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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO UNIVERSIDADE VIRTUAL PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS JOEL PINTO DE SIQUEIRA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA SOBRAL 2019 JOEL PINTO DE SIQUEIRA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA Artigo apresentado como Trabalho de conclusão de Curso- TCC, para a obtenção do título de Especialista em Educação de Jovens e Adultos- EJA da Universidade Federal do Ceará – UFC, sob a orientação da Profª Me. Maria do Socorro Moraes Soares Rodrigues. SOBRAL 2019 Artigo apresentado como Trabalho de conclusão de Curso-TCC, para a obtenção do título de Especialista em Educação de Jovens e Adultos-EJA da Universidade Federal do Ceará – UFC. Aprovada em___/___/______ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________ Profª. Maria do Socorro Moraes Soares Rodrigues Mestre em Educação- UFC Orientadora ____________________________________________________________ Avaliador 1 ____________________________________________________________ Avaliador 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente meu Deus por dar-me força e saúde para continuar sempre; a minha família; aos meus pais; a minha esposa e a minha filha Anna Laura. Dedico-o a minha orientadora a Professora Me. Maria do Socorro Moraes Soares Rodrigues e toda a minha turma da Especialização e a UFC. Todos foram essenciais para a realização deste trabalho, deste sonho. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA Joel Pinto de Siqueira1 Maria do Socorro Moraes Soares Rodrigues² RESUMO O presente estudo possui como núcleo de discussão a formação do professor da educação de jovens e adultos – EJA, o qual destaca os aspectos históricos e legais que normatizam e instituem essa modalidade de ensino. A metodologia de pesquisa adotada é de cunho bibliográfico, na qual elegemos os estudos de Freire (1993), Gadotti; e Romão (1993), Nóvoa (1992), Santos (2001) e Gomes (2012) que destacam a relevância sobre a formação do professor. Objetivamos discutir a identidade do professor da EJA e a necessidade de formação continuada, indispensável no processo de ensino-aprendizagem. Ao final das leituras realizadas, concluímos que apesar das evoluções ao longo da história a modalidade de ensino ainda necessita de maiores investimentos na formação do professor. Assim como a primordialidade nas reflexões sobre as especificidades apresentadas pelos alunos, que requerem adequação curricular e a funcionalidade no ensino. Palavras-chave: Formação Continuada. Educação de Jovens e Adultos. 1 Graduado em Licenciatura Plena em Pedagogia. E-MAIL: joelsonsiqueira333@gmail.com ² Pedagoga. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará. E-mail:professorasocorro@gmail.com mailto:joelsonsiqueira333@gmail.com ABSTRACT The present study has as a core of discussion the formation of the teacher of youth and adult education - EJA, which highlights the historical and legal aspects that regulate and institute this modality of teaching. The research methodology adopted is a bibliographical one, in which we chose the studies of Freire (1993), Gadotti; and Romão (1993), Nóvoa (1992), Santos (2001) and Gomes (2012) that highlight the relevance of teacher education. We aim to discuss the identity of the EJA teacher and the need for continuing education, indispensable in the teaching- learning process. At the end of the readings, we conclude that despite the evolution throughout history, the teaching modality still requires greater investments in the formation of the EJA. teacher. As well as the primordiality in the reflections on the specificities presented by the students, that require curricular adequacy and the functionality in the teaching. Keywords: Continuing Education. Youth and Adult Education. 