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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE CONSULTORIA DE MODA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE CONSULTORIA DE MODA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 O SISTEMA DA MODA 1.1 O VESTUÁRIO 1.1.1 Funções Práticas de Vestuário 1.2 A MODA 1.2.1 A Moda e o Corpo 1.3 O ESTILO 2 A EVOLUÇÃO DOS ESTILOS E OS CRIADORES 2.1 O SISTEMA DA MODA 2.2 WORTH E A MUDANÇA NO SISTEMA DA MODA 3 O SISTEMA DA MODA A PARTIR DO SÉCULO XX 3.1 HAUTE COUTURE 3.2 PRÊT-À-PORTER 4 LONDRES 5 NOVA IORQUE 6 MILÃO 7 O SISTEMA DA MODA ATUAL 7.1 FAST FASHION 7.2 TENDÊNCIAS DE MODA 8 PESQUISA DE TENDÊNCIAS MÓDULO II 9 BREVE HISTÓRIA DA MODA E DOS ESTILOS 9.1 O MERCADO DE MODA 9.2 EXTERIORES E INTERIORES DO VESTUÁRIO FEMININO E MASCULINO 9.2.1 Definição do wear 9.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO VESTUÁRIO 9.3.1 Elementos de estilo 9.4 MATÉRIA-PRIMA AN02FREV001/REV 4.0 4 9.5 CORES 9.5.1 Significado das Cores 9.5.2 Padrões e Estampas 9.5.3 Linhas – Formas, cortes e volumes 9.5.3.1 Silhuetas 10 INTERPRETAÇÕES CRIATIVAS MÓDULO III 11 PÚBLICO-ALVO 11.1 A SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE MODA 11.1.1 Moda e identidade 11.1.2 Nicho de mercado 11.2 ALGUMAS TENDÊNCIAS DE MERCADO 11.2.1 O consumidor é o conteúdo 11.2.2 O consumidor é um mosaico de identidades 11.3 MARCAS 11.3.1 Marcas de moda 11.4 LACOSTE 11.5 WRANGLER 12 DESIGUAL 13 ELIE SAAB MÓDULO IV 14 A CONSULTORIA DE MODA 15 A CUSTOMIZAÇÃO E A PERSONALIDADE 16 DESENVOLVIMENTO DO PORTFÓLIO INDIVIDUAL 16.1 ESTILO PESSOAL 16.2 TIPO FÍSICO 16.3 FORMA E APRESENTAÇÃO DO PORTFÓLIO INDIVIDUAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 O SISTEMA DA MODA “(...) A forma prática de identificar e conhecer os outros é a mais rápida e direta: pela maneira como se vestem, pelos objetos simbólicos que exibem (...)” Nicolau Sevcenko O Módulo I é introdutório e pretende abordar a formação do sistema da moda, considerando os antecedentes, socioeconômicos e culturais, que permitiram a estruturação da moda atual. Tomando como ponto de partida os conceitos de moda e vestuário e as suas construções simbólicas, o módulo pretende apresentar o estudo sobre o sistema da moda, enfocando os principais agentes do seu desenvolvimento, os estilos e suas características, os designers e sua linguagem até o sistema de produção haute-couture ou prêt-à-porter. Por fim o módulo irá trabalhar o papel e a influência das tendências de moda, considerando a importância de sua correta interpretação e utilização. 1.1 O VESTUÁRIO "(...) a ocultação deliberada de certas partes do corpo, originou-se não como uma maneira de desencorajar o interesse sexual, mas como uma estratégia hábil de despertá-lo". (Lurie, 1997, pág.225) Desde o primeiro momento de vida a nudez humana é anulada ou modificada, por meio do uso de roupas que vão conferir a identidade sociocultural. Revestir o corpo nu por meio de ornamentos, acessórios, adornos ou até pintura AN02FREV001/REV 4.0 6 corporal e escarificação1 existe em todas as culturas e é um fator de adaptação ou exclusão social. Segundo Campelo (1997), o vestuário (e seus elementos: cores, estampas, corte, tecidos, etc.) constrói significados porque é um conjunto de códigos de comunicação, construídos de acordo com o contexto sociocultural. Compreender que o corpo vestido constitui um sistema de códigos com significados é fundamental para realizar uma consultoria de moda contextualizada e coerente com a identidade do indivíduo. Por meio do vestuário o corpo encarna um ideal mutável. Assim, o ato de vestir-se, de preocupar-se com a ocultação ou com a valorização de determinadas partes do corpo é o primeiro sinal da consciência de si próprio. 1.1.1 Funções Práticas de Vestuário2 1. Utilidade Uma das primeiras funções do vestuário é proteger o corpo do ambiente. A roupa tem de ser útil, prática e desempenhar a função para qual foi projetada. 2. Modéstia / Decência Desde sua origem, uma das principais funções do vestuário era ocultar o corpo nu, como decoro ou como disfarce dos defeitos, (reais ou imaginados). O conceito de modéstia varia conforme a época e a cultura. 3. Imodéstia / Indecência De acordo com os conceitos da época e da cultura, o vestuário realça a atratividade de determinadas partes do corpo, ou imita a textura da pele, com o uso de tecidos como o cetim ou a seda. 4. Adorno / ornamentação Enriquecer o corpo expressando criatividade, individualidade e indicando a interação em um grupo ou cultura, independentemente da preocupação com o conforto ou com a saúde. 1 Adornar o corpo com desenhos, imagens ou palavras ao coçar, gravar, queimar / marcar ou cortar superficialmente criando cicatrizes no corpo. 2 Fashion Design. O Manual do Estilista, págs. 24-28. (ver Referências no fim deste módulo). AN02FREV001/REV 4.0 7 5. Diferenciação Simbólica "(...) A função do vestuário (...) assegura simultaneamente a distinção da espécie étnica e a dos sexos." (Campelo, 1996, pág. 84) Por meio do vestuário e atualmente pelas marcas e griffes de luxo, é possível diferenciar, disfarçar e reconhecer a profissão, a posição social ou o estilo de vida. 6. Filiação social O vestuário é uma forma de pertencer a um grupo, como um esforço para ser aceito no contexto social. O conceito de fashion victim, expressa justamente o esforço do indivíduo para ser aceito socialmente, estar sempre “na moda”, em detrimento de sua própria personalidade. Nesta função encontra-se também o vestuário usado como expressão de rebeldia contra o sistema, um grupo ou uma ideia. Ex.: movimento Punk. 7. Autoaprimoramento psicológico Indica o esforço individual para construir a própria identidade, buscando maneiras de se diferenciar dentro dos requisitos definidos pela sociedade, por um grupo, por uma empresa. 8. Modernismo O vestuário e a moda estão associados às grandes capitais da cultura, porque são ambientes favoráveis à novidade, à mudança, à expressão da modernidade. 1.2 A MODA "A moda não passa do reflexo dos costumes da época e os estilos são o espelho, não o original.” (Lurie, 1997, pág.27) Bourdieu (2004) considera que o ser humano tem a necessidade de diferenciação e de exclusividade. Para tanto criou diversas ferramentas sociais e a moda é uma delas. A moda é usada para tornar o ser humano mais jovem, mais alto, mais magro, mais rico, para criar, recriar e valorizar sua imagem corpórea. AN02FREV001/REV 4.0 8 (Lurie, 1997). A moda pode ser vista como um mecanismo que proporcionaao indivíduo um sentido de pertencimento a um grupo particular, mas ao mesmo tempo é uma ferramenta de diferenciação, de expressão da personalidade. Esse é o paradoxo da moda: é um fenômeno coletivo que ao mesmo tempo valoriza o indivíduo. A teoria de Bourdieu (2002) considera ainda que a moda é um campo social, com suas regras e com seus agentes próprios. A mutabilidade e a magia seriam os motores do campo da moda, os princípios de sua dinâmica e as garantias de sua sobrevivência. A magia é a força, a crença que sustenta e valida o campo da moda. “Na forma de crédito, o capital simbólico é uma dádiva atribuída àqueles que possuem legitimidade, autoridade para impor categorias do pensamento e, portanto uma visão de mundo.” (Bourdieu, 2004, p.10). A magia da moda cria o que o autor chama de capital cultural, materializado em bens e valores em forma de produtos (roupas e acessórios). Na teoria de Veblen (1899)3 a moda é uma ferramenta de ostentação, de consumo, um símbolo de riqueza e status social, de distinção, diferenciação e exclusividade. Para o autor a relação moda – posição social regeu o aparecimento de estilos exclusivos ao longo da história, permitindo às classes altas manterem seu status (Lurie, 1997). As leis suntuárias, o custo da roupa, a mão de obra e o material usado, os manuais de boas maneiras, as etiquetas de marca, o uso de celebridades associadas às marcas de luxo, as lojas decoradas e os desfiles exclusivos são mecanismos que reforçam os conceitos de consumo conspícuo de Veblen (1899) e de capital cultural em Bourdieu (1983). Por um lado a moda indica as mudanças econômicas, as transformações das normas e valores sociais. Por outro lado a moda é por si só, motor das mudanças socioculturais. A moda fabrica as escolhas de consumo, de imitação ou de rejeição de um determinado estilo de vida. A moda ocorre pela mudança permanente. Entretanto, de acordo com Carli (2002), as mudanças propostas pela 3 Os conceitos principais da teoria de Veblen, alguns atualmente considerados ultrapassados: Divisão conspícua (quanto mais trajes um indivíduo exibir, mais alto é seu status). Multiplicação conspícua (possuir várias roupas semelhantes para nunca repetir uma peça). Material conspícuo (uso de material caro e de difícil obtenção ou fabricação). Desperdício conspícuo (material ou adornos desnecessários para a construção do vestuário) Ócio conspícuo (usar roupas elaboradas, que inibem os movimentos, para demonstrar que não realiza trabalho braçal). Consumo vicário (demonstrar riqueza por meio dos gastos dos familiares). AN02FREV001/REV 4.0 9 moda são superficiais e não essenciais. As mudanças radicais na moda acontecem esporadicamente ou são consideradas arte, vanguarda. Nesse sentido a moda é muito mais conservadora do que se pensa. A “moda muda incessantemente, mas nem tudo nela muda. (...) A mudança na moda atinge antes de tudo os elementos mais superficiais, afeta menos frequentemente o corte de conjunto dos trajes.” (Lipovetsky, 2001, p.31-32) 1.2.1 A Moda e o Corpo “(...) o superastro da nova moda é o corpo, e este se tornou o local do consumo conspícuo.” (Etcoff, 1999, p. 259). A moda venera o corpo. Mutável, contraditória e efêmera, a moda é também a maneira do corpo humano reinventar-se continuamente. Nesse sentido, a roupa não possui apenas a função de proteção, pudor ou adereço, mas é um ato de vida, de diferenciação, de identificação: “(...) portar uma vestimenta é fundamentalmente um ato de significação, (...).” (Cidreira, 2005 pág. 95). A moda realiza uma necessidade humana: olhar e ser olhado, atribuindo ao corpo visibilidade social contemporânea, na qual as relações sustentam-se pelo ato de ver e de ser visto: “sou visto logo existo”. 1.3 O ESTILO AN02FREV001/REV 4.0 10 "Fashion fades; Style goes on forever.” Coco Chanel4 De acordo com Aguiar (2003), estilo é a expressão pessoal do indivíduo, a expressão do seu caráter, e a indicação sobre a forma como se relaciona com o mundo. O estilo é um conjunto de elementos visuais com características que distinguem um indivíduo de outro e refletem os ideais, o modo de vida de uma época, ou de uma cultura. Ao longo da evolução do sistema da moda os tecidos, as cores, os acessórios, as peças de vestuário, os calçados e complementos tornaram- se elementos de individualização, de diferenciação ou de associação do sujeito para com a sociedade da sua época. Aguiar (2003) argumenta ainda que criar um estilo é estar adequado visualmente à época em que se vive ao estilo da maneira que se fala, como se movimenta, como se vive. Na análise da autora, não existe por isso, estilo correto ou incorreto, mas o estilo que não combina com a pessoa. Estilo não é incorporar as tendências de moda sem coerência com o modo de ser do indivíduo. Vidas diferentes, estilos diferentes. 2 A EVOLUÇÃO DOS ESTILOS E OS CRIADORES O estilo faz parte da comunicação visual, que influencia a relação do sujeito com o mundo, com o outro, de acordo com a época. Por meio do estilo do vestuário de cada período é possível identificar os valores, as crenças, a atitude, a posição feminina e masculina, o clima cultural, social e econômico. FIGURA 1 - A EVOLUÇÃO DOS ESTILOS 4 “A moda passa, o estilo fica para sempre.” AN02FREV001/REV 4.0 11 Figura 1 A evolução dos estilos. Fonte: Fashion Design. O Manual do Estilista. Sue Jenkyn Jones. AN02FREV001/REV 4.0 12 FIGURA 2 - A EVOLUÇÃO DOS ESTILOS FONTE: Fashion Design. O Manual do Estilista. Sue Jenkyn Jones. AN02FREV001/REV 4.0 13 2.1 O SISTEMA DA MODA A moda “(…) é colocada aqui como tendo um começo localizável na história (...) Só a partir da Idade Média é possível reconhecer a ordem própria da moda como sistema, com suas metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias.” (LIPOVETSKY, 2001, pág.23) Segundo o autor “entre 1340 e 1350, a inovação difundiu-se por toda a Europa ocidental. A partir desse momento as mudanças vão precipitar-se; as variações do parecer serão mais frequentes, mais extravagantes, mais arbitrárias; (...).” (Lipovetsky 2001, pág.23). No fim da Idade Média e início da Renascença Italiana (1350 e 1500), fatores como as exportações do Oriente, a produção de tecidos de melhor qualidade no Ocidente, a riqueza dos que sobreviveram à peste negra5 e de uma nova classe de comerciantes, desencadearam uma atenção à vestimenta como forma de demonstração de poder e prestígio: “apareceu o grande novo-rico, de padrão de vida faustoso, que se veste como os nobres, que se cobre de joias e de tecidos preciosos, que rivaliza em elegância com a nobreza de sangue, (...)” (Lipovetsky, 2001, pág.40) A respeitabilidade era obtida com o uso de roupas mais luxuosas que as da nobreza. O desenvolvimento da capacidade técnica ajudou a criar a reputação do corte italiano, constantemente reelaborado, adotado ou descartado, como uma “moda”. Os italianos conferiam àsroupas uma obsolescência planejada, tornando impossível, mesmo a um aristocrata, comprar continuamente novas roupas. Mas o sistema da moda não nasceu baseado somente na necessidade de distinção social, mas sim também graças à “(…) lógica da inconstância, as grandes mutações organizacionais e estéticas da moda” (Lipovetsky, 2001, pág.10). O sistema da moda formou-se graças às mudanças de comportamento, ao rompimento com a tradição e ao gosto regular e constante por novidades. 5 1350 – 1400 AN02FREV001/REV 4.0 14 FIGURA 3 FASHION DOLLS No século XVII os estilos de roupa “na moda” eram ditados e divulgados pela nobreza e a aristocracia. Durante o reinado de Louis XIV, a corte francesa enviava bonecas6 em proporção ao tamanho real para outras cortes europeias, vestidas com os mais recentes estilos, incluindo todos os detalhes de confeção, para serem copiadas em tamanho natural. Mme. Rose Bertin7, que se autointitulava ministro da moda, graças à sua influência com a Rainha Maria Antonieta, criava exuberantes vestidos e chapéus. Por volta de 1804, Napoleão Bonaparte aproveitou o biotipo ideal da Imperatriz Josephine para promover a economia do país, por meio da moda alongada do costureiro da corte francesa Leroy. A produção em larga escala e a massificação dos estilos a partir da Revolução Industrial que se intensificou no século XX, popularizou a moda e ao mesmo tempo reafirmou a necessidade dos grupos de elite se diferenciarem. Com a Revolução Industrial, oficinas se converteram em fábricas e o artesão cedeu lugar ao operário. O trabalho antes feito em uma pequena oficina passou a ser realizado em larga escala nas fábricas e usinas. Segundo Thompson (1998), entre 1850 e 1860 novas especialidades apareceram com as inovações tecnológicas da maquinaria e da manufatura. Os velhos ofícios domésticos foram desaparecendo e o trabalho de costureiras e 6 Em 1945, por exemplo, o Theatre De La Mode, organizado pela Chambre Syndicale de Haute Couture, enviou por diversos países, bonecas usando criações de estilistas parisienses com a intenção de demonstrar que mesmo após ser arrasada pela Segunda Guerra Mundial a alta costura francesa ainda mantinha a supremacia e a qualidade. 7 Inaugurou em Paris a boutique "The Grand Mogol". FONTE: Disponível em: <http://www.fashion- era.com/fashion_dolls.htm> Acesso em: 13 nov. 2012. FIGURA 4 MME Rose Bertin, ministro da moda. FONTE: Disponível em: <http://forum.marie- antoinette.org/viewtopic.php?f =12&t=1022&start=30> Acesso em: 13 nov. 2012 AN02FREV001/REV 4.0 15 alfaiates foi substituído pela atividade de novos profissionais, treinados para lidar com as inovações tecnológicas e para aplicá-las na indústria do vestuário. 2.2 WORTH8 E A MUDANÇA NO SISTEMA DA MODA Os anos de 1852 a 1870 são considerados de extravagância da moda francesa. A sociedade parisiense estava ávida para demonstrar sua recente riqueza. Gastar com a vestimenta indicava logo à primeira vista as possibilidades econômicas, sociais e culturais do indivíduo (Veblen, 1899). Worth retirou da cliente o poder de escolha sobre a criação, assumindo ele próprio o papel de criador de tendências e de estilos ostentosos da elite, ficando conhecido como o “Pai da Alta Costura”. Worth foi responsável pela “(...) revolução no processo de criação da moda. (...) Sob a iniciativa de Worth a moda chega à era moderna; tornou-se uma empresa de criação, mas também de espetáculo publicitário” (Lipovetsky, 2001, pág. 72). Ele foi responsável por uma série de pequenas alterações no sistema e na indústria de moda do período. Segundo Marly (1980), as inovações técnicas que Worth aplicava no uso de detalhes, tecidos e cores provinham de um conhecimento de engenharia e geometria. Worth organizava sua confeção como uma linha de produção, em que cada empregado tinha uma função específica, metas de produção, regras de trabalho e distribuição do espaço. Uma estrutura comum atualmente, mas impensável na época. Os vestidos eram criados em partes padronizadas e intercambiáveis, permitindo resultados mais rápidos, economia de tecido e qualidade no acabamento, superior à dos alfaiates parisienses. Em 1860 adotou os moldes de papel e treinou a modelista. Worth empregou a máquina de costura para tudo a não ser para os serviços mais delicados e era receptivo (e patrocinador) às invenções que fizessem a aplicação de enfeites e adornos mais rápida e com qualidade. De Lyon (França), Worth comprava tecidos de seda e recebia amostras dos últimos padrões para a aprovação, como atualmente as tecelagens fazem com os estilistas. 8 Seus contemporâneos se referiam ao Segundo Império como a Época de Worth ("L'epoque de Worth") AN02FREV001/REV 4.0 16 Worth inventou um vestido imenso de crinolina9 que se tornou popular com a Princesa Eugénie10. Aboliu o uso do casquete11, criou vestidos na altura do tornozelo para o verão de 1860, e em 1867 criou o vestido princesa, achatado na frente e armado em uma grande cauda atrás – a farfalha. Worth incentivava o uso do corset (espartilho), que valorizava suas saias com crinolina. Em 1871, após a queda do Império, a Maison Worth reabriu para atender as ricas clientes norte-americanas, pertencentes à aristocracia, que desfrutava de um período de crescimento econômico nos Estados Unidos. As coleções de Worth eram preparadas em Paris e enviadas em poucas semanas para serem copiadas na América. Woth foi o primeiro costureiro a identificar suas roupas por meio de uma etiqueta interna. A etiqueta da Maison Worth era símbolo e certificado de autenticidade, qualidade, status e do: “(...) poder do mago, cuja assinatura ou griffe miraculosa não é senão uma manifestação exemplar (...) um abuso de poder (...) reconhecido.” (Bourdieu, 2002, pág. 29). "One of the most powerful personages of our epoch"12. Worth compreendeu este valor “mágico” das roupas, que impregna o vestuário não pela sua funcionalidade ou beleza, mas pelo preço alto – pelo fato de serem inacessíveis à 9 Estrutura em forma de cone feita de tecido e metal usado para sustentar as enormes anáguas e saias. Consumia de 9,14 m a 27,42 m ou mais de seda. 10 Em 1868 a Imperatriz ordenou a confecção de duzentos e cinquenta vestidos com crinolina para usar em cerimônias em torno da inauguração do Canal de Suez. 11 Espécie de chapéu pequeno que cobria o topo da cabeça das mulheres. Era considerado um item de decoro e demonstrava boa posição social. 