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Rastreamento de Câncer de Mama e de Colo de Útero na APS Epidemiologia: Principais causas de mortalidade feminina: ❖ Doenças cardiovasculares: IAM e AVC; ❖ Complicação de doenças crônicas como hipertensão e diabetes que são muito prevalentes. ❖ Neoplasias: câncer de mama, cólon e reto, colo do útero, pulmão; ❖ Importância do rastreio para interferir no desfecho. ❖ Doenças do aparelho respiratório; ❖ Causas endócrinas; ❖ Causas externas. Níveis de Prevenção: Prevenção primária - promoção de saúde; ❖ Minimizar fatores de risco / retirar causas para evitar que uma doença se desenvolva; ❖ Ex: vacinação, estimular a atividade física, alimentação saudável, redução do consumo de álcool, cessação do tabagismo. Prevenção secundária - rastreio e diagnóstico precoce; ❖ Rastreio: exame / investigação / identificação de fatores de risco em pessoas que não apresentam sintomas; ❖ Diagnóstico precoce: paciente já tem queixas de sinais e sintomas iniciais. Ex: começou recentemente com alteração do hábito intestinal, mas ainda não tem eliminação de sangue nas fezes ou perda de peso. Prevenção terciária - reduzir prejuízos funcionais; ❖ Tentativa de reabilitação / recuperação / tratamento de doença propriamente estabelecida; ❖ Prevenção de complicações da doença já estabelecida; ❖ Ex: orientar cuidados, manter acompanhamento clínico, controle da doença. Prevenção quaternária - prevenção de iatrogenias. ❖ Proteger o paciente de intervenções diagnósticas/ terapêuticas excessivas que causariam mais malefícios do que benefícios; ❖ Medicina baseada em evidências: orientações e indicações respaldadas em evidências científicas. Rastreamento x Diagnóstico Precoce: Diagnóstico precoce: identificar a doença em estágio inicial a partir de sintomas ou sinais clínicos em fase inicial; Rastreamento: realização de testes ou exames diagnósticos em populações ou pessoas assintomáticas, com a finalidade de detecção precoce (prevenção secundária) ou identificação e controle de riscos (Ex: identificar RCV alto), tendo como objetivo final reduzir a morbidade, mortalidade da doença, agravo ou risco rastreado; Condições para implantação de programa de rastreamento: ❖ Deve ser um problema de saúde pública; ❖ Não faz sentido estabelecer o rastreio de uma doença rara - alto custo. ❖ A história natural da doença bem conhecida; ❖ Entender se de fato é possível se antecipar; ❖ Neoplasia de câncer de cabeça de pâncreas - geralmente quando tem sinal e sintoma já está em fase muito avançada - dificuldade de rastreio e diagnóstico precoce. ❖ Estágio pré-clínico (assintomático) bem definido, durante o qual a doença pode ser diagnosticada; ❖ Benefício da detecção e do tratamento precoce com rastreamento deve ser maior que a condição fosse tratada no momento habitual do diagnóstico; ❖ Exames de detecção disponíveis, aceitáveis e confiáveis para garantir uma intervenção a nível populacional; ❖ Custo do rastreamento e tratamento razoável e compatível com o orçamento destinado ao sistema de saúde como um todo; ❖ Deve ser um processo contínuo e sistemático. Graus de recomendação: ❖ Parâmetro de orientação com base em evidências clínicas que sugerem as atividades que devem ser tomadas na prática. Papel da APS: O rastreamento a nível populacional é uma tecnologia própria da atenção primária, e os profissionais atuantes nesse nível de atenção devem conhecer o método, a periodicidade e a população-alvo recomendados, sabendo ainda orientar e referenciar para o tratamento os pacientes de acordo com os resultados dos exames e garantir seu surgimento. Pacientes Histerectomizadas: Diretriz Brasileira para rastreamento do CA de colo de útero / 2016 (INCA/MS): ❖ O tratamento realizado em mulheres sem colo do útero devido à histerectomia por condições benignas apresenta menor de um exame citopatológico alterado por mil exames realizados. Recomendações: ❖ Mulheres submetidas à histerectomia total por lesões benignas, sem história prévia de diagnóstico ou tratamento de lesões cervicais de alto grau, podem ser excluídas do rastreamento, desde que apresentem exames anteriores