Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOCÊNCIA EM SAÚDE PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP:79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842p Princípios da educação alimentar / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 144p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-66104-02-8 1. Educação nutricional. 2. Cultura alimentar. 3. Alimentação – Qualidade de vida. I. Portal Educação. II. Título. CDD 612.3 2 SUMÁRIO 1 A CULTURA ALIMENTAR ....................................................................................................................... 4 2 AS DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS ...................................................................................................... 7 3 OS FATORES CAUSADORES DAS DOENÇAS INFECCIOSAS .......................................................... 12 4 AS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) .............................................................. 13 4.1 Obesidade .............................................................................................................................................. 14 4.2 Diabetes .................................................................................................................................................. 16 4.3 Osteoporose .......................................................................................................................................... 17 4.4 Doença Arterial Coronariana ................................................................................................................ 19 4.5 Câncer .................................................................................................................................................... 21 4.6 Hipertensão arterial ............................................................................................................................... 21 5 O CONSUMO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS E O FUMO .................................................................... 25 5.1 O Consumo de Bebidas Alcoólicas ..................................................................................................... 25 5.2 O consumo do fumo .............................................................................................................................. 28 6 OS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR .................................................................................... 30 7 ASPECTOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL .......................................................................................... 33 8 O ALEITAMENTO MATERNO ................................................................................................................ 35 9 A ALIMENTAÇÃO DO ESCOLAR .......................................................................................................... 38 10 O BALANÇO ENERGÉTICO .................................................................................................................. 42 11 A IDENTIFICAÇÃO DA MASSA CORPORAL X IMC ............................................................................ 46 12 QUANTIDADE DE ALIMENTOS X QUALIDADE ................................................................................... 49 13 A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL .............................................................................................................. 52 14 OS NUTRIENTES INDISPENSÁVEIS .................................................................................................... 54 3 14.1 Os Carboidratos Complexos, os Simples e as Fibras ........................................................................ 54 14.2 As Proteínas ........................................................................................................................................... 61 14.3 As Gorduras ........................................................................................................................................... 66 14.4 As Vitaminas .......................................................................................................................................... 75 14.5 Os sais Minerais .................................................................................................................................... 81 14.6 A Água .................................................................................................................................................... 85 15 A PIRÂMIDE ALIMENTAR ..................................................................................................................... 88 16 A PROMOÇÃO DA SAÚDE .................................................................................................................... 89 17 A ATIVIDADE FÍSICA ............................................................................................................................. 93 18 ASPECTOS HIGIÊNICO-SANITÁRIOS DOS ALIMENTOS ................................................................... 96 19 OS PRINCIPAIS AGENTES DE CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS ............................................... 102 20 OS PRINCÍPIOS HIGIÊNICOS PARA MANTER A QUALIDADE DOS ALIMENTOS (OMS) ............... 105 21 O MARKETING X CONSUMO DE ALIMENTOS .................................................................................. 108 22 A ROTULAGEM E AS INFORMAÇÕES NUTRICIONAIS NOS PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS ... 117 23 A RECOMENDAÇÃO CALÓRICA SEGUNDO OS GRUPOS DE ALIMENTOS ................................... 124 24 AS RECOMENDAÇÕES PARA A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL ......................................................... 126 ANEXO .............................................................................................................................................................. 137 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 142 4 1 A CULTURA ALIMENTAR O homem evoluiu e sofisticaram-se também seus hábitos alimentares. A história da alimentação do homem e a história sócio-política se complementam durante a sua evolução. Do homem das cavernas até o contemporâneo, a necessidade alimentar é um dos fatores básicos de sobrevivência, sendo também indispensável a uma qualidade de vida satisfatória. A alimentação é um tema de interesse e preocupação política em todo planeta. Garantir comida em quantidade e qualidade suficiente para todos os seres é um dos maiores desafios do homem. Acredita-se que na Pré-história o homem teria introduzido na sua rotina alimentar, determinados alimentos, observando outros animais a se alimentar. Sua dieta continha basicamente frutos e raízes selecionados através da sensação do sabor. O mel de abelhas e as frutas foram, provavelmente, suas “sobremesas”. Durante a era glacial, o homem passou a consumir carne crua de pequenos animais como ratos, coelhos, cobras, castores etc. Quando passou a se utilizar das armas como defesa e para a caça, dominou os animais de grandeporte e passou a utilizá-los na sua alimentação. Fazia parte também de sua alimentação, já nesta época, a pesca e o consumo dos ovos. Acredita-se que o homem conheceu o fogo através de tempestades de raios; com a sua dominação e controle para uso na cocção, surge o consumo dos alimentos assados e cozidos. A invenção dos utensílios de barro ou cerâmica, o encontro de novas culturas, de terras e de tribos proporcionou a realização de inúmeras experiências com alimentação, até chegar aos dias de hoje, quando o homem conta com uma ciência especializada no assunto: a Ciência da Nutrição e Alimentação. 5 O princípio do “alimento como referência” O ato de alimentar-se envolve diferentes aspectos que manifestam os valores culturais, os sociais, os afetivos e os sensoriais. Assim, as pessoas, diferentemente dos demais seres vivos, ao alimentar-se não buscam apenas suprir as suas necessidades orgânicas de nutrientes, mas de alimentos palpáveis, com cheiro, cores, textura e sabor que são expressos em termos de alimentos e bebidas que agradem ao paladar, mais do que em componentes nutricionais. As diretrizes para a saúde envolvem todos os grupos de alimentos que são importantes veículos em nutrientes essenciais e, portanto, visam à adoção de uma alimentação completa, adequada e saudável. Algumas dietas recomendam: O aumento do consumo de determinados grupos de alimentos; A manutenção dos níveis de consumo de diferentes produtos adequados às orientações para uma dieta saudável; A redução ou a moderação no consumo de alguns grupos de alimentos, baseadas em evidências científicas que revelam uma associação destes grupos com maior risco de doenças (açúcares, sal e gorduras, por exemplo); Os argumentos favoráveis às recomendações dietéticas baseadas em alimentos estão muito bem documentados na literatura científica. Vale citar o estudo dos chamados “alimentos funcionais” e a Ciência da Nutracêutica. 6 A preocupação para o homem hoje é comer, poucos se importam com a qualidade dos alimentos. Tal situação é causadora de inúmeros problemas de saúde e de doenças carênciais devido à ingestão exagerada de certos alimentos ou grupos de alimentos. 