7 1 INTRODUÇÃO O presente artigo pretende analisar e desenvolver discussões sobre a formação do professor da educação de jovens e adultos – EJA. Nesse sentido, é relevante fazer um recorte sobre os aspectos históricos e legais que instituem e normatizam essa modalidade de ensino. Discute-se também sobre a identidade do professor da EJA e a necessidade de formação continuada, indispensável no processo de ensino-aprendizagem. É uma pesquisa de cunho bibliográfico para realiza-la nos valemos de pesquisadores como Freire (1993), Gadotti; e Romão (1993), Nóvoa (1992), Santos (2001) e Gomes (2012) que destacam a relevância sobre a formação do professor. A EJA é uma modalidade de ensino que tem como objetivo atender a um público com necessidades específicas, que por muitas vezes não são atendidas pelo ensino regular. Silva (2016, p. 02) acrescenta ainda que: Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, o perfil de seus sujeitos, é constituído por uma enorme diversidade, marcado pelas excessivas jornadas de trabalhos, falta de oportunidade escolar na infância, precárias condições socioeconômicas e acesso restrito as formas e manifestações culturais, enfim, ausência de oportunidades. (SILVA, 2016, p. 02). Freire (1992) coaduna com Silva (2016) e complementa que, para atingir seu foco principal, a EJA precisa ultrapassar a barreira da codificação e decodificação dos signos, das palavras. Nesse sentido, a adequação curricular, as metodologias de ensino e o planejamento devem atender as especificidades apresentadas por esse alunado. Esse pensamento de Freire (1992) propõe uma educação que reúne alfabetização com a compreensão e entendimento do cenário social a que cada sujeito pertence. O autor ressalta ainda que existe a necessidade dos profissionais envolvidos nesse processo, compreenderem o papel, a função social, histórica e política desta modalidade. Visto que, configura-se como uma modalidade de ensino voltada para atender as necessidades do público de jovens e adultos, que por algum motivo não concluíram o seu processo de escolarização. Nesse sentido, ressalta-se que a EJA é assegurada legalmente, visto que está prevista na constituição federal de 1988, no artigo 208, o qual destaca que: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram 8 acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (BRASIL, 1988) A Lei de Diretrizes e Bases da educação- LDB operacionaliza o que vem definido pela constituição federal, visto que acrescenta um princípio à educação, incluído pela Lei nº 13.632/2018, que trata da garantia do direito à educação que perpassa todos os níveis e modalidades de ensino. Assim, a LDB determina que: A Educação de Jovens e Adultos tem como intenção primordial a reparação de uma dívida social; assim, ela torna-se um momento de nova significação de vida para os indivíduos que irão refletir acerca dos seus conhecimentos, e ampliá-los de forma a atender as suas necessidades pessoais (BRASIL, 2008, p. 338). Atualmente no Ceará podemos perceber que houve grandes mudanças e avanços os quais foram efetivados, sobretudo, pelo Plano Estadual de Educação- PEE e pela a consolidação das LDB de 1996. Nesse sentido, a Lei n.º16.025/16 determina que o PEE deve “estimular a adesão, por parte dos municípios, aos programas de educação de jovens e adultos integrados à educação profissional, como forma de ampliar as possibilidades de articulação entre EJA e formação profissional no Ensino Fundamental”. (CEARÁ, 2016, p. 22). A LDB (1996) trouxe em âmbito nacional todo aparato legal para a criação de parâmetros e metas a serem alcanças por cada unidade de federação, conquanto, na acepção de Ribeiro (2011) a modalidade vem apresentando resultados insatisfatórios devido ao método de ensino aplicado pelo professor dessa modalidade. O autor afirma ainda que esses resultados são o reflexo do uso de metodologias de ensino que não atendem as especificidades dos alunos matriculados na EJA. Pereira (2012), coaduna com a ideia de Ribeiro (2011) e propõe aspectos que podem melhorar esses resultados, quando afirma que: primeiro aspecto a destacar diz respeito ao aumento de investimentos na qualificação de professores e na adequação da proposta curricular à diversidade sociocultural dos educandos, superando a perspectiva compensatória e assistencialista que caracteriza a EJA no Brasil. (PEREIRA, 2012, p. 5). A pesquisadora aponta em seus estudos a necessidade da criação de políticas públicas que promovam formação inicial e continuada para os professores da EJA, visto que a formação inicial da maioria dos professores da EJA advém de graduações que os prepararam http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 9 para lecionarem em turmas regulares do sistema de ensino. O Parecer do CNE/CEB nº 11/2000 reforça a necessidade da formação continuada de professores que atuam na EJA, quando pontua que: Com maior razão, pode-se dizer que o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer. (BRASIL, 2000a, p. 56) O professor precisa antes de tudo adequar os conteúdos para entender as especificidades dos alunos da EJA, visto que um planejamento que adote critérios voltados para a diversidade pode melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Assim, os estudantes irão perceber a funcionalidade do ensino da EJA e dessa forma ter maior aproveitamento dos conteúdos ofertados. 