12 “Um dos mais poderosos personagens de nossa época”. The New York Times. FIGURA 5 EVOLUÇÃO DA CRINOLINA FONTE: Disponível em: <http://thecostumersmanifesto.c om/costumeoldsite/classes/fashi ondress/BustlePeriods.htm> Acesso em: 13 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 17 maioria das pessoas. Ele inovou o processo de produção de roupas de luxo e criou o sistema Haute Couture. Ao agregar valor simbólico, capital cultural e prestígio à roupa, Worth definiu o sistema da moda para os séculos seguintes. 3 O SISTEMA DA MODA A PARTIR DO SÉCULO XX O século XX deu lugar a um sistema da moda espetacular, baseado na relação com o cinema e cujo principal mecanismo de divulgação eram os desfiles de moda. Paris estabeleceu-se como a grande representante da alta-costura e Londrescomo lançadora do mercado de pronto-a-vestir13, impulsionado pelos grandes magazines. Com inspiração nas fashion-plays14 do teatro londrino Mme. Lucille (Lady Duff Gordon)15 criou encenações que apresentavam manequins exóticas em trajes espetaculares. Nas lojas de departamento de Paris os desfiles de moda recriavam os flâneuses, passeios ociosos da alta burguesia. Na metade do século XX os desfiles eram tão constantes que a demanda por manequins aumentou, surgindo as agências de modelos16. No início dos anos de 1920, Jean Patou apresentou suas manequins em fila, no final do desfile, usando um fino peignoir17 de algodão. As produtoras cinematográficas Pathé18 e Gaumont uniram-se às maisons para exibir os desfiles durante os cinejornais e Paul Poiret19 foi o primeiro couturier a promover suas criações, com filmes de enredo simples. Em 1911, a produtora Pathé 13 prêt-à-porter, ou ready to wear. 14 Comédias musicais dramatizadas em que um desfile de moda aparecia. 15 Entre outras inovações, Mme. Lucile criou uma linha de decote mais baixa, patrocinou a pesquisa e o desenvolvimento do atual modelo de soutien em 1909 e introduziu acessórios coordenados por cor em 1911. 16 Empresas especializadas em descobrir e empresariar o trabalho de modelo, faz o contato entre o cliente e a profissional. 17 Peça feminina longa e esvoaçante usada sobre a camisola. 18 ou Pathé Frères, fundada em Paris, em 1896 tornou-se a maior empresa de equipamento e de produção cinematográfica e fonográfica. No início do século XX introduziu o trailer, com notícias e desfiles. 19 (1879-1944) estilista francês. Em 1899 trabalhou para a Maison Doucet e em 1901 para a Maison Worth. Em 1903 abriu sua própria Maison e em 1906 modificou o espartilho, criando uma moda mais confortável. Em 1909, influenciado pelo estilo oriental trazido pelo Ballets Russes de Sergei Diaghilev, introduziu turbantes, calças estilo odalisca e vestidos inspirados no kimono. Em 1911 criou a saia entrave, ampla nos quadris e estreita nos calcanhares. (O´Hara, 1998, págs. 188-189) AN02FREV001/REV 4.0 18 produziu filmes curta-metragem, dedicados à moda de vanguarda e os estúdios de Hollywood associaram-se a criadores como Elsa Schiaparelli20, Lanvin21 e Chanel22. Segundo Nacif (2002), a estratégia do star-system da indústria cinematográfica (especialmente em Hollywood) influenciou a moda durante 1930 e 1940. Os figurinos eram divulgados para as revistas de moda antes do lançamento, por meio dos stills 23 (Lurie, 1997, pág.156) e eram copiados por costureiras e magazines. A relação entre a moda e o cinema contribuiu, então para a criação de um sistema de moda midiático: “O sistema de merchandising, utilizado pelos estúdios, seguia uma estratégia montada junto com os grandes magazines nova-iorquinos. Não só roupas, mas todo um conjunto de produtos (…), era divulgado por meio da publicidade indireta dos filmes, influenciando os usos e lançando padrões de comportamento”. (NACIF, 2002, pág.39) Foram ainda durante os anos 30 que se estabeleceram a designação das primeiras fileiras para jornalistas, socialites, personalidades e figuras políticas. Em 1955 a estilista Mary Quant complementava a sua coleção a ser desfilada com acessórios e objetos para criar uma ambientação (styling). A década de 60 assistiu à ascensão do criador de prêt-à-porter, ao crescimento da moda masculina e aos ateliers que surgiram para romper com o 20 (1890-1973) Unia a arte surrealista e a moda para criar roupas sofisticadas, elegantes e excêntricas. Artistas como Dali e Cocteau desenhavam acessórios e estampas para suas coleções. Vestidos de noite em tweed, ombreiras, peles tingidas, zíperes decorativos, cores vibrantes (shocking pink), botões de diversos formatos, bolsas que se acendiam ao serem abertas, chapéus de materiais e formatos inusitados. (O´Hara, 1998, págs. 211-212) 21 (1867-1946) Nos primeiros anos do século XX, suas criações eram muito apreciadas pelas jovens. Em sua loja vendia estilos para a mãe e filha. Criou os “robes de style”, vestidos com inspiração no século XVIII, populares até a década de XX. Criou o vestido chemise, que se tornaria a linha básica dos anos de 1920. Suas criações são reconhecidas pelos bordados primorosos e trabalhos manuais. A ela é associado um tom de azul: “Lanvin blue”. (O´Hara, 1998, págs. 148-149) 22 (1883-1971) Estilo confortável e clássico. Em 1914 criava vestidos chemise e em 1916 utilizava o jersey (tecido maleável usado para roupa esportiva) para roupas casuais. Adaptou sweaters masculinos para serem usados sobre saias retas. Em 1920 introduziu calças amplas para mulheres, baseadas no modelo marinheiro, e pijamas – vestimenta confortável para usar na praia. Cinza, azul marinho e bege eram os principais tons de suas coleções. Popularizou o vestido preto básico, criou cardigans e vestidos sem gola, usados com longos colares de pérolas falsas, bijuteria e pedras semipreciosas. (O´Hara, 1998, págs. 59-61) Chanel estreou em Hollywood como figurinista em 1931, desenhando para a atriz Barbara Weeks e durante a década de 1930 desenhou o figurino para diversos filmes da United Artists. Leese (1991). 23 Fotografias das roupas dos personagens principais, feitas no estúdio de cinema, durante os intervalos de filmagens e que são encaminhados para as revistas de moda. AN02FREV001/REV 4.0 19 estabelecido24. Na década de 70 a Chambre Syndicale separou os desfiles de alta- costura, destinados à divulgar a griffe, dos desfiles pronto-a-vestir, destinados a compradores e jornalistas. Os espetáculos de rock dos anos 80 influenciaram os desfiles de moda e o produtor de espetáculos tornou-se produtor de desfiles, transformando o conceito do estilista em performance, com aparatos como refletores, trilhas sonoras épicas, grandes ecrãs, etc. 3.1 HAUTE COUTURE Haute Couture é uma marca registrada, protegida, que só pode ser utilizada por determinadas empresas que se enquadram nos critérios e padrões de criação e execução de vestuário sob medida e que receberam essa designação do Ministério da Indústria da França. A Chambre Syndicale de la Confection et de la Couture pour Dames et Fillettes foi criada em 1868 por Charles Frederick Worth, com o objetivo de impedir as cópias dos estilos exclusivos. Atualmente, a Fédération Française de la Couture, du Prêt-à-Porter des Couturiers et des Créateurs de Mode25, tem como objetivo promover o crescimento da indústria da moda francesa e Paris como a capital mundial do design de moda, bem como preservar seu patrimônio: a história e o estilo francês. Fazem parte da Federação: Chambre Syndicale de la Haute Couture, presidida por Didier Grumbach; seus membros incluem empresas designadas Maisons de Haute Couture. Chambre Syndicale du Prêt-à-Porter des Couturiers et des Créateurs de Mode, criada em 1973, é presidida por Guillaume de Seynes (Hermès) e é formada por casas de alta-costura ou designers de pronto a vestir. Chambre Syndicale de la Mode Masculine para empresas de pronto a vestir masculino é presidida26 por Thierry Andretta (Lanvin). 24 Em 1964 Courréges utilizou paredes de vinil e caixas pintadas de branco como assento, criando uma atmosfera que rompeu com o estilo dos desfiles exuberantes da década anterior. 25 http://www.modeaparis.com/fr 26 Pierre Cardin é presidente honorário AN02FREV001/REV 4.0 20 A Federação promove estratégias de crescimento, proteção27 e formação28 para o setor de moda. Para tanto, estabeleceos calendários dos desfiles de moda para alta-costura, e pronto a vestir masculino e feminino: Janeiro e julho – 30 desfiles de Alta-costura e 40 desfiles de moda masculina; Março e outubro – 150 desfiles de moda para pronto a vestir feminino. A Federação trabalha em parceria com a organização de Milão para estabelecer uma programação coerente entre as semanas de moda europeias. O lucro dos desfiles e das vendas das casas de alta-costura, atualmente procede de fabricantes e varejistas que pagam um valor determinado para assistir aos desfiles, conforme o objetivo: alguns buscam a ideia geral e compram o direito à inspiração. Outros compram o direito de reproduzir o modelo completo ou o molde em toile com a especificação dos detalhes, amostra do tecido e acabamentos. A Federação determina quais casas de alta-costura são elegíveis para receberem a denominação Haute Couture. Para ser considerada uma casa de alta- costura, a empresa deve produzir cinquenta designs novos e originais para dia e noite a cada coleção29. Deve realizar dois desfiles ao ano, empregar um mínimo de vinte funcionários a tempo integral na área técnica em atelier ou confecção. Por causa das regras restritas apenas algumas casas podem usar a marca exclusiva Haute Couture30. A produção da Haute Couture envolve uma apurada técnica manual na construção de cada peça, pois deve estar precisamente adaptada ao cliente. A primeira etapa é feita com o toile (tecido muito fino de linho ou algodão). O toile é então aberto para ser transferido para o corte. A segunda prova é feita com o traje alinhavado, de forma a verificar os ajustes finais e a terceira prova é realizada com a peça praticamente finalizada no corpo da cliente. 27 A Federação é o representante da indústria diante do governo, das agências públicas e dos sindicatos dos trabalhadores da indústria da moda. 28 Ecole de la Chambre Syndicale de la Couture (criada em 1927). 29 http://fashion-era.com/chambre_syndicale.htm#Worth Founds The First Chambre Syndicale In 1868 30 http://www.modeaparis.com/en/members/ AN02FREV001/REV 4.0 21 Paris ainda se mantém como epicentro da moda, reforçando o estatuto criado no século XIX, quando era a capital artística e cultural da Europa. Ainda hoje em Paris encontram-se os grandes escritórios de design, as escolas, os fornecedores, criadores e showrooms das principais marcas que formam as indústrias da Haute Couture e do Prêt-à-porter. O estilo da moda francesa é caracterizado pela limpeza na silhueta e corte complexo, pelo caimento que acompanha o corpo, pela valorização dos métodos tradicionais de alfaiataria e de técnicas precisas à mão. Os tecidos leves e delicados e o acabamento impecável. 3.2 PRÊT-À-PORTER “Na raiz do prêt-à-porter31, há essa democratização última dos gostos de moda trazida pelos ideais individualistas, pela multiplicação das revistas femininas e pelo cinema, 31 Segundo o autor, o nome prêt-à-porter foi criado por J.C. Weill em 1949, a partir da expressão inglesa ready to wear. FIGURA 6 GAULTIER HAUTE COUTURE AH 12 13 (outono inverno 12/13) FONTE: Disponível em: http://www.jeanpaulgaultier.com/brand/en/hc/fashion-by-jean-paul- gaultier> Acesso em: 13 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 22 mas também pela vontade de viver no presente, estimulada pela nova cultura hedonista de massa.” (Lipovetsky, 2001, pág.115) De acordo com Lipovetsky (2001) depois da Segunda Guerra Mundial, a alta-costura de Paris perdeu o estatuto de vanguarda, de fonte única das tendências de moda elitistas. A alta-costura passou a ser mais uma fonte de inspiração, assim como os filmes, a cultura, etc., e as coleções são usadas como propaganda para promover as diversas linhas de produtos (cosméticos, perfumes) de corporações como LVMH (Louis Vuitton, Moët, Henessy) e vender as criações como demi- couture32 ou sob licença. Por meio da renovação da gestão das casas alta-costura, com a contratação de novos designers como McQueen, Stella McCartney, Michael Kors, o setor tem procurado manter-se no mercado. Lipovetsky (2001) afirma que o que destruiu a alta-costura foi a lógica da produção industrial e a valorização da “cultura juvenil” dos pós-guerra, essenciais para o estabelecimento do prêt-à-porter e para a definição do estilo da década de 60 – espontâneo, criativo e original. Nesse período, a rua, que ditava a moda e o prêt-à- porter consolidou-se como centros autônomos de tendência e a primeira geração de jovens estilistas lançou uma moda sportswear, nova, de espírito leve. Em 1959, Pierre Cardin apresentou a primeira coleção prêt-à-porter no magazine Le Printemps em Paris e foi expulso da Chambre Syndicale de la Haute Couture. Cardin foi o primeiro costureiro a assinar acordos com fabricantes de prêt- à-porter, para explorar o prestígio de sua griffe junto ao uma clientela maior e em 1961 lançou sua marca prêt-à-porter masculino. Yves Saint-Laurent33 criou em 1966 a primeira coleção prêt-à-porter de acordo com os requisitos industriais e não como mera adaptação da alta-costura. “São as criações do prêt-à-porter que agora encarnam o espírito da moda em sua expressão mais viva.” (Lipovetsky, 2001, pág.113). O Prêt-à-porter fundiu a indústria e a moda, a novidade das ruas e o estilo. Tornou a moda acessível a todos, porém com inspiração nas últimas tendências. Por meio do prêt-à-porter e da introdução do estilismo, o vestuário produzido em série mudou de estatuto, e tornou- se um produto de moda. A indústria associou-se aos estilistas e o prêt-à-porter 32 Ou prêt-à-porter de luxo inspirado na couture 33 Na mesma época YSL lança sua primeira boutique prêt-à-porter: Saint-Laurent Variation. AN02FREV001/REV 4.0 23 tornou-se um vestuário com valor, que somou a moda e a estética à produção em série. 4 LONDRES É uma das mais importantes capitais da moda e do design atualmente, concentrando as maiores e mais importantes lojas, empresas, designers, escritórios de moda do Reino Unido. A indústria britânica sempre foi reconhecida pela alta qualidade da lã e da lã penteada, bem como pelos tecidos de algodão. Entretanto, a abertura de mercados nos anos 90 dizimou a produção interna, que foi deslocada para países da Europa Central e do Extremo Oriente. O estilo londrino é reconhecido pela qualidade em lã, por sua característica anárquica e excêntrica, ligado ao mercado jovem, de rua (estilo Punk) e lançador de ideias. O British Fashion Council (BFC)34 foi fundado em 1983 (a partir do Fashion Industry Action Group, criado em 1981), com o objetivo de divulgar o design britânico e desenvolver a posição de Londres como uma das maiores capitais da moda juntamente com Nova Iorque, Milão e Paris. Uma das funções do BFC é divulgar as coleções de designers britânicos junto à imprensa internacional, por meio do London Fashion Week. O BFC é responsável pelo British Fashion Awards, premiação anual que celebra o talento da indústria de moda britânica. 5 NOVA IORQUE Até a Segunda Guerra Mundial a moda nos Estados Unidos da América era dependente do estilo de Paris, de onde comprava as peças piloto ou os moldes para 34 O BFC é responsável pela implantação de estratégias que apoiam a indústria da moda, entre elas o apoio a novos designers e a criação da iniciativa BFC Colleges Council que estabelece uma ligação entre os graduadosdas principais escolas de design do Reino Unido e a indústria. AN02FREV001/REV 4.0 24 serem reproduzidos. As tendências europeias chegavam ao público americano por meio do cinema de Hollywood, o principal canal de divulgação. Foi somente durante a Segunda Guerra Mundial que a América, conseguiu desenvolver sua própria identidade de moda e Nova Iorque tornou-se a capital da moda casual. O estilo americano é desportivo e descontraído, caracterizado por roupas de trabalho femininas em algodão, pela incorporação de elementos do esporte na roupa do dia a dia, pelo corte descomprometido, prático e confortável. O desenvolvimento tecnológico aplicado à indústria têxtil colocou a moda americana como líder do vestuário de alta performance e na moda esportiva. Nos anos 60, Jacqueline Kennedy popularizou o estilo casual elegante e nos anos 80 o estilo moderno, chique e prático de Donna Karan e Calvin Klein conquistaram a Europa. O jeans wear é historicamente e esteticamente associado à moda americana, aos cowboys, ao rock n´roll, ao movimento hippie, popularizando marcas como a Levi´s e a Wrangler. A moda norte-americana é regulada pelo Council of Fashion Designers of America, Inc. (CFDA)35, uma associação de comércio sem fins lucrativos, que angaria fundos para a caridade e para as atividades da indústria. Fundada em 1962 a associação tem como objetivos posicionar o design de moda como um ramo reconhecido da arte e da cultura, promover os padrões artísticos e profissionais, estabelecer e manter um código de ética e práticas de benefício mútuo nas relações profissionais, públicas e comerciais, promover e implementar a compreensão e a apreciação pública pela moda por meio de liderança em qualidade e gosto. 6 MILÃO Baseada na forte origem e qualidade do trabalho artesanal, a indústria da moda italiana emergiu como a segunda maior a nível nacional, depois da destruição causada pela Segunda Guerra Mundial. 35 www.cfda.com AN02FREV001/REV 4.0 25 Forte no setor de couro, malharia e moda masculina, a característica principal da indústria de moda italiana é sua deslocalização, sendo que cada região é especializada numa atividade: algodão, calçado, estamparia em seda e lã. O epicentro da indústria e capital da moda e do design italiano é Milão. O estilo italiano é notório pela qualidade e estrutura da alfaiataria, que estabeleceu padrões e estilo da roupa masculina. Além disso, o estilo italiano é caracterizado pelo uso de tecidos leves, uso de cores, padrões e texturas de forma clássica. Fundada em 1958 (inicialmente para durar 10 anos), em Roma, a Camera Nazionale della Moda Italiana36 sofreu uma atualização em 1962, tornando-se uma organização privada, não política, com o objetivo de operar ativamente no setor de moda. A associação protege, disciplina, coordena, promove e fortalece o desenvolvimento da moda italiana como imagem nacional e internacional. Em 2000 a associação firmou protocolo com a França de maneira a coordenar os calendários europeus dos desfiles de moda, o que garantiu Milão como protagonista na cena da moda internacional e contribuiu para alianças com Londres e Nova Iorque. Em 2005 a associação assinou novos protocolos com o objetivo de fortalecer a integração entre os dois países e aumentar a competição diante dos novos desafios do mercado internacional. 