7 2 AS DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS No Brasil, a desnutrição na infância se expressa no baixo peso, no atraso do crescimento, no baixo desenvolvimento físico e intelectual, na maior vulnerabilidade às infecções, no maior risco para ocorrência de futuras doenças crônicas não-transmissíveis. Fator importante como problema de saúde pública, principalmente nas regiões Norte e Nordeste e em bolsões de pobreza em todas as demais cidades e regiões do País. As ações de saúde pública e as recomendações nutricionais determinadas por profissionais da área da saúde, continuam sendo os instrumentos para combater essa face da deficiência alimentar e nutricional no Brasil, levando em conta a composição familiar, a idade e o sexo, o hábito de utilizar-se de alimentos fontes de sais minerais como o cálcio, fósforo, ferro e de vitaminas que podem contribuir com o combate a carências de nutrientes na população. Avaliando o consumo individual, segundo o sexo dos indivíduos com idade maior de 18 anos, as pesquisas revelam que: 48,9% dos homens e 61,3% das mulheres têm consumo inadequado de cálcio; 4,8 e 12,6% de ferro, homens e mulheres respectivamente; 1,15% de mulheres mantêm consumo inadequado de vitamina A ou Retinol. Pesquisas também avaliaram o consumo individual de gordura, mostrando inadequação de consumo para gorduras saturadas: − Para homens = 51,6 %; − Para mulheres = 58,4 %; − Para Colesterol, 71% e 54,4% entre homens e mulheres dos valores de VET. O País não dispõe de informações recentes, de representatividade nacional, sobre carências de micronutrientes. Contudo, estudos disponíveis de abrangência local, realizados por 8 diferentes instituições em várias regiões geográficas, permitem avaliar com maior incidência as carências de: Vitamina A (hipovitaminose A): A deficiência de vitamina A, denominada Hipovitaminose A, afeta a visão, podendo causar cegueira irreversível. Além de comprometer a imunidade da criança, apresenta comprometimento na reposição dos tecidos epiteliais do organismo. Está associada a elevadas taxas de mortalidade infantil, causada pela ingestão insuficiente de alimentos de origem animal (carnes, ovos e laticínios) e de vegetais com coloração que varia das diferentes tonalidades de verdes, laranja, vermelho, que são fontes de pró- vitamina A (Retinol); A análise dos inquéritos bioquímicos disponíveis, sobre as concentrações séricas de Retinol, indica prevalências que variam entre 14,6% e 33% em menores de 5 anos, manifestando-se particularmente nas regiões e segmentos mais pobres da população do Brasil; O Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A (“Vitamina A Mais”), sob responsabilidade do Ministério da Saúde, objetiva prevenir e controlar essa deficiência nutricional mediante a suplementação com megadose de vitamina A, em crianças de 6 a 59 meses de idade (100.000UI e 200.000UI, respectivamente) com intervalo mínimo de quatro meses. Anemia Ferropriva por carência de ferro: O baixo consumo dos alimentos ricos em Ferro como as carnes e ovos, alimentos que apresentam a melhor qualidade de Ferro biodisponível ao organismo, causa esta 9 anemia. O mineral ferro é nutriente indispensável na formação da hemoglobina do sangue e no transporte do oxigênio até as células; é comum em gestantes, em mulheres na idade fértil e em crianças; no Brasil apontam prevalências de 15% a 50% entre crianças e, entre gestantes, de 30% a 40%. O déficit prolongado do consumo de ferro na alimentação produz uma carência específica que pela sua origem é chamada anemia ferropriva ou nutricional. A etiopatogenia das anemias nutricionais pode estar relacionada a outras deficiências como proteína, folatos, vitaminas C, B12 e calorias bem como ao excesso de fitatos, oxalatos na alimentação e ainda a variações individuais e ecológicas. A causa básica das anemias nutricionais é a deficiência no consumo de ferro através da dieta para formação de hemoglobina, associada à baixa cobertura do saneamento ambiental. Desta forma, a infestação de parasitoses intestinais pode reduzir em até 20% do ferro ingerido na dieta. Em todas as circunstâncias de ordem fisiológica ou social, a causa orgânica imediata é a deficiência de ferro circulante para formação de hemoglobina. A anemia Ferropriva representa, em termos de magnitude, um sério problema carencial do País. Os distúrbios por carência de Iodo: A deficiência de iodo causa uma série de problemas, denominados distúrbios por deficiência de iodo – DDI -, tendo como manifestações clínicas mais evidentes o Bócio (“papeira”), com o aumento da glândula Tireóide (localizada da base frontal do pescoço); 10 O Cretinismo: alterações neurológicas irreversíveis que acometem crianças geradas por mulheres com deficiência extrema de iodo e que incluem retardamento mental, surdo-mudez e alterações motoras; Segundo os dados nacionais mais recentes, o Brasil conseguiu obter sucesso no controle e na prevenção dos DDI. A taxa de prevalência está abaixo dos níveis estabelecidos internacionalmente como aceitáveis (5%) em âmbito nacional; Mantêm-se em alguns locais, especialmente zonas rurais, onde o consumo de sal para animal, que não contém Iodo, é prática comum entre as famílias residentes. A carência de Ácido Fólico: Provoca um tipo específico de anemia, está associada à má formação do tubo neural na fase do crescimento intra-uterino, quando as crianças são geradas pormulheres com aporte inadequado desse nutriente; o Considerando essas evidências, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo estratégias para o controle e a prevenção destas deficiências nutricionais, com a implantação da fortificação de alimentos como as farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico. A publicação da Resolução Anvisa RDC n.º 344, de 13 de dezembro de 2002, em vigor desde junho de 2004, estabelece que: Cada 100g do produto deve fornecer 4,2 mg de ferro, que representa 30% da ingestão diária recomendada (IDR) de adulto (14mg) e 150mcg de ácido fólico, o que representa 37% da IDR de adulto (400mcg). As farinhas de trigo e de milho devem ser designadas usando o nome convencional do produto de acordo com a legislação específica, seguida de uma das seguintes expressões: ‘’ Fortificada com ferro e ácido fólico, enriquecida com ferro e ácido fólico ou rica em ferro e ácido fólico’’. As recomendações alimentares não conseguem resolver, por si só, a desnutrição infantil e as carências nutricionais, pois seus determinantes incluem também outras causas relacionadas à pobreza, à desigualdade social, ao acesso a serviço de saneamento básico, mas devem ter assegurado o abastecimento alimentar seguro, adequado e variado e dietas nutritivas, 11 conforme determina a OMS: “Direito básico à alimentação” - que são fatores determinantes para a saúde. As pessoas em risco maior de desenvolver essas carências são gestantes, as nutrizes (mulheres que estão amamentando), os adolescentes, as crianças menores de 5 anos, com ênfase entre as de 6 meses e 2 anos de idade, crianças que não são amamentadas adequadamente, idosos e doentes de modo geral. 12 3 OS FATORES CAUSADORES DAS DOENÇAS INFECCIOSAS: As infecções respiratórias e as doenças diarréicas são agravadas pela deficiência nutricional durante a vida e, principalmente, nas fases de crescimento como na infância e durante a adolescência. Torna-se importante que as recomendações dietéticas sejam divulgadas e entendidas como instrumentos de prevenção, porque reforçam a resistência do organismo contra estas infecções muitas vezes causadoras de morte e morbidade em várias regiões do mundo. O número absoluto e relativo de mortes por doenças infecciosas vem declinando no Brasil. Contudo, as doenças diarréicas e as doenças respiratórias agudas – cuja melhor proteção consiste no aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses da vida da criança, seguida por alimentação complementar oportuna e apropriada – permanecem como causas importantes de morte entre crianças no Brasil, nas regiões Norte e Nordeste e bolsões de pobreza nas demais regiões. 