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GESTÃO DE CUSTOS INDUSTRIAIS Edir dos Santos Alves Fundamentos de sistemas de custeio Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Elencar os principais métodos de custeio. � Listar os sistemas de apuração de custos. � Reconhecer a aplicação dos sistemas de custeio. tIntrodução Você sabia que a contabilidade de custos surgiu na Revolução Industrial? A Revolução Industrial criou novos conceitos em termos de processo de fabricação e trouxe todo desenvolvimento da administração empresa- rial, o qual necessitava de controle de informações. A contabilidade de custos nasceu com o objetivo de atender a necessidades de avaliação de inventários de matéria-prima e de produtos, além de fazer a verificação dos resultados da empresa obtidos pela sua atividade-fim. Neste capítulo, você vai estudar uma introdução aos métodos de custeio tradicional, por departamentalização e baseado em atividades. Você vai conhecer, também, sistemas de apuração de custos, os quais têm por objetivo a alocação correta dos custos aos produtos, considerando-se o produto, as ordens de produção ou o processo produtivo. Métodos de custeio Segundo Dutra (2010), a contabilidade de custos surgiu no período da Revolução Industrial com o objetivo de efetuar os registros de custos e medir corretamente os resultados do período, pois, nessa época, apenas os custos diretos eram agregados ao produto. Já no início do século XX, ocorreu a flexibilização do princípio de registrar exclusivamente os custos diretos e admitiu-se a alocação de parte dos custos indiretos. A literatura da área de contabilidade gerencial traz diversos métodos de custeio – formas de apuração de custos utilizadas pela empresa –, mas este capítulo vai abordar apenas três: custeio tradicional, custeio por departamen- talização e custeio baseado em atividades, quais estão ilustrados na Figura 1. Figura 1. Métodos de custeio. Custeio tradicional Custeio por departamentalização Custeio baseado em atividades Tradicional - Absorção é formado por: Custos Variáveis / Custos Fixos Custos Diretos + Custos Indiretos É um método exigido pela legislação. ------------------------------------------------------ Departamentalização é formado por: Custos diretos + Custos Indiretos (Divididos entre os departamentos) ------------------------------------------------------ É um método de custeio no qual os custos indiretos são atribuídos somente aos departamentos que os geram, evitando rateios arbitrários. Baseado em atividades é formado por: Custos Diretos + Direcionadores de Custo (Custos Indiretos + Custos das atividades) ------------------------------------------------------ É um método para custeio baseado nas atividades necessárias para fabricação de um produto. Custeio tradicional Os métodos tradicionais de custeio são conhecidos por custeio variável (ou direto) e custeio por absorção. O custeio por absorção define os procedimentos para atribuição de custos fixos e variáveis, diretos e indiretos, ao volume de produção de um período (WERNKE, 2005). Segundo a Universidade Luterana do Brasil (2009, p. 26): O custeio por absorção supõe que os custos e as despesas indiretas fixas são incluídas nos estoques e nos custos dos produtos vendidos, sendo considerados como custos do produto tanto os custos variáveis quanto os custos fixos, os quais são incorporados aos custos dos produtos. Porém, o custeio por absorção distribui aos produtos apenas uma parcela ideal dos custos fixos, isto é, aquela relativa ao nível de atividade normal da empresa. Gestão de custos industriais2 Wernke (2005, p. 19) afirma que: “Os produtos ̀ absorvem` todos os gastos classificáveis como custos – matérias-primas, salários e encargos sociais, de- preciação das máquinas, aluguel do prédio industrial etc. –, independentemente de sua natureza, se custo fixo ou não, se custo direto, ou não.” Dutra (2010, p. 241) diz que: O método de custeio por absorção é o mais utilizado quando se trata de apuração de resultado e consiste em associar aos produtos e serviços os custos que ocorrem na área de elaboração, ou seja, os gastos referentes às atividades de execução de bens e serviços. Esse método, que satisfaz aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, não considera as despesas como integrantes dos estoques dos bens e serviços, mas todos os custos aplicados em sua obtenção. Custeio por departamentalização Segundo Mota (2002), departamento é uma unidade administrativa, repre- sentada por homens e máquinas que desenvolvem atividades homogêneas. Quase sempre, um departamento é um centro de custos, ou seja, nele são acumulados os custos indiretos para posterior alocação aos produtos ou a outros departamentos. Mota (2002, p. 8) define que: A técnica de departamentalizar a entidade em centros acumuladores de custos é o que denominamos de custeamento ou custos por responsabi- lidade, que serve para melhor identificar as responsabilidades, autoridade, custos, objetivos e metas dos centros específicos, possibilitando o controle dos gastos e realizações pelos próprios responsáveis. A departamentalização é feita para distribuição adequada dos custos indi- retos, pois, em muitos casos, a simples alocação aos produtos não demonstra a correta apropriação dos custos aos produtos (MOTA, 2002). Custeio baseado em atividades O conceito do custeio baseado em atividades (activity based cost, ou ABC) surgiu na década de 1960 em um estudo realizado na General Electric para melhorar o gerenciamento dos custos indiretos (DUTRA, 2010). Conforme o autor (DUTRA, 2010, p. 249): 3Fundamentos de sistemas de custeio Esse método atribui aos seus objetos de custeio – produtos, serviços, clientes etc. – todos os custos e despesas, sendo os diretos por apropriação e os indiretos rastreados por direcionadores de custos. Não pode ser uti- lizado para apuração de impostos nem distribuição de dividendos, tendo em vista ser ele um método exclusivamente gerencial, que considera a totalidade dos gastos (custos e despesas) do período e os confronta com receitas potenciais, ou seja, as correspondentes ao total da produção de bens e serviços. O núcleo de interesse do custeio baseado em atividades é o grupo dos gastos indiretos, independentemente de ser composto por custos ou despesas, fixos ou variáveis. Segundo a Universidade Luterana do Brasil (2009), o sistema ABC fornece informações gerenciais, como o custo das atividades, o que permite aos ges- tores definirem ações e atribuírem tarefas aos responsáveis por determinadas atividades. Além disso, o ABC exige controles mais detalhados da empresa e proporciona o acompanhamento dos processos internos da organização, assim como a melhora dos controles internos da empresa. Existem outros métodos de custeio para empresas industriais, comerciais e pres- tadoras de serviços. Para saber mais, veja o material indicado na seção de Leituras Recomendadas. Sistemas de apuração de custos A implementação de um sistema de apuração de custos pode ser feita de diversas formas, desde as ordens de produção, quando iniciadas através de um PCP, por ordens de serviço, ou por processos produtivos, quando os custos são acumulados em centros de custos (DUTRA, 2010; UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, 2009). Para cada uma das formas mencionadas, é necessária uma ficha técnica detalhada com todas as informações do processo de fabricação, matéria-prima utilizada, mão de obra ou outra informação relevante (UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, 2009). Gestão de custos industriais4 Confira, agora, uma breve explicação sobre os três sistemas de apuração de custos. Apuração de custos por produto A apuração de custos por produto é utilizada em empresas que trabalham com produtos padrão, produzem bens independentemente de pedido de clientes e trabalham com o sistema make-to-stock (DUTRA, 2010). Para saber mais sobre make-to-stock (MTS) e make-to-order (MTO), acesse o site do professorGeraldo Cesar Meneghello, dis- ponível em: https://goo.gl/SjkRN2 Geralmente, os produtos são padronizados e em grandes quantidades, o que possibilita uma fácil apropriação dos custos diretos de cada um deles (DUTRA, 2010). De acordo com o autor (DUTRA, 2010, p. 253): A apuração é feita sobre cada tipo diferente de produto, apropriando-se os custos diretos e alocando-se, no final do período, parcelas dos indiretos, por meio de rateio. Assim, o custo da matéria-prima direta aplicada sobre um tipo de produto é determinado pela soma dos valores de todas as requisições feitas ao almoxarifado para aplicação específica no mesmo, com redução dos valores referentes às devoluções da matéria-prima requisitada em excesso. Do mesmo modo, o custo da mão de obra direta é determinado pela soma dos valores resultantes da apropriação da mão de obra aplicada sobre este produto. A parcela de cada custo indireto atribuível a tal tipo de produto é resultante de seu rateio pela base mais adequada, no final do período. Como a utilização deste sistema de apuração é em produtos standard (produtos padronizados), a determinação do custo unitário do produto é feita pela divisão do custo total pela quantidade produzida. 5Fundamentos de sistemas de custeio Apuração de custos por ordem de produção O sistema de apuração de custos por ordem de produção é semelhante ao sistema anterior, mas é aplicado em empresas que trabalham sob encomenda do cliente, ou no sistema make-to-order. Esse sistema se adapta a empresas caracterizadas por uma produção sob encomenda, ou não repetitiva, sendo o produto fabricado em lotes de produção, como é o caso de construtoras, estaleiros e consultorias (UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, 2009). Conforme Dutra (2010 p. 253), “[...] o conjunto de itens que podem compor uma ordem de produção tem especificações bem definidas pelo cliente, ou seja, o produto final já está comercializado antes de ser fabricado”. De acordo com a Universidade Luterana do Brasil (2009, p. 67), “[...] nesse sistema, os elementos do custo de produção são, inicialmente, acumulados por ordens de produção e, só então, atribuídos aos produtos que foram fabricados nessas ordens”. A determinação dos custos é feita da mesma forma que no sistema de custos por produto, porém, os custos são acumulados sobre cada ordem de produção, que pode conter produtos iguais ou diferentes para formar um conjunto. É possível criar ordens de produção para lotes de produtos diferentes (DUTRA, 2010). Apuração de custos por processo Segundo Dutra (2010), este sistema é utilizado em empresas que necessitam