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INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS Metodologia das Atividades Culturais e Artísticas Coordenação Pedagógica – IPEMIG Belo Horizonte 2 SUMÁRIO 1 - ARTE NA EDUCAÇÃO: PRESSUPOSTOS ................................................... 3 2 - A PERCEPÇÃO VISUAL ............................................................................ 10 3 - A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E OS PCNS .................................................... 20 4 - A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E A FORMAÇÃO DO ALUNO ......................... 26 5 - DIDÁTICA NO ENSINO DE ARTE .............................................................. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ............. 36 AVALIAÇÃO .................................................................................................... 39 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 3 1. ARTE NA EDUCAÇÃO: PRESSUPOSTOS - A Contemporaneidade: conforme Gonçalves (2006, s/p) laborações propõem pensar a arte contemporânea a partir do que ela nos opera, ou seja, operando (pensando, sentindo, fazendo, afetando, percebendo, vendo, etc.) o que o artista nos apresenta inscrito na obra, e o que está nela que nos faz achar o feio, o desajeito, a curiosidade, a boniteza, o nojento, a afetividade, a inimizade, bem como alguma coisa que está nela que não nos opera. Todavia, reconhecer que sempre há na obra algo que me afeta. Proponho laborar a arte contemporânea a partir do que/como o artista a faz laborações de qualquer matéria do mundo, quebrando o mito de que para fruí-la é necessário iniciar-se no mundo da arte. Como podemos, então, falar sobre isso? Pois bem, alguns pressupostos atuais sugerem que ao desenvolver atividades na sala de aula, que versem sobre a produção contemporânea, é necessário conhecer a linguagem da arte e sua historicidade. Há pouco tempo participei como ouvinte de uma ação educativa que tinha como mote uma grande exposição de arte contemporânea. A ação educativa era voltada a qualquer professor que se interessasse sobre a temática, já que na sala encontravam-se professores com formações distintas, além de outros interessados. A mediação sobre a exposição que acontecia naquele espaço foi realizada, durante mais ou menos duas horas, período em que a ministrante, especializada na área, nos conduziu da arte da Idade Média à arte da segunda metade do século XX, aproximadamente até 1960. Ao mesmo tempo em que, discorria sobre a teoria e a historia da arte, exemplificava com imagens. Por fim, subliminarmente, nos revelou que para compreender as obras expostas era necessário saber sobre seis séculos de produção, obviamente que enaltecendo os “ditos” artistas fundamentais, cujas produções desvelam o ápice de uma ideação ou do estilo de uma época, ou até mesmo uma contraposição a ela. Mesmo incomodada com aquele discurso de que só é possível entender a arte contemporânea conhecendo a genealogia histórica, de qualquer maneira, a explanação foi muito interessante, uma aula de historia da arte pocket. Na mesma mediação, estavam presentes duas alunas minhas que, ao final, 4 me disseram ter achado super bom, pois tiveram uma aula de história da arte. Quando lhes perguntei sobre o que tinham a dizer sobre as obras contemporâneas expostas, não esboçaram, sequer, nenhuma possível trama com o dito. Sem dúvida, os iniciados na linguagem, propriamente dita, agrimensaram-se com a diversidade de nomes, formas, métodos, lugares, matérias, imagens, lugares do mundo da arte. Fico pensando que os referidos professores de ensino médio e fundamental, muito deles sem formação específica e inserção nas questões no campo da arte, acharem que deverão saber sobre seis séculos mostrados pensarão: que tempo terão para ver e falar sobre arte contemporânea? (GONÇALVES, 2006, s/p) Continuando Gonçalves (2006, s/p) aponta que com essa frase faço alusão à composição musical de Vitor Ramil, que sempre me chamou muito a atenção, e que diz “No claro-escuro. É que ela me vê e diz assim: “sai daí vem pra mim o paraíso fica aqui”. Eu digo: se eu tiver que ler tudo sobre o Barroco, que tempo vai sobrar pra minha nega.” Segundo o relato de algumas pessoas, Ramil tomou emprestada uma situação de sala de aula, em que um professor de História da arte expunha seu vasto conhecimento sobre arte barroca com minúcias e empolgação, quando um aluno encantado e ao mesmo tempo preocupado se levanta e pergunta: (...) que tempo vai sobrar para minha nega? Se durante duas horas de ação educativa não foi feita menção às obras em exposição, como poderia um professor falar sobre elas em pouco tempo, na duração de um período ou dois dedicados à educação da arte ou às artes, não só às visuais. Não consigo crer que seduziremos os alunos, os professores, os passageiros, o público em geral, se pautarmos uma possível fruição em conceitos encontrados na literatura artística, na literatura filosófica, em escrituras pouco acessíveis, geralmente encontradas em bibliotecas setoriais das faculdades de arte ou em bibliotecas particulares. A assertiva é que grande parte dos discursos atuais dizem não quererem falar de arte só para artistas, tampouco para os especializados, visto que, têm se erigido museus, centros culturais, assim como mostras bienais que asseguram a legitimidade do espaço a partir da mensuração dos visitantes. Os espaços da arte mais democráticos e sulcados por mostras veiculadas nas mídias mais populares destinam-se ao grande público que aceita o chamamento em busca de uma experiência, que não é a proposta pela historiografia da arte, tampouco pela crítica especializada, mas pela vida, pela relação com a história pessoal. O jeito é IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 5 falar da arte de um outro modo. De que jeito, então, falar da arte contemporânea? (GONÇALVES, 2006, s/p) Gonçalves (2006, s/p) afirma que obviamente que tal pergunta jamais será respondida. Até porque a questão é colocada para que a dúvida me faça provocação, uma vez que arte é algo que quebra com as verdades absolutas, pois sempre tem algo a dizer sobre o já dito, o afirmado. A pergunta é um pouco mais afunilada: Não quero começar a falar de História da Arte, nem do sistema das artes, como então falarei sobre arte contemporânea? O primeiro passo é desmistificá-la e para isso é necessário que abordemos o conjunto de objetos, fatos, ideias da arte sobre vários pontos de vistas. O processo de mitificação pressupõe ver apenas por um vi s e, segundo Roland Barthes, o mito “ um sistema de comunica ão, uma mensagem. Eis porque não poderia ser um objeto, um conceito, ou uma ideia: ele é um modo de significação, uma forma. (...) o mito é um sistema ideográfico puro onde as formas são ainda motivadas pelo conceito que representam sem, no entanto, cobrirem a totalidade representativa.” A ênfase em aspetos históricos da obra reforça a ideia de mito, j que “em geral, o mito prefere trabalhar com imagens pobres, incompletas, onde o sentido está já diminuído, disponível para uma significação: caricaturas, pastiches, símbolos.” Portanto, se atribuirmos fundamentalmente à arte contemporânea apenas o caráter histórico (artístico) estaremos reduzindo o seu âmbito de atuação. Se admitirmos que, para compreender a arte contemporânea, deveríamos conhecer os objetos da arte que a legitimam como tal, estaremos excluindo da obra o sujeito que a faz e o sujeito a ela que estão no mundo, não no mundo da arte, embora o artista esteja transitando nos dois.O sujeito à arte é qualquer um que se (condicional), proponha a isso. Todavia, não proponho deslocar a obra de seu sistema, do campo, mas torná-la uma experiência antes disso. Entretanto, não descarto que, aos poucos, desvelemos as coisas que nela estão e que são saberes específicos da arte, já que o artista é atravessado por isso. Uma possível abordagem poderá ser pautada na cotidianidade, haja vista que a arte, fundamentalmente contemporânea, aproxima-se da vida. A relação entre a fruição e os saberes da arte não devem ser impositivos, mas dialogantes, para que o observador leigo possa estabelecer vínculos por meio de impensados e imprevisíveis repertórios. Se o propósito da arte fosse discorrer somente sobre a IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 6 arte, não seria necessário abrir as portas dos museus, os portões das bienais, etc. Então, o que é arte contemporânea? Para discorrer sobre arte contemporânea é importante distingui-la de arte atual. A pensadora francesa Ana Cauquelin diz: “É atual o conjunto de práticas executadas nesse domínio, presentemente, sem preocupação com distinção de tendências ou com declarações de pertencimento, de rótulos”, isto é, a arte atual é um campo que abriga tanto uma pintura que revela sua gênese em práticas tradicionais, quanto uma pintura virtual que é instaurada hoje. Em outro momento de sua escritura, Cauquelin nos apresenta alguns critérios que diferenciam a arte atual da arte contemporânea, o que ocorre agora, elaborado e em junções com coisas que não pertencem somente à esfera artística. Ela diz que: “(...) para apreender a arte como contemporânea precisamos, então