Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TÉCNICAS DE PESQUISA DEMOGRÁFICA AULA 1 Prof. Augusto dos Santos Pereira 2 INTRODUÇÃO Estamos começando o curso de extensão sobre Técnicas de Pesquisa Demográfica. Nosso objetivo aqui é que, ao final dessa nossa conversa, tenhamos capacidade para trabalhar com esse tipo de pesquisa em projetos diversos, como aqueles envolvidos nos diversos tipos de planos estatais (planos diretores, planos de desenvolvimento integrado, planos de mobilidade etc.), bem como em atividades da iniciativa privada, como os estudos de impacto ambiental, que são realizados em meio a processos de licenciamento para empreendimentos com possível impacto significativo ao ambiente. A estrutura do curso apresenta os seguintes tópicos: • Tema 1 – Estudos Demográficos e Plano de Trabalho; • Tema 2 – Conceitos Básicos sobre o Censo Demográfico Brasileiro; • Tema 3 – Patamar Populacional e Crescimento Demográfico; • Tema 4 – Estrutura Etária; • Tema 5 – Densidade Demográfica, Migração e Movimento Pendular. TEMA 1 – ESTUDOS DEMOGRÁFICOS E ELABORAÇÃO DE PLANO DE TRABALHO 1.1 Importância dos estudos demográficos Pesquisas demográficas são estudos voltados para o entendimento de uma determinada população a partir de inúmeros conceitos da Demografia, como: população absoluta, crescimento vegetativo, taxa de fecundidade, taxa de natalidade, taxa de mortalidade, expectativa de vida ao nascer, migrações, movimento pendular, densidades demográficas etc. Esses tipos de pesquisa apresentam enorme campo de aplicação tanto no âmbito do Poder Público, como na iniciativa privada. No que tange ao Poder Público, precisamos lembrar que, para sua adequada atuação em meio às demandas da sociedade, existe a previsão de elaboração de diversos planos temáticos. Assim, as diferentes esferas – federal, estadual e municipal – operam segundo planos para a saúde, para a educação, de desenvolvimento econômico, estratégicos, diretores (diretrizes urbanísticas municipais), de desenvolvimento urbano integrado (para regiões 3 metropolitanas), de mobilidade, de manejo de resíduos sólidos, de manejo de unidades de conservação etc. Em cada um desses planos, o entendimento das dinâmicas populacionais é fundamental para a elaboração de metas, identificação de potencialidades, condicionantes, riscos e oportunidades. O setor privado também necessita de uma boa compreensão de diversas dinâmicas populacionais para que possa realizar suas mais diversas operações. Assim, as atividades privadas contam com estudos de potencial de mercado, estudos de impacto ambiental ou estudos de impacto de vizinhança para licenciamento, entre tantas outras atividades que requerem adequado conhecimento demográfico. Por meio das pesquisas demográficas, é que podemos identificar áreas e crescimento populacional, diferentes perfis etários, composição de homens e mulheres na população, longevidade, áreas de concentração, tendências de crescimento, entre tantas outras questões importantes. 1.2 O fluxo de trabalho dos planos estatais e as pesquisas demográficas No caso específico dos diversos tipos de estudos voltados para o planejamento estatal, os termos de referência das licitações usualmente apresentam a necessidade de desenvolvimento de um trabalho divido nas seguintes fases: 1) Mobilização; 2) Diagnóstico; 3) Prognóstico; 4) Proposta. Na fase de mobilização, as empresas contratadas para realização dos estudos devem mobilizar os atores interessados e que acompanharão os trabalhos (a comunidade afetada e interessada, agentes técnicos de órgãos relacionados, como secretarias estaduais, secretarias municipais e o Ministério Público, além de atores políticos), bem como a elaboração do plano de trabalho, ou seja, a metodologia por meio da qual cada uma das tarefas será executada, com seus prazos e responsáveis. Na fase de Diagnóstico, diversos estudos são realizados e entregues na forma de relatórios tecnicamente amparados, que devem ser amplamente divulgados. Em caso de estudos para planos diretores, por exemplo, equipes 4 técnicas multidisciplinares (urbanistas, engenheiros, geógrafos, sociólogos, economistas etc.) realizam diagnósticos sobre as condições sociais, territoriais e ambientais do município, conforme temas-eixo de interesse. Na fase de prognóstico, a partir dos diagnósticos realizados, são feitos exercícios de elaboração de cenários tendenciais. Assim, são vislumbrados os desdobramentos sociais, econômicos, ambientais, urbanísticos etc., que podem ocorrer no futuro. Nesta fase, é comum que a comunidade interessada seja chamada à participação para que demonstre qual o cenário futuro que deve ser pactuado, ou seja, aquele que os atores envolvidos devem buscar no intervalo de tempo do plano. Com base no cenário pactuado, é realizada a fase de propostas, em que as empresas de consultoria apresentam um plano de ações para que os objetivos traçados possam ser atingidos. Como em todas as demais, a participação democrática é necessária para consolidação desta fase. Nesse tipo de atividade, os fatores demográficos são fundamentais. São os fatores demográficos que podem indicar quais áreas apresentam conflitos de pressão populacional sobre os recursos. São esses estudos que permitem identificar se existem áreas que estão tendo configurações populacionais que demandam atendimentos específicos, como aqueles voltados para a saúde das crianças recém-nascidas, para a provisão de educação para jovens, para a promoção de empregos para os adultos ou para o atendimento das mais diversas necessidades dos idosos. Também é com base nesse tipo de estudo que se pode realizar projeções populacionais necessárias para identificar os possíveis custos futuros dos diferentes serviços e infraestruturas necessários para o atendimento das necessidades comunitárias. 