Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA – Turma 115 ASPECTOS MORFOFUNCIONAIS DO SER HUMANO I FARMACOLOGIA JORGE FERNANDO LOPES DA CUNHA RESUMO: Heparin and its contribution to the treatment of COVID-19 São Luís 2022 JORGE FERNANDO LOPES DA CUNHA RESUMO: Heparin and its contribution to the treatment of COVID-19 Resumo apresentado à disciplina de Farmacologia do módulo de Aspectos Morfofuncionais do Ser Humano I do primeiro período do Curso de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), como forma de obtenção parcial da nota da terceira unidade. Orientador: Prof.ª Dra. Rachel Melo Ribeiro. São Luís 2022 RESUMO: Heparin and its contribution to the treatment of COVID-19 REFERÊNCIA: MITTELMANN, Tamíres Hillesheim; DORS, Juliana Baldissera; ARRAES, Victória Galletti dos Santos; FONSECA, Graciela Soares; ARIAS, Cesar Andres Diaz. Heparin and its contribution to the treatment of COVID-19. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, p. 1-15, set., 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd- v10i12.20274. A discussão quanto aos efeitos da Heparina no controle dos efeitos deletérios da COVID-19, perpassa primeiramente pela compreensão dos próprios efeitos da doença e do mecanismo de ação do novo coronavírus. Nesse sentido, tem-se que os coronavírus são parte de um grupo enorme de vírus, formados por um núcleo de material genético, com espículas de proteína ao seu redor que agem como facilitadores para a entrada do vírus na célula hospedeira. Para os humanos, existem sete tipos de coronavírus que representam risco de infecção. Tal número fica ainda mais relevante quando se leva em consideração que os coronavírus tem a habilidade de atravessar a barreira interespécies, ou seja, podem ser transmitidos de animais para humanos. Dentre os sete coronavírus que representam perigo ao ser humano, três possuem especial relevância: o Mers-CoV, que causa a Síndrome Respiratória do Oriente Médio; o SARS-CoV, responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG); e por último, o mais recente e foco da pesquisa, SARS-CoV-2, causador da COVID-19. A similaridade entre o SARS-CoV e o SARS-CoV-2 se dá em 82% do seu genoma, todavia a diferenciação permitiu ao SARS-CoV-2 a alteração de cinco aminoácidos que agora permitem que o vírus se conecte ao receptor da Enzima Conversora de Angiotensina 2 (ECA2) do hospedeiro, fator que causa maior afinidade vírus-hospedeiro. Em tal cenário, frisa-se que os sintomas da COVID-19 variam de condições assintomáticas ou oligossintomáticas até pneumonias severas que podem levar à morte, com a presença de sintomas variados como: febre, tosse, astenia, inapetência, mialgia, dispneia, secreção respiratória e perda de olfato ou paladar. Um fato de extrema relevância é que a COVID-19 se apresentou também como coagulopatias associadas e, por isso, discutiu-se a importância da utilização de anticoagulantes como farmacoterapia aos infectados pelo SARS-CoV-2, notando-se que anticoagulantes orais diretos (DOAC) ou antagonistas de vitamina K (VKA) não se apresentaram como adequados, por conta de suas interações de caráter instável. Nessa perspectiva, sobressaiu-se a Heparina como uma possibilidade, visto que as heparinas parenterais não apresentam interações diversas, são adequadas para pacientes em ventilação mecânica e auxiliam no tratamento da doença, pois além de demonstrarem ação anti- inflamatória, diminuem a coagulopatias associadas à infecção por COVID-19, reduzindo a mortalidade dos pacientes. Com relação à fisiopatologia da COVID-19 ainda não se têm parâmetros pacificados na literatura, sabe-se, contudo, que a doença se inicia com o acoplamento do vírus aos receptores de ECA2 localizados nos pneumócitos tipo 2 do pulmão, mas que também estão presentes em outros órgãos. Diversas vezes, essa ligação é responsável por uma resposta inflamatória exagerada nas células epiteliais, conhecida como “tempestade de citocinas”, grande responsável pela injúria pulmonar, SRAG e falência múltipla dos órgãos. Igualmente, a doença está associada a disfunções de coagulação, tais como tromboembolismo venoso (TEV), trombose venosa profunda (TVP), tromboembolismo pulmonar (TEP). Essas coagulopatias tem sua incidência aumentada, pois geralmente os pacientes hospitalizados por COVID-19 possuem também outros fatores predisponentes do tromboembolismo, como infecção aguda, mobilidade