2 SUPORTE TEÓRICO E REVISÃO DA LITERATURA Esta seção se estruturou em três subseções principais: A educação de jovens e adultos: aspectos históricos e legais, no qual serão utilizados como referência os estudos de Bernadim (2008); Lisita e Sousa (2003); Gadotti e Romão (1993); Santos (2001). Na segunda subseção, os estudos de Tunes; e Pedroza (2011); Bueno et al. (2006); Tardif (2002); Tacca (2000); Rosa (2003) discutem considerações pertinentes sobre a identidade do Professor da Educação de Jovens e Adultos. A terceira subseção aborda a temática da formação inicial e continuada: a EJA no estado do Ceará, a qual utiliza como referencial Nóvoa (1992); Arroyo (1996); Lima (2004); Perrenoud (2000). 2.1. A Educação de jovens e adultos: Aspectos históricos e legais Atualmente em todos os setores da sociedade, especificamente, no mercado de trabalho, exigem do indivíduo não somente o conhecimento científico, mas um profissional que possua habilidades, além do conhecimento curricular, competências e habilidades que consiga combinar as mais variadas áreas do conhecimento. 10 Mediante um cenário de grandes mudanças tecnológicas, financeiras e socioculturais, a exigência da escolarização como critério para o indivíduo se inserir no mercado de trabalho formal, gerou uma considerável procura pelo ensino noturno. Nesse sentido, a partir da perspectiva legal brasileira, a EJA foi instituída no ano de 1980, como um direito para as pessoas que pertencem à classe trabalhadora, por donas de casa, assim como jovens com elevado número de repetência no ensino regular. Esse direito está previsto na constituição federal de 1988, no artigo 208, o qual destaca que: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (BRASIL, 1988) A Lei de diretrizes e bases da educação acrescenta um princípio à educação, incluído pela Lei nº 13.632/2018, que trata da garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. Nesse sentido, esse princípio determina que a aprendizagem não esteja limitada ao tempo, e sim permite uma flexibilidade e adequação dos horários e currículo escolar, na medida em que a pessoa a qualquer momento pode solicitar o seu direito de concluir a sua escolarização. As diretrizes curriculares nacionais corroboram com esse pensamento quando propõem que: A Educação de Jovens e Adultos tem como intenção primordial a reparação de uma dívida social; assim, ela torna-se um momento de nova significação de vida para os indivíduos que irão refletir acerca dos seus conhecimentos, e ampliá-los de forma a atender as suas necessidades pessoais (BRASIL, 2008, p. 338). Nesse sentido, a EJA deve permitir a flexibilidade dos conteúdos, visto que nessa modalidade de ensino é imprescindível que o professor apresente um currículo funcional, mediante as especificidades e interesse desse aluno. No tocante a Leis e Diretrizes Básicas da Educação- LDB lei de nº 4024/1961 em seu artigo 27 criou os supletivos. Para Aguiar (2012) “O ensino supletivo tinha caráter compensatório e buscava “compensar” os estudos não realiza- dos na infância e adolescência. O foco da concepção de ensino era a falta, a carência dos jovens e adultos, desconsiderando, portanto, os conhecimentos adquiridos em esferas fora da escolar” (AGUIAR, 2012, p. 39). Que correspondiam aos níveis de desenvolvimento dos estudantes dessa modalidade de ensino. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 11 Nessa perspectiva, percebe-se que nesse período, as políticas públicas já demonstravam interesse pela terminalidade específica de jovens e adultos, que por algum motivo não conseguiram concluir a sua escolarização. Bernadim (2008) em seus estudos afirma que as Leis e Diretrizes Básicas da Educação- LDB, especificamente a lei de nº 5379/67 pertencia à composição do projeto de Lei que ordenou a criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, o qual oferece a alfabetização funcional para jovens e adultos. Na década de 1990 houve muitas mudanças no contexto educacional em nosso país. De acordo com Lisita e Sousa (2003, p. 15) “novas mobilizações apareceram reivindicando as políticas públicas seus direitos como cidadão, contribuindo