1.3 Plano de trabalho Por ser uma ciência riquíssima, a Demografia conta com uma quantidade significativa de conceitos e métricas que estão à disposição do pesquisador, para que possa realizar os mais diversos estudos, conforme a necessidade de seu projeto. O trabalho do pesquisador brasileiro também se encontra bastante amparado em uma grande quantidade de fontes de dados, em especial as diversas bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 5 Há que se considerar, no entanto, que essa enorme diversidade de dados requer que o pesquisador não proceda a pesquisa sem, antes, realizar um plano de trabalho adequado ao projeto. Do contrário, uma sucessão de dados pode ser meramente colecionada, sem que haja real adição de valor analítico ou proposições adequadas para o encaminhamento dos diversos desafios que podem estar sendo enfrentados por uma determinada comunidade. Assim sendo, a primeira coisa a se destacar para a elaboração de um plano de trabalho é a identificação da pergunta principal do trabalho, e daquelas outras perguntas que derivam dessa questão principal. Em um plano diretor, pode ser: “Como a cidade de Brumadinho (MG) pode se desenvolver sustentavelmente nos próximos dez anos?”. Em um estudo de impacto ambiental, pode ser: “Qual o impacto que a instalação de uma indústria automotiva no município de Goiana (PE) terá sobre suas condições econômicas, sociais e ambientais?” No plano de mobilidade, podemos questionar: “Que áreas precisam de reforço das condições de mobilidade para o adequado atendimento da população?” A partir da pergunta central, outras tantas, mais específicas, podem ser realizadas. Se partimos do plano diretor de Betim, podemos nos perguntar: “Quais as áreas de maior fragilidade ambiental no município?”; “Quais as áreas com maior riscos à saúde e ao ambiente, por conta de ventos ambientais extremos ou por falhas em infraestruturas técnicas?”; “Quais áreas necessitam de maior investimentoem infraestruturas?”; “Quais áreas precisam de mais equipes de saúde da família?”; “Onde o zoneamento deve ser mais permissivo ou proibitiva para a ocupação?”; “Quais os custos futuros e o impacto no orçamento municipal para atendimento das necessidades dos munícipes?”. É com isso em mente que podemos criar um plano de trabalho coerente. Precisamos identificar como, entre tantos outros temas – renda, trabalho, desenvolvimento industrial, ambiente etc. –, a demografia pode auxiliar a responder a essas questões pertinentes ao desenvolvimento municipal. Esse tipo de exercício é de fato o que precisamos transpor para qualquer projeto em que estejamos trabalhando, considerando as suas especificidades. Assim, um plano de trabalho dae estudo demográfico deve prever as análises necessárias para responder a essas questões, identificando: • Quais os temas demográficos a serem abordados; 6 • Quais os produtos analíticos (tabelas, gráficos, mapas etc.) a serem desenvolvidos; • As fontes dos dados; • Os procedimentos para obtenção, tratamento, análise e divulgação dos dados. É preciso considerar que as fases dos projetos de estudo são altamente relacionadas, de maneira que não se deve querer responder a todas as questões de maneira estanque. De fato, o fluxo de trabalho deve contar com diferentes análises, que agregam crescentes graus de conhecimento. As análises assim podem ser descritivas, diagnósticas, prognósticas e prescritivas. A análise descritiva busca demonstrar os fenômenos demográficos que ocorrem na área de interesse: quais os patamares populacionais, quais as áreas que perdem e aquelas que ganham população, quais os volumes de migração, quais os principais destinos de mobilidade pendular, qual a estrutura etária da população etc. Com base nisso, são feitas análises diagnósticas, ou seja, são identificadas as razões pelas quais um determinado município tem perdido população, os motivos pelos quais uma determinada faixa etária apresenta menor contingente populacional do que outras, quais são as concentrações de serviços que podem estar fazendo com que uma determinada área esteja recebendo vultosos contingentes de pessoas em comutação diária para o trabalho, quais os tipos de impactos para as contas públicas ocorrerão em razão do crescimento populacional. É uma fase de integração interdisciplinar. Na análise prognóstica, são identificados quais são os cenários tendenciais, casos as dinâmicas observadas permaneçam, intensifiquem-se ou diminuam. Por sua vez, na análise prescritiva, são realizadas as propostas de ações para o encaminhamento dos desafios decorrentes das dinâmicas demográficas. Se tomarmos o exemplo de um Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado, podemos pensar que a análise descritiva deva trazer as primeiras indicações sobre aspectos populacionais básicos da região. Assim, podemos realizar um plano de trabalho que preveja estudos sobre os seguintes tópicos: • Patamares populacionais dos municípios integrantes; • Padrão do crescimento populacional nas últimas décadas; 7 • Projeção populacional; • Identificação do padrão de densidades demográficas; • Estrutura etária da população; • Dinâmicas migratórias; • Dados de mobilidade pendular para o trabalho. Para cada um deles, devemos prever que tipos de produtos analíticos serão necessários, seus insumos e fontes, conforme o exemplo do Quadro 1. Quadro 1 – Temas, produtos analíticos, insumos e fontes de dados Tema Produtos Analíticos Insumos Fonte Patamares populacion ais dos municípios integrantes • Tabela com população por município • Mapa com classificação dos municípios por patamar populacional • População Estimada para 2019 • Malha Municipal em formato shapefile • Estimativas Populacionais do IBGE no SIDRA • Geoftp do IBGE Padrão do cresciment o populacion al nas últimas décadas • Gráfico com evolução da população urbana, rural e total • População, por situação do domicílio e município, para os anos censitários, de 1970 a 2010. • Tabela 200 do SIDRA Projeção populacion al • Gráfico de projeção populacional por município • Dados de População projetada por município • Bases de dados de órgãos de pesquisas da unidade da federação Identificaçã o do padrão de • Mapa de densidade demográfica por • Dados tabulares dos resultados do universo Censo, agregados por • IBGE Downloads/Est atísticas 8 densidades demográfic as setor censitário de 2010 setores censitários de 2010 • Malha de Setores Censitários de 2010 • IBGE Downloads/Ge ociências Estrutura etária da população • Gráficos de pirâmide etária do recorte metropolitano entre 1970 e 2010 • População, por sexo, faixa etária e município, para os anos censitários, de 1970 a 2010. • Tabela 200 do SIDRA Dinâmicas migratórias • Tabela com percentual de residentes do município por naturalidade • Tabela com lugar de residência anterior para moradores que se mudaram para o município nos últimos cinco anos (migração de data fixa) • Mapa de fluxos migratórios entre municípios metropolitanos • População com dados de migração por data fixa • População por naturalidade • Malha Municipal em formato shapefile • Microdados do Censo 2010 • Downloads/Ge ociências Dados de mobilidade pendular para o trabalho • Mapa de origens e destinos dos movimentos pendulares para trabalho e estudo em 2010 • População ocupada, com trabalho principal em município diferente daquele de moradia, com deslocamento e retorno diário • Microdados do Censo 2010 • Downloads/Ge ociências 9 • População matriculada em instituição de ensino regular em município diferente daquele de moradia • Malha Municipal em formato shapefile Em um segundo momento, análises diagnósticas e prognósticas podem ser realizadas. Usualmente, essas análises são consideradas análises integradas, pois os diversos temas são levados em consideração, de maneira interdisciplinar, para que se possa identificar as relações entre os diferentes fatores. Dessa forma, devemos prever a realização de avalição dos impactos do crescimento populacional sobre a demanda por infraestruturas e serviços (saúde, educação, saneamento básico etc.), sobre os gatos dos cofres públicos, bem como a identificação dos conflitos entre as tendências de adensamento populacional e as condições ambientais. Saiba mais Para vermos como um plano de trabalho é construído de forma a contar com as atividades que serão desenvolvidas nas pesquisas sobre diversos temas, inclusive a demografia, podemos acessar o Plano de Trabalho para a revisão do Plano Diretor de Canoinhas. TEMA 2 – CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O CENSO DEMOGRÁFICO BRASILEIRO A principal forma de aferição de dados demográficos é o censo demográfico. Assim, para que possamos fazer uma pesquisa demográfica de qualidade, precisamos conhecer alguns aspectos básicos sobre esse importante levantamento populacional. Desde meados do Século XIX, o Brasil contou com diversos recenseamentos (1872, 1890, 1990, 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010). Com base nesses grandes projetos estatísticos, um enorme arcabouço de dados se encontra disponível para aqueles interessados nas 10 dinâmicas populacionais. Para fazer uso dessas bases de dados, é adequado que relembremos alguns conceitos básicos. A população absoluta é o conjunto de habitantes de uma determinada área (IBGE, 2013). Isso parece bastante simples, mas o conceito traz alguns complicadores que não podem ser ignorados em um levantamento censitário. Onde considerar o local de habitação de uma pessoa que tem dois domicílios, de um estrangeiro em visita ao país,de uma pessoa em custódia provisória das autoridades policiais, de um profissional que passa três meses em plataforma petrolífera, de uma criança que acaba de nascer em uma maternidade ou de alguém internado em hospital por mais de um ano? Para solução dessas e de outras tantas questões, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta alguns critérios. O primeiro critério importante é a data de referência. A população absoluta de um país é considerada em uma determinada data específica (noite de 31 de julho para primeiro de agosto de 2010 foi a data de referência do censo daquele ano). Dessa forma, se uma criança estiver presente no momento da entrevista, mas o recenseador identificar que ela nasceu após a data de referência, ela não será contada. Por outro lado, se um morador tiver falecido até a data da entrevista (geralmente a maior parte das entrevistas é realizada em um período de três meses a partir da data de referência), mas estava vivo na data de referência, ele será contado e seus dados coletados pelo entrevistador. Outro elemento importante para identificação de morador é que não estivesse ausente do domicílio, na data de referência, por período superior a 12 meses. Conforme mostra o Manual do Recenseador do IBGE, morador é a pessoa que: a) tem o domicílio como local habitual de residência e nele se encontrava na data de referência; b) embora ausente na data de referência, tem o domicílio como residência habitual, desde que essa ausência não seja superior a 12 meses, em decorrência dos seguintes motivos: • Viagem a passeio, a serviço, a negócios, de estudos etc.; • Internação em estabelecimento de ensino ou hospedagem em outro domicílio, pensionato, república de estudantes, visando facilitar a frequência a escola durante o ano letivo; • Detenção sem sentença definitiva declarada; • Internação temporária em hospital ou estabelecimento similar; e • Embarque a serviço (militares, petroleiros) (IBGE, 2010a, p. 52). A população absoluta contém vários agrupamentos demográficos: a população masculina, a população feminina, a população por determinados 11 grupos raciais e étnicos, a população em idade para o trabalho, entre outras tantas. Por essa razão, o questionário aplicado no recenseamento não lida somente com a contagem populacional geral, mas com informações que ajudam a identificar os diversos grupos que compõem a população absoluta. Para avançarmos no entendimento