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Captação de Recursos no Mercado Financeiro Finanças Corporativas Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ AUTORIA André de Faria Thomáz Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006); e mestre (2011) e doutor (2018) em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atuo como contabilista e como professor, nas modalidades presencial e a distância, nas áreas de auditoria contábil de departamentos, de finanças e de pessoal. Durante minha atuação como contabilista, tenho vasta experiência na área de Obrigações Acessórias e Obrigatórias. Por outro lado, ao longo de minha experiência como docente, além de ter sido coordenador de curso, lecionei, principalmente, as seguintes disciplinas: Contabilidade Básica; Economia; Planejamento e Contabilidade Tributária; Contabilidade de Custos e Análise de Custos; Gestão por Processos; Estrutura das Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações; Contabilidade Gerencial; Teoria da Contabilidade; Contabilidade Intermediária; Contabilidade Internacional; Auditoria; Contabilidade Empresarial; Controle Interno; Matemática; Logística; Recursos Humanos; e Gestão de Risco. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que se iniciam em suas profissões. Por isso, fui convidado a integrar o elenco de autores independentes da editora TeleSapiens. Estou muito feliz por poder ajudá-lo, aluno, nesta fase da vida de muito estudo e de muito trabalho. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Tipos de Mercado Financeiro ................................................................. 10 Custo do Capital Próprio e Custo do Capital de Terceiros ................................ 10 Compreendendo o Capital Próprio ................................................................. 13 Compreendendo o Capital de Terceiros .....................................................22 Taxa Interna de Retorno (TIR)................................................................. 25 Risco: Como é Calculado? ........................................................................................................25 Retorno: Como é calculado? ...................................................................................................27 Risco e Retorno de Carteira: Como são Calculados? ...........................................29 Risco de Captação de Recursos ........................................................... 33 Valor das Ações e Funcionamento no Mercado de Ações ..............................35 Decisão de Capitalização das Empresas...........................................39 7 UNIDADE 02 Finanças Corporativas 8 INTRODUÇÃO Qualquer empresa, com o intuito de garantir as próprias operações, necessidade de recursos financeiros. Quando, na condição de gestores financeiros, estudamos as diversas fontes de recursos financeiros, com o intuito de identificar a que mais se adapta à realidade da nossa instituição, devemos prestar atenção, sobretudo, aos três seguintes aspectos: 1. A origem dos recursos financeiros, que podem vir ou do capital de giro e do patrimônio empresarial ou do aporte de terceiros (dentre outros, bancos, casas factoring, investidores e políticas públicas); 2. O prazo do financiamento contratado, que poderá ser ou curto ou longo, mantendo, para cada modalidade e para cada prazo, custos, tributos e retornos específicos; 3. Os custos fixos do financiamento contrato, verificando, em meio às opções disponíveis no mercado, qual apresenta maior probabilidade de aumentar a lucratividade da empresa. Nesta unidade, abordaremos os conhecimentos mínimos da composição do custo de capital de que um gestor financeiro necessita para desempenhar suas funções: captação de recursos financeiros, considerando as formas de financiamento externo; a realização de alavancagem financeira; e a prática de alavancagem total. Conforme compreendamos o que são esses conceitos e como afetam a estruturação dos recursos financeiros organizacionais, seremos capazes de calcular o custo médio ponderado de capital, também conhecido por sua forma inglesa, weighted average capital cost (WACC); de calcular o grau de alavancagem da empresa em determinado período; de verificar a estrutura de capital ótima para cada tipo de empresa; e de administrar os custos financeiros fixos de modo a projetar (alavancar) os lucros. Bons estudos! Finanças Corporativas 9 OBJETIVOS Olá, aluno! Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – CAPTAÇÃO DE RECURSOS NO MERCADO FINANCEIRO. Com esta unidade, você se habilitará a analisar como os recursos financeiros empresariais podem ser aplicados; e como o custo de capital, se for bem gerido, pode ser transformado em aliado das organizações. Sendo assim, quando finalizar esta etapa de nossa disciplina, você terá desenvolvido, com o nosso auxílio, as seguintes competências: 1. Entender os tipos de mercado financeiro e seus perfis de oportunidade em termos de captação de recursos. 2. Aplicar as bases de cálculo da taxa interna de retorno (TIR) em situações de investimento financeiro. 3. Avaliar os riscos quanto à captação de recursos por parte das empresas. 4. Discernir sobre o momento mais propício e a melhor linha de captação de recursos para capitalizar a empresa. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Finanças Corporativas 10 Tipos de Mercado Financeiro OBJETIVO: Nesta seção, com vistas a dominar o conceito de custo de capital e a calculado, você aprenderá vários dos elementos com os quais está integrado: risco, retorno, função beta e função CAPM (modelo de precificação de ativos financeiros). Assim que houver dominado todas essas noções, você, aluno, será capaz de desenvolver, adequadamente, a estrutura de capital de uma empresa, aplicando tais ferramentas aos seus departamentos mais estratégicos. Motive-se e acompanhe nossos passos bem de perto!. Custo do Capital Próprio e Custo do Capital de Terceiros Todas as empresas esperam que suas operações rendam, no mínimo, o suficiente para cobrir seus custos e uma margem de lucro. Para que isso aconteça, devemos, durante nossas análises dos recursos financeiros, adotar o cálculo do custo de capital como uma ferramenta aliada, considerando que se compõe da combinação dos custos do capital próprio e do custo do capital de terceiros; e que, portanto, evidenciará as oportunidades associadas aos tipos de capital. Como forma de nos situarmos em relação aos cálculos dos custos do capital próprio e do custo do capital de terceiros, lançaremos alguns questionamentos. 1. Que tipos de capital uma empresa pode adotar emsuas operações? 2. De que fontes provêm os diferentes tipos de capital? 