para gestão compartilhada, como os Movimentos de Alfabetização- Mova”. Assim, em 1996 foram criadas as Leis de Diretrizes e Bases da Educação, especificamente a Lei de nº9.394/96 em seu artigo 37 assegura que: A educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. §1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar os estudosna idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O poder público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Gadotti e Romão (1993) em seus estudos afirmam que a LDB representa a resistência e o combate às violações ao direito a educação. O artigo 4 dessa lei institui a EJA como uma modalidade da educação básica, obrigatória e gratuita, para um público específico, que por alguma razão não pode concluir seus estudos básicos na idade própria. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação e o Conselho da Educação Básica reforça a LDB quando, em seu parecer de nº 01/1998, declara que: I – Quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação; II – Quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores; III – Quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face as necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos 12 seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica. (RESOLUÇÃO CNE/CEB nº1) De acordo com essa resolução, percebe-se que as políticas públicas fazem referência às etapas do Ensino Fundamental de forma obrigatória, conquanto, especifica a EJA como uma modalidade de ensino voltada para um público diferenciado. Santos (2001), em seus estudos, elenca fatores que são propulsores da desistência e/ou evasão no processo de escolarização, como: vulnerabilidade social, a necessidade de trabalhar para ajudar no orçamento da família e gravidez precoce acabam que forçando o adolescente ao abandonar os estudos. Estes três fatores também justificamos índices de repetências, reprovações e a distorção da idade/série. Nesse sentido, mesmo com os Programas de erradicação dos índices de analfabetismo no nosso país, em todo o território, “da terra de José de Alencar e de Rachel de Queiroz”, a taxa de pessoas que não frequentaram a escola é bastante elevada. Em 2012, o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) fez um levantamento sobre o índice de analfabetismo no estado, o qual constatou que no estado existe cerca de 1,08 milhões de analfabetos. Ainda segundo a pesquisa, 75% no número total de analfabetos residem em cidades no interior do estado. Esse levantamento foi possível segundo os dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e por meio da pesquisa por amostra concretizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, é relevante ressaltar que o Nordeste, nesse período, possuía cerca de 54% do percentual de analfabetos do Brasil e destes 16% estavam concentrados no estado do Ceará. O desafio da Educação de Jovens e Adultos no Ceará, segundo Haddad e Di Pierro (2000), é abranger e conseguir atender uma população que por diversos motivos ou circunstâncias nunca frequentaram a escola ou não obtiveram aprendizagem satisfatória. Ainda de acordo com os autores essa parte da população cearense atualmente retorna à escola, com a finalidade de concluir a sua escolarização e voltar ao mercado de trabalho formal. Por isso, a EJA precisa que os professores estejam preparados para atender as peculiaridades desse público, visto que se configura em um dos maiores desafios desses profissionais lidarem com essa parte da população que volta à escola em busca de conhecimentos necessários para sua inserção no mercado de trabalho. 13 Assim, pode-se concluir nessa subseção que, conquanto haja leis que regulamentam e instituem a EJA, é necessário que se pense constantemente em políticas públicas voltadas para a melhoria dessa modalidade de ensino, visto que apresenta um relevante crescimento de matriculas nas escolas que ofertam esse serviço. 