36 www.cameramoda.it FIGURA 7 - A modelo Kate Moss foi inspiração para o escultor Marc Quinn, que também esculpiu a controversa obra Alison Lapper Pregnant para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. FONTE: Disponível em: <http://www.guardian.co.uk/music/2006/apr/12/2> Acesso em: 13 dez. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 26 7 O SISTEMA DA MODA ATUAL No século XXI, o sistema da moda está estruturado no espetáculo das imagens, da aparência, do consumo, da cópia sem significado (Debord, 1997; Novaes, 2004 e Bucci, 2004). A moda é um instrumento que legitima o culto às celebridades, às identidades espetaculares, incentivando o consumo de mercadorias por meio das imagens e da promoção das marcas. As imagens de moda atuam de maneira metafórica para criar uma ligação sensorial do consumidor, com o produto principal da griffe, a roupa, ou com seus produtos secundários. A moda contemporânea deixa de ser acabada e estática, imposta e restrita, para se tornar dinâmica e interativa e não ser vista separada de seu usuário. A linguagem corporal é ampliada e universalizada, permitindo novos limites, comportamentos, relações interpessoais e narrativas. A existência da moda na pós- modernidade é caracterizada pela diversidade. A lógica de mudança da moda e sua associação com o efêmero ou o fútil vão de encontro com os padrões da sociedade pós-moderna (McLuhan, 1971), que valoriza a integração, da interação e do estar em processo. A lógica da mudança permanente comanda a configuração da moda transmitindo a ideia de inovação. O “estar na moda” é criado nos meios de informação, que concebem o desejo por um “novo” produto, pela imagem que ele projeta e pelo valor simbólico de sua griffe. O “novo” produto rapidamente perde o valor, porque era constituído por imagens e imagens são efêmeras. Surge então, o desejo por algo “novo”. 7.1 FAST FASHION O final do século XX e início do século XXI viram a formação de um novo panorama mundial que rege as relações sociais, culturais e econômicas, de acordo AN02FREV001/REV 4.0 27 com uma lógica global, de internacionalização dos mercados e do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. O fim dos acordos internacionais de comércio37 e os novos métodos de distribuição, de produção e de consumo massificado, elevado, e descartável estabeleceram uma moda baseada na aceitação rápida, imitação e criação de identidades efêmeras (Clark, 2008). O fast fashion (Clark, 2008 e Thomas, 2008) é um sistema globalizado e baseado na velocidade, (Capatti et al, 2006), estruturado em uma indústria fragmentada, formada por redes de fornecedores internacionais e com uma produção verticalmente integrada que cria roupas (ou partes) em um país, fabrica em outro e comercializa num terceiro (Clark, 2008 e Cataldi; Dickson; Grover, 2010). De acordo com Lynas (2010), o objetivo do fast fashion é produzir roupas baratas a baixo custo, com tecidos, materiais e construção de qualidade inferior, por meio de uma mão de obra explorada, resultando em um produto que não se mantém por longos períodos, que será rapidamente descartado, pois sairá de moda ou apresentará defeitos. Han (2009) e Lee (2009) consideram que os fatores essenciais para a fast fashion são a novidade, a conexão com as tendências, a sensação de exclusividade e o preço baixo, visando principalmente os consumidores jovens. O modelo tradicional38 do sistema da moda, no qual os estilos eram renovados, duas vezes ao ano foram contidos em períodos de quatro a seis semanas (Cataldi; Dickson; Grover, 2010) ou menos. Segundo Lee (2009), a partir da década de 1980 empresas europeias começaram a transferir a etapa da produção do vestuário para países como Filipinas, Malásia, Tailândia e Indonésia e a partir de 1990 para Bangladesh, Sri Lanka; Paquistão, India, Vietname e China, mantendo na Europa apenas o controle das marcas, da criação e das redes de distribuição. A autora afirma que, atualmente países em desenvolvimento39 são responsáveis por 75% das exportações mundiais de roupas, sendoque mais de um quarto da produção de vestuário e têxtil do mundo está na China e na India. Em menos de uma década o mercado mundial foi inundado por artigos copiados das grandes griffes a preços muito baixos, 37 O Acordo Multifibras (1974 a 1994) e o Acordo de Têxteis e Vestuário (1995 a 2005), que estabeleciam tarifas de importação especialmente sobre os produtos chineses, na tentativa de proteger a indústria europeia. 38 Tradicionalmente os ciclos de compra estavam baseados em previsões de longo prazo que ocorriam com um ano a seis meses antes da estação. 39 Principalmente os BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China. AN02FREV001/REV 4.0 28 popularizando a moda, aumentando a concorrência internacional e determinando o desaparecimento de unidades fabris no mundo todo. Atualmente, a indústria da moda é a 3ª ou 4ª maior do mundo (Lee, 2009), composta por inúmeros setores que englobam a indústria têxtil e de vestuário, o que colocou a indústria da moda entre as que mais geram impacto ambiental e social. Segundo Lipovetsky (2001), a moda tem as características necessárias para a cultura da velocidade, que constitui as sociedades pós-modernas, porque acompanha e incorpora as mudanças do meio tão rapidamente quanto as tecnologias informáticas, que busca informações em outras sociedades para construir e reconstruir outras realidades. 7.2 TENDÊNCIAS DE MODA Acompanhar as tendências é importante, mas manter o estilo é fundamental. Tendências são inclinações, probabilidades que apontam para as direções que um determinado acontecimento poderá tomar no futuro, com base no estudo do que ocorre no presente. As tendências não ocorrem como um processo de rutura radical com o passado, mas sim na continuidade, evolução progressiva em direção à mudança. Os fatores que poderão tornar-se tendências estão normalmente relacionados com conceitos de bem-viver: conforto, saúde, bem-estar, felicidade. Assim toda inovação ou mudança que beneficie (mesmo aparentemente) o estilo de vida, terá boa aceitação. É possível dizer que as tendências contemplam um princípio hedonista surgido no Renascimento, da valorização do indivíduo e de seus desejos. No caso da moda, por muitos séculos a adoção dos estilos era caracterizado por um movimento definido como trickle-down (gotejamento), que partia das elites e descia para as massas. De acordo com Veblen (1899) "trickle down" são padrões de consumo que despencam de cima para baixo da hierarquia social. Esse conceito foi muito criticado, visto que a partir da metade do século XX, os lançadores de estilo de consumo, de moda e de comportamento pertenciam a grupos que apareciam no fim AN02FREV001/REV 4.0 29 da hierarquia. Entre 1950 e 1960 as tendências de comportamento e de moda começaram a surgir primeiramente nas ruas para subir até as camadas mais altas da sociedade, que passaram a adotar os novos estilos. Esse movimento é denominado bubble-up (ebulição). 8 PESQUISA DE TENDÊNCIAS Para a identificação das tendências que irão influenciar a sociedade, é necessário haver um grande trabalho de pesquisa, desenvolvido por grupos multidisciplinares de profissionais, que envolvem pesquisadores de diversas áreas e setores da sociedade. Esses grupos trabalham, normalmente, para grandes empresas e corporações e tem como objetivo compreender a sociedade e o mundo hoje para projetar possíveis caminhos para o futuro. Dependendo do cliente a pesquisa de tendência analisa cenários econômicos, políticos, sociais, culturais e no FIGURA 9 BUBBLE-UP FONTE: Jones, 2005, pág51 FIGURA 8 TRICKLE-DOWN FONTE: Jones, 2005, pág51 AN02FREV001/REV 4.0 30 caso da moda, enfatiza a análise no comportamento, da estética do período, considerando sempre as variáveis externas e a forma como poderão influenciar a aceitação dos estilos propostos. Assim, no caso da moda, para a elaboração das tendências que influenciarão os próximos estilos de vestuário, as pesquisas enfocam os seguintes aspetos (Treptow, pág.78): Pesquisa de Comportamento – social, econômico, cultural; Pesquisa de Mercado: concorrência (direta e indireta) e influências econômicas, políticas, internacionais; Pesquisa de Tendências: feiras e eventos especializados; interpretação das pesquisas de comportamento e de mercado em informações de moda e estilo (cores, texturas, linhas e silhuetas, etc.) Pesquisa Tecnológica: feiras e eventos especializados; inovações, desenvolvimento para o setor; Pesquisa Regional: em busca de fontes de materiais, inspirações, técnicas, etc. A pesquisa de tendências é um trabalho que envolve diversas áreas do conhecimento, de acordo com o objetivo e da aplicação da pesquisa. O pesquisador de tendências de moda, também denominado trend watcher, nunca trabalha sozinho, mas com uma equipe multidisciplinar. É um “caçador de acontecimentos”, que possui informação e sensibilidade para detestar as mudanças e variações sociais que poderão dar origem ao desejo do consumidor por novos serviços e produtos. Mas quais são as fontes de tendências? A busca pelas tendências futuras tem início nos acontecimentos do presente, que podem ser encontradas nos jornais e revistas, nos blogs, sites, comunidades virtuais, no meio televisivo, livros publicados, filmes lançados, nas músicas de influência e até mesmo nas propagandas. Também são fontes de tendência relatórios, pesquisas, seminários, congressos e feiras, as universidades, AN02FREV001/REV 4.0 31 os centros de pesquisa, museus, lojas, as competições esportivas, os destinos turísticos, as ruas e as cidades e até os aeroportos. Assim, o profissional de pesquisa de tendências deve ter uma visão ampla, global e atenta dos acontecimentos atuais, estar conectado com uma rede de pessoas informadas, para que possa formar cenários, perspetivas para ajudar um determinado setor a tomar decisões acertadas e coerentes com as expectativas do consumidor no futuro. As tendências de moda são divulgadas por meio de seminários, feiras e dos cadernos de tendência40, elaborados por empresas especializadas, que muitos meses antes começam um trabalho de pesquisa e de interpretação para o mercado de moda. Os cadernos de tendência apresentam propostas de cores, tecidos, texturas, formas, cortes, designers, serviços, marcas, etc. As tendências de moda revelam, portanto, indicadores de mudança de comportamento, correntes presentes na cultura e no meio social, que irão afetar, alterar ou modificar as necessidades e os desejos do consumidor e, portanto o seu estilo de vida. O contexto econômico-social da atualidade está formando a direção das tendências de consumo futuras. Questões como a crise econômica mundial, a crise ambiental, as relações globais e locais, o crescimento das comunidades virtuais e de uma identidade cada vez mais global, da conectividade das informações e da maior mobilidade irão influenciar a perceção e a maneira como o indivíduo se relaciona com o mundo e certamente a maneira como se relaciona com a moda. FIM DO MÓDULO I 40 Catálogos que exprimem as direções possíveis para o setor do vestuário, com o objetivo de obter sucesso no mercado-alvo. Os cadernos de tendência são elaborados de acordo com o segmento (feminino, masculino ou infantil), com o setor (têxtil, calçados, acessórios, por exemplo) ou estilo de mercado (jeans wear, underwear, etc.).AN02FREV001/REV 4.0 32 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE CONSULTORIA DE MODA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 33 CURSO DE CONSULTORIA DE MODA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 34 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal CURSO DE CONSULTORIA DE MODA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 35 MÓDULO II O módulo II pretende oferecer ferramentas para a compreensão do mercado de moda feminino e masculino atual, identificando suas principais características. Para tanto, o módulo inicia com uma breve apreciação da evolução do traje ao longo da história para então trabalhar com os clássicos do vestuário feminino e masculino e posteriormente com componentes mais importantes para a composição do vestuário. O módulo finaliza com o estudo e interpretações criativas. AN02FREV001/REV 4.0 36 9 BREVE HISTÓRIA DA MODA E DOS ESTILOS A necessidade de diferenciação ou de associação entre indivíduos ou grupos sempre existiu e a roupa sempre foi uma das principais formas do ser humano conseguir distinção, pois era um indicador do status e do papel social de cada pessoa. Na pré-história, os mais poderosos usavam as peles dos animais mais perigosos e difíceis de caçar, possuíam uma ornamentação mais elaborada, enquanto os membros "menos importantes" usavam peles de animais mais mansos, comuns e sua ornamentação corporal era mais rústica ou inexistente. As leis suntuárias, estabelecidas durante a Idade Média, tentaram reforçar o poder e a diferença entre as classes, restringindo o uso de determinadas cores, estampas e tecidos aos clérigos e nobres. A obtenção do tom púrpura e do carmim era muito difícil e, portanto sua utilização era reservada à realeza – essa é a origem da expressão “sangue azul”, significando dignidade real. O cidadão comum usava tecidos de fabricação barata com cores de fácil obtenção, como o algodão cru ou a lã. A moda no sentido estrito quase não aparece antes da metade do século XIV. Data que se impõe, em primeiro lugar, essencialmente em razão do aparecimento de um tipo de vestuário radicalmente novo, nitidamente diferenciado segundo os sexos: curto e ajustado para o homem, longo e justo para a mulher. (...) a mesma toga longa e flutuante, usada mais ou menos indistintamente há séculos pelos dois sexos, foi substituída por um lado, por um traje masculino (...); por outro lado, substituiu-a um traje feminino. (...) Transformação que institui uma diferença muito marcada para toda a evolução das modas futuras até o século XX. (LIPOVETSKY, 2001, p.29-30). Segundo Lipovetsky (2001), foi a partir da Idade Média que a vestimenta surgiu como moda e como instrumento de valorização das zonas erógenas. A túnica usada até então se dividiu em parte de baixo e parte de cima e as peças passaram a combinar-se para diferenciar homens e mulheres, comunicar posição social, agrupamentos, crenças, etc. As roupas adquiriram um significado social e cultural, foram associadas à riqueza e ao recato, incitando ao mesmo tempo a curiosidade sobre as partes cobertas. AN02FREV001/REV 4.0 37 No final do século XVIII e início do século XIX, com a queda da monarquia em vários países e mais tarde com a descoberta da anilina durante a Revolução Industrial, as leis suntuárias perderam o sentido, pois era possível produzir roupas de qualidade, bonitas e acessíveis às classes baixas. Mesmo após as revoluções destes períodos, as pessoas ainda procuravam diferenciar-se usando tecidos ou modelos diferentes. Até o começo do século XX, homens e mulheres de classes mais altas tentavam adotar modelos exclusivos, que vinham de Paris. Tecidos importados, criações de estilistas consagrados, trabalhos manuais, estampas raras eram usadas apenas por uma classe que podia pagar o preço da fabricação. A distinção entre classes passou a ser definida por meio das marcas, das griffes e dos estilos exclusivos. No início do século XX, sob a influência da mudança de valores instituídos durante da Primeira Guerra Mundial, a roupa tornou-se mais prática, mais informal e funcional. No período da depressão1 nos anos de 1930, a roupa glamorosa passou a ser vista apenas no cinema. Os ternos dos homens e das mulheres escureceram e eram feitos em tecidos mais grossos e duráveis. Os terninhos, vestidos e blusas femininos eram revestidos com ombreiras e acinturados abaixo da cintura. Na década de 40, a Segunda Guerra Mundial agravou as dificuldades econômicas em muitos países. Entre 1940 e 1945, milhares de mulheres entraram no mercado de trabalho, assumindo novas atividades e novos papéis na sociedade, até então considerados trabalhos masculinos. Na moda, as restrições impostas ao vestuário2 estagnaram a indústria têxtil e de vestuário, que tiveram de desviar sua produção para o auxílio às campanhas militares. Tecidos como a lã, a seda, o rayon e o algodão estavam restritos e o nylon antes usado para a produção da meia-calça passou a ser usado na produção de para-quedas, tendas e cordas. As mulheres que trabalhavam fora eram incentivadas a usar as roupas dos maridos, reformadas e 1 A Grande Depressão ou a Crise de 1929 – período de recessão econômica que durou até o fim da década de 1930. No Brasil e na Argentina, países pouco industrializados na época, a Grande Depressão acelerou o processo de industrialização. A Grande Depressão ajudou a ascensão de regimes como o nazista e o fascista. 2 Na Inglaterra as restrições iniciaram-se em 1941 com a distribuição de cupons para aquisição de roupas. Em 1942 um homem conseguiria comprar apenas um par de meias a cada 4 meses, uma camisa a cada 18 meses, um terno a cada dois anos e um casaco a cada seis. As Roupas Utilitárias (Utility Clothing) eram roupas mais baratas. A etiqueta (Civilian Clothing 1941 = C41) indicava as restrições na confecção. A campanha Faça e Remende (Make do and Mend) orientava as donas de casa a reaproveitarem ao máximo as roupas que já possuíam. AN02FREV001/REV 4.0 38 adotaram o costume de usar calças. As que trabalhavam em fábricas, como operárias, usavam turbantes para proteger seus cabelos. As saias ficaram mais curtas e retas, os calçados com saltos resistentes e tailleurs com ombros quadrados. A jardineira tornou-se uma peça muito comum por ser prática. A década de 50 assistiu ao retorno do glamour com Christian Dior, que buscou inspiração noestilo eduardiano (New Look) e definiu a linha daquela década (Linha Corolla). Os anos 50 refletem também a moda urbana e jovem, que mudaria a dinâmica do sistema da moda. A partir dos anos 60 a moda jovem, o pronto a vestir caracterizou o estilo da época, embalado pelos Beatles e pelo estilo boneca, imortalizado pela manequim Twiggy. O vestido saco, o biquíni, a minissaia, a influência da pop-art e da alfaiataria definem a geração beatnik3. A chegada do homem à lua no final da década e a Guerra do Vietnam contribuíram para a revolução da moda na década seguinte, que assistiu ao nascimento da geração hippie4, cujos ideais baseavam-se no amor livre, no rock e nas drogas. Os estilos nativos misturam-se ao jeans, que se tornou a peça ícone do período. Em uma onda contrária, o estilo disco5 indicava a associação da tecnologia e da comunidade homossexual na música e nas roupas, com a incorporação de fibras fluorescentes, brilhantes, elásticas na roupa, criando um visual sexy, unisexo e exuberante. A década de 80 assiste ao nascimento do street wear, das tribos urbanas e dos yuppies6, estilos que definiram os cortes geométricos e amplos, as cores vivas e tons pastéis. O estilo punk, nascido no final da década de 70, define a antimoda como forma de protesto. Artistas como Madonna e Olivia Newton-John influenciaram a moda jovem e o culto ao corpo saudável. A exuberância dos anos 80 chega ao fim com a queda do Muro de Berlin em 1989, estabelecendo o estilo clean e andrógino 3 Termo pejorativo associado à Geração Beat, que influenciou a cultura jovem e nova-iorquina dos anos de 1950 e 1960, com uma ideologia anticonformista e boêmia. 