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Metodologia da Científica Pesquisa Ana Maria Soek M etodologia da Pesquisa Científica Ana M aria Soek ISBN 978-65-5821-108-2 9 786558 211082 Código Logístico I000473 Metodologia da pesquisa científica Ana Maria Soek IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S664m Soek, Ana Maria Metodologia da pesquisa científica / Ana Maria Soek. - 1. ed. - Curiti- ba [PR] : Iesde, 2022. 150 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-108-2 1. Pesquisa - Metodologia. 2. Ciência - Metodologia. I. Título. CDD: 001.42 22-75448 CDD: 001.42 CDU: 001.8 Ana Maria Soek Doutora e mestra em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela UFPR, em Neuropsicologia pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX) e Educação a Distância pela Faculdade Internacional (Facinter). Graduada em Pedagogia pela UFPR. Atua no mestrado profissional em Educação na UFPR, na orientação de carreiras e nos cursos de pós-graduação em Educação, com temáticas da área de Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação de Adultos ao longo da vida, Coaching e Desenvolvimento pessoal e profissional. É professora temporária do Setor de Educação da UFPR, trabalhando com estágios supervisionados. É autora e editora de livros didáticos e paradidáticos e de materiais para ensino a distância (EaD). Tem participação em congressos e simpósios nacionais e internacionais, com trabalhos apresentados em Paris (Sorbonne), Amsterdã e Portugal. Autora organizadora da coletânea Mediação Pedagógica na Educação de Jovens e Adultos, com quatro títulos aprovados pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE/FNDE) do Ministério de Educação (MEC). Desenvolve pesquisas na área de Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Pesquisa e conhecimento 9 1.1 O que é pesquisa científica? 10 1.2 Ciência e outras formas de conhecimento 14 1.3 Processo de construção do conhecimento científico 18 2 Fases e etapas da pesquisa 27 2.1 Planejamento na pesquisa 27 2.2 Ética na pesquisa e postura do pesquisador 34 2.3 Legislação, direitos autorais e a questão do plágio em pesquisa 38 3 Projetos de pesquisa 47 3.1 Elementos do projeto de pesquisa 47 3.2 Tipos de pesquisa 61 3.3 Tipos de revisões de literatura 67 3.4 Coleta e análise dos dados 73 4 Relatórios de pesquisa 81 4.1 Tipos de relatórios de pesquisa 81 4.2 Normas para a elaboração de trabalhos científicos 87 4.3 Estrutura de trabalhos acadêmicos 100 Resolução das atividades 104 Anexo 1 – Template de projeto de pesquisa 112 Anexo 2 – Template de relatório de pesquisa 128 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Nesta obra, você encontrará os principais fundamentos e orientações sobre como proceder para realizar uma pesquisa científica, do projeto à entrega do relatório final de pesquisa. O que você entende por pesquisa? E por pesquisa científica? Em que momento ou contexto da sua vida cotidiana você percebe que faz uso de pesquisas científicas? Como você diferenciaria uma pesquisa comum de uma que é científica? Você já parou para pensar como se dá o processo de construção de novos conhecimentos? E se você precisar realizar uma pesquisa científica? Por onde começar? Como proceder? Que métodos utilizar? Neste livro, diferenciamos pesquisa científica de outras formas de pesquisa e de levantamento de dados. Também abordamos os diferentes conceitos de conhecimento, do senso comum ao conhecimento científico, e as diferentes formas de se levantar informações e dados de pesquisa. O conhecimento científico é produzido dentro de determinadas condições, destinadas a uma finalidade em específico, como um trabalho de conclusão de curso (TCC), e dentro de um espectro de exigências e formalidades próprias do fazer pesquisa. Por isso, é fundamental que você entenda todas as etapas desse processo e suas normas. Sendo assim, apresentamos todo o planejamento para se fazer uma pesquisa, começando com o projeto em todas as suas etapas, discutindo igualmente a postura do pesquisador perante o seu objeto de estudo e as relações estabelecidas na investigação, tratando da questão dos princípios éticos na realização de pesquisas e das legislações que regem a execução de uma pesquisa. Após realizar a pesquisa, a questão principal é: como redigir o relatório dessa pesquisa? Para tanto, apresentamos as principais formas de se fazer um relatório, disponibilizando os modelos e detalhando item a item as principais normas que envolvem a escrita científica em relatórios de pesquisa, conforme as normatizações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Desejamos que esta obra contribua para a sua formação de pesquisador. APRESENTAÇÃO Vídeo Pesquisa e conhecimento 9 1 Pesquisa e conhecimento O que você entende por pesquisa? E por pesquisa científica? Em que momento ou contexto da sua vida cotidiana você percebe que faz uso de pesquisas científicas? Como você diferenciaria informações de conheci- mento? Já parou para pensar como se dá o processo de construção de conhecimentos? Especialmente durante a Pandemia de Covid-19, as pesquisas e os seus procedimentos de produção de conhecimento científico ficaram em evidência, no que se refere a protocolos de validação dos processos no combate ao vírus ou na produção de vacinas. Nunca estivemos tão ávidos por conhecer como se produz e como se valida cientificamente uma vacina, por exemplo. Passamos a nos importar até com questões que eram antes irrelevantes, como marcas, armazena- mento, validade, eficácia, entre outras. O termo científico passou a ser sinônimo de credibilidade – diríamos até sinônimo da palavra verdade; se é científico é fiável, ou seja, tem confiança. Mas será mesmo que todo conhecimento precisa ser científico ou, para ser confiável, é só dizer que é científico? A questão que nos im- porta é: de que forma é produzido o conhecimento científico? Por quem é produzido? Como é validado cientificamente? Neste capítulo, o objetivo é levar à compreensão do que é pesquisa científica, conhecendo, assim, o processo de construção do conhecimen- to científico, bem como de que maneira ocorre a sua validação, concei- tuando ciência e identificando a importância das pesquisas científicas em nosso cotidiano. Também objetivamos diferenciar tanto a pesquisa científica de outras formas de pesquisa e de levantamento de dados quanto os conheci- mentos, os saberes e as informações, além de outras questões e outros aspectos/pontos produzidos em nosso cotidiano. 10 Metodologia da pesquisa científica 1.1 O que é pesquisa científica? Vídeo Podemos iniciar esta conversa pensando no simples ato de fazer uma pesquisa ou uma investigação. Por que ou para que você pesqui-sa sobre algo? É, por exemplo, para comparar preços? Você pesquisa características de determinados objetos ou produtos que deseja adqui- rir? Em síntese, você pesquisa para saber sobre algo, certo? Então, como podemos diferenciar uma pesquisa comum de uma pesquisa científica? O que vem a ser a pesquisa científica? Por definição, pesquisa científica “deve ser entendida tanto como procedimento de fabricação do conhecimento, quanto como procedimento de aprendizagem (princípio científico e educati- vo), sendo parte integrante de todo processo reconstrutivo de conhecimento” (DEMO, 2000, p. 20). Minayo (2007, p. 47) ressalta que: “A pesquisa é uma atividade básica das Ciências na sua indagação e cons- trução da realidade. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados, pensamento e ação”. Você já parou para pensar nesse processo reconstrutivo e nas di- ferenças entre os tipos de conhecimentos e entre conhecimento e informação? Por ora, temos que entender essa diferença. Em uma pesquisa, é comum procurarmos por diversas informações sobre um mesmo tema e, depois, selecionarmos as que são relevantes. O que se esquece facilmente é a informação, e o que se torna inesque- cível é o conhecimento. Informações são cumulativas, diversas e fáceis de encontrar. Já o conhecimento é seletivo, é o que fica em nós quando acabamos uma pesquisa. Em outros termos, em uma pesquisa cientí- fica, mais do que sistematizar informações, procura-se reconstruir ou produzir novos conhecimentos. Nesse sentido, é importante a compreensão de que informação e conhecimento são temas distintos, já que esse último tem finalidades • Entender o conceito de ciência. • Diferenciar informação de conhecimento. • Compreender o que é pesquisa científica. • Conhecer o que faz um cientista. Objetivos de aprendizagem No vídeo Conteúdo e conhecimento, publicado pelo canal Sabedoria do Conhecimento, Mario Sergio Cortella fala sobre informação, conteúdo e conhecimento. Segundo o filósofo, há muita informa- ção e pouco conheci- mento, e não se pode confundir os dois. Vale a pena conferir e refletir sobre o assunto! Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=SargvlQPWNk. Acesso em: 3 nov. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=SargvlQPWNk https://www.youtube.com/watch?v=SargvlQPWNk Pesquisa e conhecimento 11 sociais e é produzido para a socialização e a coletividade. A produção de conhecimento requer essa validação social; por isso, na evolução da busca por conhecimentos, para as explicações de como as coisas funcionam e para as descobertas que podem melhorar as ações huma- nas, há uma necessidade de organização desses conhecimentos, isto é, dessas formas de validação. Há, também, a necessidade de os reconhe- cer, até que novas descobertas possam refutá-los ou validá-los – a todo esse processo se deu o nome de ciência. Se formos procurar a definição do termo ciência, podemos encon- trar suas origens no termo episteme, que significa aprender ou conhecer. Assim, fazer ciência significa aprofundar o conhecimento sobre deter- minado tema e buscar respostas de maneira criteriosa (PRODANOV; FREITAS, 2013). De acordo com Morin (2015, p. 15), “a ciência é, por- tanto, elucidativa (resolve enigmas, dissipa mistérios); enriquecedora (permite satisfazer necessidades sociais e, assim, desabrochar a civili- zação); é, de fato, e justamente, conquistadora, triunfante”. Porém, ad- verte o autor: “uma ciência empírica privada de reflexão e uma filosofia puramente especulativa são insuficientes [...] ciência sem consciência é apenas a ruína do homem, da alma”. No decorrer da história, a procura por conhecimentos e a curiosi- dade sempre moveram o espírito humano em busca de novas desco- bertas. Porém, a ideia de conhecimento complexo, sistematizado, organizado e cientificamente validado ainda é bastante recente na história da humanidade. Ao analisarmos por essa perspectiva, podemos fazer duas analogias: Perceber que o ser humano sempre foi ávido por conhecimento.1 Fazer um paralelo com o desenvolvimento da ciência na história da humanidade.2 Desde o nascimento, o ser humano vai experimentando e desco- brindo o mundo de modo bastante incipiente, pela percepção, pelas sensações, pelo tato e pela experimentação. À medida que o indivíduo cresce, a curiosidade também aumenta; então, ele vai em busca de no- vas descobertas, ampliando, aprendendo e descobrindo o mundo. Para aprofundar e entender a ideia de ciên- cia na atualidade, ligada ao conceito de pensamen- to complexo, o qual tem influenciado várias áreas do conhecimento, vale a pena conhecer a obra Ciência com Consciência, de Edgard Morin. MORIN, E. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015. Livro ar ty wa y/ Sh ut te rs to ck 12 Metodologia da pesquisa científica No decorrer da história da humanidade, a ciência também percorreu um processo evolutivo frente às necessidades e descobertas importantes, a saber: Figura 1 Principais acontecimentos evolutivos a S k/Sh utterstock ma sat a/Sh utterstock AR T.I CO N/S hutterstock big St ock er/Sh utterstock Ja ck y C o/Sh utterstock Kh oir ul I hwa n/Shutterstock AF st udi o/Sh utterstock els ha nqu liyev /Shutterstock Be rt Flin t/Shu tterstock Domínio de técnicas de cultivo Domínio do fogo Era das navegações Invenção da escrita e da imprensa Era da informação e da tecnologia digital Criação de artefatos para a caça Criação da roda Evolução das formas de comunicação Revoluções industriais Fonte: Elaborada pela autora. da wo ol /S hu tte rs to ck Em todas essas ações, mesmo que de maneira rudimentar, esta- vam presentes a busca por soluções e o desenvolvimento de conheci- mentos, ainda que para resolver situações do dia a dia. Contudo, por meio das demandas cotidianas, é possível perceber grandes saltos com relação à produção de conhecimentos que podem revolucionar determinada época ou período. Entretanto, nem sempre é possível demarcar a produção de conhe- cimentos sistematizados tal qual conhecemos hoje e como são valida- dos pela ciência atualmente. Se a ciência é uma forma de produzir conhecimento, devemos pensar no sujeito que produz esse conhecimento: o cientista. Quem é o cientista? O que ele faz? O cientista deve ser visto como um pesquisador, um sujeito ativo que faz a pesquisa e aplica seu procedimento, isto é, aplica uma meto- dologia sistemática para obter o conhecimento relativo à área de seu estudo, confirmando ou produzindo um conhecimento científico. A principal função do cientista é realizar pesquisas para obter uma interpretação complexa da realidade ou dos objetos pesquisados. Assim, é a metodologia da pesquisa científica que oferece a possibilidade de proporcionar uma análise mais detalhada de certa problemática e o entendimento do mundo por meio da construção do conhecimento. Para você, por que é preciso entender sobre o que é e como se faz ciência? Será que você é um cientista também? Se você está aqui, estudando esse conteúdo, é bem provável que precise entendê-lo melhor para realizar uma pesquisa científica, que pode ser: • um trabalho de conclusão de curso (TCC); • uma monografia ou um artigo de pós-graduação; • uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Esses estudos servem como resultado da produção dos co- nhecimentos adquiridos durante a graduação ou a especiali- zação de um curso sobre determinado assunto. Por mais que pareçam distantes da ideia de ser cientista, esses trabalhos são considerados científicos, A evolução do conheci- mento é uma preocu- pação existente desde a Antiguidade. Um exemplo é o texto “Mito da ca- verna”, presente na obra A República, de Platão. Nele, o filósofo grego faz importantes analogias, discutindo sobre como é viver sem aquilo que o conhecimento nos proporciona e como este molda a nossa visão de mundo. O texto de Platão aborda as formasde se pensar a produção do conhe- cimento humano e do viver sem conhecimento atrelado à escravidão, trazendo uma analogia da luz e escuridão sobre o saber e o não saber. Para ler o “Mito da ca- verna” na íntegra, acesse o link a seguir. Disponível em: http://www.usp.br/ nce/wcp/arq/textos/203.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021. Saiba mais Li ko pe r/ Sh ut te rs to ck Pesquisa e conhecimentoPesquisa e conhecimento 1313 http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf 14 Metodologia da pesquisa científica pois têm métodos para serem realizados e precisam seguir orientações previstas pelas instituições, por isso a necessidade de entender e co- nhecer a metodologia da pesquisa científica. 1.2 Ciência e outras formas de conhecimento Vídeo Agora que você já entendeu o que é pesquisa científica e percebeu que a ciência é uma forma de conhecimento presente em nosso coti- diano, vamos pensar sobre o que diferencia a ciência de outros tipos de produção de conhecimento. Iremos, então, falar sobre o conhecimento científico e as diferentes formas de conhecimento. Inicialmente, vale a pena diferenciar os conceitos de saber e de conhecimento, pois esses termos são utilizados como sinônimos em alguns contextos. A poetisa Cora Coralina (apud DENÓFRIO, 2004, p. 54), eternizou essa definição em seus versos: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”. Com base na ideia de que o conjunto de saberes – que é bem maior do que simplesmente conhecer – leva à sabedoria, é possível deduzir que essa deriva dos saberes. Já o conhecimento pode ser en- tendido como aquilo que se conhece, que se aprende. As principais características dos saberes e do conhecimento são apresentadas na figura a seguir. Figura 2 Saberes e conhecimento: principais diferenças Saberes • Estão à nossa disposição. • São múltiplos, amplos, diversos. • São indissociáveis e vivos em suas relações com outros saberes. Conhecimento • É produzido sistematicamente. • É estático. • Pode ser controlado. A m m us /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pela autora. Dentro do grupo dos saberes, temos os chamados saberes populares, que são aqueles que todo mundo sabe, e exatamente por isso são • Diferenciar a pesquisa científica de outras formas de pesquisa, levantamento de dados e produção de conhecimento. • Diferenciar o conhe- cimento científico de outras formas de conhecimento, crenças e ideologias. Objetivos de aprendizagem Su th ic ha i H an tra ku l/S hu tte rs to ck considerados populares – sabe-se porquê sabe, não há necessidade de explicações elaboradas ou de comprovações científicas. É bem provável que você já tenha ouvido falar dos saberes po- pulares ou do saber de senso comum. Também conhecidos como conhecimento popular ou conhecimento tácito, são aqueles saberes e co- nhecimentos comuns, oriundos do dia a dia pelas experiências acumu- ladas por determinado grupo social. Esses saberes ganham status de comuns ou normais, pois não há necessidade de quaisquer comprova- ções ou verificações de padrões ou análise científica. Eles acontecem naturalmente, mas podem se assemelhar ou se diferenciar enorme- mente a depender da cultura, das comunidades e da diversidade, já que se trata de um saber espontâneo. Por derivarem das experiências espontâneas, os saberes popula- res têm bases na intuição, nas crenças, nas tradições, na mitologia e nas histórias de tradições orais. São adquiridos basicamente por expe- riências pessoais; de modo geral, podem passar de geração em geração pelas vias de tradição oral, nos modos de se fazer ou de se conhecer. Às vezes, ganham status de verdades absolutas ou conhecimentos verda- deiros exatamente pelo caráter geracional (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). O interessante é que, justamente por não adotarem métodos ri- gorosos ou científicos, os saberes populares ou de senso comum não seguem as mesmas regras, por isso não passam pelas mesmas vias de validação, como as metodologias científicas. Basta crer, acreditar e entender que é assim porque é; não precisa de muitas explicações. Você poderia se perguntar: qual é a importância desses saberes? Diríamos que pode ser tão importante quanto a própria ideia de ciência. Basta analisar a importância das crenças e religiões para o mundo civilizado, além da importância dos saberes indíge- nas, por exemplo, ou dos chás me- dicinais e das terapias alternativas, que, mesmo não seguindo o cami- nho e as comprovações da ciên- cia, não podem ser descartados ou tidos como sem importância em determinadas comunidades ou contextos sociais. Os saberes populares são conhecimentos obtidos por meio da prática e fazem parte da cultura de determinado