estabelecer critérios, distinções que isolarão o conjunto dito „contempor neo‟ da totalidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser buscados apenas nos conteúdos das obras, mas em suas formas, suas composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato de pertencerem a este ou aquele movimento dito ou não de vanguarda. Com efeito, a esse respeito teríamos ainda que nos defrontar com a dispersão, com a pluralidade incontrolável de agora. De fato, os trabalhos que tentam justificar as obras de artistas contemporâneos são obrigados a buscar o que poderia torná-los legíveis fora da esfera artística, seja em temas culturais, recolhidos em registros literários e filosóficos – desconstrução, simulação, vazio, ruínas, resíduos e recuperação – seja ainda em sucessos temporal – classificada de neo, pré, pós ou trans-lógica, de evolução bem difícil de manter.” Um exemplo disso é o trabalho da artista mineira Rivane Neuenschwander que retira, ou melhor, desloca seus materiais artísticos do espaço doméstico, mais especificamente da cozinha. Neuenschwander, na XXIV Bienal de São Paulo, construiu duas grandes caixas brancas sem teto, com aberturas laterais que podiam ser penetradas. Ao entrar nos deparávamos com um interior sem objetos, sem demarcações precisas, apenas a parede e o chão sutilmente marcados por uma grade pigmentada. As superfícies (re) desenhavam uma constelação em fundo branco e a impressão que tínhamos era que a pintora construíra uma fatura fina de branco colorida. A primeira experiência era essa e, aos poucos, aos olhos mais atentos, desnudava-se a matéria daquela superfície: os pontos eram grãos, as linhas finas eram fios de cabelos, os tons cinzentos, os ocres e as transparências eram IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 7 cascas e/ou restos de comida, ou seja, sobras do uso. O que parecia à primeira vista ser uma pintura era uma assemblage casual. A articulação do visível, da presença poética é motivada e envolve a viscosidade do óleo, a transparência contida na casca ocre e brilhante da cebola, na casca perolada do alho, na fragilidade da asa da vespa, na porosidade fugidia do pó de pimenta. A artista estendeu em sua cozinha, retângulos de 50x50 de plástico autoadesivo, os quais, durante algum tempo, foram agrimensados pela sujeira e, posteriormente, tornaram-se o papel de parede e de chão da caixa branca erguida na Bienal. Os plásticos autoadesivos, no entanto, ainda acumulam o pó e a sujeira dos visitantes da Bienal. (GONÇALVES, 2006, s/p) Ainda Gonçalves (2006, s/p) refere que sobre essa obra, a crítica de arte Rosa Martinez diz: “ao permitir que os espectadores transitem por esses cubículos e arrastem para dentro a sujeira dos recintos de exposição da Bienal Rivane não se limita a transladar o doméstico ao espaço institucional da cultura, mas provoca interferências e conexões entre os dois contextos ao colocar em evidencia a trama escura que une o publico e o privado, o social e o íntimo.” Rivane, além de pigmentar a superfície com o que o acaso oferece, também o faz com a matéria do mundo, da casa, da feitura óbvia dos dias que nos dizem sobre nossa condição: seres sociais, geográficos, globais, etc. A artista opera a vida por meio da arte, com ferramentas de todos nós, nas despensas, no tecido do desejo necessário. Em outras obras ela desenha com asas de vespas, com sementes, com massa de tomate evidenciando que a porta de entrada para acessar a obra é o trabalho banal, reinventando a obviedade, nos fazendo ver a diferença na repetição da lida doméstica, do espaço da casa, nos instrumentos da cozinha, do cozido. A porta de entrada para penetrar a poética é reconhecê-la como uma quebra da rotina, como uma escritura singular da cotidianidade, assim como “descobrir que nos materiais do mundo se escondem metáforas de nossas angústias, de nossas certezas e de nossos medos.” A artista nos oferece a experiência de um olhar, que retira das coisas seus dispositivos usuais para falar de si e dos outros. A obra de Neuenschwander é uma, entre outras possíveis de serem citadas, que utilizam e falam sobre as coisas que não são comumente atribuídas e faladas pela arte durante quinhentos anos, aproximadamente. Esse já é um dos pressupostos da arte contemporânea. Poderia citar outras poéticas como a obra de IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 8 vestir de Hélio Oiticica, o vestido hachurado de Leonilson, o colar pontiagudo de Nazaré Pacheco, a estante impessoal de Alice Monsell, ou seja, artistas brasileiros, como esses e outros estrangeiros, de diferentes épocas que usam a história intima e universal como referência. Por fim, falar de arte como se fala da vida. “(...) o artista contempor neo vai além não só dos materiais tradicionalmente elaborados pela arte, mas também de seus procedimentos (escultura, pintura, desenho, gravura, etc.): ele torna a liberdade de explorar os materiais os mais variados que compõem o mundo, e de inventar o método apropriado para cada tipo de exploração.” Diante de uma obra de Rivane, assim como de outros artistas contemporâneos, somos suscitados a reconhecer nossos rituais íntimos e banais, o nosso devir antes de reconhecer códigos pré-estabelecidos. Portanto, de preferência, olhar a obra pautada na exceção da experiência cotidiana, pois somos estimulados a destituirmos de referenciais, ao invés de nos depurarmos com eles, mesmo que esses sejam o mote. Sim, um objeto da casa pode ser objeto da arte, uma feitura na pia da cozinha pode ser operação poética. A história, teoria e crítica da arte são dados a mais para que o espectador compreenda que a arte, como qualquer outro campo do conhecimento, é constituída por seus personagens, por fatos,objetos e lugares. Obviamente que quando vejo uma obra já associo com outras, com coisas e escrituras feitas e posso utilizar isso como modo de expandir as coisas que a obra diz, assim clareando-a. Se for uma estudante da arte, cartografada por esse saber, a aproximarei dos objetos que a constituem. Mas, posso também falar sobre isso tudo a partir de cartografias históricas/estóricas, de outros lugares, de outros saberes, acadêmicos e/ou pessoais. Falar, e quem sabe, experimentar as operações da arte contemporânea. Com certeza, não é difícil, a partir do momento que entendermos a obra como algo que diz coisas simples e complexas, pois fala de nós e de nós no mundo. Podemos e devemos, nós professores, falar sobre história da arte, teoria, crítica, mas como outros saberes a serem ditos, e não como falas indispensáveis. Procuremos, por meio da produção artística contemporânea, reaprender a olhar, vendo quem sabe uma pimenta, novamente, mais uma vez, como desenho e designo da (cor) pografia do comer ou da tessitura feminina, depois podemos falar IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 9 sobre natureza morta holandesa, sobre as maçãs de Cézanne, sobre a pop arte, e, e, e.... Mas nunca esqueçamos de que uma pimenta para um artista nunca será somente uma pimenta. (GONÇALVES, 2006, s/p) IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 10 2. A PERCEPÇÃO VISUAL Segundo Ramos, et al (2007, s/p) aqui buscamos disponibilizar aos desenhadores dados que possam contribuir para a melhor compreensão do universo visual, na produção de imagens mais comunicativas e cientificamente elaboradas. Para isso consultamos obras textuais e visuais que julgamos serem valiosas ao desenvolvimento da percepção visual. Pedrosa (1996) comenta que “tudo no mundo está aí para ser visto, ouvido, cheirado, tocado, sentido, percebido, em fim. Esta é a experiência imediata.” Os objetos estão feitos, a luz ilumina esses corpos, os animais veem e percebem essas coisas iluminadas. Tais coisas possuem significados para aqueles que as contemplam. Dependendo desses significados, os animais reagem de modo singular. Isso é viver, viver é perceber, somos guiados por nossos cinco sentidos. Necessitamos de nossos sentidos e deles dependemos. Leonardo da Vinci considerava a visão como o mais importante sentido. Mas, a percepção se dá pelas experiências colaterais vivenciadas. A luz é a energia que nos permite ver; ótica é a parte da física que trata da luz e dos fenômenos da visão. Semiótica é a capacidade de ver (perceber) pelo conhecimento, algo mais que “ver”, perceber. Não apenas o que está diante dos olhos, é agregar conhecimentos ao que está sendo contemplado. É decifrar mensagens imperceptíveis aos leigos. (...) Munari (2000) comenta que os truques óticos da perspectiva podem levar ao engano, visto que a coisa representada pode parecer maior ou mais importante do que na realidade é. Caso a intenção seja levar ao equívoco, existem diversos mecanismos visuais que podem ser empregados, ainda assim, os desenhistas éticos devem evitar esses recursos. Quanto à indução proposital da interpretação equivocada daquilo que é apresentado, são os “ilusionistas ou m gicos” as pessoas mais habilidosas nesse modo de simulação. Entretanto, em muitos casos, é o próprio contemplador visual que se permite interpretações precipitadas daquilo que lhe é apresentado, ou seja, para que a cena apresentada seja concebida como real existe a necessidade de o expectador ser cúmplice dela. Entretanto, não é nosso propósito aprofundar a questão das expressões gráficas como recurso de indução ao equívoco, é sim, a de revelar que as formas representativas são potentes recursos de comunicação visual. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 11 As perspectivas, por exemplo, correspondem a simulações de cenários reais através de representações gráficas em que o desenhista tem a intenção de imitar no espaço bidimensional os objetos visuais tridimensionais. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) No campo das representações gráficas, conforme Ramos, et al (2007, s/p) atualmente, também é possível desenhar através de recursos eletrônicos. Para isso, estão disponíveis no mercado diversos programas informáticos de computação gráfica que facilitam a simulação de representações em duas e três dimensões, como exemplo: CorelDraw, 3D Studio Max, AutoCAD, entre outros. De maneira semelhante, a fotografia e o cinema simulam a realidade com imagens realísticas estáticas ou em movimento. A produção de desenhos, seja manualmente, ou através de recursos informáticos, equivale a representações gráficas das formas. Visualmente, as formas são percebidas por seu aspecto exterior, mas é conhecendo-se a substância que compõe o objeto é que podemos conceber tal peça. Em desenho técnico, quando construímos as vistas ortográficas e a perspectiva de um objeto - continua faltando mais dados - ou seja, tais informações não são suficientes para conhecermos o objeto em sua totalidade. É necessário explicitar mais elementos, como: qual a substância, cor, textura, entre outros, que definirá o objeto a ser construído. Somente assim é possível conceber com clareza tal artefato. Isso nos leva a uma análise mais profunda do objeto, uma espécie de dissecação das partes na busca de melhor compreensão do todo. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) Segundo Arnheim (2006, apud Ramos, et al, 2007, s/p) a configuração serve, antes de tudo, para nos informar sobre a natureza das coisas através das aparências. Ele ainda nos esclarece que a feitura da imagem, artística ou não, não provém simplesmente da projeção ótica do objeto representado, mas é um equivalente, interpretado com as propriedades de um particular, do que se observa no objeto. Temos acompanhado a tendência da simplificação das formas na produção de objetos artificiais. Na época em que os objetos eram fabricados unicamente de maneira artesanal a individualização da peça motivava o artesão a criar detalhes ornamentais, geralmente desnecessários, mas que contribuíam fortemente para o embelezamento da peça, alcançando, por v rias vezes, o status de “obra de arte” – IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 12 essa peça podia ser uma cadeira, uma mesa, uma moldura, um vaso, etc. Quanto aos valores agregados, tal tratamento artístico contribuía somente para melhorar a aparência e aumentar o valor de troca, não para o valor de uso. Na busca de colocar produtos de fácil aceitação no mercado de consumo, a indústria tem se esforçado em desenvolver produtos de boa qualidade e com preços competitivos. Essas condições têm como consequência a simplificação das formas, provocando maior distanciamento dos estilos Rococó e Gótico. Pois, o excesso de detalhes considerados de pouca necessidade, até mesmo dificulta o uso das coisas. Essa simplificação está tendendo à geometrização na produção de peças gráficas e dos objetos industrializados. Provavelmente, pelo fato de facilitar o planejamento e o processo de construção da peça a ser produzida em escala industrial. Desse modo, esses artefatos apresentam facilidades de produção, utilização, manutenção, higienização, preço acessível e armazenamento, entre outras vantagens deinteresse do público consumidor. Até mesmo a ornamentação gráfica tem buscado a simplificação e estilização das formas. No uso de letras, por exemplo, temos dificuldade em ler textos escritos com as letras góticas – principalmente quando todas são maiúsculas. Na produção de imagens de peças famosas temos visto, por exemplo, o Pão de Açúcar, a estátua do Cristo Redentor, o Teatro Amazonas sendo representados, satisfatoriamente, por poucas linhas que sugerem tais artefatos, substituindo a imagem detalhada de cada uma dessas obras, sem a necessidade do retrato fidedigno. Assim, a representação gráfica do tipo retrato tem dado lugar à estilização das formas sem prejuízo da comunicação visual. Os artistas gráficos, incluindo os designers, estão investindo nesse estilo de representação gráfica. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) Continuando Ramos, et al (2007, s/p) colocam que os programas informáticos de computação gráfica estão aperfeiçoando filtros (ferramentas) que transformam imagens fotográficas em imagens ricamente estilizadas. Desse modo, os artistas infográficos estão sendo beneficiados por essas poderosas ferramentas eletrônicas. A logomarca do PAM 2007 é um rico exemplo desses recursos gráficos de estilização das formas. Arnheim (1998) considera que o pensamento é visual, essas reflexões contribuem para entendermos o processo mental no reconhecimento das formas e que, estas por sua vez, são armazenadas em nossa memória conforme nossas experiências no “fluxo contínuo” do tempo. Entretanto, todo ato perceptivo IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 13 subordina um fenômeno em conceitos visuais, que na mão dos artistas há uma variedade de estilo e particularidades de apresentação. Nesse universo das “formas e das transforma es,” mais uma vez, os artistas, incluindo os desenhistas, estão ampliando seu campo de atua ão. A percep ão agu ada capaz de “ver uma coisa como outra” e as mãos habilidosas são capazes de realizar essas ideias. Como exemplo, Munari (2000) comenta que do estudo de determinadas formas de alguns peixes nascem às formas para as embarcações. A capacidade em perceber e representar as formas, essa dinamicidade, está intimamente associado ao conceito de temporalidade. Segundo Villafañe (2000) o conceito de temporalidade é definido como a estrutura de representação do tempo real através da imagem. Isto significa que as técnicas representativas estão associadas a sua própria época. Pois, dependem de ferramentas disponíveis e de concepções de cada fase da humanidade. Essas técnicas exploram os elementos e substâncias apropriados para a composição visual. Os elementos morfológicos, escalares e dinâmicos da imagem são os componentes para o arranjo visório de qualquer representação visual. Tanto para os desenhistas, pintores, cineastas, fotógrafos, enfim, qualquer profissional que trabalhe com a imagem, necessariamente deve conhecer o alfabeto visual. A percepção e a representação visual aplicam-se ao comportamento humano em geral. Estágios sucessivos do desenvolvimento mental são evidenciados desde os primeiros rabiscos infantis. Arnheim (2006) comenta que as formas iniciais de representação visual possuem todas as características fundamentais da criação adulta sob formas elementares. Portanto, em todas as fases da vida animal, a percepção visual nos educa. Dondis (1988) expressou que uma maior inteligência visual implica em uma compreensão mais fácil de todos os significados que assumem as formas visuais. De modo geral, as informações que chegam ao cérebro através dos olhos são mais duradouras na memória. Para Platão há quatro formas ou graus de conhecimento, do inferior ao superior: a crença e a opinião, o raciocínio e a intuição intelectual. Os dois níveis primeiros são compreendidos como o conhecimento sensível e o conhecimento inteligível, os dois últimos graus. (...) (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) - Os cinco sentidos: Para Ramos, et al (2007, s/p) são os órgãos dos sentidos que transmitem ao cérebro as informações exteriores ao corpo. A pele é considerada o maior órgão do corpo, ela avisa quando este está sendo invadido; a visão e audição IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 14 são muito exploradas na formação do indivíduo, na complementação mútua de informações audiovisuais. O paladar e o olfato participam menos que os três anteriores do processo educativo e de defesa do corpo. Mas, todos, isolados ou juntos, têm sua importância. Santaella (1992) considera que os órgãos sensoriais funcionam, consequentemente, como janelas abertas para o exterior. Para Arnheim (1998) a percepção visual é pensamento visual. O conjunto das operações cognitivas – do pensamento – não só é privilégio dos processos mentais são também, ingredientes essenciais da própria percepção. São elas: a exploração ativa, seleção, simplificação, abstração, análise, síntese, complemento, correção, comparação. Para os empiristas a sensação e percepção dependem das coisas exteriores. São causadas por estímulos externos que agem sobre nossos sentidos e sobre o nosso sistema nervoso. O cérebro responde na forma de sensação (uma cor, um cheiro), ou na associação de sensações numa percepção (vejo um objeto vermelho, sinto o sabor de uma fruta). A percepção organiza as sensações independentes e lhes transforma em síntese passiva. Quando queremos aproveitar ao máximo alguns prazeres como: o beijo, o paladar, o olfato, o orgasmo, instintivamente, nós fechamos os olhos? Será que é porque a força das imagens “rouba” uma parte desses outros sentidos? É inegável que o olhar possui uma energia capaz de trair a atenção de pessoas que estão pouco ocupadas. Todos nós já passamos pela experiência de estar olhando firmemente para alguém sem que essa pessoa perceba que está sendo observada e, de imediato essa pessoa também olhar para nós. Que energia é essa? O conhecimento é a soma de associações das sensações na percepção de modo repetitivo e habitual. Como afirmamos anteriormente, necessitamos e confiamos em nossos sentidos e deles dependemos para nos guiarmos. Temos clareza que os deficientes visuais podem muito contribuir relatando sobre suas experiências cotidianas no esforço de tornarem independentes daqueles que lhes emprestam os olhos quando necessitam caminhar por curtas e longas distâncias. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) - Imagem e Imaginação: para Ramos, et al (2007, s/p) a imagem – em grego - ídolos é o que sobrou do objeto percebido. É o que permanece retido na nossa consciência. A imagem seria o rastro deixado pela percepção. Para os empiristas a imagem é a associação de vários elementos independentes provenientes da IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 15 sensação e dos movimentos corporais (ou da motricidade do nosso corpo) e unificados pela mente do sujeito. A imagem é uma síntese de sensações e movimentos. A percepção observa as coisas e a imaginação não observa, pois observar é jamais ter uma coisa percebida de uma só vez e por inteiro. Segundo Chauí (2006) a percepção observa porque alcança as coisas, as pessoas, as situações por perfis, perspectivas, faces diferentes que vão sendo articuladas uma às outras, num processo sem fim, podendo sempre enriquecer nosso conhecimento porque podemos perceber aspectos novos, ir completando o percebido com novos dados ou aspectos. Chauí (2006) considera que enquanto o imaginário reprodutor procuraabafar o desejo de transformação, o imaginário utópico procura criar esse desejo em nós. Pela invenção de outra sociedade que não existe em lugar nenhum e em tempo nenhum, a utopia nos ajuda a conhecer a realidade presente e a buscar sua transformação. O imaginário reprodutor opera com ilusões enquanto a imaginação criadora e a imaginação utópica operam coma invenção do novo e da mudança, graças ao conhecimento crítico do presente. Mas, esse processo tem sua própria linguagem comunicativa. Que pode ser através de grafismos, verbal, gestual, entre outras. - Linguagem e representação: segundo Chauí (2006, apud Ramos, et al, 2007, s/p) a linguagem articula percepções e memórias, percepções e imaginações, oferecendo ao pensamento um fluxo temporal que conserva e interliga as ideias. Edmond Couchot parte da ideia de representação envolvendo um objeto da ordem da realidade visível em contraponto ao da simulação que trata do campo das imagens digitais. No entanto, os autores apresentam um conceito de objeto mais amplo, em termos peircianos, de que não necessariamente o objeto envolvido na representação tenha que se limitar ao campo do real. Para Santaella (1998) “o objeto de uma representação pode ser qualquer coisa existente, perceptível, apenas imaginável, ou mesmo não suscetível de ser imaginada”. Desse modo, o conceito de imagem presente na simulação ora defendida pelos autores, parte da ideia resultante de uma série de representações por se tratar de imagem sintética. Entenda-se por imagem sintética as imagens produzidas por computador, como resultado de uma de série de abstrações. A imagem apresentada na tela de vídeo do computador é uma composição feita por pontos de luz, sendo esses pontos chamados pixels o IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 16 resultado de combinações binárias – sistema numérico composto pelos bits 0 e 1, da qual trata a linguagem de máquina do computador. Já os bits 0 e 1 são representações dos pulsos elétricos 0 volts e +5 volts. Para a teoria semiótica de Charles Sanders Peirce, filósofo, matemático e lógico, que pesquisou a linguagem dos signos, a linguagem é a única forma de síntese que dispomos para a ligação entre o exterior e interior. A partir do final do século XIX e primeira metade do século XX a teoria do conhecimento discutiu a linguagem em diversos campos do conhecimento. Com a amplitude da linguagem para além do alfabeto verbal, destacam-se os elementos básicos que compõem o alfabeto visual. Com o conhecimento destes poderemos compreender ainda mais o nosso processo perceptivo e principalmente, sabermos organizar nossas composições visuais. Em síntese, esses elementos representam o modo como a percepção capta o campo visual e como nós podemos representá-lo no espaço, quer seja unidimensional, bidimensional ou tridimensional. Segundo Dondis (2003) “o que vemos uma parte fundamental do que sabemos o alfabetismo visual pode nos ajudar a ver o que vemos e saber o que sabemos”. A tese da teoria da imagem defendida por Justo Villafañe (2000) esclarece que os três fatores essenciais de uma imagem são: 1 - a seleção de uma realidade; 2 - a utilização de um repertório de elementos plásticos específicos e; 3 - a ordenação desses elementos de maneira sintática, de modo a produzir uma forma de significação icônica. E, estes fatores dependem de dois processos gerais: da percepção e da representação. Para Arnheim (apud Villafañe, 2000) a representa ão consiste em “ver” dentro da configuração. Isto é, a percepção é um processo responsável pela seleção da realidade, pois, estimula um esquema que possa refletir a estrutura do estímulo equivalente perceptivo da realidade e, o pensamento visual inventa um equivalente pictórico para esse esquema. Da mesma maneira, Dondis (2003), fala dos elementos visuais como substância básica daquilo que vemos, e, em número reduzido: o ponto, a linha, a forma, a direção, o tom, a cor, a textura, a dimensão, a escala e o movimento. São a matéria-prima de toda informação visual em termos de opções e combinações seletivas. A estrutura da obra visual é a força que determina quais elementos visuais estão presentes, e, com qual ênfase essa presença ocorre. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 17 Descartes imaginou o espaço sendo reduzido ao plano, depois, imaginou a divisão desse plano em semi-planos, tais semi-planos poderiam ser nominados, quantificados e enumerados. A natureza é concebida como um sistema ordenado de causas e efeitos necessários, cuja estrutura é a matemática. As teorias referentes ao espaço curvo da geometria euclidiana chegam a perturbar aos que não concebem que a menor distância entre dois pontos é um arco e não um segmento retilíneo. Esse é um exemplo da necessidade de amplo conhecimento e percepção aguçada para alcançar tamanha imaginação. Para os racionalistas, a sensação e a percepção dependem do sujeito do conhecimento, a coisa externa é apenas ocasião para que tenhamos a sensação ou a percepção. O sujeito é ativo e a coisa externa é passiva. A percepção possui as seguintes características: é o conhecimento sensorial das formas ou de totalidades organizadas e dotadas de sentido e não a soma de sensações elementares. Sensação e percepção são o mesmo. É o conhecimento de um sujeito corporal, uma vivência corporal. O mundo exterior não é uma coleção ou soma de coisas isoladas. É organizado em formas e estruturas complexas, dotadas de sentido. A percepção é uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico/fisiológico (empiristas) e nem uma ideia formulada pelo sujeito (intelectualistas). A relação dá sentido ao percebido e aquele que percebe - um não existe sem o outro. Uma experiência é dotada de significação. O percebido é dotado de sentido, faz parte do nosso mundo e de nossas vivências. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) - Teoria da Gestalt: para Ramos, et al (2007, s/p) os órgãos são superfícies, passagens capazes de explicar alguns dos fatores, os mais propriamente sensórios da percepção, mas não são capazes de explicar porque toda percepção adiciona algo ao percebido, algo que não está lá fora, no mundo fenomênico, e que não faz parte, portanto da estimulação. Para Santaella, a mente é a responsável pela tarefa em realizar a síntese, a elaboração da compreensão, do significado tanto do que está lá fora quanto da estimulação que é produzida como efeito. O problema da percepção é exatamente pesquisar a passagem dos órgãos sensoriais ao cérebro, pois algo se percebe e algo se acrescenta. O que acontece dentro do cérebro? Eis a questão. A Psicologia da forma ou Gestaltismo ou psicologia da gestalt, é um dos IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 18 muito ramos da Psicologia. Desenvolveu-se a partir de 1912, pela necessidade da existência de uma teoria que salientasse, sobretudo o aspecto global da realidade psicológica, não esquecendo o valor e a necessidade da experimentação científica. Os grandes fundadores desta escola foram os psicólogos: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Hohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940). Estes três psicólogos, depois de 1910, trabalhando na Universidade de Frankfurt, criticaram fortemente a escola de