que seus produtos passem por diferentes setores, ou processos de produção, até chegar ao produto final. Conforme a Universidade Luterana do Brasil (2009), neste sistema, os elementos do custo são agrupados por processo produtivo e só são atribuídos aos produtos que passaram por estes centros de custo. O sistema de apuração de custos por processo adapta-se a empresas que têm uma produção em série de grandes lotes de produtos padronizados, como calçados e indústria têxtil (UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, 2009). Este sistema, conforme Dutra (2010, p. 254): [...] é muito semelhante ao sistema de apuração por produto, sendo que nesse sistema os produtos passam obrigatoriamente por vários processos e, em alguns casos, um processo pode elaborar componentes diferentes sem que se consigam segregar os custos diretos. Gestão de custos industriais6 Os tipos de processos produtivos podem ser distinguidos entre sequencial, paralelo e seletivo. A seguir, você vai conhecer uma breve definição de cada um deles. Em um processo produtivo do tipo sequencial, o produto é transferido de forma contínua entre todas as etapas do processo até sua forma final chegar ao estoque, depósito ou expedição. Exemplos de indústrias com esse modelo de processo são indústria de cimento, açúcar, bebidas, medicamentos, entre outros (DUTRA, 2010). Um processo do tipo paralelo se caracteriza por mais de um produto ser processado simultaneamente em uma ou mais etapas da produção. Este tipo de processo é utilizado em empresas que obtêm mais de um produto a partir de uma mesma matéria-prima, como é o caso da indústria de combustíveis, na qual o petróleo gera, durante seu processamento, gasolina, óleo diesel, óleo combustível, gás e asfalto, entre outros elementos, e também indústrias de beneficiamento de alimentos (DUTRA, 2010). Conforme o autor (DUTRA, 2010, p. 255): No tipo seletivo, existem fases para vários produtos sem que todos os pro- dutos passem, necessariamente, por todas as fases. É o caso da indústria de beneficiamento de castanhas, em que toda matéria-prima entra em processamento (pré-aquecimento, remoção da casca), mas só parte entra no forno para torrar, tendo em vista a existência de mercados tanto para a castanha torrada como para a castanha apenas cozida e descascada. Dutra (2010) afirma que a apuração de custos não apresenta diferença considerável, qualquer que seja o sistema adotado, exceto pelo fato de alguns custos indiretos tornarem-se diretos. Logo, a acumulação de custos é feita em cada unidade, seja por produto, ordem de produção ou por processo, e os custos totais são divididos pela quantidade total produzida para determinação do custo unitário. Para você conhecer mais um exemplo de solução de problemas e melhoria de pro- cessos, acesse o artigo “Proposta de melhoria do processo de uma fábrica de polpas por meio da metodologia de análise e solução de problemas” (SOUSA et al., 2015). 7Fundamentos de sistemas de custeio DUTRA, R. G. Custos: uma abordagem prática. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MENEGHELLO, G. C. Entendendo os processos make to order e make to stock. 15 dez. 2012. Disponível em: < https://goo.gl/SjkRN2>. Acesso em: 12 abr. 2017. MOTA. A. G. Noções de contabilidade de custos. 2002. Disponível em: <https:// pt.slideshare.net/simuladocontabil/a-postila-contabilidade-de-custos?next_sli- deshow=1>. Acesso em: 12 abr. 2017. SOUSA, T. de J. F. et al. Proposta de melhoria do processo de uma fábrica de polpas por meio da metodologia de análise e solução de problemas. In: ENCONTRO NA- CIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO, 35., out. 2015, Fortaleza. Anais eletrônicos... Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STP_207_228_27341. pdf>. Acesso em: 12 abr. 2017. UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL (Org.). Gestão de custos. Curitiba: IBPEX, 2009. WERNKE, R. Análise de custos e preços de venda: ênfase em aplicações e casos nacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. Leituras recomendadas ABBAS, K.; GONÇALVES, M. N.; LEONCINE, M. Os métodos de custeio: vantagens, desvantagens e sua aplicabilidade nos diversos tipos de organizações apresentadas pela literatura. ConTexto, Porto Alegre, v. 12, n. 22, p. 145-159, 2° sem. 2012. Disponível em: <http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/oliveira/materiais/Artigo_3. pdf>. Acesso em: 12 abr. 2017. DIAS, E. A.; PADOVEZE, C. L. Os diferentes métodos de custeio e sua implicação na apuração de custo do produto: um estudo caso em empresa de graxas e óleos industriais. Revista Eletrônica Gestão e Sociedade, Belo Horizonte, n. 2, p. 1-21, 2007. Disponível em: <https://www.gestaoesociedade.org/gestaoesociedade/article/ download/564/547>. Acesso em: 12 abr. 2017. PINZAN. A.F. Métodos de custeio e seus propósitos de uso: análise por meio de estudo de casos múltiplos. 135 fls. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciências)- Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-25072013- 145836/publico/AndersonFerreiraPinzanVC.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2017. Gestão de custos industriais8 Fundamentos de sistemas de custeio Métodos de custeio Sistemas de apuração de custos
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