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Aos meus pais, Valdeci Moraes e Elaine C.S. Moraes, Por todo incentivo, amor e carinho. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço imensamente à Deus por sempre ter abençoado a minha vida, por ter me dado saúde e forças para enfrentar todos os obstáculos que surgiram durante o caminho. Sem ele, nada disso seria possível. Agradeço todas as bençãos que recaíram, não só sobre mim, mas também sobre todos aqueles que amo e pela família maravilhosa que tenho. Agradeço aos meus pais Valdeci Moraes e Elaine Cristina de Souza Moraes, que sempre me deram muito apoio e incentivo para realizar todos os meus sonhos e pelo amor incondicional. Sem vocês a realização desse sonho não seria possível. Ao meu irmão Vinicius Moraes, por ser além de irmão, um amigo, parceiro de todas as horas, agradeço por acreditar no meu sonho, por torcer por mim e me apoiar com palavras de ânimo e por me fazer ter confiança nas minhas decisões. Ao meu namorado Ronaldo Sene Campos, eu agradeço por todo o apoio e paciência que teve comigo durante a elaboração desta obra, por estar presente em todos os momentos, principalmente, nos momentos mais difíceis com palavra de incentivo que serviram de alicerce para as minhas realizações. Em suma, agradeço a toda a minha família pela dedicação e paciência que tiveram ao decorrer da minha caminhada, por todo apoio e carinho que me foi dado, pelo amor que sempre esteve presente no meu dia-a-dia. Vocês são essenciais na minha vida, muito obrigada por acreditarem em mim e me apoiarem em cada escolha. A todos os professores que conheci e me acompanharam durante o curso de graduação e pós-graduação, por dividirem seus conhecimentos, por me inspirarem a querer ser uma grande profissional. Principalmente aos professores Juliano Zappia e Ivan Custódio, cuja a dedicação e atenção foram essenciais durante a elaboração deste projeto para o Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Direito, que hoje tem a honra de se tornar um livro. À todas as pessoas que fazem ou fizeram parte da minha vida, pois de alguma forma contribuíram, direita ou indiretamente, para minha formação profissional e pessoal. Eu acredito que cada indivíduo nos proporciona a chance de aprendemos a ser uma pessoa melhor e, futuramente nos tornamos a melhor versão de nós mesmo, o meu muitíssimo obrigada. “Para uma mente ampla, nada é pequeno.” Sherlock Holmes SUMÁRIO Capa Folha de Rosto Créditos 1. INTRODUÇÃO 2. PSICOPATA 2.1 PSICOPATAS HOMICIDAS 3. DIREITO PENAL 3.1 CONCEITO DE CRIME 4. TIPICIDADE 5. ANTIJURIDICIDADE 5.1 CAUSA DE EXCLUSÃO DA ANTIJUDIRIDICIDADE 5.1.1 ESTADO DE NECESSIDADE 5.1.2 LEGÍTIMA DEFESA 5.1.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 5.1.4 EXERCICIO REGULAR DE DIREITO 5.1.5 CONSENTIMENTO DO OFENDIDO 6. CULPABILIDADE 6.1 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE 6.1.1 IMPUTABILIDADE PENAL 6.1.1.1 Inimputabilidade 6.1.2 POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE 6.1.3 EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 7. SANÇÕES PENAIS 7.1 A PENA COMO SANÇÃO PENAL 7.1.1 PENAS PRIVATIVAS DE DIREITO 7.1.2 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO 7.1.3 PENA DE MULTA 7.2 MEDIDA DE SEGURANÇA 7.3 DIFERENÇA ENTRE PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA 8. A RESPONSABILIDADE PENAL DOS PSICOPATAS 9. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS Landmarks Capa Folha de Rosto Página de Créditos Dedicatória Agradecimentos Epígrafe Sumário Bibliografia 1. INTRODUÇÃO Inicialmente, este livro busca estudar a resposta jurídica dada ao crime cometido em razão do fenômeno da psicopatia. Uma análise profunda do tema será realizada dentro do ramo do Direito Penal. Primeiramente traçaremos um caminho em busca do apoio de ciências ligadas a saúde mental, como a psiquiatria, a psicologia e a neurociências para extrair o conceito desses indivíduos denominados psicopatas, só assim poderemos entrar na parte jurídica, do qual o livro é voltado. Em busca da resposta jurídica para o crime cometido por psicopatas estudaremos o conceito de crime e as sanções que são geradas com essa conduta, ou seja, se lhe será atribuído pena ou medida de segurança, mas antes de responder essa pergunta, entraremos no conceito de culpabilidade que segundo Rogério Greco (2014, p, 379.) pode ser definido brevemente como: “[...] O juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente.” A culpabilidade será estudada profundamente, fazendo uma análise em seus elementos: a imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta diversa. Como toda regra tem sua exceção, não seria diferente com a culpabilidade, portanto, também abordaremos as excludentes da culpabilidade. Após adquirir conhecimentos sobre culpabilidade e a exclusão poderemos finalmente chegar à questão do nosso trabalho, ou seja, psicopatas são seres considerados no ordenamento jurídico como imputáveis, inimputáveis ou semi- imputáveis. Por fim, descobriremos aonde o psicopata se encaixa na legislação penal e qual sanção penal deve ser aplicada. 2. PSICOPATA Primeiramente, o estudo da psicopatia e a sua definição, será extraído do conceito das ciências ligadas à áreas de saúde mental, como por exemplo, a psiquiatria, psicologia, neurociências, medicina legal, entre outras. Neste passo, Kerry Daynes psicóloga forense, nos traz o conceito de psicopata: A palavra psicopata significa literalmente “mente doente”, mas, embora possam desenvolver estados temporários de doença mental como outra pessoa qualquer, os psicopatas não são dementes. Eles têm total consciência e controle do comportamento. Seus atos são ainda mais assustadores por não poderem ser considerados consequências de uma doença temporária, mas, sim, de uma permanente indiferença fria e calculista em relação aos outros. (Grifo nosso) ¹ Segundo a expressão psicopatia utilizada pelos profissionais da área da saúde, significa: doença da mente (do grego psyche (mente) e pathos (doença)) e de acordo com o avanço dos estudos, a terminologia passou por uma evolução² e hoje recebe a denominação de Transtorno de Personalidade Antissocial, conforme o Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV- TR)³ Ainda sobre a terminologia, Jorge Trindade nos explica que historicamente esse Transtorno recebeu vários outros nomes: “a) insanidade sem delírio (Pinel.1806); b) Insanidade moral (Prichard, 1837); c) delinquência nata (Lombrosos, 1911); d) psicopatia (kock, 1891); e) sociopatia (lykken, 1957). E atualmente, é conhecido por Transtorno de personalidade Antissocial”. ⁴ Como pode ser observado, existe uma grande divergência acerca da terminologia, mas com o intuito de facilitar o entendimento, será adotada a palavra psicopata/psicopatia para se referir a esses indivíduos portadores de Transtorno de personalidade antissocial, como explica Ana Beatriz Barbosa Silva “Seja lá como for, uma coisa é certa: todas as terminologias definem um perfil transgressor. O que pode suscitar uma pequena diferenciação entre elas é a intensidade com a qual os sintomas se manifestam.” ⁵ Nesse passo, Dicionário de Psicologia apud Michele O. de Abreu, apresenta o conceito cristalino de um perfil comportamental dos portadores de psicopatia: O psicopata (ou sociopata) é um indivíduo impulsivo, irresponsável, hedonista, “bidimensional”, carente de capacidade de experimentar os comportamentos interpessoal, como p. ex., culpa, arrependimento, empatia, afeição, interesse autêntico pelo bem-estar de outrem. Embora muitas vezes possa imitar emoções normais e simular apegos afetivos, suas relações sociais e sexuais com outras pessoas continuam superficiais e exigentes. Sua capacidade de juízo é limitada; ele aparece incapaz de adiar a satisfação de necessidades momentâneas, não importando as consequências para si e para os outros. Está sempre em apuros; tentando livrar-se das dificuldades, ele cria com frequência uma rede complicada e contraditória de mentiras e racionalizações, ligadas a explicações teatrais e às vezes convincentes, expressões de remorsos e promessas de mudar. Muitos psicopatassão rapinantes calejados e são agressivos; outros, ao contrário, são típicos parasitas, ou manipuladores passivos, que se fiam em confusões e loquacidade, atratividade artificial, e em sua aparência de desamparo para conseguir o que desejam. Neste contexto, concluímos que os psicopatas são seres extremamente inteligentes, incapazes de sentir emoções, não possuem empatia, são frios e manipuladores, segundo a Dra. Ana Beatriz, na Espanha os psicopatas são chamados de camaleões, pois eles se “transforam em um determinado tipo de pessoa”, para conseguir alcançar seus objetivos. Em outras palavras “o psicopata sabe a letra da música, mas não sente a melodia.”⁷ 2.1 PSICOPATAS HOMICIDAS É importante mencionar que, a minoria dos psicopatas possui tendências homicidas e se tornam homicidas. É importante ressaltar que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não “sujarão as mãos de sangue” nem matarão suas vítimas. Já os últimos botam verdadeiramente a “mão na massa”, com métodos cruéis sofisticados, e sentem um enorme prazer com seus atos brutais. [...]