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Resumo Teoria Geral do Direito Penal I (parte 2)

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1
Teoria Geral do Direito Penal I
evolução da teoria geral do delito
Modelo Positivista:
● Vontade não importa - restrito aos elementos objetivos do crime.
ação objeto-descritiva; aspecto objetivo.
antijuridicidade objetivo-normativa; aspecto objetivo.
culpabilidade subjetivo-descritiva; aspecto subjetivo.
delito
conduta humana que produz um resultado naturalístico → movimento
corporal (ação), produzindo uma modificação no mundo exterior (resultado).
↪ vinculava a conduta ao resultado mediante o nexo de causalidade.
● Crítica: incapacidade de se admitir a invalidade de uma norma formalmente produzida, mas
materialmente incompatível com o ordenamento jurídico vigente → problema em relação à
tentativa e ao crime omissivo, por exemplo.
Modelo Neokantista:
● Melhor compreensão dos institutos jurídico-penais como conceitos valorativos → resgate
subjetivo para o delito: importa não só o resultado, mas também a intencionalidade.
● Elementos normativos (valorativos) e subjetivos (capacidade cognitiva).
tipo
transforma-se de um tipo penal puramente descritivo de um processo exterior
para um tipo de injusto, contendo, algumas vezes, elementos normativos e,
outras vezes, elementos subjetivos.
antijuridicidade conceito material → danosidade social.
culpabilidade formação da vontade contrária ao dever: "reprovabilidade".
delito
É a intencionalidade, a vontade, a valoração feita sobre a conduta. Não só o
seu resultado. É a conduta que produz um resultado naturalístico pensado sob
um ponto de vista valorativo e subjetivo.
● Crítica: problema em relação à subjetividade do indivíduo: indefinição do Direito Penal.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
2
Modelo finalista:
● Estabelecimento de balizas dentro da Teoria Geral do Delito para considerar o que é ou não
crime (limites à interpretação).
● Possibilitou uma concepção mais adequada dos diversos conceitos de crimes.
ação
"a ação humana é um acontecer final" → finalidade: previsibilidade das
consequências prováveis de uma conduta, podendo dirigir a atividade de tal
forma que oriente o acontecer causal exterior de um fim.
desvalor da ação → elemento constitutivo do injusto penal.
culpabilidade
retirada de todos os elementos subjetivos da culpabilidade → dolo e culpa
passam a fazer parte do injusto (fato típico), centralizado na finalidade.
reprovabilidade.
delito crime é a conduta dirigida a uma finalidade tipificada como criminosa,
injusta e culpável.
Modelo funcionalista:
● Questionar o propósito do Direito Penal e estruturar o delito com base nele.
● Vertentes: Direito Penal como protetor e garantidor dos direitos e das liberdades (garantidor) X
Direito Penal como protetor do sistema, sob pena dele implodir (punitivista).
● Juízos de valor.
● Finalidade humana complementada por critérios de imputação objetiva → o que importa é saber
se uma lesão de um bem jurídico desejada, ou cujo risco foi assumido pelo autor, representa ou
não a realização de um risco permitido.
conceito de crime
Conceitos de crime:
● Formal: ação ou omissão proibida por lei, sob ameaça de pena; conduta que viola uma lei.
● Material: ação ou omissão que contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua
proibição com a ameaça de pena; conduta que ofende um bem jurídico tutelado.
● Analítico: fato típico + antijurídico (teoria bipartida) + culpável (teoria tripartida).
Definição legal de crime no Brasil:
● Art. 1o da Lei de Introdução ao Código Penal: "considera-se crime a infração penal que a lei
comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativamente ou
cumulativamente" → limitou-se a apenas destacar as características que distinguem as infrações
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
3
penais consideradas crimes daquelas que constituem contravenções penais (critério = pena de
prisão aplicável); aspecto meramente formal, a definição de crime é tratada doutrinariamente.
Classificação:
1
bipartida Divide as condutas puníveis em crimes/delitos (sinônimos) e
contravenções, que seriam espécies do gênero infração penal.
tripartida Divide as infrações penais em: crimes, delitos e
contravenções, seguindo a gravidade que apresentem.
2
doloso
Quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo; crime praticado com o elemento dolo (subjetivo;
consciência e vontade). Art. 18, I.
culposo
Quando o agente deu causa ao resultado por imprudência
(ativa), negligência (passiva) ou imperícia (descumprimento
de norma técnica). Art. 18, II.
preterdoloso
Crime cujo resultado total é mais grave do que o pretendido
pelo agente. Há uma conjugação de dolo (no antecedente) e
culpa (no subsequente): o agente quer um minus e produz um
majus. Crime agravado pelo resultado. Art. 19.
3
comissivo Realização de uma ação positiva visando a um resultado
tipicamente ilícito (fazer o que a lei proíbe); delitos de ação.
omissivo
Próprio: consiste no fato de o agente deixar de realizar
determinada conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-lo
(simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia
realizá-la, independentemente do resultado).
Impróprio (ou comissivo-omissivo): a omissão é o meio
através do qual o agente produz um resultado (o agente
responde não pela omissão simplesmente, mas pelo resultado
decorrente desta, a que estava, juridicamente, obrigado a
impedir).
Art. 13, § 2o.
4 instantâneo
É o que se esgota com a ocorrência do resultado. Ação produz
resultado naquele exato momento. Uma vez realizado os seus
elementos nada mais se poderá fazer para impedir sua
ocorrência.
permanente
Crime cuja consumação se alonga no tempo, dependente da
atividade do agente, que poderá cessar quando este quiser.