13 4 DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) As DCNT variam quanto à gravidade: algumas são debilitantes, outras incapacitantes e algumas letais. Afetam muitos sistemas do corpo humano e incluem desde cárie dentária, obesidade, diabetes, hipertensão arterial, acidentes cerebrovasculares, osteoporose e câncer de muitos órgãos, bem como doenças coronarianas. Pesquisas recentes mostram que é possível, viável e necessária uma abordagem dietética comum direcionada à prevenção das DCNT mais comuns. O Brasil, ao lado da maioria dos países da América Latina, da África e da Ásia, se depara com as novas epidemias de obesidade, diabetes, osteoporose, doenças cardíacas e câncer do pulmão, do cólon e do reto, da mama, da próstata e outros. Este peso multiplicado das doenças está sujeito a se tornar ainda pior à medida que a população brasileira aumenta e envelhece. Não pode ser abordado apenas com tratamentos médicos e cirúrgicos, apesar de serem de importância vital, mas com tratamentos de prevenção introduzidos nas escolas e grupos da comunidade como a Educação Alimentar. Mesmo em países de maior renda, o custo do tratamento das doenças crônicas não- transmissíveis constitui um enorme encargo social e econômico. Os modelos de cuidados de saúde, desenvolvidos principalmente pelos países de renda mais elevada, referem-se quase que exclusivamente a intervenções profissionais na área de saúde, tais como: triagem em massa, tratamentos médicos e cirúrgicos disponíveis e cuidados paliativos, associados à recomendação de mudanças comportamentais e nos modos de vida adotados pelos indivíduos. Poucos trabalham com programas de educação alimentar porque alteram os padrões dos hábitos comportamentais de determinados grupos populacionais associados aos costumes alimentares e à produção regional dos alimentos. No Brasil, quer pelas suas dimensões continentais, quer pela ampla diversidade social, econômica e cultural. A abordagem de tal complexidade epidemiológica deve estar 14 fundamentada na promoção da saúde e na constituição de ambientes e contextos promotores de conscientização de que as práticas de alimentação saudável possibilitem e garantam, a todo e qualquer cidadão, condições de receber as informações necessárias para a adoção de modos de vida saudável que levem à mudança dos padrões alimentares adotados como hábito. Evitando-se a proliferação certas doenças como a: 4.1 Obesidade: Atualmente atinge grande parte da população dos países desenvolvidos. No Brasil calcula-se que 32,4 % da população adulta apresentam sobrepeso, sendo que 4,8 % dos homens e 11,7% das mulheres têm obesidade grave. Das causas de morte, 30% estão associadas a doenças do aparelho circulatório, em pessoas obesas; O mais recente inquérito nacional que permite estimar as prevalências do excesso de peso e da obesidade no Brasil é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2002-2003, pelo IBGE e Ministério da Saúde; A prevalência do excesso de peso e da obesidade na população adulta brasileira, apurada pela POF 2002-2003, revela que esses agravos alcançam grande expressão em todas as regiões do País, no meio urbano e rural e em todas as classes sociais; A Obesidade, caracterizada por IMC igual ou superior a 30kg/m2, afeta 8,9% dos homens adultos e 13,1% das mulheres adultas do País; Obesos representam cerca de 20% do total de homens com excesso de peso e cerca de um terço do total de mulheres com excesso de peso; Ainda assim as mulheres apresentam prevalência de obesidade superior aos homens. Os dados da POF-2002 indicam ainda a ocorrência de obesidade, tanto em áreas urbanas quanto nas rurais, como também nas diferentes regiões do País; Essas tendências de excesso de peso e obesidade na população adulta brasileira vêm comprovar a gravidade e a magnitude que o problema assumiu no Brasil; 15 Dados mais recentes, oriundos de estudos localizados, também referem tendências de crescimento da obesidade e do sobrepeso na população mais jovem. Entre escolares de 7 a 10 anos, foram observadas taxas de sobrepeso de 15,7% e de 18% de obesidade; Foram encontradas prevalências de obesidade de 16,9% e de 14,3% entre meninos e meninas de escolas públicas, respectivamente; Em escolas particulares, as taxas de obesidade foram de 29,8% em meninos e 20,3% em meninas. Medidas da circunferência abdominal na avaliação da obesidade O modo como a gordura se distribui pelo corpo pode determinar diferentes riscos para a saúde, sendo este risco diferente se ela se acumula na metade superior do corpo, profundamente no abdômen ou na metade inferior do corpo. Na prática, e tomando o umbigo como referência, se a gordura predomina acima dele, temos a obesidade superior, ou obesidade andróide (em forma de maçã); se a gordura predominar abaixo dele, ou seja, na metade inferior do corpo, temos a obesidade ginóide, ou em forma de pêra. Uma das maneiras de estimar o risco que a distribuição de gordura podeocasionar é utilizar a relação cintura/quadril ou a medida da circunferência da cintura abdominal. Do ponto de vista prático, uma relação cintura/quadril inferior a 1.0 para os homens e 0.85 para as mulheres pode ser aceita como excluída da área de risco. A medida da relação cintura/quadril se associa de forma independente com a aterosclerose existente, medida através do cálcio nas artérias coronarianas; O estudo conclui ainda que esta relação serve não apenas para predizer acidentes clínicos, mas para também saber da “carga aterosclerótica” que a pessoa possui, já que o risco de calcificação coronariana cresce em paralelo ao aumento da relação cintura/quadril. 16 Como Medir a Circunferência da cintura Mulheres com uma medida da cintura maior que 88 centímetros, ou homens com a medida da cintura maior que 100 centímetros, têm mais risco de sofrer enfermidades do que aqueles com menor medida de cintura, devido ao local de localização da gordura. Para medir a circunferência da cintura, coloque uma fita métrica em volta do seu abdômen nu, entre a última costela e o osso do quadril, na lateral do corpo. Certifique-se que a fita esteja justa mas não a ponto de comprimir sua pele, e esteja paralela ao solo. Meça a cintura. 4.2 Diabetes uma síndrome de etiologia múltipla ,decorrente da falta de insulina ou incapacidade da insulina exercer seus efeitos; − Caracteriza-se por hiperglicemia crônica, com distúrbios no metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas; − Configura problema de saúde pública no país com a mesma prevalência para ambos os sexos e freqüentemente associada a complicações que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos custos para o tratamento clinico; − Aumenta com o avançar da idade: 7,6% no indivíduos com 30-69 anos e chegando a 20% naqueles com mais de 70 anos. O meio clinico aponta como a 6ª doença mais comum de internação hospitalar e a 4ª causa de morte no mundo, sendo que 50% dos pacientes não sabem que têm a doença e 25% não se tratam, chegando a 8 milhões de pacientes (dados da Sociedade Brasileira de Diabetes/ Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); − A presença do Diabetes aumenta o risco das doenças cardiovasculares, além de ser a principal responsável por amputação de membros inferiores e cegueira adquirida. O bom 17 controle metabólico do índice glicêmico e da lipidemia previne ou retarda as complicações associadas à doença. − O Diabetes Mellitus tipo 1 resulta da destruição das células beta-pancreáticas com tendência à cetoacidose; inclui casos decorrentes de doença auto-imune e aqueles em que a causa da destruição das células não é conhecida; − O Diabetes Mellitus tipo 2 resulta de graus variáveis de resistência à insulina e deficiência relativa da secreção de insulina. A maioria dos pacientes tem excesso de peso e a cetoacidose ocorre em situações especiais, como nas infecções graves. 4.3 Osteoporose É uma doença causada pela perda da massa óssea, deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, com o conseqüente aumento do risco de fratura, em particular nas vértebras e femurais; O osso torna-se frágil e quebradiço sendo resultante da alteração na relação da formação/destruição do osso. As células ósseas ( osteoblastos, osteócitos e osteoclastos) exercem os fatores de construção dos ossos. A osteoporose é causada pela falta de vitamina D e pela carência de cálcio e fósforo na dieta ou causada pelo uso prolongado de certos medicamentos como os corticóides. O tecido ósseo é um tecido orgânico ativo: seu metabolismo envolve a fixação e a saída do cálcio dos ossos (reabsorção). Nas fases do crescimento orgânico os ossos estão sendo formados (infância e adolescência), a fixação do cálcio é maior do que a sua reabsorção. O ser humano atinge o pico de massa óssea por volta dos 25 anos de idade quando completa a formação desta estrutura física. A partir dessa idade, a velocidade de fixação do cálcio nos ossos diminui progressivamente. Se a quantidade de cálcio fixada é menor do que a reabsorvida, a massa óssea vai tornando-se menos densa, podendo ocasionar a osteoporose; A Osteoporose vem despontando nas últimas décadas devido ao aumento da longevidade do homem. Calcula-se que 1/3 das mulheres com mais de 50 anos apresentem risco de desenvolver osteoporose. . A doença é causada pela diminuição de estrógenos 18 (hormônio que auxilia a fixação do cálcio nos ossos) no período da menopausa das mulheres; pela falta de vitamina D e pela carência de cálcio e fósforo na dieta; O consumo excessivo de sódio é prejudicial, e pode levar ao aparecimento da osteoporose. Deve-se orientar para o consumo moderado de sal e evitar alimentos processados com alto teor de sódio; Controlar o consumo de carnes vermelhas, que contêm elevado teor de aminoácidos sulfurados relacionado ao risco de osteoporose; A osteoporose é uma doença que não tem cura, apenas controle, portanto medidas de prevenção devem ser feitas precocemente. A melhor prevenção é uma dieta adequada na infância e na adolescência, a fim de se garantir quantidade adequada de ingestão de cálcio, contribuindo para a boa formação do tecido ósseo. A manutenção da dieta saudável no decorrer da vida adulta, associada à prática de exercícios físicos e exposição solar são ações importantes; O leite é a melhor fonte de cálcio na alimentação; possui o cálcio que apresenta melhor biodisponibildade orgânica (absorção); No Brasil, há uma aparente tendência de redução no consumo de leite pela população. Isto é preocupante quando se observa que crianças e jovens vêm substituindo o consumo de leite por refrigerantes. Essa tendência apresenta reações negativas sobre a saúde óssea por dois caminhos: primeiro, a disponibilidade adequada de cálcio nas fases de crescimento e desenvolvimento pode ser comprometida e, segundo, as substâncias químicas contidas no refrigerante, e principalmente o açúcar, impedem a fixação do cálcio na matriz óssea. Nessas fases do curso da vida, ocorre um rápido crescimento dos tecidos muscular, esquelético e endócrino, aumentando a necessidade de se ingerir Cálcio. O hábito de consumir regularmente leite e derivados, associado à recomendação de exposição ao sol, observando os horários adequados e a prática de atividade física em quaisquer fases do curso da vida, devem ser estimulados pelos profissionais de saúde. 