3. Sabemos que os custos associados aos tipos de capital podem ser mensurados. No entanto, como isso é feito? Finanças Corporativas 11 Responder a essas questões será o objetivo que nos moverá durante a leitura dos próximos parágrafos, em que teremos contato, finalmente, com os custos do capital próprio e do custo do capital de terceiros; com o custo médio ponderado de capital e, ainda, com a estruturação (planejamento) dos custos de capital. NOTA: Estabelecer a estrutura de capital ótima para a sua empresa é um dos objetivos, talvez, o mais importante, do gestor financeiro. Contudo, não foi desenvolvido, até o momento, um método de cuja aplicação resulte a especificação da estrutura de capital ótima do nosso negócio. Sendo assim, quando buscarmos a melhor estrutura de capital para certa empresa, devemos preocuparmo-nos com equilibrar os usos de capital próprio e de capital de terceiros com os benefícios que esses tipos de financiamento podem render. Figura 1 – Estrutura de capital empresarial Balanço patrimonial Ativos Passivo circulante Exigível de longo prazo Patrimônio líquido Ações preferenciais Capital ordinário Ações ordinárias Lucros retidos Capital de terceiros Capital próprio Estrutura de capital total Fonte: Kato (2012, p. 45). Mas, afinal, o que é o custo do capital de uma empresa, de que tanto temos falado? De acordo com Kato (2012), trata-se da remuneração que os donos de capital – dentre outros, acionistas, investidores, bancos e credores – recebem em troca de cedê-lo a outrem. Nesse sentido, como a Figura 1 demonstra, o planejamento da estrutura de capital de uma empresa dependerá, por um lado, de como o gestor financeiro manipulará Finanças Corporativas 12 seus ativos; e, por outro lado, de o capital incorporado às operações ser tomado ou dos ativos das empresas, caso em que poderá comprometer o seu capital de giro e o seu patrimônio, ou de fontes externas, situação em que custos de capital serão cobrados. IMPORTANTE: Para Kato (2012), se a relação entre o que for exigível a longo prazo e o patrimônio líquido da empresa resultar em custos de capital pequenos, estaremos próximos da estrutura de capital ideal. Os recursos próprios e os recursos de terceiros se diferenciam por várias razões, dentre as quais, neste momento, é relevante destacar as seguintes: a. Ao passo que o capital próprio deve ser declarado no Imposto de Renda, a fim de compor o tributo que deve ser pago à União, as despesas decorrentes do uso de capital de terceiros são um dos elementos aceitos como dedutíveis da base de cálculo desse imposto. b. No caso de uma empresa declarar falência, o pagamento do capital tomado de terceiro tem prevalência sobre suas demais obrigações – logicamente, quanto maior for a parcela de capital externo na composição da estrutura financeira de uma organização, mais acentuado será o risco a que o gestor financeiro submete essa organização. Portanto, corroborando o que afirmamos anteriormente, as razões apresentadas indicam a relevância de se investigar as características e as consequências do uso de capital próprio e da contratação de capital de terceiros. Finanças Corporativas 13 Figura 2 – Metas financeiras Fonte: Pixabay. Compreendendo o Capital Próprio O capital próprio de uma empresa, de uma maneira geral, consiste nos fundos de longo prazo garantidos por seus proprietários. Veremos, abaixo, como o conceito se aplica a dois dos tipos de empresas existentes no Brasil: a sociedade limitada e a sociedade anônima – mais especificamente, a sociedade anônima de capital aberto. A sociedade limitada é uma empresa cujo contrato social limita, em consonância com os preceitos legais, a responsabilidade dos sócios sobre os prejuízos organizacionais, como modo de resguardar os bens particulares de seus sócios. Essa proteção aos bens dos proprietários se estende, também, à hipótese de falência, mas pode ser revogada em certos contextos, dos quais mencionaremos dois: 1. Abuso da personalidade jurídica, que é caracterizado, dentre outros casos, por desvios de finalidade e pela ausência de separação clara dos bens pertencentes à personalidade física dos proprietários dos bens pertencentes ao patrimônio da empresa, conforme define o artigo 50 do Código Civil (BRASIL, 2021). 2. Tributos vencidos após a dissolução da sociedade limitada, conforme estabelece o artigo 134 do Código Tributário Nacional (BRASIL, 2007). Finanças Corporativas 14 NOTA: O contrato social pode e deve ser modificado ao longo da existência da empresa, a fim de que informações como regulamento e capital social, dentre várias outras, reflitam sua realidade. No contrato social de uma empresa de sociedade limitada, além de constar as cláusulas de limitação de responsabilidade, é informado o valor de seu capital social, que corresponde a quanto os seus proprietários investiram durante sua fundação. Sendo assim, para calcular o custo do capital próprio, verificaremos, antes, o custo de oportunidade do sócio (ou dos sócios) proprietário, que diz respeito à melhor alternativa de investimento preterida ao destinar seu capital particular (pessoa física) à sua empresa. Considerando o que discutimos no parágrafo anterior, podemos utilizar a taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, mais conhecida como taxa Selic, para determinar os custos de oportunidade dos sócios proprietários das empresas. Segundo Assef Neto (2010), além de se pautar na taxa Selic, esse cálculo deve incluir o quanto os proprietários prospectam de retorno em relação ao patrimônio líquido de suas empresas. Entretanto, discutir tal perspectiva não interessa aos objetivos deste texto, bastando que você, aluno, tenha ciência de que existe. SAIBA MAIS: A taxa Selic, que é a mais básica taxa de juros de nossa economia, é regulada pelo Banco Central do Brasil e, por isso, costuma ser um índice confiável. No seguinte endereço eletrônico, um dos canais de comunicação oficiais do Banco Central do Brasil, você encontrará boa parte das informações disponíveis sobre a taxa Selic. Disponível aqui. Finanças Corporativas https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/taxaselic 15 Por sua vez, as sociedades anônimas são empresas cujo contrato social prevê que seu capital social se dividirá em ações, em vez de ser atribuído a um proprietário (ou a mais de um). Tais ações podem, se esse for o desejo dos sócios ou acionistas, ser negociadas no mercado de ações: caso adote essa prática, vendendo ações ao público em troca de recursos financeiros, a sociedade anônima será do tipo capital aberto; caso não adote essa prática, a sociedade anônima será do tipo capital fechado. No caso das empresas de capital aberto, o único dos tipos de sociedade anônima que estudaremos agora, o capital se forma de duas fontes básicas: uma, que mencionamos no último parágrafo, é a venda de ações ao público interessado; outra é o capital de acionistas ordinários. Ações negociadas com o público são chamadas de preferenciais e se caracterizam por não garantirem, a seus portadores, direito à voto em assembleias, embora lhes assegurem acesso prioritário