local/grupo. Chás medicinais, artesanatos, histórias passadas de geração em geração e culinária são alguns exemplos. Pesquisa e conhecimentoPesquisa e conhecimento 1515 16 Metodologia da pesquisa científica Na história da humanidade, nem sempre a ciência foi tal qual se apresenta hoje. A ciência atual deriva da história das ciências ou das formas de se fazer ciência, isto é, da organização do conhecimento (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). O renomado autor brasileiro Rubem Alves (2007) classifica os conhecimentos produzidos ao longo da história da humanidade em filosóficos, teológicos ou religiosos, empíricos (popu- lares ou do senso comum) e científicos, os quais estão sistematizados no quadro a seguir. Quadro 1 Tipos de conhecimento Categoria/tipo de conhecimento Base epistemológica Exemplo Conhecimento filosófico É produzido por meio da reflexão, é sistemático e crítico e busca um co- nhecimento racional. Sua construção se baseia em ideias e conceitos metafí- sicos e abstratos, na busca da verdade. “A finalidade essencial da razão humana é a felicidade universal”. Conhecimento teológico ou religioso É gerado por meio de crenças, com base na fé religiosa e em dogmas intuitivos e divinamente revelados. O ser humano se relaciona com eles pelas crenças, pelos rituais e pelos textos considerados sagrados. São ti- dos como conhecimentos inquestioná- veis e infalíveis e que obviamente não precisam seguir os padrões científicos, pois se baseiam na fé e na crença. “Bem-aventurados os que choram, porque Deus os consolará”. Conhecimento empírico (popular ou do senso comum) É aquele conhecimento produzido no dia a dia, ligado a tradições, crenças ou valores. Baseia-se em percepções e observações. Não há necessidade de comprovação sistemática ou científica. Por esse motivo, é um tipo de conheci- mento superficial e subjetivo. “Chá de camomila é bom para acalmar os nervos”. Conhecimento científico É tido como o conhecimento verda- deiro, que busca conhecer as causas e as leis que regem determinado evento. É adquirido de modo racional por meio de processos que são sistematizados e organizados. “A temperatura média do universo diminui à medida que o uni- verso se expande”. Fonte: Elaborado pela autora com base em Alves, 2007. No livro Ciência e existência: problemas filosóficos da pesquisa científica, o importante filósofo brasileiro Álvaro Viera Pinto aborda a ideia de construção social da ciência aliada à existência humana, à busca pelas descobertas e às problemáticas sociais decorrentes da busca por fazer ciência. Vale a pena conhecer! PINTO, Á. V. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. Livro Na comparação entre os diferentes tipos de conhecimentos, pode- mos concluir que o conhecimento filosófico busca descobrir aspectos relacionados ao sentido primordial da existência humana ou de uma realidade. Procura-se descobrir se há ou não liberdade, por exemplo, ou quais valores devem direcionar as ações humanas, entre outros conteúdos dessa natureza (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). Mario Sergio Cortella, Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé, Clóvis de Barros Filho são exemplos de pensadores contemporâneos que ga- nharamnotoriedade no contexto brasileiro graças às mídias sociais e ao trabalho de filósofos reconhecidos. Também é possível citar outros filósofos que popularizam discussões até então só realizadas em esco- las, universidades e contextos educacionais. Já o conhecimento teológico ou religioso é aquele que tem por base a inspiração divina, um deus ou um ser supremo, a depender da cultu- ra de cada povo (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). São exemplos os cultos e as missas dominicais, as escrituras sagradas e as várias formas de ma- nifestações e tradições religiosas de determinados grupos religiosos. Nas mídias sociais, o Padre Fábio de Melo, o Pastor Cláudio Duarte e a Monja Coen são campeões de interação com seus públicos. Sobre o conhecimento empírico ou de senso comum, podemos pensar em todo conhecimento que se faz presente em nosso dia a dia. Esses conhecimentos, tidos como populares, têm forte base nas tradi- ções orais, na mitologia e nas histórias passadas de geração em gera- ção. São exemplos a contação de causos e histórias, as benzedeiras e os usos de chás medicinais, algumas técnicas de agricultura e, ainda, os modos de preparação de alimentos, principalmente aqueles ligados às tradições de certas culturas (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). Por fim, sobre o conhecimento científico, o qual trataremos ao lon- go deste capítulo, é aquele produzido de maneira sistemática, e esse processo nunca é considerado algo pronto e acabado, pois pode sem- pre ser questionado e reavaliado. Em outras palavras, é um pro- cesso em constante construção (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). São exemplos os bancos de dados de artigos e periódi- cos de revistas de pesquisas científicas das mais diversas áreas – locais em que o conhecimento científico é sociali- zado. Para ser publicado em revistas de divulgação cien- Um dos filósofos brasileiros que fez uma reflexão entre os conhecimentos filosóficos e científicos foi Álvaro Viera Pinto, que aborda, em seus escritos, a ideia de construção social da ciência aliada à existência humana. Para conhecer e saber mais sobre os trabalhos desse importante cientista brasileiro, vale a pena vi- sitar o site que condensa boa parte de suas obras e a importância de seu pensamento científico na construção do conhecimento no contexto brasileiro. Disponível em: http://www. alvarovieirapinto.org/livros/. Acesso em: 3 nov. 2021. Curiosidade pa tp itc ha ya /S hu tte rs to ck Pesquisa e conhecimentoPesquisa e conhecimento 1717 http://www.alvarovieirapinto.org/livros/ http://www.alvarovieirapinto.org/livros/ 18 Metodologia da pesquisa científica tífica, em geral, o estudo é avaliado em pares e às cegas (sem saber quem é o autor), sendo revisado e validado por um conselho editorial científico. Bancos de dados como Scielo (Scientific Electronic Library Online), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Google Acadêmico são alguns exemplos. Ao abordar as diferentes formas de conhecimento, podemos compreender que todas têm sua importância. Apesar de validarmos o conhecimento científico como verdadeiro, podemos observar, ao longo da história da ciência, que alguns conhecimentos têm suas origens em outras formas e manifestações e que, de certo modo, todos eles têm a sua importância. 1.3 Processo de construção do conhecimento científico Vídeo A construção do conhecimento científico tem um processo dife- renciado das outras formas de produção de conhecimento. Para ser considerado científico, é preciso que siga alguns parâmetros consi- derados válidos; ou seja, basicamente, ele precisa seguir um método, uma metodologia. Por método, entende-se o modo de se fazer algo e um caminho para o conhecimento, pois, no método, é levado em conta o passo a passo a ser percorrido na busca por certa explicação ou resposta. Trata-se, ainda, dos instrumentos ou das técnicas utilizadas na busca e no tratamento dessas informações para convertê-las em um conhecimento científico. Na etimologia da palavra metodologia, que vem do grego methodus e significa “através, ao longo do caminho”, tem-se: meta = através; odos = caminho; logos = discurso, estudo – ou seja, é um caminho a ser percorrido. O método é, então, o conjunto de etapas necessárias para res- ponder a um objetivo proposto (THOMÁZ; BARBOSA, 2021). Em nosso dia a dia, temos vários empregos de métodos, por exem- plo, de se vestir, de preparar certos alimentos ou de podar plantas. Essas são ações simples, mas que, se não forem seguidas em um passo a passo, podem resultar em situações diferentes da proposta. Como o método é um passo a passo, não se pode alterar a ordem, pois isso implicaria um resultado diferente do previsto. • Conhecer o processo de produção de conhecimento. • Entender os processos de validação do conheci- mento científico. Objetivos de aprendizagem Pesquisa e conhecimento 19 Assim, quando falamos de cientificidade, podemos dizer que, ao fa- zer ciência, somos guiados por pelo menos duas dimensões: Figura 3 Dimensões da cientificidade Dimensão epistemológica “A ciência como episteme, que significa origem do conhecimento, tem a função de explicar o mundo e criar teorias”. Dimensão metodológica “Essa dimensão trabalha com os aspectos operacionais, ou seja, diz respeito aos procedimentos para garantir que a investigação seja científica”. Am m us /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pela autora com base em Rauen, 2018, p. 25. Diante da epistemologia, temos alguns quadros teóricos, dentre os vários e possíveis referenciais dos quais os pesquisadores podem se valer como fundamentos. Esses quadros teóricos servem como pano de fundo para que o pesquisador vincule a sua pesquisa a essas linhas de pensamento. As variadas visões de mundo e de realidade determinam os dife- rentes métodos de se conduzir um estudo. Existe uma diversidade de métodos que podem ser organizados com base em várias abordagens teórico-metodológicas. Apresentamos, a seguir, alguns dos principais quadros teóricos, seus fundamentos e seus principais representantes. Quadro 2 Fundamentos e representantes Quadro teórico Fundamentos Representantes Positivismo • Ápice do empirismo. • Ênfase na experimentação. • Apelo à validação e à verificação. • Parte da observação e da descrição. • Francis Bacon • John Locke • David Hume • Auguste Comte Estruturalismo • Preocupa-se com as estruturas dentro de um sistema. • Estuda as relações dentro desse sistema. • Propõe modelos de representação de variáveis e de tipo. • Busca a interpretação dos significados das coisas. • Estuda as partes para compreender o todo. • Lévi-Strauss • Max Weber Sistêmico ou funcionalista • Difere-se do estruturalismo, pois a ideia de sistema aqui é consti- tuída de um todo que é superior às partes que o compõem. • Pressupõe que cada parte do todo desempenha uma função; dessa forma, a soma dessas partes é superior ao todo. • Émile Durkheim • Talcott Parson (Continua) 20 Metodologia da pesquisa científica Quadro teórico Fundamentos Representantes Materialismo histórico dialético • Tem base na realidade concreta e se preocupa com a supera- ção das contradições dos argumentos oponentes. • Possui três elementos e movimentos dos contrários: a tese, a antítese e a síntese. • Georg W. Friedrich Hegel • Karl Marx Fenomenologia • Busca a essência do que se pesquisa. • Define que o fenômeno é aquilo que se mostra em si mesmo; dessa forma, pode ser observado, examinado e explicado so- bre vários pontos de vista. • Edmund Husserl Etnometodologia • Pressupõe o contato direto com o dado, as pessoas, o fenômeno etc. • Precisa vivenciar essa realidade para entendê-la. • Harold Garfinkel Fonte: Elaborado pela autora com base em Habermas, 2014. No debate sobre o fazer ciência na modernidade, Habermas (1983) estabelece outra classificação, a qual dividiu em três grandes vertentes: Figura 4 Abordagens da cientificidade 1 A abordagem empírico-analítica, que sepreocupa com o objeto ou dado de estudo a priori; cabe ao ser humano descobrir esse dado/objeto a ser conhecido. 2 A abordagem histórico-hermenêutica ou fenomenológica, em que o conhecimento não está só no objeto a ser conhecido, mas também no pesquisador que o investiga; assim, deve-se verificar a relação entre esse sujeito e o objeto de conhecimento. 3 A abordagem dialética ou teoria crítica, a depender do ponto de vista ou da visão de mundo do pesquisador em relação ao objeto a ser conhecido em determinado contexto cultural, histórico e social. Para o autor, toda produção científica está relacionada a uma visão e às formas de organizar e conhecer o mundo. De maneira genérica, dentro das mais diversas vertentes e correntes filosóficas de abordagens de pesquisa, se vinculam os métodos que se propõem a explicar como se processa o conhecimento da realidade e como proceder para atingir o conhecimento. No que se refere às abordagens, em geral, estudam-se métodos de abordagem e métodos de procedimentos. Vejamos suas características a seguir. Pesquisa e conhecimento 21 1.3.1 Métodos de abordagem Os métodos de abordagem basicamente dizem respeito ao cami- nho mais amplo a ser perseguido em uma investigação, estando rela- cionado ao objetivo geral da pesquisa. São classificados em: • dedutivo; • indutivo; • hipotético-dedutivo. Seguindo a evolução histórica dos métodos, desencadeia-se nos pa- radigmas emergentes a crise de paradigmas. As principais característi- cas desses métodos estão descritas no quadro a seguir. Quadro 3 Métodos de abordagem Dedutivo Indutivo Histórico • Foi sistematizado por Francis Bacon. • Método defendido pelos filósofos René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Leibniz. Características • Parte-se da ideia do todo para as partes. • Premissa geral, maior para a menor. • Foi muito utilizado nas ciências duras da matemática e da física, devido à presença das suas leis e teorias com força equivalente. • Partes para o todo. • Premissa menor para a maior. • Parte das particularidades para a generali- zação; divide-se em três etapas: observação, relação e generalização. Exemplo • Todo homem é mortal (ideia universal). • Pedro é homem (parte menor), logo Pedro é mortal (conclusão). • Pedro é mortal, Antônio é mortal, José é mortal. • Ora, Pedro, Antônio e José são homens. • Logo, (todos) os homens são mortais. Fonte: Elaborado pela autora. No avanço do conhecimento científico, outro importante marco pode ser sistematizado, com a superação dos métodos indutivo e de- dutivo. Assim, Karl Popper (1978) propôs um novo modelo, como uma abordagem necessária a ser enfrentada, ressaltando que o que deve ser testado não é a possibilidade de verificação, mas sim a de refutação de uma hipótese, de modo a alterar o modelo dedutivo para um mode- lo hipotético-dedutivo, que se baseia na falseabilidade, 1 modificando, assim, as noções de método e de teoria até então utilizadas. https://blog.mettzer.com/diferenca-entre-objetivo-geral-e-objetivo-especifico/ 22 Metodologia da pesquisa científica O método hipotético-dedutivo é baseado em uma crítica ao mo- delo indutivo. Esse método se dá com uma lacuna no conhecimento científico, o que propicia a formulação de hipóteses por um proces- so de inferência dedutiva. Sua linha de raciocínio pode ser apresen- tada da seguinte maneira: quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assun- to são insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar as dificuldades expressas no pro- blema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testa- das ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se pro- cura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético- -dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la. (GIL, 2008, p. 12) Já no modelo proposto por Thomas Kuhn, essa construção do co- nhecimento se baseia na formulação de um paradigma, que signifi- ca um modelo, um exemplo ou um padrão a ser seguido. Em suas próprias palavras: “uma comunidade científica, ao adquirir um para- digma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível” (KUHN, 1998, p. 59). O modelo de paradigmas é subdividido em dois momentos, sendo eles: Primeiro, a ciência trabalha para ampliar ou aprofundar o aparato conceitual do paradigma.1 Segundo, a ciência, no momento de crise, trabalha pela superação do paradigma dominante, até que novos paradigmas surjam.2 Nesse sentido, existe o debate em torno das crises dos para- digmas como um modelo da modernidade, em que tudo parece se esvaziar, como afirma Bauman (2021) ao abordar a crise dos paradigmas na modernidade líquida. 1.3.2 Métodos de procedimentos A definição dos métodos de procedimentos – diferentemente dos de abordagem, que são mais abstratos e gerais – está relacionada aos No princípio de falseabili- dade, a comprovação, que até então era dirigida para verificar se a teoria era verdadeira (princípio de verificabilidade), com base no que é proposto por Popper, passa a ser diri- gida para comprovação de hipóteses. Para essa proposição, as hipóteses podem ser consideradas verdadeiras ou falsas, redimensionando os estu- dos não só com base na sua verificabilidade, mas também na sua refutabi- lidade, ou seja, também é possível comprovar que há hipóteses falsas. 1 ar ty wa y/ Sh ut te rs to ck Pesquisa e conhecimento 23 procedimentos técnicos como sendo etapas de uma investigação, por isso esses procedimentos podem ser associados aos objetivos especí- ficos de um projeto. Nessa abordagem, é interessante, quando se refere aos objetivos específicos, pensar nos procedimentos (metodológicos) para se atingir esses objetivos, como em um passo a passo. Com o desenvolver das ciências, os métodos de procedimentos mais comuns podem ser sistematizados em: • observacional; • experimental; • comparativo; • histórico; • estatístico; • etnográfico; e • clínico. A seguir, vemos cada um dos itens mais detalhadamente explicados por Thomáz e Barbosa (2021). Método observacionalMétodo observacional Como o próprio nome diz, refere-se à observação de uma dada realidade, podendo ser considerado o primeiro passo ou o mais primi- tivo dos métodos de estudos. Geralmente utilizado para descrever uma realidade, segue o passo a passo de observações do que será estudado e, nesse sentido, difere-se de uma simples observação de senso co- mum, pois parte da ideia de uma observação sistematizada. Pode ser combinado com outros métodos para análises mais aprofundadas. Método experimentalMétodo experimental Usado por naturalistas desde os primeiros cientistas, intercalava as ideias de senso comum com as vertentes religiosas e filosóficas, na busca de realizar testes para comprovar cientificamente. A realização desse método, como o próprio nome demonstra, baseia-se no experi- mento e no controle das variáveis, normalmente comparando os efeitos das variáveis às condições e ao tratamento. Para a utilização desse mé- todo, é essencial que o pesquisador trace um plano experimental, bem como que estejam estabelecidas as condições da experiência e a forma como irá se obter as respostas do problema de pesquisa. 