Entidade jurídica única, cuja execução alonga-se no tempo.
material Descreve a conduta cujo resultado integra o próprio tipo
penal, isto é, para a sua consumação é indispensável a
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
4
5
produção de um resultado separado do comportamento que o
precede. Produção de um resultado naturalístico.
formal
Descreve um resultado, que, contudo, não precisa verificar-se
para ocorrer a consumação. Basta ação do agente e a vontade
de concretizá-lo, configuradoras do dano potencial. O
legislador antecipa a consumação, satisfazendo-se com a
simples ação do agente.
mera conduta
O legislador descreve somente o comportamento do agente,
sem se preocupar com o resultado.
A distinção entre crime formal e crime de mera conduta é
superada pela moderna dogmática jurídico-penal.
6 de dano
Para a sua consumação é necessária a superveniência de um
resultado material que consiste na lesão efetiva do bem
jurídico.
de perigo
Se consuma com a superveniência de um resultado material
que consiste na simples criação do perigo real para o bem
jurídico protegido, sem produzir um dano efetivo (elemento
subjetivo = dolo de perigo).
Perigo concreto: precisa ser comprovado.
Perigo abstrato: suficiente a simples prática da ação que se
pressupõe perigosa, não precisa ser provado.
7
unissubjetivo Aquele é pode ser praticado pelo agente individualmente
(também admite o concurso eventual de pessoas).
plurissubjetivo
É o crime de concurso necessário, isto é, aquele que por sua
estrutura típica exige o concurso de, no mínimo, duas
pessoas.
Conduta pode ser: paralela, convergente ou divergente.
8 unissubsistente
Constitui-se de ato único. Não admite tentativa, pois o
processo executivo unitário não admite fracionamento,
coincide temporalmente com a consumação.
plurissubsistente Sua execução pode desdobrar-se em vários atos sucessivos.
Admite tentativa.
9
comum Pode ser praticado por qualquer pessoa.
próprio
Exige determinada qualidade ou condição pessoal do agente.
Condição: jurídica, profissional ou social,natural, parentesco
etc.
de mão própria É aquele que só pode ser praticado pelo agente pessoalmente,
não podendo utilizar-se de interposta pessoa.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
5
10
ação única Contém somente uma modalidade de conduta, expressa pelo
verbo nuclear do tipo (matar, subtrair).
ação múltipla Tipo penal contém várias modalidades de condutas, e, ainda
que seja praticada mais de uma, haverá somente um único
crime (art. 122, por exemplo).
11 complexos Soma ou fusão de dois crimes; ofende mais de um bem
jurídico ao mesmo tempo.
a conduta punível
● Conduta é um gênero que abarca as espécies ação e omissão.
● Conduta é um elemento do fato típico (ponto de vista analítico) X não há uma definição de
conduta (ponto de vista genérico).
● Funções: segurança jurídica e limitada.
● O Código Penal não apresenta um conceito de ação ou omissão, deixando-o implícito; atribui
sua elaboração à doutrina.
Teorias da ação:
● Teoria causal-naturalista da ação:
✧ Conduta positiva.
✧ Consiste numa modificação causal do mundo exterior, perceptível pelos sentidos, e
produzida por uma manifestação de vontade, isto é, por uma ação ou omissão voluntária →
movimento corporal voluntário que causa modificação no mundo exterior.
✧ Elementos da ação: manifestação de vontade + resultado + relação de causalidade.
✧ Crítica: dificuldade no conceito em relação ao crime culposo; inaplicável à omissão, pois
falta nesta uma relação de causalidade entre a não realização de um movimento corporal e
o resultado.
● Teoria final da ação:
✧ Ação é o comportamento humano voluntário conscientemente dirigido a um fim.
✧ A direção final de uma ação realiza-se em duas fases:
☉ Subjetiva: antecipação do fim que o agente quer realizar (objetivo pretendido) →
seleção dos meios adequados para a consecução do fim (meios de execução) →
consideração dos efeitos concomitantes relacionados à utilização dos meios e o
propósito a ser alcançado (consequências da relação meio/fim).
☉ Objetiva: execução da ação real, material, efetiva, dominada pela determinação do fim
e dos meios na esfera do pensamento.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
6
✧ Somente são produzidas finalisticamente aquelas consequências a cuja realização se
estende a direção final. Ficam de fora da vontade de realização aquelas consequências que
o autor prevê como possíveis, mas confia sinceramente que não se produzam.
✧ Crítica: crimes culposos.
● Teoria social da ação:
✧ Ação como uma conduta arbitrária para com o mundo social externo.
✧ Ação é a causação voluntária de consequências calculáveis e socialmente relevantes.
✧ Caráter nitidamente causal.
✧ Permeia a aplicação do princípio da adequação social → qual é o sentido social da ação?
● Teoria da ação significativa:
✧ A ação deve ser entendida como o significado do que fazem.
✧ Somente se pode perguntar se houve ação humana relevante para o Direito Penal quando se
puder relacioná-la a determinado tipo penal.
✧ Interpretação da ação → aplicação no júri.
Ausência de ação:
● Quando há coação física irresistível (art. 22): quem atua obrigado por uma força irresistível não
age voluntariamente. Quem atua não é dono do ato material praticado, não passando de mero
instrumento realizador da vontade do coator.
✧ Obs: coação física ≠ coação moral: na coação moral há fato típico, mas exclui-se a
culpabilidade, enquanto que na coação física não há fato típico.
● Quando em caso de movimentos reflexos: são atos reflexos aqueles em que o movimento
corpóreo ou sua ausência é determinado por estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso.
Os atos reflexos não dependem da vontade, são autônomos → sem a presença de vontade
consciente condutora do agir final não há ação penalmente relevante.
