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Documento não controlado - AN03FREV001 60 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação Documento não controlado - AN03FREV001 61 CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. Documento não controlado - AN03FREV001 62 MÓDULO III 3 CONCEITO DE PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Enquanto atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos, a administração pública deve sobrepor a vontade da lei à vontade particular dos administrados, de maneira a privilegiar o interesse público em relação ao interesse individual. Para a realização de suas atividades e, consequentemente, a satisfação do bem comum, o ordenamento jurídico confere à administração uma gama de poderes a fim de instrumentalizar a realização de suas tarefas administrativas. São os chamados poderes da administração ou poderes administrativos. Os poderes administrativos são inerentes ao exercício da atividade administrativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, em observância às suas competências constitucionais e somente podem ser exercícios nos limites da lei. O poder administrativo é atribuído à autoridade para remover interesses particulares que se opõem ao interesse público. Assim, visando atender o interesse público, a Administração é dotada de certos poderes, denominados poderes administrativos, proporcionais aos encargos que lhes são atribuídos e que se constituem em seus verdadeiros instrumentos de trabalho para a realização de suas tarefas, razão porque são chamados de poderes instrumentais e se distinguem do poder político, que é expresso em lei e imposto pela moral administrativa e pelo interesse da coletividade. Os poderes administrativos representam instrumentos que, utilizados, isolada ou conjuntamente, permitem à Administração cumprir suas finalidades, sendo, por isso, entendidos como poderes instrumentais e nisto diferem dos poderes políticos (Legislativo, Judiciário e Executivo) que são Poderes estruturais hauridos diretamente da Constituição. É o poder normativo, de onde emanam as normas, atos com efeitos gerais e abstratos; poder disciplinar: Documento não controlado - AN03FREV001 63 apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores; poder hierárquico: o direito positivo define as atribuições dos vários órgãos administrativos, cargos e funções, estabelecendo uma relação de coordenação e subordinação. Quanto à sua natureza, os poderes da administração têm natureza instrumental, isto é, surgem como instrumentos conferidos pelo ordenamento jurídico à Administração para preservar interesses da coletividade. O uso desses poderes é um dever-poder, pois é por meio deles que se irá alcançar a preservação dos interesses da coletividade. Sendo assim, o administrador só poderá usá-los para preservar os interesses públicos. Se ultrapassar os limites haverá abuso de poder e desvio de finalidade, que são espécies de ilegalidade. 3.1 ESPÉCIES DE PODERES ADMINISTRATIVOS O poder é um instrumento indispensável para que o Estado atinja as suas finalidades. Assim, para que a Administração Pública possa funcionar e atingir os seus fins, a lei atribui-lhe poderes adequados, como veremos a seguir. 3.1.1 Poder Vinculado Poder Vinculado é aquele em que o direito positivo, a lei, confere à administração pública. Ou seja, quando o modo de se praticar o ato já vem descrito na lei. Assim, o denominado poder vinculado, em contraposição a poder discricionário, é aquele de que dispõe a Administração para a prática de atos administrativos em que é mínima ou inexistente sua liberdade de atuação, ou seja, é o poder de que se utiliza a Administração quando da prática de atos vinculados. É aquele em que o administrador se encontra inteiramente preso ao enunciado da lei que estabelece previamente um único comportamento Documento não controlado - AN03FREV001 64 possível a ser adotado em situações concretas, não existindo um espaço para juízo de conveniência e oportunidade. Como exemplo, temos o servidor que ao completar 70 anos o administrador tem que aposentá-lo, pois a lei prevê. Todos os atos administrativos são vinculados quanto aos requisitos competência, finalidade e forma. Os atos ditos vinculados também o são quanto aos requisitos motivo e objeto, ou seja, não cabe à Administração tecer considerações de oportunidade e conveniência quanto a sua prática e nem escolher seu conteúdo. O Poder Vinculado apenas possibilita à Administração executar o ato vinculado nas estritas hipóteses legais e observando o conteúdo rigidamente estabelecido na lei. O ato que se desvie dos requisitos minuciosamente previstos na lei será nulo e caberá à Administração ou ao Poder Judiciário declarar sua nulidade. 