tanto aos dividendos quanto à restituição de seu capital na hipótese de falência. Por sua vez, o capital dos acionistas ordinários, que são os sócios da empresa com voto em assembleias e com participação nos seus lucros, é o valor pago em troca de ações ordinárias – que lhes concedem os direitos mencionados, apesar de não terem privilégios na distribuição de dividendos. Normalmente, de acordo com Kato (2012), o capital resultante da emissão de ações ordinárias é a forma mais custosa de capital próprio, seguida, de perto, pelos lucros retidos e, então, pelas ações preferenciais. Você se arriscaria a dar um palpite, aluno, do motivo que torna a açãoordinária a fonte mais onerosa de capital próprio? Por detrás dessa afirmação, estão os riscos que os acionistas que adquirem essas ações assumem, visto que o seu retorno, que se dará na forma de dividendos, estará condicionado ao pagamento da parte dos acionistas preferenciais. A distribuição dos dividendos é um fator influente na relação das empresas com o mercado. Segundo Hoji (2009), pagar os dividendos com a devida regularidade, aos olhos do mercado, é um sinal de credibilidade, enquanto não o fazer é encarado como um indício de desiquilíbrio Finanças Corporativas 16 financeiro. Ao contrário do que poderíamos imaginar, a distribuição dos dividendos envolve, além da distribuição proporcional de parte do lucro das organizações entre seus acionistas, a delimitação da parte destinada a reinvestimentos – esse, de fato, é um aspecto que importa ao mercado, na medida em que possíveis acionistas costumam buscar investimentos rentáveis, estáveis e seguros. Figura 3 – Controle do tempo nas operações financeiras Fonte: Pixabay. Com o intuito de consolidar o que estudamos até este ponto, podemos tentar definir custo de capital próprio, antes de prosseguir para as formas de calculá-lo. Aluno, você seria capaz de fazer isso sozinho? Que tal seria se o fizéssemos juntos? Então, tentaremos definir o conceito juntos. Com base no que dialogamos a respeito da relação entre capital (próprio e de terceiros), investimento e retorno, podemos afirmar que, de modo geral, custo de capital próprio é a taxa de retorno dos investimentos efetuados por uma empresa. No caso de uma sociedade de capital aberto, tipo que enfatizamos mais, esse retorno deve ou manter ou aumentar o valor de mercado de sua cota-parte. Para medir o custo do capital próprio, podemos utilizar a taxa obtida resultante do modelo de precificação de ativos financeiros, que, como Finanças Corporativas 17 dissemos, é conhecido, igualmente, como capital asset pricing model (CAPM). Sob a ótica desse modelo, a definição de custo de capital próprio é um pouco mais complexa do que a aventada no parágrafo anterior e assume que esse conceito equivale ao retorno que os investidores reivindicam como recompensa por assumirem o risco não diversificável da empresa em que aportam capital. NOTA: Denominado, também, risco sistêmico, o risco não diversificável é composto por fatores de mercado, que oscilam à própria maneira e afetam todas as empresas, independentemente do setor em que se situem, como inflação e crises econômicas (ASSAF NETO, 2010). Quando nos valemos do CAPM, o retorno exigido pelos investidores, para todos os ativos, será formado pela taxa livre de risco ou risk free (RF), que costuma basear-se no retorno dos investimentos brasileiros mais seguros, como são os casos do tesouro Selic e da poupança; e por um prêmio por risco, que é suscetível tanto às condições do mercado quanto às condições dos ativos. Atualmente, existem dois tipos de prêmio por risco: 1. Prêmio por risco de mercado, que é exigido quando se investe em ativos com risco inerente (cota-parte, por exemplo), em vez de se realizar a aplicação à taxa livre de risco. 2. Coeficiente de risco beta (β), que verifica o quanto o retorno de determinada ação se sujeita a variações das condições do mercado a termo. Mercado a termo ou operação a termo é um conceito relacionado à existência de derivativos. Mas isso não nos informa muita coisa, concorda conosco, aluno? Vejamos, então, o que é um derivativo é. Trata-se de uma espécie de contrato que toma um ativo, que pode ser ou físico ou financeiro, como referência; e, assim, define um valor a ser quitado Finanças Corporativas 18 futuramente, considerando um acréscimo percentual sobre o hiato entre a firma do contrato e o pagamento (juro). Agora que sabemos que derivativo é um contrato, podemos compreender o conceito de mercado a termo ou operação a termo. Nesse caso, lidamos com subsegmento do mercado de ações em que há compra e venda de ativos a um preço e a uma taxa de juro discriminadas em contrato (derivativo), mediante liquidação em uma data acordada, que, obrigatoriamente, deve ser cumprida pelas partes. Ao contrário do que acontece em transações reguladas por outros tipos de contrato, as do mercado a termo não ajustam as obrigações financeiras das partes compradora e vendedora antecipadamente, a despeito das condições do mercado financeiro. Para que dimensionemos o mercado a termo melhor, suponhamos que as ações da empresa XYZ sejam negociadas, hoje, no mercado de ações, a R$ 58,00 por cota-parte. Renato está interessado em comprar um conjunto relevante de ações da XYZ, mas seu capital, que está aplicado, estará disponível daqui a 60 dias. Para garantir que o conjunto de ações seja seu, Renato pode procurar a XYZ e firmar um derivativo do tipo mercado a termo, concordando em pagar, no prazo de 60 dias, o valor das ações da XYZ no dia de hoje reajustado por uma taxa de juros proporcional a esse prazo. Durante esse período, se Renato, que acompanha o mercado financeiro com atenção, notar que o valor das ações da XYX caiu pela metade, será obrigado, mesmo assim, a arcar com o valor explícito no mercado a termo. Igualmente, caso as ações da XYZ, por quaisquer motivos, durante os 60 dias, supervalorizem-se, chegando a valer o dobro do que consta no mercado a termo, a empresa será obrigada, também, a ceder as ações, satisfazendo as condições do contrato. Atendo-nos ao nosso conteúdo programático, focaremos o coeficiente beta ( ), que analisa os retornos das ações da empresa (Ri) e os retornos do índice de mercado (Rm). Daqui a pouco, você compreenderá o porquê de nos fixarmos no coeficiente beta, em detrimento do prêmio por risco de mercado. Finanças Corporativas 19 Baseando-nos em Kato (2012), para chegarmos ao valor do coeficiente beta, devemos, primeiramente, encontrar a covariância (Cov) entre os retornos das ações da empresa (Ri) e os retornos do índice de mercado (Rm); e, em seguida, dividi-la pela variância(β2) dos retornos desse índice. A equação específica do coeficiente beta (β) está a seguir. Como você pode perceber, aluno, a covariância (Cov) é variável. Portanto, precisamos saber como calculá-la, substituindo Cov, na fórmula anterior, pelo resultado obtido. Abaixo, está