● Quando em estado de inconsciência: sonambulismo, embriaguez letárgica, hipnose etc. → os
atos praticados não são orientados pela vontade, consequentemente não podem ser considerados
ações penalmente relevantes.
Sujeitos da ação:
● Sujeito ativo: é quem pratica o fato descrito como crime na norma penal incriminadora. Para ser
considerado sujeito ativo de um crime é preciso executar total ou parcialmente a figura
descritiva de um crime.
● Sujeito passivo: é o titular do bem jurídico atingido pela conduta criminosa (vítima).
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a omissão e sua formas
● Crime omissivo: quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que lhe é juridicamente
ordenado → omissão de uma determinada ação que o sujeito tinha obrigação de realizar e que
podia fazê-lo.
Crimes omissivos próprios:
● Consistem numa desobediência a uma norma mandamental, norma esta que determina a prática
de uma conduta, que não é realizada → omissão de um dever de agir imposto normativamente,
quando possível cumpri-lo, sem risco pessoal.
● Basta a abstenção, o resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante para a
consumação do crime.
● Exemplo: art. 135 - omissão de socorro.
● Eventual resultado → possível majorante da pena:
✧ Indispensável que se analise o nexo causal entre a conduta omissiva e o resultado
determinante da majoração de pena.
✧ Juízo hipotético de acréscimo: se o agente não tivesse se omitido, o resultado ainda assim
teria ocorrido?
☉ Sim - constata-se que a conduta omissiva do agente foi irrelevante, pois se tivesse
agido não teria obtido êxito, não se podendo atribuir a ocorrência do resultado à
omissão praticada, não havendo, portanto, relação de causa e efeito entre resultado e
omissão.
☉ Não - a omissão realmente concorreu para o não impedimento de dito resultado,
ficando claro, por conseguinte, a relação de causalidade, justificando-se a majoração
legal.
Crimes omissivos impróprios/comissivos por omissão:
● O dever de agir é para evitar um resultado concreto. O agente não tem simplesmente a
obrigação de agir, mas a obrigação de agir para evitar um resultado, isto é, agir com a finalidade
de impedir a ocorrência de determinado evento → crime material, de resultado.
● Elementos (art. 13, § 2o):
✧ Abstenção da atividade que a norma impõe;
✧ Superveniência do resultado típico em decorrência da omissão;
✧ Existência da situação geradora do dever jurídico de agir.
● Figura do garantidor: devem prevenir, ajudar, instruir, defender e proteger o bem tutelado
ameaçado.
● Pressupostos fundamentais do crime omissivo impróprio:
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
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✧ Poder agir;
✧ Evitabilidade do resultado;
✧ Dever de impedir o resultado.
● Fontes originadoras da posição de garantidor:
✧ Obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
✧ Assumir a responsabilidade de impedir o resultado;
✧ Com o comportamento anterior, cria-se o risco da ocorrência do resultado.
relação de causalidade
● Integração na descrição típica de ação e resultado → necessidade de identificar-se a relação
causal, elemento da ação.
Teoria da equivalência das condições:
● Deve-se indagar a respeito da existência de um nexo de causalidade entre a ação do agente e o
resultado produzido.
● Art. 13: "o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido".
✧ A relação de causalidade limita-se aos crimes de resultado (materiais).
✧ Adoção da teoria da equivalência das condições para determinar a relação de causalidade.
● Não distingue como prevalente ou preponderante nenhum dos diversos antecedentes causais de
um determinado resultado.
● Para que se possa verificar se determinado antecedente é causa do resultado → Juízo hipotético
de eliminação: imagina-se que o comportamento em pauta não ocorreu, e procura-se verificar se
o resultado teria surgido mesmo assim, ou se, ao contrário, o resultado desapareceria em
consequência da inexistência docomportamento suprimido.
✧ Teria ocorrido: não há nenhuma relação de causa e efeito.
✧ Não teria ocorrido: a conduta é condição indispensável para a ocorrência do resultado e,
sendo assim, é sua causa.
● Crítica: não é capaz de oferecer critérios valorativos que auxiliem na eliminação das condutas
relevantes sob a perspectiva jurídico-penal → surgimento de critérios que auxiliam na
redefinição da causalidade:
✧ Localização do dolo e da culpa no tipo penal: toda conduta que não for orientada pelo dolo
ou pela culpa estará na seara do acidental, do fortuito ou da força maior, não podendo
configurar crime, situando-se fora, portanto, do alcance do Direito Penal.
✧ Causas (concausas) absolutamente independentes: a conduta não contribuiu em nada para
a produção do evento, sendo excluída a causalidade da conduta.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
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✧ Causas relativamente independentes: atuam de forma a reforçar o processo causal iniciado
com o comportamento do sujeito.
✧ Superveniência de causa relativamente independente que, por si só, produz o resultado: §
1o do art. 13.
Outras teorias da causalidade:
● Teoria da causalidade adequada: parte do pressuposto de que a causa adequada para a produção
de um resultado típico não é somente a causa identificada a partir da teoria da equivalência das
condições, mas, sim, aquela que era previsível ex ante, de acordo com os conhecimentos
experimentais existentes e as circunstâncias do caso concreto, conhecidas/cognoscíveis pelo
sujeito cuja conduta se valora.
✧ Análise das condutas que podem ter um nexo com o resultado, no ponto de vista da
adequação (análise qualificada). Tenta selecionar as melhores condutas/causas para a
prática do crime.
✧ Problema: limita as causas.
● Teoria da causa juridicamente relevante: a relevância jurídica de uma determinada conduta,
considerada inicialmente como causa de um resultado nos termos da teoria da equivalência das
condições, deve ser abordada pela interpretação do tipo penal de que se trate.