19 As necessidades recomendadas de Cálcio, ao dia, nas diferentes fases da vida: Crianças de 3 e de 4 a 8 anos necessitam 500mg e 800mg de cálcio. Pré-escolares (1 a 6 anos) e os escolares (7 a 14 anos) = 1.200 mg. Adolescentes de ambos os sexos = 1.300mg. Gestantes e nutrizes = 1.300mg. Adultos = 1.000mg. Idosos = 1.200mg. Quantidade ou volume de leite para atender estas exigências: 2 a 3 copos (400 ml a 600ml) de leite por dia. 4.4 Doença Arterial Coronariana: É reconhecida como uma das principais causas de morbidade e mortalidade nas sociedades ocidentais. A etiologia da doença vascular arterioclerótica é complexa e multifatorial. Existem fatores que contribuem para o seu desenvolvimento como a idade, sexo, hipertensão arterial, hereditariedade, diabetes, colesterol, obesidade , tabagismo e sedentarismo; Na prevenção enfatiza-se uma alimentação saudável com o consumo de frutas, hortaliças, cereais, grãos integrais, castanhas, nozes, carnes magras; Atualmente, as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 18 milhões de mortes anuais em todo o mundo. Dentre elas, a doença isquêmica do coração e as doenças cerebrovasculares responsabilizam-se por 2/3 das mortes e por mais de20% dos óbitos; No Brasil, na década de 30, as doenças infecciosas e parasitárias correspondiam, proporcionalmente, a 46% da mortalidade geral, enquanto que as cardiovasculares a 12%. Já os dados de 2001 mostram uma nítida reversão desses dados: enquanto as infecciosas e parasitárias respondem por 5 % de todas as causas de morte, as doenças cardiovasculares ascenderam a 31% ; 20 Segundo estimativas do Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares (DCV) corresponderam a 1/3 dos óbitos por causas conhecidas e 2/3 dos gastos com atenção à saúde em 2002; Elas tornaram-se uma das principais causas de morte, em conseqüência, entre outros fatores, das profundas transformações no abastecimento de alimentos e padrões alimentaresr, com o rápido aumento da produção e consumo das gorduras saturadas, que tornou as dietas mais calóricas, bem como a redução na atividade física cotidiana; O impacto econômico das doenças cardiovasculares no Brasil pode ser avaliado por meio das seguintes informações: esse grupo de doenças é responsável por 65% dos óbitos de adultos entre 30 e 69 anos de idade e causa de 14% das internações nessa faixa etária (1.150.000 internações/ano); é também responsável por 40% das aposentadorias precoce. Os 10 mandamentos do coração saudável: 1. Evite fumar; 2. Diga não à obesidade; 3. Faça exercícios regularmente; 4. Controle a pressão arterial; 5. Escolha bem os alimentos; 6. Controle o colesterol; 7. Reduza o stress do dia a dia; 8. Saiba se é diabético; 9. Não descuide do lazer; 10. Consulte seu médico periodicamente. 21 4.5 Câncer A prevalência de vários tipos de câncer, incluindo o do cólon, mama e próstata, aumentou expressivamente após a segunda metade do século XX, possível conseqüência das mudanças nos sistemas alimentares, padrões de trabalho, e stress. A desnutrição protéico-calórica é um problema comum nos pacientes de câncer. No Brasil, a incidência de câncer, que até a década de 60 matava menos de 5% dos brasileiros, aumentou e, no final dos anos 70, já era de cerca de 10%, quatro vezes maior do que a encontrada na década de 30. Este valor ( até 2003) é de 48,3% ( até 2003); O principal objetivo da terapia nutricional é fornecer calorias, proteínas e micronutrintes para melhorar o estado nutricional do paciente, o sistema imunológico, contribuindo para aumentar a capacidade de tolerância dos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos; Existem situações em que o paciente é incapaz de consumir as calorias suficientes, de forma voluntária, por apresentar sintomas de anorexia e limitações mecânicas, tendo dificuldades na alimentação oral. Estes pacientes requerem nutrição enteral via sonda; A preocupação no tratamento do paciente com câncer atinge a sua saúde funcional psicológica e social, contribuindo para melhorar a sua qualidade de vida. 4.6 Hipertensão arterial Hipertensão Arterial, O QUE É? − É quando a pressão que o sangue faz na parede das artérias para se movimentar é muito forte, ficando o valor igual ou maior que 140/90 mmHg ou 14 por 9. 22 A prevalência estimada de hipertensão no Brasil atualmente é de 35% da população acima de 40 anos. Isso representa em números absolutos um total de 17 milhões de portadores da doença. A hipertensão arterial está associada à origem de muitas DCNT e é, portanto, uma das causas mais importantes de redução da qualidade de vida e da expectativa de vida; Ela é responsável por complicações cardiovasculares, acidentes vasculares encefálicos (AVE), doenças coronarianas, renais e vasculares periféricas; A hipertensão arterial ou pressão alta, quando não tratada, é o principal fator de risco para derrames, doenças do coração, paralisação dos rins, lesões nas artérias, podendo também causar alterações na visão; A hipertensão tem como causa o consumo em excesso de sal ou alimentos muito salgados; o O nome químico do sal de cozinha é cloreto de sódio. O sal é composto por dois quintos (40%) de sódio e o restante por potássio (60%). O sódio e o potássio são minerais essenciais para a regulação dos fluidos intra e extracelulares, atuando na manutenção da pressão sangüínea; A necessidade humana de sódio varia entre 300 e 500 miligramas por dia, para crianças acima de 2 anos de idade. Para o adulto 5 g de Cloreto de Sódio por dia são suficientes para manter a saúde; Em excesso (consumo maior que 6 gramas por dia de sal ou 2,4 gramas de sódio), é uma causa importante da hipertensão arterial, de acidente vascular cerebral e de câncer de estômago; Grande parte da população brasileira consome sal em excesso: a média estimada de consumo é 9,6g/dia/per capita, não computado o sal consumido nas refeições feitas fora de casa. Isso se deve principalmente ao consumo de alimentos industrializados e também devido à adição de excesso de sal durante a preparação dos alimentos e durante as refeições; A dieta muito salgada dos brasileiros tem origem na tradição portuguesa de salgar os alimentos como forma de conservação. Muitos alimentos são conservados em salmoura, em vinagre ou sal (picles, vegetais, ervas e especiarias). Os alimentos em salmoura, tipo picles, podem aumentar o risco de câncer no estômago, quando esse tipo de alimento é consumido de maneira intensa e regular; 23 Ao tentar reduzir o consumo de sal, as pessoas que consomem habitualmente alimentos muito salgados geralmente consideram a comida não tão saborosa, já que o sal é usado como condimento, deve ser usado como realsador do sabor. As células das papilas gustativas podem levar algum tempo para ajustar-se ao sabor menos intenso do sal (período médio de até três meses). É importante que as pessoas saibam disso para persistir no consumo de dietas com restrição de sal ou menos salgadas, substituindo-o por temperos mais saudáveis como as ervas frescas, suco de limão; Os rótulos dos alimentos processados apresentam o conteúdo de sódio. São exemplos de alimentos que possuem altos teores de sódio: embutidos (salames, presuntos, mortadelas), queijos condimentados principalmente os maturados como o Gorgonzola, o Provolone, Parmesão, conservas ou enlatados ( de milho, de ervilhas, feijoada, de carne), sopas, molhos e temperos prontos; O sal é a fonte principal de iodo na alimentação brasileira. O iodo é um, mineral essencial para o desenvolvimento e crescimento do corpo humano e é encontrado nos alimentos marinhos. A deficiência desse mineral leva a várias doenças ( já citadas), denominadas distúrbios por deficiência de iodo (DDI), sendo causa comum prevenir os distúrbios por deficiência de iodo; É importante destacar que a redução do consumo de sal aos níveis recomendados para 5g/dia para os adultos, garante a quantia certa de iodo para prevenir os DDI; O Brasil não dispõe de informações sobre a prevalência nacional de hipertensão arterial. Estudos epidemiológicos locais, com base em medidas casuais da pressão arterial, no entanto, apontam prevalências de 40% e 50% na população adulta com mais de 40 anos de idade; No ano de 2002, o Ministério da Saúde realizou a Campanha Nacional para Detecção de Hipertensão Arterial (CNDHA), objetivando a detecção de casos não diagnosticados e tendo como população-sujeito cerca de 31 milhões de pessoas com 40 ou mais anos de idade. QUEM TEM MAIS RISCO DE FICAR HIPERTENSO: Quem consome mais bebida alcoólica; Quem tem hipertenso na família; 24 Quem está com excesso de peso; Quem usa muito sal na alimentação; Quem é diabético; Quem não tem uma alimentação saudável; -Pessoas da raça negra. COMO TRATAR A HIPERTENSÃO: Evite ficar parado. Caminhe mais,suba escadas em vez de usar o elevador; Diminua ou abandone o consumo de bebidas alcoólicas; Tente levar os problemas do dia-a-dia de maneira mais tranqüila; Mantenha o peso saudável; Procure o profissional de saúde e peça orientação quanto a sua alimentação; Compareça às consultas regularmente. Não abandone o tratamento. Tome a medicação conforme a orientação médica; Tenha uma alimentação saudável e diminua o sal da comida. 