a fórmula de que nos valeremos para calcular Cov. • Rm = retorno do índice de mercado • Ri = retorno das ações da empresa • μi = média dos retornos das ações da empresa • μm = média dos retornos do índice de mercado • = somatório Com o valor de Cov em mãos, podemos inseri-lo na fórmula de coeficiente beta ( ). Porém, aluno, se você pensa que os cálculos desta seção terminaram, está enganado. Você se recorda de que pretendíamos conhecer o cálculo de CAPM, com o propósito de assimilar como se mede o custo do capital próprio de uma empresa? Para cumprir esse objetivo, tínhamos de lhe ensinar a calcular o coeficiente beta ( ), que é um dos componentes do cálculo de CAPM. Com essa informação, você deve ter compreendido por que ignoramos o prêmio por risco de mercado. Sim, você está certo: ignoramos o prêmio por risco de mercado porque estávamos conscientes de que apenas o coeficiente beta (β ) entraria no cálculo de CAPM, justamente por ser um índice do quanto o retorno de determinada ação se sujeita a variações das condições do mercado a termo. Finanças Corporativas 20 Passemos, agora, ao cálculo de CAPM, cuja fórmula está a seguir. NOTA: Um conjunto de ativos (títulos) é chamado de carteira de mercado, cujo valor se define pelo valor ponderado de cada ativo. Esse conceito será crucial para o entendimento dos termos da equação. E(R) = retorno esperado de um ativo pelo investidor (custo do capital próprio de um investimento) Rf = taxa livre de risco escolhida como referência, como as do tesouro Selic e da poupança βi (beta de um ativoou carteira – a letra “i” indica que β varia conforme for o seu referente) = risco sistemático do ativo, cuja determinação se referenda pelo mercado Rm = retorno esperado da carteira de mercado (representa a média dos retornos do conjunto de investimentos disponível no mercado) Acompanhemos a aplicação do coeficiente beta (β) em um cálculo. Para isso, assumamos que o coeficiente beta (β) da empresa Pegasus S.A. seja igual a 1,2. Agora, suponhamos que o retorno da carteira de mercado (Rm) variará 1%. De acordo com essas condições, como o retorno da empresa (E(R)) será afetado? Recomendamos que você, aluno, preste bastante atenção à solução que proporemos, uma vez que várias características do cálculo de CAPM serão abordadas. Concorda conosco, aluno, quando afirmamos que o coeficiente beta (β) sinaliza o quanto o retorno de uma empresa variará em função do retorno de mercado? Como você, certamente, concordou conosco, porque repassamos o conceito de coeficiente beta (β) por várias vezes, avançaremos em nossa resolução. Finanças Corporativas 21 O retorno de mercado pode tanto aumentar-se e reduzir-se quanto assumir valores positivos e negativos. Sendo assim, existem duas possibilidades de explicar como o retorno da empresa Pegasus S.A. será afetado, a depender do comportamento do retorno de mercado. Primeiramente, consideraremos um cenário em que a variação do retorno de mercado é positiva em 1%. Caso isso aconteça, como a variação do retorno da empresa é proporcional (diretamente) à variação do retorno do mercado, o retorno da empresa será de 1,2%. Portanto, os retornos da empresa Pegasus S.A. serão maiores do que os do mercado. Por outro lado, em um cenário em que a variação do retorno de mercado é negativa em 1%, o retorno da empresa será negativo em 1,2%. Logo, os retornos da empresa Pegasus S.A. serão menores do que os do mercado. Ficou claro para você, aluno, como obtivemos os resultados 1,2% e -1,2% para o retorno da empresa? Por isso, fizemos tanta questão de frisar a função do coeficiente beta (β). Acompanhe o nosso raciocínio: se o coeficiente beta (β) sinaliza o quanto o retorno de uma empresa variará em função do retorno de mercado; e se a variação do retorno da empresa é proporcional (diretamente) à variação do retorno do mercado, podemos concluir que o valor do coeficiente beta (β) – 1,2 – deve ser multiplicado pela variação do retorno de mercado. Por último, repare, aluno, que o valor do coeficiente beta (β) – 1,2 – não está associado a medidas de quaisquer naturezas, embora a variação do retorno de mercado seja um valor percentual. Repare, também, que, da multiplicação do valor do coeficiente beta (β) pela variação do retorno de mercado, resultou um valor percentual (variação do retorno da empresa). Quando executarmos o cálculo de CAPM, será necessário que nos atenhamos a duas outras propriedades do beta: 1. O beta de carteira de mercado é igual a 1. 2. O beta de ativo livre de risco é igual 0. Sempre que o beta de carteira de mercado for igual a 1, o risco associado ao ativo equivalerá ao risco não diversificável ou risco sistêmico, Finanças Corporativas 22 que, como vimos há alguns parágrafos, afeta o mercado integralmente. Por outro lado, quando o beta de ativo livre de risco for igual a 0, o risco associado ao ativo será menor do que o risco não diversificável. No primeiro caso, o investimento será denominado agressivo, enquanto, no segundo caso, o investimento será chamado de defensivo (ASSAF NETO, 2010). Compreendendo o Capital de Terceiros Capital de terceiros é o nome que damos a todo recurso financeiro oriundo de empréstimos e de financiamentos de indivíduos e de instituições externas às nossas empresas. Costuma ser adquirido em troca de uma remuneração regulada por uma taxa de juros, remuneração essa que se atualizará, de acordo com a taxa de juros acordada, durante o tempo que o capital permanecer alocado em nossas empresas. Geralmente, o custo associado ao capital de terceiros é menor do que o de outras formas de financiamento, visto que os riscos inerentes a essa modalidade são menores. Isso deve à determinação legal de o pagamento dos credores dessa modalidade ser prevalente em relação a todas as demais obrigações das empresas, reduzindo as possibilidades de inadimplência. Umas das modalidades de financiamento praticadas no Brasil se chama subscrição de debêntures. Mediante autorização da Comissão de Valores Mobiliários, uma sociedade anônima pode emitir uma quantidade de títulos proporcional ao seu capital social e confiá-los a credores, em troca de recursos financeiros. Um dos maiores atrativos para a empresa que recorre às debêntures está nos valores mais baixos dos juros remuneratórios. Porém, parece-nos que a principal vantagem associada à modalidade é o fato de a empresa manter a autonomia de seu patrimônio, uma vez que as debêntures não geram, para quem as comprar, direitos sobre o seu capital social – embora seja esse o elemento que limita a emissão dos títulos. Ademais, as garantias de pagamento que a empresa dá ao mercado estão ligadas aos seus ativos, existindo a chance de que participações nos lucros e outros prêmios sejam pagos aos investidores pela emissora das debêntures. Finanças Corporativas 23 Nos casos em que o capital de terceiros provém de empréstimos e de debêntures, outro