dos dados populacionais no Brasil, precisamos compreender que o recenseamento é um levantamento domiciliar, ou seja, são contados os habitantes do território com base em suas unidades domiciliares. Nesse sentido, para o IBGE, “domicílio é o local estruturalmente separado e independente que se destina a servir de habitação a uma ou mais pessoas, ou que esteja sendo utilizado como tal” (IBGE, 2010a, p. 56). Para navegarmos bem nos dados populacionais brasileiros, portanto, precisamos compreender o termo “domicílio”. Para tanto, observemos a Figura 1. Figura 1 – Domicílio Fonte: elaborado com base em IBGE, 2010a, p. 60. Notamos que o domicílio conta com duas grandes categorias: o particular e o coletivo. O domicílio particular é aquele em que os habitantes têm “laços de parentesco, de dependência doméstica ou por normas de convivência” (IBGE, 2010a, p. 61). São as casas, os apartamentos, as ocas em tribos indígenas etc. Os domicílios particulares podem ser permanentes ou improvisados. Os domicílios improvisados não contam com dependências destinadas exclusivamente à moradia ou se encontram em locais inadequados para Domicílio Particular Improvisado Permanente Ocupado De uso ocasional Vago Improvisado Ocupado Coletivo Com morador Sem morador 12 habitação (não confundir com locais de baixo padrão construtivo), tais como trailers, tendas, barracas, prédios em ruínas, além de dependências comerciais, como em bares ou bancas de revistas. Os domicílios permanentes são espaços construídos especificamente para habitação. Eles podem ser: vagos, sem moradores na data de referência; de uso ocasional, como as segundas residências, residências de veraneio comuns em áreas litorâneas ou no campo, além de repúblicas de estudantes que não são a principal moradia daqueles que ali ficam durante período de aulas; fechados, aqueles ocupados na data de referência, cujos moradores não foram encontrados durante o recenseamento, para os quais os dados serão estimados (interpolados); ocupados, aqueles que serviam de habitação na data de referência, em que um dos moradores foi encontrado pelo recenseador, tendo respondido ao questionário. O domicílio coletivo, por sua vez, é uma instituição ou estabelecimento em que os internos se encontram em relação de normas administrativas (IBGE, 2010a, p. 70), tais como hotéis, asilos, orfanatos, presídios, hospitais com internação etc. Certas perguntas só fazem sentido comparativo para questionários aplicados a tipos específicos de domicílios. As perguntas sobre forma de esgotamento, por exemplo, são feitas em domicílios particulares permanentes ocupados, mas não em domicílios coletivos ou improvisados. Por isso é que os conceitos de domicílios são importantes para quem vai tratar com dados populacionais via censo demográfico. TEMA 3 – PATAMAR POPULACIONAL E CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO 3.1 Patamar populacional Agora que entendemos sobre a produção do plano de trabalho de pesquisa demográfica e que temos em mente alguns conceitos básicos do Censo, podemos passar aos procedimentos práticos para as análises de patamares populacionais e de crescimento demográfico, com base no fluxo de trabalho de obtenção, tratamento, análise e divulgação de dados. No fluxo de trabalho para o diagnóstico demográfico de uma região metropolitana, ou de qualquer outro recorte, avaliamos o patamar populacional dos municípios pertencentes à unidade regional. Isso pode ser feito com base 13 nos dados censitários, ou nas estimativas populacionais, caso os dados censitários já se encontrem defasados. Com isso em mente, podemos passar à obtenção dos dados a partir do sítio eletrônico do IBGE, mais precisamente no Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA –, que se encontra em <www.sidra.ibge.gov.br/>. Neste endereço, uma aba aparecerá quando clicarmos na opção “Pesquisas”, na porção superior, revelando a opção “População”. Ao selecionarmos essa opção, podemos clicar no botão “Estimativas da População”. Na tabela 6579, escolhemos o ano com o qual gostaríamos de trabalhar e as unidades territoriais para as quais os dados devem ser obtidos. Podemos seguir o exemplo da Figura , selecionando o ano de 2019 e os municípios pertencentes à região metropolitana de Salvador. Figura 2 – Seleção dos municípios na tabela 6579 do SIDRA Fonte: IBGE (2020a). Como resultado, o SIDRA deve nos retornar uma tabela como aquela representada pela Figura 3. Comumente, é adequado que sejam inseridos os códigos dos municípios de interesse, o que pode ser feito no canto superior esquerdo desta tela de resultados, ao selecionar a “opções de visualização” (símbolo de um olho), em que encontramos a opção “códigos”. 14 Figura 3 – Resultado da tabela 6579 do SIDRA Fonte: IBGE (2020a). No canto superior direito, podemos selecionar “Funções” e optar por baixar os dados em formato XLSX, para Microsoft Excel ®, ou ODS, para softwares de planilhas com código aberto, como o LibreOffice Calc ®. Com o arquivo em nossos computadores, podemos passar ao tratamento dos dados, para que eles possam compor o nosso relatório técnico. Entre as atividades de tratamento, vamos procurar por valores faltantes, duplicidades, valores nulos, além de geração de novas medidas. Neste caso específico, os dados não parecem discrepantes e não há valores nulos ou zerados, restando-nosapenas a tarefa de criar uma linha para o total da região metropolitana, com a soma dos valores de todos os municípios. Como procedimentos voltados para a divulgação, partindo-se da nossa preocupação em apresentar dos dados com base em produtos analíticos sintéticos e elegantes, podemos adequar a formatação para o padrão a ser utilizado no relatório. Assim, fazemos a adequação do título, a retirada dos códigos e da sigla da unidade da federação em cada linha, o arranjo dos municípios em ordem decrescente de população, a retirada das cores e a padronização das bordas. Como resultado, temos a Tabela 1 pronta para fazer parte do nosso relatório. 