25 5 O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E O FUMO 5.1 O Consumo de Bebidas Alcoólicas O consumo de álcool não é recomendado por motivos nutricionais e sociais. O álcool é uma droga cuja ação é responsável pela depressão do sistema nervoso central, causa alterações comportamentais e psicológicas, além de importantes efeitos metabólicos. O seu consumo em excesso pode provocar problemas como violência, suicídio, acidentes de trânsito, causar dependência química e outros problemas de saúde como desnutrição, doenças hepáticas, gastrointestinais, cardiovasculares, respiratórias, neurológicas e do sistema reprodutivo. Interfere também no desenvolvimento fetal e ainda aumenta o risco de desenvolvimento de vários tipos de câncer. Os efeitos prejudiciais do álcool são independentes do tipo de bebida e são provocados pelo volume de álcool (etanol) consumido. O consumo de álcool, em longo prazo, dependendo do número de doses, freqüência e circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. O consumo inadequado do álcool, aliado a sua aceitação social, é um importante problema de saúde pública, acarretando altos custos para a sociedade e envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares. As bebidas alcoólicas contêm pouco ou nenhum nutriente. Incluem-se as cervejas e os vinhos, consideradas fermentadas, cujo volume de álcool (etanol) varia de 4% a 7% e de 10% a 13% respectivamente; e as bebidas alcoólicas destiladas – como a aguardente (cachaça), vodka e uísque, que contêm 30% a 50% de volume de álcool. Cada grama de etanol contém 7 quilocalorias (kcal). 26 O álcool exaure o corpo de vitaminas do complexo B e também de ácido ascórbico (vitamina C), afetando dessa forma negativamente o estado nutricional das pessoas, expondo-as a carências dos fatores de imunidade. Os indivíduos dependentes de álcool, cuja alimentação é geralmente deficiente, podem sofrer de beribéri e escorbuto, provocados respectivamente pela deficiência de Tiamina (vitamina B1) e ácido ascórbico (vitamina C). Consumidores de grandes quantidades de álcool normalmente têm alterações no fígado e perdem a capacidade de utilizar o álcool como fornecedor de energia; muitos se alimentam inadequadamente, o que explica por que essas pessoas geralmente são magras. O álcool tem sido associado a vários tipos de câncer, embora os mecanismos dessa ação não estejam completamente esclarecidos. Em 1988, a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc) classificou o álcool como um agente carcinógeno para câncer da boca, faringe, laringe, esôfago, colon e câncer primário de fígado. O índice de câncer entre os bebedores é preocupante, quer por ação tópica do próprio álcool sobre as mucosas, quer por conta dos aditivos químicos de ação cancerígena que entram no processo de fabricação das bebidas. Adicionalmente, os estudos evidenciam que o risco do câncer de mama também está associado ao consumo de bebidas alcoólicas. O consumo regular de álcool na quantidade de três a quatro doses por dia ou mais, aumenta o risco de hipertensão e acidente vascular cerebral e também o risco de câncer no fígado, como conseqüência da cirrose hepática Esse risco aumenta se associado a outros hábitos não-saudáveis, como o tabagismo. O álcool pode causar dependência e afeta as funções mental, neurológica e emocional. A ingestão regular de bebidas alcoólicas induz ao esquecimento e aumenta o risco de demência. Uma grande proporção de acidentes, ferimentos e mortes em casa, no trabalho e nas estradas envolve pessoas viciadas pelo álcool. No Brasil, o álcool está associado à maioria dos casos de violência doméstica e ao desemprego crônico. Dados de São Paulo indicam que cerca de 50% dos homicídios e também cerca de 50% das mortes causadas por acidentes de carro estão relacionados com o consumo de álcool; identificaram também as “brigas de bar” dos alcoólatras como as principais razões para 12,6% dos homicídios. 27 O consumo de álcool é medido por doses. A quantidade de etanol contido em cada dose varia entre os países: no Brasil, por exemplo, cada dose de bebida alcoólica representa 14g de etanol, enquanto que na Austrália esse valor é de 10g. Para se calcular a quantidade de etanol consumida por um indivíduo, é necessário considerar outros aspectos, além do número de doses. O teor alcoólico das bebidas varia não somente entre os diferentes tipos de bebidas, de acordo com seu processo de fabricação, como também entre bebidas do mesmo tipo. Verifica-se o teor apresentado nos rótulos das bebidas alcoólicas. Para os que fazem uso de bebidas alcoólicas, o consumo deve ser limitado a duas doses diárias para homens e uma dose para mulheres. A recomendação é diferente para homens e mulheres em razão da estrutura física. As mulheres são normalmente menores e mais leves que os homens, a célula muscular do organismo da mulher é menor que a do organismo do homem, o que ajuda a tornar o organismo feminino mais vulnerável ao álcool. As pesquisas indicam que entre 3% e 9% dos adultos nas grandes cidades brasileiras são dependentes do álcool. A dependência se caracteriza, para os homens, quando consomem 6 ou mais doses e, para as mulheres, quando o consumo é de 4 ou mais doses por dia. Recente pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicou que a prevalência de consumo médio diário de álcool considerado de risco é superior a duas doses por dia para os homens e superior a 1 dose por dia para as mulheres. O controle da propaganda e publicidade que incentivam o consumo de álcool; a proibição de venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente; a penalização de indivíduos que conduzem veículo com níveis de etanol acima do limite estipulado em lei. Bem como ações educativas que esclareçam a população e que protejam os jovens do hábito de consumir bebidas alcoólicas são medidas de proteção à saúde que vêm sendo desenvolvidas pelo Estado brasileiro. 28 5.2 O consumo do fumo A maioria das orientações sobre alimentos, nutrição e saúde aborda constantemente, que o consumo do cigarro ou outros produtos derivados do tabaco, são prejudiciais à saúde e mata cerca de cinco milhões de pessoas por ano no mundo, 200 mil no Brasil. Dessa forma, não há mais razão para considerar o consumo de cigarros, charutos e outros derivados do tabaco uma mera opção comportamental ou um estilo de vida. Hoje, o tabagismo é amplamente reconhecido como uma doença crônica gerada pela dependência da nicotina, estando por isso inserido na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização Mundial da Saúde, pois expõe continuamente os usuários dos produtos de tabaco a cerca de 4.700 substâncias tóxicas, sendo 60 delas cancerígenas para o ser humano. Essa exposição faz do tabagismo o mais importante fator de risco isolado de doenças graves e letais. São atribuíveis ao consumo de tabaco: 45% das mortes por doença coronariana (infarto do miocárdio), 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema), 25% das mortes por acidente vascular cerebral e 30% das mortes por câncer. É importante enfatizar que 90% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em fumantes. O tabagismo também é hoje considerado uma doença pediátrica, pois 90% dos fumantes começama fumar antes dos 19 anos e a média de idade da iniciação é 15 anos. A cada dia cerca de 100.000 jovens começam a fumar no mundo e 80% deles em países em desenvolvimento como o Brasil. A partir da década de 70, começaram a ser divulgados resultados de pesquisas que indicam que, além dos riscos para os fumantes, as crianças expostas à fumaça de tabaco ambiental apresentavam taxas de doenças respiratórias mais elevadas do que as que não se expunham. Estudos mais recentes mostram que não-fumantes cronicamente expostos à fumaça do tabaco têm 30% de risco de desenvolver câncer de pulmão e 24% de risco de desenvolver doenças cardiovasculares mais que os não-fumantes não expostos. 29 As mulheres e as crianças são os grupos de maior risco, em função da exposição passiva no ambiente doméstico. Além disso, os efeitos do tabagismo passivo também decorrem da exposição no ambiente de trabalho, onde a maioria dos trabalhadores não é protegida da exposição involuntária da fumaça do tabaco, pela ausência de conscientização da regulamentação de segurança e de saúde. Na atualidade, a Organização Mundial da Saúde considera a exposição à fumaça do tabaco fator de risco ocupacional. O Programa Nacional de Controle do Tabagismo sistematiza quatro grandes grupos de estratégias: O primeiro voltado para a prevenção da iniciação do tabagismo, tendo como público-alvo crianças e adolescentes; O segundo, envolvendo ações para estimular os fumantes a deixar de fumar; O terceiro grupo no qual se inserem medidas que visam proteger a saúde dos não-fumantes da exposição à fumaça do tabaco em ambientes fechados; Por fim, medidas que regulam os produtos de tabaco e sua comercialização. Em 15 anos, as ações desenvolvidas reduziram a proporção de fumantes na população brasileira, de 32% em 1989, para 19% em 2003. Esta taxa é similar às encontradas atualmente nos Estados Unidos e Canadá, países líderes no controle do tabagismo. 