4 Movimento jovem, nascido nos Estados Unidos nos anos de 1960, que teve como antecedente a Geração Beat e cujos valores estavam estruturados na paz, no amor e no espírito de comunidade. 5 Gênero musical que nasceu como reação à dominação da música rock, associada aos grupos heterossexuais e machistas. A música dance era estigmatizada neste, tanto pela sociedade tradicional, quanto pelos movimentos de contracultura, por sua associação com a homossexualidade, a revolução sexual e o feminismo. 6 Caracterizam jovens profissionais bem-sucedidos e ambiciosos, típicos do final da década de 80, cuja mentalidade era focada nas necessidades e anseios individuais. AN02FREV001/REV 4.0 39 dos anos 90. O estilo desconstruído, destruído e o visual grunge7, influenciam a moda e a alta-costura. O fim do século assiste ao reavivamento de estilos antigos, ao retorno das técnicas artesanais, do trabalho manual e da aceitação de estilos diversos e ecléticos. 9.1 O MERCADO DE MODA O mercado do vestuário mundial (varejo e indústria de roupas e acessórios), de acordo com a empresa de consultoria Lucintel8, era de US $1,097 bilhões em 2011 e alcançará US $1,369 bilhões em 2017. O mercado de moda é segmentado em feminino, masculino e infantil, para facilitar a estrutura de produção e de mercado. Cada um destes segmentos divide-se em outros mais específicos de acordo com nichos, definidos pelas características regionais, culturais, etc. O maior segmento do mercado de moda é o feminino adulto e jovem, em torno de 57%. Nos últimos cinco anos este segmento cresceu à medida que as consumidoras passaram a gastar três vezes mais do seu rendimento em roupa, para acompanhar as mudanças mais frequentes da moda. O mercado de moda tem canais de distribuição cada vez mais fragmentados e conta com lojas de varejo (venda direta ao público) e atacado (venda em quantidade para as lojas). Entretanto, no mercado de varejo, há ainda diferentes formas e características de distribuição, como as cadeias de lojas, lojas de departamentos, franqueadas, outlets (lojas de desconto), feiras e mercados de usados ou de trocas, lojas pop-up (pop-up stores, abrem durante um curto período de tempo), lojas online. 7 Estilo de rock, inspirado no punk, heavy metal e indie, com letras angustiantes e melancólicas, que rejeitavam performances elaboradas. Influenciou a moda com um estilo desleixado, com camisas de flanela xadrez e jeans rasgados. 8 www.lucintel.com AN02FREV001/REV 4.0 40 9.2 EXTERIORES E INTERIORES DO VESTUÁRIO FEMININO E MASCULINO 9.2.1 Definição do wear O estilo do vestuário, do mercado e do público-alvo, define o wear9. O uso das roupas foi sendo construído ao longo da história, de acordo com a evolução dos costumes, das necessidades e dos avanços tecnológicos. A popularização do esporte após a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, difundiu o uso de roupa esportiva e descontraída (sportswear), que influenciou também a roupa casual. A ocasião de uso da roupa pode definir também o segmento, por exemplo, womenswear, menswear ou childrenswear. Os usos mais comuns na definição e classificação do vestuário são: Under wear: roupa íntima, lingerie; Home wear: roupas confortáveis, para estar “em casa”; Casual wear: roupa confortável, para lazer ou trabalho sem formalidade; indica a gama de uso com maior abrangência, tendo sofrido influências do sports wear, jeans wear, street wear, entre outros; Beach wear: uso para praia ou piscina; Surf wear: para prática do surf; Active wear: uso para a prática de fitness; Sportswear: uso para a prática esportiva e de competição; Jeans wear: índigo, sarja etc. (com origem nos anos 50, expressa a cultura norte-americana, está associada à comodidade, informalidade e praticidade. Roupas de fácil manutenção, com confeção reforçada); Street wear: roupa urbana, com raízes nos anos 80 e influências da moda de rua japonesa; 9 O uso, ou ocasião de uso da roupa. AN02FREV001/REV 4.0 41 Rigor wear (BR)10: uso formal, para cerimônias e jantares de gala; Party wear: uso para lazer, formal; o termo é recente e designa principalmente roupas femininas ou masculinas de festa para público jovem; Work wear: roupas de uso utilitário, para o trabalho. Pode indicar o uniforme utilitário, como os militares, de garçon, vendedores ou uniforme social, como o office wear (uso em ambientes corporativos, como escritórios), ou ainda o uniforme de segurança, como bombeiro, apicultor, etc. Costume wear: uso teatral ou cinematográfico, figurino; House wear: uso da casa, têxteis lar – artigos de cama, mesa, banho. 9.2.2 Definição da Linha e do Tipo No mercado de moda o segmento feminino, masculino ou infantil inclui itens do vestuário que são categorizados, conforme o uso e a função. As categorias que classificam as peças auxiliam tanto no momento de planear a coleção, quanto nas estratégias de marketing, de merchandising e também na consultoria de moda. A linha de produtos11 estabelece grupos de peças criadas por uma empresa ou designer. Os grupos são formados por peças que desempenham a mesma função e ajudam a determinar e identificar o mercado-alvo, o tipo de canal de distribuição e até a faixa de preço. As linhas de produtos são classificadas em: Tops – peças cuja função é vestir a parte superior do corpo. Bottoms – peças cuja função é vestir a parte inferior do corpo. Dress – vestidos Sets – conjuntos (de calças ou saias), compostos pelo menos por duas peças. Coats – peças exteriores, usadas por cima com função de proteção. 10 Formal wear (EUA, Canada) formal dress (GB, Australia, Nova Zelândia) ou evening wear11 Determinadas empresas, consideram as peças multifuncionais (que atendem mais que uma função) como fazendo parte de uma linha específica. Outras linhas: Shoes (linha de calçados), Gifts (linha de presentes, lembranças e brindes), Perfumary (produtos cosméticos e de cuidado do corpo). AN02FREV001/REV 4.0 42 Overall – roupa inteiriça, que une as partes de cima e de baixo da cintura. Bodysuits – peça de roupa ajustada que cobre o tronco até o gancho. Lingerie – peças íntimas. Acessories – acessórios, que adornam o corpo. Complements – os complementos são itens conjugados com a roupa. Manufactures – elementos adicionais ao visual, cuja utilidade é facilitar o uso da roupa ou do próprio usuário. Cada Linha de Produto subdivide-se em Tipos de produtos, ou seja, especificamente as peças que compõem a Linha. Assim sendo: Linha Tipo (exemplos) Tops Camisas, camisetas, blusas, tops, túnicas Bottoms Saias, calças, shorts, bermuda Sets Tailleurs, casaco e blusa, ternos Coats Casacos, jaquetas, gabardines, blazers Overall Macacão, jardineiras Bodysuits Maiôs, bodies, biquínis Lingerie Soutiens, calcinhas, ligas, etc. Acessories Joias, bijuterias, óculos, acessórios de cabelo Complements Xales, cachecol, lenço, echarpes Manufactures Necessaires, cintos, carteiras, bolsas, malas, etc. FONTE: a autora. Bottoms Fonte: a autora Bermuda: calça curta, até os joelhos. Calças baggy: corte largo no quadril e ajustado no tornozelo. Calças boca-de-sino: corte ajustado até os joelhos e amplo na bainha. Calças capri12: corte folgado, curto (até a canela) e afunilado. Calças cargo: inspiradas nos uniformes dos militares dos anos 70 possuem corte folgado, cós reto, ajustado por cinto, vários bolsos. 12 Balneário de Capri, Itália, muito famoso na década de 1950. AN02FREV001/REV 4.0 43 Calças cigarrete, pescador ou cropped: calça reta, justa e de boca fina, comprimento até os calcanhares, com bainha virada ou simples. Calças clochard: corte largo, cintura alta e franzida, com cinto ou elástico. Calças corsário: calça ajustada até o joelho. Calças fuseau: modelagem ajustada, com uma tira elástica sob o pé. Calças knicker: larga no quadril e franzida abaixo do joelho, com botão ou fivela. Calças leggings: típica da década de 80 é ajustada como uma segunda pele. Calças pantalona: corte reto no cós e largo a partir dos quadris. Calças saint-Tropez: cós abaixo da cintura. Calças slim: calças afuniladas com cintura baixa. Calças saruel: influência marroquina, ampla no gancho. Calça tradicional: cós na linha da cintura, 5 bolsos, bainha reta. Saia balão: estilo característico do período pós 2ªGM. Franzida na cintura e bainha, com uma modelagem convexa. Saia-calça: muito amplas, usadas para o ciclismo no século XIX13. Saia com pala: modelo ajustado entre a cintura e o quadril e solto até a bainha. Saia envelope: corte transpassado em que um lado se fecha sobre o outro. Saia evasé: corte em círculo ou semicírculo, solta abaixo do quadril. Saia franzida: estilo originário do vestuário camponês com modelagem rodada e leve franzido no cós, criando pregas suaves. Saia godê: construída a partir de um ou dois cortes de tecidos, está associada à década de 50, quando era usada com camadas de anáguas. Saia pareô: retângulo de tecido atado em torno da cintura. Saia rabo-de-peixe: corte estreito até abaixo das ancas, terminando em godê. Saia reta: caracterizada pelo corte reto dos quadris à bainha; está associada ao estilo da década de 40. Saia tulipa: corte convexo, com cintura alta e franzida, mais estreita na barra. Tops Fonte: a autora Camisa: corte reto, manga curta, com abotoamento frontal e colarinho. Pode ser estampada ou decorada, ou de material mais rígido (safari). 13 criada por Amelia Bloomer AN02FREV001/REV 4.0 44 Camisa pirata, cigano ou poeta: corte solto, com mangas bufantes e babados frontais e nos punhos. Camisa polo: gola ampla, com três botões na frente e mais longa nas costas que na frente. Pode ser com mangas longas e sem colarinho. Camisa rigor: usada para ocasiões formais: black tie ou white tie. Colarinho rígido, punho com abotoaduras, e abotoamento invisível, com ou sem pregas. Camisa social: camisa com colarinho rígido, com abertura frontal, do colarinho à bainha e mangas com punhos. Camiseta sem manga: ombros mais largos que a regata. Camisola de noite: peça para dormir de tecido leve e confortável. Frente única: painel frontal preso em torno do pescoço, com ombros visíveis. Regata: camiseta sem mangas, com cavas profundas e decote baixo, usada por atletas ou operários. A versão feminina é denominada top. Camiseta: camisa sem gola ou abotoamento e com mangas curtas (também longas), feita de malha de algodão, originariamente era roupa interior. Tip-top: peça infantil cuja construção também se assemelha ao body feminino, com fechamento entre as pernas. Tomara-que-caia: peça tubular sem ombros e mangas, feito de tecido elástico ou preso por uma tira amarrada na frente. Túnica – uma das peças mais antigas, de corte reto, com ou sem mangas. Dress Fonte: a autora Vestido avental: frente-única e amarrado atrás, na cintura. Vestido chemisier: corte inspirado nas camisas masculinas. Vestido envelope: inspirado no sarongue é enrolado no corpo, transpassado na frente e amarrado na cintura. Vestido frente-única: o painel da frente é amarrado no pescoço. Vestido império: ajustado sob a linha do busto. Estilo típico do século XIX. Vestido tubo: justo, largo, curto ou comprido. Criado por Coco Chanel. Vestido recortado: com recortes, aberturas no corpo do vestido, criado por Courréges na década de 60. Coats Fonte: a autora AN02FREV001/REV 4.0 45 Casaco: peça exterior longa, masculina ou feminina, com mangas longas, fechamento frontal com botões, zípers, ganchos, fivelas ou a combinação de vários, com ou sem cinto e tiras nos ombros. Jaqueta: peça exterior curta até a cintura ou quadris, mangas longas e zíper frontal. Moleton: agasalho atlético de mangas longas com ou sem capuz. Suéter: peça de roupa tricotada para inverno. 9.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO VESTUÁRIO 9.3.1 Elementos de estilo De acordo com Jones (2005), a primeira reação do consumidor ao vestuário é a cor, seguida pela forma e por último o tato. Assim, é de extrema importância conhecer as características e a interferência dos elementos de estilo na composição do visual. Elementos de estilo são componentes visuais que constituem o produto e que lhe confere identidade, característica visual. Os elementos de estilo podem estar ou não em harmonia e são responsáveis pela mensagem transmitida pela roupa. Pormenores como fendas, pregas, babados, franzidos e o próprio enviesamento do tecido podem acentuar um estilo, estar associado a uma época e conferir singularidade às peças. 9.4 MATÉRIA-PRIMA O tecido é a matéria-prima da moda e pode por si só despertar o desejo de consumo. Os tecidos podem ser de fibras naturais (obtidas a partir de recursos animais, vegetais ou minerais), artificiais (obtidas a partir do processamento químico e físico de fibras naturais) ou sintéticas (criadas em laboratório). AN02FREV001/REV 4.0 46 As fibras determinam as características dos tecidos, como a elasticidade, o caimento, a retenção de calor, etc. Os tecidos podem aindaser planos (construído com base no entrelaçamento perpendicular de dois fios, como num tear) ou de malha (construído como o tricot, formando uma malha plana ou circular, formando uma malha tubular), que possuem mais maleabilidade. As características do tecido, seu caimento, estrutura e textura, determinam as características da roupa e interferem na silhueta final. Os tecidos transmitem sensações visuais ou táteis, de acordo com sua estrutura e textura. As associações simbólicas dos tecidos são construídas de acordo com a cultura. Tecidos de seda, macios e delicados, por exemplo, são associados à pele feminina, enquanto tecidos como o couro, robusto e poderoso são associados ao lado animal, rebelde e selvagem. 9.5 CORES A cor é uma sensação, uma interpretação cerebral das ondas de luz que chegam aos olhos. As cores são classificadas de acordo com a sua localização no círculo das cores14, que também identifica as harmonias e as misturas. As cores são caracterizadas também pela matiz (o nome da cor, tom, ou gama), luminosidade e saturação (intensidade). Cada cor, com sua dimensão de onda, impressiona o cérebro de maneira diferente e a impressão não depende somente do ambiente ou das funções óticas, mas também da natureza cultural e social que a cor ativa. De acordo com Treptow (2005), as cores de cada estação são o resultado dos estudos e da divulgação das pesquisas de tendências realizadas por grupos que controlam a oferta de cores como o British Textile Colour Group, o International Colour Authority (ICA), entre outros. 14 O círculo cromático foi estudado por cientistas como Newton e Goethe, entre outros. É composto por sete cores e suas harmonias, representando as cores visíveis ao olho humano. AN02FREV001/REV 4.0 47 Na moda, a harmonia de cores na composição do visual deve ser feita considerando as características do usuário e a associação entre a cor, forma e a textura da peça. As cores têm também associações simbólicas, construídas culturalmente, que interferem na interpretação e na composição de um coordenado. Os significados das cores influenciam a cultura e a organização social e psicológica. No ocidente, as cores consideradas tradicionais são o castanho, o preto, o azul-marinho, o cinza, o branco, o bege e o vermelho. Entretanto, cada cultura percebe de forma diferente as cores consideradas básicas. A harmonia de cores para composição de coordenados deve começar pelo estudo das cores primárias e secundárias, sua relação no círculo cromático e as diversas harmonias, bem como compreender sua simbologia. As cores não devem competir nem entre si, nem com a silhueta da pessoa, com o corte ou com a forma das peças. As coleções comerciais tendem a usar famílias de cores, ou seja, cores que partilham a mesma composição e criam, portanto, menos contraste, destinado a modismos mais passageiros. Cores Primárias: são consideradas cores puras. É a partir delas que outras cores são formadas. • Vermelho (magenta) • Azul (ciano) • Amarelo Cores Secundárias: são o resultado da mistura, em proporções iguais, de duas cores primárias. • Verde • Laranja • Violeta AN02FREV001/REV 4.0 48 FIGURA 10 - CÍRCULO DAS CORES FONTE: Disponível em: <http://willkempartschool.com/beginners-colour-mixing-acrylic-paint/>. Acesso em: 13 nov. 2012. Cores Complementares: cores oticamente opostas no círculo cromático. Cores Análogas: cores com nuanças em comum, que são adjacentes no círculo cromático. Cores Quentes: estimulantes, ativas e estão mais próximas aos nossos sentidos. Essas cores aumentam o tamanho aparente dos objetos e tendem a criar a sensação de união. Vermelhos, laranjas e amarelos. Cores Frias: tranquilas, criam a sensação de distanciamento e amplitude no olhar. Essas cores diminuem o tamanho aparente das coisas e tendem a criar a sensação de desagregação. Azuis, verdes e violetas. Escala de cores: a variação de uma cor que ocorre com intervalos regulares. As escalas podem ser cromáticas (monocromáticas ou policromáticas) ou acromáticas (ausência de cor, criada com o preto, o branco e o cinzento). Na moda, as escalas são utilizadas para criar harmonias monocromáticas, quando o visual é composto por peças da mesma cor, do mesmo matiz, com variações de luminosidade ou saturação e policromáticas, quando se emprega várias cores. A harmonia policromática está associada com a linguagem da coleção, com o estilo de vida e com a ocasião de uso do consumidor. AN02FREV001/REV 4.0 49 9.5.1 Significado das Cores Fonte: Modesto Farina. Psicodinâmica das cores em comunicação. Associação material Associação afetiva Origem Batismo, casamento, areia, clara, cisne, lírio, neve, primeira comunhão. Ordem, simplicidade, divindade, limpeza, piedade, paz, alma, bem, infância, inocência, harmonia, pureza, estabilidade, otimismo, dignidade, modéstia, despertar. Do germânico blank (brilhante). Simboliza a luz. Para os ocidentais simboliza a vida e o bem, para os orientais é a morte. Noite, sombra, enterro, morte, fim, carvão, veneno, escondido. Mal, miséria, pessimismo, sordidez, tristeza, desgraça, dor, temor, negação, opressão, angústia, renúncia. Do latim niger (escuro, preto. negro). Tem conotação de nobreza, classe seriedade. Pó, chuva, ratos, neblina, máquinas, tempestade. Tédio, tristeza, decadência, desâ- nimo, carência, seriedade, sabedoria, passado, pena, aborrecimento, indecisão. Do latim cinicia (cinza) ou do germânico gris (gris, cinza). Está entre a luz e a sombra. Rubi, cereja, guerra, lugar, parar, perigo, vida, fogo, chama, sangue, feridas, conquista, batom. Verão, Dinamismo, força, alegria, coragem, furor, esplendor, intensidade, paixão, vulgaridade, poder, vigor, realeza, calor, violência, excitação, extroversão, ira, proibição, agressividade. Do latim vermiculus – verme (molusco Cochonilla extraia- se uma substância escarlate, carmim, carmesim - do árabe: qimerzi) Laranja (fruta), fogo, pôr do sol, chama, calor, festa, perigo, raios solares. Verão, força, luminosidade, euforia, energia, senso de humor, alegria, advertência. Do persa narang, através do árabe naranja = o flamejar do fogo. Sol, flores, palha, luz, topázio, limão, luz solar. Verão, iluminação, alerta, infância, adolescência, felicidade, euforia, expectativa, espontaneidade, originalidade. Do latim amaryllis = luz irradiante AN02FREV001/REV 4.0 50 Planície, natureza, bosque, águas claras, folhagem, mar, relva. Bem-estar, saúde, abundância, tranquilidade, segurança, equilibro, cura, esperança, serenidade, tolerância, suavidade, juventude. Do latim viridis = faixa harmoniosa entre o Céu e o Sol. Mar, céu, montanhas distantes, gelo, águas calmas. Inverno, espaço, paz, viagem, verdade, sentido, afeto, precaução, carinho, confiança, fidelidade, amizade, infinito, Intelectualidade e seriedade (azul escuro). Do árabe e persa lázurd, por lazaward = cor do céu sem nuvens. Noite, igreja, aurora, sonho, mar profundo, enterro. Inverno, fantasia, mistério, misticismo, egoísmo, espirituali- dade, profundidade. Do latim russeus (vermelho - carregado). Possui poder microbicida. Terra, velhice, desconforto, águas lamacentas. Outono, pesar, melancolia, resistência,monotonia, trabalho. Do francês marrom (castanho). Agressão, furto, miséria, machucado. Autocontrole, dignidade, resistência, violência, valor. Do latim purpura = dignidade real. Flores, fim de tarde. Vidência, mistério, espiritualidade, misticismo calma, meditação. Do provençal antigo viula (viola). Possui poder sonífero. 