Wundt (1832-1920), fundador da psicologia moderna e responsável pelo primeiro laboratório de psicologia experimental. Wertheimer conseguiu provar experimentalmente, diferentesformas de organização perceptiva: o campo visual é apercebido de forma organizada e com significado distinto para cada pessoa. O conhecimento do mundo se obtinha através de elementos que por si só constituem formas organizadas. O termo Gestalt significa uma integração de partes em oposi ão soma do “todo”. É geralmente traduzido em inglês, espanhol e português, como estrutura, figura, forma. Entretanto, os dicionários apresentam amplas e diversas definições de Gestalt. A psicologia da forma se apoia na fisiologia do sistema nervoso, quando procura explicar a relação sujeito-objeto no campo da percepção. Segundo essa teoria o que acontece no cérebro não é o que acontece na retina. Segundo Gomes (2003) “a excita ão cerebral não se d em pontos isolados, mas por extensão. Não existe, na percepção da forma, um processo exterior de associação de varais sensações. A primeira sensação já é de forma, já é global e unificada.” É afirmação de Gomes (2003) que nós não vemos partes isoladas dos objetos, mas relações, isto é, uma parte na dependência de outra parte. Para nossa percepção, que é resultado de uma sensação global, as partes são inseparáveis do todo e são outra coisa que não elas mesmas, fora desse todo. Para o paradigma cartesiano do dualismo, ou o mundo exterior afeta a mente e seriamos meros efeitos submetidos às forças externas ou, o agente psicológico age sobre o mundo inerte que aguarda nossa doação de sentido e vida. Em oposição ao paradigma cartesiano, segundo Santaella (1992) a teoria gestaltica sugeriu que a síntese é produzida por uma realização característica do sistema nervoso central, chamada de organização sensorial. Os psicólogos da gestalt realçaram o caráter espontâneo do processo de percepção, no entanto, IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 19 postularam ainda que haveria uma correspondência entre a estimulação retiniana e nossa consciência das coisas. A isomorfia então é um dos postulados entre o que existe na mente e na retina e o que acontece na mente. Mas como essa síntese ocorre, ainda é o problema da percepção. (RAMOS, ET AL, 2007, s/p) IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 20 3. A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E OS PCNS Para Penna (s/d, s/p) em todos os ciclos da educação fundamental, os Parâmetros Curriculares dão à área de Arte uma grande abrangência, propondo quatro modalidades artísticas: Artes Visuais - com maior amplitude que Artes Plásticas, englobando artes gráficas, vídeo, cinema, fotografia e as novas tecnologias, como arte em computador; Música; Teatro; Dança que é demarcada como uma modalidade específica. Nos PCN-Arte, as propostas para essas diversas linguagens artísticas estão submetidas à orientação geral, apresentada na primeira parte do documento, que estabelece três diretrizes básicas para a ação pedagógica. São diretrizes que retomam, embora não explicitamente, os eixos da chamada “Metodologia Triangular” - ou melhor, “Proposta Triangular” -, defendida por Ana Mae Barbosa na área de artes plásticas e já bastante conhecida de todos que participam do Projeto Arte na Escola. Segundo os próprios Parâmetros, o “conjunto de conteúdos está articulado dentro do processo de ensino e aprendizagem e explicitado por intermédio de ações em três eixos norteadores: produzir, apreciar e contextualizar.” (PCN-Arte, p. 49) Vale ressaltar que, em nosso país, a Proposta Triangular representa a tendência de resgate dos conteúdos específicos da área, na medida em que apresenta como base para a ação pedagógica, três ações mental e sensorialmente básicas que dizem respeito ao modo como se processa o conhecimento em arte. Com os eixos norteadores adotados, os PCN-Arte colocam-se em sintonia com as buscas desenvolvidas no campo do ensino de arte, refletindo o próprio percurso da área. Neste sentido, podem ajudar a consolidar uma nova postura pedagógica e a concepção da arte como uma área de conhecimento específico. No entanto, há certamente um grande descompasso entre a realidade das escolas e essa renovação pretendida pelas instâncias regulamentadoras e pelos trabalhos acadêmicos, até porque os Parâmetros são bastante recentes: os PCN para as 5ª a IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 21 8ª séries completaram 2 anos de seu lançamento oficial no Palácio do Planalto em outubro de 2000 – e não chegaram de imediato a todas as escolas do país. Ao se pensar a prática pedagógica na escola, a primeira grande questão é: como realizar, na sala de aula, a proposta dos PCN para Arte, com suas quatro modalidades artísticas? O fato é que os PCN-Arte, que apresentam uma proposta tão abrangente, não chegam a apresentar de modo claro a forma de encaminhar concretamente o trabalho com as diversas linguagens artísticas. As disposições neste sentido são poucas e dispersas pelo texto, de modo que a questão de quais linguagens artísticas, quando e como serão abordadas na escola permanece, em grande medida, em aberto. Os PCN-Arte optam pela organização dos conteúdos por modalidade artística - e não por ciclo, como nos documentos das demais áreas -, delegando às escolas a indicação das linguagens artísticas e “da sua sequência no andamento curricular.” (PCN-Arte, p. 54) Neste sentido, sugerem que, “a critério das escolas e respectivos professores, (...) os projetos curriculares se preocupem em variar as formas artísticas propostas ao longo da escolaridade, quando serão trabalhadas Artes Visuais, Dan a, M sica ou Teatro.” (PCN-Arte, p. 62-63, apud PENNA, s/d, s/p) Ainda de acordo com Penna (s/d, s/p) à primeira vista, a flexibilidade presente na proposta de Arte procura considerar as diferenciadas condições das escolas, levando em conta também a disponibilidade de recursos humanos. Diante das condições do sistema de ensino em nosso país, seria irrealista pretender vincular a abordagem de cada linguagem artística a séries determinadas, num programa curricular fechado. Mas esta flexibilidade pode, em certa medida, comprometer a função básica dos Parâmetros Curriculares, que é garantir um padrão de qualidade no ensino, em nível nacional, inclusive em termos dos conteúdos estudados. Pois, na área de Arte, muito é deixado a cargo de cada escola ou mesmo do professor, inclusive com respeito à abordagem dos conteúdos. Neste sentido, os PCN-Arte declaram que: “os conteúdos podem ser trabalhados em qualquer ordem, conforme decisão do professor, em conformidade com o desenho curricular de sua equipe.” (PCN-Arte, p. 49) Esta flexibilidade tem, então, várias implicações, como nos casos de transferência, que podem vir a trazer prejuízos para a formação do aluno. Já que cada escola pode selecionar tanto as modalidades artísticas quanto os próprios IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 22 conteúdos, um aluno que tenha que se transferir pode tornar a repetir os mesmos conteúdos na mesma modalidade artística, ou então pode ter dificuldades em acompanhar um trabalho mais aprofundado em uma linguagem que não tenha sido contemplada em sua antiga escola. Nos casos de mudanças de escola, que afetam com frequência os alunos das camadas populares, os efeitos práticos dessa flexibilidade podem até mesmo invalidaras recomendações do próprio documento acerca da continuidade do processo educativo. (PCN-Arte, p. 62) A nosso ver, a proposta dos PCN na área de Arte é ambiciosa e complicada de ser viabilizada na realidade escolar brasileira. Para a sua aplicação efetiva, seria necessário poder contar com recursos humanos com qualificação - o que implica desde a valorização da prática profissional até ações de formação continuada e acompanhamento pedagógico constante -, além de recursos materiais que atendessem às necessidades da prática pedagógica em cada linguagem artística. Uma questão crucial, portanto, é o professor que irá colocar em prática os PCN-Arte: qual deverá ser a sua qualificação? A característica geral da proposta, que se direciona para o resgate dos conhecimentos específicos da arte, a complexidade dos conteúdos nas diversas modalidades artísticas, tudo isso parece indicar a necessidade de professores especializados em cada linguagem. Mas, na verdade, não há definições claras sobre a formação do professor de Arte, nem nos PCN, nem na atual Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Por conseguinte, como muitas vezes a contratação de professores está submetida à lógica de custos e benefícios. Acreditamos que, dificilmente as escolas contarão - a curto ou médio prazo - com professores especializados em cada uma das quatro modalidades artísticas dos PCN-Arte. Diante deste quadro, vislumbramos três perspectivas, não muito promissoras: 1) Poderá ser exigida do professor uma poli-Valência ainda mais ampla - e mais inconsistente - que aquela promovida pela Educação Artística e já tão criticada. Inclusive as provas dos concursos para ingresso em redes públicas de ensino poderão ser elaboradas neste formato, abordando as diversas linguagens artísticas, como já acontece em muitos locais nos concursos para Educação Artística. 