● As questões acerca da causalidade não devem ser confundidas com o juízo valorativo de
imputação de um resultado típico.
Teoria da imputação objetiva:
● Objetiva reforçar, do ponto de vista normativo, a atribuição de um resultado penalmente
relevante a uma conduta.
● Somente é admissível a imputação objetiva do fato se o resultado tiver sido causado pelo risco
não permitido criado pelo autor.
✧ Risco permitido: socialmente tolerado, não cabe a imputação.
● Requisitos básicos para a imputação objetiva do resultado:
✧ Criação de um risco jurídico-penal relevante.
✧ Realização do risco proibido no resultado (o risco tem algum resultado).
✧ Âmbito de proteção da norma (o resultado é protegido por norma penal).
tipo e tipicidade
Evolução da teoria do tipo:
● Fase da independência: análise do tipo de forma autônoma (o tipo não insere-se na
antijuridicidade, na culpabilidade etc.); previsão legal da conduta.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
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● Fase da ratio cognoscendi da antijuridicidade: confirma o tipo penal na ação praticada, indica a
antijuridicidade → se a conduta tem previsão típica, então ela provavelmente será antijurídica
(injusto).
● Fase da ratio essendi da antijuridicidade: confirma o tipo penal na ação praticada, há
confirmação automática da antijuridicidade → não existe justificativa para o crime.
● Fase defensiva: tipo não é confirmação da antijuridicidade, serve para defender as pessoas de
acusações de crimes inexistentes.
● Fase do finalismo: o tipo é analisado sob a perspectiva objetiva/formal (se a conduta se adequa
à lei) e subjetiva (intenção).
Tipo ≠ Tipicidade:
● Tipo: conjunto de elementos que compõem a definição de um ilícito/crime.
● Juízo de tipicidade: processo intelectual/cognitivo em que se analisa a conduta da pessoa para
verificar se há previsão legal que a defina como crime → adequação do fato à norma.
● Tipicidade: resultado positivo do juízo de tipicidade, que confirma que o fato praticado possui
previsão legal.
● Funções do tipo:
✧ Indiciária: a confirmação do tipo é uma provável confirmação da antijuridicidade.
✧ Garantia: a conduta só será punida se houver previsão legal (tipo deve ser o mais
específico possível a fim de se evitar interpretações subjetivas).
✧ Diferenciadora do erro: impede que se puna desproporcionalmente uma conduta →
diferenciação da conduta praticada com erro (não há punição), da conduta praticada sem
erro (punível).
● Elementos do tipo:
✧ Subjetivos-descritivos: elementos perceptíveis naturalmente, pelos sentidos.
✧ Normativos: carga valorativa.
✧ Subjetivos: aspectos da intencionalidade.
crime doloso
● Os crimes dolosos caracterizam-se pela coincidência entre o que o autor quer e o que realiza →
análise separada dos aspectos objetivos (tipo objetivo) e subjetivos (tipo subjetivo) do
comportamento humano tipificado.
Tipo objetivo:
● Descreve todos os elementos objetivos que identificam e limitam o teor da proibição penal,
constitui o referente fático sobre o qual se projeta a vontade reitora da ação.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
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● Elementos do tipo objetivo:
✧ Autor da ação (sujeito ativo);
✧ Ação ou omissão (conduta);
✧ Resultado;
✧ Nexo causal e imputação objetiva.
Tipo subjetivo:
● Abrange todos os aspectos subjetivos do tipo de conduta proibida que, concretamente,
produzem o tipo subjetivo.
● Elemento geral: dolo.
✧ Dolo: é a consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal.
Vontade de realizar o tipo objetivo, orientada pelo conhecimento de suas elementares no
caso concreto.
✧ Elementos do dolo:
☉ Cognitivo: conhecimento/consciência do fato constitutivo da ação típica.
☓ Consciência atual (deve estar presente no momento da ação, quando ela está
sendo realizada).
☓ Previsão.
☉ Volitivo: vontade de realizá-lo.
☓ Vontade deve abranger a ação/omissão, o resultado e o nexo causal → pressupõe
a possibilidade de influir no curso causal.
✧ Teorias do dolo:
☉ Teoria da vontade ou do consentimento: dolo é a vontade dirigida ao resultado.
☉ Teoria da representação: para a existência do dolo é suficiente a representação
subjetiva ou a previsão do resultado como certo ou provável.
✧ Espécies de dolo:
☉ Direito/imediato: o agente quer o resultado representado como fim de sua ação. A
vontade do agente é dirigida à realização do fato típico. Compõe-se de três aspectos:
☓ Representação do resultado, dos meios necessários e das consequências
secundárias;
☓ Querer a ação, o resultado, bem como os meios escolhidos para a sua consecução;
☓ Anuir na realização das consequências previstas como certas, necessárias ou
possíveis, decorrentes do uso dos meios escolhidos para atingir o fim proposto ou
da forma de utilização desses meios.
☉ Eventual: quando o agente não quis diretamente a realização do tipo, mas aceitou ela
como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do resultado
● Elementos especiais (acompanham o dolo): intenções ou tendências.
Cecília Sena - Teoria Geral do Direito Penal I - 2022/1 - Prof. Pedro Ivo de Souza
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crime culposo
● Culpa: inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta produtora de um
resultado não querido, mas objetivamente previsível.
● No injusto culposo, pune-se a conduta mal dirigida, normalmente destinada a um fim
penalmente irrelevante.