30 6 OS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR A alimentação se dá em função do consumo de alimentos e não de nutrientes. Uma alimentação saudável deve estar baseada em práticas alimentares que tenham significado social e cultural. Os alimentos têm gosto, cor, forma, aroma e textura e todos esses fatores precisam ser considerados na educação nutricional. Os nutrientes são importantes, contudo os alimentos não podem ser resumidos a um hábito de consumo diário. Eles mantêm significações culturais, comportamentais e afetivas que jamais podem ser desprezadas; portanto, o alimento é fonte de prazer e identidade cultural e familiar. E também um fator necessário para promoção da saúde. Os setores políticos responsáveis pela saúde da população devem promover práticas alimentares saudáveis, prevenção e controle dos distúrbios nutricionais das doenças associadas à alimentação e nutrição. O monitoramento de a situação alimentar e nutricional, a garantia da qualidade dos alimentos colocados para consumo no País, o desenvolvimento de pesquisas e recurso humanos, bem como o estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos. Ao longo da história das políticas de alimentação e nutrição no Brasil, a área de Saúde tem tais responsabilidades – mesmo porque é sobre esse setor que recaem as conseqüências da insegurança alimentar e nutricional. − Assegurar o direito à alimentação adequada a toda a população é uma responsabilidade a ser compartilhada por todos os setores governamentais e pela sociedade como um todo. Nesta proposta fica explícito o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), atualmente adotado pelo Brasil: SAN é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimento e qualidade, em quantidade suficiente, como o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que 31 respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis. (BRASIL, 2004) A proposta da Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, da Organização Mundial da Saúde, sugere a formulação e implementação de linhas de ação efetivas para reduzir substancialmente as mortes e doenças em todo o mundo. São quatro os objetivos principais: 1. Reduzir os fatores de risco para DCNT por meio da ação em saúde pública e promoção da saúde e medidas preventivas; 2. Aumentar a atenção e o conhecimento sobre alimentação e atividade física; 3. Encorajar o desenvolvimento, o fortalecimento e a implementação de políticas e planos de ação em nível global, regional, nacional e comunitário que sejam sustentáveis, incluindo a sociedade civil, o setor privado e a mídia; 4. Monitorar dados científicos de influências-chave na alimentação, a atividade física, fortalecer os recursos humanos necessários para qualificar e manter a saúde nesse domínio. São Princípios de a Educação Alimentar: 32 − Manter o equilíbrio energético e o peso saudável; − Limitar a ingestão energética procedente de gorduras: substituir as gorduras saturadas por insaturadas e eliminar as gorduras trans (hidrogenadas); − Aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras, cereais integrais e leguminosas (feijões); − Limitar a ingestão de açúcar livre; − Limitar a ingestão excessiva de sal (sódio) e consumir sempre sal iodado. Esse consenso científico em relação aos princípios de uma alimentação adequada, que ficou evidente nos anos 80 e foi consolidado nos anos 90, é uma informação vital para os governos e para outros agentes de transformação, porque implica uma reorientação de prioridades: incentivar o delineamento de políticas para criar ou proteger sistemas alimentares baseados em uma grande variedade de alimentos de origem vegetal. No Brasil, a recomendação para o consumo de maiores quantidades de frutas, legumes e verduras e menor quantidade de gorduras, açúcares e sal tem implicações profundas nas políticas e práticas agrícolas e industriais. Por exemplo, o consenso de que dietas baseadas em uma grande variedade de alimentos de origem vegetal contribuem na proteção contra as doenças, implica desenvolver ou identificar formas efetivas e atuais de apoio a práticas sustentáveis de produção agrícola de alimentos. 33 7 ASPECTOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL A concepção de promoção da saúde, como uma perspectiva capaz de orientar as diferentes práticas no campo da saúde, vem sendo sistematizada e disseminada a partir da realização da Primeira Conferência Mundial sobre Promoção da Saúde, ocorrida em Ottawa, no Canadá, em 1986. Segundo a Carta de Ottawa: “Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado completo de bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como objetivo de viver”. A concepção de saúde é como um conceito abrangente e positivo que se apóia nos recursos sociais, pessoais e não somente na capacidade física ou nas condições biológicas dos indivíduos. O modo de viver de cada um se apóia nos hábitos culturais, nas crenças e nos valores que são compartilhados na sociedade em que vivem. Pesquisas científicas recentes mostram que a saúde pode estar muito mais relacionada ao modo de viver das pessoas do que à idéia anterior hegemônica, da sua determinação genética e biológica. O sedentarismo e a alimentação não-saudável, o consumo excessivo de álcool, fumo e de outras drogas, o ritmo da vida cotidiana, a competitividade, o isolamento do homemnas grandes cidades são fatores diretamente relacionados a ocasionar as chamadas doenças modernas. A redução de riscos associados aos problemas alimentares e nutricionais ampara-se na promoção de modos de vida saudáveis e na identificação de ações e estratégias que apóiem as pessoas a ser capazes de cuidar de sua saúde, de sua família e de sua comunidade de forma consciente e participativa. 34 Na abordagem da promoção de modos de vida saudáveis deve-se: − Estimular e incentivar práticas saudáveis, como o aleitamento materno, a merenda escolar; − Priorizar a alimentação saudável; − Promover a atividade física regular; − Inibir os hábitos e práticas prejudiciais à saúde, como o consumo de fumo e de álcool ou de outras drogas. 35 8 O ALEITAMENTO MATERNO O cuidado para toda vida. O crescimento da criança relaciona-se com o teor de proteína encontrada no leite humano que confere ótimo desenvolvimento à espécie humana. A amamentação é vital para a saúde da criança e da mãe, durante toda a vida. A recomendação da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde é que as crianças sejam amamentadas exclusivamente com leite materno até os 6 meses de idade e, após essa idade, deverá ser dada alimentação complementar apropriada, continuando a amamentação até pelo menos a idade de 2 anos. A exceção é para as mães portadoras de HIV/AIDS e outras doenças transmitidas verticalmente, que devem ser orientadas para as adaptações necessárias à correta alimentação de seus filhos. O aleitamento materno é a primeira prática alimentar a ser estimulada para promoção da saúde, formação de hábitos alimentares saudáveis e prevenção de muitas doenças. Os constituintes presentes no leite fornecem todos os nutrientes necessários ao desenvolvimento do lactente: − A caseína favorece a absorção do cálcio biodisponível presente no leite; − A alfa-lactalbumina é a principal proteína do soro e auxilia no transporte do ferro, representa 40% do leite materno e está presente apenas 3% no leite de vaca; − Com relação aos aminoácidos e oligoelementos, a glutamina está relacionada ao crescimento intestinal; a taurina transporta o zinco e é encontrada em tecidos cerebrais, atuando como neurotransmissor excitatório cerebelar; − As gorduras e os ácidos graxos livres, são veículos das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), são as principais fontes de energia e superam 50% das necessidades diárias; − Os fatores protetores: as imunoglobulinas, lactoferrina, a lisozina, o interferon, o fator bifudus, fator anticólera, fator antidengue e as lactoperoxidase são principais substâncias presentes; 36 − Também aparecem como substâncias protetoras os ácidos graxos de cadeia curta e os ésteres. Os ácidos graxos de cadeia curta têm potente função bactericida (são confundidos pelos microorganismos como fontes de carbono). Os ésteres de cadeia curta, o fator antiestafolocócico tem duplo papel protetor, protege a mama e o lactente; − Destacam-se também os ácidos graxos insaturados, os poliinsaturados de cadeia longa, fundamentais ao desenvolvimento do sistema nervoso central e a síntese de prostaglandinas. Os agentes antioxidantes, o tocoferol e quinonas conferem estabilidade a estes compostos; − Ainda como fatores de proteção, o leite humano contém macrófagos e linfócitos sendo que estes passam ao lactente os fatores imunológicos acumulados na vida da mãe; − Com relação aos carboidratos do leite materno, a lactose que participa da absorção do cálcio e do ferro, constitui substrato para a flora intestinal produzir ácido láctico, reduzindo o pH do intestino, inibindo o crescimento microbiano. − Os oligossacarídeos nitrogenados são fatores de crescimento da flora bífida, conhecidos como fator bifidus. Pesquisas desenvolvidas nas últimas duas décadas a partir de estudos em diversos países, inclusive no Brasil, sugerem que exposições nutricionais, ambientais e padrões de crescimento durante a vida intra-uterina e nos primeiros anos de vida podem ter efeitos importantes sobre as condições de saúde do adulto. Os estudos indicam que tanto o retardo de crescimento intra-uterino como também o ganho de peso excessivo nos primeiros anos de vida, está associado com obesidade, hipertensão, síndrome metabólica, resistência insulínica e morbimortalidade cardiovascular, dentre outros desfechos desfavoráveis. Assim, a nutrição adequada de gestantes e a de crianças devem ser entendidas e enfatizadas como elementos estratégicos de ação com vistas à promoção da saúde também na vida adulta. Pesquisas confirmam que o aleitamento materno exclusivo é o modo ideal de alimentação do lactente até os seis meses de vida. A continuidade do aleitamento materno até os dois anos ou mais é igualmente importante, pois disponibiliza energia de micronutrientes da alimentação, particularmente do ferro. 