2.2. Identidade do Professor da Educação de Jovens e Adultos-EJA Primeiramente é relevante ressaltar que os estudantes dessa modalidade de ensino em sua grande maioria são pessoas que trabalham o dia inteiro e sua disponibilidade para concluir sua escolarização é justamente a oferta do ensino no turno da noite. Gomes (2012) corrobora com essa afirmação e acrescenta que: Dessa forma, os sujeitos da EJA hoje são diversos: trabalhadores, aposentados, jovens empregados e em busca do primeiro emprego; pessoas com necessidades educativas especiais, para citar alguns. Daí decorre também a preocupação com o conceito de diversidade cultural no contexto da EJA. Os sujeitos da EJA atualmente são o trabalhador experiente e o jovem com outro tipo de experiência no mundo. (Gomes 2012, p. 20). O autor ressalta que na EJA são matriculados indivíduos que carregam consigo uma bagagem, um conhecimento empírico sobre cultura e mundo que não deve ser ignorado pela escola e muito menos pelo professor em sala de aula. Nesta perspectiva o professor da Educação de Jovens e Adultos deve valorizar esses saberes, assim, o ensino passará a ser mais significativo e mais próximo da realidade de seu público-alvo. Portanto, salienta-se que esse aluno, por muitas vezes apresenta autoestima baixa, assim, necessita que o seu conhecimento não seja ignorado, e sim somado ao que a escola pode oferece-lhe. De acordo com Tunes; e Pedroza (2011): O desafio não é tentar incluir os excluídos, mas sim incluir, a diversidade como condição humana. O desafio é incluir, na sociedade, o enfoque na aprendizagem individual e não na soberania do ensino imposto, competitivo, classificatório e padronizador. Estamos perdendo tempo com a inclusão dos “diferentes” dentro da fabricação de “iguais”. (TUNES e PEDROZA, 2011, p. 26). 14 Desta forma é necessário que o professor entenda que esta modalidade de ensino exige um trabalho diferenciado com currículo, e metodologias adequadas, visto que a EJA deve oferecer um ensino diferenciado do ensino regular. A EJA possui características e interesses ímpares, mediante as especificidades apresentados pelos alunos, a qual gera a necessidade de o professor regente possuir formações continuadas para atender essas diferenciações que tornam essa modalidade de ensino tão peculiar. Deste modo, ressalta-se que a formação inicial e continuada é necessária para definir a identidade do professor da EJA. A identidade do professor é um tema cada vez mais abordado nas pesquisas educacionais da atualidade. Bueno et al. (2006, p. 385) afirma que “a questão da identidade é um dos temas mais candentes da contemporaneidade”, essa proposição nos leva a refletir sobre os desafios relacionados ao trabalho docente, que resulta em questões intimamente ligadas à identidade dos professores da EJA. Súmula (2008) acrescenta que o professor está inserido em uma proposta educacional alicerçada a valores como igualdade e diferença, aspectos importantes e inseparáveis da vida em sociedade. Nesse sentido, é relevante pensar a formação docente, tanto inicial como continuada. A “articulação entre as ciências e a prática docente se estabelece concretamente através da formação inicial ou contínua de professores” (TARDIF, 2002, p. 36-37). Dessa forma, o professor deve buscar constantemente aperfeiçoamento profissional, visto que a área da educação exige que o professor assuma uma postura de pesquisador e deve aliar a teoria com a prática. Assim, podemos inferir que faz parte da natureza da escola e da identidadedo professor da EJA a reflexão crítica das transformações concretas da sociedade o qual se torna um fator essencial para a formação humana do estudante, que são sujeitos ativos e produtores do seu próprio conhecimento. Conquanto haja políticas públicas que instituem e garantam a EJA existe a necessidade de se pensar na formação continuada para os professores da EJA. Tacca (2000) em seus estudos reforça que o: professor assuma e requer a clareza de muitos aspectos constituintes da missão a ser realizada. É preciso, sim, ter metas e objetivos, saber sobre o que se vai ensinar, mas não se pode perder de vista, um segundo sequer, para quem se está ensinando e é disso que decorre o como realizar. Integrar tudo inclui dar conta de diversas facetas do processo ensino-aprendizagem, ou seja, a do aluno concreto, real, a do conhecimento, a das estratégias de ensino, e a do contexto cultural e histórico em que se situam. (TACCA, 2000, p. 697). 