● Núcleo do tipo de injusto culposo: divergência entre a ação efetivamente praticada e a que devia
realmente ter sido realizada, em virtude da observância do dever objetivo de cuidado.
● Tipicidade do crime culposo: decorre da realização de uma conduta não diligente, isto é,
descuidada, causadora de uma lesão ou de perigo concreto a um bem jurídico penalmente
protegido.
Elementos do tipo de injusto culposo:
● Inobservância do cuidado objetivo devido;
● Produção de um resultado e nexocausal;
● Previsibilidade objetiva do resultado;
● Conexão entre desvalor da ação e desvalor do resultado: o resultado decorre exatamente da
inobservância do cuidado devido.
Modalidades de culpa:
● Imprudência: prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter comissivo.
● Negligência: displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do agente, que, podendo
adotar as cautelas necessárias, não o faz.
● Imperícia: falta de capacidade, de aptidão, despreparo ou insuficiência de conhecimentos
técnicos para o exercício de arte, profissão ou ofício.
Espécies de culpa:
● Obs: o Código Penal brasileito não distingue culpa consciente e culpa inconsciente para o fim
de dar-lhes tratamento diverso.
● Culpa consciente: quando o agente conhece a perigosidade da sua conduta, representa a
produção do resultado típico possível (previsibilidade), mas age deixando de observar a
diligência a que estava obrigado, porque confia convictamente que ele não ocorrerá.
● Culpa inconsciente: apesar da possibilidade de previsibilidade ex ante, não há a previsão por
descuido, desatenção ou simples desinteresse do autor da conduta perigosa. O sujeito atua sem
se dar conta de que sua conduta é perigosa, e de que desatende aos cuidados necessários para
evitar a produção do resultado típico, por puro desleixo e desatenção.
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● Culpa imprópria: é aquela que decorre do erro vencível sobre a legitimidade da ação realizada
(a conduta não é inicialmente culposa, mas sim dolosa).
● Culpa própria: culpa tradicional, decorrente diretamente do descumprimento das regras.
Dolo eventual X Culpa consciente:
● Dolo eventual: há previsão do risco e aceita-se a possibilidade de este resultado ocorrer.
● Culpa consciente: há previsão do possível resultado, mas não se consente, acredita-se que ele
não ocorrerá.
Concorrência e compensação de culpas;
● Concorrência de culpas; quando dois indivíduos, um ignorando a participação do outro,
concorrem, culposamente, para a produção de um fato definido como crime. Havendo
concorrência de culpas, os agentes respondem, isoladamente, pelo resultado produzido.
● Compensação de culpas: não se admite compensação de culpa em Direito Penal, ou seja,
eventual culpa da vítima não exclui a do agente; elas não se compensam.
Crime preterdoloso e crime qualificado pelo resultado:
● Qualificado pelo resultado: crime que, em decorrência do resultado, a pena se qualifica
(aumenta). Pode ser dolo + dolo ou dolo + culpa.
● Preterdoloso: espécie de crime qualificado pelo resultado. Crime cujo resultado vai além da
intenção do agente, a ação voluntária inicia dolosamente e termina culposamente, porque, afinal,
o resultado efetivamente produzido estava fora da abrangência do dolo.
iter criminis
● É o itinerário percorrido pelo crime, desde o momento da concepção até aquele em que ocorre a
consumação. Compõem-se de uma fase interna (cogitação) e de uma fase externa (atos
preparatórios, executórios e consumação).
● Problema: determinar exatamente em que ponto o agente penetra propriamente no campo da
ilicitude.
Fase interna - Cogitatio:
● É a elaboração mental da resolução criminosa que começa a ganhar forma, debatendo-se entre
os motivos favoráveis e desfavoráveis e desenvolve-se até a deliberação e propósito final.
● Nesse momento puramente de elaboração mental do fato criminoso, a lei penal não pode
alcançá-lo. O pensamento, in abstracto, não constitui crime.
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Fase externa:
● Atos preparatórios:
✧ É a preparação da ação delituosa.
✧ São externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva (ex: armar-se dos
instrumentos necessários à prática da infração penal, procurar o local adequado ou a hora
mais favorável para a realização do crime).
✧ Em regra, não são puníveis, uma vez que o CP exige o início da execução (art. 31;
falta-lhes a tipicidade, em geral, também a antijuridicidade, características essenciais de
todo fato punível; existem exceções à essa impunibilidade, como o exemplo do art. 219,
pois o legislador transformou o ato preparatório em tipos penais especiais).
● Atos executórios:
✧ São aqueles que se dirigem diretamente à prática do crime.
✧ Problema: crime tentado → qual o critério diferenciador seguro entre ato preparatório e
ato executório.
● Consumação: momento culminante da conduta delituosa, ocorre quando, no crime, "se reúnem
todos os elementos de sua definição legal" (art. 14, I).
crime consumado
● Consuma-se o crime quando o tipo está inteiramente realizado, ou seja, quando o fato concreto
se subsume no tipo abstrato da lei penal (art. 14, I).
Crimes Como se dá a consumação
Materiais Ocorre com a produção do resultado de dano ou de perigo descrito no tipo
penal.
Culposos Prática de uma conduta perigosa com a inobservância do dever objetivo de
cuidado em que o resultado típico se realiza.
Formais e de mera
conduta
Ocorre com a própria ação
Habituais Quando houver a reiteração de atos, com habitualidade.
Permanentes Se protrai no tempo, desde o instante em que nele se reúnem os seus
elementos até que cesse o comportamento do agente.
Omissivos próprios Ocorre no local e no momento em que o sujeito ativo deveria agir e não o
fez.
Omissivos impróprios Ocorre com o resultado de dano ou perigo e não com a simples inatividade
do agente.