9.5.2 Padrões e Estampas Padrões e estampados conferem personalidade e identidade à peça. São construídos por meio de elementos repetidos, de acordo com determinadas propriedades, o que lhes confere características próprias. Culturalmente os padrões podem expressar filiação social, tendo associações psicológicas. Padrões geométricos e simétricos, por exemplo, sugerem ordem, enquanto padrões florais e orgânicos sugerem liberdade e descontração. FIGURA 11 FONTE: Disponível em: <www.burberry.com> Acesso em: 13 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 51 Na moda o uso de padrões e estampas encarecem o custo de fabricação e em muitos casos simbolizam status, como o padrão da Burberry, por exemplo. Os padrões e estampas são organizações de elementos figurativos (ou não figurativos) em um determinado espaço, seguindo regras de Harmonia, Equilíbrio e Contraste. Harmonia é a “…disposição formal bem organizada no todo ou entre as partes de um todo.” (Filho, pág.51). A desarmonia, por outro lado, caracteriza a desarticulação das partes, criando irregularidades, desvios. Equilíbrio é obtido ”por meio de duas forças de igual resistência que puxam em direções opostas.” (Filho, pág. 57), criando uma composição visual bem distribuída, em pausa. O desequilíbrio, entretanto cria a sensação visual de instabilidade, movimento, inquietação e surpresa. Contraste é a “…ausência ou presença da luz.” (Filho, pág. 62). O contraste é uma ferramenta de expressão e comunicação que aguça o significado de um elemento ou conjunto de elementos. O contraste pode ser obtido por meio da luz e tom, por meio das cores, das linhas verticais e horizontais, do movimento, da proporção, etc. 9.5.3 Linhas – Formas, cortes e volumes A linha da roupa pode variar de acordo com o estilo da época e pode ser mais dura ou suave, expressando uma mensagem de rigidez ou flexibilidade, estabilidade ou movimento. Durante muitos séculos a linha arredondada valorizava as curvas naturais do corpo feminino, enquanto a linha masculina era mais reta, evidenciando a virilidade. Durante a 2ªGM, entretanto, as roupas masculinas adaptadas para o guarda-roupa feminino, conferiram à época uma moda mais rígida, identificada como estilo militar. As linhas de corte criam formas que proporcionam a ilusão de amplidão, afunilamento, alongando ou estreitando o visual. O corte e as costuras são imprescindíveis para criar a forma e a linha de uma roupa e vão interferir na composição visual do corpo. Costuras verticais, por exemplo, alongam, enquanto as AN02FREV001/REV 4.0 52 costuras horizontais evidenciam a largura do corpo e um corte enviesado cria dinâmica e movimento. A composição das linhas, por meio do corte, irá interferir na proporção das peças e na sua conjugação. A proporção das peças em si e a conjugação entre elas irá criar nova proporção corporal, alongando, achatando, ampliando ou estreitando. 9.5.3.1 Silhuetas As roupas e o corpo relacionam-se, segundo Jones (2005), tridimensionalmente, interferindo um no outro por meio da sua forma e dos movimentos. A silhueta é a forma que a roupa confere ao corpo. Normalmente uma coleção não possui muitas variações de silhueta e numa estação ou período as silhuetas definem o estilo, a estética. FIGURA 12 FONTE: Hancy Riegelman. 9 Heads: A Guide to Drawing Fashion AN02FREV001/REV 4.0 53 FIGURA 13 - SILHUETAS FONTE: Hancy Riegelman. 9 Heads: A Guide to Drawing Fashion FIGURA - 14 vestido retângulo em lã tartan. Coleção Anglomania. Vivienne Westwood. FONTE: Disponível em: <http://www.matchesfashion.com/product/132043>. Acesso em: 13 dez. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 54 Amplitude, volume, peso ou leveza modificam a silhueta do corpo, acentuando ou ocultando determinadas partes do corpo. As silhuetas adotam denominações a partir de associações com formas geométricas, letras do alfabeto ou estilos da moda de uma determinada época. FIGURA 15 - SILHUETAS FONTE: Hancy Riegelman. 9 Heads: A Guide to Drawing Fashion AN02FREV001/REV 4.0 55 FIGURA 16 - SILHUETAS FONTE: Hancy Riegelman. 9 Heads: A Guide to Drawing Fashion AN02FREV001/REV 4.0 56 10 INTERPRETAÇÕES CRIATIVAS FIGURA 17 - HARMONIA MONOCROMÁTICA Escala Monocromática do Azul Linha “Coluna” FONTE: Disponível em: <http://www.manishar ora.ws/spring-summer-09.html>. Acesso em: 13 nov. 2012 FONTE: Disponível em: <http://www.viviennewestwood.co>. Linha “Balão” uk/multimedia/collection/goldss2012#!/ pag Silhueta “A” e-8/look-379 Acesso em:13 nov. 2012 AN02FREV001/REV 4.0 57 FIGURA 18 - HARMONIA DAS COMPLEMENTARES Linha “Barril” / Silhueta Ampla FONTE. Disponível em: <http://www.viviennewestwood.co.uk/multimedia/c ollection/goldss2012#!/page-18/look-3835>. Acesso em: 13 nov. 2012. Linha “Trapézio” / Silhueta “A” FONTE. Disponível em: <http://www.manisharora.ws/autumn-winter-12.html> Acesso em: 13 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 58 FIGURA 19 - HARMONIA DAS ANÁLOGAS Linha “H” / Silhueta “Retângulo cintado” FONTE. Disponível em: <ttp://www.versacecollection.com/en/collection/8/f-w-2012-13- collection>. Acesso em: 13 nov. 2012. Linha “Cone invertido” / Silhueta “U” FONTE. Disponível em: <http://www.manisharora.ws/spring-summer-13.html> Acesso em: 13 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 59 FIGURA 20 - HARMONIA DAS CORES QUENTES E FRIAS Linha “Anfora” / Silhueta Retângulo cintado FONTE. Disponível em: <http://www.ungaro.com/collection- femme/collection-ete-2012.html>. Acesso em: 13 nov. 2012. Linha “H” / Silhueta “Casulo” FONTE. Disponível em: http://www.junkoshimada.com/fullpage.html Acesso em: 10 dez. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 60 FIM DO MÓDULO II AN02FREV001/REV 4.0 56 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE CONSULTORIA DE MODAAluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 57 CURSO DE CONSULTORIA DE MODA MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 58 MÓDULO III O mercado mundial de vestuário é influenciado pela globalização, pelas mudanças constantes das preferências dos consumidores, pelo seu nível de rendimento, pelas tendências de moda e pelo desenvolvimento tecnológico dos tecidos. A indústria do vestuário é suscetível às condições macro económicas dos países e às crises económicas mundiais. O consumidor moderno é mais consciente em relação às marcas e à imagem que transmitem, influenciando sua fidelidade. Cada vez mais o consumidor solicita um design original, que faça uma afirmação de moda e de individualidade e está disposto a experimentar diversos visuais e ideias. Relatórios internacionais como o Euromonitor, TNS Worldpanel Fashion, Lucintel consideram que o poder de compra tenderá a crescer, apesar da crise, devido à promoção agressiva das marcas. Assim, o estudo da relação marca- consumidor será cada vez mais importante para as decisões estratégicas no desenvolvimento dos produtos de moda, no marketing de moda e também na consultoria de moda, pois conhecer a imagem de marca e como o consumidor a identifica, é essencial para compreender essa dinâmica. O módulo III pretende, portanto, abordar dois aspetos principais, o público- alvo e as marcas. AN02FREV001/REV 4.0 59 MÓDULO III 11 PÚBLICO-ALVO A segmentação do mercado1 é a divisão de um mercado em pequenos grupos com características distintas, ou segmentos, que irão representar o mercado global. O mercado pode estar segmentado por preço, qualidade, faixa etária, região, comportamento de compra, etc., por isso a segmentação de mercado tem como objetivo identificar o público-alvo (target), de acordo com suas características e comportamentos. Segundo Almeida (2012)2, o público-alvo representa para quem o produto ou serviço será direcionado. Estabelecer o perfil do público-alvo significa conhecer sua faixa etária, gênero, nível educacional e de renda, tamanho da família, localização geográfica, os hábitos de consumo, etc. A pesquisa de mercado e de público-alvo é feita seguindo critérios e utilizando técnicas que orientam a coleta, a análise e a divulgação dos dados. Critérios demográficos, geográficos, sociais e econômicos, legais, políticos e culturais identificam padrões de consumo quantitativos (referem-se a números, como idade, renda familiar). Critérios de personalidade e de estilo de vida identificam padrões de consumo qualitativos3 (educação, ocupação e personalidade): Critérios Demográficos: divide o mercado de acordo com a idade, rendimento, gênero, nacionalidade, raça, tamanho da família, religião, educação, profissão, etc. Critérios Geográficos: Localização física do público-alvo. País, estado, cidade, região, microrregião (concelhos, bairros), densidade, clima, relevo, etc. 1 Segmentação de mercado. <http://www.carlosmartins.com.br/_mktplan/mktplan19.htm> Último acesso em 08/11/2012. 2 ALMEIDA, Alfonso. Como identificar um mercado-alvo. Disponível em <http://www.comofaze rtudo.com.br/neg%C3%B3cios/como-identificar-um-mercado-alvo> Último acesso em 08/11/2012. 3 As pesquisas qualitativas são feitas por meio de reuniões informais, mediadas por um profissional de marketing, onde potenciais consumidores discutem assuntos pertinentes ao produto ou serviço. AN02FREV001/REV 4.0 60 Critérios de Comportamento: fidelidade a uma marca, o valor que dá à qualidade dos produtos e serviços. A classe social exerce uma influência nas escolhas de vestuário. Critérios Psicográficos: o estilo de vida, hábitos, atividades, personalidade (extrovertido, conservador, impulsivo, tímido), opiniões e interesses. A personalidade influencia a construção da identidade e, portanto as escolhas relativas ao vestuário e à moda. Público-alvo com personalidades conservadoras são mais relutantes diante das novidades, enquanto os de personalidade inovadora são mais receptivos às mudanças e às novidades. O estilo de vida está relacionado com a maneira como o indivíduo vive e, portanto que produtos necessitam ou deseja para manter este estilo. As escolhas de vida do indivíduo estão relacionadas com a ênfase em aspetos como a segurança, o conforto, o status, o contato com a natureza, a família, etc. Assim, é possível considerar da seguinte forma as áreas do conhecimento envolvidas no estudo e caracterização do público-alvo: FIGURA 21 FONTE: a autora As tabelas acima são um exemplo simplificado e não limitam, no entanto, a análise de cada aspecto. Vale ponderar que as circunstâncias sociais influenciam as motivações ou desejos e vice-versa. Além disso, outros aspectos mais específicos não citados nas tabelas, também fazem parte da análise da segmentação de mercado e definição do público-alvo. AN02FREV001/REV 4.0 61 11.1 A SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE MODA Os segmentos de moda classificam o mercado adulto em feminino, masculino e infantil, com base nas atitudes típicas em relação à moda e às marcas, bem como o estilo de vida, os tipos de roupas, as lojas que visitam com mais frequência, e quanto gastam a cada ida às lojas. Informações qualitativas são associadas aos dados quantitativos, para caracterizar o consumidor de moda. O mercado mundial de moda feminino representa mais de 50% do setor de vestuário e acessórios e o masculino cerca de 30%, sendo os homens do grupo etário entre os 25-35, os que têm maior rendimento para gastar em roupas. O comportamento masculino também deve ser analisado, por meio de pesquisas de tendência focadas nas áreas de interesse do homem, por exemplo, na tecnologia, informática, no setor automobilístico, imobiliário, no mercado de eletrônicos, etc. Estima-se que 60% dos consumidores são tradicionais, 30% fashionistas4, e 10% vanguardistas (10%). Entretanto, com a popularização da moda, os fashionistas tendem a aumentar sua fatia no mercado de vestuário. Há ainda, de acordo com Aguiar (2003), estilos de consumidor definidos como esportivo, prático, elegante, romântico, sexy, criativo, etc. que são cada vez mais conjugados entre si e com o tradicional, fashion5 e vanguarda, visto que o consumidor de moda atual tem a liberdade para incorporar diferentes personalidades (ecletismo de estilos). De acordo com a Lucintel, entre 2012 e 2017, o setor de vestuário apresentará um crescimento mundial, graças ao enriquecimento da classe média em algumas regiões, à estabilização da economia de mercado e a uma produção mais especializada e competitiva. As mudanças demográficas (envelhecimento da população mundial), o aumento de rendimentos dos consumidores, novos centros e canais de comercialização e mudanças nos estilos de vida irão orientar a demanda e forçar o equilíbrio entre preço e qualidade. 4 Criador, produtor, consultor, bloggers, profissional da modaou seguidor das tendências. 5 Consumidor fashion é o que está sempre “na moda”, segue as tendências e mantém seu estilo pessoal. AN02FREV001/REV 4.0 62 11.1.1 Moda e identidade “(…) desejamos ser, além de obras da natureza, obras de arte; ter uma representação externa que harmonize com nossos sonhos, visões e aspirações morais.” Nancy Etcoff (1999) O conceito de identidade está ligado ao idêntico = muito parecido. Identificar é tornar-se igual, ajustar-se, conformar-se. Assim, a identidade é um conjunto de características próprias e exclusivas de um indivíduo ou grupo e ao mesmo tempo uma maneira de se enquadrar. Nesse sentido a identidade também pode ser compreendida como a aceitação do outro – o indivíduo olha o outro para moldar-se a si próprio e vice-versa. Então como caracterizar a identidade do público-alvo? Por meio do estudo das mídias primária, secundária e terciária (Campelo, 1997). AN02FREV001/REV 4.0 63 FIGURA 22 A mídia primária é composta pelo corpo em si, pelos gestos, expressões, pela fala e movimentos do indivíduo. A mídia secundária está associada à aparência, à identidade pública do indivíduo, sendo composta pelas roupas, tecidos, maquiagem, acessórios. Assim, a moda, como mídia secundária, é a máscara (do rosto e corpo) que o indivíduo utiliza para criar sua personalidade pública, para viver no meio social. STREET CHIC: PARIS NOVEMBER 8 by LEAH MELBY FONTE: Disponível em: <http://www.elle.com/news/street-chic-daily/november-8- 2012-paris-stephanie-lacava-street-style>. Acesso em: 15 nov. 2012. O corpo vestido, mídia secundária, assume nova personalidade, pública. As marcas associam-se a essas novas identidades, legitimando-as. AN02FREV001/REV 4.0 64 O rosto e o corpo do indivíduo são criados de acordo com parâmetros socioculturais: idade, sexo, posição social, etc. As identidades aceitas pelos meios socioculturais são divulgadas pela mídia terciária: as revistas, os filmes, a TV, os jornais, a internet. Esses canais de informação e de comunicação trabalham com signos e códigos, que orientam e refletem os hábitos do vestir, do “ser” (mulher, homem, jovem, idoso, sexy, inteligente, etc.) para que o indivíduo se identifique e seja identificado. Os signos transmitem mais ou menos informação, dependendo dos objetivos. O indivíduo descodifica, interpreta esses códigos, dependendo do seu repertório, do seu conhecimento e interesse. O papel do criador, do designer e do consultor de moda é conhecer o repertório do público-alvo, por meio de pesquisas de segmentação de mercado, para então desenvolver novos produtos ou serviços. FIGURA 23 FIGURA 24 FONTE: Disponível em: <http://www.elle.com/ http://www.elle.com/news/fashion- style/victorias-secret-fashion-show-2012> Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 65 11.1.2 Nicho de mercado Em oposição ao mercado mundial de roupas descartáveis, produzidas em velocidade, o mercado de nicho é caracterizado por produtos direcionados ao público com gostos e hábitos muito específicos e que não aderem ao consumo de massa. O nicho de mercado é uma especialização da segmentação tradicional de mercados de consumo, caracteristicamente menor e mais enfocado na especialização, na qualidade, na tecnologia e na criatividade. Os mercados de nicho representam uma rebelião contra o consumo massificado ao trabalhar com artigos e públicos particulares. A moda italiana (Made in Italy), por exemplo, tem investido nos mercados de nicho, por meio do uso de tecidos de qualidade superior, apostando na essência do design e na apresentação dos produtos (embalagens, vitrines, etc). Mercados de nicho crescem no meio de comunidades (físicas ou virtuais) e estão estruturados em ideias fortes, em consumidores com conhecimento sobre o estilo que adota. Propostas criativas e novos estilos são apelativos se forem originais e tiverem qualidade. Os mercados de nicho são divididos em três grandes categorias, cada uma podendo apresentar inúmeras diversificações: Roupa de trabalho, Roupa de lazer, Roupa de Subcultura, (caracterizada principalmente por tribos urbanas). AN02FREV001/REV 4.0 66 FIGURA 25 11.2 ALGUMAS TENDÊNCIAS DE MERCADO 11.2.1 O consumidor é o conteúdo As novas mídias trouxeram uma revolução de valores que interferem na relação do privado e do público, no conceito de compartilhar, de criar, na relação do emissor-receptor. O que o indivíduo percebe atualmente como privado está na rede, acessível a milhões de outros indivíduos. Essa comunidade sem fronteiras físicas ou temporais permite a criação de diálogos e a partilha de informações que ultrapassam a recessão passiva da era da televisão. O consumidor contemporâneo é coprodutor, cocriador, envolvido nas decisões, interferindo nos conteúdos e nas informações, verificando e avaliando as atitudes. Suas habilidades e talentos, desejos e crenças FONTE: Disponível em: <http://ekstra.pt/index.php>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 67 estão online e ajudam a formar um grande cérebro global, cujos conhecimentos estão disponíveis em rede. 11.2.2 O consumidor é um mosaico de identidades Viajante do mundo (globetrotter generation), o indivíduo na era digital vive e desloca-se tanto virtualmente quanto fisicamente. Não tem origem, é oriundo de todos os lugares. Infiel às marcas e aos lugares, mas fiel às ideias, ao planeta, à natureza, à alta tecnologia. É empreendedor e com uma visão global reinventa sua própria identidade. A fragmentação da identidade permite ao indivíduo experimentar, mudar, metamorfosear-se em personagens múltiplas, como forma de expressão individual, mas também de construção e conexão comunitária. O sujeito com diversas peles, mentes, expressões vai de encontro ao pensamento global, à individualidade expandida pelas redes sociais. 