticas mecânicas e vegetativas a montante e nas laterais da voçoroca, a fim de desviar a água que cai em seu interior. Isto pode ser conseguido com sistemas de terraceamento, bacias de captação de água (Figura 22), plantio em nível, cobertura vegetal com espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, instalação de paliçadas de bambu e sacos de terra e, também, a implantação de cordões vegetados, cita Campeche (2008). Figura 22 - Bacia de captação da água da chuva. Fonte: Campeche (2008). Além disso, aberturas de canais de contorno à montante do início da voçoroca (Figura 23) podem ser construídas para desviar a água da chuva, propõe Martins (2009). 33WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 23 - Canal de contorno para desvio da água da chuva. Fonte: Martins (2009). 34WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Drenagem da água subterrânea: quando a voçoroca atinge o lençol freático aparece uma mina de água subterrânea a qual deve ser captada e conduzida para fora da voçoroca até um leito de drenagem estável, para que o processo erosivo seja controlado, expõe Campeche (2008). Isso pode ser feito com dreno de pedra ou feixes de bambu. ➢ Suavização dos taludes da voçoroca: muitas vezes, a suavização é necessária porque os taludes da voçoroca são muito íngremes para a implantação da vegetação protetora do solo, indica Campeche (2008). Isso pode ser realizado paredes utilizando-se paliçadas de bambu, por exemplo (Figura 24). Figura 22 - Suavização dos taludes da voçoroca. Fonte: Campeche (2008). ➢ Construção de barreiras artificiais e/ou naturais no interior das voçorocas: Essas barreiras funcionam como pequenas barragens para retenção de sedimentos que são carregados pelo escoamento superficial. Assim, elas evitam a erosão no interior da voçoroca, comenta Campeche (2008). Essas barreiras podem ser construídas ao longo da área da voçoroca (Figura 23), e podem ser feitas de bambu (Figura 25), pedras, sacos de terra, madeira, galhos e troncos de árvores, entulhos, dentro outros materiais e geralmente são indicadas em estágios erosivos avançados. 35WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 23 - Controle de erosão na bacia de capitação. Fonte: Campeche (2008). Figura 25 - Paliçadas de bambu utilizadas como barreiras de contenção. Fonte: Campeche (2008). ➢ Vegetação da voçoroca e área de contribuição: A seleção das espécies vegetais a serem utilizadas na vegetação das voçorocas e de sua área de contribuição vai depender das dimensões (largura e profundidade) da voçoroca e da viabilidade econômica de uso futuro da área para fins agrícolas ou civis, mostra Campeche (2008). É importante observar as espécies que ocorrem naturalmente na região e que conseguem se regenerar rapidamente na área degradada, explica Martins (2009). 36WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Assim, nas áreas onde as voçorocas apresentam dimensões que não comportem o seu fechamento com movimentação de terra, as espécies selecionadas devem apresentar crescimento rápido, possuir sistema radicular abundante, serem rústicas (adaptadas a condições de pequena fertilidade) e proporcionarem boa cobertura do solo, segundo Campeche (2008). Além disso, o plantio de leguminosas é importante porque essas espécies possuem capacidade natural de fixação biológica de nitrogênio, por meio da simbiose com bactérias do gênero Rhizobium e da associação com fungos micorrízicos, o que aumenta a eficiência na absorção de nutrientes, explica Campeche (2008). Por toda a área da voçoroca é recomendada a semeadura a lanço e/ou em pequenas covas de coquetéis de sementes de leguminosas herbáceas e arbustivas, conforme Martins (2009).Além disso, é recomendado o plantio de leguminosas de baixo porte e de crescimento rasteiro, pois essas espécies promovem, além da fixação do nitrogênio, rápida cobertura do solo, incorporação e manutenção de matéria orgânica, fatores que protegem o solo da erosão e melhoram sua fertilidade, cita Martins (2009). Em geral, a diversidade de espécies arbóreas que colonizam voçorocas é baixa, contudo, as espécies que conseguirem se estabelecer podem ser utilizadas na revegetação dessas áreas, uma vez que conseguiram crescer e, solo degradado, afirma Martins (2009). Para saber mais sobre controle e recuperação de voçorocas recomenda-se dois vídeos com exemplos práticas das técnicas estudadas. As práticas mecânicas e edáficas descritas anteriormente ajudam a combater apenas o escoamento superficial, um dos fatores que causam a erosão e o surgimento de voçorocas. Outro fator importante é o impacto da gota da chuva na superfície do solo, que provoca a desagregação das partículas do solo, o carregamento de sedimentos pela enxurrada e a abertura de sulcos que irão originar as voçorocas, cita Campeche (2008). Por isso, é fundamental que o solo esteja protegido com algum tipo de cobertura vegetal. De acordo com Campeche (2008) para que o controle da voçoroca seja bem-sucedido, é preciso o monitoramento constante das estruturas construídas (paliçadas, terraços, cordões vegetados, etc). Além disso, é importante a realização de vistorias após chuvas fortes, a fim de avaliar possíveis danos e implementar reparos para a conservação das estruturas. 