3.1.2 Poder Discricionário Poder discricionário é o conferido à Administração para a prática de atos dessa natureza, ou seja, é aquele em que a Administração dispõe de uma razoável liberdade de atuação, podendo valorar a oportunidade e conveniência da prática do ato discricionário, estabelecendo o motivo e escolhendo, dentro dos limites legais, seu conteúdo. Assim, o poder discricionário é aquele em que o administrador se encontra preso, não inteiramente ao enunciado da lei que não estabelece previamente um único comportamento possível a ser adotado em situações concretas, existindo um espaço para juízo de conveniência e oportunidade. É bom lembrar que o poder discricionário não se confunde com poder arbitrário, é o que concede à administração pública para a prática de atos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. Ou seja, quando o administrador tem certa liberdade de escolher a oportunidade ou a forma de se realizar o ato. Documento não controlado - AN03FREV001 65 A principal distinção que se deve fazer é entre poder discricionário e exercício arbitrário do poder. O ato discricionário implica liberdade de atuação administrativa, conforme o poder discricionário, sempre dentro dos limites previstos na lei. Se uma lei prevê, por exemplo, a suspensão punitiva de uma atividade por um mínimo de 30 e um máximo de 90 dias, claro está que uma suspensão de 120 dias será puramente arbitrária, não sendo cabível aqui falar- se em utilização do poder discricionário e sim em desvio desse poder. O ato discricionário ilegal poderá, como qualquer ato ilegal, ser anulado tanto pela administração quanto pelo Judiciário. O que não pode ser apreciado pelo Judiciário (no exercício de sua função jurisdicional) é o mérito administrativo, que consiste justamente na atividade valorativa de oportunidade e conveniência que levou o administrador a praticar o ato, escolhendo seu objeto dentro dos limites legais. Da mesma forma, entendendo a Administração inoportuno ou inconveniente o ato anteriormente praticado, poderá revogá-lo e, enfatize-se, somente pode revogar um ato quem o haja praticado. Por isso, aliás, deve-se lembrar que o Poder Judiciário, e só ele, pode revogar os atos administrativos que ele próprio tenha praticado, o mesmo valendo para o Poder Legislativo, relativamente aos atos de sua autoria. 3.1.3 Poder Hierárquico Poder hierárquico é o que dispõeo Executivo para distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal. Poder hierárquico é o poder conferido à Administração para se auto-organizar, isto é, para distribuir as funções dos seus órgãos, estabelecer campos de atuação e fiscalizar a atuação dos seus agentes. Por exemplo, quando um determinado servidor ingressar na Administração, já saberá quem é o seu superior hierárquico, de quem irá cumprir ordens e a qual deve obedecer. Documento não controlado - AN03FREV001 66 Sendo assim, poder hierárquico ou princípio da hierarquia é o poder de, na forma da lei, distribuir e escalonar suas funções, competência para saber como ordenar, coordenar, controlar e corrigir as atividades administrativas, dando ordens e fiscalizando o seu cumprimento, delegando e avocando atribuições, revendo os atos dos agentes inferiores ou princípio da autotutela. É típico da função executiva, ou seja, administrativa, de todos os Poderes como o Executivo, Legislativo e Judiciário. Não há hierarquia na função legislativa e jurisdicional. Hierarquia caracteriza-se pela existência de graus de subordinação entre os diversos órgãos e agentes do Executivo. É o poder hierárquico que permite à Administração estabelecer tais relações, distribuindo as funções de seus órgãos e agentes conforme tal escalonamento hierárquico. Como resultado do poder hierárquico a Administração é dotada da prerrogativa de ordenar, coordenar, controlar e corrigir as atividades de seus órgãos e agentes no seu âmbito interno. Do exercício do poder hierárquico decorrem as prerrogativas, do superior para o subordinado, de dar ordens, fiscalizar, rever, delegar e avocar. Todos os servidores públicos têm o dever de acatar e cumprir as ordens de seus superiores hierárquicos, salvo quando manifestamente ilegais, hipóteses em que para eles surge o dever de representar contra a ilegalidade, no caso dos servidores civis federais, a Lei 8.112/90, art. 116, incisos IV e XII. Pelo poder-dever de fiscalização compete ao superior estar permanentemente atento aos atos praticados pelos subordinados, a fim de corrigi-los sempre que se desviem da legalidade. A revisão hierárquica é a prerrogativa conferida ao superior para, de ofício ou mediante provocação do interessado, apreciar todos os aspectos de um ato de seu subordinado, no intuito de mantê-lo ou reformá-lo. A revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tenha se tornado definitivo para a Administração, ou seja, enquanto não ocorrida a chamada coisa julgada administrativa ou ainda não tenha gerado direito adquirido para o administrado. A delegação significa atribuir ao subordinado competência para a prática de atos que originariamente pertencia ao superior Documento não controlado - AN03FREV001 67 hierárquico. Somente podem ser delegados atos administrativos, não os atos políticos. Também não se admite a delegação de atribuições de um Poder a outro, salvo nos casos expressamente previstos na Constituição. Deve existir uma autorização ao menos genérica para a delegação de competência e o subordinado não pode recusar o exercício da atribuição a ele delegada, como também não pode subdelegá-la sem autorização. No âmbito da Administração federal, a delegação de competência está regulamentada pelo Decreto 83.937/79 e a definição no art. 2º: “O ato de