⁸ Como pode ser observado a psicologia divide os psicopatas em graus: leve, moderado e grave. O presente trabalho abordará o psicopata sobre a visão do grau grave, ou seja, os homicidas, aqueles que cometem assassinatos cruelmente. Atualmente para se saber se um indivíduo possui transtorno de personalidade é realizada uma avaliação e diagnóstico de padrão internacional de psicopatia, criada pelo Dr., Robert Hare em 1991, chamado escala PCL-R (Psichopathy Checklist Revised). A escala PCL-R é um instrumento complexo, realizado por um psicólogo devidamente qualificado e altamente treinado, que visa medir o grau em que uma pessoa demonstra vinte qualidades fundamentais de um psicopata. Esta pontuação foi baseada em extensas pesquisas com outros indivíduos e analises de arquivos provenientes. ¹ A fim de apresentar o perfil dos psicopatas, adotaremos a classificação apresentada pelo psiquiatra canadense Robert D. Hare apud Michele O. Abreu: Em relação à área emocional/interpessoal dos psicopatas tem como finalidade apresentar o componente básico do ser humano, ou seja, a capacidade de sentimento em relação a terceiros. Sentimentos estes ligados ao afeto, pena e arrependimento. Com base nos estudos realizados podemos extrair que os psicopatas são seres incapazes de conhecer estes sentimentos, e todo ato realizados por eles que pareçam “demonstrar” esses sentimentos de amor, remorso, pena e arrependimento são frutos de seu poder de simulação. ¹¹ Na lição de Robert D. Hare, diz que “muitas pessoas são impulsivas, simples, frias, insensíveis ou antissociais, mas isso não significa que sejam psicopatas. A psicopatia é uma síndrome: um conjunto de sintomas relacionados”. ¹² Sendo assim, a área emocional de um psicopata apresenta os seguintes traços emocionais e interpessoais: Eloquentes e superficiais: os psicopatas mostram-se muito articulados e convincentes nas histórias que contam, entretanto, ainda que consigam ludibriar os demais com um falso conhecimento em diversas áreas, podem revelar suas superficialidades de conteúdo se forem testados por verdadeiros especialistas no assunto.¹³ Egocêntricos e megalomania: Os psicopatas possuem uma visão narcisista e supervalorizada de seus valores e importâncias, acreditam fielmente que podem viver de acordo com as próprias regras, se sentem superiores às pessoas e adoram responsabilizar outras pessoas pelos seus atos. ¹⁴ Ausência de sentimento de culpa: Os psicopatas são capazes de verbalizar remorso mas, na realidade demonstram uma total ausência de sentimento de culpa em relação às condutas em relações às outras pessoas, uma vez que, suas ações os contradizem rapidamente.¹⁵ Ausência de empatia: Como é sabemos a empatia é a capacidade de respeitar e considerar os sentimentos alheios, é aquela habilidade de se colocar no lugar do próximo. A falta de empatia é apresentada por todos os psicopatas, pois, eles são indiferentes aos direitos e sofrimentos de seus familiares e terceiros ao seu convívio. ¹ Enganadores e manipuladores: Mentir, trapacear e manipular é habilidades natas de um psicopata, eles apresentam comportamentos agradáveis e sedutores, tendo, como único objetivo manipular o outro para alcançar seus propósitos à qualquer custo e, uma vez, descoberto não se envergonham. ¹⁷ Emoções rasas: Apresentam uma “pobreza de emocional”, sendo incapazes de sentirem amor, compaixão e o respeito mútuo, vários psiquiatras afirmam que as emoções vivenciadas por estes seres são superficiais e que eles mesmos não sabem diferenciar estas emoções em razão de uma disfunção cerebral. ¹⁸ Os psicopatas ainda apresentam um estilo de vida diferenciado das demais pessoas, uma vez que, diante da sociedade apresentam um comportamento instável, com tendência à violação das normas impostas. As principais características a este estilo de vida, são: Impulsividade: Retrata a figura de um indivíduo que apesar de racional e consciente dos atos, vive o presente, não se preocupa com o futuro, capazes de realizarem atos apenas para satisfação momentânea de seu ego. ¹ Autocontrole deficiente: Agem desproporcionalmente a qualquer insulto, frustração e ameaça, apresentando um déficit de autocontrole, segundo Robert D. Hare, esse autocontrole deficiente são “explosões” em relações a situações relevantes, ressalva ainda que “ainda que perca o controle da situação, o psicopata não perde a consciência dos atos que estão por vir”.² Necessidade de excitação continuada: O estado de excitação é o grande encarregado da realização de atos realizados pelos psicopatas, eles vivem buscando situações que tragam prazer e diversão. ²¹ Falta de responsabilidade: Não honram compromissos com às obrigações, a não ser que, seja necessário para alcançar um objetivo, fora estas situações são totalmente irresponsáveis. ²² Problemas de condutas na infância: Os psicopatas apresentam traços de psicopatias desde muito cedo, é na infância que começam a demonstrar que não sentem importância pelos outros, o divertimento com o sofrimento alheio, as mentiras, sexualidade precoce, arrogância, e principalmente condutas agressivas com animais. ²³ Comportamento antissocial na fase adulta: nessa fase, transgredem e ignoram as normas necessárias para o convívio, superando quaisquer obstáculos para realizar seus desejos. E diante do perfil homicida, gostam de planejar o crime detalhadamente com total frieza e preenchidos de violência e sofrimento para a vítima, pois o prazer em ver o sofrimento alheio os preenche de excitação momentânea, os que comprovam sua insensibilidade. ²⁴ Diante de todas essas características apontadas, tanto em relação à área emocional como ao estilo de vida, podemos concluir que os psicopatas são seres incapazes de sentir qualquer emoção mas, demonstram à suas vítimas através de encenações, empregando-se de meios de manipulações, mentiras e trapaças e de suas habilidades de sedução, para alcançar um único objetivo, a sua satisfação pessoal. É importante mencionar que a psicopatia apresenta traços desde a mais tenra idade, uma vez que, é nesta época que começam a realizar atos cruéis contra animais e outras crianças, não apresentando culpa ou remorso. Além disso, são seres extremamente inteligentes segundo a maioria dos psiquiatras. Segundo alguns estudos realizados, principalmente uma no Brasil pelo psiquiatra Antônio Serafim, no ano de 2001, foi possível observar uma diferença entre a estrutura cerebral e funcional em criminosos psicopatas e criminosos não psicopatas. Nesse sentido Ana Beatriz se refere às novas técnicas de neuroimagens (RMF e PET-SCAN) utilizada no diagnóstico da psicopatia sobre as alterações no funcionamento cerebral, ela afirma: Pessoas sem nenhum traço psicopático revelaram intensa atividade da amígdala e do lobo frontal (necessariamente, de menor intensidade) quando estimuladas a seimaginarem cometendo atos imorais ou perversos. No entanto, quando os mesmos teste foram realizados num grupo de psicopatas criminosos, os resultados apontam para uma resposta débil nos mesmos circuitos. Se considerarmos que a amígdala é nosso “coração cerebral”, entenderemos que os psicopatas são seres sem “coração mental”. ²⁵ Neste passo, Kerry Daynes afirma que: Algumas pessoas acreditam que a origem da psicopatia seja um distúrbio neurológico específico. Embora os estudos não indiquem que os psicopatas tenham alguma lesão cerebral, seu cérebro realmente parece ser diferente do das outras pessoas. Por exemplo, técnicas de neuroimagem revelaram que, quando os psicopatas são solicitados a realizarem tarefas que requerem o processamento de palavras carregadas de emoção, as partes do seu cérebro que são ativadas não são as mesmas dos grupos d controle normais. “Circuitos defeituosos” no sistema paralímbico (um grupo d regiões cerebrais interconectadas envolvidas no autocontrole e no processamento emocional) podem ser particularmente significativos.² Necessário se faz mencionar que os psicopatas homicidas são aqueles que realizam a conduta tipificada no artigo 121, do Código Penal, ou seja, aqueles seres que matam outras pessoas sob a pratica de assassinatos cruéis e violentos em busca de um prazer, de uma excitação momentânea: Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino VII – contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2°A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. § 7o A pena do Feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.²⁷ Enfim, como podemos observar o tema é ainda muito discutido pelos estudiosos na área, e ainda demanda muito estudo, mas, podemos concluir que os psicopatas são seres portadores de Transtorno de Personalidade Antissocial. Podemos concluir ainda que, o tema que apresenta muita dificuldade em ser explicado cientificamente, mas, a maioria dos pesquisadores sobre os estudos da psicopatia, afirmam que os psicopatas têm uma ligação com o sistema nervoso central e que não são entendidos como doentes mentais. 1 DAYNES, Kerry e FELLOWER, Jessica. Como identificar um psicopata: cuidado! Ele pode estar mais perto do que você imagina. Tradução Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro – São Paulo: Cultrix, 2012, p. 19. 2 ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p.2 3 ASSOCIAÇÂO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-IV-TR. Consultoria e coordenação de Miguel R. Jorge. 4. Ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2008. P. 658. 4 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do direito. 6. Ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p.161 5 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo,2014, p.38. 6 Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 7-8. 7 Idem. 8 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p. 19-21. 9 DAYNES, Kerry e FELLOWER, Jessica. Como identificar um psicopata: cuidado! Ele pode estar mais perto do que você imagina. Tradução Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro – São Paulo: Cultrix, 2012, p. 20 10 DAYNES, Kerry e FELLOWER, Jessica. Como identificar um psicopata: cuidado! Ele pode estar mais perto do que você imagina. Tradução Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro – São Paulo: Cultrix, 2012, p. 20. 11 HARE, ROBERT D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Porto Alegre: Artmed, 2013, p. 34 – 53. 12 HARE, ROBERT D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Porto Alegre: Artmed, 2013, p. 57 13 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p.69-68. 14 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p.71. 15 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p.74. 16 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p.75. 17 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p.78. 18 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p.80. 19 ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 45. 20 ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 46. 21 ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 46. 22 ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 47. 23 ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do psicopata. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 48. 24 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p. 92. 25 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2. ed. São Paulo: Globo, 2014, p. 181. 26 DAYNES, Kerry e FELLOWER, Jessica. Como identificar um psicopata: cuidado! Ele pode estar mais perto do que você imagina. Tradução Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro – São Paulo: Cultrix, 2012, p. 31. 27 BARROSO, Darlan.; JUNIOR, Marco Antônio Araújo. Vade mecum OAB 2017: artigo 21 do Código Penal. 9. ed. rev., ampl. e atual.. SãoPaulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 565 3. DIREITO PENAL O Direito existe para organizar os comportamentos humanos dentro da sociedade e garantir a convivência social, inibindo os atos conflitosos, através de um conjunto de regras obrigatórias que limitam às ações de cada indivíduo para garantir à harmonia. Como é sabido, o presente livro tem como objeto a análise da responsabilidade penal aos portadores de psicopatia e, em busca desta análise, será usado o Direito Penal. Com seu notório conhecimento e saber jurídico, Júlio Fabbrini Mirabete, nos apresenta o seu breve conceito: A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os indivíduos que a compõem. O conjunto dessas regras, denominado direito positivo, que deve ser obedecido e cumprido por todos os integrantes do grupo social, prevê as consequências e as sanções aos que violaram seus preceitos. À reunião das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de Direito Penal. ²⁸ No mesmo viés, o conceito de Direito Penal por Luiz Regis Prado: O Direito Penal é o setor ou parcela do ordenamento jurídico público interno que estabelece as ações ou omissões delitivas, cominando-lhes determinadas consequências jurídicas - penas ou medidas de segurança (conceito formal). Enquanto sistema normativo integra-se por normas jurídicas (mandatos e proibições) que criam o injusto penal e suas respectivas consequências. De outro lado, refere-se, também, a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, que afetam gravemente bens jurídicos indispensáveis à sua própria conservação e progresso (conceito material).² Em outras palavras, podemos dizer que o Direito Penal somente atinge o homem, ou seja, o ser humano e, está dentro do ordenamento do Direito Público, e tem como função estabelecerum conjunto de normas, cuja finalidade é reprovar as condutas lesivas ou perigosas aos bens jurídicos tutelados pelo Estado, definidas comoinfrações penais (crimes ou contravenções), e, uma vez realizadas, geram uma consequência jurídica que será exteriorizada atravésdasrespectivas sanções (pena ou medida de segurança). O Direito Penal fora criado com o intuito de proteger os bens juridicamente importantes, como por exemplo: a vida, a integridade física, a saúde, a liberdade, a moral, a honra, o patrimônio, entre outros bens. 3.1 CONCEITO DE CRIME Uma das questões mais complexas dentro do direito penal é o conceito de Crime. Definido sob vários aspectos, não existindo um conceito de crime fornecido pelo legislador, restando, apenas, conceitos doutrinários. O conceito de crime é estudado pelos doutrinadores dentro da teoria geral do crime. Nesse sentido Cezar Roberto Bitencourt expõe a finalidade desta teoria: Seu principal objeto de estudo é a teoria geral do delito, também referida pela doutrina especializada como teoria do fato punível, em cujo núcleo estão as normas inscritas na Parte Geral do Código Penal que nos auxiliam a identificar e delimitar os pressupostos gerais da ação punível e os correspondentes requisitos de imputação, O conhecimento dos temas abrangidos pela teoria geral do delito é, por isso, extraordinariamente importante, pois somente através do entendimento dos elementos que determinam a relevância penal de uma conduta, e das regras que estabelecem quem, quando e como deve ser punido. [...]³ Francisco Vani Bemfica dispõe: “o direito penal abrange o estudo, principalmente, do crime, da pena e do criminoso, a que se acresce, secundariamente, a propedêutica jurídico-penal, a norma penal, a ação penal, a punibilidade e as medidas de segurança.” ³¹ Conforme Eugenio Raúl Zaffaroni apud Rogério Greco, o conceito de crime pode ser definido da seguinte forma: A parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o delito em geral, quer dizer, quais são as características que devem ter qualquer delito. Esta explicação não é um mero discorrer sobre o delito com interesse puramente especulativo, senão que atende à função essencialmente prática, consistente na facilitação da averiguação da presença ou ausência de delito em cada caso concreto.³² Nesse mesmo sentido, Luiz Regis Prado traz o conceito de crime sob os seguintes aspectos: a) Formal ou nominal – o delito é definido sob o ponto de vista do Direito positivo, isto é, o que a lei penal vigente incrimina (sub specie juris), fixando seu campo de abrangência – função de garantia (art. 1°, CP). [...] b) Material ou substancial – diz respeito ao conteúdo do ilícito penal – caráter danoso da ação ou seu desvalor social -, quer dizer, o que determina sociedade, em dado momento histórico, considera que deve ser proibido pela lei penal. [...] c) Analítico ou dogmático – decompõe-se o delito em suas partes constitutivas – estruturas axiologicamente em uma relação lógica (análise lógico-abstrata). Isso não exclui a consideração do fato delitivo como um todo unitário, mas torna a subsunção mais racional e segura. [...] Assim concebido, o delito vem ser toda a ação ou omissão típica, ilícita ou antijurídica e culpável. [...]³³ Conforme preleciona Rogério Sanches Cunha, o conceito varia conforme o foco: Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que assim está rotulado em uma normal penal incriminadora, sob ameaça de pena. Num conceito material, infração penal é comportamento humano causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal O conceito analítico leva em consideração os elementos estruturais que compõem infração penal, prevalecendo fato típico, ilícito e culpável.³⁴ Em outras palavras, podemos definir o conceito formal, sendo crime todo ato (ação ou omissão) que contraria o exposto na lei penal; o conceito Material é todo o ato que lesa ou expõem a perigo um bem juridicamente protegido de caráter individual ou coletivo, e, o conceito analítico é a mistura do conceito formal com o material, ou seja, é quando ofende um bem juridicamente protegido contrariando o exposto na legislação e os interesses do Estado. É importante salientar, que os termos crimes, delitos e contravenções penais possuem significados distintos. Na lição de Rogério Greco, acerca da diferença sobre as nomenclaturas acima expostas: [...] “é preciso saber que nosso sistema jurídico penal adotou, de um lado, as palavras crime e delito com expressões sinônimas, e, de outro, as contravenções”.