normais (grau de recomendação A); ❖ Em casos de histerectomia por lesão precursora ou câncer do colo do útero, a mulher deverá ser acompanhada de acordo com a lesão tratada (grau de recomendação A). Mulheres sem História de Atividade Sexual: Considerando os conhecimentos atuais em relação ao papel do HPV na carcinogênese do colo uterino e que a infecção viral ocorre por transmissão sexual, o risco de uma mulher que não tenha iniciado atividade sexual desenvolver essa neoplasia é desprezível; Recomendações: ❖ Mulheres sem história de atividade sexual não devem ser submetidas ao rastreamento do câncer de colo do útero (grau de recomendação D). Câncer de Colo de Útero: No Brasil, o câncer de colo de útero / câncer cervical é o 4° tipo mais comum entre as mulheres; Com exceção do câncer de pele, o câncer de colo uterino é o que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando detectado precocemente; ❖ Nem toda paciente infectada pelo HPV desenvolvem câncer de colo de útero; ❖ A infecção pelo HPV gera lesões precursoras que podem ou não evoluir com câncer mas que pode ser precocemente tratada; ❖ Diagnóstico precoce permite identificar lesões malignas mais bem localizadas / pouco invasivas -> altera o desfecho. Exame citopatológico (preventivo): ❖ 12 a 20% das brasileiras entre 25 e 64 anos nunca realizaram exame citopatológico. Motivos para baixa cobertura do preventivo: ❖ Falta de organização dos serviços de saúde; ❖ Ausência de serviços de atenção primária; ❖ Dificuldade de acesso (horário, distância, etc); ❖ Falta de acolhimento; ❖ Rigidez na agenda das equipes; ❖ Preventivo tem um horário determinado. ❖ Singularidades não são devidamente acolhidas muitas vezes. ❖ Mulheres com deficiência; ❖ Lésbicas, bissexuais, transexuais; ❖ Indígenas; ❖ Ciganas; ❖ Mulheres em situação de rua; ❖ Mulheres privadas de liberdade. Recomendação do rastreio (pacientes sem sinal ou sintoma): ❖ Método de rastreamento do CA de colo uterino e de suas lesões precursoras é o exame citopatológico; ❖ Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual, e se ambos os resultados forem negativos, os próximos devem ser realizados a cada 3 anos; ❖ O surgimento de células neoplásicas precursoras de CA demora. ❖ Início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual; ❖ Rastreamento antes dos 25 anos deve ser evitado; ❖ Os exames devem seguir até os 64 anos de idade; ❖ Homens trans que não realizaram a remoção cirúrgica de órgãos reprodutivos devem ser imunizados e rastreados. Situações especiais para realização de preventivo: ❖ Mulheres sem atividade sexual alguma; ❖ Não há indicação para o rastreio de CA de colo do útero e seus precursores. ❖ Gestantes; ❖ Seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária como para as demais mulheres. ❖ Mulheres no climatério ou menopausa; ❖ Devem ser rastreadas de acordo com as orientações para as demais mulheres; ❖ Na eventualidade de o laudo do exame citopatológico mencionar dificuldade no diagnóstico decorrente de atrofia, realizar estrogenização. ❖ Mulheres portadoras de HIV ou imunodeprimidas (doença autoimune, quimioterapia); ❖ Devem realizar o exame logo após o início da vida sexual, com periodicidade anual após 2 exames normais consecutivos realizados com intervalo menstrual. ❖ Mulheres com mais de 64 anos de idade e que nunca realizaram o exame: ❖ Deve realizar 2 exames com intervalo de 3 anos. Se ambos forem negativos, elas podem ser dispensadas de exames adicionais. ❖ Mulheres que realizaram histerectomia total por outras razões que não o CA de colo do útero; ❖ Não devem ser incluídas no tratamento. ❖ Mulheres lésbicas, bissexuais e outras MSM.