delegação, que será expedido a critério da autoridade delegante, indicará à autoridade delegada as atribuições objeto da delegação e, quando for o caso, o prazo de vigência que, na omissão, ter-se-á por indeterminado. Parágrafo único: A delegação de competência não envolve a perda, pelo delegante, dos correspondentes poderes, sendo-lhe facultado, quando entender conveniente, exercê-los mediante avocação do caso, sem prejuízo da validade da delegação.” (Art. 2º do Decreto 83.937/79). Por último, avocação consiste no poder que possui o superior de chamar para si a execução de atribuições cometidas a seus subordinados. A avocação de um ato ou de uma atribuição pode referir-se a uma função que pertencesse à competência originária do subordinado ou a funções que tenham sido a ele delegadas e que o superior entenda conveniente, em determinado caso concreto, exercê-la ele mesmo. A avocação é faculdade em princípio sempre possível, salvo quando a lei a proíba para determinados atos sob certas circunstâncias, especialmente quando houver risco de lesão à moralidade administrativa. De qualquer forma, doutrina é unânime em afirmar que ela deve ser evitada, pois é causa de desorganização do normal funcionamento do serviço além de representar um incontestável desprestígio para o servidor subordinado. A avocação desonera o subordinado de qualquer responsabilidade relativa ao ato praticado sob sua égide pelo superior hierárquico. Finalizando, o poder hierárquico consiste no instrumento para garantia da atuação coordenada da administração, havendo necessidade da existência de Documento não controlado - AN03FREV001 68 hierarquia nas relações entre órgãos e nas relações funcionais entre os diversos servidores. 3.1.4 Poder Disciplinar Poder disciplinar é o poder atribuído à Administração Pública para aplicar sanções administrativas aos seus agentes pela prática de infrações de caráter funcional. A expressão “agentes públicos” abrange todos que se encontram na Administração Pública, funcionários, empregados ou contratados em caráter temporário. Assim, o poder disciplinar é a faculdade de punir internamente as infrações funcionais dos servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da administração, Ou seja, é o poder de, na forma da lei, apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa, que é o caso das que com ela contratam, como as concessionárias de serviço público. Corresponde ao poder-dever de punição administrativa ante o cometimento de faltas funcionais ou violação de deveres funcionais por agentes públicos. Não se confunde com o poder da mesma de punir a conduta de particulares, como exemplo, temos a multa de trânsito, nem com o poder punitivo do Estado em caso de crime, realizado por meio da Justiça Penal. O poder disciplinar está intimamente relacionado com o poder hierárquico e traduz-se na faculdade, seria mais correto falar-se em poder-dever, que possui a Administração de punir internamente as infrações funcionais de seus servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da administração, por exemplo, a punição do particular contratado por execução inadequada de contratos administrativos. O poder disciplinar abrange somente as sanções administrativas, como por exemplo, a advertência, a multa, a suspensão e a demissão. Entretanto, não podemos esquecer que existem sanções penais e civis que podem ser aplicadas ao caso concreto, embora não façam parte do poder disciplinar. Documento não controlado - AN03FREV001 69 Portanto, não se deve confundir o poder disciplinar da administração com o poder punitivo do Estado. Este não é um poder de expressão interna, pelo contrário, é realizado pelo Poder Judiciário e diz respeito à repressão de crimes e contravenções tipificados nas leis penais. A doutrina, até hoje, aponta o poder disciplinar como de exercício caracteristicamente discricionário. Não podemos deixar de reconhecer certa discricionariedade no exercício deste poder, como atesta, na esfera federal, o art. 128 da Lei 8.112/90: “Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais”.(Art. 128 da Lei 8.112/90). Por outro lado, a própria Lei 8.112/90 reduz drasticamente esse discricionarismo, especialmente no seu art. 132, ao afirmar que a penalidade de demissão será aplicada nos casos que ali arrola: “A demissão será aplicada nos seguintes casos: I - crime contra a administração pública; II - abandono de cargo; III - inassiduidade habitual; IV - improbidade administrativa; V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; VI - insubordinação grave em serviço; VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem; VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo; X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; XI - corrupção; II - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117”. (Art. 132 da Lei 8.112/90). Da mesma forma, ao definir as penalidades disciplinares, a Lei não está estabelecendo um rol exemplificativo, em que pudesse caber à Administração, conforme critério de oportunidade e conveniência, aplicar outras penalidades que não as ali enumeradas. É este o teor do art. 127: Documento não controlado - AN03FREV001 70 “São penalidades disciplinares: I - advertência; II - suspensão; III - demissão; IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; V - destituição de cargo em comissão; VI - destituição de função comissionada”. (Art. 127 da Lei 8.112/90). Assim, poderíamos afirmar que existe, sim, um grau bastante limitado de discricionariedade no exercício do poder disciplinar, quando, por exemplo, a autoridade gradua o número de dias na aplicação da penalidade de suspensão ou em algumas outras poucas hipóteses. De qualquer forma, entendemos que deve ser considerada verdadeira a questão de concurso público que genericamente afirme ser o poder disciplinar discricionário. Por último, importante registrar que, conforme a própria Lei consigna, o ato de aplicação da penalidade deverá sempre ser motivado. Transcrevemos o parágrafo único do art. 128, que dispensa outros comentários: “Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade mencionará sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar”. (Parágrafo acrescentado pelo art. 1° da Lei no 9.527, de 10.12.97). Há limites ao exercício do poder disciplinar, por exemplo: necessidade de abertura de sindicância ou processo administrativo disciplinar, ou seja, instrumentos para apurar irregularidades da área administrativa; necessidade de oferecimento ao servidor de contraditório e ampla defesa (art. 5º, LV da CF). Há presunção de inocência (art. 5º, LVII da CF). Se forem violados, será inconstitucional; necessidade de motivação da decisão, portanto, a administração está obrigada a motivar todos os atos que edita, pois quando atua representa interesses da coletividade. Até mesmo quando deixar de aplicar uma penalidade deverá motivar o ato, pois se era caso de aplicar e não o fez, recairá em condescendência criminal é o que diz o art. 320 do CP. Finalizando, o poder disciplinar é o que cabe à administração pública para apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa, é o caso das que com ela contratam. O poder disciplinar é atribuído a autoridades Documento não controlado - AN03FREV001 71 administrativas com o objetivo de apurar e punir faltas funcionais, ou seja, condutas contrárias à realização de norma das atividades do órgão e irregularidades de diversos tipos. Odete Medauar ressalta que: “Incide principalmente sobre servidores, mas poderá abranger a conduta de outras pessoas, como por exemplo, a de alunos de escolas públicas, que, num determinado período, vinculam-se estreitamente às atividades de um órgão”. (MEDAUAR, 2007, página 769). No uso do poder disciplinar, a Administração controla o desempenho das funções executivas e a conduta interna de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas. 3.1.5 Poder Regulamentar O poder regulamentar é a faculdade de que dispõem os chefes do executivo de explicitar a lei, como exemplo, temos a medida provisória. Assim, o poder regulamentar, estritamente considerado, costuma ser definido como a faculdade de que dispõem os Chefes de Poder Executivo de expedir atos administrativos exclusivos e privativos, gerais e abstratos, de efeitos externos, de editar normas, regulamentos ou decretos - atos normativos, que explicitem o disposto nas leis a fim de garantir sua fiel execução. Poder regulamentar ou poder normativo, poder de, na forma da lei, editar atos normativos, como regulamentos, decretos, portarias, instruções, circulares, ordens de serviço e resoluções, editais, etc. complementares à lei, para sua correta execução ou de expedir decretos autônomos sobre matéria de sua competência não disciplinada na lei. A Constituição de 1988, em seu art. 84, IV, assim trata o poder regulamentar do Executivo Federal: “Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução. Tal poder também é estendido aos demais chefes do Executivo pelo princípio da simetria.” (CF, 84, IV). Documento não controlado - AN03FREV001 72 Regulamento de execução seria aquele que, estritamente limitado às disposições legais expressas e implícitas, serviria para explicitar comandos nela contidos, aclarar pontos demasiadamente genéricos, enfim, sem desbordar de seus lindes e muito menos ir contra suas disposições, garantisse sua fiel execução. O exercício do poder regulamentar do executivo situa-se na principiologia constitucional da Separação de Poderes previsto nos artigos 2°, 60, § 4°, III da CF, pois salvo em situações de relevância e urgência (medidas provisórias), o Presidente da República não pode estabelecer normas gerais criadoras de direitos ou obrigações, por ser função do Poder legislativo. Assim, o regulamento não poderá alterar disposição legal e nem tão pouco criar obrigações diversas das previstas em disposição legislativa. Por último, o poder regulamentar somente será exercido quando alguns aspectos da aplicabilidade da lei são conferidos ao Poder Executivo, que deverá evidenciar e explicitar todas as previsões legais, decidindo a melhor forma de executá-la e eventualmente, suprindo suas lacunas de ordem prática ou técnica. Assim, são normas expedidas privativamente pelo Chefe do Executivo, cuja finalidade é facilitar a execução das leis, removendo eventuais obstáculos práticos que podem surgir em sua aplicação e se exteriorizam por meio de decreto, sendo importante fonte do direito administrativo. 