37 Dentre outras vantagens, o aleitamento materno confere importante proteção contra a morbimortalidade por doenças infecciosas nos primeiros anos de vida, sendo reconhecido como potencial fator preventivo, importante na redução da mortalidade infantil no mundo. Outra questão importante diz respeito aos efeitos em longo prazo do aleitamento materno. Estudos recentes mostram que crianças amamentadas tendem a apresentar menor prevalência de obesidade na infância e na adolescência. O Brasil vem, desde a década de 80, desenvolvendo estratégias para apoiar a promoção e proteção do aleitamento materno por meio de iniciativas de capacitação de recursos humanos. Apoio aos Hospitais Amigos da Criança, produção e vigilância das normas nacionais de comercialização de alimentos infantis, campanhas nos meios de comunicação e apoio à criação de bancos de leite humano. O leite materno é hoje reconhecido como um alimento nutracêutico. 38 9 A ALIMENTAÇÃO DO ESCOLAR A mudança dos hábitos alimentares e a redução da atividade física criaram uma série de problemas entre as crianças e os adolescentes de todas as classes sociais. O aumento dos casos de anemia e obesidade entre os jovens em idade escolar tornou-se tema freqüente entre os profissionais de saúde. A troca das brincadeiras de rua pela TV e computadores e a preocupação dos pais com a segurança destes jovens estão associadas à substituição das refeições balanceadas por lanches rápidos e salgadinhos, que tem criado uma geração de jovens obesos e com vários problemas de saúde, antes só encontradas em pessoas com mais de 40 anos, como pressão alta, diabetes a até problemas cardíacos. As necessidades nutricionais nos primeiros anos de vida estão condicionadas ao rápido crescimento do corpo, ao desenvolvimento do sistema muscular e ósseo e à necessidade de reservas para a puberdade. Se estas necessidades não forem atendidas, o desequilíbrio dietético pode levar o organismo a desenvolver anormalidades metabólicas e tornar o adolescente mais vulnerável a doenças. O crescimento e o desenvolvimento constituem processos dinâmicos que sofrem interferência dos fatores genéticos, nutricionais, sociais e culturais, sendo necessária uma atenção especial na alimentação para desenvolver o potencial genético. Os requerimentos nutricionais, nos primeiros anos de vida, estão condicionados a um rápido crescimento do corpo, ao desenvolvimento do sistema muscular e ósseo e também às reservas nutricionais necessárias na puberdade. Na adolescência os requerimentos nutricionais estão relacionados mais ao grau de maturidade sexual do que com a idade cronológica. As recomendações energéticas correspondem às necessidades estimadas para a idade. Devem evitar o risco de desnutrição como a ingestão excessiva de alimentos que leve ao sobrepeso ou obesidade. Deve-se avaliar com cuidado a necessidade energética.39 O governo, preocupado com a saúde do escolar e o grau de desenvolvimento de aprendizagem da criança nutrida comparada com a desnutrida por deficiência alimentar, criou o programa de alimentação do escolar em 1954: Programa Nacional de Alimentação do Escolar - PNAE Criado em 1954, PNAE é o mais antigo programa social da área da Educação. Até 1993 seu gerenciamento era mantido pelo Governo Federal, mas, em 1994 foi descentralizado e foram firmados convênios com os estados, Distrito Federal e os municípios. A partir de 1999, houve nova estruturação, transferindo-se a execução do programa da esfera federal para os níveis estadual, distrital e municipal que passaram a receber os fundos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Por lei, esta alimentação deve fornecer 15% das necessidades nutricionais das crianças matriculadas na pré-escola e no ensino fundamental. A complementação fica a cargo dos estados, Distrito Federal e municípios beneficiados, conforme estabelecidos na Constituição. 40 Em 2001 foram aplicados neste programa R$ 902,2 milhões de reais para alimentar 37,1 milhões de alunos brasileiros, durante os 200 dias letivos. Nos municípios também encontramos programas de alimentação escolar de boa qualidade; em São Paulo a prefeitura conta com Serviço Técnico de Avaliação e Pesquisa em Nutrição para fazer o controle da qualidade dos alimentos. As escolas municipais servem 1.400.000 refeições por dia. Todo o apoio técnico conta inclusive com site para qualquer tipo de dúvidas ou reclamações ( www.prodam.sp.gov.br/semab/atende/merenda.htm). No Brasil, os hábitos alimentares que antigamente eram parecidos com os dos europeus, estão cada vez mais parecidos com os dos americanos. O nosso cardápio tradicional: - arroz, feijão, bife e salada – é muito bom e balanceado. Mas, estamos cada vez mais próximos do cardápio dos americanos, que são o povo mais obeso do mundo, comem mal e muito rápido, característica dos fast-food. Em algumas regiões brasileiras, em diferentes classes sociais, o alimento pouco saudável e o hábito de trocar frutas por doces, consumir salgadinhos gordurosos e industrializados, lanches pouco saudáveis, apesar de significar um maior status social tem ocasionado a troca do problema da subnutrição pela obesidade. As recomendações nutricionais do escolar, tanto em energia como para o consumo da cada nutriente, devem ser sempre equilibradas. Deve-se manter na alimentação do escolar o cuidado de um controle de qualidade que é dado a uma obra de arte. A variedade de alimentos e a inter-relação entre os nutrientes e outros componentes dos alimentos, devem complementar as necessidades nutricionais desta fase, para obter-se uma vida adulta saudável. As recomendações nutricionais devem propor: − Uma alimentação variada; − Aumentar o consumo de frutas e hortaliças; − Incluir fontes seguras de cálcio e ferro; − Utilizar-se de alimentos protéicos dos dois grupos: animal e vegetal; 41 − Diminuir o consumo de alimentos gordurosos, principalmente gordura saturada e trans e de refrigerantes; − Diminuir o consumo de açúcar livre e o excesso de sal; − Dar importância ao café da manhã (desjejum); − Alimentar-se com regularidade, sem pular as refeições; − Ter em seu currículo regular noções de educação alimentar. 42 10 BALANÇO ENERGÉTICO O estado nutricional, no plano físico e biológico, resulta do equilíbrio entre consumo alimentar e gasto energético do organismo. Esse gasto refere-se à utilização dos alimentos pelo organismo para suprir as suas necessidades nutricionais e está relacionado ao estado de saúde e à capacidade de utilização dos nutrientes fornecidos pela alimentação. As necessidades nutricionais de energia variam em função da idade, do sexo, do estado de saúde e do estado fisiológico, nível de atividade física dos indivíduos e número de horas de trabalho. Para um adequado estado nutricional, no que se refere à energia, o consumo alimentar deve estar em perfeito equilíbrio com o gasto da energia do organismo, usada para manter as funções vitais e nas atividades físicas diárias. As pessoas em equilíbrio energético não ganham nem perdem peso; é o que se denomina “balanço energético”: − O balanço energético é o equilíbrio obtido a partir do total de energia ingerida e o total de energia gasta pelo organismo em suas atividades diárias. − Caloria (kcal) é a unidade de medida da energia gasta pelo corpo humano em suas atividades metabólicas e físicas e do teor de energia encontrado nos alimentos (proteínas e carboidratos = 4 kcal/g; gorduras = 9kcal/g). − Vitaminas, sais minerais e água não fornecem energia. Se a alimentação fornece mais energia do que é requerido pelo organismo, a energia excedente é acumulada na forma de gordura corporal. Isso significa que, se a pessoa não ingerir menos alimentos ou não aumentar a atividade física, irá ganhar peso, principalmente pelo acúmulo de gordura, o que poderá levar ao sobrepeso ou à obesidade, ao longo do tempo. Os homens brasileiros, em média, alcançam balanço energético com cerca de 2.400 calorias por dia; as mulheres, com cerca de 1.800 ou 2.200 calorias por dia. A média de 2.000 calorias atende também às necessidades de energia das pessoas mais jovens. 