2) As propostas dos Parâmetros serão realizadas apenas na medida dos recursos humanos disponíveis. Assim, se o professor de Arte de uma dada escola for formado em Música, por exemplo, será esta a linguagem artística contemplada no currículo. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 23 Uma outra variante desta situação, que já começa a ter lugar em estabelecimentos particulares, é a escola escolher a(s) modalidade(s) artística(s) que considera mais conveniente(s) para os seus interesses, contratando um professor com formação adequada. Neste caso, podem pesar argumentos acerca da conveniência de evitar reclamações dos pais, na hora de comprar material para as aulas de Artes Visuais, ou então sobre como determinado campo da arte pode contribuir para o marketing da escola - ao produzir apresentações teatrais, por exemplo. 3) Ou ainda - e pior - as propostas dos PCN poderão servir como base para planejamentos e relatórios que ficarão apenas no papel, sem mudanças efetivas na prática educativa em sala de aula. (PENNA, s/d, s/p) Enfim, aponta Penna (s/d, s/p), acreditamos que, em termos de Brasil, serão poucas as escolas - de elite, certamente - que se empenharão em oferecer as quatro linguagens artísticas de modo consistente, contratando para tal diversos professores com formação específica. Tais perspectivas colocam em discussão a possibilidade de os PCN-Arte trazerem mudanças efetivas para a prática pedagógica na área. A pretensão de um único professor realizando as propostas dos PCN-Arte em todas as linguagens artísticas contradiz a amplitude e profundidade das propostas específicas, atualizando a poli-valência e conduzindo, inevitavelmente, a um esvaziamento de conteúdos. Se os PCN-Arte forem implementados desta forma, ou se ficarem apenas no papel - em belos planejamentos e relatórios -, estarão sendo reduzidos a meros atos de discurso, mascarando, na verdade, a ausência de renovação das ações pedagógicas em arte. Receamos que isto possa vir a acontecer, até porque os próprios PCN preveem um processo progressivo para sua aplicação, como base para a atuação do professor em sala de aula - o que nem sempre está ocorrendo. Segundo os documentos introdutórios para os diversos ciclos, os Parâmetros deveriam ser utilizados progressivamente para subsidiar: 1) as próprias ações do MEC para o ensino fundamental – o que já está sendo feito; 2) as revisões ou adaptações curriculares desenvolvidas pelas secretarias de educação, no âmbito dos estados e municípios; 3) a elaboração do projeto educativo (proposta pedagógica) de cada escola, construído num processo dinâmico de discussão, envolvendo toda a equipe. E só IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 24 então, no quarto e último nível de concretização, caberia ao professor a realização da proposta curricular na sala de aula. Este processo seria capaz, portanto, de respaldar a ação do professor na realização das propostas dos PCN-Arte. Temos observado, contudo, que muitas vezes os PCN-Arte simplesmente “caem na cabe a"”do professor, de quem a direção da escola cobra a aplicação das propostas, a despeito da falta de apoio e de condições. Diante deste quadro, é fundamental que as escolas assumam a responsabilidade de elaborar o seu “projeto educativo” (nos termos dos PCN) ou “proposta pedagógica” (conforme a LDB). Seguindo princípios de flexibilidade e autonomia, a LDB delega aos estabelecimentos de ensino a incumbência de “elaborar e executar sua proposta pedagógica” (Lei 9394/96, Art. 12), o que reafirmado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (Resolução no 2/98 – CNE), que têm – estas sim – caráter obrigatório. Pois vale lembrar que, embora o MEC esteja colocando os PCN como referência para a avaliação das escolas e alocação de recursos, do ponto de vista formal eles não têm obrigatoriedade. Segundo o Parecer 03/97 do Conselho Nacional de Educação (CNE), “os PCN resultam de uma ação legítima, de competência privativa do MEC e se constituem em uma proposição pedagógica, sem caráter obrigatório, que visa à melhoria da qualidade do ensino fundamental e o desenvolvimento profissional do professor. É nesta perspectiva que devem ser apresentados às Secretarias Estaduais, Municipais e às Escolas.” (PENNA, s/d, s/p) Cada escola pode e deve, portanto, elaborar sua própria proposta pedagógica. Se construída de forma participativa e compromissada – não se revestindo apenas de um caráter burocrático –, deve decidir como utilizar os recursos humanos e materiais disponíveis de modo a atender às necessidades específicas de seu alunado. A proposta pedagógica é, pois, o espaço ideal para definir o melhor modo de encaminhar o trabalho de arte na escola, fazendo uso da autonomia prevista na LDB e nas Diretrizes Curriculares, e atendendo à flexibilidade da proposta dos PCN-Arte. Neste quadro, sendo analisados e discutidos com cuidado, os PCN-Arte podem ser utilizados para respaldar uma atuação mais aprofundada em determinada linguagem artística, ou ainda como base para reivindicar as condições necessárias para uma prática pedagógica de qualidade. Para concluir, é preciso deixar claro que, apesar de todos os questionamentos IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 25 em torno dos PCN-Arte, reconhecemos a importância destes documentos, que podem ajudar a fortalecer a presença da arte na escola. Sem dúvida, os PCN-Arte sinalizam um redirecionamento do ensino de arte, respondendo às buscas da própria área. É preciso lembrar, no entanto, que as normas contam, sobretudo pelos seus efeitos,de modo que os PCN dependem de sua concretização - ou seja, de sua realização na prática escolar. Nesta medida, tanto a renovação da prática pedagógica em arte quanto a “transforma ão positiva no sistema educacional brasileiro”, a que se refere o Ministro da Educa ão, passam necessariamente pela prática concreta – com todos os seus conflitos –, pois é nela que tais mudanças terão que ser construídas e conquistadas. (PENNA, s/d, s/p) IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 26 4. A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E A FORMAÇÃO DO ALUNO Para Costa (2001, s/p) “todas as pessoas têm disposição para trabalhar criativamente, o que acontece é que a maioria jamais se d conta disso.” (Truman Capote) “Imaginar é mais importante do que saber, pois o conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abarca o universo.” (Albert Einstein) “Educa ão Artística e o Ganha-Pão” foi o texto com que eu dialoguei para redigir estas p ginas. Trata-se de um estudo sobre o significado da educação artística, para as perspectivas econômicas dos educandos, independentemente do ramo de atividade em que pretendam atuar. A primeira indagação é se a educação artística deve ser considerada um luxo, algo complementar ou meramente acessório em relação ao ensino das matérias essenciais, como línguas, ciências ou matemática. A resposta é não. O desenvolvimento da criatividade e do senso estético é, e será cada vez mais, um requisito importante para se ingressar, permanecer e ter sucesso no novo mundo do trabalho. (COSTA, 2001, s/p) - A arte na constituição do humano: De acordo com Costa (2001, s/p) a verdade é que somos animais linguísticos e todas as formas de linguagem nos servem de meio de expressão oral, visual ou corporal. O fato de lembrarmo-nos do passado e imaginarmos o futuro permite planejar e agir de um modo que nos torna únicos entre os animais. A verdade é que somos capazes de produzir e, através da comunicação, fazer circular sentidos. A arte, ainda nos tempos das cavernas, permitiu ao homem compreender a atribuir sentido ao mundo e à sua atividade sobre ele. A capacidade de configurar sua experiência passada e presente e discernir o seu futuro, desde os primórdios da humanidade, é alguma coisa ligada indissoluvelmente à experiência estética. A vida, em geral, e o mundo do trabalho, em particular, valoriza e recompensa aqueles que apreendem e incorporam – em sua maneira de ver, entender a agir – os padrões novos que – cada vez com maior velocidade– emergem da experiência humana. Isso é particularmente válido para uma época de transição no processo civilizatório, como a que presentemente estamos vivendo. Foi através da arte que, pela primeira vez, o homem entendeu e representou o mundo em torno de si. A ideia é de que esta atitude não é alguma coisa, que ficou IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 27 esquecida em algum lugar do nosso passado. Nós carregamos conosco essa capacidade de aprender a configuração do nosso mundo interior ou exterior e objetivá-la em algo dotado de sentido, sem ter, para isso, de recorrer à religião, à filosofia e à ciência. É nisto que consiste a experiência estética. O senso estético é uma maneira permanentemente válida de apreender o mundo e atuar sobre ele, através de uma atividade dotada de sentido. Isto é especialmente válido quando consideramos como objetivos da educação a realização das potencialidades do ser humano e a sua preparação para a cidadania e o trabalho. A ciência, a filosofia e a religião também exercem esse papel de preparar o ser humano para compreender e atuar sobre o mundo. Cada qual à sua maneira, essas formas de relacionamento