reduzida, hipoxia, sepse, idade avançada e a própria hospitalização. Por conta disso, há uma indicação em diversas literaturas para aplicação farmacológica de profilaxia antitrombótica para todos os pacientes admitidos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), até mesmo com altas doses (embora não se tenham estudos randomizados sobre o tema), àqueles que não possuírem contraindicação. Os achados trazem dados diversos, um indica que 25%, em um total de 81, dos pacientes com COVID-19 apresentaram TVP, outro indica a existência de elevada taxa de D-dímero em 90% dos pacientes, indicando desordens de coagulação como parte integrante da fisiopatologia da COVID-19, havendo que ressaltar que os altos índices de D-dímero estão associados com um pior prognóstico e devem aumentar a suspeita clínica de TEV. Os níveis elevados de D-dímero parecem ser a uma parte da literatura, inclusive, motivo para hospitalização mesmo na ausência de outros sintomas, vez que são indicação de processos coagulopáticos. Os pacientes em quadros graves de COVID-19, além da elevação do D-dímero, tendem a apresentar alto índice de coagulação intravascular disseminada (CIVD), com piora de prognóstico e mortes comuns associadas à pneumonia por SARS-CoV-2. Entende-se, desse modo, que a coagulopatia na COVID-19 é uma combinação de CIVD e microangiopatia trombótica (MAT) pulmonar, as quais têm efeito substância na disfunção de órgãos dos pacientes afetados. Portanto, a doença é evidentemente um predisponente a desordens de coagulação, sendo considerada pró-trombótica, o que faz com que o uso de anticoagulantes seja viável no tratamento e diminuição da mortalidade. Como informado, os anticoagulantes das classes DOAC e AVK não se demonstram muito adequados para pacientes infectados com o novo coronavírus, pois apresentam muitas interações com outros fármacos utilizados no tratamento do paciente com COVID-19, tais como antivirais, antibióticos, anti-hipertensivos, broncodilatadores e imunossupressores. Aumentam inclusive a chance de hemorragias e outras complicações. Já as heparinas não fracionadas (HNF) e as heparinas de baixo peso molecular (HBPM) possuem efeito antitrombótico pela inibição da trombina e inativação do fator Xa. Nesse contexto, as HBPM têm igual eficácia as HFN, porém como maior biodisponibilidade e maior meia vida, somente devendo ser utilizada com cautela em pacientes renais ou obesos. As heparinas são a classe de anticoagulantes mais recomendadas pelas sociedades de saúde, pois expõem menos o paciente a sangramentos, possuem menor resistência, não apresentam necessidade de monitoramento laboratorial constante e têm menos interações farmacológicas. Ademais, apresentam significativo efeito anti-inflamatório, antiviral, antiarrítmico, antitrombótico e diminuem a incidência da “tempestade de citocinas”. Os efeitos anti-inflamatórios das heparinas se dão pela inibição da migração de neutrófilos e leucócitos ao sistema respiratório, diminuindo o processo de inflamação e a incidência de SRAG e aumentando a eficiência das trocas gasosas. O efeito antiviral é demonstrado pela inibição da entrada do vírus na célula, pois a heparina tem a capacidade de inibir endoproteases, como o fator Xa, trombina, furina e catequinas, fazendo com queas espículas proteicas do vírus não consigam se ligar à célula e iniciar sua infecção. Já os efeitos anticoagulantes das heparinas ajudam a prevenir a formação de trombos pela inibição trombina e fator X, diminuindo o risco de TEP. Além disso, ajuda a reverter as condições trombóticas causadas pela “tempestade de citocinas”, bem como proteger células endoteliais de invasões patogênicas que geram histona (as quais aumentam o risco de lesão pulmonar por apoptose), pois são antagonistas das histonas e, assim, conseguem atuar na proteção do endotélio. A dose padrão, todavia, fora inconclusiva, aparentando que mais importante do que a dose é a profilaxia com heparina nos casos de pacientes com coagulopatias ou com predisposição para tal. Desse modo, a mortalidade demonstrou-se reduzida com o uso de heparinas aos pacientes com elevado D-dímero, e inefetiva, mas não prejudicial, nos pacientes sem indicação de risco de TEV. Tais achados indicam que existe um componente trombótico nas síndromes respiratórias causadas pelo SARS-CoV-2 e que as heparinas são fármacos indicados para redução das complicações decorrentes da COVID-19.
Compartilhar