11.3 MARCAS Na atualidade as marcas são formadas na dimensão material, tangível, por uma gama de produtos, direcionada para públicos específicos e na dimensão imaterial, intangível, por um estilo de vida. Segundo Vaz (2008) a qualidade percebida da marca moderna resulta da união entre o tangível (produtos) e o intangível (imagem). Além da qualidade e do preço, a marca deve oferecer identidade, estreitando o relacionamento material e imaterial com o consumidor. De acordo com Vaz (2008) as marcas tornam-se mais importantes do que o próprio produto ou património das empresas e são vitais no processo de segmentação de mercado. Segundo o autor é o valor percebido da marca que garantirá à empresa ganhar posição no mercado, por isso as estratégias de comunicação estão voltadas AN02FREV001/REV 4.0 68 para comunicar e construir discursos que criem laços de afetividade com o público- alvo. A identidade de marca é criada por meio da credibilidade, validade e afetividade ao longo de seu percurso no mercado. “Sem identidade as marcas são invisíveis porque ninguém as conhece.” (Vaz, 2008, p.230) O autor expõe diversos aspetos que são relevantes para o estudoe análise de marcas atualmente. Entre os mais importantes para este curso no contexto das marcas de moda são: o posicionamento (o equilíbrio entre a gama de produtos, a imagem, a comunicação, a distribuição e o preço) e a correta segmentação do mercado. Cada vez mais a importância das marcas estará na identidade do produto, alcançada pela pesquisa e desenvolvimento, que trarão benefícios ao consumidor, mas também pela capacidade de criar uma conexão afetiva. Vaz (2008) considera ainda que as marcas de moda, especialmente as de medio porte, sofrerão com os efeitos da crise económica, com a redefinição da oferta e dos canais de distribuição6, com a desindustrialização da Europa. Sobreviverão as marcas de luxo europeias (como Louis Vuiton, Prada, Gucci, Armani), porque espelham a identidade da ostentação, as corporações, que tem estrutura para entrar nos mercados emergentes (BRIC)7 e as marcas low cost, que garantem posicionamento por meio do preço de um design constantemente atualizado. Todo o resto, como marcas de vanguarda ou as que atendem os mercados de nicho, sofrerá mais com a nova estrutura do mercado, porque tem a ver mais com atitude social do que com status. 11.3.1 Marcas de moda A seguir serão apresentadas seis marcas, como forma de exemplificar diferentes posicionamentos e segmentos8 de mercado, estratégias lhes permitiram estabelecer a identidade própria e a fidelidade com o público que atendem: 6 Varejo (lojas, centros comerciais, outlets, espaços multimarcas, etc.) ou atacado. 7 BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China. 8 Vale considerar que no caso dos exemplos sportswear e street wear as marcas selecionadas representam duas segmentações de mercado distintas, com influência do casualwear no caso da Lacoste e da Desigual. A Undrcrwn é também influenciada pelo sportswear. AN02FREV001/REV 4.0 69 Sportswear Lacoste Fonte: www.lacoste.com/fra/ Acesso em 15/11/2012 Troyes FR Elegância Adidas Fonte: www.adidas- group.com Acesso em 15/11/2012 Herzogenaurach AL Tecnologia Jeanswear Wrangler Fonte: www.wrangler.com Acesso em 15/11/2012 Carolina do Norte, EUA Herança Streetwear Desigual Fonte: www.desigual.com/ Acesso em 15/11/2012 Barcelona ES Diversão Undrcrwn Fonte: http://undrcrwn.com/ Acesso em 15/11/2012 Filadélfia, EUA Descontração Rigorwear Elie Saab Fonte: www.eliesaab.com Acesso em 15/11/2012 Beirut, LIB Glamour AN02FREV001/REV 4.0 70 11.4 LACOSTE9 A empresa, fundada em 1933 por René Lacoste10 e André Gillier11, foi responsável por uma maior aproximação entre o esporte e a moda. Presente em 114 países produz vestuário, calçado, artigos de couro, perfumaria e acessórios. Desde 2010, o diretor criativo da Lacoste é o designer português Felipe Oliveira Baptista, escolhido como estratégia de reposicionamento da imagem de marca para conquistar o público mais jovem e urbano. O artigo mais famoso da marca é a camisa polo branca (tennis shirt), em jersey piquet, com a logomarca do crocodilo verde12, referencia L.12.12 (ver tabela), usada inicialmente para a prática do tênis, depois para o golfe e vela. 9 Em 2011 a Lacoste foi alvo do Greenpeace num relatório que expunha práticas pouco éticas ao contratar tinturarias chinesas que poluíam os rios Yangtze e Pearl com químicos tóxicos. 10 Emblemático campeão francês de tênis. 11 Na época, proprietário da maior fábrica de roupa de malha da França. 12 Apelido de René Lacoste, graças à sua tenacidade nas quadras. L Lacoste 1 Tecido único algodão petit pique 2 Design da manga curta 12 Versão escolhida Fonte: http://www.l1212.com/ Acesso em 15/11/2012 FIGURA 26 - René Lacoste e a primeira versão bordada do “crocodilo”. FONTE: Disponível em: <http://www.lacoste.com/#/rene_lacoste-rub-1> Acesso em: 15 nov. 2012. FIGURA 28 Tecido Jersey piquet. FIGURA 27 Camisa polo branca. FONTE: Disponível em: <http://www.lacoste.com Acesso em: 15 nov.2012 AN02FREV001/REV 4.0 71 FONTE: Disponível em: <http://www.lacoste.com/#/fashionshow-pe2013> Acesso em: 15 nov. 2012. A camisa polo foi inventada para substituir o uniforme até então utilizado para o jogo de ténis, uma camisa de manga longa e um blazer de tecido pesado que inibiam os movimentos. Lacoste percebeu que uma camisa com mangas curtas, de malha leve, permitiria maior leveza de movimentos e melhor transpiração. FIGURA 29 Até 1951 a camisa polo era produzida somente em branco, cor tradicional associada aos esportes de elite, quando passou a ser produzida nas cores das tendências. Na década de 1980 a Lacoste ficou associada ao estilo sofisticado dos preppie, jovens ricos do nordeste dos EUA. Com as mudanças da moda no final dos anos 80, o estilo preppie (e a Lacoste), tornou-se ultrapassado. Além disso, a marca perdeu força, devido às cópias que saturaram o mercado. O estilo Lacoste evoca o estilo de vida do seu criador e atleta – técnica, elegância e descontração. A marca está associada à essência do estilo chique sem AN02FREV001/REV 4.0 72 esforço de Paris e suas raízes no sportswear não eliminam a influência urbana, otimista e vibrante de um casual wear elegante, sempre mantendo a preocupação com a leveza e o movimento. Cortes e estruturas definidas, linhas geométricas e peças sólidas são a característica da Lacoste sob a direção de Baptista, considerado inovador e cool. A Lacoste representa hoje uma linha esportiva e contemporânea que evoca o luxo descontraído, prático, clean, para a o ambiente esportivo ou não. Adidas Os irmãos Adolf (Adi) e Rudolf Dassler começaram a produzir seus próprios sapatos esportivos após o final da 1ª Guerra Mundial. Em 1924 fundaram a Gebrüder Dassler Schuhfabrik (Fábrica de Sapatos Irmãos Dassler) e durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1936 patrocinaram o velocista afro-americano Jesse Owens com os seus sapatos. O sucesso do atleta criou a reputação dos calçados Dassler entre os esportistas de outras equipes13. Em 1947 os irmãos se separaram e Rudolf Dassler criou a Puma, também de equipamentos esportivos. Em 1989 a Adidas mudou a produção para a Ásia14 e contratou a cantora Madonna para promover as linhas de produto da empresa em uma estratégia de aproximação com o mundo da moda. Nos anos 90, a Adidas segmentou suas linhas para atender três mercados: Adidas Performance, criada em 2002, para o esporte profissional; Adidas Sport Style, (união das divisões Sport Heritage e Sport Style, em 2007). A empresa é atualmente a maior fabricante de sportswear da Europa e a segunda maior do mundo. Produz calçado, vestuário, acessórios, complementos, sempre relacionados aos esportes nas mais diversas 13 Adi Dassler foi o primeiro empresário a usar os esportes como canal de promoção para os seus produtos. 14 A corporação Adidas Group (www.adidasgroup.com) é proprietária da Reebok e da Taylor Made – Adidas, de golfe, entre outras. A empresa é alvo de diversos protestos e críticas por operar em sweatshops (confeções que exploram a mão de obra infantil, semiescrava e não oferecem condições mínimas de trabalho) na Indonésia.FIGURA 30 Coleção ADISTEL, 2009 FONTE: Disponível em: <http://www.style.com> Acesso em: 15 nov. 2012 AN02FREV001/REV 4.0 73 modalidades: Corrida, ginástica, skate, futebol, basebol, basquetebol, râguebi, hóquei, ténis, golfe, críquete. FIGURA 31 ADIDAS – THE STORY OF A LOGO A divisão Adidas Sport Performance contempla quatro categorias principais: futebol, basquetebol, corrida e treino. Sob o conceito "Play to Win", está estruturada nos princípios de seu fundador Adi Dassler: proporcionar os melhores produtos para atletas de todas as categorias. FIGURA 32 FONTE: Disponível em: <http://fashion.telegraph.co.uk/news-features/TMG9160263/Stella- McCartney-unveils-the-Team-GB-Olympic-kit.html> Acesso em: 15 nov. 2012. FONTE: Disponível em: <www.adidas- group.com> Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 74 Em 2004, a empresa estabeleceu uma parceria com a designer britânica Stella McCartney para a criação de uma linha esportiva feminina e em 2012 para o desenvolvimento do uniforme da equipe britânica para as Olimpíadas de Londres, inspirando-se na bandeira britânica, que foi desconstruída para criar movimento e dinamismo. A divisão Adidas Sport Style é formada pela Adidas Originals Group e pela Adidas Fashion Group. A Adidas Originals Group desenvolve coleções caracterizadas por produtos icônicos, autênticos, street wear, que celebram a originalidade, a identidade pessoal, o estilo inovador e a moda de vanguarda. As coleções estabelecem parcerias com designers (Jeremy Scott, Kazuki Kuraishi), artistas (Kathy Perry), atletas (David Beckham, Mark Gonzales15, Nasty16), profissionais da moda (Cynthia Lawrence John, CLJ – consultora de estilo) e outras marcas (Diesel) para manter o espírito jovem. A Adidas Fashion Group tem como enfoque o futuro do sportswear e inclui as marcas Y-317, Porsche Design Sport, Adidas SLVR e Adidas NEO. Em 2009 a marca lançou a linha Style Essentials, combinando as últimas tendências de moda com a inspiração esportiva, a um preço acessível para o mercado jovem, que consome em grandes canais de distribuição. Por meio da criação de segmentos que atingem uma gama ampla de consumidores desde a inspiração vintage18 ao esporte chique, a Adidas criou uma imagem de marca para consumidores praticantes ou interessados em esporte, moda, cultura de rua, música e cultura pop. A missão da marca, que é também sua imagem, é construir um estilo de vida esportivo, uma cultura do esporte com inspiração na moda e na diversidade global. 15 Famoso skatista de rua. 16 Ilie Nastase – famoso tenista da década de 70. 17 Y, de Yohji Yamamoto e 3, representa as listras que identificam a marca. Numa cooperação entre esporte e moda, entre performance e design, a coleção que celebrou 60 anos das 3 faixas, incluiu vestuário, calçado e acessórios de alta moda. Lançada em 2002, apresenta design radical, ênfase na forma e no movimento, com as características do corte japonês. 18 Roupas produzidas na década de 70, ou antes, (não puristas consideram também roupas dos anos 80). Itens mais novos são considerados de segunda mão e roupas anteriores aos anos 20 são antiques. AN02FREV001/REV 4.0 75 ______________ Figura 34 Fonte: http://www.vfc.com/ Acesso 15/11/2012 11.5 WRANGLER19 A Wrangler é uma fabricante de jeanswear e de outros itens de vestuário. A marca é uma das propriedades da VF Corporation, a maior do mundo, que também detém a Lee, Eastpak, Kipling, entre outras, desde moda íntima até complementos e vestuário de trabalho. O jeans da Wrangler era originalmente fabricado pela Blue Bell (fundada por C.C. Hudson e seu irmão Homer em 1904), que adquiriu a empresa Casey Jones (de roupas de trabalho) em 1943 e com ela a marca Wrangler, até então raramente usada. Em 1936 a Blue Bell desenvolve jardineiras20, com tecido 100% sanforizado21, processo que se tornou padrão para a indústria têxtil. Em 1947 a empresa 19 Trad.: vaqueiro. 20 Denominadas Super Big Ben Figura 33 Fonte: www.wrangler.com Acesso 15/11/2012 AN02FREV001/REV 4.0 76 desenvolveu o jeans autêntico da Wrangler, o 13MWZ, que passou a ser sinônimo de durabilidade, qualidade e autenticidade. O modelo foi projetado pelo alfaiate de rodeios, Rodeo Ben (Bernard Lichtenstein, que trabalhava diretamente com vaqueiros) para adequar ao uso em rodeios. Ao longo do século XX, a marca esteve associada à roupa tipicamente norte-americana e ocidental, imprimindo a cultura rural no estilo de vida urbano, por meio da associação a designers, celebridades e eventos, como o apoio à Nascar22 (1982) ou à Pro Rodeo Competition, a parceria com o cantor de música country, George Strait e com o vaqueiro James A. "Jim" Shoulders, (durou 58 anos, é a mais longa do setor do esporte profissional). Em 1986 a Blue Bell uniu-se à VF Corporation. A Wrangler23 representa a herança rural (western) dos EUA, mas com a segmentação de suas linhas, atinge atualmente públicos mais amplos. A marca é notória pelo design atraente, pela qualidade e resistência, que ajudaram a criar os valores da marca: autoconfiança, clássico, resistente, inspirada na vida dura do velho oeste norte-americano. O autêntico design da Wrangler está associado ao espírito dos vaqueiros, à cultura do campo, ao ambiente rústico, à música country e foi desenvolvido para satisfazer as necessidades reais dos que lidam e se identificam com o campo. Atualmente o conceito da marca é reflexo da essência das suas raízes: o herói norte-americano, rude, forte e confiável. Ao lado, o jeans 13MWZ, em 100% algodão pesado, com corte preciso, cinco bolsos e pernas mais estreitas para uso com botas. 21 Tecidos pré-encolhidos, evitando encolhimento após a lavagem. 22 National Association for Stock Car Auto Racing, fundada em 1947 por Bill France Sr. ou Big Bill, um motorista de carros de corrida. 23 Riggs Workwear® by Wrangler®, vestuário de trabalho e a Wrangler® ProGearTM, vestuário para caça esportiva. Atualmente a marca possui os seguintes segmentos: 20X® Wrangler, Aura® (roupa feminina), Genuine Wrangler®, Wrangler® FR, Wrangler Rugged Wear®, Wrangler Jeans Co®, Wrangler five star premium denim®, Timber creek by Wrangler®, Rutler®. FIGURA 35 FONTE: Disponível em: <http://www.wrangler.com> Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 77 12 DESIGUAL Roupa casual para o segmento feminino (65%), masculino (30%), infantil e acessórios (3%). A filosofia da marca é baseada na tolerância, compromisso e diversão. A equipe de 25 jovens designers, de mais de 30 nacionalidades, cria com base em conceitos vibrantes como Real Life, Magic Stories, Luxury Feelings, Me&You, Better&Better, Wow, Life is Cool, All Together e Handmade. Em 2011 a empresa desenvolveu coleções em colaboração com Christian Lacroix24, com o Cirque du Soleil25 e lançou a campanha "Come in undressed and go out dressed" na Espanha e em Portugal. A empresa, fundada por Thomas Meyer em 1984, na ilha de Ibiza, Espanha, desde 2002 é gerida por Manel Adell. A marca vende em 3.000 lojas multimarcasem todo o mundo, possui mais de 200 lojas pelas principais capitais do mundo. O estilo casual wear com influências street wear é voltado, principalmente para o público jovem, com uma estratégia de marketing ousada. 24 Designer francês, antigo criador da casa de alta-costura com o mesmo nome. Depois de ir à falência e perder o direito de criar sob o nome Christian Lacroix, estabeleceu parceria com a desigual sob o nome Monsieur C. Lacroix. 25 Coleção de roupas e acessórios: Desigual inspired by Cirque du Soleil. Figura 36 Fonte: www.desigual.com Acesso em 15/11/2012 FIGURA 37 Coleção inspirada no Cirque du Soleil FONTE: Disponível em: <www.desigual.com> Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 78 A Desigual ficou notória por seu design extravagante, no uso de cores e texturas com inspiração mediterrânica, patchwork e estampados multicoloridos e inovadores. O estilo da marca é baseado em produtos diferentes, com preços acessíveis, que apresentam um universo positivo, alegre e com senso de humor. A filosofia da marca é considerar as necessidades e desejos universais: felicidade e bem-estar, comuns a todos os indivíduos. FIGURA 38 Desigual by Monsieur C. Lacroix FONTE: Disponível em: <http://fashion.telegraph.co.uk/ news-features/TMG8274279/Christia n-Lacroix-designs-for-Desigual.html>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 79 FIGURA 39 - UNDRCRWN Fundada em 2005 pelo designer Dustin Canalin e Bryon Sheng26, já é considerada uma das mais importantes no estilo street wear, por sua originalidade. Unindo a cultura do basquetebol com a sensibilidade da moda, estabeleceu colaborações com a Adidas (coleção Believe in 5) e com a Rockport. Suas inspirações vêm dos ícones da cultura pop. 26 Ex-designer da Adidas. FONTE: Disponível em: http://undrcrwn.com/portfolio/undrcrwn-spring-2009-d2- lookbook/ Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 80 FIGURA 40 - COLEÇÃO BELIEVE IN 5 EM PARCERIA COM A ADIDAS A Undrcrwn desenvolveu uma linha de camisetas que homenageiam as lendas do NBA27, como Michael Jordan, Dominique Wilkins, Patrick Ewing, os times Celtics e Lakers28 e filmes como “Homens brancos não sabem enterrar”29. É usada por celebridades como Spike Lee, e por jogadores como Kevin Garnett, Dwight Howard, Tim Duncan, Tracy McGrady, Chauncey Billups e Gilbert Arenas. Nascido nas ruas, relativamente fácil de jogar, o basquetebol é um esporte barato e constitui a essência street wear da marca. Assim, a Undrcrwn conecta com um público jovem, mas não só, pois a amálgama da marca está no amor pelo basquetebol e pelos esportes em geral. Buscando na moda elementos relevantes para os apreciadores de esporte, a Undrcrwn produz camisetas, jaquetas, moletons, suéteres, bonés e calçados, sempre 27 National Basketball Association, EUA. 28 Times de basquetebol nos EUA. 29 White Men Can't Jump, 1992. FONTE: Disponível em: <http://undrcrwn.com/portfolio/adidas-x-undrcrwn-believe-in-5- collection/>Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 81 com raízes vintage, refletindo um espírito descontraído, bem-humorado, jovem e confortável. Tendo como inspiração o estilo de vida do basquetebol, mas não apenas o jogo, as coleções refletem criatividade, qualidade, design, diversão e arte. A preocupação com os pormenores, com a qualidade do trabalho manual e com as origens da cultura do esporte, a marca homenageia os clássicos do sportswear e street wear das décadas de 1980 e 1990, unindo a moda e a sofisticação. FIGURA 41 FONTE: Disponível em: <http://www.shopundrcrwn.com/product/gotta-be-barack-tee-white>. Acesso em: 15 nov. 2012. 