³⁵ Sobre o mesmo aspecto Rogério Greco, ressalta ainda que: [...] “devemos utilizar a expressão infração penal. A infração penal, portanto, como gênero, refere-se de forma abrangente aos crimes/delitos e às contravenções penais como espécies”. ³ O conceito analítico se divide em duas teorias: Bipartida ou Tripartida. Necessário se faz mencionar que existe uma grande polêmica entre os doutrinadores penalistas sobre o conceito analítico de crime, e qual a teoria a ser adotada. A Teoria Bipartida é defendida por vários doutrinadores, entre eles estão: René Ariel Dotti, Damásio de Jesus, Júlio Fabbrini Mirabete, Celso Delmanto, Flávio Augusto Monteiro de Barros, Fernando Capez etc, os quais defendem que o crime é um fato típico e antijurídico, ou seja, a culpabilidade é apenas um pressuposto de aplicação da pena. A Teoria Tripartida defendida por Guilherme de Souza Nucci, Assis Toledo, Heleno Fragoso, Juarez Tavares, José Henrique Pierangeli, Eugenio Raúl Zaffaroni, Cezar Roberto Bittencourt, Luiz Regis Prado, Rogério Greco, Nelson Hungria, entre outros, cujo entendem que crime é um fato típico, antijurídico e culpável, é a corrente majoritária, adotada pelos penalistas. Aos doutrinadores supracitados, com todo respeito, que consideram a culpabilidade como apenas um pressuposto da pena, necessário se faz trazer o ensinamento de Guilherme Nucci: Levado ao extremoesse processo de esvaziamento, até mesmo tipicidade e antijuridicidade – incluam-se nisso as condições objetivas de punibilidade -, não deixam de ser pressupostos de aplicação da pena, pois, sem eles, não há delito, nem tampouco punição. ³⁷ Como demonstração de que a corrente mais adotada no Brasil atualmente é a da Teoria Tripartida, traz-se a lume julgados do STJ e STF: Argumentos inerentes àculpabilidadeem sentido estrito,elementointegrante da estrutura do crime, em suaconcepção tripartidanãoautorizam a exasperação da pena-base, a pretexto de culpabilidadedesfavorável.(STJ, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 28/05/2013, T5 – QUINTA TURMA). (grifo nosso)³⁸ Na operação de dosimetria da pena base, as circunstâncias judiciais (art.59doCP) devem ser valoradas com base em dados acidentais concretos extraídos dos autos, os quais extrapolem os elementos constitutivos do crime, em suaconcepção tripartida (fato típico, ilícito e culpável), sob pena de incorrer em bis in idem (STF, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 27/11/2012, Segunda Turma). (grifo nosso)³ Portanto, para melhor entendimento, o conceito de crime diante da visão de Guilherme Nucci: Uma conduta típica, antijurídica e culpável, vale dizer, uma ação ou omissão ajustada a um modelo legal de conduta proibida (tipicidade), contrária ao direito (antijuridicidade) e sujeita a um juízo de reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, desde que existam imputabilidade, consciência potencial de ilicitude e exigibilidade e possibilidade de agir conforme o direito.⁴ (Grifo nosso) É importante ressaltarmos que o presente estudo é baseado na Teoria Tripartida, e cada elemento que compõem o conceito de crime (ação típica, antijurídica e culpável), serão estudos separadamente. Outro ponto importante a ser destacado é os sujeitos do crime, existindo o sujeito ativo e o sujeito passivo. Na visão de Francisco Bani Bemfica: O sujeito ativo do crime é quem pratica: o homem individualmente ou associado. Só ele tem capacidade de delinquir. [...] Recebe o sujeito ativo denominações diversas, como agente, denunciado, réu, sentenciado, condenado e outras. Não é possível o sujeito ser, ao mesmo tempo, ativo e passivo. Sujeito passivo é o titular do direito lesado ou posto em perigo pelo crime. É chamado d ofendido ou vítima. É ele, principalmente, a pessoa física, mesmo antes do nascimento, como no caso de aborto, ou logo após, como no caso de infanticídio. ⁴¹ Por fim, a visão de Francisco Bani Bemfica, acerca do objeto do crime: O objeto do crime pode ser material e jurídico. O primeiro é ser ou coisa em que incide a ação do agente. Conforme a modalidade da infração, o próprio sujeito passivo do crime pode ser objeto material, como no caso do homicídio, em que o homem é titular do direito à vida e, ao mesmo tempo, o objeto do crime. O objeto jurídico do crime é representado pela norma violada ou posta em perigo. ⁴² Deste modo, embora haja um indivíduo realizando uma conduta de reprovação social, se a mesma não estiver devidamente expressa em lei, estaremos diante de um nada jurídico. 28 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. São Paulo: Atlas, 1997, p. 19 29 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral: arts 1° a 120. 3 ed. ver. Atual. e ampl. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2002, p. 23. 30 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 20. Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 261 31 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 4. 32 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 143, apud ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de derecho penal – parte general. Buenos Aires: Ediar,2011, p. 317. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 4. 33 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral: arts 1° a 120. 3 ed. ver. Atual. e ampl. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2002, p. 206-207. 34 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 2ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : Editora jus Podiwm, 2014, p. 150 35 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 144. 36 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 144. 37 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito pena: parte geral e parte especial. São Paulo: Imprenta, Revista dos Tribunais, 2012, p. 177. 38 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus. Relator: BELLIZZE. MARCO AURÉLIO. Publicado no DJ de: 28/05/2013 Quinta Turma. Disponível em http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp? data=%40DTDE+%3E%3D+20130528+e+%40DTDE+%3C%3D+20130528&livre=%28%28%22Quinta+Turma%22%29.org.%29+E+%28%22MARCO+AUR%C9LIO+BELLIZZE%22%29.min.&ementa=Culpabilidade&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true.Acessado em 10-09-2017. 39 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 111.641 ESPÍRITO SANTO/ES. Relatora: LÚCIA, CÁRMEN. Publicado no DJ de: 27/11/2012. Segunda Turma. Disponível em https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22834655/habeas-corpus-hc-111641- es-stf/inteiro-teor-111053288 . Acessado em 10-09-2017. 40 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito pena: parte geral e parte especial. São Paulo: Imprenta, Revista dos Tribunais, 2012, p. 175. 41 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 17-18. 42 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 19. 4. TIPICIDADE Como é sabido, a tipicidade é um dos elementos necessários para a existência do crime. A doutrina vem definindo a tipicidade como toda conduta (ação ou omissão) descrita em lei como infração penal (crime ou contravenção). Na lição de Rogério Greco, sobre tipo penal: “Tipo, como a própria denominação diz, é o modelo, o padrão de conduta que o Estado, por meio de seu único instrumento – a lei –, visa impedir que seja praticada, ou determina que seja levada a efeito por todos nós.” ⁴³ Um exemplo de tipo penal que visa proteger o patrimônio e que se encaixa perfeitamente na explicação, sendo um bem juridicamente tutelado pelo Estado é o previsto no Artigo 155, do Código Penal. Art. 155- Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.⁴⁴ Como pode ser observado, o legislador encarregou-se de descrever a conduta que o ser humano não deve realizar, e quando desobedecido, será aplicado a sanções penais como meio de justiça. Podemos dizer então que quando o agente preenche os requisitos previsto num tipo penal está sujeito a análise da Tipicidade. Nesse sentindo, Cezar Roberto Bitencourt, descreve tipicidade como: Conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei penal. O tipo exerce uma função limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes. É uma construção que surge da imaginação do legislador, que descreve legalmente as ações que considera, em tese, delitivas. Tipo é um modelo abstrato que descreve legalmente um comportamento proibido. Cada tipo possui características e elementos próprios que os distinguem uns dos outros, tornando-os todos especiais, no sentido de serem inconfundíveis, inadmitindo-se a adequação de uma conduta que não lhes corresponda perfeitamente. Cada tipo desempenha uma função particular, e a falta de correspondência entre uma conduta e um tipo não pode ser suprida por analogia ou interpretação extensiva. ⁴⁵ (Grifo do Autor) Em outras palavras tipicidade é a conduta realizada pelo agente que se encaixa perfeitamente na norma penal. O fato típico é composto por conduta dolosa ou culposa, ação ou omissão, nexo de causalidade entre a conduta e o resultado e a tipicidade. A Tipicidade se subdivide: tipicidade formal e tipicidade conglobante. Na lição de Rogério Greco: ⁴ A tipicidade formal ou legal como também é conhecida se enquadra na “adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo).” Vale ressaltar ainda que essa adequação deveser perfeita, caso contrário, é considerada atípica. Já a tipicidade conglobante surge quando “no caso concreto, que a conduta praticada pelo agente é considerada antinormativa, isto é, contrária à norma penal, e não imposta ou fomentada por ela, bem como ofensiva a bens de relevo para o direito penal.” A antinormatividade é a análise da conduta para ver se ela é contra a norma de acordo com a adequação social. Ainda sobre a tipicidade conglobante, deve ser ressaltado que dentro dela existe a tipicidade material são os bens protegidos pelo Direito Penal e, a conduta só poderá ser punida se atingir este bem jurídico de uma forma significativa. Por exemplo, o lutador de MMA que durante uma luta quebra a perna do outro lutador, como é sabido, a luta de MMA é permitida, e nesse caso por mais que exista uma ligação entre a conduta e o resultado do lutador que realizou uma manobra permitida e acaba quebrando a perna do outro lutador para se defender durante o evento, torna a conduta atípica. Outro exemplo é quando alguém subtrai uma tampa de caneta azul da marca Bic, subtrair se enquadra no tipo penal estabelecido no artigo 155, do Código Penal, ou seja, tipicidade formal ocorre que o direito pune aqueles bens de grande valia, como podemos observar neste caso, uma caneta Bic, no mercado atualmente vale R$ 1,00 (um real), sendo assim, se alguém subtrai apenas a tampa, está caracterizada que não ofende o bem jurídico tutelado, diante do princípio da insignificância ou bagatela como é conhecido, pois a tampa e até mesmo a caneta representam um valor inferior que não é capaz de causar grande prejuízo a vítima. Concluindo, a tipicidade é a junção da formal com a conglobante, ou seja, para ser crime deve ser analisada a contrariedade da norma penal e de todo o ordenamento jurídico. 