elemento se faz importante: a taxa real de juros. Em ambas as modalidades, a taxa real de juros se torna menor do que taxa de juros paga, porque algo que estudamos anteriormente em ação. Pensando em tudo o que estudamos nesta unidade, você tem alguma ideia do que provocar a redução da taxa real de juros, aluno? Se você notar que não acertou a resposta, não se preocupe: desta vez, fizemos uma pergunta difícil. A redução da taxa real de juros se justifica pelo fato de que as despesas decorrentes do uso de capital de terceiros são um dos elementos aceitos como dedutíveis da base de cálculo desse imposto. Discutimos essa possibilidade quando vimos diferenças entre o capital próprio e o capital de terceiros, na subseção “Custo do capital próprio e custo do capital de terceiros”. Figura 4 – Estratégia empresarial Fonte: Pixabay. Como resultado de os juros pagos aos credores serem deduzidos do Imposto de Renda (IR) das empresas, os fluxos de caixa se ampliam, disponibilizando uma quantidade de capital maior para os investidores. Considerando essa dedução, para calcular o custo do capital de terceiros, utilizaremos a seguinte equação. Finanças Corporativas 24 Ki (a letra “i” indica que K varia conforme for o seu referente) = custo de capital de terceiros após a dedução do Imposto de Renda Kd = custo de capital de terceiros antes da dedução do Imposto de Renda T = alíquota do Imposto de Renda (regulada pelo Estado brasileiro) Agora, para compreender como essa fórmula funciona, retomaremos a Pegasus S.A., empresa que utilizamos para entender como o coeficiente beta (β) nos auxilia a descobrir o quanto o retorno da empresa varia em função do retorno do mercado. Desta vez, suponhamos que a alíquota de Imposto de Renda que recai sobre a Pegasus S.A. seja de 25%; e que o custo de capital antes das deduções do Imposto de Renda seja de 8%. Assim, substituindo notações por valores, teremos o seguinte. Ki = 8% × (1 – 0,25) Ki = 6% Portanto, por conta do benefício fiscal, o custo do capital de terceiros inicial (8%) se reduz para 6%, gerando uma economia de 2% sobre o valor a ser pago aos credores como remuneração pelo aporte de recursos financeiros. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como entender os tipos de mercado financeiro e seus perfis de oportunidade em termos de captação derecursos. Finanças Corporativas 25 Taxa Interna de Retorno (TIR) OBJETIVO: Os riscos, os retornos e as operações empresariais são inextrincáveis: toda operação empresarial se submete a riscos, ainda que seja somente ao risco não diversificável; e produz algum tipo de retorno para as organizações, que pode assumir as formas de prejuízo (retorno menor do que o investimento), de estabilidade (retorno igual ao investimento) e de lucro (retorno menor do que o investimento). Consequentemente, podemos concluir que controlar riscos e planejar retornos são atividades essenciais da gestão financeira.. Aluno, se tais atividades são, de fato, essenciais da gestão financeira, devemos saber como estruturá-las, concorda conosco? Nesse sentido, passaremos a estudar, a partir de agora, os elementos-chave da mensuração de riscos e de retornos; as medidas estatísticas relevantes para essa mensuração; e as diferenças e as particularidades dos riscos individuais e dos riscos de carteira. Risco: Como é Calculado? Caro aluno, na sua opinião, riscos podem ser definidos como medidas probabilísticas ou dos ganhos ou das perdas de empresas e de investidores? Ao mesmo tempo, é correto afirmar que retornos são ou ganhos ou perdas que resultam das operações empresariais e das operações de aporte de capital de terceiros? Se as suas respostas para as duas perguntas foram positivas, o seu pensamento está alinhado com o nosso. Então, você deve ter conseguido perceber que riscos e retornos estão associados pelos elementos “ganho” e “perda”: dado que os riscos projetam ganhos e perdas, os retornos são a materialização dos ganhos e das perdas. Finanças Corporativas 26 A relação ideal entre riscos e retornos, portanto, é aquela em que, com riscos mínimos, alcançam-se retornos máximos. Infelizmente, não é a realidade das empresas, dos investidores e dos mercados, cujos riscos e retornos podem oscilar amargamente. Contudo, aluno, podemos dar- lhe uma dica: quando se vir obrigado a lidar com riscos consideráveis, você deve apontar, durante a etapa de planejamento financeiro, retornos vultosos como metas, a ponto de superarem os riscos e de renderem bons lucros. Assim sendo, se os riscos sobrepujarem os retornos, você não se surpreenderá; por outro lado, se os retornos sobrepujarem os riscos, as chances de obter lucros avantajados estarão a seu favor. Mas, aluno, caso possa evitar, não meta com atividades sobre as quais recaiam muitos riscos! Já sabemos que o cálculo de riscos e de retornos faz parte do planejamento financeiros das organizações. Falta-nos, então, descobrir como são feitos e de que elementos dependem. Três medidas estatísticas são relevantes para a mensuração dos riscos que rondam nossos ativos: a variância dos retornos, que não estudaremos neste material; o coeficiente de variação, que conheceremos daqui a pouco; e o desvio-padrão dos retornos, que veremos agora. O desvio-padrão dos retornos nos informa a variação dos retornos esperados. Por isso, como a taxa de retornos (K(t + 1)), é expresso em unidades percentuais (%). A equação necessária para descobrir o desvio- padrão dos retornos é esta. σk = desvio-padrão dos retornos Kj ( “j” indica cada período) = valor observado do retorno a cada período n = número de períodos k = valor esperado (média dos retornos) Finanças Corporativas 27 Por sua vez, o coeficiente de variação (CV) é uma medida de dispersão que pode nos ajudar a identificar ativos cujos retornos serão diferentes dos que projetamos. A relação entre o coeficiente de variação (CV) e o risco de os retornos de um ativo se afastarem das prospecções é diretamente proporcional: quanto maior for o coeficiente de variação, maior risco correrão os retornos. A equação que nos permite obter o coeficiente de variação é a seguinte. CV = coeficiente de variação σk = desvio padrão dos retornos k = média dos retornos IMPORTANTE: Caro aluno, quando um retorno se provar diferentes de suas projeções, o coeficiente de variação será a ferramenta mais adequada para você comparar diferentes riscos. As medidas de risco que estudamos servem tanto para ativos individuais quanto para carteiras de investimentos. Sendo assim, abordaremos a mensuração de riscos em carteira em uma subseção específica; e, então, veremos exemplos que demandam o uso do desvio- padrão dos retornos e o uso do coeficiente de variação (CV), visto que não incluímos nenhum aqui. Retorno: Como é calculado? A aferição dos retornos, como vimos, é um crucial para o planejamento financeiro das empresas, uma vez que nos permite definir como e quando as nossas