15 Tabela 1 – População Estimada para os Municípios da Região Metropolitana de Salvador Município População Salvador 2.886.698 Camaçari 304.302 Lauro de Freitas 201.635 Simões Filho 135.783 Candeias 87.458 Dias d'Ávila 82.432 Mata de São João 47.126 São Sebastião do Passé 44.430 Vera Cruz 43.716 São Francisco do Conde 40.245 Pojuca 39.972 Itaparica 22.337 Madre de Deus 21.432 Total RMS 3.957.566 Fonte: Elaborado pelo autor, com base em IBGE (2020a). É aqui que podemos fazer a análise, a partir de comparações, identificações de padrões, efetuação de agrupamentos e da observação de correlações nos dados. No caso da Região Metropolitana de Salvador, notamos que, entre os 12 municípios integrantes, existem certos agrupamentos claros de patamares populacionais. Em primeiro lugar, temos Salvador, com seus quase 3 milhões de habitantes. Isso demonstra a elevada concentração populacional no polo metropolitano (quase 73% da população). Em seguida, temos os municípios com porte populacional médio, com variação entre aproximadamente 135 e 304 mil habitantes (Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho). Na sequência, encontram-se municípios que apresentam entre 40 e 87 mil habitantes (Candeias, Dias d’Ávila, Mata de São João, São Sebastião do Passé, Vera Cruz e São Francisco do Conde). Por fim, encontram-se os municípios com mais baixos patamares populacionais (Pojuca, Itaparica e Madre de Deus). A esse tipo de descrição básica inicial, podemos adicionar análises mais sofisticadas, conforme formos acrescentando novos dados e a partir do problema em questão para nosso projeto. Podemos, por exemplo, avaliar efeitos, consequências, dependências, causas, existência de processos de reforços, 16 entre mais, que expliquem como esses diferentes grupos de municípios podem contar com dinâmicas distintas na economia, no desenvolvimento social, no seu papel de provisão de serviços ambientais no contexto metropolitano, em função das condições populacionais particulares. Essa avaliação ainda contará com avanços importantes, se plotarmos em mapa esses dados, para que possamos verificar padrões de distribuição espacial de população na região de interesse. 3.2 Crescimento demográfico Podemos adicionar a essa visão estanque sobre a distribuição dos patamares populacionais entre os municípios, uma exposição dos ritmos de crescimento populacional da região ao longo do tempo, segundo as áreas urbanas e rurais. Para tanto, podemos ir à tabela 200 do SIDRA. Para encontrar esta tabela, no sítio <www.sidra.ibge.gov.br/>, pesquisamos por 200 na caixa de digitação que aparece quando selecionamos o ícone de lupa no canto superior direito da tela inicial do sistema. A tabela 200 é fonte de muitos dados importantes em análises demográficas. Para a obtenção dos dados, vamos optar por situação do domicílio “Total”, “Urbana”, “Rural” e, na opção de seleção para anos, vamos optar por todos, entre 1970 a 2010. Novamente, vamos escolher todos os municípios que se encontram dentro da região metropolitana de Salvador. Não devemos escolher somente a região metropolitana, mas todos os municípios dela, como é o caso exemplificado anteriormente, na Figura . O SIDRA nos trará o resultado abaixo, que deveremos baixar para o nosso computador em formato XLSX ou ODS, a partir das respectivas opções no menu Funções. O tratamento desses dados passa pela substituição dos valores nulos (...), por 0. Isso é feito com o atalho Ctrl+U, no Excel. Na caixa de diálogo que surgirá, basta seguir o exemplo da Figura 4. Figura 4 – Caixa de diálogo localizar e substituir 17 Fonte: IBGE (2020b). Precisamos também inserir uma soma dos valores em cada coluna, para formar uma nova linha com o total da população metropolitana entre 1970 e 2010, conforme mostra a Figura 5. Figura 5 – Inserção de soma para obter o total da região metropolitana de salvador Fonte: IBGE (2020b). Em seguida, devemos fazer uma nova tabela, com essas somas, conforme a Figura . Figura 6 – Nova tabela com a população total metropolitana por ano e situação do domicílio Essa tabela é a que deve ser utilizada como referência para que possamos fazer um gráfico de linhas. Para tanto, selecionamos as células representadas acima e, no menu Inserir, do Excel, encontramos o bloco sobre gráficos, onde encontraremos as opções de gráficos de linhas empilhadas com marcadores, como mostra Figura . 18 Figura 7 – Seleção de gráfico de linhas Fonte: Excel. O Gráfico 1 se encontra pronto para que possamos fazer as análises, em nosso relatório técnico. Gráfico 1 – Seleção de gráfico de linhas Fonte: IBGE (2020b). Segundo o Gráfico 1, podemos notar que, desde a década de 1970, o crescimento populacional total foi bastante expressivo na Região Metropolitana de Salvador, que passou de 1,2 milhões para quase 3,6 milhões de habitantes, praticamente o triplo em um intervalo de 40 anos. Nota-se que esse acréscimo foi dado, eminentemente, por conta do crescimento urbano. De maneira geral, a população rural passou por um processo de diminuição, deixando o patamar de 102,5 mil habitantes, em 1970, para 67,8 mil, em 2010. Isso é bastante condizente com uma região metropolitana, em que o esperado é uma forte dinâmica de urbanização. No entanto, a permanência de ritmos tão elevados de crescimento no futuro pode trazer diversos desafios para a região, sobretudo no que diz respeito à capacidade de investimento do Estado para infraestrutura e serviços à população, bem como para a formação de 1.211.950 3.573.973 1.109.358 3.506.152 102.592 67.821 - 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 1970 1980 1991 2000 2010 Total Urbana Rural 19 condições econômicas para incorporação de consideráveis contingentes populacionais ao mercado de trabalho. TEMA 4 – ESTRUTURA ETÁRIA Pirâmide Etária é a estrutura formada pela participação de grupos de