2.3. Importância da vegetação na estabilidade de encostas e controle de voçorocas A vegetação possui valiosa importância para a recuperação de áreas degradadas, tanto que separamos o final dessa unidade para discutirmos essa importância para a estabilidade das encostas e controle de voçorocas. A remoção da vegetação da encosta pode resultar no aumento das taxas de erosão aumentando os riscos de deslizamentos. Além disso, em áreas rurais a retirada da vegetação é associada com a ocorrência de voçorocas. Como conter a evolução de voçorocas no meio rural - Dia de Campo na TV Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nN0Ido7z0vs>. 37WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA As margens de rios e outros cursos d’ água também estão sujeitas à erosão e atrito pelo fluxo d água. Por isso, os processos erosivos são um dos principais fatores causadores de assoreamento de corpos hídricos. A força erosiva aumenta com a velocidade da água e a vegetação da encosta pode ajudar a reduzir a erosão (ARAÚJO, 2010). Assim, a vegetação ciliar consiste em zona ‘tampão’ para retenção dos sedimentos carregados pelo escoamento superficial. A parte aérea da vegetação e seus resíduos em decomposição protegem o solo de processos de mobilização e carreamento das partículas do solo, pela ação dos agentes erosivos, como vento e a água, salienta Couto (2010). Assim, a cobertura do solo com grama ou vegetação herbácea oferece melhor proteção contra a erosão laminar e contra a ação do vento. Segundo Araújo (2010), a vegetação atua na proteção do solo por meio dos mecanismos de: ➢ Interceptação: as folhagens e resíduos vegetais absorvem a energia da chuva e impedem o destacamento do solo pelo impacto das gotas de chuva. ➢ Contenção: o sistema radicular contém fisicamente as partículas do solo, enquanto as partes acima da superfície filtram os sedimentos do escoamento superficial. ➢ Retardamento: os caules e as folhagens aumentam a rugosidade da superfície e reduzem a velocidade do escoamento superficial. ➢ Infiltração: as plantas e seus resíduos ajudam a conservar a porosidade e permeabilidade do solo, atrasando ou impedindo o início do escoamento superficial. Assim, a manutenção ou plantio vegetal, especialmente de espécies arbóreas apresenta diversos benefícios como: i) reforço do sistema radicular: pois as raízes reforçam o solo mecanicamente; ii) redução da umidade do solo: a evapotranspiração e a interceptação na folhagem podem ajudar a reduzir a elevada umidade no solo; iii) suporte e arqueamento: os caules ancorados e incrustados podem agir como suporte, reduzindo as forças de arraste das partícula; e iv) Sobrecarga: o peso da vegetação pode, em certos casos, aumentar a estabilidade, conforme Araújo (2010). Contudo, a vegetação arbórea também pode gerar prejuízos, pois apresentam risco de queda. Assim, recomenda-se o uso de estratégias de posicionamento adequado (Figura 25) de plantio de espécies arbóreas para recuperação e contenção de encostas, a fim de minimizar o risco de queda de árvores. Em geral, essas estratégias englobam medidas de plantio de arbóreas na base das encostas e plantio de arbustos e espécies de menor porte na região mais alta da encosta, cita Araújo (2010). Figura 25 - Ilustração esquemática de estratégia de posicionamento de plantio em encosta. Fonte: Araújo (2010). 38WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Para finalizarmos essa unidade, é importante lembrar que entender processos, fatores e as causas da degradação do ambiente são requisitos básicos para um programa de recuperação bem sucedido. Inicialmente é preciso estabelecer uma relação causa-efeito, porque a eliminação dos fatores que originaram a degradação pode reverter a tendência de degradação e acionar os processos de recuperação. Além disso, as alternativas e soluções devem ser pensadas a partir do diagnóstico da área degradada e a partir do tipo de degradação. Vale ressaltar ainda, que o que vimos nessa unidade são exemplos de medidas que podem ser aplicadas em programas de recuperação, contudo, cada caso de degradação é único, e as alternativas de recuperação devem ser escolhidas levando-se em consideração os fatores geradores da degradação, as características do local e os recursos disponíveis para a implementação do programa. 