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crime tentado
Tentativa:
● Realização incompleta do tipo penal. Há a prática de ato de execução, mas o sujeito não chega à
consumação por circunstâncias independentes de sua vontade. É um tipo penal ampliado, cuja
punibilidade depende da conjugação do dispositivo que a define (art. 14, II) com o tipo penal
incriminador violado.
● Elementos da tentativa:
✧ Início da execução.
✧ Não consumação do crime por circunstâncias independentes da vontade do agente.
✧ Dolo em relação ao crime total.
● Espécies de tentativas:
✧ Tentativa imperfeita: quando o agente não consegue praticar todos os atos executórios
necessários à consumação, por interferência externa.
✧ Tentativa perfeita: quando o agente realiza todo o necessário para obter o resultado
desejado, mas mesmo assim não o atinge.
● Punibilidade da tentativa:
✧ Teoria subjetiva: fundamenta a punibilidade da tentativa na vontade do autor contrária ao
direito. Desde que a vontade criminosa se manifeste nos atos de execução do fato punível, a
punibilidade estará justificada.
✧ Teoria objetiva: fundamenta a punibilidade da tentativa no perigo a que é exposto o bem
jurídico, e a repressão se justifica uma vez iniciada a execução do crime.
● Infrações que não admitem tentativa: crimes culposos, crimes preterdolosos, crimes omissivos
próprios, crimes unissubsistentes, crimes habituais e crimes de atentado.
desistência voluntária
● Art. 15.
● Tentativa abandonada: o agente que inicia a realização da uma conduta típica que,
voluntariamente, interrompe a sua execução.
● É impunível → interesse que tem o Estado em estimular a não consumação do crime,
oferecendo ao agente a oportunidade de sair da situação que criara sem ser punido.
● Desistência voluntária X espontânea: desistência sem coação moral ou física, mesmo que a
ideia inicial tenha partido de outrem, ou mesmo resultado de pedido da própria vítima X quando
a ideia inicial parte do próprio agente → Não é necessário que a desistência seja espontânea,
basta que seja voluntária.
● (Em tese) só é possível na tentativa imperfeita.
● O agente responderá pelos atos já praticados que, de per si, constituírem crimes.
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arrependimento eficaz
● Art. 15.
● O agente, após ter esgotado todos os meios de que dispunha, arrepende-se e evita que o
resultado aconteça, praticando nova atividade para evitá-lo.
● Não é necessárioque seja espontâneo, basta que seja voluntário.
● O êxito da atividade impeditiva do resultado é indispensável → se o agente não conseguir
impedir o resultado, por mais que tenha se arrependido, responderá pelo crime consumado,
podendo, eventualmente, beneficiar-se de uma atenuante genérica pelo arrependimento.
● O agente responderá pelos atos já praticados que, de per si, constituírem crimes.
arrependimento posterior
● Art. 16: nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
✧ É causa de diminuição de pena objetiva.
✧ Requisitos: voluntário, realizado antes do recebimento da denúncia, crime sem
violência/ameaça.
✧ Arrependimento posterior ≠ reparação do dano.
crime impossível
● Art. 17.
● Crime impossível/tentativa inidônea: após a prática do fato, constata-se que o agente jamais
conseguiria consumar o crime, quer pela ineficácia absoluta do meio empregado, quer pela
absoluta impropriedade do objeto visado pela ação executiva.
● Espécies de crime impossível:
✧ Por ineficácia absoluta do meio empregado: agente que aciona o gatilho, mas a arma
encontra-se descarregada.
✧ Por absoluta impropriedade do objeto: manobras abortivas em mulher que não está grávida.
● Teorias sobre a punibilidade do crime impossível:
✧ Teoria subjetiva: decisividade da intenção do agente → o autor de um crime impossível
deve sofrer a mesma pena da tentativa.
✧ Teoria objetiva: a punibilidade do crime é justificada pelo perigo objetivo representado,
como não há perigo objetivo (não há idoneidade do meio nem propriedade do objeto) não
se pode falar em tentativa punível. Teoria adotada pelo CP.
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✧ Teoria sintomática: busca examinar se a realização da conduta do agente é a revelação de
sua periculosidade.
ilicitude ou antijuridicidade
● Antijuridicidade: qualificação (juízo sobre o acontecer, caracterização negativa do fato) de uma
conduta praticada; a conduta não é aprovada pela sociedade; desvalor atribuído a uma conduta.
Terminologia:
Injusto É a forma de conduta antijurídica propriamente.
Fato típico + antijuridicidade.
Antijuridicidade Qualidade da forma de conduta, a contradição em que ela se encontra com o
ordenamento jurídico.
Antinormatividade
A realização da conduta descrita no tipo de uma norma proibitiva caracteriza
uma contradição do a exigência da norma, originando a antinormatividade.
Obs: uma conduta pode ser antinormativa, mas não ser antijurídica, por estar,
excepcionalmente, autorizada (causas de justificação).
Ilicitude
Sinônimo de antijuridicidade.
Terminologia utilizada pelo CP (1940), que foi substituída por
antijuridicidade na Reforma Penal de 1984.
Concepções da antijuridicidade:
Dualista
Formal Contradição da ação com o mandamento ou proibição da norma.
Confunde-se com a tipicidade. Avaliação objetiva.
Material
Ofensa produzida pelo comportamento humano ao interesse
jurídico protegido. Avaliação subjetiva (graduação do injusto e
possibilidade de admitir a existência de causas supralegais de
justificação).
Unitária
Corrente majoritária, vê a distinção formal X material como desnecessária.