43 Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 163. 44 BARROSO, Darlan.; JUNIOR, Marco Antonio Araujo. Vade mecum OAB 2017: artigo 155, do Código Penal. 9. ed. rev., ampl. e atual.. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 585. 45 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 20. Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 346. 46 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 164-165. 5. ANTIJURIDICIDADE De acordo com a teoria Tripartida, a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade estão relacionadas, para que se possa dizer que um indivíduo realizou crime. Antijuridicidade é sinônimo da palavra ilicitude. Na lição de Francisco Vani Bemfica: Para que haja crime, exige-se que o fato material causado seja lesivo de interesse protegidos. É protegido tudo aquilo que a lei penal manda fazer ou deixar de fazer sob pena de uma sanção: nullum crimen sine injuria. Uma ação pode ser típica, mas não ser ilícita. Logo, não é criminosa, por falta de um de seus elementos.⁴⁷ Após a análise da tipicidade da conduta do agente, deve ser observado se este fato típico é realmente desaprovado pelo ordenamento jurídico ou se, existe alguma circunstância que o autorize. Para Rogério Greco, quando falamos de antijuridicidade, “é preciso que o agente contrarie uma norma, pois, se não partirmos dessa premissa, sua conduta, por mais antissocial que seja, não poderá ser considerada ilícita, uma vez que não estaria contrariando o ordenamento jurídico-penal.”⁴⁸ A antijuridicidade se subdivide em formal e material, cuja distinções serão analisadas a seguir pela visão de Cezar Roberto Bitencourt: A essência da antijuridicidade deve ser vista, segundo uma corrente minoritária, como a violação do dever de atuar ou de omitir estabelecido por uma norma jurídica. Essa contradição da ação com o mandamento ou proibição da norma é qualificada, segundo essa concepção, como antijuridicidade formal. No entanto, a antijuridicidade formal confunde-se com a própria tipicidade, pois a contradição entre o comportamento humano e a lei penal exaure-se no primeiro elemento do crime, que é a tipicidade. A antijuridicidade não se esgota, contudo, nessa simples oposição entre a ação humana e a norma, sendo necessário averiguar se dita contradição formal possui um conteúdo material que se adapte ao fim de proteção de bens jurídicos do Direito Penal. A antijuridicidade material, por sua vez, constitui-se precisamente da ofensa produzida pelo comportamento humano ao interesse jurídico protegido. Nesses termos, para afirmar a antijuridicidade, ou o caráter injusto da conduta típica, é necessário constatar, além da contradição da conduta praticada a previsão da norma, se o bem jurídico protegido sofreu a lesão ou a ameaça potencializada pelo comportamento desajustado. Essa ofensa que consubstancia a antijuridicidade material, evidentemente, não deve ser entendida em sentido naturalístico, como causadora de um resultado externo de perigo ou de lesão, sensorialmente perceptível, mas como ofensa ao valor ideal que a norma jurídica deve proteger. A lesão ou exposição ao perigo do bem jurídico protegido pela norma penal supõe uma ofensa para a comunidade que justifica a caracterização do delito como ‘comportamento socialmente danoso.’ ⁴ Em outras palavras, o conceito formal seria a contrariedade entre a conduta e o ordenamento jurídico-penal, ou seja, o que está dentro do ordenamento é considerado licito e o que está fora, o que é realizado em desacordo com a norma é considerado ilícito, por exemplo, o artigo 121 do Código Penal “Matar alguém”, se o indivíduo realiza essa conduta e acaba matando alguém, ele está agindo contra o ordenamento e acaba realizando uma conduta ilícita. E o conceito material é a conduta ilícita realizada pelo agente que causa lesão ou expõe a perigo um bem juridicamente tutelado. Nesse viés, Rogério Greco fala sobre a desnecessidade da distinção entre ilicitude formal e material. “Se a norma penal existe porque visa proteger o bem por ela considerado relevante, é sinal de que qualquer conduta que contrarie, cause lesão ou expõe a perigo lesão aquele bem tutelado, levando-nos a adotar uma concepção unitária de ilicitude e não dualista, como se quer propor.”⁵ Nesse passo, diante dos conceitos formais e materiais da antijuridicidade, deve ser ressaltada, a ilicitude diante do conceito analítico do crime (crime é fato típico, antijurídico e culpável), conforme demonstra Hans Welzel apud Rogério Greco: A tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade são três elementos que convertem uma ação em um delito. A culpabilidade – a responsabilidade pessoal por um fato antijurídico – pressupõe a antijuridicidade, por sua vez, tem de estar concretizada em tipos legais. A antijuridicidade e a culpabilidade estão relacionadas logicamente de tal modo que a cada elemento posterior do delito pressupõe o anterior. ⁵¹ Assim, os doutrinadores quando tratam do tema tipicidade e ilicitude, trazem uma grande questão: “Excluída a ilicitude, o fato permanece típico?” ⁵²para a solução desta questão existem duas teorias: “ratio congoscendi” e “ratio essendi”. Conforme exemplifica Rogério Sanches Cunha: Teoria da indiciariedade ou da “ratio congoscendi”: Idealizada por Mayer 1915, entende que a existência do fato típico gera uma presunção (relativa) de que é também ilícito. Não há [...] uma absoluta independência entre esses dois substratos, mas uma relativa dependência. Conclusão: fato típico desperta indícios de ilicitude, apesar de permanecer integro quando excluída a antijuridicidade do comportamento. Quando JOÃO mata ANTONIO, temos um fato típico e indícios de ilicitude da conduta. Comprovada a legitima defesa, exclui-se a antijuridicidade do fato, que, no entanto, permanece típico. Teoria da absoluta dependência ou “ratio essendi”: A teoria da ratio essendi, encapada por Mezger em 1930, cria o conceito de tipo total do injusto, levando a ilicitude para o campo da tipicidade. Em outras palavras, a ilicitude é a essência da tipicidade, numa absoluta relação de dependência entre esses elementos do delito. Conclusão: não havendo ilicitude, não háfato típico. Quando JOÃO mata ANTONIO, temos um fato típico, o qual só permanece como tal se também ilícito. Comprovada a legitima defesa, exclui-se a antijuridicidade e a tipicidade do comportamento. ⁵³ Na lapidar lição de Rogério Greco: A tipicidade, segundo a teoria ratio congoscendi, que prevalece entre os doutrinadores, exerce função indiciária da ilicitude. Segundo essa teoria, quando o fato for típico, provavelmente também será antijurídica, ou, na ilustração de Mayer, onde houver fumaça, provavelmente, mas nem sempre, haverá fogo. A regra, segundo a teoria da ratio congoscendi, é a de que quase sempre o fato típico também será antijurídico, somente se concluído pela ilicitude da conduta típica quando o agente atuar amparado por uma causa de justificação. Suponhamos que A, agindo com animus defendendi, saque o revólver que trazia consigo e, visando repelir a agressão injusta que estava sendo praticada contra a sua pessoa, atire e cause a morte de B. No conceito analítico de crime, uma vez adotada a teoria ratio congoscendi, o fato praticado por A é típico, o que indiciaria a sua ilicitude. Contudo, embora típico o fato, o agente atuou amparado por uma causa de exclusão da ilicitude, quebrando, dessa forma, a presunção havida anteriormente, com a conclusão de que, embora típico, não é ilícito, ou seja, não é contrário ao nosso ordenamento jurídico penal, em face da presença da norma permissiva prevista no artigo 23, II do Código Penal. Se adotássemos, porém, a teoria da ratio essendi, que prevê um tipo total de injusto, no qual há uma fusão entre o fato típico e a ilicitude, a ausência desta nos levaria a concluir pela inexistência do próprio faro típico. Para essa teoria, não se analisa primeiramente o fato típico para, em seguida realizar o estudo da antijuridicidade. Fato típico e antijurídico, por estarem fundidos, devem ser analisados num mesmo e único instante. Assim, ou o fato típico e antijurídico (tipo total de injusto) e passa-se, agora, ao estudo da culpabilidade, ou, em virtude da existência da causa de exclusão, que afastará a ilicitude contida no tipo, deixará de ser típico. ⁵⁴ Como podemos observar a teoria adotada pela maioria dos doutrinadores é a ratio congoscendi. 