diferentes faixas de idade em uma determinada população. O gráfico de pirâmide etária é a forma como essa estrutura é classicamente analisada. O IBGE o conceitua como a “representação gráfica da distribuição da população de um país por sexo e faixas de idade” (IBGE, 2013, p. 212). Para analisar a estrutura etária, teremos um fator facilitador, que é poder utilizar a tabela 200 do SIDRA, a mesma com a qual se trabalham os dados de crescimento populacional urbano e rural entre 1970 e 2010. No ambiente de seleção de parâmetros do SIDRA, em <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/200>, vamos manter a “variável” como “População residente” (não trabalharemos com percentual), conforme mostra a Figura 8. Figura 8 – Seleção de variável no SIDRA Fonte: IBGE (2020b). Na opção “Sexo”, vamos retirar o “Total” e optar por “Homens” e “Mulheres”, seguindo o que mostra a Figura . Figura 9 – Seleção de sexo no SIDRA Fonte: IBGE (2020b). 20 Na opção sobre “Situação do domicílio” (Figura ), vamos escolher Total, desabilitando “Urbano” e “Rural”. Figura 10 – Seleção de situação do domicílio Fonte: IBGE (2020b). Em “Grupos de idade”, não podemos nos esquecer de desabilitar a opção“Total”. Os grupos de idade que queremos são: “0 a 4 anos”; “5 a 9 anos”; “10 a 14 anos”; “15 a 19 anos”; “20 a 24 anos”; “25 a 29 anos”; “30 a 34 anos”; “35 a 39 anos”; “40 a 44 anos”; “45 a 49 anos”; “50 a 54 anos”; “55 a 59 anos”; “60 a 64 anos”; “65 a 69 anos”; “70 a 74 anos”; “75 a 79 anos”; “80 anos ou mais [1970, 1980, 1991]”; “80 a 84 anos [2000, 2010]”; “85 a 89 anos [2000, 2010]”; “90 a 94 anos [2000, 2010]”; “95 a 99 anos [2000, 2010]”; “100 anos ou mais [2000, 2010]” – Figura . Figura 1 – Seleção de grupo de idade Fonte: IBGE (2020b). Em “Ano” (Figura ), optemos por todos os anos, de 1970 a 2010. 21 Figura 2 – Seleção de ano no SIDRA Fonte: IBGE (2020b). Em “Unidade Territorial”, optemos por “Município”; em “Região Metropolitana”, indiquemos “Salvador”, para termos os dados de todos os municípios da unidade (Figura ). Figura 3 – Seleção de unidade territorial Fonte: IBGE (2020b). Em “Layout”, devemos deixar o grupo de idades na linha e todos os demais itens como colunas, conforme mostra a Figura 4. Figura 4 – Configuração de layout Fonte: IBGE (2020b). 22 Agora basta baixar o arquivo XLS, ou ODS, e estaremos com a etapa de obtenção concluída. Precisamos passar agora ao tratamento dos dados. Vamos preservar os dados originais em sua própria aba e trabalhar com uma cópia. Assim, caso algo saia errado, teremos o dado original para recomeçar. Vamos criar uma aba. Nela vamos gerar a estrutura dos dados como deve ser após do tratamento, conforme a Figura 5. Para isso, podemos copiar os títulos de linhas e colunas da tabela original do IBGE. Notemos, no entanto, que a faixa etária deve encerrar em 80 anos ou mais, pois existem edições do Censo em que não há faixas quinquenais para além de 80 anos. Figura 5 – Estrutura de dados de faixa etária e sexo Fonte: Excel. Na tabela original, precisamos retirar informações que não têm valor numérico, como as reticências, que indicam que o município não tem dados para aquele ano (casos em que não havia pessoas naquela faixa etária, ou quando o município ainda não existia). Vamos substituir essas reticências por 0. Isso pode ser feito ao utilizarmos o atalho Ctrl+U, que trará a caixa de diálogo “Localizar e Substituir”, em que colocaremos as reticências no campo “Localizar” e 0 no campo “Substituir por”, conforme mostra a Figura 6. Figura 6 – Caixa de diálogo localizar e substituir Fonte: Excel. 23 Na nova tabela que criamos, com a estrutura final dos dados, precisamos inserir fórmulas de soma que abranjam todos os valores de população para um determinado sexo, faixa etária e ano do levantamento censitário, conforme mostra a Figura 7. Existem especificidades com as quais devemos tomar cuidado, como o caso da faixa de 80 anos ou mais, pois a fórmula será um pouco diferente para encampar todas as faixas além dos 80 anos na tabela original. Figura 7 – Soma de valores para faixa etária, por sexo e ano da edição do censo Cada coluna deverá ter suas próprias referências para a função “soma”. Isso dá margem para erros. Por essa razão, devemos fazer uma linha com os totais, com a soma dos valores, para que possamos conferir se a soma da população bate com o total da tabela. No final, devemos ter no Excel algo como o que é mostrado a seguir (Figura 8). Figura 8 – Tabela com as somas das faixas etárias por sexo e edição do censo Fonte: Excel. Um truque importante para fazer a pirâmide etária no Excel é transformar os valores referentes a um dos sexos em negativos, para que as barras se apresentem em direções opostas. Assim, primeiramente, copie todos os valores da tabela; com o botão direito do mouse, selecione a opção “colar especial”; em 24 seguida, a opção valores. Assim, os dados não estarão mais referenciados por uma fórmula, mas serão dados absolutos (Figura 9). Figura 9 – Tabela com as somas das faixas etárias por sexo e edição do censo Fonte: Excel. Em seguida, é possível acrescentar o valor -1 em qualquer célula em branco, copiá-lo e, sobre as colunas cujos valores serão tornados negativos, com o botão direito do mouse, selecionar a opção “colar especial” e, em seguida, “multiplicação”. Assim, os valores serão multiplicados por -1, transformando-os em valores negativos ( Figura 10). Figura 10 – Transformação de coluna em valores negativos Fonte: Excel. Agora, podemos selecionar as células correspondentes ao dado que queremos plotar em gráfico. No menu “inserir”, optar por “Barras 2D”, “Barras empilhadas”. Isso nos dará uma representação, conforme o Gráfico 2, que mostra já estarmos no caminho, mas que ainda precisa de muitos ajustes, tais como a retirada do título, a realocação dos rótulos do eixo vertical e a estipulação dos limites de intervalos. 