Análise formal da antijuridicidade centrada na afirmação do fato típico,
concentrando-se na concepção do desvalor da ação e do resultado, sob o ponto de
vista material.
Classificação da antijuridicidade:
Genérica
Aquela que se encontra fora do tipo penal trabalhado, pois a redação típica
apenas prevê determinada conduta sem mencionar o caráter antinormativo
que, todavia, deve ser interpretado pelo aplicador da lei.
Específica O tipo narra o modo pelo qual a conduta afronta o ordenamento.
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Penal Ilicitude no Direito Penal (que se estende aos demais ramos do Direito).
Extrapenal Ilicitude fora do Direito Penal.
Desvalor:
● Do resultado: reside na ofensa ao bem jurídico, que não esteja permitida por uma causa de
justificação.
● Da ação: situa-se na forma ou modalidade de concretizar a ofensa.
Causas de justificação:
● Sistematização das causas de justificação → necessidade de solucionar situações de conflito
entre o bem jurídico atacado pela conduta típica e outros interesses que o ordenamento jurídico
também considera valiosos e dignos de proteção.
● Art. 23: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e exercício
regular do direito.
● Causas supralegais: o CP omite-se em relação à existência delas, mas elas são admitidas pela
doutrina e pela jurisprudência, tendo em vista o caráter fragmentário do Direito Penal.
✧ Consentimento do ofendido: manifestação livre, indivíduo capaz, bem jurídico disponível e
limitação do fato típico.
● Estado de necessidade.
✧ Art. 24.
✧ Colisão de bens jurídicos de distinto valor, devendo um deles ser sacrificado em prol da
preservação daquele que é reputado como mais valioso.
✧ Requisitos: existência de perigo atual e inevitável a um bem jurídico; não provocação
voluntária do perigo; inevitabilidade do perigo por outro meio; inexigibilidade de sacrifício
do bem ameaçado.
✧ O estado de necessidade não pode ser alegado por aqueles que tinham o dever legal de
enfrentar o perigo (art. 24, § 1o).
● Legítima defesa:
✧ Art. 25.
✧ Fundamento: necessidade de defender bens jurídicos perante uma agressão injusta e dever
de defender o próprio ordenamento jurídico, que se vê afetado ante uma agressão ilegítima.
✧ Requisitos: agressão injusta atual ou iminente e meios necessários usados moderadamente.
✧ Legítima defesa sucessiva X Legítima defesa recíproca.
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estado de necessidade X legítima defesa
Conflito de interesses legítimos, a sobrevivência
de um significa o perecimento do outro
Interesses lícitos versus interesses ilícitos
Preservação do interesse através do ataque ao
bem jurídico de um terceiro inocente
Preservação do interesse ameaçado através de
defesa dirigida contra o autor da agressão
Ação Reação
● Estrito cumprimento de dever legal:
✧ Quem pratica uma ação em cumprimento de um dever imposto por lei não comete crime.
● Exercício regular de direito:
✧ O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao mesmo tempo, proibido pela
ordem jurídica.
culpabilidade
● Triplo sentido:
✧ Elemento do crime/fundamento da pena.
✧ Elemento da determinação ou medição da pena.
✧ Conceito contrário à responsabilidade objetiva.
Teoria Normativa Pura da culpabilidade:
● Contribuições da Teoria finalista: extração do âmbito da culpabilidade todos os elementos
subjetivos (dolo e culpa passam a ser elementos do injusto) → na culpabilidade concentram-se
somente aquelas circunstâncias que condicionam a reprovabilidade da conduta contrária ao
Direito.
● Culpabilidade: é a reprovação pessoal que se faz contra o autor pela realização de um fato
contrário ao Direito, embora houvesse podido atuar de modo diferente de como o fez.
Resume-se a: imputabilidade, consciência pessoal da ilicitude e exigibilidade de conduta
conforme ao Direito.
✧ Imputabilidade: capacidade de ser imputável/culpável. A capacidade pode ser determinada
por três sistemas: 1) biológico (critério objetivo; idade); 2) psicológico (capacidades
psicológicas, entendimento); 3) biopsicológico (sistema utilizado no Brasil; arts. 26 e 27).
✧ Consciência pessoal da ilicitude: para que uma ação contrária ao Direito possa ser
reprovada ao autor, será necessário que conheça ou possa conhecer as circunstâncias que
pertencem ao tipo e à ilicitude.
✧ Exigibilidade de conduta conforme ao Direito.
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Excludentes da culpabilidade:
● Inimputabilidade (arts. 26 e 27): o agente não apresenta condições de normalidadee maturidade
psíquicas mínimas para que possa ser considerado como um sujeito capaz de ser motivado pelos
mandados e proibições normativas.
✧ Menores de 18 anos.
✧ Incapacidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
● Coação moral irresistível (art. 22): grave ameaça; vontade viciada, não é livremente formada
pelo agente.
✧ Obs: a coação física exclui a própria ação, não havendo, consequentemente conduta típica.
Já a coação moral apenas afasta a culpabilidade.
● Obediência hierárquica (art. 22): requer relação de direito público; em virtude da subordinação
hierárquica, o subordinado cumpre ordem do superior, desde que essa ordem não seja
manifestamente ilegal, podendo, no entanto, ser apenas ilegal.
● Emoção e paixão:
✧ Emoção: viva excitação do sentimento; forte e transitória perturbação da afetividade a que
estão ligadas certas variações somáticas ou modificações particulares das funções da vida
orgânica.
✧ Paixão: emoção em estado crônico, perdurando como um sentimento profundo e
monopolizante.
✧ Não são excludentes de culpabilidade (art. 28, I), podendo apenas atenuá-la, com a
correspondente redução de pena.