3.1.6 Poder de Polícia É a faculdade concedida à Administração Pública para restringir e condicionar o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado, em busca da preservação da ordem pública e do estabelecimento de regras de conduta necessárias e suficientes para evitar conflitos e compatibilizar direitos. Portanto, trata-se de uma figura, dentre os poderes administrativos, em que o poder é exercido sobre todas as atividades e bens de pessoas da sociedade que, de uma forma ou outra possam afetar a coletividade, no todo ou em parte. Documento não controlado - AN03FREV001 73 É assim, a faculdade de que dispõe a Administração Pública para na forma da lei, interferir no patrimônio jurídico de particulares, condicionando e restringindo o uso e gozo de bens, atividades, serviços e direitos individuais, impondo obrigações não fazer, não construir acima de determinado gabarito, como não fabricar fogos de artifícios perto deresidências, obrigações de fazer, cumprir a função social da propriedade, reconstruir a calçada em frente ao prédio, colocar equipamentos contra incêndio no estabelecimento comercial, etc. e de deixar fazer, permitir, tolerar na requisição administrativa, em caso de emergência, calamidade pública, deixar usar equipamentos, na servidão administrativa, deixar passar cabos elétricos em propriedade particular, tudo em benefício do interesse público, polícia administrativa. O poder de polícia pode se apresentar por intermédio de atos gerais ou específicos, por exemplo, Portaria proibindo venda de bebidas alcoólicas a menores; Decreto que estabelece cor padronizada aos táxis; Embargo de uma obra por estar sendo construía de forma irregular; Embargo por não haver recuo mínimo de calçada; Interdição de restaurante por falta de higiene, e outros. O poder de polícia da administração pública incide nas áreas administrativa e judiciária. A Polícia administrativa age quando ocorre um ilícito administrativo, de forma preventiva ou repressiva, incidindo sobre bens, direitos ou atividades e abrangendo vários órgãos de fiscalização. Já a polícia judiciária atua na ocorrência de ilícitos penais, sempre repressivamente, incidindo sobre pessoas e abrangendo corporações especializadas. O poder de polícia tem competência de policiar a entidade que dispõe do poder de regular a matéria. Deve ser exercido com cautela, para que não sejam feridos direitos individuais assegurados pela Constituição Federal. O poder de polícia encontra fundamento na supremacia do interesse público sobre o particular. Assim, o condicionamento de direitos só será possível com base na supremacia do interesse público. O poder de polícia tem como atributos: a discricionariedade - é livre escolha pela administração quanto à oportunidade e à conveniência da deflagração do poder de polícia, desde que sustentado por lei; Documento não controlado - AN03FREV001 74 a coercibilidade - significa que a administração tem o poder de impor o ato de polícia sobre os administrados; a autoexecutoriedade - é o fato de a administração pode executar suas decisões por seus próprios meios, sem a necessidade de recorrer previamente ao poder judiciário. Por fim, o poder de polícia tem por finalidade promover o bem-estar geral, regulando, para a obtenção desse fim, o exercício dos direitos individuais reconhecidos, manifestando-se por meio de normas gerais, abstratas, impessoais e objetivas. A atuação da Administração Pública no exercício do poder de polícia deve ser pronta e imediata, porém, ficará restrita aos atos indispensáveis à eficácia da fiscalização, voltada aos interesses da sociedade e respeitando-se as liberdades públicas. Em suma, o poder de polícia é o conjunto de atribuições concedidas à Administração para disciplinar e restringir, em favor dos interesses adequados, direitos e liberdades individuais. Como vimos, o poder de polícia sofre as limitações constitucionais, decorrentes dos direitos e garantias individuais, pois como toda a ação da administração, está submetido ao princípio da legalidade e ao controle jurisdicional. O Poder de polícia só deve ser adotado para evitar ameaças reais ou prováveis que perturbem o interesse público. 3.2 O ADMINISTRADOR PÚBLICO Todo administrador precisa ter o dever de eficiência, o dever de prestar contas e o poder-dever de agir, pois o administrador público não pode deixar de agir no exercício de suas funções. Documento não controlado - AN03FREV001 75 3.3 OS PODERES E DEVERES DO ADMINISTRADOR PÚBLICO São os expressos em lei, os impostos pela moral administrativa e os exigidos pelo interesse da coletividade. O poder administrativo é atribuído à autoridade para remover interesses particulares que se opõem ao interesse público. 3.3.1 Poder-Dever de Agir O poder tem para o agente público o significado de dever para com a comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que quem o detém está sempre na obrigação de exercitá-lo; esse poder é insuscetível de renúncia pelo seu titular. Pode-se dizer que para o particular o poder de agir é uma faculdade, mas para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade. Daí porque a omissão da autoridade ou o silêncio da Administração, quando deva agir ou manifestar-se, gera responsabilidade para o agente omisso e autoriza a obtenção do ato omitido por via judicial, notadamente por mandado de segurança, se lesivo de direito líquido e certo do interessado. 