obrigações serão quitadas. A seguir, está a fórmula com a qual calcularemos retornos. Finanças Corporativas 28 Kt + 1 = taxa de retorno ao fim de um período qualquer, denominado t (pode ser de três tipos: taxa atestada, taxa projetada e taxa exigida) Ct + 1 = valor do fluxo de caixa logo após o aporte de um investimento em um ativo qualquer durante o período de t – 1 a t Pt = preço (valor) do ativo em t Pt + 1 = preço (valor) do ativo em t + 1 Para que acompanhemos o cálculo de retornos, utilizaremos um exemplo de Veiga e Cruz (2009, p. 9). Os autores aventam uma carteira com três títulos, distribuídos desta forma: • 150 unidades do título X, cujo valor atual é $ 38; • 200 unidades do título Y, cujo valor atual é $ 40; e • 150 unidades do título Z, cujo valor atual é $ 61. Quando vier o fim do ano, o título X valerá $ 40; o título Y valerá $ 46; e o título Z valerá $ 70. Esses e outros dados que entrarão no cálculo de retorno estão presentes na figura a seguir. Figura 5 – Valores dos títulos e da carteira Fonte: Veiga e Cruz (2009, p. 9) Atentemo-nos, aluno, ao fato de que as colunas da figura são numeradas, seguindo esta ordem: (1) “Título” (2) “Quantidade de títulos” (3) “Preço inicial do título” (4) “Valor total atual” Finanças Corporativas 29 (5) “Preço no fim do período” Porém, quando chegamos à última coluna, “Valor total esperado no período”, encontramos o que parece ser uma conta: (6) = (2) X (5). Portanto, em vez de calcular o valor do preço do ativo no momento t (Pt), tomaremos o valor indicado na sexta coluna, $25.700. Agora que conhecemos todos os elementos necessários, podemos inseri-los na fórmula vista e descobrir o valor de Kt. Kt + 1 = Pt + 1 – Pt + Ct + 1 Pt Kt+1= 25.700 – 22.850 + 0 22.850 Kt+1= 2. 850 22. 850 Kt+1= 0,1247 = 12,47% Portanto, no fim do ano (t + 1), a taxa de retorno (Kt) da carteira será positiva em 12,47% sobre o valor total inicial (Pt). Risco e Retorno de Carteira: Como são Calculados? Anteriormente, vimos que a denominação “carteira” se refere a um conjunto de ativos. Para determinar o risco de carteira, dependemos de dois procedimentos: 1. Inicialmente, calcularemos a taxa de retorno da carteira, que será a média ponderada dos seus ativos – o resultado será em unidades percentuais (%); 2. Em seguida, calcularemos o desvio-padrão dos retornos da carteira, utilizando, para isso, a fórmula de desvio-padrão de um ativo individual. Finanças Corporativas 30 Com o intuito de compreender esses procedimentos, observaremos um exemplo em que são realizados passo a passo. Agora, admitamos que a empresa Alfa tenha reunido Loja A e Loja B em uma carteira, combinando, ao fazer isso, seus ativos nas proporções de 40% e de 60%, respectivamente. No Quadro 1, encontraremos as taxas de retorno dos ativos da Loja A e da Loja B em função dos anos de 2015 a 2019 (inclusive). Quadro 1 – Taxas de retorno previstas para a Loja A e para a Loja B em função dos anos de 2015 a 2019 (inclusive) Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Analisando o Quadro 1, percebemos que os retornos da Loja A crescem anualmente, enquanto os da Loja B decrescem no mesmo período. Portanto, podemos afirmar os ativos da carteira da empresa Alfa mantêm uma relação de proporcionalidade inversa.Resta-nos calcular, então, calcular as taxas de retorno anuais da Loja e da Loja B. Faremos isso no Quadro 2. Quadro 2 – Cálculo das taxas de retorno anuais dos ativos (Loja A e Loja B) da carteira da empresa Alfa Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Finanças Corporativas 31 Com as taxas de retorno anuais que obtivemos, aplicaremos a média aritmética simples a esses ativos para obter a taxa de retorno da carteira da empresa Alfa. Quadro 3 – Cálculo da taxa de retorno da carteira da empresa Alfa Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Por fim, podemos empregar o valor obtido (15%) na fórmula do desvio-padrão dos retornos, como faremos no Quadro 4. Quadro 4 – Cálculo do desvio-padrão dos retornos da carteira da empresa Alfa Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Como verificamos no Quadro 4, o desvio-padrão dos retornos da carteira da empresa Alfa foi de 0,17%. Considerando que o retorno esperado seja de 15%, a carteira alcançará, em um cenário otimista, uma taxa de retorno de 15,17%; e, em um cenário pessimista, marcará 14,83%. Caro aluno, ficou claro que os riscos de cada ativo são relevantes para a determinação do risco da carteira? Apesar de isso ser verdadeiro, o que importa, de fato, para que controlemos os riscos associados a uma carteira é a forma como os ativos se correlacionam. Na prática, Finanças Corporativas 32 caso mantenhamos ativos que se pouco se correlacionem – ativos cujos percentuais se comportem de forma inversamente proporcional – em uma mesma carteira, teremos boas chances de minimizar os riscos dessa carteira. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como aplicar as bases de cálculo da taxa interna de retorno (TIR) em situações de investimento financeiro. Finanças Corporativas 33 Risco de Captação de Recursos OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de avaliar os riscos quanto à captação de recursos por parte das empresas. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conforme estudamos há algumas páginas, uma ação ou cota-parte é o átomo do capital social de uma sociedade anônima e pode ser de dois tipos: ação ordinária e ação preferenciais. Além de serem classificadas em ordinárias e em preferenciais, as ações podem ser nominativas, nominativas endossáveis e escriturais: a. No caso das nominativas, o nome do portador é registrado no Livro de Registro das Ações Nominativas, e as transferências de titularidade dependem da averbação do nome indicado nesse livro. b. No caso das nominativas endossáveis, apenas o nome do primeiro portador é registrado no Livro de Registro das Ações Nominativas, enquanto possuidores subsequentes da são endossados apenas no título. c. No caso das escriturais, não há emissão física de títulos, e seu controle é realizado por uma instituição depositária. A transferência de titularidade é digital e isenta de assinaturas. Quando compramos uma ação, seja ordinária, seja preferencial, adquirimos o direito de receber dividendos periodicamente e juros sobre o capital aportado. Caro aluno, você sabia que dividendos são as partes do lucro de uma empresa distribuídas, proporcionalmente, aos acionistas, certo? A parte restante do lucro, normalmente, é reinvestida nas operações da organização; e, indiretamente, também beneficia os acionistas, visto que contribui com o crescimento da empresa no longo prazo. Finanças Corporativas 34 As ações costumam garantir grande liquidez às sociedades anônimas, porque podem ser vendidas e compradas com muita facilidade. Assaf Neto (2010) acrescenta a isso que o mercado de ações possibilita que investidores estrangeiros participem das negociações, fato responsável pela oscilação dos preços das ações; pela volatilidade e pela especulação do mercado de ações; e pela difusão das crises econômicas por todo o mundo. Justamente por poderem se espalhar por diferentes países e pertencer a inúmeros investidores, as responsabilidades e os direitos atrelados às ações são proporcionais à quantidade que se detém. Nesse sentido, destacamos, que, 1. No caso dos acionistas detentores de ações ordinárias, quanto maior for a quantidade de ações sob seu controle, maior será o peso do seu voto sobre as decisões da empresa, e maior, igualmente, será sua responsabilidade sobre as operações realizadas. 