24 Metodologia da pesquisa científica Método comparativoMétodo comparativo Consiste em estabelecer parâmetros de comparação, averiguando semelhanças e diferenças entre grupos, sociedades, entre outros fato- res comparativos. Método históricoMétodo histórico Tem como premissa básica a História como ciência e disciplina, capaz de explicar estruturas e acontecimentos, podendo versar so- bre diversos pontos – culturais, políticos, econômicos, sociais etc. É centrado na investigação de acontecimentos, fatos ou instituiçõesdo passado, com o intuito de verificar a sua influência na sociedade de hoje, realizando um retorno às raízes para uma compreensão de sua natureza e função. Essa abordagem também é conhecida como método crítico ou método histórico-crítico, em que um conjunto de procedimentos téc- nicos e interdisciplinares é aplicado para gerenciar suas fontes pri- márias, investigando eventos pertinentes às sociedades humanas e convergindo para uma produção historiográfica. Esse método pode ser utilizado junto à abordagem dialética e é bastante usado em pesquisas qualitativas. Método estatísticoMétodo estatístico Baseia-se em dados quantitativos (da estatística ou da probabilida- de) para a explicação dos fatos e fenômenos, utilizando dados numé- ricos para interpretar uma problemática ou uma dada realidade. Um exemplo disso pode ser encontrado em números e estatísticas, como do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A utilização do método estatístico possibilita medir, quantificar e mensurar a realida- de pesquisada. Método etnográficoMétodo etnográfico É uma das abordagens mais utilizadas em estudos longitudinais, pois permite ao pesquisador vivenciar uma realidade para tirar suas conclusões. Pressupõe o contato direto do pesquisador com o estudo, com a realidade, com as pessoas, com o grupo ou com o fenômeno observado e estudado. Pesquisa e conhecimento 25 Método clínicoMétodo clínico Derivado dos procedimentos da ciência da saúde, esse método se tornou um dos mais importantes na investigação psicológica, em especial depois dos trabalhos de Sigmund Freud e Jean Piaget, que o utilizaram em suas investigações. É necessário tomar os devidos cuida- dos ao propor generalizações, já que ele parte de experiências, análi- ses particulares e individuais, envolvendo experiências subjetivas, por meio do emprego do método clínico. Em termos de pesquisas científicas, o desenvolvimento dos méto- dos seguiu a história evolutiva do desenvolvimento das ciências. Os métodos podem ser associados aos diferentes tipos de pesquisas e nem sempre um único método poderá ser adotado com total rigorosi- dade, pois eles acabam por serem combinados em uma investigação, uma vez que um único método pode não dar conta de orientar todos os procedimentos a serem desenvolvidos ao longo dela. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, você organizou as informações e compreendeu a dife- rença entre informação e produção de conhecimento. Entendeu, ainda, os princípios que regem as pesquisas científicas, diferenciando-as de outras formas de pesquisas. Você também teve a oportunidade de aprender sobre outras manei- ras de produção na evolução do conhecimento científico, percebendo que os saberes populares são tão importantes em algumas comunidades quanto as outras formas de saberes. A finalidade de apresentar brevemente as correntes filosóficas e os seus métodos de abordagens e de procedimentos foi possibilitar uma vi- são ampla sobre como o processo de construção do conhecimento cien- tífico se desenvolve com essas abordagens. A metodologia científica é um caminho de estudo a ser percorrido. Dessa forma, seu objetivo é orientar o pesquisador sobre qual rumo pode tomar para realizar uma investigação, com base em cada um dos métodos identificados. Além disso, vimos que a ciência é algo bastante vivo, em constante interações, e que não permite mais a ideia de verdades exclusivas ou absolutas, ou rigidez de um único método, uma única verdade. De modo geral, este capítulo possibilitou uma ideia do que é e como se faz pesquisa na atualidade, pois a ciência está constantemente sendo posta à prova. 26 Metodologia da pesquisa científica ATIVIDADES Atividade 1 Como você diferenciaria pesquisa de pesquisa científica? O que caracteriza uma pesquisa científica? Justifique sua resposta. Atividade 2 Elenque os diferentes tipos de conhecimentos e cite um exemplo de como esses se manifestam em seu dia a dia. Justifique também a importância de cada um. Atividade 3 Sobre os métodos de procedimentos, descreva quais são os mais comuns. REFERÊNCIAS ALVES, R. Filosofia da ciência. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2007. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2021. DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000. DENÓFRIO, D. F. Cora Coralina. São Paulo: Global Editora, 2004. (Coleção Melhores Poemas). GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. HABERMAS, J. Positivismo, pragmatismo, historicismo. In: Conhecimento e interesse. São Paulo: Editora Unesp, 2014. HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”. In: Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1983. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1998. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10. ed. São Paulo: Hucitec, 2007. MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015. POPPER, Karl. Lógica das Ciências Sociais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1978. PRODANOV, C. C.; FREITAS, E C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Universidade Feevale, 2013. RAUEN, F. J. Roteiros de investigação científica. Tubarão: UNISUL, 2018. THOMÁZ, A. F.; BARBOSA, T. M. N. Pensamento científico. Telesapiens, 2021. [e-book]. Disponível em: https://auxiliar.telesapiens.com.br/pc/ts/1/ebook.php. Acesso em: 3 nov. 2021. https://auxiliar.telesapiens.com.br/pc/ts/1/ebook.php Fases e etapas da pesquisa 27 2 Fases e etapas da pesquisa Em linhas gerais, produzimos conhecimento científico dentro condi- ções destinadas a uma finalidade em específico, como um trabalho de conclusão de curso e dentro de um espectro de exigências e formalida- des próprias do fazer pesquisa. Para realizar uma pesquisa científica, é necessário fazer um planeja- mento de todas as fases e etapas desse estudo. Neste capítulo, vamos abordar as etapas necessárias para se fazer uma pesquisa e as formas de se realizar o planejamento de uma pesqui- sa. Ainda, discutiremos a postura do pesquisador frente ao seu objeto de estudo e às relações estabelecidas na investigação. Para tanto, vamos tratar da questão dos princípios éticos na realização de pesquisas e as legislações que regem a execução desses princípios: os direitos autorais e a questão do plágio em pesquisa. Sendo assim, identificar os principais desafios da produção científica e conhecer os limites éticos em uma investigação são aspectos funda- mentais para se fazer ciência. Logo, possuir a capacidade de planejar, prever, antecipar-se aos possíveis problemas e desafios da pesquisa é requisito essencial para se tornar um bom pesquisador, que leva em consideração as questões éticas para desenvolver qualquer projeto de pesquisa. Vamos entender um pouco mais desse universo científico e desse fazer ciência? 2.1 Planejamento na pesquisa Vídeo Toda pesquisa parte de uma problemática, de uma busca por respostas ou soluções ou de um ponto de interrogação inicial, pois toma como base um contexto específico para ser realizada. Existem pesquisadores autodidatas que acabam por contribuir com o universo científico, porém, até pela definição de serem autodidatas, não seguem a mesma lógica e as mesmas regras das comunidades científicas. Exemplos disso encontramos principalmente nos clubes de astronomia ou de ciências, que possuem interesses em comum, mas fazem suas investigações muito mais por paixão e curiosidade do que pelo fazer ciência. Quando falamos em fazer pesquisa ou realizar uma investigação científica, devemos pensar nas razões dessa empreitada, conhecendo os nossos limites, as potencialidades e as regras de execução, e refletir sobre a aceitação desse conhecimento na comunidade científica em questão. Logo, o planejamento acaba por ser uma das primeiras etapas desse processo. De modo geral, para se iniciar uma pesquisa, é necessário estaren- volvido em alguma atividade do gênero, quer seja na iniciação científica ou em trabalhos de conclusão de cursos em graduações, quer seja em cursos de aprofundamento, especializações, mestrados e doutorados. De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 45), no livro Metodologia do trabalho científico, pesquisar também é planejar. Para os autores, “planejar é antever toda a série de passos que devem ser dados para chegarmos a uma resposta segura sobre a questão que deu origem à pesquisa. Esses passos devem ser percorridos dentro do contexto de uma avaliação precisa das condições de realização do trabalho”. Segundo os autores, o planejamento deve levar em consideração os seguintes fatores: • Conhecer as fases, as etapas e as principais formas de se fazer uma pesquisa científica. • Entender como se faz um planejamento de pesquisa em cada etapa ou fase da pesquisa. Objetivos de aprendizagem 2828 Metodologia da pesquisa científicaMetodologia da pesquisa científica Figura 1 Passos do planejamento na pesquisa científica 1. Tempo disponível para sua realização 2. Espaço onde será realizada 3. Recursos materiais necessários 4. Recursos humanos disponíveis A m m us /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pela autora com base em Prodanov; Freitas, 2013. O planejamento de pesquisa deve levar em conta o tempo que se tem para desenvolver e concluir essa empreitada, bem como onde ela será realizada e os recursos que serão necessários para tal. De modo geral, é preciso ter clareza sobre esses itens no planejamento, para poder prever ou se antever diante das possíveis dificuldades na execução da pesquisa. Sendo assim, fazer uma pesquisa, seja ela acadêmica ou cientí- fica, é muito mais que levantar dados. Precisa-se de fases, etapas e processos bem definidos. Por exemplo, para a realização de uma pesquisa em termos acadêmicos, é necessário subdividir o planeja- mento em pelo menos três fases bem definidas, o que nem sempre é claro ao pesquisador iniciante. Vamos, agora, conhecer cada uma dessas fases: Pré-projeto ou projeto de pesquisaPré-projeto ou projeto de pesquisa Nessa fase são realizadas todas as sondagens iniciais acerca do