25 Gráfico 2 – Pirâmide etária da região metropolitana de salvador inacabada Fonte: Pereira, 2021. Ao clicar sobre os rótulos das faixas etária, com o botão direito do mouse, teremos a opção “Formatar Eixo”. Nela, poderemos verificar as opções de rótulos, em que se pode selecionar a opção “Inferior” em “Posição do Rótulo” ( Figura 11). Figura 11 – Seleção da posição do rótulo Fonte: Excel. Ao clicarmos, com o botão direito, nos rótulos do eixo horizontal, em que se encontram os números referentes à população, teremos novamente a opção de eixos. Em “Formatar Eixo” (Figura 12), devemos optar para que os limites sejam condizentes com os valores máximos apresentados no mapa, como -150.000 -100.000 -50.000 - 50.000 100.000 150.000 0 a 4 anos 10 a 14 anos 20 a 24 anos 30 a 34 anos 40 a 44 anos 50 a 54 anos 60 a 64 anos 70 a 74 anos 80 anos ou mais Título do Gráfico Homens Mulheres 26 mostra o exemplo a seguir, em que o gráfico de 1970 passou a contar com limites entre -100.000 e mais 100.000. Figura 12 – Mudança dos limites do eixo horizontal Fonte: Excel. Nosso gráfico está mais próximo da sua apresentação final, mas os limites ainda são apresentados em valores negativos para mulheres. Ainda na opção dos eixos, temos que personalizar o número, como na Figura 13. Figura 13 – Personalização do formato numérico Fonte: Excel. 27 Agora temos um material que pode ser utilizado na análise da estrutura etária da Região Metropolitana de Salvador. Podemos notar que, segundo o Gráfico 3, em 1970, a pirâmide etária tinha claras características de subdesenvolvimento, em que as taxas de natalidade são elevadas, mas a taxa de mortalidade também, o que faz a expectativa de vida ser baixa. Por essa razão, a base da pirâmide é bastante ampla, com ingresso de muitas crianças; contudo, a cada faixa etária, tem-se uma proporção menor de pessoas. Os idosos são pouco representativos em termos de patamares populacionais, indicados por um topo bastante estreito. Gráfico 3 – Pirâmide da região metropolitana de salvador em 1970 Fonte: Pereira, 2021. Em 2010, no entanto, nota-se um cenário bastante distinto, como é possível observar no Gráfico 4. A base do gráfico estreitou significativamente, a ponto de não ter mais uma aparência piramidal. Isso indica uma diminuição significativa de taxa de natalidade. Há um predomínio significativo de população em idade para o trabalho, o que é uma oportunidade para formação de poupança e para produtividade do trabalho, de maneira a garantir o desenvolvimento regional. Gráfico 4 – Pirâmide da região metropolitana de salvador em 2010 100000 50000 0 50000 100000 0 a 4 anos 10 a 14 anos 20 a 24 anos 30 a 34 anos 40 a 44 anos 50 a 54 anos 60 a 64 anos 70 a 74 anos 80 anos ou mais Homens Mulheres 28 Fonte: Pereira, 2021. Os idosos, no entanto, embora sejam em números absolutos muito superiores do que na década de 1970, ainda têm representação relativa muito inferior, o que demonstra a necessidade de ampliação dascondições de qualidade de vida para ampliação da longevidade. Ademais, o crescimento absoluto de idosos levanta questões sobre a capacidade de atendimento dos sistemas de saúde para essa população, bem como para a formação de condições de pagamento de pensões e aposentadorias. Saiba mais O Plano de Desenvolvimento da Metrópole Paraná Norte pode ser um adequado exemplo para identificarmos os resultados desse tipo de pesquisa. O Plano se encontra no link. TEMA 5 – DENSIDADE DEMOGRÁFICA, MIGRAÇÃO E MOVIMENTO PENDULAR A avaliação das densidades demográficas é extremamente importante em trabalhos técnicos diversos. Em planos de manejo de Áreas de Proteção Ambiental (APAs), é preciso saber se as densidades estão compatíveis com as condições ambientais da unidade de conservação. Em estudos de impacto ambiental ou estudos de impacto de vizinhanças, é preciso se saber como as condições de densidade demográfica podem configurar um fator relevante a ser considerado no impacto da instalação e funcionamento dos novos 200000 150000 100000 50000 0 50000 100000 150000 200000 0 a 4 anos 10 a 14 anos 20 a 24 anos 30 a 34 anos 40 a 44 anos 50 a 54 anos 60 a 64 anos 70 a 74 anos 80 anos ou mais Homens Mulheres 29 empreendimentos. Nos planos diretores municipais, ou nos planos de desenvolvimento integrado das regiões metropolitanas, é necessário observar como os diferentes níveis de densidade podem estar em acordo/desacordo com o suporte ambiental e com as condições de infraestrutura, o que vai implicar adequação da legislação de zoneamento de usos e ocupação. Diante disso, devemos entender como produzir avaliações sobre as densidades populacionais intramunicipais. Para tanto, os dados a serem utilizados são aqueles referentes aos setores censitários do IBGE. Os arquivos para uso em softwares de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) podem ser encontrados no site do instituto. Exemplos dos setores podem ser observados na Figura 14, que mostra essas divisões territoriais para o município de Colombo/PR, em 2000 e 2010. Figura 14 – Setores censitários 2000 e 2010 para Colombo/PR Fonte: elaborado com base em IBGE, 2000a; 2010a e Google Earth, 2017. Embora não caiba no escopo de nosso curso entrar nos detalhes do processo de criação do mapa anterior, podemos nos ater a algumas boas práticas para que a sua elaboração seja profícua no trabalho analítico. Em estudos de escala intraurbana, um mapa de densidade demográfica que seja elaborado por setores censitários, deve ser referenciado em número de habitantes por hectare, não em quilômetros quadrados. Como um hectare corresponde a uma quadra de 100 metros por 100 metros, as classes no mapa se tornam bastante intuitivas. Vejamos a Figura 15. 30 Figura 15 – Densidades demográficas dos setores censitários em Colombo/PR em 2000 e 2010 Fonte: elaborado pelo autor com base em Technum, 2018. 