2. No caso dos acionistas detentores de ações preferenciais, a quantidade de ações sob seu controle não implicará poder de voto e poder sobre as operações da empresa, mas lhes concederá o direito de receber os dividendos antes do outro grupo de acionistas. Comentamos, anteriormente, que a estrutura do capital social de uma empresa pode ser modificada mediante alteração de seu contrato social. É relevante destacar que tais alterações não interferem nos direitos dos acionistas. Alguns exemplos de mudanças na estrutura do capital social das organizações são apresentados a seguir. a. Agrupamento – um grupo de ações se transforma em uma única ação, o que não reduz o patrimônio dos acionistas. b. Desdobramento – ao contrário do que acontece no agrupamento, uma ação é dividida em ações menores, o que não aumenta o patrimônio dos acionistas. Finanças Corporativas 35 c. Bonificação – as reservas financeiras e os resultados da empresa são convertidos em novas ações, o que implica aumento do patrimônio dos acionistas antigos. d. Subscrição – novas ações são emitidas pela empresa, que poderá aumentar seu capital sem alterar a participação dos acionistas antigos na empresa. Para utilizar uma metáfora, a subscrição seria uma promessa que a empresa faz de emitir novos títulos de ações. Seu lançamento no mercado dependerá do processo de integralização de ações, que, de acordo com Assaf Neto (2010), obedece a uma sequência rígida de etapas. Na figura 5, podemos observar a quantidade e a organização das etapas. Figura 6 – Etapas da integralização de novas ações Empresa emitente de novas ações Colocação inicial: mercado primário Instituição financeira intermediadora da operação Renegociação das ações: mercado secundário Fonte: Assaf Neto (2010). A integralização de novas ações pressupõe que os compradores se sentirão atraídos pela empresa. Isso dependerá, por um lado, da conjuntura do mercado e, por outro lado, dos resultados operacionais e financeiros da organização. Na próxima subseção, veremos, mais de perto, a relação entre valor das ações e funcionamento no mercado de ações. Valor das Ações e Funcionamento no Mercado de Ações O quanto as ações valem é um importante fator condicionante das decisões dos investidores. Além de, como estudamos em outras partes, as características do mercado influenciarem a dinâmica das ações, há outras formas de valorá-las, que dependerão de quem as avaliará e da razão por que fará isso. Segundo Hoji (2009), seis formas de atribuir valor a ações são mais comuns: Finanças Corporativas 36 1. Valor contábil – corresponde ao valor nominal da ação, que é registrado no contrato social da empresa. É utilizado para mensurar o capital distribuído aos sócios. 2. Valor intrínseco – é atribuído à ação por intermédio de uma análise das características contábeis, econômicas e financeiras da empresa. É utilizado para verificar a viabilidade de a empresa receber um investimento. 3. Valor de liquidação – é conferido à ação no caso de todos os ativos da empresa de que faz parte forem liquidados. É utilizado para determinar o valor contábil real da empresa, considerando, também, suas obrigações. 4. Valor de mercado – é adquirido no bojo da dinâmica do mercado de ações, conforme sua oferta e sua procura flutuam. É pago pelos que compram uma ação. 5. Valor patrimonial – é atribuído àação em função do patrimônio líquido da empresa em determinado exercício. Resulta da divisão do patrimônio líquido pela quantidade de ações emitidas. 6. Valor de subscrição – é o custo fixado para novas ações lançadas no mercado. É utilizado para incrementar o aporte de capital nas operações da empresa. Por sua vez, o mercado de ações contém investidores físicos e investidores institucionais; organizações que controlam as operações realizadas em seu âmbito; e sociedades anônimas de capital aberto. NOTA: Cada investidor tenta atingir objetivos particulares com sua atuação no mercado de ações: por exemplo, alguns desejam criar uma poupança para sua aposentadoria; alguns pretendem lucrar com as variações de curto prazo, comprando e vendendo ações; e outros, ao contrário, tentam reduzir perdas causadas pelas variações de curto prazo. Finanças Corporativas 37 Como conhecemos bem esses agentes, focaremos, agora, alguns dos segmentos e dos subsegmentos que compõem o mercado de ações: 1. Mercado primário – responsável pela negociação de ações com investidores, é o mais relevante para as empresas emissoras dos títulos. 2. Mercado secundário – à parte do mercado primário, é onde investidores conseguem comprar e vender ações sem que as empresas emissoras dos títulos participem desses processos. 3. Mercado à vista – é um nicho cujas operações com ações são liquidadas em curtos períodos. No Brasil, a liquidação deve ocorrer até três dias úteis após a negociação. 4. Liquidação física e liquidação financeira – quando um investidor compra uma ação e a recebe, há a liquidação física. Ao mesmo tempo, quando o dinheiro sai da conta de um investidor e entra na do vendedor, há a liquidação financeira. 5. Mercado de derivativos – baseia-se em contratos com data de liquidação e com valor definido para os ativos negociados, que podem ser ações ou outros. 6. Mercado a termo – é uma das partes do mercado de derivativos. Como vimos anteriormente, permite que o preço futuro dos ativos negociados seja pré-fixado em um contrato. No Brasil, existem contratos a termo com prazos de 30, de 60, de 90, de 120 e de 180 dias corridos, cuja firma depende de o investidor realizar um depósito de garantia – ou de cobertura ou de margem – na Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). O mercado a termo contribui com a liquidez das empresas, que, de acordo com nossas discussões, é um dos fatores que mais impulsionam seu crescimento. Mas você, caro aluno, sabe como a falta de liquidez em um mercado pode prejudicar as empresas? Em um mercado com pouca liquidez, costuma haver demora na venda de títulos, o que demandaria condições muito específicas para que as empresas negociem suas ações com sucesso. Finanças Corporativas 38 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como avaliar os riscos quanto à captação de recursos por parte das empresas. Finanças Corporativas 39 Decisão de Capitalização das Empresas OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de discernir sobre o momento mais propício e a melhor linha de captação de recursos para capitalizar a empresa. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Caro aluno, quais são as principais justificativas para os gastos de capital? Mas você sabe o que são gastos de capital, para ser capaz de apontar suas causas? Um gasto de capital é um aporte financeiro cuja meta é obter retorno em um período maior do que um ano, de maneira que podemos considerá-lo um tipo de investimento. Assim sendo, suas principais justificativas são as três seguintes: 1. Expansão das operações empresariais. 2. Reposição de ativos obsoletos ou desgastados. 3. Renovação de ativos imobilizados (construção e reforma de imóveis) e de serviços contrato pela empresa (dentre outros, propagandas, pesquisas e consultorias. IMPORTANTE: Durante as operações empresariais, existem gastos associados aos processos produtivos, como os gastos administrativos e os gastos com salários. Contudo, não podemos tratar esses casos como investimentos, uma vez que visam à manutenção das operações empresariais em dado momento, não a resultados de longos prazos. Para auxiliar o gestor financeiro a controlar os gastos da empresa com capital, há o chamado orçamento de capital. Trata-se de um processo que, considerando períodos maiores do que um ano, influencia, positivamente, Finanças Corporativas 40 o programa de investimentos em ativos permanentes. Nesse processo, é contabilizado a relação custo-benefício de cada possível aquisição, com a finalidade de determinar a mais adequada ao contexto da empresa. Figura 7 – Orçamento de capital Fonte: Pixabay. Como os gastos de capital, com frequência, visam a atender às necessidades de investimento das empresas, precisamos conhecer quais podem ser essas necessidades. De acordo com Assaf Neto (2010), alguns dos investimentos feitos pelas empresas são os seguintes: a. Investimento economicamente independentes – são aqueles cujos fluxos de caixa não estão correlacionados – por exemplo, a aquisição de um aparelho de ar-condicionado para o setor administrativo não exclui a compra de uma máquina de costura para o setor produtivo. b. Investimentos com dependência estatística – ao contrário do caso anterior, trata-se daqueles cujos fluxos de caixa se influenciam mutuamente. Como um investimento está condicionado a outro, teremos problemas se a relação de influência for negativa – por exemplo, propagandas de produtos concorrentes de uma mesma empresa são investimentos substitutos. c. Investimentos com restrição orçamentária – são investimentos cujos retornos variam em resposta a mudanças em outros retornos – por exemplo, apesar de a produção de iates e de carros de luxo não ter uma relação direta, esses bens estão associados a eventos externos idênticos. Finanças Corporativas 41 d. Investimentos mutuamente excludentes: não podem ser viabilizados concomitantemente, em função da incapacidade de financiamento – por exemplo, podemos não ter recursos financeiros para comprar dois imóveis, embora ambos sejam necessários. No momento de decidir quais serão os investimentos das nossas empresas, deveremos avaliar, dentre outros elementos, o fluxo de caixa de cada alternativa disponível. Nesse sentido, quando elaborarmos um orçamento de capital, definiremos os fluxos de caixa de maior relevância para a empresa: a. Investimento inicial – é o recurso financeiro necessário para empresa sustentar um novo empreendimento. b. Caixas operacionais – envolvem as vendas de bens e de serviços e os gastos com o processo produtivo. c. Caixas terminais (residuais) – resultam do encerramento de um projeto e são calculados após a definição do Imposto de Renda. O acompanhamento dos fluxos de caixa relevantes é, portanto, uma ferramenta com a qual a empresa maximizará o uso de seus recursos financeiros; e com a qual praticará Engenharia Econômica. Você conhece essa área de conhecimento, caro aluno? A Engenharia Econômica se interessa pelas alternativas de investimento, aplicando técnicas comparativas que conduzam o gestor financeiro às melhores decisões. Para praticar Engenharia Econômica, existem algumas etapas básicas: 1. Dimensionamento do investimento fixo, que envolve o cálculo do quanto equipamentos produtivos, terrenos e outros bens são necessários. 2. Projeção de custos e de receitas. 3. Pesquisa de fontes externas de financiamento. 4. Projeção dos fluxos de caixa. Finanças Corporativas 42 5. Aplicação de técnicas de análise de investimento – payback, valor presente líquido (VPL) e taxa interna de retorno (TIR). Por outro lado, a Engenharia Econômica depende, também, deconhecermos o mercado e as estratégias logísticas para eficientes para o nosso negócio. Figura 8 – Importância da Engenharia Econômica Fonte: Pixabay. Sendo assim, podemos atualizar o conceito de orçamento de capital para este: ferramenta que, com base nos fluxos de caixa relevantes, orienta a definição do gasto de capital, aplicando os recursos da Engenharia Econômica a cada alternativa de investimento. Finanças Corporativas 43 RESUMINDO: No decorrer desta unidade, tivemos o capital como foco. De início, diferenciamos capital próprio de capital de terceiros e compreendemos quais são suas vantagens e sua desvantagens. Pudemos concluir, então, que o uso de capital de terceiros, em muitos contextos, é mais rentável do que o de capital próprio, embora envolva riscos e possa retornar valores menores do que os esperados. Com isso em vista, dedicamo-nos à tarefa de calcular riscos e retornos de investimentos individuais e de carteiras (conjuntos de investimentos). Na sequência, abordamos que a injeção de capital em empresas do tipo sociedade anônima de capital aberto pode vir da negociação de partes do seu capital social (ações ou cortas-partes) no mercado de ações. Por últimos, estudamos os custos de capital e descobrimos são tipos de investimentos que as empresas devem fazer quando vislumbrarem ou oportunidades ou necessidades de crescimento e de aquisição de bens. Finanças Corporativas 44 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Fundamentos de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2010. BEDÊ, M. A. (Coord). 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Gestão Financeira: ênfase em aplicações e casos nacionais. Rio de Janeiro: Saraiva, 2008. Finanças Corporativas Tipos de Mercado Financeiro Custo do Capital Próprio e Custo do Capital de Terceiros Compreendendo o Capital Próprio Compreendendo o Capital de Terceiros Taxa Interna de Retorno (TIR) Risco: Como é Calculado? Retorno: Como é calculado? Risco e Retorno de Carteira: Como são Calculados? Risco de Captação de Recursos Valor das Ações e Funcionamento no Mercado de Ações Decisão de Capitalização das Empresas
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