tema e da problemática a ser investigada. Em geral, é quando o pes- quisador também se aprofunda em estudos teóricos, tanto sobre o que já foi pesquisado sobre o assunto escolhido quanto sobre as metodologias de pesquisas, ou seja, como se pode fazer essa pes- quisa. Na fase de pré-projeto ou projeto, o pesquisador deve se ater a quanto tempo terá para realizar essas sondagens e preparações iniciais até, de fato, ter um projeto a ser colocado em prática em forma de pesquisa. Se já tiver um orientador nessa etapa, ajudará bastante nessas definições iniciais. Pesquisa propriamente ditaPesquisa propriamente dita Após o desenvolvimento, o projeto deverá passar pela validação do orientador de pesquisa, pois é ele o professor que vai orientar a investigação. Quando a pesquisa envolve pessoas, o projeto precisa passar por um comitê de ética para, então, ser validado. Somente após essas validações é que se pode dizer que se tem um projeto de pes- quisa aprovado, e aí sim é hora de operaciona- lizar e colocar em prática a pesquisa. fiz ke s/ Sh ut te rs to ck Fases e etapas da pesquisaFases e etapas da pesquisa 2929 30 Metodologia da pesquisa científica Nessa fase, precisa-se já ter antecipados via projeto de pesquisa: um roteiro ou planejamento de todos os recursos (humano e financeiros); os instrumentos (a depender do tipo de pesquisa); o tempo e o prazo (cronograma) para se realizar a pesquisa de fato. Nessa fase é a hora de ir a campo, coletando e sistematizando os dados de pesquisa. Muita gente confunde essa parte mais “prática”, pensando que se pode sair fazendo a pesquisa, com os ajustes sendo feitos nesse caminho – daí a analogia de se trocar um pneu com o carro andando. Se não se antever e planejar cada fase e etapa, a chance de as coisas darem erradas é bem maior. Em termos de planejamento de pesquisa, cada fase e etapa é muito importante e deve ser muito bem delineada. Relatório de pesquisaRelatório de pesquisa Aplicado o projeto, ou seja, realizada a investigação dentro de um cronograma previsto, o que será feito com todas essas informações co- letadas? É necessário prever, dentro da ideia de pesquisa, todas essas fases, bem como os tempos e recursos destinados a cada uma delas. Após realizar a pesquisa, é necessário transformá-la em um relatório de pesquisa, que, a depender do curso, terá diferentes nomenclaturas, conforme apresenta o quadro a seguir. Quadro 1 Tipos de trabalhos acadêmicos Tipo de trabalho Tipos de cursos ou programas Trabalho de conclusão de curso (TCC), monografia, artigo Cursos de graduação Artigo ou monografia Cursos de pós-graduação lato sensu ou MBA (master of business administration) Dissertação Mestrado Tese Doutorado Fonte: Elaborado pela autora. Cada uma dessas fases será abordada detalhadamente; o que é preciso entender, por ora, é como se organizar, prevendo esse trabalho de pesquisa. O que acontece, frequentemente, é essas fases se mistu- rarem ao longo da realização de uma pesquisa, que, geralmente, tem o seu início mais definido e o seu fim menos definido. Um livro interessante, que pode ser muito útil na etapa de planejamento de pesquisa, é a obra de Sergio Vasconcelos de Luna, Planejamento de pesquisa: uma introdução. Vale a pena dar uma conferida, para se antever as discussões do projeto e da pesquisa propria- mente dita. LUNA, S. V. São Paulo: EDUC, 2012. Livro Fases e etapas da pesquisa 31 Entretanto, conhecer, prever e diferenciar essas fases em um plane- jamento e cronograma de pesquisa fará muita diferença ao pesquisa- dor, que poderá ter mais clareza do caminho a ser percorrido, de modo a planejar o tempo e os recursos disponíveis em cada fase. Prodanov e Freitas (2013, p. 45) explicam que o termo pesquisa por vezes é usado indiscriminadamente, confundindo-se com uma simples indagação, procura de dados ou certos tipos de abordagens explora- tórias. Porém, para os autores, “a pesquisa, como atividade científica completa, é mais do que isso, pois percorre desde a formulação do pro- blema até a apresentação dos resultados”, passando pelas sequências ou etapas descritas na figura a seguir. im Gh an i/S hu tte rs to ck Preparação da pesquisa: selecionar, definir e delimitar o problema a ser investigado, conforme as linhas ou os temas de pesquisas disponibilizados pelos possíveis orientadores. Preparação do projeto: formular as hipóteses, construir as variáveis e definir os objetivos da pesquisa. Planejamento de aspectos logísticos para a realização da pesquisa: definir o tempo, os recursos, os locais e os deslocamentos possíveis. Revisão de literatura: ler o referencial que auxiliará desde a definição da temática até a conclusão da pesquisa, percorrendo todas as fases, de modo a identificar o que já foi pesquisado e as lacunas da área de conhecimento. Definição da metodologia da pesquisa: definir os tipos e instrumentos para a coleta de dados e para o trabalho de campo (pesquisa ação ou intervenção). Processamento dos dados: fazer a transcrição, organização, sistematização e classificação dos dados de pesquisa. Análise e interpretação dos dados: realizar essa análise e interpretação à luz de um referencial teórico definido pela revisão de literatura. Elaboração do relatório da pesquisa: elaborar o relatório seguindo as normas previstas da instituição ou da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura 2 Etapas da pesquisa científica Fonte: Elaborada pela autora. Para Gamboa (2011), é desde o diagnóstico de um problema de investigação, ainda na fase de elaboração do projeto de pesquisa, que o pesquisador deve se pautar no atendimento de alguns fundamentos lógicos, como a identificação e caracterização do problema e a maneira como obtemos respostas paraele. Quanto à identificação e caracterização do problema, ainda na fase de construção, o projeto poderá se pautar nos procedimentos aponta- dos na figura a seguir. 32 Metodologia da pesquisa científica im Gh an i/S hu tte rs to ck Localizar a problemática: destacar a situação-problema, por meio das inquietações ou da necessidade de um problema concreto. Identificar indicadores: levantar dados, estudos ou outras pesquisas quanto ao que já foi pesquisado sobre esse problema. Elaborar questões norteadoras: fazer questionamentos, de modo que possa orientá-los nas buscas por respostas à problemática. Elaborar pergunta-síntese do problema a ser investigado: definir uma pergunta problema, com base nos indicadores anteriores, de modo que possa buscar respondê-la sistematicamente na pesquisa, mediante uma metodologia de pesquisa. Fontes de pesquisa: definir em quais bases de dados de pesquisa, revisões de literatura ou, ainda, estado da arte do conhecimento a pesquisa irá se pautar. Selecionar instrumentos de investigação: estabelecer, entre as metodologias possíveis, quais instrumentos poderão auxiliar na busca pelas respostas: entrevistas, questionários, intervenções, observações, entre outros. Explorar hipóteses: elaborar as respostas esperadas ou os possíveis resultados da pesquisa que poderão orientar as diversas estratégias na busca por responder ao problema. Definir referências: definir um quadro dos paradigmas que norteiam e fornecem as categorias para analisar as respostas e interpretar os dados. Prever condições: prever que recursos ou indicadores da viabilidade técnica são necessários para conseguir responder ao problema de pesquisa. Figura 3 Procedimentos para identificação do problema 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fonte: Elaborado pela autora com base em Gamboa, 2011. Alguns autores se referem a essas etapas como planejamento de pesquisa, outros a chamam de pré-projeto ou simplesmente de metodo- logia de pesquisa. Em geral, essas etapas funcionam como um registro de planejamento detalhado. De acordo com Severino (2012, p. 91), a elaboração do projeto de pesquisa é a primeira etapa de um longo processo, um primeiro momento de síntese. Imprescindí- vel para desencadear o trabalho de construção do conhecimento, ele deve ser explicado de forma técnica, não só em decorrência de exigência institucionais, mas porque ele representa um rotei- ro do trabalho a ser desenvolvido pelo aluno. O autor coloca que, embora o projeto “possa ser alterado ao longo do desenvolvimento da pesquisa, constitui um roteiro fundamental, delimitando bem o caminho a ser percorrido, as etapas a serem ven- No vídeo Como fazer projeto de pesquisa para TCC, mestrado e douto- rado, do canal Além do Lattes, confira as dicas para elaborar um projeto de pesquisa. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=0qY- eNHbKpI. Acesso em: 10 nov. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=0qY-eNHbKpI https://www.youtube.com/watch?v=0qY-eNHbKpI https://www.youtube.com/watch?v=0qY-eNHbKpI Dr oz d Iri na /S hu tte rs to ck Plane jamen to cidas, os instrumentos e as estratégias a serem aplicadas ao longo de sua execução” (SEVERINO, 2012, p. 91). Nesse sentido, na etapa de planejamento, o mais importante é ter noção de que: toda pesquisa tem por finalidade buscar respostas para questões levantadas, e essa busca envolve métodos e formas de se fazer, por isso a exigência de um bom planejamento. Dessa forma, uma pesquisa parte das preconcepções que o pesqui- sador já traz consigo sobre o que é pesquisa; dito de outra maneira, toda pesquisa tem, em seu cerne, uma teoria, uma visão de mundo, uma busca por respostas e pressupostos que servem como ponto de partida na investigação e nos modos de se fazer tal investida. Diante dos possíveis campos de pesquisa, dos objetos de estudo, dos interesses do pesquisador, do enfoque dado à pesquisa, das possí- veis metodologias de estudo, da aplicação do método científico e das situações do contexto, pode-se definir se o projeto é viável ou não, ou, então, como será o andamento da pesquisa. Por fim, de certa forma, podemos dizer que o planejamento em termos de pesquisa é construir e elaborar seu pré-projeto ou proje- to de pesquisa, o que permite aprimoramentos ao longo do trabalho propriamente dito. Assim, devemos pensar nesse planejamento como uma versão preliminar do trabalho, um esboço do que se quer fazer na investigação. À medida que se avança nas etapas de investigação, as hi- póteses vão sendo confirmadas ou refutadas e a necessidade de apri- moramentos e de realização dos ajustes necessários vai aparecendo. Fazer um planejamento de como se dará a pesquisa é uma das fa- ses da própria pesquisa; logo, é uma tentativa de descrição da sua estrutura e um roteiro inicial do que se pretende com o trabalho, que sofrerá modificações e será aprimo- rado no decorrer das etapas. Desse modo, um planejamento bem elaborado define e orga- niza, para o próprio pesquisador, o caminho a ser seguido no desenvolvimento do traba- lho, uma vez que elucida as etapas a serem alcançadas, bem como prevê e define os ins- O livro Métodos de Pes- quisa em comunicação: projetos, ideias, práticas traz ótimas dicas e estra- tégias para desenvolver bons projetos. MARTINO, L. Petrópolis: Vozes, 2018. Livro Fases e etapas da pesquisa 33 trumentos e as estratégias a serem usados em cada fase e impõe uma disciplina no trabalho a ser realizado. Portanto, para o desenvolvimento de um bom estudo científico, no- ta-se a importância de toda essa clareza em cada uma das fases e eta- pas, as quais serão detalhadas no decorrer desse capítulo. 2.2 Ética na pesquisa e postura do pesquisador Vídeo O que vem a ser ética na pesquisa? Por que, entre tantos assuntos a serem tratados nos manuais de pesquisas científicas, temos que de- dicar um tópico em específico às questões éticas? Não seria esse um assunto destinado à filosofia ou às questões jurídicas? Pense bem: será que todos os pesquisadores partem dos mesmos princípios em suas investigações e seguem as mesmas regras no que tange à ética? Ou, então, será que nessa busca por respostas, por no- vos conhecimentos, valem todas as apostas? Quais são os limites e os dilemas éticos em investigações científicas? E as polêmicas quanto aos estudos que envolvem seres humanos ou animais em pesquisas e experimentos científicos? Com todas essas questões levantadas, é possível compreender que falar de ética parece ser algo óbvio. Todos concordam que precisamos de ética nas pesquisas e nas relações humanas. Ser ético é a premissa de “ser humano” – ou você tem ética ou não tem. Mas o que vem a ser a ética? O filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella, em seu livro Qual é a sua obra? (2017), dedica um capítulo inteiro para tratar das questões éticas. Nele, Cortella (2017) busca nãRo só definir o que se entende por ética, mas colocar em reflexão o que se quer, o que se deve e o que se pode fazer em determinada situação, como parâmetros éticos essenciais para se cuidar da vida coletiva. Para o filósofo: é impossível pensar em ética se a gente não pensar em convi- vência. A ética é o que marca a fronteira da nossa convivência. [...] ética é aquela perspectiva para olharmos os nossos princí- pios e os nossos valores para existirmos juntos. [...] Qual é o nome do conjunto de princípios e valores de conduta que uma pessoa ou um grupo de pessoas tem? A isso damos o nome de Ética. (CORTELLA, 2017, p. 104) • Compreender o que é ética na pesquisa. • Entender os princípios da ética na pesquisa. Objetivos de aprendizagem st oa tp ho to /S hu tte rs to ck Ética Pesquisa científica 3434 Metodologia da pesquisa científicaMetodologia da pesquisa científica Fases e etapas da pesquisa 35 O autor explica que a palavra ética vem do grego ethos, que sig- nifica morada do humano; logo, “se ethos é morada do humano, ethos é a fronteira entre o humano e a natureza” (CORTELLA, 2017, p. 104).Para o estudioso, a ética faz parte da nossa “morada”, da nossa casa cotidiana, sendo o que nos orienta nas ações concretas da vida e em nossas tomadas de decisões. Portanto, pela ética é que “nós temos autonomia, porém não temos soberania”, pois “a ética é um conjunto de princípios e valores que você usa para res- ponder as três grandes perguntas da vida humana: Quero? Devo? Posso?” (CORTELLA, 2017, p. 104). Para o filósofo, nós vivemos mui- tas vezes em dilemas éticos: há coisas que eu quero, mas não devo. Há coisas que eu devo, mas não posso. Há coisas que posso, mas não quero. [...] Quando aquilo que você quer é o que você deve e o que você pode. Todas as vezes que aquilo que você quer não é aquilo que você deve; todas as vezes que aquilo que você deve não é o que você pode; todas as vezes que aquilo que você pode não é o que você quer, você vive um conflito e mui- tas vezes um dilema ético. (CORTELLA, 2017, p. 105) Poderíamos dizer que tão antigo quanto o debate filosófico é aquele em torno das questões éticas – do que é ou não é ético. Ética, no sentido defendido por Cortella (2017), é um ramo da filo- sofia que se preocupa com o comportamento moral, ou seja, com as condutas humanas. O autor vai completar, ainda, que “quanto mais claros os princípios, mais fácil de se lidar com os dilemas éti- cos” (CORTELLA, 2017, p. 111). Pensando em termos de investigação científica, quais seriam os princípios éticos ou os principais dilemas enfrentados nessas questões? Como poderíamos traduzir essas questões entre o que se quer fazer, o que se deve fazer e o que se pode fazer em se tra- tando de pesquisa? Quanto à ética na pesquisa, é comum debatermos sobre cer- tos pontos e elencarmos alguns dilemas relacionados ao fazer pesquisa, de modo que façamos uma reflexão sobre o papel do pesquisador frente às seguintes questões: Para saber mais sobre a ética nas relações huma- nas ou para conhecer a obra completa, sugerimos a leitura do livro de Mario Sergio Cortella, Qual é a sua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. CORTELLA, M. S. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2017. Livro 36 Metodologia da pesquisa científica Figura 4 Reflexões éticas sobre a pesquisa M on ki k/ Sh ut te rs to ck1. Quais são as implicações sociais tanto na condução quanto na implicação dos resultados da pesquisa, principalmente quando envolve seres humanos, mesmo que indiretamente? Quais serão as consequências desse estudo? 2. Quais são os limites impostos nas relações entre pesquisador e pesquisado, na coleta de dados em uma pesquisa? Pode-se oferecer recompensas? Pode-se utilizar de amizade ou de alguma influência para facilitar a coleta de dados? 3. No que tange ao consentimento dos pesquisados, será mesmo que sempre é livre e esclarecido ou acaba por ser sugerido e sugestionado? 4. Sobre a forma de coleta de dados, protege-se mesmo a identidade dos participantes ou eles podem ser identificados por meio dos dados? E, nesse caso, como fica a questão do anonimato? 5. Ao se produzir ou coletar os dados de pesquisa, até que ponto o pesquisador interfere nessa coleta, no ambiente ou no objeto investigado? 6. Sobre a divulgação dos resultados, cabe ao pesquisador decidir o que será divulgado e o que será omitido? 7. Na relação orientador-orientando, os trabalhos resultantes nem sempre são individuais; como fica a questão de autoria? 8. Ao usar as referências de outros estudos, mesmo que corretamente referenciados, como fica a questão de originalidade da pesquisa? 9. Em pesquisas em que há patrocínio ou financiamento, ou mesmo naquelas de cunho governamental, como ficam as relações com os dados de pesquisas, se esses se mostrarem divergentes ou contrários ao que é defendido por essas instituições? 10. Na análise e nas interpretações dos dados, só é válida a opinião do pesquisador? Fonte: Elaborada pela autora. Essas são apenas algumas das questões geralmente levantadas nos debates do fazer pesquisa. Poderíamos, ainda, discutir os processos de validação desses conhecimentos produzidos, bem como as validações das bancas, que geralmente são organizadas pelo orientador – em al- Fases e etapas da pesquisa 37 guns casos, é somente o orientador que valida a pesquisa, a qual, por sinal, é ele mesmo quem auxilia a conduzir. Ou, ainda, para publicação em periódicos de pesquisa – em que o estudo pode ser revisado por pares ou avaliado às cegas –, nos casos das publicações de resultados, quais outras implicações éticas pode- riam decorrer desses processos avaliativos no fazer ciência? Bogdan e Biklen (1994), no livro Investigação qualitativa em educa- ção, chamam a nossa atenção para a dimensão ética em uma pesquisa, apontando que essa dimensão perpassa por todas as fases e etapas de uma pesquisa. Isso diz respeito não somente ao pesquisador, aos sujei- tos pesquisados ou aos velhos dilemas sobre os limites e usos de seres humanos ou de animais como cobaias de laboratórios. Para os autores, a dimensão ética terá grande conotação com a questão da dignidade humana, que repercutirá não só na forma de se coletar e tratar dados de pesquisa, mas também no modo de se pensar a dimensão ética, ao se manipular dados, e as implicações sociais dos estudos científicos. Sabemos que não há neutralidade na produção de conhecimento e que, além de produzir o conhecimento científico, é papel do pesquisa- dor fazer a defesa e se posicionar frente às suas descobertas e, ainda, ser responsável por elas, antevendo as possíveis intercorrências sociais que decorrem delas. Segundo os autores Fiorentini e Lorenzato (2009, p. 193), é “impera- tivo que o pesquisador se interrogue permanentemente sobre porque investiga, para que investiga, como investiga e o que e como divulgar os resultados da pesquisa”. Para ampliar seus conhecimentos, recomendamos a leitura do artigo Ques- tões éticas subjacentes ao trabalho de investigação, dos autores Eduardo Duque e António Calheiros, publicado na revista EDaPECI em 2017. Acesso em: 10 nov. 2021. https://doi.org/10.29276/redapeci.2017.17.26780.103-118 Artigo São muitas as questões que merecem atenção em relação à ética nas pesquisas e nos aspectos sociais que podem influenciar as pes- quisas científicas. Desse modo, é imperativo estar consciente dessas dimensões. O vídeo Diálogos, ética na pesquisa, do canal TV Unesp, aborda as regras para a realização de estudos de maneira ética e íntegra. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=7Fh3onQ_ Otg. Acesso em: 10 nov. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=7Fh3onQ_Otg https://www.youtube.com/watch?v=7Fh3onQ_Otg https://www.youtube.com/watch?v=7Fh3onQ_Otg 2.3 Legislação, direitos autorais e a questão do plágio em pesquisa Vídeo Além dos princípios éticos, quais outros preceitos ou dimensões perpassam por esse fazer pesquisa? Existe alguma legislação ou regu- lamentação para as atividades de pesquisa? O debate sobre as regulamentações em pesquisa é ainda muito re- cente no Brasil e não existe consenso nem em termos mundiais. No caso brasileiro, cada instituição é responsável por criar e gerir suas próprias regras, no que tange às avaliações, às formas e aos procedi- mentos de realizações de pesquisas em termos acadêmicos. O que temos bem delimitado, em linhas gerais, na organização dos trabalhos acadêmicos, são as normas técnicas, orientadas pela Asso- ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o que não se pode con- fundir com a legislação de pesquisa. No caso brasileiro, ainda, o que temos é a centralização das ativida- des de incentivo à pesquisa, que pode ser entendida como problemá- tica, girando em torno de uma grande e única instituição que abarca quase que exclusivamente todas essas questões sobre pesquisas cien- tíficas, estando ela ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino- vações, e não ao Ministério da Educação, como se imagina, e sendo denominada de Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec- nológico (CNPq).Cabe ao CNPq o fomento e a gestão financeira de recursos públicos destinados às pesquisas científicas no Brasil. Apesar de ser uma insti- tuição sólida e de grande representatividade, as críticas que se tecem a ela é quanto à falta de pluralidade, de investimentos em pesquisas e, até mesmo, de iniciativas privadas, como ocorrem em diversos países. No que diz respeito às pesquisas acadêmicas, temos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que é vincu- lada ao Ministério da Educação e responde por grande parte das pes- quisas do âmbito acadêmico de nível superior e pós-graduação stricto sensu 1 , apoiando, inclusive, financeiramente, com bolsas de pesquisas diversas atividades. Conhecer a legislação, as resoluções, a lei de direi- tos autorais e as questões relativas ao plágio e à ética na pesquisa. Objetivo de aprendizagem Pós-graduação stricto sensu: programas de mestrado e doutorado. Pós-graduação lato sensu: programas de especialização e cursos designados como MBA. 1 3838 Metodologia da pesquisa científicaMetodologia da pesquisa científica M on gk ol ch on A ke si n/ Sh ut te rs to ck Cabe à Capes, também, a regulamentação e fiscalização das pesqui- sas e dos recursos, a organização e a avaliação dos periódicos de di- vulgação científica, bem como a avaliação dos periódicos de pesquisa e dos programas de mestrado e doutorado, entre outras atividades fins desse âmbito. No sentido regulatório de atividades de pesquisa, apenas recente- mente a preocupação com a ética nas pesquisas tem sido discutida entre nós, explica José Marques Filho (2007), coordenador da Comissão de Ética e Defesa Profissional do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Segundo o autor: as primeiras normas reguladoras de pesquisas com seres hu- manos foram estabelecidas somente em 1947, após os abusos dentro e fora dos campos de concentração, durante a II Guerra Mundial. Essas normas foram estabelecidas pelo Código de Nuremberg, reconhecendo oficialmente a indisponibilidade do consentimento voluntário, a necessidade de estudos prévios em laboratório e em animais, a análise de riscos e benefícios da in- vestigação proposta, a liberdade do sujeito da pesquisa de se retirar do estudo, a adequada qualificação do pesquisador, entre outros pontos. (MARQUES FILHO, 2007, p. 1) No Brasil, a regulamentação de pesquisas tem iniciativa por parte do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e deriva principalmente da ne- cessidade de regulamentar as atividades de pesquisas, envolvendo os pacientes ou seres humanos, diretamente à área de saúde. Porém, é apenas no ano de 1996, com a Resolução n. 196 (BRASIL, 1996), do CNS, que se estabeleceram algumas regulamentações, principalmente no que tange às definições de pesquisa; à questão da pesquisa abrangendo seres humanos; aos protocolos, riscos e danos; aos patrocínios; aos sujeitos de pesquisa, ao pesquisador e às instituições de pesquisa; às relações entre pesquisador responsável e instituição; e aos riscos en- volvidos em uma pesquisa. Além disso, essa resolução trata do consentimento por parte dos participantes e da necessidade de implantação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP). Vale ressaltar que a Resolução n. 196 (BRASIL, 1996) sistematiza as recomendações éticas em pesquisas, oferecendo diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas Fases e etapas da pesquisaFases e etapas da pesquisa 3939 40 Metodologia da pesquisa científica envolvendo seres humanos, não mais somente em termos de saúde, mas de toda e qualquer pesquisa que envolva as pessoas, a qual deve- rá ser consubstanciada por comitês de ética. Sobre os aspectos éticos de uma pesquisa que envolve seres hu- manos, a Resolução n. 196/1996 afirma, ainda, que se deve atender às exigências éticas e científicas fundamentais à eticidade em pesquisas, de modo a implicar: a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a pro- teção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes (auto- nomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade; b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como poten- ciais, individuais ou coletivos (beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; c) garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência); d) relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujei- tos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos inte- resses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e equidade). (BRASIL, 1996) Sobre o termo de consentimento livre e esclarecido, a Resolução traz: [...] II. 11 – Consentimento livre e esclarecido – anuência do sujeito da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simula- ção, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, po- tenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa. [...] (BRASIL, 1996, grifo nosso) Ainda, no Item IV, a resolução elucida: “o respeito devido à digni- dade humana exige que toda pesquisa se processe após consenti- mento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa” (BRASIL, 1996). Fases e etapas da pesquisa 41 Também com relação ao consentimento para participantes em pesquisas, a Resolução n. 196/1996 destaca que, indispensa- velmente, todo termo se faça em linguagem acessível e que in- clua necessariamente (BRASIL, 1996): a) a justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão uti- lizados na pesquisa; b) os desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados; c) os métodos alternativos existentes; d) a forma de acompanhamento e assistência, assim como seus responsáveis; e) a garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa, sobre a metodologia, informando a possibilidade de inclusão em grupo controle ou placebo; f) a liberdade do sujeito se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penaliza- ção alguma e sem prejuízo ao seu cuidado; g) a garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa; h) as formas de ressarcimento das despesas decorrentes da participação na pesquisa; e i) as formas de indenização diante de eventuais danos de- correntes da pesquisa. Além disso, a Resolução n. 196/1996 orienta que o consentimento livre e esclarecido deve ser: • elaborado pelo pesquisador responsável; • aprovado pelo CEP, que referenda a investigação; • assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e cada um dos sujeitos da pesquisa ou por seus representantes legais; e • elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pes- quisa ou por seu representante legal e a outra arquivada pelo pesquisador (BRASIL, 1996). Quanto à criação dos CEP, a mesma resolução traz definido, em seu texto, que esses serão “colegiados interdisciplinares e independentes, com ‘munus público’, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos” (BRASIL, 1996). Você pode conhecer a Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996, na íntegra, em todos seus capítulos e artigos, acessando o link a seguir. Disponível em: https://bvsms. saude.gov.br/bvs/saudelegis/ cns/1996/res0196_10_10_1996. html. Acesso em: 10 nov. 2021. Saiba mais https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996
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