15 Em sua pesquisa Tacca (2000) fortalece a ideia de que um profissional bem preparado possui uma maior possibilidade de elaborar metodologias que fortaleçam a sua prática no cotidiano escolar. Para Rosa (2003) “O professor precisa possuir a imagem e o respeito de um profissional qualificado e, para que isso aconteça, é necessário que haja formação e atualização docente” (ROSA, 2003, p.223). Assim, salienta-se que a sociedade vive em constante processo de transformação, a tecnologia avança e invade os nossos lares, os tempos mudaram e os professores precisam mudar as suas ideias e práticas de ensino. Para Kenski apud Veiga (2005) é necessário que as: estruturas educacionais proporcionem aos seus professores condições de se atualizarem, não apenas em seus conteúdos, mas didaticamente. Aprender não apenas os conteúdos e as metodologias de suas disciplinas, mas as possibilidades tecnológicas que a evolução do conhecimento humano torna acessível a toda sociedade (KENSKI apud VEIGA, 2005, p. 144). Contudo ressalta-se que muitos professores da sala de aula comum, especificamente da EJA, não têm acesso aos ambientes digitais de aprendizagem como recurso disponível na sua práxis pedagógica. Assim, concluímos que ser professor da Educação de Jovens e Adultos é desafiador, pois mediar o ensino de forma real e eficiente é um teste à sua prática docente. O professor desta modalidade de ensino precisa agarra-se a metodologias e procedimentos adequados ao seu público, com a finalidade de garantir qualidade da aprendizagem desses alunos com características tão peculiares. 2.3. Formação inicial e continuada: a EJA no estado do Ceará As tecnologias introduzem e aceleram os avanços da globalização e esta determina as profundas e inalteráveis transformações que desafiam a todos e os professores, como profissionais mediadores do conhecimento, estão diretamente envolvidos nesse processo. Os docentes precisam desenvolver e aprimorar novas concepções sobre a estrutura dos processos de educação e aprendizagem, trazendo o uso das tecnologias par ao seu lado e que estas favoreçam o seu trabalho em sala de aula. No Ceará, assim, como no país inteiro as exigências de um professor mais aberto às novas necessidades dos estudantes nos impulsionam a repensar sobrea formação dos professores, no caso do nosso estudo, na área da EJA. Assim, fazer uma reflexão a partir das 16 práticas pedagógicas e docentes tem se revelado uma condição necessária para melhor atender esse alunado. É importante ressaltar, os avanços nas últimas décadas do século passado, como por exemplo, a universalização e acesso de “todos” a educação pública e de qualidade, as lutas por melhorias gradativas na qualidade de nossa educação, que são ações recentes promovidas pelos movimentos sindicais na atualidade. Em vista disso, percebe-se que os moldes da escola atual, por muitas vezes não acompanham esse crescimento, visto que necessita de apoios necessários para oferecer uma “escola para todos”. Quando falamos de formação continuada, Nóvoa (1992) nos conta que “não existe ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores”. (NÓVOA, 1992, p. 2). O pesquisador nessa fala traz à tona o questionamento sobre a importância da formação continuada para a prática educativa do professor. O autor acrescenta ainda que a preocupação com afirmação docente surgiu com veemência nos anos de 1980 e colocava o professor como o centro do debate sobre educação e sua formação passou a ser uma luta de todos. Lima (2004) corrobora com o pensamento de Nóvoa (1992) e acrescenta que “formação” assume significados distintos. Para a pesquisadora o termo significa construir, criar, transformar, aprender. Para Arroyo (1996), a formação continuada é uma “atividade humana inteligente caracterizada por seu aspecto relacional e de intercâmbio, com uma dimensão evolutiva e dirigida que visa a conseguir determinadas metas estabelecidas” (ARROYO, 1996, p. 110). Perrenoud (2000, p. 14), coaduna com esse pensamento e desenvolveu em seus estudos dez competências profissionais para ensinar, como: I- Organizar e dirigir situações de aprendizagem; II- Administrar a progressão das aprendizagens; III- Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; IV- Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; V- Trabalhar em equipe; VI- Participar da administração da escola; VII- Informar e envolver os pais; VIII- Utilizar novas tecnologias; IX- Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; X- Administrar sua própria formação continuada. Perrenoud (2000) propõe métodos inovadores que conduzem os profissionais da área do ensino a refletirem sobre sua prática. O autor acrescenta ainda que “o bom senso e o acordo tácito sobre a essência do ofício lançam um véu protetor sobre a realidade das práticas” (PERRENOUD, 2000, p. 177). 