✧ Os estados emocionais passionais só poderão servir como modificadores da culpabilidade
se forem sintomas de uma doença mental (estados emocionais patológicos). Nesse caso não
se trata mais de emoção e paixão, mas sim de anormalidades psíquicas, contempladas pelo
art. 26.
● Embriaguez:
✧ Voluntária/culposa: não é excludente (art. 28, II).
✧ Acidental: é excludente de culpabilidade, caso seja completa (art. 28, § 1o). Se for
incompleta, é caso de diminuição da imputabilidade (§ 2o).
☉ Por caso fortuito: ocorre quando o agente ignora a natureza tóxica do que está
ingerindo, ou não tem condições de prever que determinada substância, na quantidade
ingerida, ou nas circunstâncias que o faz, poderá provocar embriaguez.
☉ Por força maior: independe do controle do agente.
✧ Preordenada: é aquela em que o agente deliberadamente se embriaga para praticar a
conduta delituosa, não é excludente e é agravante de pena.
✧ Patológica: é tratada, juridicamente, como doença mental, nos termos do art. 26 e seu
parágrafo único. É fator de inimputabilidade ou semi-imputabilidade.
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● Erro de proibição:
✧ Quando inevitável, excludente de culpabilidade.
✧ Quando evitável, redução de pena.
● Caso fortuito e força maior:
✧ Força maior: a punibilidade é afastada diante da impossibilidade de evitar-se o resultado
danoso, embora previsível.
✧ Caso fortuito: imprevisibilidade do resultado danoso, embora evitável.
✧ São excludentes.
erro
Erro de tipo:
● É a falsa percepção da realidade sobre um elemento do crime (art. 20).
● Espécies de erro de tipo:
✧ Vencível/evitável: exclui-se o dolo, mas o indivíduo ainda pode ser punido pelo crime
culposo se houver previsão de crime culposo para a conduta.
✧ Invencível/inevitável: exclui-se a tipicidade da conduta, excluindo-se o dolo e a culpa.
● Erro determinado por terceiro: "responde pelo crime o terceiro que determina o erro" (art. 20, §
2o).
● Erro de tipo acidental:
✧ Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3o).
✧ Erro sobre o objeto.
✧ Erro sobre o nexo causal.
✧ Erro na execução (art. 73).
✧ Resultado diverso do pretendido (art. 74).
Erro de proibição:
● O agente supõe, erroneamente, que sua conduta é lícita, quando, na verdade, é ilícita (art. 21).
● Espécies:
✧ Escusável: isenta de pena.
✧ Inescusável: diminuição da pena.
● Modalidades:
✧ Direto: ocorre quando o agente se engana a respeito de uma norma proibitiva, praticando
crime comissivo.
✧ Indireto: o agente desconhece a ilicitude em razão de suposição errônea da existência de
uma causa de justificação.
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✧ Mandamental: se dá nas hipóteses de crimes omissivos, em que o erro refere-se a uma
norma mandamental.
concurso de pessoas:
● É a colaboração empreendida por duas ou mais pessoas na prática de uma infração penal. O
concurso de pessoas distingue-se em:
✧ Concurso eventual: há a possibilidade de que o crime seja praticado por apenas uma
pessoa.
✧ Concurso necessário: para a prática do crime é obrigatório que se tenha mais de uma
pessoa praticando-o.
Requisitos do concurso de pessoas:
● Pluralidade de agentes culpáveis.
● Relevância causal das condutas para a produção do resultado.
● Vínculo subjetivo.
● Unidade da infração penal.
● Existência de fato punível.
Teorias sobre a autoria de um crime:
Subjetiva Qualquer pessoa envolvida na prática de um crime é autora do crime, de
modo que todos os envolvidos são punidos da mesma forma.
Extensiva Qualquer pessoa envolvida na prática do crime é autora, mas há
diferenciação quanto à punição que cada um recebe.
Objetiva dualista
Objetivo-formal: autor é quem pratica o núcleo do tipo penal, os demais
são partícipes.
Objetivo-material: o critério de distinção entre autor e partícipe está na
relevância da conduta praticada, envolvimento com relevância para a
consumação do crime.
Domínio do fato: autor é o responsável por agir efetivamente para a
consumação do crime, é aquele que detém o domínio para o
acontecimento da ação.
Punibilidade no concurso de pessoas:
● Art. 29: a punição se dá de acordo com a culpabilidade, possibilitando que as penas para um
mesmo crime sejam distintas entre os participantes deste, conforme a "quantidade de culpa" de
cada um.
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● Participação de menor importância: causa de diminuição de pena (§ 1o).
● Participação impunível: "o ajuste, a determinação ou a instigação e o auxílio, salvo disposição
expressa em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado'' (art.
31).
● Cooperação dolosamente distinta: se um dos participantes quis participar de um crime menos
grave do que aquele que foi o efetivamente consumado, ele será punido pelo crime menos grave
(§ 2o do art. 29).
● Circunstâncias incomunicáveis: "não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime" (art. 30).
Teorias sobre a punição
Acessoriedade mínima Fato típico
Acessoriedade limitada Fato típico + antijurídico
Acessoriedade máxima Fato típico + antijurídico + culpável
Hiperacessoriedade Fato típico + antijurídico + culpável + punível
Modalidades de concurso de pessoas:
● Coautoria:
✧ Direta: soma explícita de vontades e de condutas.
✧ Indireta: não há acordo entre os coautores, somente somam-se as condutas.
● Participação:
✧ Moral: indução ou instigação.
✧ Material: auxílio.
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Bibliografia
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. v. 1. 28a Ed. São Pualo: Saraiva, 2022.
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