3939WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 40 1 - SUCESSÃO ECOLÓGICA E REGENERAÇÃO NATURAL ..................................................................................... 41 1.1. ORIENTAÇÕES PARA REGENERAÇÃO NATURAL ............................................................................................45 1.2. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA A RESTAURAÇÃO FLORESTAL ...................................... 46 2 - MODELOS SUCESSIONAIS ................................................................................................................................ 47 3 - MODELOS DE NUCLEAÇÃO .............................................................................................................................. 51 3.1. PLANTIOS DE MUDAS EM ILHAS DE ALTA DIVERSIDADE ............................................................................ 51 3.2. TRANSPOSIÇÃO DE GALHADA ........................................................................................................................ 52 3.3. TRANSPOSIÇÃO DE SOLO E BANDO DE SEMENTES DO SOLO ................................................................... 53 3.4. TRANSPOSIÇÃO DE CHUVA DE SEMENTES ................................................................................................. 53 3.5. UTILIZAÇÃO DE POLEIROS NATURAIS E ARTIFICIAIS ................................................................................ 54 3.6. MONITORAMENTO DO PROGRAMA DE RESTAURAÇÃO ............................................................................. 55 TÉCNICAS DE RESTAURAÇÃO FLORESTAL PROF.A MA. RENATA RUARO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: AVALIAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 40WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE ÁRE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nessa unidade, aprenderemos sobre as estratégias utilizadas para a restauração de ecossistemas degradados, assim, abordaremos diversos conhecimentos relacionados à reconstituição da estrutura do ecossistema e da dinâmica das espécies, especialmente no que se refere à sucessão ecológica e estrutura do ecossistema. Além disso, veremos algumas técnicas e modelos de restauração e nucleação, bem como critérios para a seleção de espécies vegetais. 41WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - SUCESSÃO ECOLÓGICA E REGENERAÇÃO NATURAL As comunidades em um dado ambiente existem num estado de fluxo contínuo, organismos morrem e outros nascem para tomar seus lugares; e a energia e os nutrientes fluem por meio da comunidade, segundo Ricklefs (2010). Entretanto, quando um habitat é perturbado, como uma floresta desmatada ou uma área de cerrado queimada, a comunidade pode lentamente se reconstituir. Isso ocorre porque após um distúrbio, espécies pioneiras adaptadas à habitats perturbados iniciam a colonização da área perturbada, coloca Ricklefs (2010). Essas espécies pioneiras induzem modificações no ambiente, as quais criam condições adequadas de microclima e solo para estabelecimento de outras espécies vegetais, as espécies secundárias, explica Almeida (2016). Essas modificações incluem, por exemplo, o sombreamento da superfície da terra, geração de detritos orgânicos para enriquecimento do solo e alteração no conteúdo de umidade do solo, cita Ricklefs (2010). Estas mudanças tornam o ambiente mais adequado para as espécies secundárias, que necessitam de menos luz e melhores condições de solo, comenta Almeida (2016). A sequência de mudanças iniciadas pela perturbação é chamada de sucessão, e a associação de espécies atingida em último estágio é chamada de uma comunidade de clímax, mostra Ricklefs (2010). A sucessão primária é o estabelecimento e o desenvolvimento de comunidades em habitats recentemente formados ou destituídos de vida (por exemplo, dunas de areia e fluxos de lava). A regeneração de uma comunidade após uma perturbação é chamada de sucessão secundária, explica Ricklefs (2010). Quando uma floresta sofre um distúrbio, como uma queimada ou abertura de uma clareira, a sucessão secundária promove a colonização da área aberta e perturbada e conduz um aumento da complexidade estrutural e funcional do ecossistema, para uma comunidade estável (clímax), por meio da substituição de espécies ao longo do tempo e modificações nas condições ecológicas do local, expõe Martins (2009). Assim, quando falamos em restauração florestal estamos nos referindo a sucessão secundária. Como já citado, no processo de sucessão existe uma modificação na composição das espécies vegetais ao longo do tempo (Figura 26). Segundo Balieiro e Tavares (2008), o processo sucessional pode ser divido em 3 fases: 1) fase de clareira: a recomposição florestal é iniciada, há