43 Por exemplo: - as mulheres pequenas e inativas, para manter o balanço energético, devem consumir um volume de alimentos menor por porções recomendadas para cada grupo de alimentos, principalmente relacionando os alimentos mais calóricos como os doces e as gorduras, se comparadas aos homens de mesma idade e nível de atividade física. O crescimento da incidência das DCNT observado nas últimas décadas relaciona-se, em grande parte, com os hábitos de vida quando jovens. Entre eles, destacam-se os comportamentos que desequilibram o balanço energético, induzindo a ganho excessivo de peso. Estima-se que, para cada 5% de aumento de peso acima daquele apresentado aos 20 anos de idade, ocorram um aumento de 200% no risco de desenvolver a síndrome metabólica na meia idade. À medida que envelhecemos o gasto metabólico se altera e acumulamos, em média, após os 40 anos de idade, meio quilograma de peso corpóreo por anos. Este excesso de peso está associado ao desenvolvimento do diabetes, das doenças cardiovasculares e de outras doenças crônicas não transmissíveis. O princípio fundamental para manter um balanço energético é que as mudanças nos depósitos orgânicos de energia (tecido adiposo ou massa gorda) se equilibrem com a diferença entre consumo e gasto energético. Se a ingestão excede o gasto, ocorre um desequilíbrio positivo, com deposição energética (tecido gorduroso) e tendência ao ganho de peso; quando a ingestão é inferior ao gasto, ocorre um desequilíbrio negativo, com diminuição dos depósitos de gordura e conseqüente perda de peso. O balanço energético ou do peso corporal, está associado a mecanismos fisiológicos múltiplos que determinam mudanças coordenadas entre ingestão e gasto energético, regulando o peso corporal em torno de um ponto de ajuste que mantém o peso estável. A ingestão energética total é proveniente da metabolização dos nutrientes energéticos, carboidratos, gorduras, proteínas, do álcool e de fibras. A ingestão diária é definida pelo Valor Energético Total =VET expresso em quilojoule (KJ) ou em quilocalorias (kcal): 44 VALOR CALÓRICO DOS NUTRIENTES 1g de gordura = 9kcal/g 1 g de carboidratos = 4 kcal/g 1 g de proteínas = 4 kcal/g 1 ml de álcool = 7 kcal/g 1 g de fibras = 1,5 kcal/g (energia das fibras produzidas no cólon intestinal a partir da degradação bacteriana). A avaliação do gasto energético do indivíduo é composta por três elementos: − A taxa metabólicabasal: energia requerida para manutenção de todas as funções vitais do organismo, medida com indivíduo em total repouso; − O gasto energético utilizado para metabolizar e armazenar o alimento, chamado de ADE = ação dinâmico específica dos alimentos; − O gasto energético requerido para atividade física e para o trabalho que se modificará de acordo com a intensidade do trabalho ou atividade física. Também se considera que a termogênese adaptativa, que varia em resposta à ingestão energética crônica (sobe com o aumento da ingestão energética), determinada para o gasto energético de um indivíduo. Para o cálculo do peso saudável a tendência é utilizar o Índice de Massa Corporal - IMC, que relaciona o peso dividido pela altura ao quadrado de um indivíduo, para estabelecer a faixa de peso saudável. IMC = peso / (altura)2 A OMS recomenda para a população um IMC entre 21 e 23kg/m2. Para indivíduos, a faixa recomendada é de 18,5 a 24,9kg/m2, evitando ganhos de peso maiores do que 5 kg na vida adulta. 45 Para a manutenção do peso saudável e do balanço energético, dois fatores precisam ser avaliados para uma mudança significativa: − O aumento do consumo de alimentos industrializados, normalmente ricos em gorduras hidrogenadas e carboidratos simples e pobres em carboidratos complexos. − O declínio do gasto energético associado à falta de atividade física. Dois fatores que muito contribuem para o aumento do peso corporal. As recomendações para mudanças de comportamentos ligados a essa problemática na prevenção da obesidade são considerar o balanço energético e a atividade física. 46 11 A IDENTIFICAÇÃO DA MASSA CORPORAL – IMC O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida recomendada internacionalmente para a avaliação do estado nutricional de adolescentes, adultos e idosos e permite estimar a massa corporal e o risco progressivo de desenvolvimento de doenças crônicas não- transmissíveis associadas ao sobrepeso e à obesidade. Quanto maior o IMC, maior é o risco de o indivíduo ser acometido por DCNT, tais como hipertensão, diabetes e dislipidemias. O IMC é calculado da seguinte forma: Dividir o peso em quilogramas pela altura ao quadrado em metros = (kg/m2): Por exemplo: − Um adulto que pesa 70kg e cuja altura seja 1,75 metros terá um IMC de 22,9, portanto, esse índice sinaliza se há ou não uma relação de harmonia entre o peso e a altura, embora não permita a distinção entre massa gorda e magra. Existem pontos de corte específicos de IMC para cada uma das fases do curso da vida, visando atender às características fisiológicas de cada uma delas. Para a avaliação de adolescentes, além da altura e do peso, no cálculo do IMC são considerados também a idade e o sexo, sendo recomendado o critério de classificação percentilar do IMC. Após o cálculo do IMC, a classificação nutricional deve ser realizada de acordo com uma curva de distribuição em percentis (P) de IMC para cada sexo. 47 Tabela para avaliar o IMC ADOLESCENTES (idade 10 anos e 20 anos): – IMC p 5: baixo peso – IMC p 5 e p 85: peso adequado/eutrófico – IMC p 85: sobrepeso ADULTOS (idade 20 anos e 60 anos): – IMC 18,5: baixo peso – IMC 18,5 e 25,0: peso saudável (eutrofia) – IMC 25 e 30,0: sobrepeso – IMC 27: obesidade IDOSOS ( acima de 60 anos) – IMC 22: baixo peso – IMC 22 e 27: peso adequado/eutrófico – IMC 27: sobrepeso Os profissionais de saúde devem usar o IMC nas avaliações de estado nutricional e do risco de DCNT para orientar as suas ações junto aos usuários dos serviços, individualmente ou de forma coletiva. 48 Ferramenta para calcular o Índice de Massa Corporal Índice de Massa Corporal pela fórmula: IMC = peso / (altura)2 altura: 1 m cm. peso: Kg O Índice de Massa Corporal é: IMC Segundo a O.M.S., o índice normal é entre 18.5 e 24,9 para a altura o peso ideal é entre: Kg mín / Kg máx Um índice de massa corporal entre 18,5 e 24,9 é considerado saudável; Uma pessoa com o índice de massa corporal entre 25 e 29,9 está acima do peso; Acima de 30 é considerado obeso. Observar: − Uma vez que o índice de massa corporal não mostra a diferença entre gordura e músculos, nem sempre é preciso ao predizer quando o peso pode resultar em problemas de saúde. Por exemplo, alguém com muitos músculos como um body builder, pode ter um índice de massa corporal na faixa não-sadio, mas mesmo assim ser saudável e ter pouco risco de desenvolver diabetes ou ter ataque cardíaco. − O índice de massa corporal também pode não ser preciso ao refletir a obesidade em indivíduos que são muito baixos (menos de 1,50 metros) e em pessoas mais velhas, as quais tendem a perder massa muscular com a idade. Mas, para a maioria das pessoas, o índice de massa corporal é um método confiável para dizer se o seu peso está colocando sua saúde sob risco. 49 12 QUANTIDADE DE ALIMENTOS X QUALIDADE As orientações específicas para manter a saúde são as quantificadas e expressas como limites de consumo ou por número de porções. Recomendações qualitativas, tais como “coma muitas frutas, legumes e verduras” ou “modere o seu consumo de açúcar”, são úteis como orientações gerais, mas necessitam de recomendações quantificadas adicionais para se tornar concretas e práticas, auxiliando os profissionais e as famílias a estipular as metas de quantidades e porções. A alimentação equilibrada não consiste apenas na enumeração de uma série de substâncias chamadas nutrientes, mas que seja apropriada e agradável ao individuo que a consome. A combinação alimentar deve ser estimulante de forma que agrade a quem for destinada e este seja capaz de aceitá-la. O regime alimentar deve atender às necessidades calóricas de cada nutriente especifico de acordo com a sua fase da vida com relação a todos os aspectos físicos e biológicos As quantidades dos nutrientes devem manter uma relação de proporção, entre si, permitindo um completo aproveitamento orgânico. As porções e quantidades em que os alimentos são oferecidos aumentaram, ou seja, as porções servidas nas refeições ficaram maiores devido a uma variedade de fatores como a oferta no comércio e a praticidade de muitos produtos de baixo custo. Para garantir que as pessoas saibam a quantidade correta de alimento a ser consumida, de acordo com o grupo do alimento, adota-se o conceito de porção de alimento. O termo “Porção” é utilizado como: - “a quantidade de alimento em sua forma usual de consumo expressa em medida caseira, unidade ou forma de consumo (fatia, xícara, unidade, colher de sopa, etc.)" Considerando também a “quantidade média do alimento que deve ser usualmente consumida por pessoas sadias, para compor uma alimentação saudável”. 50 Essas duas definições têm o objetivo de controlar os casos em que o padrão usual de consumo origina porções de alimentos, as quais não permitem alcançar ou que extrapolem as quantidades que poderiam ser saudáveis no conjunto da alimentação. Como uma das orientações para uma alimentação saudável, o grupo dos carboidratos totais (complexos + açúcares livres ou simples) deve fornecer de 55% a 65% do Valor Energético Total (VET) da alimentação diária; destes, mais da metade da energia fornecida deverá ter origem em alimentos ricos em carboidratos complexos (cereais, leguminosas, tubérculos e raízes),ou seja, 45% a 55% do VET e 10% de açúcares simples. Uma alimentação que atenda a essa recomendação traz muitos benefícios, principalmente quando se utilizam carboidratos em sua forma integral. Considerando uma mesma faixa de ingestão de energia, por exemplo, 2.000kcal, uma alimentação rica em carboidrato possivelmente terá menor quantidade de gordura, principalmente as
Compartilhar