do homem com o mundo natural e humano que o cerca constituem o que há de especificamente humano em nossa natureza, que é a cultura. (COSTA, 2001, s/p) - Um novo mundo do trabalho: para Costa (2001, s/p) num mundo do trabalho que se “desmaterializa”, grande parte das habilidades específicas será aplicada por máquinas inteligentes, isto é, máquinas capazes de substituir, não somente o esforço muscular humano, mas, em medida cada vez maior, o seu esforço cerebral. Numa situação como essa, as aptidões e destrezas manuais, a capacidade de seguir instruções, a prontidão para obedecer a comandos, a capacidade de concentração tendem a ser, cada vez mais intensamente, substituídas por habilidades básicas e de auto/hetero e cogestão como: percepção do todo, capacidade de expressar-se, capacidade de manter-se automotivado e de motivar os outros, capacidade de contribuir criativamente na solução dos problemas em grupo, de construir em conjunto, de adaptar-se a novas situações, de ensinar e de aprender com os outros, capacidade de avaliar e de deixar-se avaliar. Num mundo do trabalho onde o emprego na área pública ou privada parece não ser mais a única e, a médio e longo prazo, nem a principal forma de inserção na vida produtiva, é preciso preparar as novas gerações de trabalhadores (não necessariamente de empregados) de forma inteiramente diversa daquela pela qual fomos preparados. Mais do que observadores de normas, seguidores de instruções e fiéis observantes das rotinas laboriais, o novo mundo do trabalho requer pessoas que sejam criativas, raciocinem e resolvam problemas e, sobretudo, que sejam capazes de se autodeterminar, assumindo responsabilidades e correndo riscos, ou seja, criando o seu próprio futuro. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 28 - Educação, arte e trabalho: hoje, já existem vários estudos que associam o aumento da escolaridade a ganhos em produtividade e renda por parte dos trabalhadores. Em razão disso, é crescente entre os empregadores o interesse em aumentar os níveis educacionais de sua força de trabalho. Esse interesse, no entanto, restringe-se ao ensino da linguagem, do cálculo e de habilidades específicas. A educação artística é vista como uma espécie de perda de tempo, algo inteiramente acessório, mais próximo do lazer que do trabalho, “um luxo”. No polo oposto dessa visão encontramos o arte-educador. Para ele, a educação artística justifica-se por si mesma. Sua importância está radicada no seu caráter autocriador do humano e seria quase uma afronta associá-la à educação profissional. Assim, nos deparamos com duas posições antagônicas, mas cujo resultado prático é exatamente o mesmo. A primeira, a de que a educação artística é tão sem importância, que não vale a pena considerá-la como algo de útil na preparação das pessoas para o mundo do trabalho. A segunda, a de que a educação artística é tão importante em si mesma, que é um rebaixamento considerá- la de forma pragmática, como uma modalidade entre outras de preparação para o mundo do trabalho. A posição que supera o falso dilema vivenciado nessa polarização desnecessária e estreita é a constatação de que a educação artística, tomada em si mesma, sem nenhuma submissão à dimensão produtiva, exerce sobre esta uma influência extremamente positiva. Isso quer dizer que a educação artística não deve e nem necessita tornar-se instrumento da educação profissional. Ela deve isto sim, é converter-se num poderoso catalisador do desenvolvimento humano, tanto no campo da educação básica, como no campo da educação profissional. Nem paralelismo, nem incorporação, mas convergências e complementaridade. É certo que, seja para o jovem atuar como empregado no setor públicoou privado, seja para atuar como autoempregado, na economia informal, seja para atuar como empreendedor, em micro, pequenas, médias ou grandes empresas, a educação artística tem tanto a contribuir como a educação básica ou a educação profissional. (COSTA, 2001, s/p) A verdade é que, para trabalhar lidando com pessoas, com grupos, com ideias, com formas e relações as mais variadas, o ser humano deverá deter cada vez mais se polivalente, flexível, motivado, motivante e criativo. Os alunos que montam uma peça de teatro, por exemplo, aprendem: IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 29 A atuar como uma equipe; A dirigirem e serem dirigidos; A expressar-se com a fala, o corpo e olhar; A programar-se dentro de um orçamento limitado; A buscar soluções criativas, inventando, adaptando e improvisando; A auto-hetero e coavaliar; A ter disciplina de postura, de tempo e de lugar; A empenhar-se na busca da qualidade; A gostar e a valorizar o sucesso; A praticar a melhoria contínua e o respeito pela audiência; A repetir uma ação inúmeras vezes, aproximando-se gradativamente do que deve ser. Nas feições do mundo do trabalho, que está surgindo nesta reta final de século e de milênio, alguns traços já se podem distinguir com nitidez: A qualidade deixa de ser diferencial competitivo e torna-se uma condição indispensável para se ingressar e permanecer no mundo do trabalho; O trabalho está se desmaterializando, ou seja, lidar com a informação e o conhecimento vai se tornando cada vez mais um requisito mais importante que lidar diretamente com matérias-primas. Esta é a característica mais marcante do ingresso na era pós-industrial; A robótica, a telemática e a informática virtualizarão, cada vez mais, o processo de trabalho, através de sons, imagens e símbolos, que o ser humano deverá ser capaz de acessar e aprender de forma instantânea. - O desafio da convergência: um desafio para a cabal demonstração da convergência e da complementaridade dos mundos da arte e do trabalho, no âmbito da educação artística e no contexto da revolução pós-industrial, é a compreensão de como as habilidades desenvolvidas em um se aplicam ao outro. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 30 Nesse sentido, nos Estados Unidos, educadores estão desenvolvendo padrões curriculares e representantes da indústria vêm desenvolvendo padrões educacionais, com o objetivo de desvelar a compatibilidade e a fecundidade das relações da educação artística com as formas de organização e as tecnologias do novo mundo do trabalho. Na medida em que esse trabalho se desenvolve, vai ficando cada vez mais claro que o conhecimento e a prática de habilidades artísticas podem desenvolver nos jovens competências fundamentais para o sucesso no mundo do trabalho e na vida, de um modo geral, no século 21. (COSTA, 2001, s/p) Ainda para Costa (2001, s/p) três grandes eixos já foram identificados, como pontes seguras para o trânsito de benefícios da educação artística para o trabalho: 1º Eixo: habilidades desenvolvidas na educação artística podem ser transferidas para o trabalho e para a vida em geral; 2º Eixo: o conhecimento das artes potencializa a comunicação eficaz; 3º Eixo: a experiência estética propicia uma abordagem criativa à solução de problemas. No plano objetivo, das artes se pode aprender a trabalhar com o tempo, o espaço, a luz, a cor, o som, o corpo, a voz, compromissos, agendas, recursos financeiros, meios de comunicação social, instrumentos de diversos tipos, materiais, tecnologia etc. No plano da subjetividade e da intersubjetividade, as artes propiciam o desenvolvimento de habilidades como trabalhar em equipe, planejar, negociar, liderar, ensinar, coordenar, acompanhar, avaliar, comunicar, administrar conflitos e gerar soluções criativas. Noções fundamentais como processo, raciocínio descontínuo, sistema e visão holística podem ser vivenciadas, através de atividades de educação artística, ao invés de serem apenas transmitidas em termos puramente conceituais. Isto sem falar nos conhecimentos, valores, atitudes, posturas, habilidades e destrezas, que a educação artística necessariamente desenvolve em todos os domínios da experiência estética. Essa nova maneira de ver a educação artística traz para os educadores, que atuam nessa área, novos e crescentes desafios: Desenvolver novas capacidades para o trabalho em equipe; Familiarizar-se com as novas tecnologias (informática e telemática); IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 31 Abrir-se a outras culturas e a perspectivas distintas diante do trabalho e da vida; Buscar formas novas de aprender e ensinar o trabalho criativo; Dedicar tempo à busca e à transmissão das grandes mensagens modeladoras do trabalho e da vida na transição civilizacional que estamos vivendo; Construir pontes entre o mundo da educação artística e o mundo do trabalho; Divulgar a ideia de que, mais do que uma educação para a arte, a educação artística é uma educação para a vida, no sentido mais pleno do termo. Estamos vivendo um período de transição civilizacional. A humanidade como um todo está ingressando em uma nova e decisiva etapa de sua evolução histórica. O mundo do trabalho sofre simultaneamente o impacto modelador de três forças: a globalização dos mercados, impondo novos patamares de exigência em termos de produtividade e qualidade na produção de bens e serviços; as novas tecnologias, que desvincularam, de forma definitiva, o crescimento da produção do crescimento do emprego e desmaterializaram o trabalho