13 ELIE SAAB Elie Saab (ES) é um designer de moda libanês, que possui ateliers em Beitrute, Milão e Paris. Começou a costurar quando criança e aos 18 anos estabeleceu seu próprio atelier em Beirute, com vestidos de festa e casamento, num estilo que mistura influências orientais e ocidentais. Em 1997 tornou-se o primeiro designer não italiano a tornar-se membro da Camera Nazionale della Moda, apresentando sua primeira coleção em Roma. Em 1998, iniciou sua linha de pronto a vestir e tornou-se um sucesso após vestir a atriz Halle Berry na cerimônia do Oscar AN02FREV001/REV 4.0 82 de 2002 e de 2003. Nesse mesmo ano tornou-se membro da Chambre Syndicale de la Haute Couture e apresentou sua primeira coleção de alta-costura em Paris. Em 2006 apresentou em Paris sua primeira coleção de pronto a vestir para primavera- verão. Suas principais clientes estão entre a realeza europeia e do médio oriente e atrizes norte-americanas. FIGURA 42 - HALLE BERRY, 74ª CERIMÔNIA DO OSCAR, 2002 FONTE: Disponível em: <http://oscar.go.com/red-carpet Acesso em: 15 nov. 2012. FIGURA 43 FONTE: Disponível em: <http://www.eliesaab.com/#/en/haute-couture/fw- 2012-2013>. Acesso em: 15 nov. 2012 AN02FREV001/REV 4.0 83 FIGURA 45 FONTE: Disponível em: <http://www.eliesaab.com/#/en/rea dy- to-wear/ss-2013> Acesso em 15 nov. 2012. Elie Saab desenvolve coleções de alta-costura, apresentando criações glamurosas, como vestidos de noivas luxuosos e pronto a vestir, nas quais a elegância do corte é a principal caraterística. Seu estilo é caracterizado por uma atmosfera romântica, sofisticada e feminina, construída com tecidos ricos e luxuosos, como a seda e a musseline. Nos vestidos de noite é abundante o uso de bordados à mão, rendas delicadas, lantejoulas, missangas, cristais, pérolas, babados, franjas, e fios de seda. As influências de diferentes culturas fundem-se em um design elegante, ousado e moderno, no qual as formas do corpo feminino são valorizadas. FIM DO MÓDULO III FIGURA 44 Milla Jovovich na 84ª Cerimônia do Oscar. Vestido de Elie Saab. FONTE: Disponível em: <http://oscar.go.com/red- carpet/photos/best-dressed/media /127567_029> Acesso em: 15nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 84 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE CONSULTORIA DE MODA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 85 CURSO DE CONSULTORIA DE MODA MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV4.0 86 MÓDULO IV As páginas seguintes apresentarão orientações gerais para o desenvolvimento de um portfólio individual de Consultoria de Moda, por meio de uma abordagem ampla que exemplifica a forma de iniciar o estudo e não pretende ser um instrumento definitivo. A formação do Consultor de Moda leva anos e muita experiência deve ser adquirida no conhecimento dos mercados, das marcas, da psicologia do consumidor, dos tipos físicos e da moda em si. Dessa forma, propõe-se que o módulo IV seja um exercício no qual a curiosidade e a criatividade despertem o interesse pela área, pelos profissionais e pelas atividades que tangenciam a consultoria de moda, como o marketing, a psicologia de consumo, a moda, etc. AN02FREV001/REV 4.0 87 14 A CONSULTORIA DE MODA1 "Know, first, who you are; and then adorn yourself accordingly." Epitectus2 A área de consultoria de moda é relativamente nova e em constante expansão, graças à facilidade da comunicação digital. Apesar de a consultoria ser uma área da administração de empresas, a consultoria de moda tem suas raízes na publicidade e no marketing, bem como na psicologia. Nos anos 50 as grandes lojas de departamentos como as Galerias Lafayette introduziram conselheiras e coordenadoras de moda para orientar suas clientes sobre as novidades. Na década de 60 surgem os primeiros escritórios independentes de consultoria e estilo: Relation Textiles (1958), Maïme Arnodin (1961) e Promostyl (1966). A consultoria de moda busca criar a imagem que potencialize as características positivas do indivíduo dentro dos objetivos que deseja alcançar. De acordo com Aguiar (2003) a consultoria de moda oferece serviços especializados e orientações referentes à moda, por meio do conhecimento do cliente, seu tipo físico, (corpo, rosto, idade), características psicossociais (modo de pensar, estilo de vida) e por meio do conhecimento da moda e do vestuário, compreendendo as mensagens que cada peça transmite. Alguns profissionais Professional Shopper O comprador profissional trabalha com uma gama de marcas, lojas e fornecedores, podendo ou não ser funcionário de uma loja. O enfoque do seu trabalho está nas roupas e acessórios. Esse profissional é grande conhecedor do estilo, do estoque das lojas e normalmente tem experiência no setor de varejo de moda. Pode trabalhar em parceria com um Personal Stylist, sendo responsável pela orientação, negociação e aquisição da melhor compra de roupas para o cliente. Personal stylist 1 Alguns nomes de profissionais do setor podem ser encontrados no livro Personal Stylist de Titta Aguiar (ver Referências deste módulo). 2 “Conheça, primeiro, quem é; e depois se adorne de acordo.” Epiteto, filósofo grego. AN02FREV001/REV 4.0 88 O consultor de estilo é um consultor privado, que trabalha com uma clientela seleta e específica. A função de um personal stylist é indicar o tipo de roupa que fica bem para a pessoa dentro do estilo pessoal dela, conciliando o tipo físico com o “eu” interior, fazendo com que a pessoa sinta-se confortável e confiante em suas roupas. (Aguiar, 2003). O trabalho do consultor de estilo enfoca aspectos mais abrangentes como o cabelo e a maquilhagem. A compreensão do estilo de vida do cliente, suas aspirações pessoais e profissionais, a avaliação de suas características físicas, e o conhecimento sobre o mundo da moda e das tendências são ferramentas importantes para este profissional. O objetivo do consultor de estilo é enriquecer, por meio da roupa, cabelo e maquilhagem, os pontos positivos e esconder os negativos do cliente, valorizando, inclusive o seu bem-estar físico e psicológico. O consultor de estilo pode ou não trabalhar em parceria com um comprador profissional para atender um cliente ou uma empresa. Consultor de Imagem O consultor de imagem pode ser tanto o comprador profissional, quanto o consultor de estilo, oferecendo uma gama ainda mais ampla de serviços, que enfocam a educação e o planejamento do uso da imagem individual, não apenas no vestir, mas também na forma de estar. Designer de Moda O designer de moda transforma, de maneira consciente e criativa, ideias em formas, pela combinação da tecnologia, dos materiais e do contexto social, com o objetivo de satisfazer as necessidades do ser humano. O designer deve conciliar suas perspectivas com as do público a quem se destina o produto. Fotógrafo de moda O fotógrafo pertence à mídia secundária e é o divulgador dos projetos de moda, da imagem da marca, para o público seja por meio da internet, das revistas de moda, etc. O fotógrafo é o primeiro filtro das imagens dos produtos de moda que estarão nas revistas nos meses seguintes. Depois, são os editores que escolhem as imagens que simbolizam mais fortemente a tendência da estação. AN02FREV001/REV 4.0 89 15 A CUSTOMIZAÇÃO E A PERSONALIDADE A prática da customização, ou personalização do vestuário é consequência do desdobramento individual e da necessidade de expressar-se num meio global e homogêneo, de buscar o sentido de pertencimento por meio da originalidade. O ser humano é um ser social, que busca meios de pertencer, mas ao mesmo tempo de ser reconhecido e surpreender. É na dinâmica do pertencer – diferenciar-se, que cada indivíduo provoca um impacto na comunidade e na sociedade. Cada pessoa usa sinais visuais para suas roupas, criando estilos e dessa forma se relacionando com o outro. O ato de criar a própria roupa, por si só, constrói um sentido de pertencimento e de reconhecimento pessoal. Nesse contexto, a customização é um ato de reciprocidade, de conexão e de expressão, usando a moda como mecanismo de cooperação. Como veículo para as identidades no meio social, a moda decreta desejos de imitação e também de autonomia e suas qualidades efêmeras provocam a constante recriação das relações sociais. A moda é um espaço de transformação e metamorfose que não requer comprometimento porque promete satisfação instantânea. A moda é, portanto, a manifestação das conexões que são construídas entre diferentes indivíduos, grupos, sociedades. Mas a moda descartável tem um lado perverso – um alto impacto social e ambiental. Por isso, a customização é também um esforço em prol de uma moda sustentável, responsável e que valoriza a identidade. A customização pode atualizar uma função ou estilo, melhorar o original, e criar laços comunitários por meio de estratégias colaborativas e sustentáveis. A tensão entre a imitação e a autonomia ao longo da evolução da história da moda permitiu ou proibiu ao indivíduo expressar-se para além de seu papel social. Além de libertar, a moda pode também aprisionar, nem sempre sendo a expressão da individualidade, porque é parte do tecido social. Com a modernidade, a moda criou comunidades que se vestem de acordo com estilos semelhantes, guiadas pelos mecanismos sociais e pelas mídias. A moda contemporânea permite ao AN02FREV001/REV 4.0 90 consumidor imitar não apenas no sentido vertical (celebridades), mas também horizontalmente, a partir dos seus iguais. A customização permite que a moda seja uma escolha e não uma imposição, libertando o indivíduo da obrigação de construir sua identidade a partir de opções previamente formadas. Personalizar a roupa significa ganhar novamente o poder sobre a identidade em uma sociedade líquida, cujo ser “mercadoria” só existe porque consome e é o que consome.A moda “democrática”, fast fashion reflete apenas a ilusão de igualdade, de pertencimento, mas na verdade afasta a comunidade e aumenta o estresse social. O indivíduo é tão descartável quanto sua roupa. A customização retoma a coexistência, a reaproximação com as técnicas e práticas tradicionais por meio da troca de informação, convivência e partilha com o outro – o que nos faz humanos. A customização significa partilhar e distribuir experiências por meio da reconstrução da roupa e da própria identidade, moldando o vínculo entre os indivíduos, pelo intercâmbio mútuo. Conceitos de lealdade, interação, liberdade estão presentes na prática da customização, como atividade mobilizadora de habilidades e restauradora de capacidades não mais usadas. Por meio da customização e de outras técnicas de reparação de roupas todo um inventário de conhecimentos, ideias, invenções vem à tona para reconstruir e recriar o que já existe. O conhecimento de técnicas tradicionais é ativado para o trabalho em uma peça de roupa com história e significado, evidenciando a riqueza dos que a construíram, daqueles que a usaram. A customização é também uma forma de engajamento cívico, usando a roupa como ferramenta para construir ou reconstruir uma democracia local mais forte. 16 DESENVOLVIMENTO DO PORTFÓLIO INDIVIDUAL Os requisitos indicados a seguir partem do pressuposto que todo projeto deve possuir um método e o mesmo ocorre com a Consultoria de Moda. AN02FREV001/REV 4.0 91 De acordo com Aguiar (2003), a primeira etapa é conhecer o cliente. Normalmente o consultor é contratado por uma pessoa ou empresa para desenvolver sua atividade. Sugere-se que, a título de experimentação, que o desenvolvimento da proposta seja realizado consigo próprio ou com uma pessoa próxima, doravante denominado cliente, para permitir a aplicação dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso. A primeira etapa consiste na coleta de dados ou pesquisa. O objetivo é conhecer o cliente, por uma pesquisa interpretativa, ou seja, aplicando métodos que permitam a posterior interpretação e análise das respostas. Essa etapa poderá ser elaborada por meio de um questionário, com ideias orientadoras a respeito dos tópicos a serem abordados, ou por meio de uma conversa, na qual o consultor consiga obter do cliente informações qualitativas e quantitativas sobre seus padrões e hábitos em relação ao consumo e ao uso de moda. Além da pesquisa com o cliente, deve ocorrer paralelamente a pesquisa de mercado e de moda. Analisar as fontes de informação, como as mídias, principalmente as comunidades virtuais, o panorama cultural, o cotidiano e o comportamento do consumidor. É de extrema importância à reunião de informações sobre moda, comportamento, consumo, tendências, marcas, designers, desfiles, lojas, promoções, etc., de forma a estabelecer uma associação coerente entre estas pesquisas e os desejos e necessidades do cliente. Essa etapa é, portanto, a mais longa, demorada, intuitiva e importante do processo. As observações, ideias, ou outras informações devem ser armazenadas pelo consultor para futuros trabalhos. Aguiar (2003) propõe ainda algumas questões relevantes para determinar o estilo de vida do cliente. A autora considera que além da profissão, é importante conseguir informações a respeito do ambiente de trabalho, se é formal ou descontraído, a organização das salas, a presença ou não de escadas, estacionamento, etc. Todos esses pormenores influenciarão as escolhas mais apropriadas para a roupa, de forma a manter o cliente com uma postura profissional, elegante e adequada ao ambiente e ainda conservar seu estilo pessoal. Relativamente ao lazer, a autora sugere conhecer os hobbies e outras atividades realizadas pelo cliente, AN02FREV001/REV 4.0 92 bem como o ambiente onde elas ocorrem, ao ar livre ou ambientes fechados, o que influenciará certamente as escolhas mais adequadas no vestuário. Aguiar (2003) orienta conhecer os gostos do cliente relativamente às cores, peças de roupa, tipos de acessórios, além de compreender qual loja costuma comprar e com que frequência. Essas informações ajudam a traçar o perfil psicológico do cliente, o que facilitará a abordagem final, quando o consultor deverá sugerir alterações que valorizem os aspectos mais positivos da imagem pessoal. A autora considera importante também às informações a respeito da imagem que o cliente quer projetar tanto no ambiente de trabalho, quanto no convívio com os amigos e família. A imagem que o cliente tem de si próprio pode ou não estar próxima da realidade e o trabalho do consultor é também guiá-lo a perceber o que é ou não fruto de sua própria perceção. Por fim Aguiar (2003) apresenta um modelo de questionário, como instrumento de recolha de informação que aborda a maneira como o cliente vê a si próprio, seus gostos e preferências. As questões iniciais procuram determinar as características de temperamento e personalidade do cliente, como feminino, energético, alegre, tímido, etc. Depois o questionário procura identificar os tipos de roupa que o cliente usa – confortáveis, ousadas, modernas, etc. Nas questões seguintes são apresentadas imagens de acessórios, peças de roupa, calçados, bolsas, e looks completos para que o cliente aponte aqueles com os quais mais se identifica. A segunda etapa, análise e revisão das informações, é complexa e por isso deve ser exigente. Consiste em interpretar as informações reunidas: de um lado as informações do cliente, do outro o panorama de moda e estilo. O objetivo é estabelecer uma coesão entre as tendências e as informações estudadas, aquelas transmitidas pelo cliente e as interpretadas e analisadas pelo consultor. É papel de o consultor realizar uma apreciação geral do contexto, para propor opções coerentes com o estilo de vida, com as necessidades e desejos do cliente, mas ao mesmo tempo equilibrado com os elementos contemporâneos. A partir das informações recolhidas na primeira etapa é possível analisar os dados, convertendo-os em um mapa visual, denominado aqui de painel de público- alvo. Os painéis de público-alvo servem como orientações para o designer de moda AN02FREV001/REV 4.0 93 visualizar o consumidor e o seu estilo de vida, enquanto planeja e desenvolve a coleção. Propõe-se nesta etapa a realização de painéis ilustrativos, com o qual o cliente consiga identificar-se. Nesse caso, considera-se que a construção do painel de público-alvo e sua posterior análise poderão contribuir para um melhor resultado na consultoria. O painel de Público-alvo é um conjunto de imagens que informam de forma rápida e precisa os gostos e estilo de vida do consumidor, distribuídas de acordo com uma estrutura visual coerente com seu visual. Fazem parte do painel de Público-Alvo: Imagens de estilo de vida – trabalho, lazer, família, locais de preferência, gostos, produtos, influências culturais, frases ou palavras (poucas) que remetam às crenças políticas e religiosas aos ideais, forma de estar no mundo. Imagens de características pessoais – características físicas e psicológicas, estilo de roupa, marcas ou designers preferidos, silhuetas e pormenores associados ao estilo do cliente. Imagens de pessoas que adotam o mesmo estilo do consumidor podem ser utilizadas. Outro exemplo de painel de Público-Alvo, dividido em duas partes: FIGURA 46 FONTE: Disponível em: <http://enorfasbrownm.blogspot.pt/2010/11/practise- mood-board-analysis.html>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.094 FIGURA 47 FONTE: Disponível em: <http://sophiemarianisbetff.blogspot.pt/2011/04/target- audience.html>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 95 16.1 ESTILO PESSOAL Aguiar (2003) apresenta também uma análise a respeito dos principais tipos físicos de homens e mulheres, associando-os à personalidade ao estilo pessoal de cada indivíduo e propondo soluções iniciais quanto ao tipo de peças que deverá utilizar. Estilo Criativo Mulher: Inovadora e Eclética. Homem: Original, autoconfiante e aventureiro. O objetivo é encontrar o equilíbrio entre a mistura de tecidos, texturas e a expressividade com as tendências de moda e o estilo de vida. Estilo Esportivo, ou natural Mulher: Informalidade. Peças confortáveis. Homem: Prático, comunicativo, casual, básico e alegre. Roupas confortáveis e funcionais com design esportivo. O objetivo é construir um visual adequado também às ocasiões mais formais. Estilo Elegante Mulher: Refinamento e chique. Homem: Charme, imponência. Adequado para ocasiões formais ou mais descontraídas. Roupas com bom corte, qualidade e estruturadas. Cores neutras e escuras, tecidos opacos, lisos sem textura em excesso. Estilo Romântico Mulher: Feminilidade e delicadeza. Homem: Elegância, com um toque antigo. Cortes desestruturados, cores leves e textura leve. AN02FREV001/REV 4.0 96 O objetivo é adequar a aparente fragilidade e sensibilidade à atividade profissional. Estilo Sexy Mulher: Carisma e Exuberância. Estilo ideal para noite. Homem: Vaidade e autoconfiança. Preocupação com a aparência física. Roupas de griffe, que modelem o corpo. O objetivo é saber adequar decotes e recortes para as ocasiões de uso corretas. Estilo Tradicional Mulher: Respeito e formalidade. Visual conservador, facilmente aceita no meio profissional. Homem: Organização, conservador. Roupas com linhas retas, estruturadas e poucos detalhes. O objetivo é tentar quebrar a monotonia e o visual antiquado. 