5.1 CAUSA DE EXCLUSÃO DA ANTIJUDIRIDICIDADE Como visto anteriormente, existem situações excepcionais em que o agente praticando uma conduta típica, ou seja, descrita no ordenamento jurídico penal, não serão consideradas ilícitas e, sim licitas, chamadas de excludentes de antijuridicidade. O Código Penal, no artigo 23, traz expressamente quatro causas excludentes de ilicitudes, que quando realizadas pelo agente seja considerado licito, são: estado de necessidade, a legitima defesa, o estrito cumprimento de dever legal e o exercício regular de direito. Exclusão de ilicitude Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.⁵⁵ Vale ressaltar que o legislador cuidou somente de trazer o conceito de apenas duas excludentes, sendo elas, o estado de necessidade e a legitima defesa, cabendo aos demais ser conceituados pela doutrina. É importante mencionar que existe além das excludentes de ilicitude previstas no Código Penal, as causas supralegais de exclusão de ilicitude, ou seja, são aquelas não previstas em lei, mas afastam a ilicitude da conduta realizada pelo agente, sendo destaque pelos doutrinadores, o consentimento do ofendido. A seguir será estudado brevemente cada excludente de ilicitude. 5.1.1 ESTADO DE NECESSIDADE O estado de necessidade é uma das excludentes que o legislador encarregou-se de trazer o conceito, está previsto no artigo 24, do Código Penal: Estado de necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Como podemos observar, somente pela leitura é possível perceber que para o agente ser beneficiado por uma excludente de ilicitude ele deve preencher alguns requisitos. Segundo, Francisco Vani Bemfica: [...] Podem assim ser considerados: 1°) existência de um perigo atual e inevitável para um bem jurídico do agente ou de outrem; 2°) não-provocação, voluntariamente, deste perigo pelo agente; 3°) que, nas circunstancias, não se possa, razoavelmente, exigir o sacrifício de bem ameaçado. Disso se infere: a) é preciso haver dois bens jurídicos em conflito; b) o fato praticado pelo agente destina-se a salvar um desses bens em perigo futuro não admite justificativa, mas pode ser iminente, desde que a iminência se faça equiparar à atualidade; d) não pode ter justificada a conduta quem, voluntariamente, provoca o perigo; e) a expressão “nem podia de outro modo evitar” significa que o agente não tendo ao seu alcance modo de impedir que o perigo se verifique; f)diz a lei em “direito próprio ou alheio”, o que significa que o terceiro não ameaçado pode agir (não é obrigado), mas condicionado ao auxilio necessário ao estranho e não no sentido de mera intervenção, que até pode representar abuso. Assim, o agente que entende que está prestando um auxilio necessário, ignorando a legitimidade do estado de necessidade, deixa intacta a antijuridicidade de sua conduta. Finalmente, nosso Código Penal exige também como condição de atuação do agente que não seja razoável exigir-se, nas circunstâncias, o sacrifício do bem. Isso quer dizer: deve haver proporcionalidade entre a gravidade do perigo e a lesão produzida pelo ataque ao bem alheio. ⁵ 5.1.2 LEGÍTIMA DEFESA Vale ressaltar, que essa excludente de ilicitude também foi conceituada cuidadosamente pelo legislador, estando prevista no artigo 25, do Código Penal. Legítima defesa Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.⁵⁷ Nesse passo, Francisco Vani Bemfica conceitua os seguintes requisitos para a aplicação da legitima defesa: São os seguintes: a) agressão atual ou iminente – o primeiro momento da defesa legítima é a agressão. É com ela que se põe em perigo o bem jurídico e surge a reação. Agressão já passada não admite repulsa legítima. Agressão atual é agressão já em curso no momento da reação defensiva. Agressão iminente é a que está para acontecer. Sua possibilidade deve ser concreta. É ela sinônimo de perigo concreto, “a ser aferido dentro de um quadro de possibilidades reais, não apenas fantasmagóricas”, como Francisco de Assis de Toledo; b) injustiça da agressão – exige-se que ela seja contrária ao ordenamento jurídico. Não há defesa licita contra agressão licita; c) bem jurídico ameaçado pela agressão – na legítima defesa, exige-se a presença de um bem jurídico sobre o qual recaia a ameaça de violação pelo ataque atual ou iminente. Esse bem é próprio do agente ou de terceiros. Daí, tendo em vista o titular do bem jurídico sujeito à agressão, a presença, na lei, de duas formas de legítima defesa: a própria, quando o autor da repulsa é o titular do bem jurídico atacado ou ameaçado, e a de terceiro, quando a repulsa visa a defender bem jurídico de outras pessoas; d) repulsa com emprego moderado dos meios necessários – o último requisito é a moderação na repulsa. Deve ser medida de conformidade com a agressão e ser tomado em consideração o valor do bem ameaçado e as circunstancias em que atua o agente.⁵⁸ 5.1.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL Como visto anteriormente, o legislador não se encarregou de trazer o conceito do estrito cumprimento do dever legal, cabendo aos doutrinadores conceituar. Está previsto no artigo 23, inciso III, primeira parte do Código Penal. Nesse passo, Francisco Vani Bemfica, explica, “o estrito cumprimentodo dever é uma atividade típica, mas sem antijuridicidade. Isso porque a pessoa que se limita a cumprir seu dever não merece censura. E, se esse dever é imposto pela lei, e, principalmente, sem exorbitância, não pode cometer crime.” ⁵ Para Rogério Greco: Inicialmente, é preciso que haja um dever legal imposto ao agente, deve este que, em geral, é dirigido àqueles que fazem parte da Administração Pública, tais como os policiais e oficiais de justiça, pois, conforme preleciona Juarez Cirino dos Santos, “ o estrito cumprimento de dever legal compreende os deveres de intervenção do funcionário na esfera privada para assegurar o cumprimento da lei ou de ordens superiores da administração pública, que podem determinar a realização justificada de tipos legais, como a coação, privação de liberdade, violação de domicilio, lesão corporal etc”. Em segundo lugar, é necessário que o cumprimento a esse dever se dê nos exatos termos imposto pela lei, não podendo em nada ultrapassá-los. 5.1.4 EXERCICIO REGULAR DE DIREITO Como é sabido, esta excludente tem conceito doutrinário apenas. Está previsto no artigo 23, inciso III, segunda parte do Código Penal. Sendo assim, na lição de Francisco Vani Bemfica: [...] Um fato pode ser definido como crime. Porém permite a lei que pessoas determinadas, e em certas circunstâncias pré-estabelecidas, o pratiquem. Isso porque o ordenamento jurídico reconhece a prevalência de seus interesses sobre os interesses contrários. A atuação do agente não tem caráter de antisociabilidade. Ao contrário, sua conduta é necessária para o interesse público, que só perde com a sua incriminação. ¹ Nesse viés, o conceito de acordo com Rogério Sanches Cunha: [...] Compreende condutas do cidadão comum autorizadas pela existência de direitos definidos em lei e condicionadas à regularidade do exercício desse direito. A execução de prisão em flagrante permitida a qualquer um do povo (art. 301 do CPP) é um claro exemplo de exercício regular de direito (pro magistartu). O Estado, não podendo estar presente para impedir a ofensa a um bem jurídico ou recompor a ordem pública, incentiva o cidadão a atuar em seu lugar. ² 5.1.5 CONSENTIMENTO DO OFENDIDO As causas supralegais são muito discutidas na doutrina, conforme defende Cezar Roberto Bitencourt: O legislador não pode prever todas as hipóteses em que as transformações produzidas pela evolução ético-social de um povo passam a autorizar ou permitir a realização de determinadas condutas, [...] deve-se, em princípio, admitir a existência de causas supralegais de exclusão da antijuridicidade [...] ³ Para Rogério Greco o consentimento do ofendido tem duas finalidades: “afastar a tipicidade ou excluir a ilicitude do fato” ⁴ Nesse passo, Rogério Sanches Cunha esclarece: A relevância depende se o dissentimento é ou não elementar do crime: se elementar, o consentimento exclui a tipicidade; não sendo elementar, pode servir como causa extralegal de justificação. Na violação de domicilio (art. 150 do CP), por exemplo, o crime está estruturado precisamente no dissentimento do proprietário ou do possuidor de direito (elemento do tipo) pelo que a sua falta faz desaparecer a própria tipicidade. Já no furto (art. 155 do CP), não há referência ao não consentimento do proprietário, cuidando-se de circunstancia exterior ao tipo legal. O consentimento do ofendido, renunciando a proteção legal, pode justificar a conduta típica. ⁵ Assim, Cezar Roberto Bitencourt, nos demonstra que para o consentimento do ofendido ser aplicado ao caso concreto, deve apresentar os seguintes requisitos: [...] a) que a manifestação do ofendido seja livre, sem coação, fraude ou outro vício de vontade; b) que ofendido, no momento de consentir, possua capacidade para fazê-lo, isto é, compreenda o sentido e as consequências de sua aquiescência; c) que se trate de bem jurídico disponível; d) que o fato típico se limite e se identifique com o consentimento do ofendido. Em outras palavras o consentimento do ofendido, pode ser definido como o ato da vítima em concordar com a lesão ou perigo de lesão a bem juridicamente protegido ser violado. 