3.3.2 Dever de Eficiência É o que se impõe a todo agente público de realizar com suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. A eficiência funcional é considerada, em sentido amplo, abrangendo não só a produtividade como também a perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administração; a partir disto que se avaliam os resultados, Documento não controlado - AN03FREV001 76 confrontando-se os desempenhos e aperfeiçoamento do pessoal por meio de seleção e treinamento. Diz-se, então, que a verificação de eficiência atinge os aspectos quantitativos e qualitativos do serviço. 3.3.3 Dever de Probidade Significa que a atuação do agente público deve ser leal, proba, justa e honesta, sempre buscando o melhor para a administração. Está constitucionalmente integrado na conduta do administrador público como elemento necessário à legitimidade de seus atos; assim, o ato administrativo praticado com lesão aos bens e interesses públicos também fica sujeito à invalidação pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário, por vício de improbidade, que é uma ilegitimidade como as demais que nulificam a conduta do administrador público. Improbidade administrativa, segundo a Lei 8.429/92, são: “Atos desonestos, imorais e ilegais, que importam enriquecimento ilícito (art. 9º), que causem prejuízo ao erário (art. 10) e atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11).” (LEI 8.429/92). 3.3.4 Dever de Prestar Contas É decorrência natural da administração, como encargo de gestão de bens e interesses alheios; no caso do administrador público, a gestão se refere aos bens e interesses da coletividade e assume o caráter de múnus público, isto é, de um encargo para com a comunidade. Daí o dever indeclinável de todo administrador público de prestar contas de sua gestão administrativa, e nesse sentido é a orientação de nossos tribunais (STF, RF, 99/969; TJSP, RT, 237/253). Documento não controlado - AN03FREV001 77 3.3.5 O Uso e Abuso de Poder A expressão “abuso de poder” significa a exorbitância das atribuições que foram conferidas a determinados agentes públicos do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, quer excedendo os limites do mandato que lhes foram conferidos, quer ultrapassando os limites legais na prática de atos administrativos, quer extrapolando o ordenamento jurídico na entrega das prestações jurisdicionais. O vocábulo poder, como verbo, no ambiente jurídico, revela sentido de ser autorizado, ser permitido, dar autoridade, facultar, ter autoridade. O abuso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas. O uso do poder é a prerrogativa da autoridade, mas o poder há que ser usado normalmente, sem abuso; usar normalmente do poder é empregá-lo segundo as normas legais, a moral da instituição, a finalidade do ato e as exigências do interesse público; o poder é confiado ao administrador público para ser usado em benefício da coletividade administrada, mas usado nos justos limites que o bem-estar social exigir. O abuso dopoder pode levar ao excesso de poder, incompetência, quando a autoridade, por culpa ou dolo, atua fora dos limites da sua competência, fora do que a lei lhe permite. Por exemplo, o Secretário de Educação faz ato normativo sobre assunto privativo da Secretaria de Fazenda, ou ao desvio de poder, desvio de finalidade, quando a autoridade, embora competente e atuando nos limites da sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público. Assim como, desapropriando terreno para fazer escola pública, quando na verdade é para se vingar de inimigo político, dono do terreno. O abuso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas; o abuso de poder é sempre uma ilegalidade que Documento não controlado - AN03FREV001 78 invalida o ato que contém; o abuso de poder pode tanto revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do administrado. Assim, o uso e abuso do poder é prerrogativa da autoridade, mas há que ser usado normalmente, sem abuso. O abuso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas. 3.3.6 Excesso de Poder É a ação do agente público fora dos limites de sua competência, invadindo a competência de outros agentes ou praticando atividades que a lei não lhe conferiu. Ou seja, ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de suas faculdades administrativas, o excesso de poder torna o ato arbitrário, ilícito e nulo. Essa conduta abusiva, tanto se caracteriza pelo descumprimento frontal da lei, quando a autoridade age claramente além de sua competência, como, também, quando ela contorna dissimuladamente as limitações da lei, para arrogar-se poderes que não lhe são atribuídos legalmente. A autoridade, no uso dos seus poderes, deve seguir os princípios administrativos, que são divididos em expressos (explícitos, constitucionais) do Direito Administrativo previstos na Constituição Federal em seu art. 37, caput, “A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” (CF, art. 37, caput). E princípios reconhecidos (implícitos) do Direito Administrativo como: Documento não controlado - AN03FREV001 79 Da finalidade pública; Da supremacia (preponderância) do interesse público sobre o interesse privado; Da indisponibilidade do interesse público; Da autotutela; Da continuidade do serviço público; Da razoabilidade e da proporcionalidade; Da motivação; Princípio da reserva legal; Da especialidade; Controle finalístico ou tutela administrativa; Da segurança jurídica; Da motivação; Da boa-fé; Do devido processo legal; Da ampla defesa; Do contraditório; Da inafastabilidade do Poder Judiciário e outros. 