5.2 Migrações A avaliação de migrações pode ajudar a identificar centralidades que se encontram em expansão populacional em relação a áreas de perda, o que pode indicar áreas em que serão necessários maiores investimentos para moradia, nos polos receptores, enquanto se terá que considerar as razões pelas quais certas áreas podem estar perdendo significativos contingentes populacionais. Por vezes, isso repousa em condições de estagnação econômica local, fenômeno que pode recrudescer, justamente pela perda de pessoas em idade para o trabalho. A seguir, na Figura 16, temos um exemplo que podemos explorar, na forma de um mapa de movimentos migratórios com data fixa (2005). Figura 16 – Movimento migratório entre municípios da metrópole Paraná Norte – 2005 a 2010 31 Crédito: João Miguel. A figura anterior pode ser elaborada em softwares de SIG, em procedimentos bastante manuais, com o desenho de cada uma das setas, individualmente, iniciando-se em uma matriz de origem e destino que pode ser feita com base nos dados do Censo para migração de data fixa, com base nos microdados censitários, disponível no site do IBGE. Podemos observar como, no Estudo da Metrópole Paraná Norte, significativos movimentos migratórios ocorrem a partir de Maringá, polo metropolitano, para os municípios de seu entorno. Isso indica que, com o aumento dos custos de vida e de moradia de Maringá, muitos residentes passam a procurar áreas mais baratas no entorno. Uma menor parcela dessa migração é composta por famílias que buscam condições de vida mais amenas em condomínios rurais. Em todos os casos, ocorre é que a concentração das atividades econômicas mais dinâmicas permanece em Maringá. Com isso, os municípios do entorno passam a ser demandados em serviços públicos e infraestruturas para atendimento da população, sem, com isso, passarem por maiores ganhos de arrecadação em impostos de serviços. Os Microdados do Censo também permitem que sejam obtidas informações de origem e destino de movimento pendular para o trabalho e o estudo. No entanto, trabalhar com os microdados é uma tarefa que demanda bastante, exigindo conhecimento de softwares de estatística ou linguagens de programação. Assim, uma saída é solicitar essas informações nos canais de 32 atendimento em cada unidade da federação, pelos telefones disponíveis em <https://www.ibge.gov.br/atendimento.html>. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste curso, observamos a importância dos estudos demográficos para a iniciativa privada e para o Poder Público. No contexto dos diversos planos em que se pautam as atividades do Poder Público, observamos a importância de uma realização adequada do plano de trabalho, que deve conter os tipos de produtos analíticos e suas fontes para a realização de pesquisas demográficas. Vimos, também, alguns conceitos básicos do Censo Demográfico, como data de referência, morador e domicílio, com seus diversos subtipos. Em uma abordagem mais prática, passamos a verificar como obter, tratar, analisar e divulgar dados sobre patamares populacionais, crescimento demográfico e estrutura etária. Vimos, ainda, alguns aspectos importantes de produtos analíticos para análise da densidade demográfica, da migração e do movimento pendular. Com base nesses conhecimentos, podemos passar a fazer nossos exercícios, para termos uma adequada capacidade de preparação de produtos analíticos importantes em diagnósticos socioeconômicos. INDICAÇÃO DE 2 ARTIGOS OLIVEIRA, L. A. P. DE; SIMÕES, C. C. DA S. O IBGE e as pesquisas populacionais. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 22, n. 2, p. 291–302, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102- 30982005000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 7 jul. 2021. BUENO, M. DO C. D.; D’ANTONA, A. DE O. A Geografia do Censo No Brasil: Potencialidades e Limites dos Dados Censitários em Análises Espaciais. GEOgraphia, v. 19, n. 39, p. 16–28, 2017. Disponível em: <https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13783>. Acesso em: 7 jul. 2021. 33 REFERÊNCIAS GOOGLE EARTH V 7.3.3.7721 (2017). Município de Colombo, Paraná: mosaico de imagens de satélite (set. 2017). Cnes, Airbus e Maxar. Disponível em: <http://www.earth.google.com>. Acesso em: 7 jul. 2021. GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ; THE WORLD BANK. Produto 06 – relatório de contextualização final. Curitiba: COBRAPE//URBTEC, 2019. Disponível em: <http://www.planejamento.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/docum ento/2020-08/4_1.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2021. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual do Recenseador - Censo Demográfico. Rio de Janeiro: COC, 2010a. _____. Malha de setores censitários. Rio de Janeiro, DGC, 2000A. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 7 jul. 2021. _____. Malha de setores censitários. Rio de Janeiro: DGC, 2010A. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 7 jul. 2021._____. GLOSSÁRIO. Atlas do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, SDI, 2013. Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/>. Acesso em: 7 jul. 2021. _____. GLOSSÁRIO. IN: Atlas do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, CDDI, 2013. Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/>. Acesso em: 7 jul. 2021. _____. Tabela 6579: População Residente Estimada. 2020a. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/6579>. Acesso em: 7 jul. 2021. _____. Tabela 200 - População residente, por sexo, situação e grupos de idade. 2020b. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/200>. Acesso em: 7 jul. 2021. TECHNUM. Malhas cartográficas da revisão do plano diretor de Colombo. Brasília: 2018. URBTEC; COBRAPE. Diagnóstico da metrópole Paraná Norte – Vol. I, Sócio- Territorial. Curitiba: Seplan, 2019. Disponível em: <http://www.planejamento.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/docum ento/2020-08/4_1.pdf>. Acesso em 21 nov. 2020. https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/
Compartilhar