47 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 15 48 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 315. 49 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 20. Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 392. 50 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 316. 51 Wezel, Hans. Derecho penal alemán. Trdução de Juan Bustos Ramirez e Sergio Yañes Peréz. Chile: jurídica de Chile, 1987, p. 114-115 apud Greco, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 317. 52 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 2ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : Editora jus Podiwm, 2014, p. 232 53 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 2ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : Editora jus Podiwm, 2014, p. 232. 54 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 317-318. 55 BARROSO, Darlan.; JUNIOR, Marco Antônio Araújo. Vade mecum OAB 2017: artigo 23, do Código Penal. 9. ed. rev., ampl. e atual.. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 565. 56 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 136-137. 57 BARROSO, Darlan.; JUNIOR, Marco Antônio Araújo. Vade mecum OAB 2017:artigo 24, do Código Penal. 9. ed. rev., ampl. e atual.. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 565. 58 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 145-146. 59 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 158. 60 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 369. 61 BEMFICA, Francisco Vani. Da teoria do crime. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 162. 62 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 2ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : Editora jus Podiwm, 2014, p. 246. 63 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 20. Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 406. 64 GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 374. 65 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 2ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : Editora jus Podiwm, 2014, p. 248. 66 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 20. Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 407. 6. CULPABILIDADE A culpabilidade é o terceiro pressuposto para que exista crime, diante da teoria tripartite, “com seu juízo de reprovação extraído da análise sobre como o sujeito ativo se situou e posicionou diante do episódio com o qual se envolveu (fato típico e ilicitude)”. ⁷ Claudio Brandão apud Rogério Sanches Cunha esclarece sobre o crime e a ligação com a culpabilidade: O crime é uma ação típica, antijurídica e culpável. Portanto, para que haja um crime é necessário que existam todos os elementos, quais sejam: a tipicidade, a antijuridicidade e culpabilidade. A tipicidade é um juízo de adequação do fato humano com a norma do direito. Tanto a antijuridicidade quanto a tipicidade referem-se ao fato do homem, são, portanto, juízos que se fazem sobre o fato. A culpabilidade, por sua vez, não é, a exemplo dos demais elementos, um juízo sobre um fato, mas um juízo sobre o autor do fato. Assim, se pela tipicidade e antijuridicidade pode-se fazer um juízo de reprovação sobre o fato, pela culpabilidade, pode-se fazer um juízo de reprovação sobre o autor do fato. A culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal, feito ao autor de um fato típico e antijurídico, porque, podendo se comportar conforme o direito, o autor do referido fato optou livremente por se comportar contrário ao direito. ⁸ No mesmo viés, Rogério Greco traz o conceito de culpabilidade: Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica eilícita praticada pelo agente. Nas lições de Welzel, “culpabilidade é a ‘reprovabilidade’ da configuração da vontade. Toda culpabilidade é, segundo isso, ‘culpabilidade de vontade’. Somente aquilo a respeito do qual o homem pode algo voluntariamente lhe pode ser reprovado como culpabilidade”. Na definição de Cury Urzúa, “a culpabilidade é reprovabilidade do fato típico e antijurídico, fundada em que seu autor o executou não obstante que na situação concreta podia submeter-se às determinações e proibições do direito”. Sanzo Brodt, arremata que “a culpabilidade dever ser concebida como reprovação, mais precisamente, como juízo de reprovação pessoal que recai sobre o autor, por ter agido de forma contrária ao Direito, quando podia ter atuado em conformidade com a vontade da ordem jurídica”. A culpabilidade passou por várias concepções dentro da teoria do delito, e, estão ligadas ao conceito de ação e de delito. Podem ser assim sintetizadas: Teoria Psicológica: Esta teoria foi criada por Liszt e Beling o qual defendiam que o delito possuía dois aspectos, um interno e outro externo. “O aspecto externo, [...] compreendia a ação típica e antijurídica. O interno dizia respeito à culpabilidade, sendo está vinculo psicológico que unia o agente ao fato por ele praticado”.⁷ Portanto, o crime, era a ação típica (movimento humano voluntário, cujo ato mudava o mundo exterior, causando um resultado) antijurídica (comprovação de que a conduta realizada pelo agente contrariava a lei penal) e culpável (composto por elementos subjetivos de dolo e culpa, mas antes era preciso certificar-se sobre a imputabilidade do agente, ou seja, a capacidade do mesmo de ser responsabilizado pelo injusto penal). Em resumo, “trata-se de um relação psicológica que tem como ponto de partida o fato concreto. Desde que existente, dá-se a consideração normativa-valorativa determinada pelo ordenamento jurídico: ‘o ato culpável é a ação dolosa ou culposa do indivíduo imputável” ⁷¹ Teoria normativa: Se divide em teoria psicológico-normativa ou normativa complexa, e, em teoria normativa pura ou finalista. A teoria psicológico-normativa: A respeito desta teoria comparada com a anterior, ocorreram modificações, introduzindo elementos subjetivos e normativos no tipo. È dentro desta teoria que a culpabilidade começa a nascer como um juízo de reprovabilidade e censura. “Agora, para que o agente pudesse ser punido pelo fato ilícito por ele cometido, não bastava a presença dos elementos subjetivos (dolo e culpa), mas sim que, nas condições em que se encontrava, podia-se-lhe exigir uma conduta conforme o direito.”⁷². É de se verificar que a culpabilidade passou a adotar uma nova estrutura, sendo, “a) imputabilidade, b) dolo ou culpa e c) exigibilidade de conduta diversa”.⁷³ A imputabilidade seria a capacidade de responsabilizar alguém pela pratica de determinado ato previsto em lei, tendo a agente capacidade para entender a ilicitude do fato, ou seja, ter plena consciência mental. O dolo é a vontade e consciência de realizar o previsto na lei penal. Por fim, a exigibilidade de conduta diversa passou a ser causa de exclusão de culpabilidade segundo esta teoria.⁷⁴ Teoria finalista: Esta teoria foi modificada profundamente. Entendendo que toda conduta humana está ligada a condutas lícitas e ilícitas, tendo como consequência a extração do o dolo e a culpa, sendo transferidos para o tipo, afastando dele a consciência sobre a ilicitude do fato para sua configuração. Mantendo-se apenas o critério de censurabilidade e reprovabilidade. É desta teoria que atualmente é estudado a culpabilidade. “Assim, na culpabilidade permaneceram somente seus elementos de natureza normativa, [...]. A culpabilidade, portanto, passa a se constituir pela: a) imputabilidade; b) potencial consciência sobre a ilicitude do fato e, c) exigibilidade de conduta diversa.” ⁷⁵ É de se verificar que, a culpabilidade é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica, realizada pelo agente que vai gerar a possibilidade de aplicação das sanções penais ao indivíduo. Como será visto, a pena está ligada a culpabilidade, ou seja, não pode ser responsabilizado aquele que atua sem culpabilidade. Com base na culpabilidade é que será dosada a pena no limite da culpabilidade do agente. Além disso, é dentro da culpabilidade que se analisa se o autor da ação, de acordo com suas condições psicológicas possuía capacidade para entender a ilicitude do fato. Ressaltando que, sempre quando for comprovada a impossibilidade do agente de agir de modo diverso, deve-se ter em mente, que a culpabilidade é excluída. 6.1 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE 6.1.1 IMPUTABILIDADE PENAL A imputabilidade penal se apresenta como um dos elementos da culpabilidade. Conforme Guilherme Nucci, “é o conjunto de condições pessoais, envolvendo inteligência e vontade, que permite ao agente ter entendimento do caráter ilícito do fato, comportando-se de acordo com esse entendimento.” ⁷ Luiz Regis Prado preceitua que imputabilidade consiste: [...] Plena capacidade (estado ou capacidade) de culpabilidade, entendida como capacidade de entender e de querer, e, por conseguinte, de responsabilidade criminal (o imputável responde pelos seus atos). Costuma ser definido como o “conjunto das condições de maturidade e sanidade mental que permitem ao agente conhecer o caráter ilícito do seu ato e determinar-se de acordo com esse entendimento.