humano, levando a economia e a sociedade à era da informação e do conhecimento; as novas formas de organização do trabalho, que exigem um trabalhador diferente em tudo do tipo que prevaleceu no século 20. As habilidades desenvolvidas pela educação artística, que eram periféricas e minoritárias no sistema produtivo, passam a ocupar uma posição central no perfil do trabalhador requerido pelas transformações deste fim de século e de milênio. Essas novas habilidades deverão ser desenvolvidas em três cenários: escola; ações complementares à escola; educação profissional para e pelo trabalho. Em todos esses cenários, a posição ocupada pelo binômio arte-educação deverá ser ampla, profunda e corajosamente revista. Esta é uma causa pela qual vale a pena lutar. (COSTA, 2001, s/p) IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 32 5. DIDÁTICA NO ENSINO DE ARTE - Os registros: uma possibilidade: para Guerra (s/d, s/p) basta nascermos e alguém já corre a providenciar nosso registro! Outros tantos virão pela nossa vida afora, memórias vivas do que já fomos ou fizemos: diplomas, certidões, certificados e quantas e deliciosas fotos de aniversários, formaturas, casamentos, natais, viagens. E nossos diários e agendas de adolescentes? Quantos registros de momentos mágicos, de sonho e também de tristezas, na época parecendo insuperáveis? Sim, somos seres de registros, precisamos deles! Aliás, segundo Vygotsky, o que nos diferencia dos animais é o exercício do registro. Desde os tempos mais remotos, em que nossos ancestrais desenharam nas paredes das cavernas até os dias de hoje, em que grafiteiros pintam os muros das grandes cidades, o ser humano sente a necessidade de deixar sua marca por onde passa.Histórias gravadas em pedras, papéis, filmes, fotos. Enquanto professores, também somos agentes de uma história compartilhada por dezenas de alunos e, nesse percurso, deixamos marcas, elaboramos registros. Mas, o que seriam registros, nas aulas de arte? Na verdade, todas as produções dos alunos - escritas, desenhadas, cantadas, representadas, dançadas... - são registros. Demonstram de que forma relacionaram, pensaram, simbolizaram, apreenderam, articularam determinados conteúdos e de que maneira esses se concretizaram, se sintetizaram em recortes do conhecimento apreendido. O aluno, quando registra, se situa melhor dentro dos conteúdos desenvolvidos, estabelece relações entre o que já sabe, o novo e outras áreas do conhecimento. Dá sentido ao que aprendeu, torna- se mais crítico e exigente em relação a si mesmo e ao ensinar/aprender arte. Percebe seu percurso e tem bases mais sólidas para proceder a uma autoavaliação. Elaborar registros escritos é fundamental na aula de arte, pois o ato de escrever sobre aquilo que se aprendeu - ou se ensinou - faz refletir, organiza o pensamento e sintetiza ideias de forma consciente, mais profunda, num exercício de apropriação do conhecimento e de construção de significações. Para o professor, o ato de registrar - intimamente ligado ao ato de avaliar - possibilita a melhor percepção dos progressos, obstáculos, retrocessos e limites de seus alunos, assim como permite efetuar as intervenções imediatas e apontar possíveis IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 33 encaminhamentos. Cada momento de registro é também uma pausa para se repensar a própria prática pedagógica, rever caminhos, tentar novas possibilidades e reafirmar certezas. Pedir, observar e interpretar os registros dos alunos requer um olhar que vá além das aparências, que busque os significados estéticos, simbólicos, cognitivos; um professor atento, investigativo, sensível, que não despreza pistas, que lê nas entrelinhas, dialoga com seus aprendizes e com sua própria prática e que, acima de tudo, tem clareza do papel da arte na educação, dos objetivos do ensinar aprender arte e o que pretende com cada uma das situações de aprendizagens propostas. (GUERRA, s/d. s/p) - O quê e quando registrar? De acordo com Guerra (s/d, s/p) quando fotografamos um aniversário, por exemplo, tiramos fotos dos momentos mais significativos da festa, aqueles que sintetizam, da melhor forma possível, o evento que queremos registrar, para relembrar o acontecido, para organizarmos nosso álbum de memórias. Assim também, na sala de aula, registros devem marcar etapas importantes de um projeto ou sequência de situações de aprendizagem. Podem ser solicitados registros ao se dar início a um novo projeto, com função de diagnóstico; nesse caso, o professor poderá perceber o repertório artístico e estético de seus alunos, tendo, assim, melhor clareza de como orientar seu planejamento a partir das noções e conceitos que a classe já possui, desvelando e ampliando conhecimentos, corrigindo possíveis distorções e atendendo às necessidades e interesses individuais e coletivos. Registros também podem e devem ser feitos ao final de uma aula, etapa ou momento significativo de um projeto ou sequência didática, quando se pretende verificar o que de fato foi apropriado pela classe até então, observando suas dificuldades e progressos, verificando como se dá a articulação entre o repertório dos alunos e os novos conteúdos trabalhados, pensar intervenções, replanejar ações. Ao final de um projeto, registros mostram a sistematização do conhecimento, o que de fato foi significativo, quais mudanças ocorreram, se os objetivos propostos foram atingidos, de que forma os aprendizes articularam seu fazer artístico à apreciação estética e ao conhecimento da produção artística da humanidade em seus contextos conceitual, histórico e cultural. Os registros dos alunos podem ser IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 34 feitos de forma individual, grupal ou com todo o coletivo da classe, sempre mediados pelo professor, cujo encaminhamento deverá visar sempre a busca daquilo que o aluno aprendeu em arte, não se atendo a quest es como “você gostou do que fez? como você se sentiu?” Vale relembrar que toda produção dos alunos é uma forma de registro: desenhos, pinturas, gráficos, charges, quadrinhos, tabelas, música, poemas, teatro, esculturas. E, é claro, também fotos e gravações! O importante é que estes registros, todos, tenham legendas, datas, que sejam contextualizados. Nada mais intrigante (e frustrante!) do que uma foto antiga que ninguém mais se lembra de onde foi tirada, em que época, que pessoas são aquelas ali retratadas. Assim, se o professor faz uma gravação de uma apresentação musical de seus alunos ou os fotografa em uma atividade de pintura, é fundamental garantir todos os créditos: a data, quem são as pessoas ali presentes, qual a etapa do projeto, qual o projeto. Alunos e professores precisam adquirir o hábito de datar suas anotações, suas produções, de contextualizá-las. (GUERRA, s/d, s/p) É importante salientar, segundo Guerra (s/d, s/p) que registros escritos são fundamentais, mas não devem ocupar um período muito grande das aulas de arte, cujo universo é especialmente o não verbal e cujo espaço dentro do currículo escolar já é tão reduzido! Todos já vimos pessoas em viagens de férias que passam o tempo todo com uma filmadora a tiracolo. Sim, registram tudo, o tempo inteiro, mas e o passeio? E a festa, o prazer, o conhecimento de uma nova cultura? Fica tudo virtual, tudo visto muito tempo depois, através de uma lente. É preciso fotografar, filmar, registrar sim, mas apenas os momentos mais significativos, porque infelizmente, nossa memória vai se tornando diáfana, mas, mais importante que tudo, é viver, experienciar, estar ali de corpo e alma! Desta forma, o que vale mesmo, é o professor estar presente e atento a todas as produções dos alunos, e anotar - estes são os seus registros - de forma individual ou por grupos de aprendizes, como estes se envolvem nas atividades, de que forma resolvem os desafios propostos, que dificuldades apresentam, que soluções encontram para determinados problemas, de que maneira articulam o fazer, o conhecer e o fruir arte. Aos poucos, através da prática do registro, é que o professor IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "IPEMIG – Conhecimento que transforma" http://www.ipemig.com.br/ 35 vai percebendo quais são os momentos sínteses de cada proposta, de cada situação que merecem ser registrados. - O portfólio: há algumas décadas atr s, os “registros” da aprendizagem em arte se resumiam a cadernos de desenhos iguais, encapados iguais, apresentando a mesma sequência de atividades iguais e o melhor aluno era, obviamente, aquele que fosse mais “igual” ao professor, que cobrava cada página ausente (ele sabia a ordem das coisas) e não aceitava nada além daquilo que ele havia colocado na lousa. Educadores contemporâneos sugerem a organização dos registros dos alunos - e também os do professor - em portfólios, palavra essa que não deve ser desconhecida dos arte-educadores, pois se trata de uma pasta há muito tempo usada por artistas e arquitetos que nelas documentam todo seu percurso profissional, selecionando suas obras mais marcantes e significativas. Cada aluno pode e deve criar seu próprio portfólio - que é individual -, nele guardando suas produções e documentando toda sua trajetória durante um determinado
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