❖ Mulheres que tiveram / tem relação com penetração devem ser consideradas igualmente vulneráveis à infecção pelo HPV; ❖ Em casos onde não houve penetração, discutir caso a caso com o paciente. Recomendações frente ao estudo citopatológico: ❖ A conduta / orientação depende do laudo citopatológico; ❖ “Células escamosas atípicas de significado indeterminado - não se pode afastar lesão de alto grau” -> encaminhar para colposcopia; ❖ “Células glandulares atípicas de significado indeterminado - possivelmente não neoplásicas ou não se pode diferenciar de lesão de alto grau” – encaminhar para colposcopia; ❖ “Células atípicas de origem indeterminada – possivelmente não neoplásicas ou não se podendo afastar lesão de alto grau” -> encaminhar para colposcopia; ❖ “Células escamosas atípicas de significado indeterminado possivelmente não neoplásicas” -> recomendação varia com a idade; ❖ Menos de 25 anos: repetir em 3 anos; ❖ Entre 25 e 29 anos: repetir Citopatologia em 12 meses; ❖ 30 anos ou mais: repetir Citopatologia em 6 meses. ❖ “Lesões de baixo grau” -> varia conforme a idade; ❖ Menos 25 anos: repetir Citopatologia em 3 anos; ❖ 25 anos ou mais: repetir Citopatologia em 6 meses. ❖ Lesão de alto grau, lesão intraepitelial de alto grau não podendo excluir microinvasão, carcinoma escamoso invasor e adenocarcinoma in situ -> encaminhar para colposcopia. Fatores de risco do câncer de colo de útero: ❖ Sexarca precoce; ❖ Falta do uso de preservativos; ❖ Múltiplos parceiros -> aumenta a chance de exposição ao vírus; ❖ Tabagismo; ❖ HIV. HPV - papiloma vírus humano: ❖ Vírus que infecta células do colo uterino e promovem aumento da sua proliferação; ❖ Transmissão por via sexual; ❖ Diferentes subtipos que levam a mais ou menos risco de desenvolvimento do câncer - HPV 16 (53%), HPV 18 (15%); ❖ Pode ocorrer o surgimento de condilomas (verrugas) nos pequenos lábios e vagina; ❖ HPV com maior risco de desenvolver câncer (HPV 18 e HPV 16) - não aumentam o risco de desenvolvimento de verrugas; ❖ Logo, a ausência de verrugas / lesões visíveis não diz respeito a um menor risco de desenvolver câncer de colo de útero. ❖ A ausência de lesões visíveis não significa que não há infecção, principalmente dos subtipos de alto risco para o desenvolvimento do câncer. Prevenção primária: ❖ Oferta de vacinação contra HPV para a população feminina entre 9 e 14 anos, sendo o esquema vacinal de duas doses (0 a 6 meses); ❖ Não há evidências suficientes da prevenção primária do câncer propriamente dito, mas sim das lesões precursoras (que podem ou não evoluir para câncer, a depender de diversos fatores); ❖ Em meninos a faixa etária é de 11 a 14 anos (2021). ❖ Orientações sobre uso de preservativo; ❖ Combate ao tabagismo. ❖ Tabagismo é fortemente associado ao desenvolvimento de câncer cervical e ao retorno da lesão pré-maligna em mulheres tratadas. Câncer de Mama: É o câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo, constituindo a maior causa de morte por câncer nos países em desenvolvimento. No Brasil, é o segundo tipo mais incidente da população feminina; A incidência varia de região para região, mas de maneira geral, no Brasil: ❖ 1°: pele não melanoma; ❖ 2°: câncer de mama; ❖ 3°: cólon e reto; ❖ 4° colo uterino. Fatores de risco para CA de mama: ❖ Envelhecimento (idade >50 anos); ❖ Menarca precoce; ❖ Nuliparidade ou primeira gravidez aos 30 anos; ❖ História pregressa ou familiar de câncer de mama em parentes de 1° grau; ❖ Uso de álcool, tabaco; ❖ O tabaco é um fator com limitada evidência de aumento do risco de câncer de mama em humanos, mas merece atenção. ❖ Excesso de peso; ❖ Sedentarismo; ❖ Exposição à radiação ionizante; ❖ Terapia de reposição hormonal (estrogênio - progesterona). Recomendações de detecção precoce do CA de mama - INCA / MS (2016): Rastreamento por mamografia: ❖ Menos de 50 anos: Ministério da Saúde (MS) recomenda contra o rastreamento com mamografia; ❖ De 50 a 69 anos: MS recomenda rastreamento com mamografia; ❖ De 70 anos em diante: MS recomenda contra rastreio com mamografia; ❖ O Ministério da saúde recomenda que a periodicidade do rastreamento com mamografia nas faixas etárias recomendadas seja 1 vez a cada 2 anos. Rastreamento por autoexame das mamas: ❖ Não provou ser benéfico para a detecção precoce de tumores de mama e pode trazer falsa segurança, dúvida / ansiedade e excesso de exames invasivos. Portanto, não deve ser orientado, para reconhecimento de lesões embora possa ser recomendado para que a mulher tenha conhecimento sobre seu próprio corpo, devendo o profissional de saúde valorizar as queixas e percepções da paciente. Rastreamento