17 Assim, investir na formação inicial e continuada do profissional professor da EJA é investir no crescimento de uma sociedade inclusivista voltada para o acolhimento da diversidade existente. Nessa perspectiva, a urgência do aprimoramento profissional para assegurar a escola e a modalidade da EJA um aprendizado de qualidade requer do poder público um olhar mais direcionado tanto para as especificidades dos alunos quanto para a qualificação dos profissionais que atuam na área. Dessa forma, despertará nesse profissional, o desejo de transformar e de atualizar as suas práticas docentes e didáticas, como também, buscar novas formas de ensinar e de aprender. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A nossa pesquisa discutiu a formação inicial e continuada do professor da educação de jovens e adultos-EJA. Na qual fizemos uma viagem pela história da EJA no contexto nacional e local. Buscamos mostrar um breve estudo sobre a identidade do professor da EJA, no qual constatamos a necessidade de maiores esforços para fornecer a qualificação necessária para os profissionais professores que atuam nessa modalidade de ensino. Contudo, Tacca (2000) fortalece essa ideia quando afirma que a EJA, possui muitos fatos que são peculiares e exclusivos. Em vista disso, necessita de metodologias e didáticas que precisam ser pensadas, acerca dos fatores que desperta o interesse desse aluno em concluir sua escolarização. Identificou-se na primeira subseção A Educação de jovens e adultos: Aspectos históricos e legais que, conquanto haja leis que regulamentam e instituem a EJA, é necessário que se pense constantemente em políticas públicas voltadas para a melhoria dessa modalidade de ensino, visto que apresenta um relevante crescimento de matriculas nas escolas que ofertam esse serviço. Na segunda subseção- Identidade do Professor da Educação de Jovens e Adultos- EJA identificou-se que, ser professor da Educação de Jovens e Adultos é desafiador, pois mediaro ensino de forma real e eficiente é um teste à sua prática docente. O professor desta modalidade de ensino precisa agarra-se a metodologias e procedimentos adequados ao seu público, com a finalidade de garantir qualidade da aprendizagem desses alunos com características tão peculiares. 18 Na terceira subseção- Formação inicial e continuada: a EJA no estado do Ceará verificou-se a urgência do aprimoramento profissional para assegurar na escola e na modalidade da EJA um aprendizado de qualidade, visto que requer do poder público um olhar mais direcionado, tanto para as especificidades dos alunos quanto para a qualificação dos profissionais que atuam na área. Concluímos ao final da nossa pesquisa que o professor deve priorizar as adequações curriculares necessárias mediante as especificidades dos alunos, visto que, a EJA possui particularidades que a caracterizam e a diferenciam das demais modalidades de ensino. Assim, é importante ressaltar a necessidade de mais momentos de formação continuada para os professores que ensinam na EJA, para que dessa forma a escola possa ofertar qualidade e equidade no processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, espera-se que esse estudo possa contribuir para futuras pesquisas acadêmicas relativas a essa temática, visto que foram encontrados poucos trabalhos direcionados a formação do professor da educação de jovens e adultos. REFERÊNCIAS AGUIAR, Paula Alves de. Letramento de adultos em processo de alfabetização: reflexos da escolarização nas práticas de leitura. Tese de doutorado-Universidade Federal de Santa Catarina, centro de ciências e educação. Programa de Pós-graduação em Educação, 2012. ARROYO, Miguel Gonzalez.. Reinventar e Formar o Profissional da Educação Básica. In: BICUDO, M. (Org.). Formação do Educador. São Paulo: UNESP, 1996. BERNARDIM, Márcio Luiz. Educação do trabalhador: da escolaridade tardia à educação necessária. Guarapuava: Unicentro, 2008. BRASIL. Conselho Nacional de Educação: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Parecer CEB nº 11/2000, 2000. http://ambientedetestes2.tempsite.ws/ciencia-para-educacao/pesquisador/miguel-gonzalez-arroyo/ 19 ____________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Nº 9394, de 26 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. ____________. Educação para Jovens e Adultos: ensino fundamental: proposta curricular‐ 1º segmento/ coordenação e texto final (de) Vera Maria Masagão Ribeiro; ‐ São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. ____________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 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