16.2 TIPO FÍSICO O corte das roupas deve ajudar o cliente a adquirir uma figura que o valorize, usando a roupa para seu benefício, escondendo ou valorizando partes do corpo que são mais ou menos positivas para a imagem que se pretende transmitir. Cada tipo físico tem um conjunto de roupas que constroem um visual mais ou menos positivo. Mulher Ampulheta É tipo de corpo feminino considerado mais proporcional, permitindo usar quase todo o tipo de roupa. Ombros e quadris da mesma largura, com cintura bem definida, busto volumoso e coxa volumosa. Arredondado e curvilíneo, apenas 8% da população feminina tem naturalmente o corpo ampulheta. Ao longo dos séculos este tipo foi obtido por meio de espartilhos, saias rodadas, soutiens com volumes, implantes e cirurgias plásticas. AN02FREV001/REV 4.0 97 Objetivo A roupa deve valorizar a cintura e minimizar as coxas. FIGURA 49 Usar Evitar Tops Decotes redondos, ”V” ou transpassados para acentuar o busto; Linhas verticais para alongar o corpo. Mangas morcego, Ombreiras, babados, laços, golas altas, pois desviam a atenção da cintura. Bottoms Calça de cintura baixa; Saias evasé. Dress Vestido envelope ajustados. Vestidos retos. Coats Casacos na altura do joelho. Casacos amplos ou tipo bata. Tecidos Tecidos finos, leves, ajustados. Tecidos volumosos e estruturados Cortes Clássicos com acessórios de moda modernos; Linhas verticais. Linhas horizontais e cortes volumosos. Estampas no busto ou na coxa. Excesso de FIGURA 48 Pamela Anderson FONTE: Disponível em: <http://www.imdb.com/media/rm985569280/nm0000097>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 98 brilhos, cintos grandes. Sapatilhas baixas. FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. Homem Trapezoide É o tipo considerado com melhor proporção e pode usar quase todo o tipo de roupa. A parte superior do tronco é maior que a inferior, com ombros e tórax amplos, cintura e quadris medianos. O corpo é proporcional. Objetivo A roupa deve valorizar e manter a proporção. FIGURA 51 Usar Evitar Tops Cortes simples, terminando nos quadris, chamando a atenção para o corpo e não para a roupa. Para os de estatura alta: camisas coloridas, ombros maiores, paletós mais longos. Para os de estatura alta: gravatas finas, camisas e malhas de listras verticais, monocromia. Bottoms Jeans – qualquer corte (obs.: o tamanho correto não necessita de cinto). Calças escuras até o calçado. Para os de estatura alta: calças com barra virada e com pregas. Jeans excessivamente justos. Calças com cós baixo ou alto demais, muito ajustadas, pois alongam as pernas e estreitam o tronco. Ternos Blazer com três botões, com ou sem racha atrás. Calças com medida normal entre a cintura e o gancho (aprox. 30 cm). Evitar calças que aumentem a altura das pernas. Coats Jaquetas ajustadas que terminam nos quadris. Casacos muito longos fazem o corpo perder a proporção. Tecidos Rijos ou volumosos. Cortes Listras verticais e horizontais (para os de estatura alta). FIGURA 50 - HUGH JACKMAN FONTE: Disponível em: <http://tucsoncitizen.com/morgue/tag/ eventsattractions/>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 99 Harmonia monocromática ou de cores análogas. Bottoms escuros e tops claros. FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. Retângulo Mulher Corpo com poucas curvas, porém com harmonia entre quadril e ombros. A cintura não é definida e os braços e pernas são mais finos em relação ao corpo. Objetivo Criar curvas, criar cintura. FIGURA 52 - HILLARY DUFF FIGURA 53 FONTE: Disponível em: <http://www.imdb.com/http://40plusstyle.com media/rm4252473856/nm0240381>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 100 FIGURA 54 FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. Homem Tronco, quadril e cintura de tamanhos similares, com a forma do tronco reta. Objetivo Definir os ombros de forma a torná-los mais largos, evitando roupas largas, preferindo roupas de tamanho correto. Usar Evitar Tops Blusas e camisetas acinturadas; decotes baixos e amplos, “V”, “U” ou canoa. Mangas amplas, bufantes, ¾, enroladas. Camisas e camisetas retas, largas, de golas altas. Bottoms Calças com pregas, boca-de-sino e pantalonas. Calças de cintura alta. Dress Vestido de cintura baixa. Vestidos retos. Coats Cardigãs longos; casacos e jaquetas acinturados. Casacos de corte reto ou quadrados de fechamento duplo. Tecidos Lã pesada. Cortes Visual limpo. Pences em camisas e camisetas. Zíperes e pespontos verticais; recortes. Visual desorganizado. Faixasna cintura. Linhas retas de cima a baixo. Cintos diagonais ou deslocados; cores vibrantes, estampas e detalhes como babados, pedras, acessórios. Cintos de tons claros; bolsas retangulares e calçados quadrados. FIGURA 55 EWAN MCGREGO FONTE: Disponível em: <http://www.imdb.com/media/ rm4040144128/nm0000191>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 101 FIGURA 56 Usar Evitar Tops Gola alta e camadas para tornar o tronco mais largo. Camisas de cores claras, com bolsos ou estampas e listras horizontais. Para os de estatura baixa: ombreiras discretas, blazer mais acinturado, camisas com lapelas pontudas e colarinho estreito. Listras verticais. Para os de estatura baixa: gravatas e lapelas largas, mangas largas ou justas demais. Camisetas curtas e justas, de cor clara. Bottoms Jeans retos ou ajustados, em tons escuros, com detalhe na zona dos quadris. Calças com barra italiana, ajustadas na cintura e ligeiramente mais amplas em baixo. Para os de estatura baixa: Calça na cintura. Jeans de barra ampla e de cores claras. Calças amplas (baggy). Para os de estatura baixa: calças de gancho baixo, barras italianas. Ternos Tradicional, com a jaqueta mais longa; com muitos bolsos e abotoamento duplo. Para os de estatura baixa: paletós ou parcas largas e compridas, calças com pregas, coletes. Coats Jaquetas mais longas, com bolsos e ombreiras ou detalhes nos ombros, fechamento duplo. Para os de estatura baixa: Malhas caneladas Cortes Bolsos inclinados desviam a atenção da linha reta do corpo. Cortes retangulares e largos. Cós à escolha. Cores contrastantes entre bottoms e tops. Para os de estrutura baixa: Mesmo padrão de tecido e mesma cor. Riscas verticais. Padronagens pequenas. Estampas com moderação, ou poderão chamar a atenção para as áreas mais estreitas do corpo. Listas horizontais, roupas coloridas demais. FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. Triângulo Mulher Corpo com ombros mais estreitos, pouco volume nos bustos, quadril e coxas mais largas e cintura bem definida. AN02FREV001/REV 4.0 102 Objetivo Desviar a atenção dos quadris e pernas para valorizar o tronco mais estreito. Encontrar o equilíbrio entre a parte de cima e de baixo do corpo, criando a ilusão de um corpo proporcional. Definir a linha da cintura, dividindo tronco e quadril, por meio de camadas, volumes, distrações, estampas, cores na parte de cima. FIGURA 57 FIGURA 58 FONTE: Disponível em: <http://www.imdb.com/ http://www.karenmillen.com media/rm2620634880/nm0000182>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 103 FIGURA 59 Usar Evitar Tops Com faixas e cintos, blusas e camisetas coloridas e acinturadas. Mangas curtas ou com volumes para valorizar a parte estreita do corpo. Ombreiras, mangas bufantes, camiseta baby-look, boleros, golas, efeitos volumosos e detalhes. Mangas estreitas, decotes caídos nos ombros. Manga raglan. Bottoms Jeans com pernas retas, criando uma linha alongada desde os quadris até os pés. Saias de corte reto ou evasé. Calças com vincos, pregas, na linha da perna, muito ajustadas, com barra virada, estilo combate, culote, curtas, cigarrete, fuseau ou stretch. Saias retas, lápis, minissaia, godê ou com pregas. Dress Vestidos que marcam a cintura. Vestidos evasé. Coats Jaquetas cintadas, terminando na parte mais larga do quadril; casacos de corte reto ou acinturados. Blazers risca de giz. Cores Tons escuros e neutros nas calças, jeans e saias. Cores vivas, claras ou estampas no tronco. Cores claras em baixo. Cortes Ajustados na cintura e amplos a partir dos quadris. Linha “A” e Império. Roupas com bom corte e no tamanho correto, acentuando a cintura. Linhas horizontais a partir do ombro. Transpasses na altura da cintura. Roupas largas, rachas, bolsos, bordados, babados, estampas, bolsos, ou pormenores que caiam sobre os quadris e coxas. Linha da cintura caída. Cintos na cintura. Acessórios que chamem a atenção para a parte superior do corpo. Cintos muito largos ou muito finos. Bolsas na altura do quadril. Calçados com tiras nos calcanhares, salto sabrina, com frente arredondada, delicados, botas Uggs. FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. AN02FREV001/REV 4.0 104 Homem Corpo com mais volume da cintura para baixo, tronco mais estreito que os quadris e linha de ombros caída. Objetivo Ampliar os ombros, desviando a atenção da parte de baixo do corpo. Usar cores mais claras no tronco, detalhes nos ombros e usar camadas de roupas. FIGURA 60 Usar Evitar Tops Cores claras, listras e colarinhos amplos. Cores escuras, camisas cintadas. Bottoms Jeans escuros para afinar a parte de baixo do corpo. Calças retas. Ajustados. Coats Jaquetas e blazers com ombreiras para chamar a atenção para os ombros e criar uma figura mais proporcional. Muito ajustados. Cortes Quadrados e amplos na parte de cima do corpo. No tamanho correto. Largos. Ombreiras FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. Triângulo Invertido Mulher Visual atlético, sem curvas, com ombros largos, quadril estreito e pernas finas. Os amplos ombros e busto cheio são as áreas mais difíceis para vestir. Objetivo Criar equilíbrio e proporção, entre ombros e quadris, acrescentando volume na parte de baixo e criando curvas, chamando a atenção para a linha da cintura. AN02FREV001/REV 4.0 105 FIGURA 61 FIGURA 62 DEMI MOORE FIGURA 63 Usar Evitar Tops Camisas sem golas exageradas e linhas simples, modelo cachê-coeur, cintadas. Tops com alças largas, gola “V”, tornando a linha do pescoço mais longa e o busto menor. Detalhes, volumes no busto ou ombros, frente única. Mangas de ombros caídos ou bufantes. Bottoms Saia evasé ou reta, com volume. Pantalonas, minissaia. Saias ou calças afuniladas. Dress Vestidos acinturados por pences. Vestidos afunilados. Coats Jaquetas curtas. Tecidos e Cores Cores escuras nos ombros, estampas na parte de baixo para criar volume. Tecidos volumosos. Cortes Modelos soltos, amplos na parte de baixo e FONTE: Disponível em: <http://www.joyofclothes.com www.http://oscar.go.com/>. Acesso em: 15 nov. 2012.. AN02FREV001/REV 4.0 106 FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem Homem Tipo atlético, ombros e tórax largos, cintura e quadris muito estreitos. Braços desenvolvidos e volumosos, criando uma parte de cima mais pesada. É, entretanto um tipo de corpo que, para o homem, permite usar quase todo o tipo de roupa. Objetivo Equilibrar tronco e pernas, ombros e cintura. Usar Evitar Tops Camisas mais justas. Ombreiras, listas horizontais, estampas. Bottoms Jeans mais largos. Jeans ajustados, se a parte de cimaestiver também ajustada. Costuras e detalhes nos jeans, atraindo a atenção para os quadris. Jeans escuros que estreitam mais a parte de baixo. Coats Paletós e blazers ajustados. Jaquetas estilo militar a não ser que o objetivo seja chamar a atenção para os ombros. esvoaçantes a partir da linha do quadril até a barra. Linha “A”. Acessórios longos com foco na cintura. Calçados ousados, cintos com grandes fivelas. Enfeites tachas, brilhos no centro e na parte de baixo. FIGURA 64 - MICHAEL PHELPS FONTE: Disponível em: <http://www.speedo.com> Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 107 Calças mais claras que a parte de cima. Oval Mulheres Formas e pernas torneadas, ombros arredondados, com volume nos quadris, cintura e busto, barriga proeminente. Objetivo Criar um visual alongado, chamando a atenção para o rosto e ombros. Usar Evitar Fonte: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. FIGURA 65 - JESSICA SIMPSON FIGURA 66 FONTE: Disponível em: <http://www.imdb.com/media/ http://www1.bloomingdales.com rm3205543424/nm0005433>. Acesso em: 15 nov. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 108 Homem Aparência arredondada, com ampla circunferência na área do estômago. Tops Chamar a atenção para os ombros. Decotes amplos e profundos em “V”, quadrado, princesa ou “U”. Mangas ¾ largas, acima do punho, drapeadas ou esvoaçantes. Conjuntos abaixo do quadril. Golas justas no pescoço, roulê, echarpes. Alças muito finas, manga casquillo. Blusas e camisas muito largas. Bottoms Calças de corte reto, até o peito do pé. Saia reta ou ligeiramente evasé. Calças de cintura baixa com detalhes, pregas, barra afunilada ou muito largas. Calças fuseau ou strech. Saias rodadas, balão, afuniladas, em camadas, acima do joelho. Dress Vestidos de cintura baixa ou corte diagonal. Vestidos e saias ajustados. Coats Casacos e cardigans abaixo do quadril de corte e caimento retos. Jaquetas curtas, casacos que terminem nas regiões mais cheias do corpo. Tecidos e Cores Roupas escuras, tecidos suaves, evitando volume ao redor dos quadris e barriga. Roupas com brilhos. Excesso de tecido na região da barriga. Cortes Roupas do tamanho certo, de corte reto. Listras verticais pences e recortes. Detalhes acima da linha do busto e abaixo dos quadris, evitando a região central do corpo. Buscar dividir a linha do corpo a meio. Roupas que mostrem a barriga, pregas, lapelas, babados ou drapeados, listras horizontais, detalhes e volumes na região do busto, barriga e quadris, abotoamento duplo, cintura alta. Colares com muitas voltas ou estilo coleira, cintos e faixas na cintura, grandes ou pequenos. Bolsas Clutch ou de ombros, calçados pequenos, salto sabrina, botas com fivelas, botas Uggs. AN02FREV001/REV 4.0 109 Objetivo Desviar a atenção da região abdominal. A última etapa é a delimitação da proposta e deve ser apresentada e analisada em conjunto com o cliente. A proposta deve ser acompanhada por um estudo a respeito do estilo de vida, das características físicas e com opções que ajudarão o cliente a ter uma melhor relação com a sua imagem, com a roupa e a moda. Usar Evitar Tops Decote “V”, cria a ilusão de uma linha de pescoço menor. Camisas escuras. Bottoms Jeans e calças escuras, de cintura baixa, que assentam nos quadris e não na cintura, diminuem a distância entre a cintura e o gancho, criam a impressão de uma região mediana menor e aumentam o tronco. Calças muito apertadas na barriga, criando dois volumes. Calças com comprimento longo. Ternos Jaquetão Coats Suéteres de lã finos. Malhas lisas e com elasticidade. Cortes retos nos paletós e blazers ajustados na parte de baixo cobrindo o quadril. Coletes. Tecidos e cores Listras verticais para alongar o tronco. Harmonia monocromática de cores escuras. Tecidos com bom caimento, listas discretas. Estampas chamativas ou grandes. Tecidos volumosos. Cortes Tamanho correto. Roupas muito justas ou muito largas. Camadas. FIGURA 68 FONTE: a autora e Titta Aguiar. Personal Stylist: guia para consultores de imagem. AN02FREV001/REV 4.0 110 Aguiar (2003) propõe a identificação e a organização da proposta criando grupos de roupas divididas por ocasiões de uso, que denomina capsule guarda- roupa (Aguiar, pág.115): Grupo Trabalho, Lazer, Festa, Esporte, Praia, etc. Este método de organização das roupas, criando looks, facilita a compreensão, a organização e a autonomia por parte do cliente. Neste estágio do curso estão definidos os parâmetros necessários para o desenvolvimento de uma proposta de consultoria individual, apresentada por meio de um portfólio. Abaixo seguem as indicações sugeridas para a realização de um portfólio completo e profissional. 16.3 FORMA E APRESENTAÇÃO DO PORTFÓLIO INDIVIDUAL • Formato A4 (297 X 210 mm), vertical ou horizontal; impresso na frente da página; • Margens: 2,5 esquerda, em cima e em baixo / 1,5 à direita; • Espaçamento entrelinhas de 1,5; o espaçamento dentro dos quadros e tabelas deverá ser simples (1 espaço); • Fonte legível; tamanho 18 para título do trabalho na capa e folha de rosto; 12 para texto e legendas; 10 para conteúdo de quadros, tabelas e notas de rodapé. • Paginação: indicada em baixo ao meio. A Introdução é a primeira página numerada. Conteúdo do portfólio individual Capa • Nome do consultor • Título sugerido: Estudo de Consultoria de Moda • Subtítulo: Nome do Cliente, centralizado, fonte compatível • Nota no fim da página indicando a estação (ex. PV, 12/13) Índice AN02FREV001/REV 4.0 111 Relação do conteúdo da proposta apresentado em ordem sequencial, sem numeração, a partir de sua própria folha. Proposta a) Introdução: o que será apresentado na proposta; é uma síntese da informação mais relevante que será exposta ao pormenor nas páginas seguintes. b) Estudo do mercado, das tendências e da moda: imagens das formas, cores, texturas, silhuetas, padrões, pormenores, etc. c) Definição e caracterização do público-alvo (cliente), identificando seu segmento de mercado, estilo de vida e de moda. d) Estudo do tipo físico. e) Painel de Público-alvo. f) Identificação do(s) Wear(s). g) Pesquisa e definição dos tecidos. h) Pesquisa e definição de cores. i) Elementos de estilo. j) Fotografia ou croquis dos looks propostos. Conclusão Um texto claro e resumido com as reflexões feitas durante a elaboração da proposta, especialmente indicando a importância da moda para a construção da imagem do cliente. Na conclusão deve ser informado se o objetivo inicial foi cumprido ou não e explicar as razões; devem ser esclarecidas dúvidas e questões, bem como apresentar as limitações da proposta, as dificuldades, os obstáculos superados. Apêndices ou Anexos Material de caráter complementar, elaborado (Apêndice) ou não (Anexo) pelo autor da proposta. São elementosque podem esclarecer a proposta. A sua ordenação deve seguir a ordem a que aparecem na proposta, utilizando algarismos romanos. Modelo de entrevistas, questionários, fotografias, ou qualquer outro método utilizado para obter as informações do público-alvo devem estar aqui indicados. AN02FREV001/REV 4.0 112 FIM DO MÓDULO IV AN02FREV001/REV 4.0 113 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGIS, D.; GOUVEIA, J.; VAZ, P. Vestindo o Futuro: Macro tendências para as Indústrias Têxtil, Vestuário e Moda até 2020. Portugal: Apim, 2001. AGUIAR Personal Stylist:, T. guia para consultores de imagem. São Paulo: Senac, 2003. ARNHEIN, R. 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