por exame clínico das mamas: ❖ Exame realizado em consultório em paciente assintomática - não é recomendação formal e nem contraindicação. Rastreamento por RNM: ❖ MS recomenda contra em mulheres com risco padrão de desenvolvimento desse câncer, seja, isoladamente, seja como complemento à mamografia. Rastreamento por USG das mamas: ❖ MS recomenda contra o rastreamento de câncer de mama com USG das mamas, seja isoladamente, seja em conjunto com a mamografia. ❖ Investigação diagnóstica é recomendado. Recomendações frente ao rastreio mamográfico: Categoria BI-RADS de cada mama: ❖ BI-RADS 0: exame inconclusivo para quem está dando o laudo – complementa investigação diagnóstica com USG; ❖ Precisa comparar com a mamografia anterior e associar com outro método diagnóstico como a USG. ❖ BI-RADS 1: exame normal/negativo para neoplasia – mantém rastreio bianual; ❖ BI-RADS 2: alterações tipicamente benignas – mantém rastreio bianual; ❖ BI-RADS 3: alterações provavelmente benignas – repete mamografia de 6 em 6 meses no primeiro ano e anual nos próximos 2 anos (3 anos de acompanhamento se ele se manter em BI-RADS 3); ❖ BI-RADS 4: achado suspeito – encaminhar para biópsia da mama (alta especificidade); ❖ BI-RADS 5: achado altamente suspeito – encaminhar para biópsia da mama; ❖ BI-RADS 6: mamografia em paciente com malignidade já confirmada; ❖ Se cada mama for classificada em uma categoria BI-RADS diferente -> considera a categoria mais grave para tomar conduta. Rastreamento da população de alto risco: São definidos grupos populacionais com risco elevado para desenvolvimento do câncer de mama: ❖ Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau com diagnóstico de CA de mama, abaixo dos 50 anos; ❖ Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau de câncer de mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária; ❖ Mulheres com história familiar de câncer de mama masculino; ❖ Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ; ❖ Aproximadamente 5% dos casos de CA de mama ocorrem em mulheres de alto risco. ❖ Ainda não existem ensaios clínicos que tenham identificado estratégias de rastreamento diferenciadas e eficazes para redução da mortalidade neste subgrupo, portanto, exame clínico individualizado para essas pacientes. OBS: 95% das mulheres com CA de mama não são mulheres de alto risco. Decisão compartilhada sobre mulheres que devem ser rastreadas: ❖ Biópsia é doloroso / risco de infecção -> paciente deve conhecer os riscos para decidir. ❖ O malefício de sobrediagnóstico sobrepõe-se ao benefício da detecção precoce. Atenção: ❖ Mulheres vacinadas com Pfizer, moderna, Astrazeneca devem esperar de 4 a 6 semanas para realizar mamografia. ❖ Reação linfonodal ipsilateral regional da reação a vacina como fator confundidor. Rastreamento do RCV: Classificar quanto aos fatores de risco: ❖ Baixo RCV: 1 fator de baixo / médio risco; ❖ Alto RCV: pelo menos 1 fator de alto risco; ❖ Se mais de 1 fator de baixo / médio risco: calcular Framinghan. Rastreamento das dislipidemias: Todos os pacientes com DAC, DAPe DM; Intervalo incerto, de acordo com o RCV - a cada 5 anos se níveis normais; Graus de recomendação em mulheres: Outras recomendações: HAS: medir PA uma vez ao ano em adultos > 18 anos; Diabetes: todo adulto asintomático com PA > 135x80 mmHg; Tabagismo: em todo encontro clínico perguntar sobre; Alcoolismo: perguntar sobre a cada 12 meses ou com maior frequência (teste cage pra quem bebe); Obesidade: IMC; ISTs: oferecer para todas as pessoas com vida sexual ativa; ❖ HIV, sífilis, hepatite B e hepatite C. CA de cólon: entre 50 e 75 anos, a cada 1 ou 2 anos. ❖ Pesquisa de sangue oculto nas fezes. Sem recomendações de rastreio: ❖ CA de ovário e endométrio; ❖ USG de tireoide e dosagem de TSH; ❖ Hemograma completo; ❖ USG de mamas; ❖ Dosagem de hormônios no período de perimenopausa; ❖ Desintometria óssea e prescrição de cálcio para todas as mulheres após a menopausa; ❖ CA de pele. OBS: Nesses casos individualizar de acordo com as características clínicas de cada paciente e as indicações com base na MBE.
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