3.3.7 Desvio de Finalidade Verifica-se quando a autoridade, embora atuando nos limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou fins diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público; é assim a violação ideológica da lei, ou por outras palavras, a violação moral da lei, colimando ao administrador público, fins não queridos pelo legislador, ou utilizando motivos e meios imorais para a pratica de um ato administrativo aparentemente legal. Assim, o desvio de finalidade é a ação do agente público, embora dentro de sua competência, afastada do interesse público, praticando atos por motivos ou com fins diversos daqueles estabelecidos na lei. 3.3.8 Omissão da Administração Pode representar aprovação ou rejeição da pretensão do administrado, tudo dependendo do que dispuser a norma pertinente; o silêncio não é ato Documento não controlado - AN03FREV001 80 administrativo; é conduta omissiva da Administração que, quando ofende direito individual ou coletivo dos administrados ou de seus servidores, se sujeita à correção judicial e à reparação decorrente de sua inércia, então a inércia da Administração, retardando ato ou fato que deva praticar, é abuso de poder, que enseja correção judicial e indenização ao prejudicado. 3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO A responsabilidade civil, ou seja, o dever de indenizar um dano moral ou material, também pode ser atribuída ao Estado quando houver dano causado por algum de seus agentes. Assim, a Responsabilidade do Estado é a obrigação atribuída ao Poder Público para ressarcir os danos causados a terceiros pelos seus agentes, quando no exercício de suas atribuições, como exemplo, o policial que não estava em serviço, mas atira para impedir um assalto e acaba atingindo um terceiro, agiu na qualidade de agente público. “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. (CF, art. 37, § 6º). A responsabilidade civil do Estado, ou seja, das pessoas jurídicas de direito público e das de direito privado prestadoras de serviços públicos, é do tipo objetiva, conforme interpretação do art. 37, § 6° da CF. Assim, a responsabilidade civil baseia-se no risco administrativo, sendo objetiva. Essa responsabilidade objetiva exige a ocorrência dos seguintes requisitos: Ocorrência do dano Ação ou omissão administrativa Existência de nexo causal entre o dano e a ação ou omissão administrativa Ausência de causa excludente da responsabilidade estatal Documento não controlado - AN03FREV001 81 A Teoria do Risco Administrativo fez surgir a responsabilidade objetiva do Estado, segundo o qual o dano sofrido pelo indivíduo deve ser visualizado como consequência do funcionamento do serviço público, não importando se esse funcionamento foi bom ou ruim. Para essa teoria importa a relação de causalidade entre o dano e o ato do agente. A adoção constitucional da Teoria do Risco Administrativo veda qualquer possibilidade de previsão normativa de outras teorias, inclusive da Teoria do Risco Integral, pois a Teoria do Risco Integral não admite qualquer forma de exclusão, sempre que verificado prejuízo causado a terceiros por atos ou fatos administrativos. Não há aceitação dessa teoria no direito brasileiro, prevalecendo a tese de que seria inaplicável, porquanto sempre será admissível a exclusão da responsabilidade civil. Há quem sustente a incidência dessa teoria em matéria ambiental, porém a regra seria aplicável a todo e qualquer causador do dano ambiental e não apenas ao Estado. Exclusão da responsabilidade se dá por: Danos causados por terceiros, por exemplo, furto de veículo estacionado em via pública, mesmo em área reservada, desde que não concorra ação ou omissão do Estado; Danos causados pela natureza, por exemplo, chuva em proporções imprevisíveis, mas desde que não concorra ação ou omissão do Estado; Danos causados pela atividade exercida por pessoas jurídicas de direito privado que explorem atividade econômica, respondendo as próprias entidades e na forma da legislação civil. As características básicas do preceito constitucional válido da responsabilidade civil objetiva do poder público são: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado odireito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa; Documento não controlado - AN03FREV001 82 A obrigação de reparar danos patrimoniais decorre da responsabilidade civil objetiva. Se o Estado, por suas pessoas jurídicas de direito público ou pelas de direito privado prestadoras de serviços públicos, causar danos ou prejuízos aos indivíduos, deve reparar esses danos, indenizando-os, independentemente de ter agido com dolo ou culpa; Os requisitos configuradores da responsabilidade civil do Estado são: ocorrência