⁷⁷ E por fim, Rogério Greco aponta que para “a imputabilidade é a possibilidade de se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra; a inimputabilidade, a exceção.” ⁷⁸ Nesse sentindo, os doutrinadores entendem que a culpabilidade é composta por dois aspectos: Cognoscitivo ou intelectivo (capacidade de compreender que determinado fato é ilícito); e volitivo ou determinação da vontade (atuar conforme o entendimento).⁷ O Código Penal não define imputabilidade penal, a não ser por exclusão, trazendo expressamente somente as causas capazes de afastar a imputabilidade, estando previstas no artigo 26: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.⁸ A respeito ao tema, em sede doutrinaria, são apresentados três sistemas ou métodos que definem a inimputabilidade: a) Biológico: Mencionado na exposição de motivos do Código Penal de 1940, “leva em consideração a doença mental, enquanto patologia clínica, ou seja, estado anormal do agente”. ⁸¹ b) Psicológico: “declara a irresponsabilidade se, ao tempo do crime, estava abolida no agente, seja qual for a causa, a faculdade de apreciar a criminalidade do fato (momento intelectual) e de determinar-se de acordo com essa apreciação.”⁸² c) Biopsicológico: é a junção dos dois anteriores, ou seja, “a responsabilidade só é excluída se o agente, em razão de enfermidade ou retardamento mental, era, no momento da ação, incapaz de entendimento ético-jurídico e autodeterminação” ⁸³ 6.1.1.1 Inimputabilidade As causas de inimputabilidade estão expressas no artigo 26 do Código Penal, analisando o caput, verificamos: - Inimputabilidade em razão de doença mental: A doença mental é toda e qualquer alteração mórbida da saúde mental, que compromete o entendimento total ou parcial do portador, são exemplos de doença mental: esquizofrenia, psicose alcoólica, paranoia, histeria, demência senil, entre outras, ressaltando que causas geradoras de estado semelhante podem ser naturais ou tóxicas, como o uso de droga licita ou ilícita, pouco importa para ser considerada inimputabilidade. ⁸⁴ Em suma, são qualquer enfermidade que debiliteas funções psíquicas do indivíduo. Neste caso, o portador de doença mental será considerado imputável (capacidade de culpabilidade), desde que a anomalia psíquica não altere sua capacidade intelectiva. Vale ressaltar que, os doutrinadores entendem que o sonambulismo não é uma doença mental e, é considerado causa de exclusão da própria conduta.⁸⁵ - Inimputabilidade em razão do desenvolvimento mental incompleto ou retardado: Também conhecido como oligofrênicos, são graves defeitos na inteligência; falta de desenvolvimento nas faculdades mentais, são exemplos de portadores de oligofrênicos, os surdos-mudos que se analisados por peritos for identificado um grau que dificulte a capacidade de entendimento do agente no momento da conduta, será considerado inimputável.⁸ Como pode ser observado tanto na inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o Código Penal adotou o sistema Biopsicológico. - Inimputabilidade em razão da idade: O código Penal estabelece no artigo 27, que os menores de 18 (dezoito) anos são inimputáveis penalmente, adotando o sistema biológico, levando-se em conta apenas a idade do agente como desenvolvimento mental, pouco importando se na época dos fatos, o mesmo teria ou não capacidade para entender o que estava fazendo. Vale dizer ainda, que os menores de 18 (dezoito) anos estão sujeitos à disposição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). ⁸⁷ Art. 27- Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.⁸⁸ - Inimputabilidade em razão de embriaguez: “Embriaguez é a intoxicação transitória causada pelo álcool ou substância de efeitos análogos”. A embriaguez se divide em: Embriaguez não acidental: voluntária, ou seja, quando o agente tem intenção/vontade de embriagar-se, ou, culposa, quando por negligencia o agente fica embriagado; podendo ser completa (o agente não tem capacidade de entendimento no momento em que realiza a conduta) ou incompleta (tem a capacidade de entendimento diminuída), o Código Penal no artigo 28, inciso II, não exclui a inimputabilidade do agente neste caso; Embriaguez acidental: ocorre em casos fortuitos (desconhecimento dos efeitos da substancia) ou de força maior (quando obrigado a ingerir a substancia contra a vontade), neste caso, se completa, excluirá a pena do agente e, se incompleta, tem a pena diminuída, não excluindo a culpabilidade, conforme artigo 28, § § 1° e 2°, do Código Penal; Embriaguez patológica: a embriaguez patológica é aquela embriaguez doentia, podendo ser considerada anomalia psíquica, conforme o caso concreto, sendo considerado o autor dessa embriaguez como doente mental; e, Embriaguez preordenada: Nessa embriaguez o agente tem a finalidade de cometer crime e faz uso de bebida alcoólica para realizá-lo, não é considerado causa de exclusão da imputabilidade e nem redução de pena, neste caso, será utilizado como agravante (aumento) da pena. ⁸ Art. 28- Não excluem a imputabilidade penal: I- a emoção ou a paixão; Embriaguez II- a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. § 1º- É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- se de acordo com esse entendimento. § 2º- A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. § 2º- A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Neste passo, a emoção e a paixão, não excluem a imputabilidade penal, conforme demonstra o artigo 28, inciso I, do Código Penal, supra descrito. Nesse passo, Rogério Sanches Cunha, nos apresenta a diferença entre emoção e paixão: Emoção é o estado súbito e passageiro, enquanto a paixão é o sentimento crônico e duradouro. Pode a emoção servir como circunstância atenuante, nos moldes do artigo 65, II, “c”, ou como causa de diminuição de pena, como prescrevem os artigos 121, § 1°, e 129, §4°, ambos do Código Penal. Já a paixão, dependendo do grau e da capacidade de entendimento do agente, pode ser encarada como doença mental (paixão patológica – art. 26, caput,CP). ¹ Por fim, e não menos importante, a Semi-imputabilidade: neste caso, o indivíduo aparenta ser são, mas, não tem a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato, está previsto no caput do artigo 26, do Código Penal, a consequência jurídica é a condenação do indivíduo, com a pena reduzida de um a dois terços ou substituição da pena por medida de segurança, devendo ser adotado apenas uma das sanções: redução da pena ou medida de segurança pelo juiz. ² 6.1.2 POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE A potencial consciência da ilicitude “é o segundo elemento da culpabilidade, representando a possibilidade que tem o agente imputável de compreender a reprovabilidade da sua conduta”. ³ É necessário que o agente tenha apenas o conhecimento de que a sua conduta fere o ordenamento jurídico, não se referindo à uma compreensão técnica, conhecimento jurídico. Lembrando que o fato ilícito é toda a conduta que contraria o expresso em lei, independentemente de seu aspecto imoral ou antissocial. ⁴ Nesse sentido, o artigo 21, do Código Penal, prevê como excludente da potencial consciência da ilicitude o erro de proibição: Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. ⁵ Como é sabido, ninguém pode acusar desconhecimento da Lei, uma vez que, publicada no Diário Oficial da União, entende-se que a lei é conhecida por todos os indivíduos, ou seja, não existe desconhecimento da lei. Ocorre que, é possível o agente mesmo conhecendo a lei, agir em erro quanto à proibição do comportamento, o que pode acarretar a exclusão da culpabilidade. O erro de proibição direto incide sobre o erro de comportamento, é um equívoco realizado pelo agente quanto ao conteúdo da norma, supondo o agente por erro que a conduta que está realizando é licita, quando na verdade é ilícita, por exemplo, os estrangeiros que tem o uso da maconha liberada em seu país e quando vem para o Brasil desconhece a proibição do uso. ⁷ E o erro de proibição indireto, é quando o agente supõe que existe alguma norma que permita tal ação, é o caso do marido traído que comete homicídio contra sua mulher, por acreditar” estar amparado de um excludente de ilicitude, defendendo a sua honra. ⁸ Nesses casos, a responsabilização penal pode ocorrer de duas formas: se o erro for inevitável, o autor é isento da pena, caso o erro seja evitável (atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência), a pena poderá ser diminuída de um sexto a um terço, conforme expresso no artigo 21, caput, do Código Penal. Não se pode olvidar que o erro de proibição é diferente de erro de tipo. No “erro de tipo é o equívoco que recai sobre as circunstâncias do fato, sobre elementos do tipo penal; o erro de proibição, por sua vez, recai sobre a ilicitude do fato”. 6.1.3 EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA É bem verdade que para existir culpabilidade, antes deve o autor ser imputável e ter conhecimento da ilicitude, mas somente essas duas características não bastam, exige-se, ainda, que nas circunstancias existisse ao autor
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