predominância de indivíduos jovens (plântulas e mudas) germinadas de bancos preexistentes no solo, e ou que chegaram a clareira; 2) fase de edificação: abrange a ocorrência de espécies vegetais finas e extremamente altas, em intenso crescimento vertical, dado a competição por luz; e 3) fase madura: nessa fase a maioria dos indivíduos chega a fase reprodutiva, a biomassa tente a se estabilizar na capacidade produtiva do ecossistema alcançado equilíbrio dinâmico. Nessa fase, há predomínio do crescimento em diâmetro das espécies, com expansão lateral das copas das árvores. A velocidade com que a floresta irá se reconstituir é inversamente proporcional ao tamanho e intensidade do dano a ela associado e diretamente relacionada ao seu potencial de regeneração, revela Balieiro e Tavares (2008). 42WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 26 - Sucessão ecológica. Fonte: Toda Matéria (s.d.). As espécies vegetais pioneiras, secundárias e clímax possuem diversas características distintas e o conhecimento dessas características é fundamental para o delineamento de um programa de restauração florestal. Essas diferenças nas características das espécies serão descritas a seguir, de acordo com Almeida (2016): 1) Espécies pioneiras ➢ Ocorrem em clareiras, bordas de fragmentos florestais, locais abertos e áreas degradadas; ➢ Possuem capacidade de adaptação em ambientes variados, não apresentam muitas exigências em relação aos nutrientes do solo, e possuem alta tolerância à luz e intolerantes à sombra; ➢ Apresentam pequeno ciclo de vida (10-20 anos) e rápido crescimento vegetativo; ➢ Apresentam floração e frutificação precoce (algumas espécies chegam a florescer ainda na fase de viveiro, 6 meses após semeio); ➢ As sementes em geral pequenas, produzidas em grandes quantidades; ➢ Conservação do poder germinativo das sementes por longos períodos - permanece no banco de sementes do solo; ➢ Frutos e folhas atrativas para animais silvestres; ➢ Dispersão de sementes por agentes generalistas; ➢ Sistemas radiculares de absorção mais desenvolvidos; 43WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA ➢ Elevada plasticidade fenotípica; ➢ Grande dispersão geográfica; ➢ Madeira clara e de baixa densidade; Exemplos: Schinus terebinthifolius (Aroeira-mansa) e Vismia spp. (Maria Preta), Miconia spp. (Jacatirão, Quaresminha). 2) Secundárias Iniciais ➢ Ocorrem em locais totalmente abertos e semiabertos e clareiras na floresta. Essas espécies aceitam somente o sombreamento parcial; ➢ Tamanho das espécies varia entre 12-20 metros. ➢ Sementes de tamanho pequeno e médio, e em geral, apresentam algum tipo de dormência; ➢ Em boas condições de iluminação da copa produzem boas quantidades de sementes; ➢ Sementes geralmente dispersas por pássaros, morcegos, gravidade e vento. ➢ Coexistem com as pioneiras, nas fases iniciais da sucessão, mas em menor densidade; ➢ Rápido crescimento vegetativo; ➢ Ciclo de vida médio (15-30 anos); Exemplos: Bauhinia forficata (Pata-de-vaca) Inga spp. (Ingá) e Senna macranthera (Fedegoso). 3) Secundárias Tardias ➢ Ocorrem exclusivamente em sub-bosque, em áreas permanentemente sombreadas, crescem e completam seu ciclo à sombra. Na fase adulta, ocupam quase sempre os estratos superiores da floresta; ➢ Começam a ocorrer em estágios médios de sucessão; ➢ As mudas dessas espécies irão compor o banco de plântulas da floresta; ➢ As árvores deste grupo são normalmente de grande porte; ➢ Ciclo de vida longo; ➢ As sementes são dispersas por vento, gravidade e também por alguns animais; ➢ Sementes médias e grandes; Exemplos: Dalbergia nigra (Jacarandá) e Vochysia spp (Pau-de-tucano). 44WWW.UNINGA.BR AV AL IA ÇÃ O E RE CU PE RA ÇÃ O DE Á RE AS D EG RA DA DA S | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 4) Espécies Clímax ➢ Regeneram-se e se desenvolvem em plena sombra, sendo típicas de ambiente de floresta primária e de estágios avançados de sucessão; ➢ Na fase adulta, em florestas primárias ou em estágios avançados, ocupam os dosséis superiores da floresta; ➢ Em geral, as sementes possuem pequena viabilidade e, dificilmente, apresentam algum tipo de dormência, germinando logo que caem sobre o solo; ➢ As sementes grandes são dispersas por gravidade, por mamíferos e roedores; ➢ São espécies vegetais com estreita relação com animais polinizadores e dispersores; ➢ Apresentam baixa densidade por área (geralmente são espécies raras); ➢ Em geral, espécies de maior porte; ➢ Ciclo de vida longo muito longo, chegando acima de 100 anos; ➢ Definem a estrutura final da floresta; ➢ Crescimento vegetativo lento, alta densidade da madeira; ➢ Nesse grupo são encontradas espécies arbóreas produtoras de madeiras nobres, de alto valor econômico;
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