do dano; nexo causal, a ação ou omissão do agente público ou do prestador de serviço público; a oficialidade da conduta lesiva; inexistência de causa excludente da responsabilidade civil do Estado; No direito brasileiro, a responsabilidade civil do Estado é objetiva, com base no risco administrativo, que, ao contrário do risco integral, admite abrandamentos. Assim, a responsabilidade do Estado pode ser afastada no caso de força maior, caso fortuito, ou ainda, se comprovada a culpa exclusiva da vítima; Havendo culpa exclusiva da vítima, ficará excluída a responsabilidade do Estado. Mas se a culpa for concorrente, a responsabilidade civil do Estado deverá ser mitigada; A responsabilidade civil do Estado não se confunde com a responsabilidade criminal e administrativa dos agentes públicos, por tratar-se de instâncias independentes. Assim, a absolvição do servidor no juízo criminal não afastará a responsabilidade civil do Estado, se não ficar comprovada culpa exclusiva da vítima; A indenização do dano deve abranger o que a vítima efetivamente perdeu, o que despendeu, o que deixou de ganhar em consequência direta e imediata do ato lesivo do poder público, ou seja, deverá ser indenizada nos danos emergentes e nos lucros cessantes, bem como honorários advocatícios, correção monetária e juros de mora, se houver Documento não controlado - AN03FREV001 83 atraso de pagamento. Além disso, nos termos do art. 5°, V, da CF, será possível a indenização por danos morais, desde que haja violação aos bens imateriais da pessoa, como dignidade, honra, imagem; A CF prevê ação regressiva contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Podemos concluir, em relação à responsabilidade civil do Estado, que quando um particular causa um dano ele só será obrigado a indenizar se for comprovada a culpa em sentido amplo, com dolo ou culpa, e em sentido estrito, com imprudência, negligência ou imperícia. Essa é a responsabilidade subjetiva. Agora, quando o dano é causado por um agente público no exercício de sua função pública, o dever de indenizar do Estado nasce mesmo que o agente não tenha agido com culpa, ou seja, independentemente de imprudência, negligência ou imperícia ou culpa em sentido estrito ou dolo. Mas se o agente tem agido com culpa, caberá ao Estado ingressar com uma ação judicial denominada ação regressiva ou de regresso, na qual o Estado pode cobrar do agente público gerador do dano o que efetivamente pagou para a vítima, se provar a culpa deste. Havendo o dano e o nexo causal entre a ação e o resultado, o Estado deve pagar. Se houver culpa exclusiva da vítima, o Estado não será obrigado a indenizar o dano. Isso ocorre porque em nosso País adota-se a teoria do risco administrativo. A teoria que prepondera atualmente é a do risco administrativo, que também é conhecida como teoria da responsabilidade patrimonial objetiva do Estado ou teoria objetiva, onde é necessária a ocorrência de quatro elementos para que nasça o direito de indenizar pelo Estado, como vimos anteriormente, existência do dano; ação ou omissão do Estado; nexo causal e ausência de excludente da responsabilidade. Essas causas excludentes da responsabilidade do Estado significam fatos que podem retirar a responsabilidade civil, como, por exemplo, o caso fortuito, a força maior e a culpa exclusiva da vítima. Podemos citar como exemplo o caso de um motorista do Ministério da Fazenda dirige bêbado e bate no carro de uma empresa que estava estacionado, o Estado deverá indenizar Documento não controlado - AN03FREV001 84 essa pessoa jurídica, mesmo que ela não prove que o motorista foi negligente. Se, porém, o motorista bateu no carro da empresa porque este vinha na contramão, não haverá obrigação de indenizar, pois houve imprudência por parte do particular. O Estado também pode ser responsabilizado por uma omissão, por ter deixado de cumprir com seu papel, pois de acordo com a jurisprudência dominante do STF (RE 369.820/RS), trata-se de responsabilidade subjetiva, que exige a demonstração da culpa ou do dolo e não mais objetiva. É importante lembrar, que no caso de responsabilidade por omissão do Estado, não é necessário individualizar o agente que está sendo omisso, ou seja, não precisa o lesado especificar a pessoa que, devendo agir, se omitiu, já que a omissão pode ser atribuída de forma genérica ao serviço público, pela falta de serviço. Apesar de não ter de demonstrar quem deixou de agir, aquele que foi lesado deverá comprovar a causalidade, a existência de um nexo causal, ou seja, a relação de causa e efeito entre a omissão do estado e o prejuízo, a lesão a seu direito. Sendo assim, o Estado não tem o dever de indenizar, como por exemplo, vítima de crime cometido por pessoa fugitiva do sistema penitenciário, sob o fundamento de que não haveria o delito se o Estado tivesse sido diligente em evitar a fuga, já que falta o requisito do nexo causal entre a conduta do Estado e da conduta do criminoso. (STF - RE 172.025/RJ). Como vimos, o agente público ficará sujeito, além da responsabilização civil, também à responsabilidade criminal e administrativa. -------------------------FIM DO MÓDULO III-------------------------
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